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Apostila Anestésicos Locais

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1 
APOSTILA 
Anestésicos Locais 
2017 
	
 2 
 
PRINCIPAIS CONCEITOS 
• O mecanismo de ação dos anestésicos locais é o bloqueio dos ca-
nais de sódio voltagem dependentes. 
• A maioria dos anestésicos locais contém um anel de benzeno lipos-
solúvel ligado a um grupo amida e são classificados como aminoés-
teres ou aminoamidas com base no tipo de ligação química. 
• As propriedades físicas determinam a atividade e o funcionamento 
dessas drogas. Conhecimento do pKa, lipossolubilidade e ligação 
proteica é obrigatório. Anestésicos lipossolúveis geralmente são mais 
potentes. 
• A eficácia para uso clínico de anestésicos locais pode ser aumentada 
pela adição de epinefrina, opioides e α2 agonistas. A alcalinização 
dos anestésicos locais parece ser discutível como uma ferramenta 
clinicamente útil para melhorar a anestesia. 
• A taxa de absorção do anestésico local depende do local da injeção, 
da dose, das propriedades farmacocinéticas intrínsecas do fármaco e 
do uso de vasoconstritores. 
• Os anestésicos locais podem causar intoxicação principalmente nos 
sistemas cardiovascular e nervoso. 
• A bupivacaína pode causar disritmias letais e parada cardíaca de rea-
nimação prolongada e difícil reversão. Drogas menos tóxicas, como a 
levobupivacaína e a ropivacaína, devem ser as de escolha, no lugar 
da bupivacaína 
• A prevenção da intoxicação é muito mais importante que seu trata-
mento. A emulsão lipídica vem se mostrando uma droga segura e 
eficaz para a intoxicação da bupivacaína. 
	
 
	
 3 
 Introdução 
O primeiro anestésico local (AL) descrito foi a cocaína, extraída das fo-
lhas de Erythroxylon coca em 1860 por Nieman, na Alemanha. Em 1943, 
Löfgren sintetizou a lidocaína, derivada do ácido dietil-aminoace ́tico, inici-
ando-se a era dos anestésicos locais tipo amida, relativamente isentos de 
reações alérgicas, tão comuns com os derivados do ácido para-
aminobenzóico. 
Atualmente a utilização dos anestésicos locais é mais segura devido ao 
aparecimento de drogas menos tóxicas, como a ropivacaína e a levobupiva-
caína, além do advento da emulsão lipídica para o tratamento da intoxica-
ção. 
Todo médico anestesiologista deve conhecer as propriedades dos 
anestésicos locais para uma melhor utilização dessas drogas assim como a 
diminuição dos possíveis efeitos colaterais. Para entender os anestésicos lo-
cais é necessário o conhecimento de alguns conceitos básicos de fisiologia 
neural. 
Estrutura do Nervo 
Os anestésicos locais são 
usados para bloquear os ner-
vos do sistema nervoso perifé-
rico e no sistema nervoso cen-
tral. No sistema nervoso perifé-
rico, os nervos podem conter 
tanto fibras aferentes quanto 
eferentes, que estão integra-
dos em um ou mais fascículos 
e organizados dentro de três 
tecidos de sustentação. Fibras 
nervosas individuais dentro de 
cada fascículo estão rodeadas 
pelo endoneuro, um tecido conjuntivo frouxo contendo células gliais, fi-
broblastos e capilares sanguíneos. Uma densa camada de colágeno chama-
do perineuro rodeia cada fascículo. Uma camada final de tecido conjuntivo 
denso, o epineuro, encerra grupos de fascículos em uma bainha cilíndrica. 
	
 4 
Essas camadas de tecido oferecem proteção as fibras nervosas e agem co-
mo barreiras para a difusão passiva de anestésicos locais. 
Os nervos são diferenciados pela presença ou ausência da bainha de 
mielina. As células de Schwann formam uma bainha lipídica dupla concentri-
camente envolta em torno dos axônios que cobrem o comprimento do ner-
vo. A bainha de mielina é interrompida em intervalos curtos e regulares por 
regiões especializadas chamadas nódulos de Ranvier, que contêm elemen-
tos essenciais para a transmissão de sinais neuronais. Como sinais elétricos 
são renovados a cada nó, os impulsos nervosos se movem em fibras mielini-
zadas por condução saltatória. Em contraste, não existem nódulos de Ran-
vier em fibras nervosas não mielinizadas. Os canais de Na+ que servem para 
propagar os impulsos, são altamente concentrados nos nódulos de Ranvier 
de fibras mielinizadas e são distribuídos ao longo de todo o axônio de fibras 
não mielinizadas. 
As fibras nervosas são comumente classificadas de acordo com seu 
tamanho, velocidade de condução e função (veja tabela abaixo). Veja tabela 
modificada do Miller 8a edição. 
 
