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2 MS ENERGIA ELETRICA FARMACIA PERSONALE

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EXMO (A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA ___VARA DA FAZENDA, A QUEM 
COUBER POR DISTRIBUIÇÃO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FARMÁCIA PERSONALE LTDA., pessoa jurídica de direito privado regularmente 
constituída, com sede sito à Rua Antônio Barreto, nº 815, bairro Umarizal, Belém – PA, 
inscrita no CNPJ sob o nº 34.686.568/0001-20, neste ato representado por ANA 
MARIA DE OLIVEIRA, brasileiro, divórcio, farmacêutica, portador do RG 1831208 
SSP/Pa e do CPF 282.092.302-04, residente e domiciliado na Travessa Nove de Janeiro, 
n 701, Edifício Twin Towers, bairro Cremação, CEP 66063-260, Belém, PA, vem, em 
nome de todos os seus estabelecimentos situados no Estado do Pará, à presença de 
V.Exa., bem como nos arts. 1º e seguintes, da Lei nº 12.016/09, impetrar o presente 
MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR 
INAUDITA ALTERA PARS 
Contra ato coativo e ilegal que está na iminência de ser praticado pelo DIRETOR DE 
ARRECADAÇÃO E INFORMAÇÕES FAZENDÁRIAS, SRA. EDNA DE NAZARÉ CARDOSO 
FARAGE; COORDENADOR DA CÉLULA DE ANÁLISE E CONTROLE DA ARRECADAÇÃO, 
SRA. MARLY TEREZA COUTINHO MOTA; COORDENADOR EXECUTIVO REGIONAL DE 
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA E NÃO-TRIBUTÁRIA, SR. JOÃO GUILHERME MELO 
CAVALEIRO DE MACEDO; COORDENADOR EXECUTIVO ESPECIAL DE ADMINISTRAÇÃO 
TRIBUTÁRIA E NÃO-TRIBUTÁRIA – GRANDES CONTRIBUINTES, SRA. MÁRCIA MARIA 
COSTA SANTOS ou quem os substitua no exercício da coação impugnada, o qual 
integra a SEFA - SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA DO PARÁ, pelos motivos de 
fato e fundamentos de direito a seguir aduzidos. 
 
I – DOS FATOS 
 
 
 A Impetrante atua no comércio varejista e atacadista possuindo, atualmente, 
estabelecimentos no Estado do Pará, atuando no ramo farmacêutico, com clientela 
fixa e vasta, bem como contribuindo à criação de vagas diretas e indiretas de emprego 
formal. 
 No desenvolver de sua atividade, a Impetrante mantém considerável estrutura 
operacional, a qual engloba desde a manutenção e conservação de mercadorias, 
inclusive, àquelas classificadas como perecíveis, até a organização gerencial de suas 
operações, lhe propiciando um desempenho de destaque no seu ramo de atividade. 
Ao realizar esta atividade, a Impetrante enquadra-se na condição de contribuinte do 
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Comunicação e de Transporte 
Intermunicipal e Interestadual – ICMS. 
 Para o exercício de seu objeto social e regular funcionamento de sua estrutura 
organizacional, a Impetrante consome, de forma essencial ao desempenho de suas 
atividades, energia elétrica, os quais são alcançados pelo ICMS, pela alíquota de 25% 
(vinte e cinco por cento) na forma do artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e 
artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989, o que caracteriza um tratamento diferenciado e 
discriminatório em relação à fixação da alíquota de outros produtos que se submetem 
ai regime ordinário, hoje fixada no patamar de 17% (dezessete por cento) previsto no 
artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989. 
 Neste diapasão, a Lei Estadual nº 5.530/1989, regulamentada pelo Decreto 
Estadual nº 4.676/2001, em seu artigo 12, inciso III, a, dispõe sobre a alíquota do ICMS 
incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica, nos seguintes termos: 
Art. 12. As alíquotas internas são seletivas em função da 
essencialidade das mercadorias e dos serviços, na forma seguinte: 
III - a alíquota de 25% (vinte e cinco por cento): 
a) nas operações com energia elétrica; 
 
Desta forma, a referida Lei Estadual ao estabelecer as alíquotas que devem 
servir de base para a incidência do ICMS utiliza critério aleatório e dissociado da 
finalidade do princípio constitucional da seletividade (artigo 155, § 2º, inciso III da 
CF/88), o qual determina que a fixação das alíquotas do ICMS deverá atender a 
essencialidade do produto quando fixada em patamar diverso ao da alíquota interna 
ordinária de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 
5.530/1989) forçando o Poder Legislativo, quando a importância de cada produto ou 
serviço no meio social. 
 No caso em análise, a referida lei estadual, ao fixar as alíquotas do ICMS, 
ignorou o critério da essencialidade aplicável ao imposto para fixar a alíquota de 25% 
de ICMS incidente na utilização dos serviços de energia elétrica. 
 
 
 Em virtude desta equivocada e inconstitucional lei, eis que fere frontalmente o 
Princípio da Isonomia sob a ótica da Seletividade e Essencialidade do produto ou 
serviço, a Impetrante busca tutela judicial para deixar de recolher o referido imposto 
pela alíquota majorada, submetendo-se à tributação pela alíquota interna e geral de 
17% em relação aos fatos geradores futuros referentes aos serviços de fornecimento 
de energia elétrica. 
 Desta forma, serve o presente writ of mandamus, para reconhecer o direito da 
Impetrante de deixar de pagar o ICMS sobre serviços de fornecimento de energia pela 
alíquota majorada de 25%, submetendo-se à tributação pela alíquota interna e geral 
de 17% em relação aos fatos geradores futuros, conforme previsto no artigo 20, inciso 
VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989. 
 
 II – DA DEFINIÇÃO DA AUTORIDADE COATORA 
 
 Com o intuito de melhor identificar a autoridade coatora da presente demanda, 
o impetrante junta, em anexo, a Instrução Normativa Nº 0008, de 14 de julho de 2005, 
a qual define a estrutura organizacional da Secretaria da Fazenda do Estado do Pará. 
 Isto posto, é possível identificar as seguintes autoridades coatoras no que tange 
a presente demanda, vejamos: 
 
 1ª Autoridade Coatora: Diretor de Arrecadação e informações Fazendárias, ao 
qual, nos termos da IN n.8, compete: 
 
“Art. 43. À Diretoria de Arrecadação e Informações Fazendárias 
– DAIF, que tem a missão de elaborar, gerenciar, acompanhar e 
controlar as atividades de arrecadação de receitas estaduais e 
informações fazendárias, definindo estratégias de ação, 
objetivando a satisfação do cliente e a maximização da receita, 
compete: 
II – definir procedimentos de arrecadação relativos às atividades da 
administração fazendária; 
III – acompanhar o cumprimento das obrigações tributárias, relativos 
à área de arrecadação e informações econômico-fiscais; 
(...)” 
 
2ª Autoridade Coatora: Coordenador da Célula de Análise e Controle da 
Arrecadação, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: 
 
“Art. 45. À Célula de Análise e Controle da Arrecadação compete: 
I – coordenar, orientar e controlar os Agentes Arrecadadores, quanto 
ao cumprimento do contrato de prestação de serviços; 
 
 
II – acompanhar, diariamente, tributos e outras receitas estaduais 
recolhidos e a respectiva transferência à Conta Única do Estado; 
(...)” 
 
