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EXMO (A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA ___VARA DA FAZENDA, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO. FARMÁCIA PERSONALE LTDA., pessoa jurídica de direito privado regularmente constituída, com sede sito à Rua Antônio Barreto, nº 815, bairro Umarizal, Belém – PA, inscrita no CNPJ sob o nº 34.686.568/0001-20, neste ato representado por ANA MARIA DE OLIVEIRA, brasileiro, divórcio, farmacêutica, portador do RG 1831208 SSP/Pa e do CPF 282.092.302-04, residente e domiciliado na Travessa Nove de Janeiro, n 701, Edifício Twin Towers, bairro Cremação, CEP 66063-260, Belém, PA, vem, em nome de todos os seus estabelecimentos situados no Estado do Pará, à presença de V.Exa., bem como nos arts. 1º e seguintes, da Lei nº 12.016/09, impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS Contra ato coativo e ilegal que está na iminência de ser praticado pelo DIRETOR DE ARRECADAÇÃO E INFORMAÇÕES FAZENDÁRIAS, SRA. EDNA DE NAZARÉ CARDOSO FARAGE; COORDENADOR DA CÉLULA DE ANÁLISE E CONTROLE DA ARRECADAÇÃO, SRA. MARLY TEREZA COUTINHO MOTA; COORDENADOR EXECUTIVO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA E NÃO-TRIBUTÁRIA, SR. JOÃO GUILHERME MELO CAVALEIRO DE MACEDO; COORDENADOR EXECUTIVO ESPECIAL DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA E NÃO-TRIBUTÁRIA – GRANDES CONTRIBUINTES, SRA. MÁRCIA MARIA COSTA SANTOS ou quem os substitua no exercício da coação impugnada, o qual integra a SEFA - SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA DO PARÁ, pelos motivos de fato e fundamentos de direito a seguir aduzidos. I – DOS FATOS A Impetrante atua no comércio varejista e atacadista possuindo, atualmente, estabelecimentos no Estado do Pará, atuando no ramo farmacêutico, com clientela fixa e vasta, bem como contribuindo à criação de vagas diretas e indiretas de emprego formal. No desenvolver de sua atividade, a Impetrante mantém considerável estrutura operacional, a qual engloba desde a manutenção e conservação de mercadorias, inclusive, àquelas classificadas como perecíveis, até a organização gerencial de suas operações, lhe propiciando um desempenho de destaque no seu ramo de atividade. Ao realizar esta atividade, a Impetrante enquadra-se na condição de contribuinte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Comunicação e de Transporte Intermunicipal e Interestadual – ICMS. Para o exercício de seu objeto social e regular funcionamento de sua estrutura organizacional, a Impetrante consome, de forma essencial ao desempenho de suas atividades, energia elétrica, os quais são alcançados pelo ICMS, pela alíquota de 25% (vinte e cinco por cento) na forma do artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989, o que caracteriza um tratamento diferenciado e discriminatório em relação à fixação da alíquota de outros produtos que se submetem ai regime ordinário, hoje fixada no patamar de 17% (dezessete por cento) previsto no artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989. Neste diapasão, a Lei Estadual nº 5.530/1989, regulamentada pelo Decreto Estadual nº 4.676/2001, em seu artigo 12, inciso III, a, dispõe sobre a alíquota do ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica, nos seguintes termos: Art. 12. As alíquotas internas são seletivas em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços, na forma seguinte: III - a alíquota de 25% (vinte e cinco por cento): a) nas operações com energia elétrica; Desta forma, a referida Lei Estadual ao estabelecer as alíquotas que devem servir de base para a incidência do ICMS utiliza critério aleatório e dissociado da finalidade do princípio constitucional da seletividade (artigo 155, § 2º, inciso III da CF/88), o qual determina que a fixação das alíquotas do ICMS deverá atender a essencialidade do produto quando fixada em patamar diverso ao da alíquota interna ordinária de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989) forçando o Poder Legislativo, quando a importância de cada produto ou serviço no meio social. No caso em análise, a referida lei estadual, ao fixar as alíquotas do ICMS, ignorou o critério da essencialidade aplicável ao imposto para fixar a alíquota de 25% de ICMS incidente na utilização dos serviços de energia elétrica. Em virtude desta equivocada e inconstitucional lei, eis que fere frontalmente o Princípio da Isonomia sob a ótica da Seletividade e Essencialidade do produto ou serviço, a Impetrante busca tutela judicial para deixar de recolher o referido imposto pela alíquota majorada, submetendo-se à tributação pela alíquota interna e geral de 17% em relação aos fatos geradores futuros referentes aos serviços de fornecimento de energia elétrica. Desta forma, serve o presente writ of mandamus, para reconhecer o direito da Impetrante de deixar de pagar o ICMS sobre serviços de fornecimento de energia pela alíquota majorada de 25%, submetendo-se à tributação pela alíquota interna e geral de 17% em relação aos fatos geradores futuros, conforme previsto no artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989. II – DA DEFINIÇÃO DA AUTORIDADE COATORA Com o intuito de melhor identificar a autoridade coatora da presente demanda, o impetrante junta, em anexo, a Instrução Normativa Nº 0008, de 14 de julho de 2005, a qual define a estrutura organizacional da Secretaria da Fazenda do Estado do Pará. Isto posto, é possível identificar as seguintes autoridades coatoras no que tange a presente demanda, vejamos: 1ª Autoridade Coatora: Diretor de Arrecadação e informações Fazendárias, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: “Art. 43. À Diretoria de Arrecadação e Informações Fazendárias – DAIF, que tem a missão de elaborar, gerenciar, acompanhar e controlar as atividades de arrecadação de receitas estaduais e informações fazendárias, definindo estratégias de ação, objetivando a satisfação do cliente e a maximização da receita, compete: II – definir procedimentos de arrecadação relativos às atividades da administração fazendária; III – acompanhar o cumprimento das obrigações tributárias, relativos à área de arrecadação e informações econômico-fiscais; (...)” 2ª Autoridade Coatora: Coordenador da Célula de Análise e Controle da Arrecadação, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: “Art. 45. À Célula de Análise e Controle da Arrecadação compete: I – coordenar, orientar e controlar os Agentes Arrecadadores, quanto ao cumprimento do contrato de prestação de serviços; II – acompanhar, diariamente, tributos e outras receitas estaduais recolhidos e a respectiva transferência à Conta Única do Estado; (...)” 