Classe	 Mielina	 Velocidade	 Localização	 Função	 Ação	AL	
A	alpha	 +	 30-120	m/s	 Eferente	para	músculos	 Motora	 ++	
A	beta	 +	 30-120	m/s	
Aferente	de	
pele	e	articula-
ção	
Tátil	e	proprio-
cepção	 ++	
A	gama	 +	 15-35	m/s	 Eferente	para	fuso	muscular	 Tônus	muscular	 ++++	
A	delta	 +	 5-25	m/s	
Aferente	para	
nervos	senso-
riais	
Dor,	frio,	tem-
peratura	e	to-
que	
+++	
B	 +	 3-15	m/s	 Simpática	pré	ganglionar	 Autonômica	 ++	
C	s	 _	 0,7-1,3	m/s	 Simpática	pós-ganglionar	 Autonômica	 ++	
C	d	 _	 0,1-2	m/s	 Nervos	senso-riais	aferentes	
Dor,	calor,	tem-
peratura	e	to-
que	
+	
 
Em geral, as fibras nervosas com diâmetro de secção transversal maior 
do que 1 mm são mielinizadas. Tanto um tamanho maior do nervo quanto a 
	
 5 
presença da bainha de mielina estão associados a mais rápida velocidade de 
condução. As fibras nervosas com grandes diâmetros têm condutância elé-
trica melhor. A mielina melhora o isolamento elétrico de fibras nervosas e 
permite a transmissão dos impulsos mais rápida do que a via de condução 
saltatória. Fibras de grande diâmetro e mielinizadas do tipo A, estão tipica-
mente envolvidas em funções motoras e sensoriais em que a velocidade de 
transmissão nervosa é crítica. Em contraste, fibras de pequeno diâmetro não 
mielinizadas do tipo C têm velocidade de condução mais lenta e transmitem 
informações sensoriais, tais como dor, temperatura e funções autonômicas. 
As fibras nervosas podem ser classificadas segundo seu tamanho, função e 
mielinização. 
Fixando Conhecimento 
Marque a correlação correta: 
A) fibra A: beta motora 
B) fibra C: dor somática 
C) fibra A: delta dor visceral 
D) fibra A: gama to ̂nus muscular 
E) fibra B: po ́s-ganglionar autonô ̂mica 
	
Resposta:	D	
	
Comentários	-	As	fibras	nervosas	A	e	B	são	mielinizadas,	grossas	e	de	condução	rápida.	As	fibras	C	
são	amielínicas,	finas	e	de	condução	lenta.	Quanto	à	função,	temos:	fibras	A	alfa	(propriocepção,	
motora	e	somática);	A	beta	(tato	e	pressão);	A	gama	(tônus	muscular);	A	delta	(dor	somática,	tem-
peratura);	B	(pré-ganglionar	autonômica)	e	C	(dor	e	reflexos	viscerais).	
Referência:		
Lawson	NW,	Johnson	JO	-	Autonomic	Nervous	System:	Physiology	and	Pharmacology,	em	:	Barash	
PG,	Cullen	BF,	Stoelting	RK	-	Clinical	Anesthesia,	4th	Ed,	Philadelphia,		Lippincott	Williams	&		Wil-
kins,	2001;	263-264.	
Eletrofisiologia Neural 
A transmissão de impulsos elétricos ao longo da membrana celular 
constitui a base de transdução de sinal ao longo das fibras nervosas. Energia 
necessária para a propagação e manutenção do potencial elétrico é mantida 
sobre a superfície da célula por desequilíbrio iónico através da membrana 
celular semipermeável. 
	
 6 
O potencial de repouso da membrana, de aproximadamente - 60 a -70 
mV, em neurônios é derivado predominantemente de uma diferença nas 
concentrações intracelulares e extracelulares de íons potássio e sódio. Neu-
rônios em repouso são mais permeáveis aos íons potássio do que aos íons 
sódio por causa de canais do vazamento de potássio; portanto, o potencial 
de membrana é mais próximo do potencial de equilíbrio de potássio (EK - 
80 mV) do que o de sódio (ENA 60 mV). Potencial de repouso ocorre princi-
palmente pela alta concentração de K+ intracelular mantida pela bomba de 
Na+ K+ ATPase. 
Impulsos elétricos são conduzidos ao longo das fibras nervosas como 
potenciais de ação. Eles são breves picos de carga positiva, ou despolariza-
ções, na membrana da célula causadapor influxo rápido de íons de sódio. O 
sódio entra através de canais voltagem dependentes que são abertos rapi-
damente (canais rápidos de sódio). Um potencial de ação é iniciado pela 
despolarização da membrana local. Quando um certo limiar de carga é atin-
gido, um potencial de ação é desencadeado e a despolarização ocorre em 
um fenômeno chamado “tudo ou nada” - uma vez estabelecido o potencial 
de ação em qualquer ponto da membrana de fibra normal, a despolarização 
trafega por toda a membrana, se as condições forem adequadas, ou não o 
fará se estas forem inadequadas. 
Com o aumento no potencial de membrana ao redor de 50 mV, o in-
fluxo de sódio é substituído por um efluxo de potássio, causando uma inver-
são do potencial de membrana ou repolarização. A saída do potássio ocorre 
por canais de potássio lentos. A difusão passiva da despolarização da mem-
brana desencadeia outros potenciais de ação em membranas de células ad-
jacentes de fibras nervosas não mielinizadas ou nódulos de Ranvier adjacen-
tes de fibras nervosas mielinizadas, resultando em um potencial de ação de 
onda que se propaga ao longo do nervo. Um período refratário curto que se 
segue após cada potencial de ação evita a propagação retrógrada do po-
tencial de ação nas membranas previamente ativadas. 
	