3ª Autoridade Coatora: Coordenador Executivo Regional de Administração 
Tributária e Não-Tributária, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: 
 
Art. 71. As Coordenações Executivas Regionais de Administração 
Tributária e Não-Tributária são responsáveis pela coordenação do 
processo de formulação de diretrizes, elaboração de planos de ação, 
desenvolvimento operacional das ações, rotinas, acompanhamento e 
avaliação das ações de tributação, arrecadação e fiscalização de 
empresas, atendimento aos clientes, além da realização de 
diagnósticos e estudos nas respectivas áreas de circunscrição. 
Art. 72. As Coordenações Executivas Regionais de Administração 
Tributária e Não-Tributária são as seguintes: 
I – Coordenação Executiva Regional de Administração Tributária e 
Não-Tributária de Belém; 
Art. 73. Às Coordenações Executivas Regionais de Administração 
Tributária e Não-Tributária, que têm a missão de coordenaro 
desenvolvimento das ações de tributação, arrecadação e fiscalização 
de empresas e buscar a excelência no atendimento aos clientes de 
sua circunscrição regional, compete: 
 
 4ª Autoridade Coatora: Coordenador Executivo Especial de Administração 
Tributária e Não-Tributária, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: 
 
Art. 75. As Coordenações Executivas Especiais de Administração 
Tributária e Não Tributária são responsáveis pela coordenação do 
processo de formulação de diretrizes, elaboração de planos de ação, 
desenvolvimento operacional das ações, rotinas, acompanhamento e 
avaliação das ações de tributação, arrecadação, fiscalização de 
empresas, pessoas físicas e de veículos automotores, atendimento 
aos clientes, além da realização de diagnósticos e estudos das 
respectivas áreas. 
(...) 
Art. 76. As Coordenações Executivas Especiais de Administração 
Tributária e NãoTributária são as seguintes: 
(...) 
II - Coordenação Executiva Especial de Administração Tributária de 
Grandes Contribuintes - CEEAT-GC; 
 
 Isto posto, temos como autoridades coatoras, os seguintes: Diretor de Arrecadação 
e informações Fazendárias; Coordenador da Célula de Análise e Controle da 
Arrecadação; Coordenador Executivo Regional de Administração Tributária e Não-
 
 
Tributária; Coordenador Executivo Especial de Administração Tributária e Não-
Tributária. 
 
 III – DA LEGITIMIDADE DO CONSUMIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA 
 Como é de conhecimento geral, o consumidor de energia elétrica configura-se 
como contribuinte de fato do ICMS na relação jurídica tributária referente ao 
pagamento e recolhimento do ICMS. 
 Ocorre que, como também é notório, o fornecimento de energia elétrica é de 
responsabilidade de concessionárias públicas, as quais devem obedecer estrita 
legislação, inclusive na formação das tarifas. Dentre estas normas, está claro a previsão 
do repasse do ICMS ao consumidor, funcionando a concessionária como mera 
arrecadadora do ICMS, equiparando o consumidor de energia elétrica, especialmente 
quando analisada a legislação consumerista, à “contribuinte de direito”. 
 Vejamos o entendimento da jurisprudência em caso análogo de serviço 
fornecido por concessionária: 
 
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ICMS. ÁGUA TRATADA. NÃO-
INCIDÊNCIA. AÇÃO ANULATÓRIA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. 
LEGITIMIDADE ATIVA DO CONSUMIDOR. CONTRIBUINTE DE FATO. 
1. Recurso especial no qual se discute a incidência de ICMS sobre o 
serviço público de fornecimento de água tratada. 
2. A concessionária de serviço público figura apenas como 
responsável pela retenção e recolhimento do ICMS nos casos de 
prestação de serviço de tratamento de água, não possuindo 
legitimidade para integrar o pólo passivo da ação de repetição de 
indébito. Aplicação analógica do entendimento do RESP 
1.004.817/MG (art. 543-C do CPC). 
3. Tratando-se de serviço público prestado mediante concessão do 
Poder Público (Lei n. 8.987/95), decidiu a Primeira Seção que o 
usuário tem legitimidade para pleitear a repetição de indébito de 
ICMS. Aplicação, por analogia, do entendimento sufragado no RESP 
1.299.303/SC (art. 543-C doCPC). 
4. Esta Corte Superior já firmou entendimento no sentido da não 
incidência de ICMS sobre água tratada, em razão da natureza 
essencial do serviço. Precedentes: AgRg no REsp 1034735/RJ, Rel. 
Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 06/12/2010; AgRg no REsp 
1080699/RJ, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, 
julgado em 02/03/2010, DJe 15/03/2010; AgRg no REsp 1081573/RJ, 
Rel. Ministro Mauro Campbell marques, Segunda Turma, DJe 
08/03/2010. 
5. Recurso especial não provido. 
 
 
 
STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.349.196 - RJ (2012/0009183-9) 
RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES 
 
 Ademais, 
RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-
C CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. 
ENERGIA ELÉTRICA. INCIDÊNCIA DO ICMS SOBRE A DEMANDA 
"CONTRATADA E NÃO UTILIZADA". LEGITIMIDADE DO CONSUMIDOR 
PARA PROPOR AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. 
– Diante do que dispõe a legislação que disciplina as concessões de 
serviço público e da peculiar relação envolvendo o Estado-
concedente, a concessionária e o consumidor, esse último tem 
legitimidade para propor ação declaratória c/c repetição de 
indébito na qual se busca afastar, no tocante ao fornecimento de 
energia elétrica, a incidência do ICMS sobre a demanda contratada e 
não utilizada. – O acórdão proferido no REsp 903.394/AL (repetitivo), 
da Primeira Seção, Ministro Luiz Fux, DJe de 26.4.2010, dizendo 
respeito a distribuidores de bebidas, não se aplica ao casos de 
fornecimento de energia elétrica. Recurso espec ial improvido. 
Acórdão proferido sob o rito do art. 543-C do Código de Processo 
Civil. 
STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.299.303 - SC (2011/0308476-3) 
RELATOR : MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA. 
 
 Assim, o ICMS é repassado ao consumidor, estando às concessionárias 
indiferentes ao regime tributário, visto que não os afeta. Isto posto, não restam 
dúvidas quanto a legitimidade do consumidor final, já que este é sim legítimo para 
demandar visando a inexigibilidade do ICMS ou alíquotas aplicadas. 
 Nesta senda, que seja o presente recebido o processado, nos termos da 
legislação vigente. 
 
 IV – DO DIREITO 
 IV.1 – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA SOB A ÓTICA DA SELETIVIDADE 
E ESSENCIALIDADE DO PRODUTO OU SERVIÇO – ARTIGOS 150, INCISO II E 155, 
PARÁGRAFO 2º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 A Constituição Federal, em sua função limitadora do poder de tributar, pode 
delinear o grau de liberdade do qual se valerá o legislador tributário para instituir os 
tributos nela previstos. 
 
 
 Assim, não se limitou o texto constitucional a definir meramente os aspectos 
essenciais à tributação, tais como o sujeito ativo, o sujeito passivo, e o fato gerador; 
mas determinou ao legislador tributário que se pautasse em determinadas regras e 
diretrizes previstas expressamente na norma constitucional. 
Dessa forma, a Constituição facultou, no inciso I, do parágrafo 2º, do artigo 153, 
ao legislador federal instituir imposto sobre a renda progressivo, impossibilitando que 
se invoque que a progressividade da alíquota, em função da renda, par si só, implique 
em violação ao princípio da isonomia, alegação que poderia ser feita, caso a 
possibilidade da alíquota progressiva não estivesse expressa no texto constitucional. 
Da mesma forma, determinou a diversidade das alíquotas do imposto territorial 
rural, de modo a desestimular a manutenção de propriedades rurais improdutivas. 
Sendo assim, não pode o grande proprietário de gleba improdutiva alegar a 
desigualdade de tratamento em relação àqueles que detêm terras produtivas. 
Esses critérios, definidos expressamente na Constituição, decorrem, de certo 
caráter extrafiscal desses tributos, que teriam, além da função normal tributária, de 
alocação de recursos, funções extrafiscais, respectivamente, de redistribuição da renda 
e redução das desigualdades sociais (IR), e fomento função social da terra (ITR). 
Já no que se refere ao ICMS, a Constituição Federal, no inciso III, do parágrafo 
2º, do artigo 155, autorizou a flexibilização do princípio da isonomia em relação a 
seletividade do produto ou do serviço, já que o princípio da seletividade visa a 
fomentar o estimulo e a desoneração da comercialização de produtos essenciais, 
incentivando o consumo. Na realidade, o legislador constituinte originário, absteve-se 
de impor ou facultar ao legislador infraconstitucional a possibilidade de criar qualquer 
outro mecanismo de tributação diferente do que firmado no texto constitucional. 
A Carta Constitucional informa que o tratamento desigual em relação a fixação 
das alíquotasdo ICMS está vinculado a essencialidade do produto ou serviço, não 
podendo o legislador infraconstitucional trazer regra diferente da consagrada pelo 
legislador constituinte originário. 
Assim, a Impetrante se insurge contra a aplicação de alíquota majorada do 
ICMS para utilização dos serviços de fornecimento de energia elétrica, o qual é 
alcançado pela tributação com a alíquota de 25% (artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 
4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989), ao passo que a tributação do ICMS 
nas operações internas para, a rigor, todos os demais serviços/mercadorias é fixada 
em 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 
5.530/1989). 
Para que a alíquota do ICMS nos serviços de fornecimento de energia elétrica 
possa sofrer tributação diferenciada (majorada), o legislador estadual, ao fixar a 
 