3ª Autoridade Coatora: Coordenador Executivo Regional de Administração Tributária e Não-Tributária, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: Art. 71. As Coordenações Executivas Regionais de Administração Tributária e Não-Tributária são responsáveis pela coordenação do processo de formulação de diretrizes, elaboração de planos de ação, desenvolvimento operacional das ações, rotinas, acompanhamento e avaliação das ações de tributação, arrecadação e fiscalização de empresas, atendimento aos clientes, além da realização de diagnósticos e estudos nas respectivas áreas de circunscrição. Art. 72. As Coordenações Executivas Regionais de Administração Tributária e Não-Tributária são as seguintes: I – Coordenação Executiva Regional de Administração Tributária e Não-Tributária de Belém; Art. 73. Às Coordenações Executivas Regionais de Administração Tributária e Não-Tributária, que têm a missão de coordenaro desenvolvimento das ações de tributação, arrecadação e fiscalização de empresas e buscar a excelência no atendimento aos clientes de sua circunscrição regional, compete: 4ª Autoridade Coatora: Coordenador Executivo Especial de Administração Tributária e Não-Tributária, ao qual, nos termos da IN n.8, compete: Art. 75. As Coordenações Executivas Especiais de Administração Tributária e Não Tributária são responsáveis pela coordenação do processo de formulação de diretrizes, elaboração de planos de ação, desenvolvimento operacional das ações, rotinas, acompanhamento e avaliação das ações de tributação, arrecadação, fiscalização de empresas, pessoas físicas e de veículos automotores, atendimento aos clientes, além da realização de diagnósticos e estudos das respectivas áreas. (...) Art. 76. As Coordenações Executivas Especiais de Administração Tributária e NãoTributária são as seguintes: (...) II - Coordenação Executiva Especial de Administração Tributária de Grandes Contribuintes - CEEAT-GC; Isto posto, temos como autoridades coatoras, os seguintes: Diretor de Arrecadação e informações Fazendárias; Coordenador da Célula de Análise e Controle da Arrecadação; Coordenador Executivo Regional de Administração Tributária e Não- Tributária; Coordenador Executivo Especial de Administração Tributária e Não- Tributária. III – DA LEGITIMIDADE DO CONSUMIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA Como é de conhecimento geral, o consumidor de energia elétrica configura-se como contribuinte de fato do ICMS na relação jurídica tributária referente ao pagamento e recolhimento do ICMS. Ocorre que, como também é notório, o fornecimento de energia elétrica é de responsabilidade de concessionárias públicas, as quais devem obedecer estrita legislação, inclusive na formação das tarifas. Dentre estas normas, está claro a previsão do repasse do ICMS ao consumidor, funcionando a concessionária como mera arrecadadora do ICMS, equiparando o consumidor de energia elétrica, especialmente quando analisada a legislação consumerista, à “contribuinte de direito”. Vejamos o entendimento da jurisprudência em caso análogo de serviço fornecido por concessionária: RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ICMS. ÁGUA TRATADA. NÃO- INCIDÊNCIA. AÇÃO ANULATÓRIA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LEGITIMIDADE ATIVA DO CONSUMIDOR. CONTRIBUINTE DE FATO. 1. Recurso especial no qual se discute a incidência de ICMS sobre o serviço público de fornecimento de água tratada. 2. A concessionária de serviço público figura apenas como responsável pela retenção e recolhimento do ICMS nos casos de prestação de serviço de tratamento de água, não possuindo legitimidade para integrar o pólo passivo da ação de repetição de indébito. Aplicação analógica do entendimento do RESP 1.004.817/MG (art. 543-C do CPC). 3. Tratando-se de serviço público prestado mediante concessão do Poder Público (Lei n. 8.987/95), decidiu a Primeira Seção que o usuário tem legitimidade para pleitear a repetição de indébito de ICMS. Aplicação, por analogia, do entendimento sufragado no RESP 1.299.303/SC (art. 543-C doCPC). 4. Esta Corte Superior já firmou entendimento no sentido da não incidência de ICMS sobre água tratada, em razão da natureza essencial do serviço. Precedentes: AgRg no REsp 1034735/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 06/12/2010; AgRg no REsp 1080699/RJ, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 02/03/2010, DJe 15/03/2010; AgRg no REsp 1081573/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell marques, Segunda Turma, DJe 08/03/2010. 5. Recurso especial não provido. STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.349.196 - RJ (2012/0009183-9) RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES Ademais, RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543- C CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. ENERGIA ELÉTRICA. INCIDÊNCIA DO ICMS SOBRE A DEMANDA "CONTRATADA E NÃO UTILIZADA". LEGITIMIDADE DO CONSUMIDOR PARA PROPOR AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. – Diante do que dispõe a legislação que disciplina as concessões de serviço público e da peculiar relação envolvendo o Estado- concedente, a concessionária e o consumidor, esse último tem legitimidade para propor ação declaratória c/c repetição de indébito na qual se busca afastar, no tocante ao fornecimento de energia elétrica, a incidência do ICMS sobre a demanda contratada e não utilizada. – O acórdão proferido no REsp 903.394/AL (repetitivo), da Primeira Seção, Ministro Luiz Fux, DJe de 26.4.2010, dizendo respeito a distribuidores de bebidas, não se aplica ao casos de fornecimento de energia elétrica. Recurso espec ial improvido. Acórdão proferido sob o rito do art. 543-C do Código de Processo Civil. STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.299.303 - SC (2011/0308476-3) RELATOR : MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA. Assim, o ICMS é repassado ao consumidor, estando às concessionárias indiferentes ao regime tributário, visto que não os afeta. Isto posto, não restam dúvidas quanto a legitimidade do consumidor final, já que este é sim legítimo para demandar visando a inexigibilidade do ICMS ou alíquotas aplicadas. Nesta senda, que seja o presente recebido o processado, nos termos da legislação vigente. IV – DO DIREITO IV.1 – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA SOB A ÓTICA DA SELETIVIDADE E ESSENCIALIDADE DO PRODUTO OU SERVIÇO – ARTIGOS 150, INCISO II E 155, PARÁGRAFO 2º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL A Constituição Federal, em sua função limitadora do poder de tributar, pode delinear o grau de liberdade do qual se valerá o legislador tributário para instituir os tributos nela previstos. Assim, não se limitou o texto constitucional a definir meramente os aspectos essenciais à tributação, tais como o sujeito ativo, o sujeito passivo, e o fato gerador; mas determinou ao legislador tributário que se pautasse em determinadas regras e diretrizes previstas expressamente na norma constitucional. Dessa forma, a Constituição facultou, no inciso I, do parágrafo 2º, do artigo 153, ao legislador federal instituir imposto sobre a renda progressivo, impossibilitando que se invoque que a progressividade da alíquota, em função da renda, par si só, implique em violação ao princípio da isonomia, alegação que poderia ser feita, caso a possibilidade da alíquota progressiva não estivesse expressa no texto constitucional. Da mesma forma, determinou a diversidade das alíquotas do imposto territorial rural, de modo a desestimular a manutenção de propriedades rurais improdutivas. Sendo assim, não pode o grande proprietário de gleba improdutiva alegar a desigualdade de tratamento em relação àqueles que detêm terras produtivas. Esses critérios, definidos expressamente na Constituição, decorrem, de certo caráter extrafiscal desses tributos, que teriam, além da função normal tributária, de alocação de recursos, funções extrafiscais, respectivamente, de redistribuição da renda e redução das desigualdades sociais (IR), e fomento função social da terra (ITR). Já no que se refere ao ICMS, a Constituição Federal, no inciso III, do parágrafo 2º, do artigo 155, autorizou a