 7 
Observe na figura a seguir a curva em azul representado os diferentes 
momentos da eletrofisiologia neural. Note que durante a despolarização a 
condutância ao sódio aumenta (linha verde) e na repolarização acontece o 
mesmo com o potássio (linha vermelha). Também pode se notar que no pico 
do potencial até o início do potencial do repouso ocorre o período refratário 
onde não é possível ocorrer nova despolarização. No período de repouso as 
condutâncias voltam aos valores negativos. 
A movimentação de íons responsáveis pelos potenciais de ação é me-
diada por uma variedade de canais e bombas, sendo o mais importante os 
canais de sódio voltagem-dependentes. Na ausência de um estímulo, os ca-
nais de sódio voltagem dependentes existem predominantemente em re-
pouso ou estado fechado. Na despolarização da membrana, as cargas posi-
tivas na membrana interagem com os resíduos de aminoácidos carregados 
nas regiões de detecção de voltagem. Isto induz uma alteração conformaci-
onal no canal, convertendo-o para o estado aberto. Em milésimos de se-
gundos após a abertura, os canais passam por uma transição para o estado 
inativado. Dependendo da frequência e voltagem da despolarização inicial, 
o canal pode sofrer inativação rápida ou lenta. Inativação lenta ou rápida re-
fere-se à duração em que o canal continua refratário a despolarização no-
vamente antes de voltar para o estado fechado. Inativação rápida ocorre 
dentro de um milésimo de segundo e é sensível à ação de anestésicos lo-
	
 8 
cais. Inativação lenta dura de segundos a minutos e é distinta da ativação 
rápida. É resistente à ação de anestésicos locais e seu mecanismo é menos 
bem compreendido. Muitas vezes ocorre depois de despolarização prolon-
gada e acredita-se ser importante na regulação da excitabilidade da mem-
brana. 
Mecanismo de Ação dos Anestésicos Locais 
Os anestésicos locais bloqueiam a transmissão de impulsos nervosos 
por bloquearem os canais de sódio voltagem dependentes. Apesar dos 
anestésicos locais poderem se ligar a outros receptores, como canais de po-
tássio e receptores nicotínicos de acetilcolina, a sua propriedade que os 
permitem interagir com membranas plasmáticas e se ligar aos canais de só-
dio é o mecanismo mais aceito em induzir a anestesia e analgesia. 
Os anestésicos locais se ligam de modo reversível a porção intracelular 
dos canais de sódio voltagem-dependentes. O potencial de repouso de 
membrana do nervo é pouco afetado pelos anestésicos locais. À medida 
que a concentração do anestésico local aplicada ao nervo é aumentada, 
uma diminuição na taxa de despolarização e na amplitude do pico do po-
tencial de ação ocorre até que o impulso é abolido. 
Canais de sódio voltagem-dependentes 
O canal de sódio voltagem dependente é um complexo constituído por 
uma subunidade α principal e uma ou mais subunidades beta auxiliares. A 
principal proteína funcional do canal de Na+ - subunidade alfa - é composta 
por quatro domínios homólogos (D1 a D4), cada um dos quais contém seis 
regiões helicoidais (S1 a S6) que abrangem o núcleo da membrana. Cada 
domínio também tem uma alça, denominada região P, que liga o domínio 
extracelular as extremidades dos seus segmentos transmembranares S5 e S6. 
Os quatro domínios homólogos α-helicoidais (D1 a D4) formam o poro do 
canal que através do controle da seletividade aos Íons, regula a função de 
abertura, fechamento e inativação dos canais. Fechamento do canal aberto 
resulta do movimento dos segmentos S6, enquanto a inativação resulta da 
ligação do anel citoplasmático localizado entre D3 e D4 às outras estruturas 
do canal. Os anestésicos locais ligam-se no vestíbulo interno do canal de Na+ 
fechado. 
	