 
alíquota, deveria utilizar o critério da essencialidade, previsto no texto constitucional, 
no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, da Constituição Federal. 
Todavia, o Estado do Pará, ao editar a Lei Estadual n° 5.530/1989, fixou a 
alíquota do ICMS incidente nos serviços de fornecimento de energia elétrica (serviços 
cuja essencialidade é notória para o desempenho do toda e qualquer atividade) de 
forma diferenciada e majorada em relação ao patamar de alíquota aplicável nas 
operações internas e gerais, desrespeitando o critério da essencialidade e inovando 
em relação a regra de flexibilização do critério isonômico aplicável a tributação. 
A referida lei, ao definir a alíquota aplicável aos serviços de fornecimento de 
energia elétrica, não considera o critério da essencialidade prevista na Carta Magna 
como fator preponderante para a fixação da gradação do ônus tributário, polo 
contrário, utiliza critério dissociado na importância social do produto ou do serviço. 
Percebe-se nitidamente que o critério adotado para a alíquota do ICMS não é o 
da essencialidade, já que afronta o princípio da isonomia sob a ótica da seletividade. 
Na realidade, quando se analisa o princípio da isonomia do ICMS, tem-se como 
parâmetro de aferição de igualdade não só a atividade dos contribuintes e sua área de 
atuação, mas também, a sistemática de recolhimento a que estão submetidos em 
relação a cada produto e serviço. 
A igualdade de tratamento tem que ser observada dentro da própria 
sistemática de apuração do imposto, que no caso dos autos está sendo desrespeitada, 
já que a impetrante está sendo submetida à tributação mais onerosa pela utilização de 
um serviço essencial e vital ao desenvolvimento de sua atividade econômica. Aliás, os 
serviços de fornecimento de energia não são essenciais só para a impetrante, mas para 
todas as pessoas físicas e jurídicas, contribuintes ou não do ICMS. São molas mestras 
deste mundo globalizado, não podendo sofrer diferenciação no campo da tributação 
para servirem de instrumento de arrecadação. 
Tal distinção, a par de não encontrar respaldo algum no texto constitucional, o 
contraria frontalmente, quer em relação ao inciso II do artigo 150, onde e vedado 
“instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação 
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função 
por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, 
títulos ou direitos", quer em relação ao artigo 5º, caput e inciso I, em face de cuja 
existência o dispositivo acima transcrito, é, aliás, meramente explicitante, tendo em 
vista que a única possibilidade de se afastar a aplicação do princípio da isonomia no 
esfera do ICMS é quando se aplica o princípio da seletividade do imposto, cuja 
aplicação está atrelada ao consumo e não ao sujeito passivo da obrigação tributária. 
 
 
O princípio da seletividade está previsto no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, 
da CF/88, in verbis: 
 
"Art. 155 – Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir 
impostos sobre: 
(...) 
§2º - O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: 
(...) 
III – Poderá ser seletivo, em função da essencialidade das 
mercadorias e dos serviços.” 
 
No caso dos autos, a afronta ao princípio da isonomia sob a ótica da 
seletividade/essencialidade é flagrante, já que a fixação de alíquota em patamar 
majorado em relação a produtos de menor importância social (supérfluos) e essencial 
à coletividade importa em afronta à Carta Politica Federal. 
Frise-se que no caso a exceção imposta à espécie não visa a fomentar o 
consumo de um determinado serviço, mas, impõe, sim, um tratamento desigual e 
imoral sob a ótica econômica e financeira por beneficiar somente os interesses do 
Estado (Fisco), sem trazer qualquer benefício social, seja ao consumidor ou ao setor de 
prestação de serviços em questão, afastando a possível aplicação do princípio da 
seletividade em afronta também ao princípio da isonomia. 
Nesse sentido, vale mencionar o entendimento de FÁBIO LEOPOLDO DE 
OLIVEIRA, que ensina com propriedade o exato conteúdo do princípio da isonomia, no 
que tange ao Direito Tributário: 
"O que a regra constitucional estatui é, de um lado, a obrigação de o 
legislador igualar as pessoas ou instituições afetadas pelo tributo 
dentro de categorias ou grupos, ou ainda, classificação de modo a 
evitar distinções arbitrárias (uniformidade de tratamento para as 
situações iguais), e, por outro lado, o direito que temos (cada um de 
nós) a que não sejam estabelecidos privilégios ou exceções através 
de concessões a uns, com exclusão de outros (generalidade na 
aplicação das normas)." ("Manual de Direito Tributário", São Paulo: 
Resenha Tributária, 1982). 
No caso sob exame, a violação ao princípio constitucional da isonomia é 
flagrante, pois dá ensejo à odiosa distinção, desprovida de qualquer critério, entre 
produtos de importância social diversa. 
Este indevido aumento no encargo tributário da Impetrante, além do ferir o 
disposto nos artigos 150, inciso II e 155, §2º, inciso III, da Lei Maior, fere também o 
inciso IV, do seu artigo 150, pois, como já dito, nada mais é do que um ato 
confiscatório camuflado. 
 
 
Observa-se que o confisco consiste no consumo da propriedade privada pelo 
Poder Público, sem a correspondente indenização. Aparece como medida de caráter 
sancionatório, excepcionalmente admitida nas hipóteses previstas pela Constituição, 
mas nunca no campo do Direito Tributário. 
Na hipótese em tela, o critério utilizado para a fixação da alíquota do ICMS em 
relação aos serviços de fornecimento de energia elétrica não atendeu ao critério da 
essencialidade, culminando em afronta à isonomia e à seletividade tributária. 
Cumpre destacar quo o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 
já se manifestou sobre a questão posta em julgamento e pacificou o seu 
entendimento, pelo Órgão Especial, ao julgar a Arguição de Inconstitucionalidade nº 
27/2005, no sentido de que a aplicação da alíquota do ICMS incidente sobre os 
serviços de fornecimento de energia elétrica no patamar de 25 % fere o princípio da 
seletividade tributária aplicável ao ICMS. Veja-se 
 