flexibilização do princípio da isonomia em relação a seletividade do produto ou do serviço, já que o princípio da seletividade visa a fomentar o estimulo e a desoneração da comercialização de produtos essenciais, incentivando o consumo. Na realidade, o legislador constituinte originário, absteve-se de impor ou facultar ao legislador infraconstitucional a possibilidade de criar qualquer outro mecanismo de tributação diferente do que firmado no texto constitucional. A Carta Constitucional informa que o tratamento desigual em relação a fixação das alíquotasdo ICMS está vinculado a essencialidade do produto ou serviço, não podendo o legislador infraconstitucional trazer regra diferente da consagrada pelo legislador constituinte originário. Assim, a Impetrante se insurge contra a aplicação de alíquota majorada do ICMS para utilização dos serviços de fornecimento de energia elétrica, o qual é alcançado pela tributação com a alíquota de 25% (artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989), ao passo que a tributação do ICMS nas operações internas para, a rigor, todos os demais serviços/mercadorias é fixada em 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989). Para que a alíquota do ICMS nos serviços de fornecimento de energia elétrica possa sofrer tributação diferenciada (majorada), o legislador estadual, ao fixar a alíquota, deveria utilizar o critério da essencialidade, previsto no texto constitucional, no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, da Constituição Federal. Todavia, o Estado do Pará, ao editar a Lei Estadual n° 5.530/1989, fixou a alíquota do ICMS incidente nos serviços de fornecimento de energia elétrica (serviços cuja essencialidade é notória para o desempenho do toda e qualquer atividade) de forma diferenciada e majorada em relação ao patamar de alíquota aplicável nas operações internas e gerais, desrespeitando o critério da essencialidade e inovando em relação a regra de flexibilização do critério isonômico aplicável a tributação. A referida lei, ao definir a alíquota aplicável aos serviços de fornecimento de energia elétrica, não considera o critério da essencialidade prevista na Carta Magna como fator preponderante para a fixação da gradação do ônus tributário, polo contrário, utiliza critério dissociado na importância social do produto ou do serviço. Percebe-se nitidamente que o critério adotado para a alíquota do ICMS não é o da essencialidade, já que afronta o princípio da isonomia sob a ótica da seletividade. Na realidade, quando se analisa o princípio da isonomia do ICMS, tem-se como parâmetro de aferição de igualdade não só a atividade dos contribuintes e sua área de atuação, mas também, a sistemática de recolhimento a que estão submetidos em relação a cada produto e serviço. A igualdade de tratamento tem que ser observada dentro da própria sistemática de apuração do imposto, que no caso dos autos está sendo desrespeitada, já que a impetrante está sendo submetida à tributação mais onerosa pela utilização de um serviço essencial e vital ao desenvolvimento de sua atividade econômica. Aliás, os serviços de fornecimento de energia não são essenciais só para a impetrante, mas para todas as pessoas físicas e jurídicas, contribuintes ou não do ICMS. São molas mestras deste mundo globalizado, não podendo sofrer diferenciação no campo da tributação para servirem de instrumento de arrecadação. Tal distinção, a par de não encontrar respaldo algum no texto constitucional, o contraria frontalmente, quer em relação ao inciso II do artigo 150, onde e vedado “instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos", quer em relação ao artigo 5º, caput e inciso I, em face de cuja existência o dispositivo acima transcrito, é, aliás, meramente explicitante, tendo em vista que a única possibilidade de se afastar a aplicação do princípio da isonomia no esfera do ICMS é quando se aplica o princípio da seletividade do imposto, cuja aplicação está atrelada ao consumo e não ao sujeito passivo da obrigação tributária. O princípio da seletividade está previsto no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, da CF/88, in verbis: "Art. 155 – Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) §2º - O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) III – Poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços.” No caso dos autos, a afronta ao princípio da isonomia sob a ótica da seletividade/essencialidade é flagrante, já que a fixação de alíquota em patamar majorado em relação a produtos de menor importância social (supérfluos) e essencial à coletividade importa em afronta à Carta Politica Federal. Frise-se que no caso a exceção imposta à espécie não visa a fomentar o consumo de um determinado serviço, mas, impõe, sim, um tratamento desigual e imoral sob a ótica econômica e financeira por beneficiar somente os interesses do Estado (Fisco), sem trazer qualquer benefício social, seja ao consumidor ou ao setor de prestação de serviços em questão, afastando a possível aplicação do princípio da seletividade em afronta também ao princípio da isonomia. Nesse sentido, vale mencionar o entendimento de FÁBIO LEOPOLDO DE OLIVEIRA, que ensina com propriedade o exato conteúdo do princípio da isonomia, no que tange ao Direito Tributário: "O que a regra constitucional estatui é, de um lado, a obrigação de o legislador igualar as pessoas ou instituições afetadas pelo tributo dentro de categorias ou grupos, ou ainda, classificação de modo a evitar distinções arbitrárias (uniformidade de tratamento para as situações iguais), e, por outro lado, o direito que temos (cada um de nós) a que não sejam estabelecidos privilégios ou exceções através de concessões a uns, com exclusão de outros (generalidade na aplicação das normas)." ("Manual de Direito Tributário", São Paulo: Resenha Tributária, 1982). No caso sob exame, a violação ao princípio constitucional da isonomia é flagrante, pois dá ensejo à odiosa distinção, desprovida de qualquer critério, entre produtos de importância social diversa. Este indevido aumento no encargo tributário da Impetrante, além do ferir o disposto nos artigos 150, inciso II e 155, §2º, inciso III, da Lei Maior, fere também o inciso IV, do seu artigo 150, pois, como já dito, nada mais é do que um ato confiscatório camuflado. Observa-se que o confisco consiste no consumo da propriedade privada pelo Poder Público, sem a correspondente indenização. Aparece como medida de caráter sancionatório, excepcionalmente admitida nas hipóteses previstas pela Constituição, mas nunca no campo do Direito Tributário. Na hipótese em tela, o critério utilizado para a fixação da alíquota do ICMS em relação aos serviços de fornecimento de energia elétrica não atendeu ao critério da essencialidade, culminando em afronta à isonomia e à seletividade tributária. Cumpre destacar quo o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro já se manifestou sobre a questão posta em julgamento e pacificou o seu entendimento, pelo Órgão Especial, ao julgar a Arguição de Inconstitucionalidade nº 27/2005, no sentido de que a aplicação da alíquota do ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica no patamar de 25 % fere o princípio da seletividade tributária aplicável ao ICMS. Veja-se "EMENTA – Arguição de Inconstitucionalidade Artigo 2º, inciso I do Decreto n° 32.646 do ano do 2003 do Estado de Rio de Janeiro, que regulamenta a Lei