 9 
Na ausência de estímulo, os canais de sódio existem predominante-
mente no estado de repouso ou fechado. Na despolarização da membrana, 
as cargas positivas na membrana interagem com resíduos de aminoácidos 
carregados nas regiões voltagem dependentes. Isto induz a uma alteração 
conformacional no canal, convertendo-o para o estado aberto. Íons de sódio 
correm através do poro aberto, que se alinha com resíduos negativamente 
carregados. A seletividade iónica é determinada por estes resíduos de ami-
noácidos; alterações na sua composição podem levar a uma maior permea-
bilidade para outros Íons, como potássio e cálcio. Dentro de milissegundos 
após a abertura, os canais sofrem uma transição para o estado inativado. 
Dependendo da frequência e da voltagem do estímulo despolarizante inici-
al, o canal pode sofrer uma inativação rápida ou lenta. Inativação lenta ou 
rápida refere-se à duração em que o canal permanece refratário à repetição 
da despolarização antes de voltar ao estado fechado. A inativação rápida 
termina num milissegundo e é sensível à ação dos anestésicos locais. É me-
diada por um pequeno anel de polipéptideo intracelular móvel que liga os 
domínios D3 e D4 que fecha o canal a partir do interior da célula. Três ami-
noácidos altamente hidrofóbicos (isoleucina, fenilalanina e metionina) são 
um importante determinante estrutural da ativação rápida. A ativação lenta, 
com duração de segundos a minutos, é distinta da ativação rápida. É resis-
tente à ação dos anestésicos locais e seu mecanismo é menos bem compre-
endido. Ocorre frequentemente após despolarização prolongada e acredita-
se ser importante na regulação da excitabilidade da membrana. 
Nove isoformas de canais de sódio voltagem dependentes (NaV 1.1 a 
NaV 1.9) foram identificados. Cada isoforma varia ligeiramente conforme o 
comportamento do canal, tal como o limiar de ativação e modo de inativa-
ção e sua sensibilidade a agentes bloqueadores como tetrodotoxinas e 
anestésicos locais. A expressão em células e tecidos de cada isoforma é bas-
tante específico. A isoforma NaV 1.2 é encontrada quase que exclusivamente 
no SNC, enquanto que o NaV 1.6 é restrito a nós de Ranvier tanto no SNC 
como no periférico. Da mesma forma, várias isoformas podem estar presen-
tes num único tipo de célula; Tanto NaV 1.8 como NaV 1.9 foram encontra-
dos em neurônios de pequeno a médio porte em gânglios da raiz dorsal 
que são conectados a fibras Aδ e C. 
Algumas doenças que provocam quadro de dor intensa têm sido relacio-
nadas a alterações das isoformas. A hiperexcitabilidade de NaV 1.7 tem sido im-
plicada na eritromelalgia primária e em quadros dolorosos paroxísticos. Inver-
	
 10 
samente, uma mutação do NaV 1.7 está ligada a uma condição genética rara em 
que Indivíduos normais têm uma percepção severamente prejudicada da dor. 
 
Na figura anterior ocorreo potencial de ação com entrada do sódio e 
propagação do impulso nervoso com subsequente abertura dos canais de 
sódio. Na figura a seguir o anestésico local bloqueia o canal de sódio, im-
pedindo a entrada do sódio e a propagação do impulso nervoso. 
	
 11 
Mecanismos de ação e tipos de bloqueio 
Existem algumas teorias que tentam explicar o mecanismo de ação 
dos anestésicos locais no canal de sódio. A teoria da expansão lipídica pos-
tula que o anestésico local, por sua atividade na bicamada lipídica, produza 
uma alteração no empacotamento dos lipídios, causando uma modificação 
conformacional nos canais de sódio, o que levaria à inativação temporária 
do mesmo. 
Os anestésicos locais existem em duas formas: ionizada e não-ionizada 
ou neutra. A não-ionizada é lipossolúvel e atravessa facilmente a membrana. 
A forma ionizada é mais solúvel em água e liga-se ao canal de sódio na su-
perfície da membrana carregada negativamente. Ambas as formas podem 
afetar a função do canal de sódio. A forma não-ionizada pode causar expan-
são da membrana e fechamento do canal de sódio. A forma ionizada inibirá 
diretamente o canal de sódio por meio da ligação com um receptor de 
anestésico local. Essa é a teoria da modulação dos receptores. 
A taxa de ligação do anestésico local ao canal de Na+ fechado é maior 
para as moléculas mais hidrofóbicas (neutra) do que para as hidrofílicas. A 
forma ionizada do anestésico local dissocia muito mais lentamente dos ca-
nais de Na+ fechados e inativados do que a forma neutra, o que sugere que 
uma ligação iônica pode estar envolvida na ligação do fármaco. Em resumo, 
a hidrofobicidade entrega o fármaco ao receptor e a carga o mantém lá. 
Os anestésicos locais produzem tipicamente uma redução concentra-
ção dependente no pico da corrente de sódio. Conhecido como bloqueio 
tônico, reflete a redução do número de canais de sódio no estado aberto 
para uma dada concentração de fármaco presente no estado de equilíbrio. 
O grau de bloqueio produzido por determinada concentração do anestésico 
local depende da forma como o nervo tenha sido estimulado e do seu po-
tencial de membrana em repouso. Desse modo, o nervo em repouso é mui-
to menos sensível a um anestésico local do que um que esta ́ sendo estimu-
lado repetidamente; frequências mais altas de estimulação e potencial de 
membrana mais positivo acentuam o bloqueio produzido pelo anestésico. 
Esse fenômeno é conhecido como uso-dependente, bloqueio fásico ou blo-
queio frequência-dependente. Esse efeito do anestésico local dependente 
da frequência e da voltagem ocorre porque as moléculas desses fármacos 
em sua forma polar têm acesso ao seu local de ligação situado dentro do 
poro apenas quando o canal de Na+ esta ́ aberto e quanto mais canais de 
	