"EMENTA – Arguição de Inconstitucionalidade Artigo 2º, inciso I do 
Decreto n° 32.646 do ano do 2003 do Estado de Rio de Janeiro, que 
regulamenta a Lei Estadual nº 4.056/2002 que instituiu o Fundo 
Estadual do Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais. 
Superveniência da Ementa Constitucional nº 42, de 19/12/2003, que 
validou, em seu Artigo 4º, os adicionais criados pelos Estados em 
função da EC n° 31/200, mesmo aqueles em desconformidade com a 
própria Constituição. Impossibilidade de se reconhecer a 
inconstitucionalidade do Decreto n° 32.646 de 2003. Precedente do 
STF. Artigo 14, VI, item 7 do Decreto n° 27.427 doano do 2000 do 
Estado do Rio do Janeiro, que fixa a alíquota do ICMS Incidente sobre 
os serviços de energia elétrica e telecomunicações. Desatenção aos 
princípios constitucionais da seletividade e essencialidade, 
dispostos no Artigo 155, §2º da CRFB. Inconstitucionalidade 
reconhecida. Arguição parcialmente procedente. 
Cuida-se de Arguição de inconstitucionalidade do Artigo 14, VI, Item 
2, VIII, Item 7 do Decreto nº 27.427 do ano de 2000, que estipula a 
alíquota de ICMS sobre os serviços de energia elétrica e 
telecomunicações, e do Artigo 2º, I do Decreto nº 32.646 do ano de 
20003 do Estado do Rio de Janeiro, que regulamenta a Lei nº 4.056 
do ano de 2002, que instituiu o Fundo Estadual de Combate à 
Pobreza e às Desigualdades Sociais, tendo em conta a desatenção 
aos princípios da seletividade e essencialidade na fixação da 
alíquota e de sua posterior majoração. 
Relatório adotado o de fls. 286, tendo a d. Procuradoria de Justiça 
opinado no sentido da procedência parcial da Arguição. 
(...) 
A presente Arguição se restringe ao Artigo 14, VI, item 2, e VIII, item 
7 do Decreto nº 27.427/2000 e ao Artigo 2, I do Decreto 
 
 
32.646/2003, que fixam a alíquota de ICMS sobre os serviços de 
energia elétrica e telecomunicações. 
(...) 
Todavia, em relação ao Decreto 27.427/2000, ao fixar alíquota de 
25% sobre os serviços de energia elétrica e telecomunicações, 
verifica-se que não foram observados os princípios da seletividade e 
da essencialidade, dispostos no Artigo 155, §2º, III da CRFB, 
mormente quando estipula alíquotas menores a produtos 
supérfluos, com bebidas alcoólicas. 
É claro que a seletividade do ICMS é facultativa, mas não pode ser 
muito ampla, devendo, por imposição constitucional, atender aos 
critérios da gradação determinada. 
Com tais razões e adotados os fundamentos do parecer ministerial, 
na forma regimental, julga-se parcialmente procedente a Arguição, 
para declarar a inconstitucionalidade do Artigo 14, VI, item 2, e VIII, 
item 7 do Decreto nº 27.427 do ano de 2000 do Estado de Rio de 
Janeiro."- grifos não constantes no texto original. 
 
Vê-se, portanto, que a jurisprudência pátria corrobora o entendimento da 
Impetrante, no sentido de que, devido à essencialidade do serviço de fornecimento de 
energia elétrica, este não pode se sujeitar à alíquota majoradas do ICMS de 25% e sim 
à alíquota interna estadual de 17%, sob pena de violação ao Princípio da Seletividade, 
previsto no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, da CF/88. 
 
 IV.2 – DO PARECER DA PROCURADORIA GERAL REPÚBLICA NO RESP 
714.139/SC. DA ADESÃO DA PGR À VALIDADE DA TESE ORA APRESENTADA. 
 
Encontra-se no STF o Recurso Extraordinário 714.139 – SC, com repercussão 
geral deferida, em que o Ministério Público opinou pela procedência da tese aqui 
apresentada, vejamos a ementa do Parecer Ministerial, íntegra em anexo: 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 745. ICMS. 
ARTS. 150, II, E 155, § 2º, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 
SELETIVIDADE E ESSENCIALIDADE. ENERGIA ELÉTRICA E 
TELECOMUNICAÇÕES. ALÍQUOTA ESPECÍFICA SUPERIOR À 
ALÍQUOTA GERAL. INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO. 
MODULAÇÃO DE EFEITOS RECOMENDÁVEL. 
1. É inconstitucional o art. 19, inciso II, alíneas “a” e “c”, da Lei 
estadual 10.297/1996 de Santa Catarina no que prevê alíquotas do 
ICMS superiores à geral a incidirem sobre energia elétrica e serviços 
 
 
de telecomunicações, por incompatibilidade com o princípio da 
seletividade/essencialidade. 
2. Eliminada a regra especial que estipula alíquota majorada para 
energia elétrica e telecomunicações, tem-se que o ICMS de ambas 
cairá automaticamente na regra geral do Estado-membro e o 
contribuinte terá direito de pleitear a restituição dos valores pagos 
nos últimos cinco anos, nos termos do art. 168 do Código Tributário 
Nacional, não havendo falar em ofensa à separação de poderes por 
ativismo Judicial. 
3. Concretiza o princípio da igualdade tributária a instituição, a partir 
de níveis reduzidos de consumo, de alíquotas progressivas na energia 
fornecida à população economicamente mais vulnerável, ao 
contrário do que sugere o recorrente, não havendo falar em ofensa 
ao art. 150, II, da Constituição. 
3. Parecer pelo provimento parcial do recurso extraordinário. 
4. Por colocar em risco a segurança jurídica e veicular matéria de 
excepcional interesse social, recomenda-se a modulação dos efeitos 
para o futuro, com estipulação de prazo razoável para adaptação da 
legislação do ICMS pelo Legislativo catarinense. 
 
 Como se pode observar, o PGR já se posicionou favorável à tese, destacando a 
necessidade de recepcioná-la no STF. Ademais, o Procurador Geral da República 
aprofunda sua análise sobre o tema, com os seguintes termos: 
“(...) 
O legislador estadual, abraçando a seletividade, discriminou, no 
entanto, alíquota especial superior, no patamar de 25 % (vinte e 
cinco por cento), para operações com energia elétrica, produtos 
supérfluos, gasolina automotiva, álcool carburante e prestação de 
serviços de comunicação. 
De outra parte, aplicou alíquota reduzida a 12% (doze por cento) a, 
entre outras mercadorias e serviços, operações com energia elétrica 
de consumo domiciliar até 150 kWh (cento e cinquenta quilowatts-
hora) e as destinadas a produtor rural e cooperativas rurais 
distribuidoras, na parte que não exceder a 500 kWh (quinhentos 
quilowatts-hora) mensais por produtor rural. 
Observa-se, de plano, a desproporcionalidade entre a alíquota geral 
e a aplicada à energia elétrica e aos serviços de comunicação. Esse 
contraste é ainda mais nítido quando se tem em mente que a 
mesma alíquota incidente sobre produtos supérfluos é destinada à 
energia e às telecomunicações, essenciais ao exercício da dignidade 
humana. 
 
Nas palavras de Hugo de Brito Machado: 
 
 
 
‘Essencialidade é a qualidade daquilo que é essencial. E essencial, no 
sentido em que se está aqui utilizando essa palavra, é o 
absolutamente necessário, o indispensável. Assim, muito fácil é 
concluirmos que o critério indicativo da essencialidade das 
mercadorias, para fins de seletividade do ICMS, só pode ser o da 
necessidade ou indispensabilidade dessas mercadorias para as 
pessoas no contexto da vida atual em nosso País. Mercadoria 
essencial é aquela sem a qual se faz inviável a subsistência das 
pessoas, na comunidade e nas condições de vida atualmente 
conhecidas entre nós. 
Assim, não nos parece razoável colocar-se em dúvida a 
essencialidade da energia elétrica. A alíquota do ICMS incidente 
sobre o seu consumo não deve ser maior do que aquela geralmente 
aplicável para as demais mercadorias.’ 
 