Estadual nº 4.056/2002 que instituiu o Fundo Estadual do Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais. Superveniência da Ementa Constitucional nº 42, de 19/12/2003, que validou, em seu Artigo 4º, os adicionais criados pelos Estados em função da EC n° 31/200, mesmo aqueles em desconformidade com a própria Constituição. Impossibilidade de se reconhecer a inconstitucionalidade do Decreto n° 32.646 de 2003. Precedente do STF. Artigo 14, VI, item 7 do Decreto n° 27.427 doano do 2000 do Estado do Rio do Janeiro, que fixa a alíquota do ICMS Incidente sobre os serviços de energia elétrica e telecomunicações. Desatenção aos princípios constitucionais da seletividade e essencialidade, dispostos no Artigo 155, §2º da CRFB. Inconstitucionalidade reconhecida. Arguição parcialmente procedente. Cuida-se de Arguição de inconstitucionalidade do Artigo 14, VI, Item 2, VIII, Item 7 do Decreto nº 27.427 do ano de 2000, que estipula a alíquota de ICMS sobre os serviços de energia elétrica e telecomunicações, e do Artigo 2º, I do Decreto nº 32.646 do ano de 20003 do Estado do Rio de Janeiro, que regulamenta a Lei nº 4.056 do ano de 2002, que instituiu o Fundo Estadual de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais, tendo em conta a desatenção aos princípios da seletividade e essencialidade na fixação da alíquota e de sua posterior majoração. Relatório adotado o de fls. 286, tendo a d. Procuradoria de Justiça opinado no sentido da procedência parcial da Arguição. (...) A presente Arguição se restringe ao Artigo 14, VI, item 2, e VIII, item 7 do Decreto nº 27.427/2000 e ao Artigo 2, I do Decreto 32.646/2003, que fixam a alíquota de ICMS sobre os serviços de energia elétrica e telecomunicações. (...) Todavia, em relação ao Decreto 27.427/2000, ao fixar alíquota de 25% sobre os serviços de energia elétrica e telecomunicações, verifica-se que não foram observados os princípios da seletividade e da essencialidade, dispostos no Artigo 155, §2º, III da CRFB, mormente quando estipula alíquotas menores a produtos supérfluos, com bebidas alcoólicas. É claro que a seletividade do ICMS é facultativa, mas não pode ser muito ampla, devendo, por imposição constitucional, atender aos critérios da gradação determinada. Com tais razões e adotados os fundamentos do parecer ministerial, na forma regimental, julga-se parcialmente procedente a Arguição, para declarar a inconstitucionalidade do Artigo 14, VI, item 2, e VIII, item 7 do Decreto nº 27.427 do ano de 2000 do Estado de Rio de Janeiro."- grifos não constantes no texto original. Vê-se, portanto, que a jurisprudência pátria corrobora o entendimento da Impetrante, no sentido de que, devido à essencialidade do serviço de fornecimento de energia elétrica, este não pode se sujeitar à alíquota majoradas do ICMS de 25% e sim à alíquota interna estadual de 17%, sob pena de violação ao Princípio da Seletividade, previsto no artigo 155, parágrafo 2º, inciso III, da CF/88. IV.2 – DO PARECER DA PROCURADORIA GERAL REPÚBLICA NO RESP 714.139/SC. DA ADESÃO DA PGR À VALIDADE DA TESE ORA APRESENTADA. Encontra-se no STF o Recurso Extraordinário 714.139 – SC, com repercussão geral deferida, em que o Ministério Público opinou pela procedência da tese aqui apresentada, vejamos a ementa do Parecer Ministerial, íntegra em anexo: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 745. ICMS. ARTS. 150, II, E 155, § 2º, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SELETIVIDADE E ESSENCIALIDADE. ENERGIA ELÉTRICA E TELECOMUNICAÇÕES. ALÍQUOTA ESPECÍFICA SUPERIOR À ALÍQUOTA GERAL. INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO. MODULAÇÃO DE EFEITOS RECOMENDÁVEL. 1. É inconstitucional o art. 19, inciso II, alíneas “a” e “c”, da Lei estadual 10.297/1996 de Santa Catarina no que prevê alíquotas do ICMS superiores à geral a incidirem sobre energia elétrica e serviços de telecomunicações, por incompatibilidade com o princípio da seletividade/essencialidade. 2. Eliminada a regra especial que estipula alíquota majorada para energia elétrica e telecomunicações, tem-se que o ICMS de ambas cairá automaticamente na regra geral do Estado-membro e o contribuinte terá direito de pleitear a restituição dos valores pagos nos últimos cinco anos, nos termos do art. 168 do Código Tributário Nacional, não havendo falar em ofensa à separação de poderes por ativismo Judicial. 3. Concretiza o princípio da igualdade tributária a instituição, a partir de níveis reduzidos de consumo, de alíquotas progressivas na energia fornecida à população economicamente mais vulnerável, ao contrário do que sugere o recorrente, não havendo falar em ofensa ao art. 150, II, da Constituição. 3. Parecer pelo provimento parcial do recurso extraordinário. 4. Por colocar em risco a segurança jurídica e veicular matéria de excepcional interesse social, recomenda-se a modulação dos efeitos para o futuro, com estipulação de prazo razoável para adaptação da legislação do ICMS pelo Legislativo catarinense. Como se pode observar, o PGR já se posicionou favorável à tese, destacando a necessidade de recepcioná-la no STF. Ademais, o Procurador Geral da República aprofunda sua análise sobre o tema, com os seguintes termos: “(...) O legislador estadual, abraçando a seletividade, discriminou, no entanto, alíquota especial superior, no patamar de 25 % (vinte e cinco por cento), para operações com energia elétrica, produtos supérfluos, gasolina automotiva, álcool carburante e prestação de serviços de comunicação. De outra parte, aplicou alíquota reduzida a 12% (doze por cento) a, entre outras mercadorias e serviços, operações com energia elétrica de consumo domiciliar até 150 kWh (cento e cinquenta quilowatts- hora) e as destinadas a produtor rural e cooperativas rurais distribuidoras, na parte que não exceder a 500 kWh (quinhentos quilowatts-hora) mensais por produtor rural. Observa-se, de plano, a desproporcionalidade entre a alíquota geral e a aplicada à energia elétrica e aos serviços de comunicação. Esse contraste é ainda mais nítido quando se tem em mente que a mesma alíquota incidente sobre produtos supérfluos é destinada à energia e às telecomunicações, essenciais ao exercício da dignidade humana. Nas palavras de Hugo de Brito Machado: ‘Essencialidade é a qualidade daquilo que é essencial. E essencial, no sentido em que se está aqui utilizando essa palavra, é o absolutamente necessário, o indispensável. Assim, muito fácil é concluirmos que o critério indicativo da essencialidade das mercadorias, para fins de seletividade do ICMS, só pode ser o da necessidade ou indispensabilidade dessas mercadorias para as pessoas no contexto da vida atual em nosso País. Mercadoria essencial é aquela sem a qual se faz inviável a subsistência das pessoas, na comunidade e nas condições de vida atualmente conhecidas entre nós. Assim, não nos parece razoável colocar-se em dúvida a essencialidade da energia elétrica. A alíquota do ICMS incidente sobre o seu consumo não deve ser maior do que aquela geralmente aplicável para as demais mercadorias.’ Na mesma linha, confira-se o precedente do RE 634.457, assim ementado: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ICMS. SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA E DE TELECOMUNICAÇÕES. MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA. PRINCÍPIO DE SELETIVIDADE. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – Não obstante a possibilidade de instituição de alíquotas diferenciadas, tem-se que a capacidade tributária do contribuinte impõe a observância do princípio da seletividade como medida obrigatória, evitando-se, mediante a aferição feita pelo método da comparação, a incidência de alíquotas exorbitantes em serviços essenciais. II – No caso em exame, o órgão especial do Tribunal de origem declarou a inconstitucionalidade da legislação estadual que fixou em 25% a alíquota sobre os serviços de energia elétrica e de telecomunicações – serviços essenciais – porque o legislador ordinário não teria observado os princípios da essencialidade e da seletividade, haja vistaque estipulou alíquotas menores para produtos supérfluos. III – Estabelecida essa premissa, somente a partir do reexame do método comparativo adotado e da interpretação da legislação ordinária, poder-se-ia chegar à conclusão em sentido contrário àquela adotada pelo Tribunal a quo. IV – Agravo regimental a que se nega provimento (RE 634457 AgR, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 15 ago. 2014). (...) Por outro lado, ao tributar sobremaneira o consumidor comum de energia e serviços de telecomunicação, o legislador estadual criou fator de discrímen que malfere o direito do contribuinte à facilitação do acesso a esses produtos/serviços. O Poder Judiciário tem não apenas a competência, mas igualmente o dever de investigar a questão (CF, art. 5º, XXXV), de modo a afastar do cenário jurídico a lei inconciliável com a proteção constitucional ao contribuinte. Eliminada a regra especial que estipula alíquota majorada para energia elétrica e telecomunicações, tem-se que o ICMS de ambas cairá automaticamente na regra geral do Estado-membro (hoje sob alíquota de 17%). O contribuinte, por sua vez, terá direito de pleitear a restituição dos valores pagos nos últimos cinco anos, nos termos do art. 168 do Código Tributário Nacional. Não se diga, assim, que se trata de provimento jurisdicional de caráter aditivo, argumento que abre portas para elucubrações na seara da separação de poderes. Cuidadosamente enfrentado o ponto por Leonardo Freitas, colhe-se a seguinte lição: […] como a existência da exceção não compromete a vigência da regra (LICC, art. 2º, § 2º), mas apenas alija determinados casos do seu campo de aplicação, recaindo o juízo de inconstitucionalidade sobre aquela (exceção), a sua consequência lógica será, inegavelmente, o restabelecimento desta (regra) em razão do afastamento daquela, justamente o fator que impedia a sua incidência sobre as hipóteses, até então, tratadas como excepcionais. E quem dá esta resposta é o próprio sistema legal e, portanto, o legislador. O Judiciário tem uma atuação neutra: limita-se a constatar os “novos” traços jurídicos da relação em causa, a partir de elementos fornecidos pela malha legal afeta à questão. [...] Assim, de forma brilhante, o Parecer da PGR é muito bem fundamentado, demonstrando atual e claro entendimento da condição de contribuinte e da correta forma de aplicação dos princípios tributários norteadores da questão. IV.3 – DA CORRETA APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PRINCÍPIO DA EXTRAFISCALIDADE SOB A ÓTICA DA SELETIVIDADE E ESSENCIALIDADE DO PRODUTO OU SERVIÇO – ARTIGOS 150, INCISO II E 155, PARÁGRAFO 2º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Outra questão relevante, diz respeito ao critério da extrafiscalidade em que o Poder Constituinte, ao dispor no inciso II, do §2º, do artigo 155, da CF/88, que o ICMS “poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços”, não propôs simplesmente uma recomendação aos entes tributantes, mas sim estabeleceu determinação a eles. Nesse sentido, percebe-se que a extrafiscalidade inerente ao ICMS encontra-se condicionada ao caráter do bem ou serviço em questão. Ou seja, ao estabelecer a alíquota do ICMS de forma seletiva (faculdade), deve-se observar a importância do bem ou serviço (imperatividade). Corroborando com este entendimento, veja-se os ensinamentos do ilustre Jurista Roque Antonio Carrazza, in verbis: “O atual ICMS, pelo contrário, deve ser um instrumento de extrafiscalidade, porquanto, a teor do Art. 155, §2ª, III, da CF, ‘poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços’. Convém salientarmos, desde logo, que, a nosso ver, este singelo ‘poderá’ equivale, na verdade, a um peremptório ‘deverá’. Não está, ai, diante de uma mera faculdade do legislador, mas de uma norma congente, de observância obrigatória. Ademais, quando a Constituição confere a uma pessoa política um ‘poder’, ela, ipso facto, lhe impõe um ‘dever’. É por isso que se costuma falar que as pessoas políticas têm poderes deveres (Celso Antônio Bandeira de Mello).” Contudo, ainda que não seja considerada a obrigatoriedade da observação da seletividade do ICMS, mas sim uma mera faculdade do legislador estadual, verifica-se que o que ao menos se pretendeu com o inciso II, do §2º, do Artigo 155, da CF/88, foi assegurar que as alíquotas do ICMS, ao serem fixadas em percentuais diferenciados, atendessem a essencialidade do produto/serviço. De fato, ainda que se entenda pela faculdade do legislador estadual em incorporar o princípio constitucional da seletividade ao ICMS, o mesmo, ao optar por incorporar o referido princípio na legislação estadual – o que se consubstancia na diferenciação entre as alíquotas fixadas para o cálculo do imposto – deve, necessariamente, observar o critério da essencialidade do produto. Veja-se o disposto no artigo 155, §2º, inciso III, da CF/88: ‘Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) § 2º. O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) III – poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços,” Ou seja, através desse racional, verifica-se que a faculdade do legislador estadual é, tão-somente, quanto à possibilidade de instituir a cobrança do ICMS com base em uma única alíquota ou em alíquotas diferenciadas e não quanto à possibilidade de se observar ou não o Princípio da Seletividade/Essencialidade, o qual deverá ser observado de forma obrigatória, caso opte em diferenciar a onerosidade do imposto em relação ao produto/serviço. Significa dizer que, para a adoção de alíquotas diferenciadas, deve ser analisada a essencialidade do produto. Ou seja, quanto maior a importância e necessidade do produto, menor deve ser obrigatoriamente a alíquota do ICMS incidente sobre o mesmo. Caberia, portanto, ao Legislador Estadual, em atenção ao Princípio da Seletividade do ICMS, fixar alíquota do ICMS de forma coerente e proporcional à essencialidade do produto, ou seja, quanto mais essencial e necessário, menor a alíquota do referido tributo, o que evidentemente não foi observado no presente caso, conforme se verifica pela simples leitura do artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e do artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989. Assim, o legislador estadual não se atentou ao caráter essencial dos serviços de energia elétrica, o qual é público e notório, já sendo, inclusive, reconhecido pela legislação pátria como serviço indispensável ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Neste sentido, a Constituição Federal, no inciso III, do parágrafo 2º, do artigo 155, autorizou a flexibilização do princípio da isonomia em relação à seletividade do produto ou do serviço, já que o princípio da seletividade visa fomentar o estímulo e a desoneração da