 12 
sódio abertos mais anestésico penetra nesses canais, impedindo sua reaber-
tura numa próxima estimulação. 
As ações fásicas são uma manifestação da afinidade seletiva dos anes-
tésicos locais para conformações do canal de Na+ resultantes da despolari-
zação. Tanto os estados abertos como os inativados do canal permitem a 
ligação aos anestésicos locais mais avidamente do que o estado de repou-
so. A despolarização repetida aumenta assim a fração dos canais ligados ao 
fármaco; A dissociação destas moléculas de fármaco ligadas é normalmente 
um processo mais lento do que a recuperação normal da inativação e resulta 
no acúmulo dependente do uso dos canais na condição bloqueada e no 
fenômeno do bloqueio fásico. 
Bloqueios diferenciais 
As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos 
locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras 
não mielinizadas são bloqueadas mais rapidamente que as mielinizadas de 
mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, ini-
ciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à pro-
priocepção e finalmente perda do tônus muscular. 
 
Fixando Conhecimento 
Homem de 51 anos, 80 kg e 1,70 m será submetido a osteossíntese 
do úmero. Apresenta fibrilação atrial e frequência ventricular de 130 
bpm. Após realização de bloqueio interescalênico do plexo braquial 
com 30 mL de lidocaína 2% sem adrenalina evolui com fibrilação ven-
tricular. A relação entre a taquicardia prévia ao bloqueio e a complica-
ção cardiovascular observada é explicada por: 
A) tipo da taquiarritmia 
B) bloqueio frequência dependente 
C) menor latência do anestésico local 
D) menor lipossolubilidade do anestésico local 
E) NDA 
 
	
 13 
Resposta:	B	
	
Comentário	 -	 Ações	 fásicas	 dos	 anestésicos	 locais	 são	 manifestações	 da	 afinidade	 seletiva	 dos	
mesmos	por	determinados	estados	conformacionais	dos	canais	de	sódio	responsáveis	pela	despo-
larização	 de	 tecidos	 excitáveis.	 Os	 anestésicos	 locais	 se	 ligam	 com	maior	 afinidade	 nos	 estados	
“aberto”	e	“	inativo”	do	que	nos	estados	“repouso”	do	canal.	Despolarizações	repetidas	das	fibras	
miocárdicas	aumentam	a	fração	de	canais	bloqueados	pelos	anestésicos	locais	com	efeito	cumula-
tivo	nas	situações	de	redução	do	intervalo	de	tempo	entre	despolarizações,	independente	da	sua	
origem.	 Esse	 efeito	 é	 conhecido	 como	 “bloqueio	 uso	 dependente”	 ou	 “bloqueio	 frequência	 de-
pendente”	e	justifica	a	maior	cardiotoxicidade	dos	anestésicos	locais	que	apresentam	maior	tem-
po	de	dissociação	após	ativação	do	canal	de	sódio,	como	observado	nas	moléculas	com	maior	 li-
possolubilidade	e	maior	afinidade	pelo	canal.	
	
Referência:	Berde	CB,	Strichartz	GR.	Local	Anesthetics,	em:	Miller	RD,	Cohen	NH,	Eriksson	LI,	et	al.	
Miller’s	Anesthesia.	8th	Ed,	Philadelphia,	Elsevier	Saunders,	2015;1028-1053.	
Uma extensão mínima das fibras nervosas mielinizadas precisa ser ex-
posta a uma adequada concentração de anestésico local para que ocorra 
bloqueio. Se apenas um nodo de Ranvier e ́ bloqueado, o impulso nervoso 
pode pular esse nodo e se propagar. Assim, para condução do bloqueio 
numa fibra mielinizada e ́ necessário expor ao anestésico local, pelo menos 
três nodos sucessivos. Esse fenômeno é chamado de condução decrescente 
e ilustrado na figura a seguir. 
Condução decrescente – ocupação dos canais de Na+ até bloqueio 
	