Na mesma linha, confira-se o precedente do RE 634.457, assim 
ementado: 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. 
ICMS. SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA E DE TELECOMUNICAÇÕES. 
MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA. PRINCÍPIO DE SELETIVIDADE. 
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO ÓRGÃO ESPECIAL 
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA 
PROVIMENTO. 
I – Não obstante a possibilidade de instituição de alíquotas 
diferenciadas, tem-se que a capacidade tributária do contribuinte 
impõe a observância do princípio da seletividade como medida 
obrigatória, evitando-se, mediante a aferição feita pelo método da 
comparação, a incidência de alíquotas exorbitantes em serviços 
essenciais. II – No caso em exame, o órgão especial do Tribunal de 
origem declarou a inconstitucionalidade da legislação estadual que 
fixou em 25% a alíquota sobre os serviços de energia elétrica e de 
telecomunicações – serviços essenciais – porque o legislador 
ordinário não teria observado os princípios da essencialidade e da 
seletividade, haja vistaque estipulou alíquotas menores para 
produtos supérfluos. III – Estabelecida essa premissa, somente a 
partir do reexame do método comparativo adotado e da 
interpretação da legislação ordinária, poder-se-ia chegar à conclusão 
em sentido contrário àquela adotada pelo Tribunal a quo. IV – Agravo 
regimental a que se nega provimento (RE 634457 AgR, Relator Min. 
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 15 ago. 2014). 
(...) 
Por outro lado, ao tributar sobremaneira o consumidor comum de 
energia e serviços de telecomunicação, o legislador estadual criou 
 
 
fator de discrímen que malfere o direito do contribuinte à 
facilitação do acesso a esses produtos/serviços. 
O Poder Judiciário tem não apenas a competência, mas igualmente o 
dever de investigar a questão (CF, art. 5º, XXXV), de modo a afastar 
do cenário jurídico a lei inconciliável com a proteção constitucional 
ao contribuinte. 
Eliminada a regra especial que estipula alíquota majorada para 
energia elétrica e telecomunicações, tem-se que o ICMS de ambas 
cairá automaticamente na regra geral do Estado-membro (hoje sob 
alíquota de 17%). O contribuinte, por sua vez, terá direito de pleitear 
a restituição dos valores pagos nos últimos cinco anos, nos termos do 
art. 168 do Código Tributário Nacional. 
Não se diga, assim, que se trata de provimento jurisdicional de 
caráter aditivo, argumento que abre portas para elucubrações na 
seara da separação de poderes. Cuidadosamente enfrentado o ponto 
por Leonardo Freitas, colhe-se a seguinte lição: 
[…] como a existência da exceção não compromete a vigência da 
regra (LICC, art. 2º, § 2º), mas apenas alija determinados casos do seu 
campo de aplicação, recaindo o juízo de inconstitucionalidade sobre 
aquela (exceção), a sua consequência lógica será, inegavelmente, o 
restabelecimento desta (regra) em razão do afastamento daquela, 
justamente o fator que impedia a sua incidência sobre as hipóteses, 
até então, tratadas como excepcionais. 
E quem dá esta resposta é o próprio sistema legal e, portanto, o 
legislador. O Judiciário tem uma atuação neutra: limita-se a constatar 
os “novos” traços jurídicos da relação em causa, a partir de 
elementos fornecidos pela malha legal afeta à questão. [...] 
 
 Assim, de forma brilhante, o Parecer da PGR é muito bem fundamentado, 
demonstrando atual e claro entendimento da condição de contribuinte e da correta 
forma de aplicação dos princípios tributários norteadores da questão. 
 
 IV.3 – DA CORRETA APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PRINCÍPIO DA 
EXTRAFISCALIDADE SOB A ÓTICA DA SELETIVIDADE E ESSENCIALIDADE DO PRODUTO 
OU SERVIÇO – ARTIGOS 150, INCISO II E 155, PARÁGRAFO 2º, INCISO III, DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
 Outra questão relevante, diz respeito ao critério da extrafiscalidade em que o 
Poder Constituinte, ao dispor no inciso II, do §2º, do artigo 155, da CF/88, que o ICMS 
“poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços”, não 
 
 
propôs simplesmente uma recomendação aos entes tributantes, mas sim estabeleceu 
determinação a eles. 
 Nesse sentido, percebe-se que a extrafiscalidade inerente ao ICMS encontra-se 
condicionada ao caráter do bem ou serviço em questão. Ou seja, ao estabelecer a 
alíquota do ICMS de forma seletiva (faculdade), deve-se observar a importância do 
bem ou serviço (imperatividade). 
 Corroborando com este entendimento, veja-se os ensinamentos do ilustre 
Jurista Roque Antonio Carrazza, in verbis: 
“O atual ICMS, pelo contrário, deve ser um instrumento de 
extrafiscalidade, porquanto, a teor do Art. 155, §2ª, III, da CF, ‘poderá 
ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos 
serviços’. Convém salientarmos, desde logo, que, a nosso ver, este 
singelo ‘poderá’ equivale, na verdade, a um peremptório ‘deverá’. 
Não está, ai, diante de uma mera faculdade do legislador, mas de 
uma norma congente, de observância obrigatória. 
Ademais, quando a Constituição confere a uma pessoa política um 
‘poder’, ela, ipso facto, lhe impõe um ‘dever’. É por isso que se 
costuma falar que as pessoas políticas têm poderes deveres (Celso 
Antônio Bandeira de Mello).” 
 Contudo, ainda que não seja considerada a obrigatoriedade da observação da 
seletividade do ICMS, mas sim uma mera faculdade do legislador estadual, verifica-se 
que o que ao menos se pretendeu com o inciso II, do §2º, do Artigo 155, da CF/88, foi 
assegurar que as alíquotas do ICMS, ao serem fixadas em percentuais diferenciados, 
atendessem a essencialidade do produto/serviço. 
 De fato, ainda que se entenda pela faculdade do legislador estadual em 
incorporar o princípio constitucional da seletividade ao ICMS, o mesmo, ao optar por 
incorporar o referido princípio na legislação estadual – o que se consubstancia na 
diferenciação entre as alíquotas fixadas para o cálculo do imposto – deve, 
necessariamente, observar o critério da essencialidade do produto. 
 Veja-se o disposto no artigo 155, §2º, inciso III, da CF/88: 
‘Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir 
impostos sobre: 
(...) 
§ 2º. O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: 
(...) 
III – poderá ser seletivo, em função da essencialidade das 
mercadorias e dos serviços,” 
 
 
 
Ou seja, através desse racional, verifica-se que a faculdade do legislador 
estadual é, tão-somente, quanto à possibilidade de instituir a cobrança do ICMS com 
base em uma única alíquota ou em alíquotas diferenciadas e não quanto à 
possibilidade de se observar ou não o Princípio da Seletividade/Essencialidade, o qual 
deverá ser observado de forma obrigatória, caso opte em diferenciar a onerosidade do 
imposto em relação ao produto/serviço. 
 Significa dizer que, para a adoção de alíquotas diferenciadas, deve ser analisada 
a essencialidade do produto. Ou seja, quanto maior a importância e necessidade do 
produto, menor deve ser obrigatoriamente a alíquota do ICMS incidente sobre o 
mesmo. 
Caberia, portanto, ao Legislador Estadual, em atenção ao Princípio da 
Seletividade do ICMS, fixar alíquota do ICMS de forma coerente e proporcional à 
essencialidade do produto, ou seja, quanto mais essencial e necessário, menor a 
alíquota do referido tributo, o que evidentemente não foi observado no presente caso, 
conforme se verifica pela simples leitura do artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 
4.676/2001 e do artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989. 
 Assim, o legislador estadual não se atentou ao caráter essencial dos serviços de 
energia elétrica, o qual é público e notório, já sendo, inclusive, reconhecido pela 
legislação pátria como serviço indispensável ao atendimento das necessidades 
inadiáveis da comunidade. 
 Neste sentido, a Constituição Federal, no inciso III, do parágrafo 2º, do artigo 
155, autorizou a flexibilização do princípio da isonomia em relação à seletividade do 
produto ou do serviço, já que o princípio da seletividade visa fomentar o estímulo e a 
desoneração da comercialização de produtos essenciais, incentivando o consumo. 
 A Carta Constitucional informa que o tratamento desigual em relação à fixação 
das alíquotas do ICMS está vinculado à essencialidade do produto ou serviço, não 
podendo o legislador infraconstitucional trazer regra diferente da consagrada pelo 
legislador constituinte originário. 
 Nesse sentido, a Lei n.7.783/89, a qual dispõe sobre “o exercício do direito de 
greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades 
inadiáveis da comunidade, e dá outras providências”, trouxe, em seu art. 10, uma lista 
de serviços/atividades consideradas essenciais à coletividade, dentre os quais está o 
serviço de fornecimento de energia elétrica, in verbis: 
“Art.10. São considerados serviços ou atividades essenciais: 
I – tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de 
energia elétrica, gás e combustíveis; 
(...)” 
 
