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RESENHA COMENTADA DE COSMOLOGIAS DO CAPITALISMO: O SETOR TRANSPACÍFICO DO “SISTEMA MUNDIAL”

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
FUNDAMENTOS DA TEORIA ANTROPOLÓGICA
GERMANA NERY MACHADO
RESENHA COMENTADA DE COSMOLOGIAS DO CAPITALISMO: O SETOR TRANSPACÍFICO DO “SISTEMA MUNDIAL”
PORTO ALEGRE
2018
SAHLINS, Marshall. Cosmologias do capitalismo: o setor transpacífico do “sistema mundial”. In: SAHLINS, Marshall. Cultura na prática. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007. p. 443-486.
Em a Cultura na prática (Editora UFRJ, 2007) publicado pela University of Chicago Press pela primeira vez em 1976, em inglês. Marshall Sahlins é um conceituado antropólogo estadunidense nascido em 27 de dezembro de 1930, graduado e mestre pela Universidade de Michigan e obteve PhD pela Universidade de Colúmbia. A ação histórica se dá através da relação com a ordem cultural: uma encarnação de poderes coletivos em indivíduos, onde ação e interação se associam. Segundo o autor, é observável ao longo da história moderna o modo como as forças capitalistas se realizam em outras lógicas culturais, de maneira diversa. O autor conclui, deste modo, que “os efeitos específicos das forças materiais globais dependem dos diversos modos como são mediados em esquemas culturais locais”, de modo que 
a construção do sentido do sistema capitalista se adapta aos sistemas culturais, defendendo a interpretação simbólica da cultura além do utilitarismo.
As culturas são formas de vida relativas e históricas, cada qual com uma validade particular, sem uma necessidade universal […] as coisas físicas têm causas, mas as coisas humanas têm razões – razões simbólicas construídas, mesmo quando são fisicamente causadas […] o caráter distintivo do saber antropológico está em que ele envolve uma unidade substancial do sujeito conhecedor com aquilo que é conhecido [p 30]; 
 A capacidade de reduzir propriedades sociais a valores de mercado é o que permite ao capitalismo dominar a ordem cultural, no entanto, aponta que uma história do sistema mundial deve aplicar-se a cultura mistificada do capitalismo. Para ele, este “sistema de diferenças culturais organizadas como uma divisão de trabalho é um mercado de fragilidades humanas, onde estas últimas podem ser lucrativamente negociadas.” Em toda mudança existe continuidade, e sob a perspectiva de uma razão simbólica (a economia pensada como sistema simbólico) onde a cultura é construída a partir de uma lógica simbólica e essa lógica simbólica vai englobar o modo de produção, no caso, o capitalismo, que vai organizar o modo como se dão as relações de produção e que se constituiu historicamente de diversas formas e produz efeitos diferentes ao redor do mundo. Não é um sistema que funcione “sozinho”. O mercado muda assim como a sua oferta de serviços muda. 
Durante o período do bipartidarismo na ditadura militar (1964-1979), o regime designou alguns municípios de interesse específico denominados Áreas de Segurança Nacional, em que os prefeitos seriam diretamente nomeados, em vez de eleitos através do voto. Ao tentar me apropriar minimamente das ideias de Sahlins, a competição (no caso da minha pesquisa, a disputa política) é moldada a partir de uma lógica cultural, que é diversa. Sua utilidade não é um “valor”, mas sim sua simbologia que dá a utilidade, que não é objetiva, é subjetiva e simbólica. A lacuna investigativa que pretendo expor na minha dissertação embrenha-se sob o âmago da política durante a ditadura civil-militar. Sob o olhar do neo-institucionalismo e sua sobreposição com a cultura, posso olhar para meu objeto a partir de uma perspectiva onde a história é o plano de fundo, onde o entendimento sistemático do processo social pode me ajudar a entender o papel dos militares na nomeação de prefeitos nas Áreas de Segurança Nacional, assim como em todo estado o Rio Grande do Sul e seus respectivos papéis na Ditadura Civil-Militar no período de 1964 a 1985. Ideologia não pode ser separada de valores, funciona como um sistema de ideias organizadas simultaneamente. A força eleitoral das eleições municipais nos municípios de Áreas de Segurança Nacional empresta prestígio político para os militares, “natural” adorno de suas privilegiadas situações econômicas e sociais dentro do regime, onde a dominação encontra obediência a uma determinada ordem, no caso o Regime Militar, que entrelaçou-se em todas as esferas de poder no Brasil, política, econômica e social, na vida pública e na vida privada, nos poderes locais (no caso da minha pesquisa nos municípios do RS) e central, onde todas essas relações se sustentam entre si. 
O habitus, discutido por Bourdieu se apresenta como uma matriz de comportamento, adquirido mediante exposição à práticas, conhecimentos e condutas culturais, que orientam o processo cognitivo do agente. O veículo para este aprendizado é a socialização dos conhecimentos, experimentados pela cultura prática e desenvolvidos no campo, seja ele social ou político. Da interação com estes ambientes emana a noção de capital social (conjunto de práticas que pode ser entendida, como uma forma primitiva de acumulação e transmissão de conhecimentos, costumes e redes sociais), e a posse do capital cultural e social seriam uma das fontes de monopólio do acesso aos postos de elite (Bourdieu, 2004a, p. 164). O “mundo da política” não é um dado a priori, mas precisa ser investigado e definido a partir das formulações e dos comportamentos de atores sociais e dos contextos particulares, e o estudo sobre sociedades e relações sociais é estreitamente ligado à temática das relações de poder (KUSHNIR, 2006). 
Para Sahlins, o pensamento ocidental opõe-se radicalmente à interdependência
homem-natureza postulada. A noção de “necessidade” seria uma construção social e especificamente ocidental, sempre desejando mais e nunca podendo satisfazer os seus desejos, “especialmente o da acumulação de bens temporais”
nas sociedades capitalistas. Por que não associar essa noção de “necessidade” também ao poder? Levando em consideração “poder” como fenômeno de força, coação e coerção, não só física e moral, mas também econômica? Esses elementos de coerção são transmitidos pela educação e pela vida social em geral, onde é possível que crenças sejam um elemento originário de poder, dialogando com o mundo concreto e nas questões que nos afetam diretamente. 
REFERÊNCIAS
SAHLINS, Marshall. Cosmologias do capitalismo: o setor transpacífico do “sistema mundial”. In: SAHLINS, Marshall. Cultura na prática. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
SAHLINS, Marshall. La pensée bourgeoise: a sociedade ocidental enquanto cultura. In: SAHLINS, Marshall. Cultura na prática. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
MARSHALL SAHLINS. Disponível em: <https://www.skoob.com.br/autor/3905-marshall-sahlins>. Acesso em 28 jun. 2018.
BOURDIEU, P. Le capital social: notes provisoires. Actes de la recherche en sciences sociales, v. 31, p. 2–3, 1980.
___. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 2004a.
KUSCHNIR, Karina. Antropologia da política. Rio de Janeiro, Zahar, 2006.

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