 14 
A figura anterior ilustra o princípio de bloqueio de condução decrescen-
te por anestésico local em um axônio mielinizado. O primeiro nó de Ranvier à 
esquerda contém anestésico local, mas ocorre um potencial de ação normal. 
Se nos nós que se seguem ao primeiro tiverem uma concentração de anesté-
sico local suficiente para bloquear 74% a 84% da condutância dos canais de 
sódio as amplitudes dos potenciais de ação diminuirão nos nós sucessivos. 
Propagação do impulso é bloqueada por condução decrescente, embora ne-
nhum dos nós estejam completamente bloqueados. As concentrações dos 
anestésicos locais que bloqueiam mais de 84% da condutância de sódio em 
três nós sucessivos impedem qualquer propagação de impulsos. 
Do ponto de vista clínico, ainda deve-se levar em conta a distribuição 
dos vários tipos de fibras dentro da estrutura do nervo periférico. Como os 
anestésicos locais difundem-se da periferia do nervo para o seu interior, a 
sequência do bloqueio das atividades pode se iniciar com bloqueio motor 
(fibras mais periféricas, embora mais grossas) e culminar com o bloqueio da 
sensibilidade dolorosa (fibras mais centrais, embora mais finas), como acon-
tece no bloqueio dos nervos que compõem o plexo braquial. 
Outra propriedade dos anestésicos locais é a chamada concentração efe-
tiva mínima (CEM), que é a menor concentração capaz de bloquear a condução 
do impulso nervoso. Essa concentração é afetada pelo tamanho da fibra nervo-
sa (fibras C são mais finas e mais sensíveis), acidose, hipocalemia e hipercalce-
mia (bloqueiam a ação), frequência de estimulação e temperatura. Um aumento 
no pH ou uma alta frequência de estimulaçãodiminuem a CEM. A CEM das fi-
bras motoras é, aproximadamente, duas vezes maior que a das fibras sensoriais 
e, portanto, anestesia sensorial não precisa ser sempre acompanhada de blo-
queio motor. Apesar de não ocorrer mudança na CEM, menos anestésico local 
é necessário para a anestesia raquidiana do que para a peridural devido ao me-
lhor acesso do AL às fibras nervosas no espaço subaracnoide. 
Propriedades Químicas 
Os anestésicos locais são constituídos de um anel benzênico (porção 
lipossolúvel) ligado a um grupamento amina (terciária ou quaternária de-
pendendo do pKa e do pH) através de uma cadeia intermediária que pode 
ser uma ligação éster ou amida. Esse tipo de ligação permite classifica-los 
em aminoésteres e aminoamidas, respectivamente. 
	
 15 
Dica prática – anestésicos que possuem somente uma letra “ i “ no seu 
nome científico são ésteres (cocaína, procaína); anestésicos com dois “ is “ 
são amidas (bupivacaína, lidocaína). 
Esse tipo de classificação também serve como diferencial de biotrans-
formação, já que os aminoésteres são transformados, por hidrólise, em áci-
do para-aminobenzo ́ico (PABA) através da colinesterase plasmática. Em fun-
ção desta estrutura PABA há um potencial alergênico com os aminoésteres. 
As aminoamidas sofrem metabolização hepática por N-desalquilação e hi-
drólise e são de meia-vida mais prolongada. A maioria dos anestésicos lo-
cais usados atualmente são aminoamidas. 
O anel aromático ou benzênico tem um perfil lipofílico (penetra na 
membrana celular), enquanto que a amina terciária é relativamente hidrofíli-
ca, uma vez que é parcialmente protonada e tem alguma carga positiva em 
pH fisiológico. 
Formas ionizadas e não ionizadas 
 A amina terciária é capaz de aceitar prótons, mas com baixa afinidade; 
assim, estes compostos são classificados como bases fracas. Em pH fisioló-
gico, soluções de anestésicos locais estão em equilíbrio entre a forma pro-
tonada (ionizada) e a forma neutra que é lipossolúvel. A proporção entre as 
duas formas depende do pKa ou constante de dissociação dos anestésicos 
	
 16 
locais e o pH do meio. Essa constante chamada pKa é o pH em que os anes-
tésicos locais se encontram em 50% na forma neutra e 50% na forma ioniza-
da. 
Uma maior con-
centração da forma 
lipossolúvel favorece a 
entrada na célula, uma 
vez que a principal via 
de entrada é pela 
membrana plasmática. 
Clinicamente, a alcali-
nização da solução 
anestésica aumenta a 
proporção forma neu-
tra, facilitando assim a entrada na célula. Uma vez dentro da célula, o equilí-
brio é estabelecido entre as formas ionizada e a neutra e sabe-se que a for-
ma ionizada é mais potente sobre a atividade bloqueadora nos canais de 
sódio. 
Em pH ácido ocorre aumento da fração ionizada o que proporciona 
uma menor proporção de forma neutra e maior de ionizada, o que determi-
na menor início de ação. Essa situação ilustra bem a infiltração que “não 
pega” nos casos de drenagem de abscessos cutâneos frequentes em pronto 
atendimentos. Quando o pKa é próximo do pH fisiológico ocorre início de 
ação mais rápido (pKa dos anestésicos locais é mais alto que o fisiológico). 
Potência 
A potência dos anestésicos locais é determinada pela sua lipossolubi-
lidade que aumenta com o aumento do número total de átomos de carbono 
na molécula. Embora o aumento da lipossolubilidade facilite a penetração 
na membrana, pode, também, resultar num aumento do sequestro do anes-
tésico local na mielina e em outros compartimentos lipídicos. Portanto, o 
aumento na lipossolubilidade, frequentemente, atrasa o início de ação da 
droga, aumentando a latência. 
 