 
 
A fim de preservar os serviços essenciais à coletividade, o legislador federal 
brasileiro impôs uma série de proteções ao fornecimento de energia, visando a sua 
continuidade não apenas nos casos de greve, mas também a quaisquer tipos de 
interrupção, seja por cobrança de dívidas ou por falta do próprio serviço, isto porque 
pela natureza essencial da prestação, presume-se o decréscimo ou ausência de 
qualidade de vida, de dignidade e por vezes da própria realização da cidadania, 
fundamentos a que se apóia a Reública Federativa do Brasil (artigo 1º da Constituição 
Federal de 1988). 
 Sobre a natureza essencial dos serviços de fornecimento de enrgia, cumpre 
trazer os ensinamentos da mestra Ada Pellegrini Grinover, em sua obra “Código de 
Defesa do Consumidor”, in verbis: 
“É sempre muito complicado investigar a natureza do serviço público, 
para tentar surpreender, neste ou naquele, o traço da sua 
essencialidade. Com efeito, cotejados, em seus aspectos 
multitarifários, os serviços de comunicação telefônica, de 
fornecimento de energia elétrica, água, coleta de esgoto ou de lixo 
domiciliar, todos passam por uma gradação de essencialidade, que se 
exacerba justamente quando estão em causa os serviços públicos 
difusos (ut universi) relativos à segurança, saúde e educação” 
 Continua ainda a eminente doutrinadora dizendo que “Parece-nos, portanto, 
mais razoável sustentar a imanência desse requisito em todos os serviços prestados 
pelo Poder Público”. 
 Por todo o exposto, conclui-se, de forma incontestável, a obviedade do alto 
grau de essencialidade da energia elétrica, o que demonstra que a sua tributação pelo 
ICMS com base em alíquota majorada implica em violação inequívoca ao princípio da 
seletividade do ICMS, previsto no art. 155, §2º, III, da CF/88. 
 Isto porque não se pode contestar a incoerência evidente existente na 
imposição legal de uma alíquota de 17% para o cálculo do ICMS incidente sobre a 
venda de mercadorias em geral, como por exemplo, brinquedos, roupas, joias e fogos 
de artifício, enquanto a alíquota a ser aplicada sobre operações com energia elétrica é 
de 25%, serviço este que é evidentemente bem mais essencial, sendo ele indispensável 
para o regular desenvolvimento da atividade de qualquer pessoa jurídica e 
imprescindível ao atendimento das necessidades de qualquer contribuinte (pessoa 
física ou jurídica), o que torno evidente a violação aos Princípios da 
Seletividade/Essencialidade e da Proporcionalidade/Razoabilidade previstos no art. 
155, §2º, III, da CF/88. 
 Assim, a essencialidade depende da mercadoria ou do serviço e não do 
destinatário, conforme sustenta Roque Carraza: 
 
 
“Observamos que a seletividade do ICMS refere-se à mercadoria ou 
ao serviço em si mesmos considerados e, não, à sua destinação ou 
fase de circulação (operação entre industrial e comerciante, entre 
atacadista e varejista, entre varejista e consumidor final, etc.). 
Noutros termos, as alíquotas do ICMS não poderão variar conforme a 
etapa da circulação ou a destinação da mercadoria ou do serviço. 
Assim, por exemplo, a tributação da venda de limão levada a efeito 
pelo produtor rural deverá ser sempre a mesma, pouco importando 
se ela se der para consumidor final, para indústria farmacêutica 
(onde a fruta será utilizada para o fabrico de remédios), para 
indústria química (onde será utilizado para o fabrico de produtos de 
limpeza) ou para instituto de beleza (que utilizará em cremes, loções, 
perfumes e cosméticos em geral).” 
Ou seja, o fato da energia ser adquirida tanto por uma pessoa jurídica ou física 
(estabelecimento comercial) não desnatura a seletividade/essencialidade da mesma. 
 Até mesmo porque, a Autora é consumidor final de energia elétrica como 
qualquer outro contribuinte pessoa física, os quais, como visto, são bens e serviços 
considerados molas mestras para a execução de seu objeto social, encerrando essa 
diferenciação de alíquotas verdadeira violação também ao Princípio da Isonomia (art. 
150, II, CF/88). 
 Conclui-se, finalmente, por todos os ângulos que se examine a questão, que a 
matéria é puramente de direito e o direito está com a Impetrante. 
Desta forma, serve o presente mandamus para que seja reconhecido o direito 
líquido e certo da Impetrante de pagar o ICMS incidente sobre os serviços de 
fornecimento de energia elétrica com base na alíquota interna de 17% (artigo 20, 
inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989), sendo 
afastada, a alíquota majorada de 25% (artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e 
artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989). 
 
V – DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO – COMPENSAÇÃO. DO MANDADO DE 
SEGURANÇA COMO MEIO ADEQUADO. DA DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE 
QUANTUM DEBEATUR EM MOMENTO INICIAL. DA PRESCRIÇÃO. 
 
Superada a discussão carreada acima e garantido o direito do Impetrante, 
temos, na mesma toada, a necessidade de reconhecer tal direito em relação às 
obrigações pretéritas, para que possa o Impetrante, com base neste writ usufruir de 
compensação tributária. 
 
 
Para tanto, cabe ressaltar que a utilização do mandado de segurança para a 
declaração do direito a restituição do indébito mediante compensação é amplamente 
aceito na jurisprudência, entendimento consolidado no STJ, através da súmula 213, 
que orienta: 
“Súmula nº 213: O mandado de segurança constitui ação adequada 
para a declaração do direito à compensação tributária”. 
Assim, o entendimento do STJ é claro. O Mandado de Segurança é via idônea e 
eficaz para se declarar e obter direito de compensação, sendo que esta vai ocorrer na 
forma habitual, ou seja, o contribuinte dá início ao autolançamento, informando o 
valor devido e o crédito compensado à Administração. 
Visto isto, cabe esclarecer que a restituição, pela Administração Pública, de 
valores indevidamente recolhidos a maior é direito do sujeito passivo, 
independentemente da modalidade do pagamento, com forme o disposto no artigo 
165, do Código Tributário Nacional (CTN). Assim, vejamos: 
"Art. 165 – O sujeito passivo tem direito independentemente de 
prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo seja qual for 
a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do 
artigo 162, nos seguintes casos: 
I – Cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior 
que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou de 
natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente 
ocorrido. 
II – erro na edificação do sujeito passivo, no determinação da 
alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na 
elaboração ou conferência do qualquer documento relativo ao 
pagamento; 
III – reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão 
condenatória. ” 
 
Analisando a legislação supramencionada, percebe-se que o Fisco autoriza, 
expressamente, que a Impetrante seja restituída dos valores indevidamente pagos a 
maior pela aplicação de alíquota majorada de ICMS incidente sobre aquisição de 
fornecimento de energia elétrica sob a forma aproveitamento de crédito na escrita 
fiscal ou mediante compensação (art. 51, Decreto Nº 4.676, de 18 de junho de 2001). 
Cumpre esclarecer que apesar do figurarem no pólo passivo da obrigação 
tributária as concessionárias, permissionárias e autorizativas de serviços públicos de 
telecomunicação e fornecimento de energia elétrica, há o repasse do ônus tributário à 
Impetrante, sendo certo que esta, na qualidade de consumidor final, é quem assume o 
encargo econômico decorrente do pagamento do ICMS sobre os serviços de 
telecomunicaçãoe fornecimento de energia elétrica. 
 