comercialização de produtos essenciais, incentivando o consumo. A Carta Constitucional informa que o tratamento desigual em relação à fixação das alíquotas do ICMS está vinculado à essencialidade do produto ou serviço, não podendo o legislador infraconstitucional trazer regra diferente da consagrada pelo legislador constituinte originário. Nesse sentido, a Lei n.7.783/89, a qual dispõe sobre “o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências”, trouxe, em seu art. 10, uma lista de serviços/atividades consideradas essenciais à coletividade, dentre os quais está o serviço de fornecimento de energia elétrica, in verbis: “Art.10. São considerados serviços ou atividades essenciais: I – tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; (...)” A fim de preservar os serviços essenciais à coletividade, o legislador federal brasileiro impôs uma série de proteções ao fornecimento de energia, visando a sua continuidade não apenas nos casos de greve, mas também a quaisquer tipos de interrupção, seja por cobrança de dívidas ou por falta do próprio serviço, isto porque pela natureza essencial da prestação, presume-se o decréscimo ou ausência de qualidade de vida, de dignidade e por vezes da própria realização da cidadania, fundamentos a que se apóia a Reública Federativa do Brasil (artigo 1º da Constituição Federal de 1988). Sobre a natureza essencial dos serviços de fornecimento de enrgia, cumpre trazer os ensinamentos da mestra Ada Pellegrini Grinover, em sua obra “Código de Defesa do Consumidor”, in verbis: “É sempre muito complicado investigar a natureza do serviço público, para tentar surpreender, neste ou naquele, o traço da sua essencialidade. Com efeito, cotejados, em seus aspectos multitarifários, os serviços de comunicação telefônica, de fornecimento de energia elétrica, água, coleta de esgoto ou de lixo domiciliar, todos passam por uma gradação de essencialidade, que se exacerba justamente quando estão em causa os serviços públicos difusos (ut universi) relativos à segurança, saúde e educação” Continua ainda a eminente doutrinadora dizendo que “Parece-nos, portanto, mais razoável sustentar a imanência desse requisito em todos os serviços prestados pelo Poder Público”. Por todo o exposto, conclui-se, de forma incontestável, a obviedade do alto grau de essencialidade da energia elétrica, o que demonstra que a sua tributação pelo ICMS com base em alíquota majorada implica em violação inequívoca ao princípio da seletividade do ICMS, previsto no art. 155, §2º, III, da CF/88. Isto porque não se pode contestar a incoerência evidente existente na imposição legal de uma alíquota de 17% para o cálculo do ICMS incidente sobre a venda de mercadorias em geral, como por exemplo, brinquedos, roupas, joias e fogos de artifício, enquanto a alíquota a ser aplicada sobre operações com energia elétrica é de 25%, serviço este que é evidentemente bem mais essencial, sendo ele indispensável para o regular desenvolvimento da atividade de qualquer pessoa jurídica e imprescindível ao atendimento das necessidades de qualquer contribuinte (pessoa física ou jurídica), o que torno evidente a violação aos Princípios da Seletividade/Essencialidade e da Proporcionalidade/Razoabilidade previstos no art. 155, §2º, III, da CF/88. Assim, a essencialidade depende da mercadoria ou do serviço e não do destinatário, conforme sustenta Roque Carraza: “Observamos que a seletividade do ICMS refere-se à mercadoria ou ao serviço em si mesmos considerados e, não, à sua destinação ou fase de circulação (operação entre industrial e comerciante, entre atacadista e varejista, entre varejista e consumidor final, etc.). Noutros termos, as alíquotas do ICMS não poderão variar conforme a etapa da circulação ou a destinação da mercadoria ou do serviço. Assim, por exemplo, a tributação da venda de limão levada a efeito pelo produtor rural deverá ser sempre a mesma, pouco importando se ela se der para consumidor final, para indústria farmacêutica (onde a fruta será utilizada para o fabrico de remédios), para indústria química (onde será utilizado para o fabrico de produtos de limpeza) ou para instituto de beleza (que utilizará em cremes, loções, perfumes e cosméticos em geral).” Ou seja, o fato da energia ser adquirida tanto por uma pessoa jurídica ou física (estabelecimento comercial) não desnatura a seletividade/essencialidade da mesma. Até mesmo porque, a Autora é consumidor final de energia elétrica como qualquer outro contribuinte pessoa física, os quais, como visto, são bens e serviços considerados molas mestras para a execução de seu objeto social, encerrando essa diferenciação de alíquotas verdadeira violação também ao Princípio da Isonomia (art. 150, II, CF/88). Conclui-se, finalmente, por todos os ângulos que se examine a questão, que a matéria é puramente de direito e o direito está com a Impetrante. Desta forma, serve o presente mandamus para que seja reconhecido o direito líquido e certo da Impetrante de pagar o ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica com base na alíquota interna de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989), sendo afastada, a alíquota majorada de 25% (artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989). V – DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO – COMPENSAÇÃO. DO MANDADO DE SEGURANÇA COMO MEIO ADEQUADO. DA DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE QUANTUM DEBEATUR EM MOMENTO INICIAL. DA PRESCRIÇÃO. Superada a discussão carreada acima e garantido o direito do Impetrante, temos, na mesma toada, a necessidade de reconhecer tal direito em relação às obrigações pretéritas, para que possa o Impetrante, com base neste writ usufruir de compensação tributária. Para tanto, cabe ressaltar que a utilização do mandado de segurança para a declaração do direito a restituição do indébito mediante compensação é amplamente aceito na jurisprudência, entendimento consolidado no STJ, através da súmula 213, que orienta: “Súmula nº 213: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária”. Assim, o entendimento do STJ é claro. O Mandado de Segurança é via idônea e eficaz para se declarar e obter direito de compensação, sendo que esta vai ocorrer na forma habitual, ou seja, o contribuinte dá início ao autolançamento, informando o valor devido e o crédito compensado à Administração. Visto isto, cabe esclarecer que a restituição, pela Administração Pública, de valores indevidamente recolhidos a maior é direito do sujeito passivo, independentemente da modalidade do pagamento, com forme o disposto no artigo 165, do Código Tributário Nacional (CTN). Assim, vejamos: "Art. 165 – O sujeito passivo tem direito independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos: I – Cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou de natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido. II – erro na edificação do sujeito passivo, no determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência do qualquer documento relativo ao pagamento; III – reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. ” Analisando a legislação supramencionada, percebe-se que o Fisco autoriza, expressamente, que a Impetrante seja restituída dos valores indevidamente pagos a maior pela aplicação de alíquota majorada de ICMS incidente sobre aquisição de fornecimento de energia elétrica sob a forma aproveitamento de crédito na escrita fiscal ou mediante