 
Anestésico	Local	 pKa	 %	ionizada	em	pH	7,4	
Bupivacaína	 8,1	 83	
Levobupivacaína	 8,1	 83	
Ropivacaína	 8,1	 83	
Lidocaína	 7,9	 76	
Mepivacaína	 7,6	 61	
	
 17 
A lipossolubilidade é um 
determinante primário da po-
tência anestésica porque a mo-
lécula de anestésico deve pene-
trar na membrana nervosa e se 
ligar a um local parcialmente 
hidrofóbico do canal de Na+. 
Clinicamente, no entanto, a cor-
relação entre a lipossolubilidade 
e a potência dos anestésicos não é tão precisa como num nervo isolado. As 
diferenças entre in vitro e in vivo na potência podem estar relacionadas a 
uma série de fatores, incluindo a taxa de dissociação e hidrofobia e proprie-
dades vasodilatadoras ou vasoconstritoras que influenciam a taxa de capta-
ção vascular do local de injeção para a circulação central. 
Início de ação e duração 
O início do bloqueio de condução dos nervos isolados está relacionado 
com as propriedades físico-químicas individuais dos agentes. In vivo a latên-
cia também é dependente da dose ou concentração do anestésico local utili-
zado. Bupivacaína a 0,75% tem início mais rápido do que a 0,25%. Cloropro-
caína a 3% demonstra um rápido início de ação devido à sua baixa toxicidade 
sistêmica que permite a sua utilização em concentrações elevadas. 
A duração da ação dos anestésicos locais difere bastante. Procaína e 
cloroprocaína têm uma curta duração de ação. A lidocaína, mepivacaína e 
prilocaína tem duração moderada, enquanto tetracaína, bupivacaína, ropiva-
caína e etidocaína tem as durações mais longas. 
Nos seres humanos, a duração da anestesia é marcadamente influen-
ciada pelos efeitos vasculares periféricos das drogas anestésicas locais. Mui-
tos anestésicos locais têm um efeito bifásico sobre o músculo liso vascular. 
Estes agentes tendem a causar vasoconstrição a baixas concentrações, ao 
passo que eles causam vasodilatação em altas concentrações. Existem, con-
tudo, diferenças no grau de atividade vasodilatadora das drogas. Os efeitos 
dos anestésicos locais no tônus vascular e no fluxo sanguíneo regional são 
complexos e variam de acordo com a concentração, tempo e o leito vascular 
do local de aplicação, entre outros fatores. Como exemplo, a formulação de 
anestésico local tópico EMLA (mistura eutética de lidocaína e prilocaína) 
promove vasoconstrição dos vasos cutâneos durante a maior parte da pri-
Anestésico	Local	 Coeficiente	de	So-lubilidade	
Etidocaína	 7317	
Tetracaína	 5822	
Bupivacaína	 3420	
Levobupivacaína	 3420	
Ropivacaína	 775	
Lidocaína	 366	
	
 18 
meira hora de aplicação, mas a vasodilatação ocorre depois de 2 ou mais 
horas de aplicação. 
A duração de ação é aumentada pois a absorção do anestésico local 
pelos compartimentos lipídicos como a mielina é maior, funcionando como 
um depósito com liberação lenta deles. Assim, quanto mais lipossolúvel, 
maior a duração de ação. 
O grau de ligação protei-
ca também afeta a atividade 
do anestésico local, já que a 
forma livre é que tem atividade 
farmacológica. A alfa-1 glico-
proteína ácida é a proteína 
com a qual o anestésico local 
tem maior afinidade, mas também pode haver ligação com a albumina. O 
aumento da taxa de ligação proteica está relacionado com aumento da du-
ração de ação. Assim, a bupivacaína é o que tem maior ligação proteica 
(97%) e, portanto, com maior duração da anestesia, seguida pela ropivacaí-
na (94%) e lidocaína (65%). Pacientes com hipoproteinemia, como os hepa-
topatas e nefropatas, apresentam maior fração de anestésico livre e aumen-
tam-se assim as chances de intoxicação. A procaína é a que tem menor liga-
ção proteica – 6%. 
Outro aspecto importante a ser ressaltado é a taquifilaxia que é defini-
da como diminuição da eficácia de uma droga após repetidas injeções e, 
nesse caso, é explicada pelo eventual consumo de tampões extracelulares 
pela solução ácida de anestésico local (pH entre 4 - 6) com menor restaura-
ção da base anestésica ativa. A adição de adrenalina favorece a taquifilaxia, 
pois a vasoconstrição local favorece a isquemia e aumenta a acidez. Caso 
haja adição de bicarbonato à solução ao invés de sais ácidos, pode haver 
melhora do bloqueio. 
Farmacocinética 
A concentraçãoplasmática dos anestésicos locais varia em função da 
dose administrada e das taxas de absorção sistêmica, distribuição nos tecidos 
e eliminação da droga. Níveis elevados podem produzir efeitos colaterais nos 
sistemas elétricos sensíveis, principalmente o cardiovascular e do SNC. 
Anestésico	Local	 Ligação	Proteica	
Bupivacaína	 95%	
Levobupivacaína	 95%	
Ropivacaína	 94%	
Lidocaína	 64%	
Procaína	 6%	
	