 
Neste sentido, a Impetrante requer quo seja assegurado por este MM. Juízo o 
seu direito a restituição do ICMS pago a maior nos últimos 5 (cinco) anos, em razão do 
recolhimento do imposto incidente sobre o fornecimento de energia elétrica com base 
na alíquota de 25%, ao invés de 17%, determinando, assim, que o Estado do Pará 
aceite o creditamento do ICMS pago a maior diretamente em sua escrita fiscal ou 
mediante compensação, ambos na forma dos art. 51, Decreto Nº 4.676, de 18 de 
junho de 2001; 
Ademais, os valores pagos a maior, nos últimos 5 (cinco) anos, deverão ser 
devolvidos à Impetrante devidamente corrigidos, aplicando-se, para tanto, os índices 
de correção monetária utilizados pelo Estado do Pará para a correção de seus créditos 
tributários. 
Por fim, no que se refere a aplicação de juros de mora, o CTN, em seus artigos 
161, parágrafo 1º, c/c 167, parágrafo único, determina que se aplique a taxa de 1% 
(um por cento) mensal, após a trânsito em julgado, o que também deverá ser adotado 
no presente caso. 
No que concerne ao prazo prescricional, disciplinado no art. 168, I do CTN, que 
teve seu alcance modificado pela LC 118/2005, o STJ já pacificou o entendimento de 
que, atualmente, é o de cinco anos, contados do pagamento, conforme ficou decidido 
em recurso repetitivo (STJ. EDcl nos EREsp 925.126/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, 
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 10/05/2010). 
Ademais, há de se ressaltar que é desnecessária a comprovação do quantum 
debeatur nesse momento inicial, o que deverá ser realizado a quando da compensação 
do crédito tributário, seja na esfera administrativa ou na liquidação da sentença, 
conforme orientação do TRF1 e do STJ: 
Vejamos o TRF1: 
 
Ementa: Processual Civil. Tributário. Contribuição previdenciária. 
Receita bruta da comercialização da produção rural. Legitimidade 
ativa: contribuinte individual. Segurado especial. Produtor rural. 
Prova material. Prescrição. Declaração pelo STF da inexigibilidade da 
exação. (...) II. É assente na jurisprudência desta Corte que “para 
mera discussão judicial sobre possível repetição de tributos 
dispensa-se prova dos recolhimentos, que se fará, se o caso, 
quando das eventuais compensação (na esfera administrativa, sob 
o crivo da Administração) ou restituição (na liquidação da 
sentença)” (AC 2002.34.00.000166-5/DF, Rel. Juiz Federal Rafael 
Paulo Soares Pinto (Conv.), Sétima Turma, e-DJF1 p.291 de 
11/04/2008). Basta a comprovação de estar o contribuinte na 
situação jurídica que lhe garanta o direito. (...)l. (AC 0001517-
44.2011.4.01.3604/MT, rel. Des. Federal Leomar Barros Amorim de 
 
 
Sousa, 8ª Turma, Unânime, Publicação: e-DJF1 de 23/03/2012, p. 
1.339.) 
 
Vejamos o STJ: 
 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. INEXISTÊNCIA 
DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. AÇÃO DECLARATÓRIA DE DIREITO A 
APROVEITAMENTO DE CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI SUSPENSO 
ILEGALMENTE COM PEDIDO DE RESSARCIMENTO (ART. 1o. DO DL 
491/69). SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO PARA 
DECLARAR A EXISTÊNCIA DO DIREITO DA AUTORA DE USUFRUIR DO 
DENOMINADO CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI NO PERÍODO DE 07.12.79 A 
31.03.81, BEM COMO CONDENOU A FAZENDA NACIONAL AO 
RESSARCIMENTO DO BENEFÍCIO COM CORREÇÃO MONETÁRIA E 
JUROS DE MORA A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO. LIMITAÇÃO 
DA CONDENAÇÃO, EM REMESSA OFICIAL, ÀS GUIAS DE IMPORTAÇÃO 
JUNTADAS COM A INICIAL. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO SOBRE A 
QUESTÃO OU DE DECISÃO DO JUIZ SINGULAR A RESPEITO DA 
SUFICIÊNCIA DA DOCUMENTAÇÃO. EFEITO TRANSLATIVO DA 
REMESSA NECESSÁRIA QUE ENCONTRA LIMITES NO PRINCÍPIO DO 
CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À 
PROPOSITURA DA AÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LEGITIMIDADE AD 
CAUSAM. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DO RESTANTE DA 
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DO QUANTUM DEBEATUR POR 
OCASIÃO DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA, QUE DEVERÁ SER FEITA 
POR ARTIGOS, NOS TERMOS DA PACÍFICA ORIENTAÇÃO DESTA 
CORTE. JUROS DE MORA DEVIDOS A PARTIR DO TRÂNSITO EM 
JULGADO. APLICAÇÃO, IN CASU, TÃO-SOMENTE, DA TAXA SELIC. 
PRECEDENTES. SUCUMBÊNCIA TOTAL DA FAZENDA NACIONAL. 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 10% DO VALOR DA 
CONDENAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. ACÓRDÃO SUJEITO AO 
REGIME DO ART. 543-C E DA RES. 08/STJ. (...) 
6. É dispensável que na inicial da ação de conhecimento se exiba 
toda a documentação alusiva ao crédito prêmio de IPI, das 
operações realizadas no período cujo ressarcimento é pleiteado, 
uma vez que essa prova não diz respeito, propriamente, ao direito 
da parte, que, nesse momento, deve comprovar, apenas a sua 
legitimidade ad causam e o seu interesse. 
7. A jurisprudência desta Corte Superior já se manifestou pela 
possibilidade de juntada da prova demonstrativa do quantum 
debeatur em liquidação de sentença: REsp. 685.170/DF, Rel. Min. 
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 10.08.2006; REsp. 894.858/DF, 
Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 01.09.2008; REsp. 980.831/DF, Rel. 
Min. LUIZ FUX, DJe 29/06/2009; AgRg no REsp. 1.067.126/DF, Rel. 
Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 07.06.2010; REsp. 1.185.202/DF, 
Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 13.09.2011; REsp. 1.111.003/PR, 
Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, julgado sob o rito do art. 543-C do 
CPC, DJe 25.05.2009. 
 
 
(...)11. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do 
art. 543-C do CPC e da Res. 8/STJ.(REsp 959338/SP, Rel. Ministro 
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 
29/02/2012, DJe 08/03/2012) 
Desse modo, resta claro que a Impetrante faz jus ao ressarcimento mediante 
compensação dos pagamentos indevidos, referentes ao ICMS cobrado à maior, com 
alíquota de 25%, incidente sobre a compra de energia elétrica, ora combatida neste 
mandamus, devendo comprovar o quantum debeatur no momento da compensação 
administrativa ou liquidação de sentença. 
 
VI – DA MEDIDA LIMINAR – PRESENÇA DOS REQUISITOS DO FUMUS BONI 
IURES E DO PERICULUM IN MORA 
 
VI.1 – "FUMUS BONI IURIS” 
O fumus boni iuris ressalta da relevante fundamentação apresentada em 
sustentação ao direito líquido e certo da impetrante, uma vez que os serviços de 
fornecimento de enrgia elétrica é essencial não só para a Impetrante, mas para todas 
as pessoas físicas e jurídicas, contribuintes ou não do ICMS, não podendo ser 
tributados pelo ICMS à alíquota superior à alíquota interna estadual, em decorrência 
do Princípio da Seletividade, previsto no artigo 155, § 2º, inciso III da CF/88. 
No entanto, o legislador estadual desconsiderou o caráter essencial do produto 
ao dispor no artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 
5.530/1989, acerca da alíquota majorada do ICMS incidente sobre os serviços de 
fornecimento de energia elétrica de 25%, em detrimento da alíquota interna de 17% 
(artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989). 
Neste caso, a referida Lei Estadual, ao estabelecer as alíquotas que devem servir de 
base para a incidência do ICMS, utilizou critério aleatório e dissociado da finalidade do 
princípio constitucional da seletividade (artigo 155, § 2°, inciso III da CF/88), o qual 
determina quo a fixação das alíquotas do ICMS deverá atender a essencialidade do 
produto quando fixada em patamar diverso ao da alíquota interna ordinária de 17%. 
 Nesse sentido, inclusive, é o entendimento do Eg. Tribunal de Justiça do Rio de 
Janeiro, o qual, ao julgar a Arguição de Inconstitucionalidade nº 27/2005, decidiu que a 
aplicação da alíquota do ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia 
elétrica no patamar de 25% fere o princípio da seletividade tributária aplicável ao 
ICMS. 
 Desta forma, resta cabalmente demonstrado o fumus boni iures necessário à 
concessão da liminar no presente mandamus. 
 