compensação (art. 51, Decreto Nº 4.676, de 18 de junho de 2001). Cumpre esclarecer que apesar do figurarem no pólo passivo da obrigação tributária as concessionárias, permissionárias e autorizativas de serviços públicos de telecomunicação e fornecimento de energia elétrica, há o repasse do ônus tributário à Impetrante, sendo certo que esta, na qualidade de consumidor final, é quem assume o encargo econômico decorrente do pagamento do ICMS sobre os serviços de telecomunicaçãoe fornecimento de energia elétrica. Neste sentido, a Impetrante requer quo seja assegurado por este MM. Juízo o seu direito a restituição do ICMS pago a maior nos últimos 5 (cinco) anos, em razão do recolhimento do imposto incidente sobre o fornecimento de energia elétrica com base na alíquota de 25%, ao invés de 17%, determinando, assim, que o Estado do Pará aceite o creditamento do ICMS pago a maior diretamente em sua escrita fiscal ou mediante compensação, ambos na forma dos art. 51, Decreto Nº 4.676, de 18 de junho de 2001; Ademais, os valores pagos a maior, nos últimos 5 (cinco) anos, deverão ser devolvidos à Impetrante devidamente corrigidos, aplicando-se, para tanto, os índices de correção monetária utilizados pelo Estado do Pará para a correção de seus créditos tributários. Por fim, no que se refere a aplicação de juros de mora, o CTN, em seus artigos 161, parágrafo 1º, c/c 167, parágrafo único, determina que se aplique a taxa de 1% (um por cento) mensal, após a trânsito em julgado, o que também deverá ser adotado no presente caso. No que concerne ao prazo prescricional, disciplinado no art. 168, I do CTN, que teve seu alcance modificado pela LC 118/2005, o STJ já pacificou o entendimento de que, atualmente, é o de cinco anos, contados do pagamento, conforme ficou decidido em recurso repetitivo (STJ. EDcl nos EREsp 925.126/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 10/05/2010). Ademais, há de se ressaltar que é desnecessária a comprovação do quantum debeatur nesse momento inicial, o que deverá ser realizado a quando da compensação do crédito tributário, seja na esfera administrativa ou na liquidação da sentença, conforme orientação do TRF1 e do STJ: Vejamos o TRF1: Ementa: Processual Civil. Tributário. Contribuição previdenciária. Receita bruta da comercialização da produção rural. Legitimidade ativa: contribuinte individual. Segurado especial. Produtor rural. Prova material. Prescrição. Declaração pelo STF da inexigibilidade da exação. (...) II. É assente na jurisprudência desta Corte que “para mera discussão judicial sobre possível repetição de tributos dispensa-se prova dos recolhimentos, que se fará, se o caso, quando das eventuais compensação (na esfera administrativa, sob o crivo da Administração) ou restituição (na liquidação da sentença)” (AC 2002.34.00.000166-5/DF, Rel. Juiz Federal Rafael Paulo Soares Pinto (Conv.), Sétima Turma, e-DJF1 p.291 de 11/04/2008). Basta a comprovação de estar o contribuinte na situação jurídica que lhe garanta o direito. (...)l. (AC 0001517- 44.2011.4.01.3604/MT, rel. Des. Federal Leomar Barros Amorim de Sousa, 8ª Turma, Unânime, Publicação: e-DJF1 de 23/03/2012, p. 1.339.) Vejamos o STJ: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. AÇÃO DECLARATÓRIA DE DIREITO A APROVEITAMENTO DE CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI SUSPENSO ILEGALMENTE COM PEDIDO DE RESSARCIMENTO (ART. 1o. DO DL 491/69). SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO PARA DECLARAR A EXISTÊNCIA DO DIREITO DA AUTORA DE USUFRUIR DO DENOMINADO CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI NO PERÍODO DE 07.12.79 A 31.03.81, BEM COMO CONDENOU A FAZENDA NACIONAL AO RESSARCIMENTO DO BENEFÍCIO COM CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO, EM REMESSA OFICIAL, ÀS GUIAS DE IMPORTAÇÃO JUNTADAS COM A INICIAL. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO SOBRE A QUESTÃO OU DE DECISÃO DO JUIZ SINGULAR A RESPEITO DA SUFICIÊNCIA DA DOCUMENTAÇÃO. EFEITO TRANSLATIVO DA REMESSA NECESSÁRIA QUE ENCONTRA LIMITES NO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA AÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LEGITIMIDADE AD CAUSAM. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DO RESTANTE DA DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DO QUANTUM DEBEATUR POR OCASIÃO DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA, QUE DEVERÁ SER FEITA POR ARTIGOS, NOS TERMOS DA PACÍFICA ORIENTAÇÃO DESTA CORTE. JUROS DE MORA DEVIDOS A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO. APLICAÇÃO, IN CASU, TÃO-SOMENTE, DA TAXA SELIC. PRECEDENTES. SUCUMBÊNCIA TOTAL DA FAZENDA NACIONAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 10% DO VALOR DA CONDENAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. ACÓRDÃO SUJEITO AO REGIME DO ART. 543-C E DA RES. 08/STJ. (...) 6. É dispensável que na inicial da ação de conhecimento se exiba toda a documentação alusiva ao crédito prêmio de IPI, das operações realizadas no período cujo ressarcimento é pleiteado, uma vez que essa prova não diz respeito, propriamente, ao direito da parte, que, nesse momento, deve comprovar, apenas a sua legitimidade ad causam e o seu interesse. 7. A jurisprudência desta Corte Superior já se manifestou pela possibilidade de juntada da prova demonstrativa do quantum debeatur em liquidação de sentença: REsp. 685.170/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe 10.08.2006; REsp. 894.858/DF, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 01.09.2008; REsp. 980.831/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe 29/06/2009; AgRg no REsp. 1.067.126/DF, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 07.06.2010; REsp. 1.185.202/DF, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 13.09.2011; REsp. 1.111.003/PR, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, DJe 25.05.2009. (...)11. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Res. 8/STJ.(REsp 959338/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 08/03/2012) Desse modo, resta claro que a Impetrante faz jus ao ressarcimento mediante compensação dos pagamentos indevidos, referentes ao ICMS cobrado à maior, com alíquota de 25%, incidente sobre a compra de energia elétrica, ora combatida neste mandamus, devendo comprovar o quantum debeatur no momento da compensação administrativa ou liquidação de sentença. VI – DA MEDIDA LIMINAR – PRESENÇA DOS REQUISITOS DO FUMUS BONI IURES E DO PERICULUM IN MORA VI.1 – "FUMUS BONI IURIS” O fumus boni iuris ressalta da relevante fundamentação apresentada em sustentação ao direito líquido e certo da impetrante, uma vez que os serviços de fornecimento de enrgia elétrica é essencial não só para a Impetrante, mas para todas as pessoas físicas e jurídicas, contribuintes ou não do ICMS, não podendo ser tributados pelo ICMS à alíquota superior à alíquota interna estadual, em decorrência do Princípio da Seletividade, previsto no artigo 155, § 2º, inciso III da CF/88. No entanto, o legislador estadual desconsiderou o caráter essencial do produto ao dispor no artigo 20, inciso II, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, III, a, Lei Nº 5.530/1989, acerca da alíquota majorada do ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica de 25%, em detrimento da alíquota interna de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989). Neste caso, a referida Lei Estadual, ao estabelecer as alíquotas que devem servir de base para a incidência do ICMS, utilizou critério aleatório e dissociado da finalidade do princípio constitucional da seletividade (artigo 155, § 2°, inciso III da CF/88), o qual determina quo a fixação das alíquotas do ICMS deverá atender a essencialidade do produto quando fixada em patamar diverso ao da alíquota interna ordinária de 17%. Nesse sentido, inclusive, é o entendimento do Eg. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o qual, ao julgar a Arguição de Inconstitucionalidade nº 27/2005, decidiu que a aplicação da alíquota do ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica no patamar de 25% fere o princípio da seletividade tributária aplicável ao ICMS. Desta forma, resta cabalmente demonstrado o fumus boni iures necessário à concessão da liminar no presente mandamus. VI.2 – “PERICULUM IN MORA” O periculum in mora decorreda exigência legal que se impõe a Impetrante continuar a suportar um encargo no preço correspondente a alíquota do ICMS majorada toda vez que adquirir serviços de fornecimento de energia elétrica de terceiros, aumentando, indevidamente, o custo do bem essencial, quando deveria haver retração da alíquota cobrável, por força da necessidade absoluta do serviço em voga, que, de maneira nenhuma, pode ser tratado como supérfluo. Como se vê nitidamente, a concessão da liminar é medida que se impõe no presente caso, sob pena de, mesmo reconhecido ao final da presente demanda o direito da Impetrante de suportar o pagamento de ICMS em patamar menor do que está sendo praticado atualmente, já terá sofrido grandes prejuízos financeiros e até mesmo patrimoniais, pois terá que lançar mão de suas reservas de capital para pagar o ICMS majorado incluído no preço final dos serviços de fornecimento de energia elétrica praticado pelas empresas concessionárias, permissionárias ou autoriozatárias de serviços públicos. Pelo exposto, verifica-se que estão presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora exigidos pelo art. 7º, inciso III, da Lei 12.016/2009, devendo ser deferida a medida liminar requerida. VII – DO PEDIDO Por todo o exposto, requer a Impetrante a V.Exa, (era nome de todos os seus estabelecimentos situados no Estado do Pará), que: a) seja CONCEDIDA MEDIDA LIMINAR, inaudita altera pars, para determinar que as empresas concessionárias de serviços de fornecimento de energia elétrica atuantes no Estado do Pará, submetidas à sujeição passiva do ICMS, observem na formação do preço dos serviços de fornecimento de energia elétrica comercializados com a Impetrante o seu direito do pagar o ICMS incidente no utilização de tais serviços pela alíquota interna de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989), suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, na forma do artigo 151, inciso V, do CTN, bem como determinando-se que a autoridade coatora aceite o recolhimento do ICMS realizado pelas empresas concessionárias, permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, no forma acima requerida, deixando de praticar ato contrário a determinação judicial e, consequentemente, V.Exa., determine a expedição do ofício às empresas concessionárias, permissionárias e autorizatárias de serviços de fornecimento de energia elétrica atuantes neste Estado. b) seja determinada a notificação da Autoridade Coatora, para prestar suas informações no prazo legal (art. 7º, inciso I, da Lei n° 12.016/2009); c) que seja dada ciência do feito à Procuradoria Geral do Estado, para que, querendo, ingresse no feito, nos termos do art. 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009; d) intimar o I. representante do Ministério Público para, querendo, oferecer seu parecer; e) após a manifestação do Ministério Público, seja, ao final, CONCEDIDA A ORDEM postulada, julgando-se procedente o pedido da Impetrante, para: f) confirmando-se a Medida Limina: f.1) que seja assegurado o seu direito líquido e certo de pagar o ICMS incidente sobre os serviços de fornecimento de energia elétrica pela alíquota interna de 17% (artigo 20, inciso VI, do Decreto Nº 4.676/2001 e artigo 12, VII, Lei Nº 5.530/1989), determinando à autoridade coatora que informe e autorize às concessionárias, permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, que se submetem à sujeição passiva do imposto, a observar a alíquota de 17% a título de ICMS na formação do preço final de seus produtos e serviços consumidos pela Impetrante, e; f.2) que seja reconhecido o direito ao crédito decorrente da diferença entre os valores indevidamente recolhidos do ICMS, nos últimos 5 (cinco) anos, sobre a aquisição de fornecimento do energia elétrica com base na alíquota do 25% e os valores que seriam devidos com base na alíquota de 17%, corrigidos monetariamente e com a aplicação dos juros de mora no percentual de 1% (um por cento) após o trânsito em julgado, na forma do artigo 161, §1º c/c 167, ambos do CTN, determinando que o Estado do Pará: I – Aceite o aproveitamento do crédito do ICMS pago a maior diretamente em sua escrita fiscal, na forma do RICMS/Pa (Decreto Nº 4.676/2001), resguardado o direito da fazenda pública em verificar a correção dos valores creditados em conta gráfica; II – Ou subsidiariamente, a restituição/compensação dos valores indevidamente recolhidos, mediante procedimento administrativo previsto no RICMS/Pa (Decreto Nº 4.676/2001); Informa, por oportuno, o endereço das autoridades coatoras, pare fins de notificação: Diretor de Arrecadação e informações Fazendárias, Sra. Edna de Nazaré Cardoso Farage – Rua Visconde de Souza Franco n.º 110; Coordenador da Célula de Análise e Controle da Arrecadação, Sra. Marly Tereza Coutinho Mota – Rua Visconde de Souza Franco n.º 110; Coordenador Executivo Regional de Administração Tributária e Não-Tributária, Sr. João Guilherme Melo Cavaleiro de Macedo – Av. Gentil Bittencourt, 2566 entre Castelo Branco e José Bonifacio; Coordenador Executivo Especial de Administração Tributária e Não-Tributária – Grandes Contribuintes, Sra. Márcia Maria Costa Santos– Trav. 14 de Abril, nº 2010; Outrossim, a Impetrante informa, em cumprimento ao art. 39, inciso I, do CPC, o endereço onde seus advogados receberão intimações: Av. Wandenkolk, 811, salas 504/506, Ed. Village Millenium, Nazaré, Belém/Pa, CEP 66.055-030, requerendo que todas as publicações relativas ao presente feito sejam efetuadas em nome dos advogados ALEX CENTENO, inscrito na OAB/PA sob n. 15.042, LEONARDO MAIA NASCIMENTO, inscrito na OAB/PA sob n. 14.871, ARTHUR SISO PINHEIRO, inscrito na OAB/PA sob n. 17.657, BERNARDO ALBUQUERQUE DE ALMEIDA, inscrito na OAB/PA sob n. 18.940, THIAGO PEREIRA DE CARVALHO, inscrito na OAB/PA sob n. 19.303 e OTAVIO AUGUSTO DA SILVA SAMPAIO MELO, inscrito na OAB/PA sob n. 16.676. Por fim, a Impetrante protesta, desde já, pela juntada da cópia autenticada dos documentos que instruem a presente demanda. Dá-se a causa o valor do R$ 10.000,00 (dez mil reais). Nestes termos, Pede deferimento. Belém, 18 de Outubro de 2015. ALEX CENTENO BERNARDO ALMEIDA OTAVIO AUGUSTO MELO OAB 15.042/PA OAB 18.940/PA OAB 16.676/PA ROL DE ANEXOS: 1 – Procuração; 2 – Substabelecimento; 3 – Contrato Social; 4 – Comprovante de pagamento e consumo de energia elétrica; 5 – Comprovante de pagamento de custas; 6 – Instrução Normativa 0008, de 14 de julho de 2005; 7 – Parecer Ministerial (PGR);
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