 
 
VI.2 – “PERICULUM IN MORA” 
O periculum in mora decorreda exigência legal que se impõe a Impetrante 
continuar a suportar um encargo no preço correspondente a alíquota do ICMS 
majorada toda vez que adquirir serviços de fornecimento de energia elétrica de 
terceiros, aumentando, indevidamente, o custo do bem essencial, quando deveria 
haver retração da alíquota cobrável, por força da necessidade absoluta do serviço em 
voga, que, de maneira nenhuma, pode ser tratado como supérfluo. 
Como se vê nitidamente, a concessão da liminar é medida que se impõe no 
presente caso, sob pena de, mesmo reconhecido ao final da presente demanda o 
direito da Impetrante de suportar o pagamento de ICMS em patamar menor do que 
está sendo praticado atualmente, já terá sofrido grandes prejuízos financeiros e até 
mesmo patrimoniais, pois terá que lançar mão de suas reservas de capital para pagar o 
ICMS majorado incluído no preço final dos serviços de fornecimento de energia 
elétrica praticado pelas empresas concessionárias, permissionárias ou autoriozatárias 
de serviços públicos. 
Pelo exposto, verifica-se que estão presentes os requisitos do fumus boni iuris e 
do periculum in mora exigidos pelo art. 7º, inciso III, da Lei 12.016/2009, devendo ser 
deferida a medida liminar requerida. 
 
VII – DO PEDIDO 
 Por todo o exposto, requer a Impetrante a V.Exa, (era nome de todos os seus 
estabelecimentos situados no Estado do Pará), que: 
a) seja CONCEDIDA MEDIDA LIMINAR, inaudita altera pars, para determinar que 
as empresas concessionárias de serviços de fornecimento de energia elétrica atuantes 
no Estado do Pará, submetidas à sujeição passiva do ICMS, observem na formação do 
preço dos serviços de fornecimento de energia elétrica comercializados com a 
Impetrante o seu direito do pagar o ICMS incidente no utilização de tais serviços pela 
alíquota interna de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, 
Lei Nº 5.530/1989), suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, na forma do 
artigo 151, inciso V, do CTN, bem como determinando-se que a autoridade coatora 
aceite o recolhimento do ICMS realizado pelas empresas concessionárias, 
permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, no forma acima requerida, 
deixando de praticar ato contrário a determinação judicial e, consequentemente, 
V.Exa., determine a expedição do ofício às empresas concessionárias, permissionárias 
e autorizatárias de serviços de fornecimento de energia elétrica atuantes neste Estado. 
 
 
b) seja determinada a notificação da Autoridade Coatora, para prestar suas 
informações no prazo legal (art. 7º, inciso I, da Lei n° 12.016/2009); 
c) que seja dada ciência do feito à Procuradoria Geral do Estado, para que, 
querendo, ingresse no feito, nos termos do art. 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009; 
d) intimar o I. representante do Ministério Público para, querendo, oferecer seu 
parecer; 
e) após a manifestação do Ministério Público, seja, ao final, CONCEDIDA A 
ORDEM postulada, julgando-se procedente o pedido da Impetrante, para: 
f) confirmando-se a Medida Limina: 
f.1) que seja assegurado o seu direito líquido e certo de pagar o ICMS incidente 
sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica pela alíquota interna de 17% 
(artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989), 
determinando à autoridade coatora que informe e autorize às concessionárias, 
permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, que se submetem à sujeição 
passiva do imposto, a observar a alíquota de 17% a título de ICMS na formação do 
preço final de seus produtos e serviços consumidos pela Impetrante, e; 
f.2) que seja reconhecido o direito ao crédito decorrente da diferença entre os 
valores indevidamente recolhidos do ICMS, nos últimos 5 (cinco) anos, sobre a 
aquisição de fornecimento do energia elétrica com base na alíquota do 25% e os 
valores que seriam devidos com base na alíquota de 17%, corrigidos monetariamente 
e com a aplicação dos juros de mora no percentual de 1% (um por cento) após o 
trânsito em julgado, na forma do artigo 161, §1º c/c 167, ambos do CTN, 
determinando que o Estado do Pará: 
I – Aceite o aproveitamento do crédito do ICMS pago a maior diretamente em 
sua escrita fiscal, na forma do RICMS/Pa (Decreto Nº 4.676/2001), resguardado 
o direito da fazenda pública em verificar a correção dos valores creditados em 
conta gráfica; 
II – Ou subsidiariamente, a restituição/compensação dos valores 
indevidamente recolhidos, mediante procedimento administrativo previsto no 
RICMS/Pa (Decreto Nº 4.676/2001); 
Informa, por oportuno, o endereço das autoridades coatoras, pare fins de 
notificação: 
Diretor de Arrecadação e informações Fazendárias, Sra. Edna 
de Nazaré Cardoso Farage – Rua Visconde de Souza Franco n.º 
110; 
 
 
Coordenador da Célula de Análise e Controle da Arrecadação, 
Sra. Marly Tereza Coutinho Mota – Rua Visconde de Souza 
Franco n.º 110; 
Coordenador Executivo Regional de Administração Tributária 
e Não-Tributária, Sr. João Guilherme Melo Cavaleiro de 
Macedo – Av. Gentil Bittencourt, 2566 entre Castelo Branco e 
José Bonifacio; 
Coordenador Executivo Especial de Administração Tributária e 
Não-Tributária – Grandes Contribuintes, Sra. Márcia Maria 
Costa Santos– Trav. 14 de Abril, nº 2010; 
 
Outrossim, a Impetrante informa, em cumprimento ao art. 39, inciso I, do CPC, 
o endereço onde seus advogados receberão intimações: Av. Wandenkolk, 811, salas 
504/506, Ed. Village Millenium, Nazaré, Belém/Pa, CEP 66.055-030, requerendo que 
todas as publicações relativas ao presente feito sejam efetuadas em nome dos 
advogados ALEX CENTENO, inscrito na OAB/PA sob n. 15.042, LEONARDO MAIA 
NASCIMENTO, inscrito na OAB/PA sob n. 14.871, ARTHUR SISO PINHEIRO, inscrito na 
OAB/PA sob n. 17.657, BERNARDO ALBUQUERQUE DE ALMEIDA, inscrito na OAB/PA 
sob n. 18.940, THIAGO PEREIRA DE CARVALHO, inscrito na OAB/PA sob n. 19.303 e 
OTAVIO AUGUSTO DA SILVA SAMPAIO MELO, inscrito na OAB/PA sob n. 16.676. 
Por fim, a Impetrante protesta, desde já, pela juntada da cópia autenticada dos 
documentos que instruem a presente demanda. 
Dá-se a causa o valor do R$ 10.000,00 (dez mil reais). 
Nestes termos, 
Pede deferimento. 
Belém, 18 de Outubro de 2015. 
 
 
ALEX CENTENO BERNARDO ALMEIDA OTAVIO AUGUSTO MELO 
OAB 15.042/PA OAB 18.940/PA OAB 16.676/PA 
 
 
 
ROL DE ANEXOS: 1 – Procuração; 2 – Substabelecimento; 3 – Contrato Social; 4 – 
Comprovante de pagamento e consumo de energia elétrica; 5 – Comprovante de 
pagamento de custas; 6 – Instrução Normativa 0008, de 14 de julho de 2005; 7 – 
Parecer Ministerial (PGR);

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