 19 
Absorção 
Diminuir a absorção sistêmica de anestésicos locais aumenta a sua 
margem de segurança. A taxa e extensão da absorção sistêmica depende 
do local de injeção e sua vascularização, da dose, propriedades farmacoci-
néticas e do uso de agentes vasoconstritores. 
A vascularização do tecido influencia significativamente a taxa de ab-
sorção, de tal modo que a deposição de anestésicos locais em tecidos ricos 
em vasos resulta em elevados níveis plasmáticos em um período mais curto 
de tempo. Assim, a taxa de absorção sistêmica é maior com bloqueios do 
nervo intercostal, e seguido, em ordem decrescente, bloqueio caudal, peri-
dural, bloqueio do plexo braquial, bloqueio femoral e bloqueio do nervo 
ciático. 
Para um dado local de injeção, 
a taxa de absorção sistêmica e o pi-
co de nível no plasma são direta-
mente proporcionais a dose do 
anestésico local. Esta relação é 
aproximadamente linear e indepen-
dente da concentração do fármaco 
e a velocidade de injeção. 
A taxa de absorção sistêmica di-
fere com os anestésicos locais. Em ge-
ral, agentes lipossolúveis mais potentes 
se associam a uma taxa de absorção 
mais lenta do que compostos menos 
lipossolúveis. Sequestro em comparti-
mentos ricos em lipídios pode não ser 
a única explicação. 
Os anestésicos locais exercem efeitos diretos sobre os músculos lisos 
vasculares de uma maneira concentração dependente. Em baixas concen-
trações, os agentes mais potentes parecem causar mais vasoconstrição do 
que os agentes menos potentes, diminuindo desse modo a taxa de absor-
ção. Em concentrações elevadas, efeitos vasodilatadores parecem predomi-
nar para a maioria dos anestésicos locais. Epinefrina diminui a taxa de ab-
sorção vascular de certos anestésicos locais a partir de vários locais de inje-
ção e, assim, diminui o seu potencial de toxicidade sistêmica. E solução de 
	
 20 
epinefrina de 5 ug/mL (1:200.000) reduz significativamente os níveis sanguí-
neos de lidocaína e mepivacaína, independentemente do local de adminis-
tração. Os níveis sanguíneos de bupivacaína e etidocaína são minimamente 
influenciados pela adição de um vasoconstritor após injeção no espaço pe-
ridural lombar. 
Distribuição 
A distribuição sistêmica de anestésicos locais pode ser descrita suficien-
temente por um modelo de dois compartimentos. A fase de desaparecimento 
rápido está relacionada com a absorção e equilíbrio rápido nos tecidos que 
têm alta perfusão vascular. A fase mais lenta de desaparecimento a partir do 
sangue é principalmente devida as propriedades do anestésico local usado. 
Anestésicos locais são distribuídos ao longo de todos os tecidos do 
corpo, mas a concentração varia em tecidos diferentes. Em geral, os órgãos 
mais altamentes perfundidos mostram maiores concentrações de anestésico 
local do que os menos perfundidos. Os órgãos que são bem perfundidos, 
tais como o coração e o cérebro, têm concentrações mais elevadas de dro-
ga. Infelizmente, eles também são os órgãos mais afetados pela toxicidade 
do anestésico local. 
Como os anestésicos locais são rapidamente extraídos pelo tecido 
pulmonar, toda a concentração sanguínea de anestésicos locais decresce 
acentuadamente a medida que eles passam através da vasculatura pulmo-
nar. Os pulmões são capazes de extrair drogas como a lidocaína, bupivacaí-
na e prilocaína da circulação, limitando, portanto, a concentração sistêmica 
atingida pela droga, diminuindo o volume de distribuição. No caso da bupi-
vacaína, a primeira passagem nos pulmões é dose-dependente. Propranolol 
diminui a extração pulmonar de bupivacaína devido à competição por um 
mesmo receptor. Ao mesmo tempo, o propranolol diminui o clearance 
plasmático da bupivacaína, provavelmente por diminuir o fluxo hepático ou 
inibir o próprio metabolismo no fígado. 
Eliminação 
O padrão de metabolismo dos agentes anestésicos locais varia de 
acordo com a sua classificação química. Os ésteres sofrem hidrólise no 
plasma pela pseudocolinesterase e em menor extensão no fígado; elimina-
ção da cloroprocaína é muito rápida. A única exceção de um éster que não 
	
 21 
sofre hidrólise é a cocaína, que apresenta metabolismo predominantemente 
hepático. A colinesterase plasmática está diminuída na gestação, doenças 
hepáticas, uremia e em pacientes na vigência de tratamento com quimiote-
rápicos. Outro aspecto a ser considerado é que no líquido cerebrospinal há 
uma concentração muito pequena ou quase nula dessa enzima. Portanto, 
quando um éster é injetado no espaço subaracnoide, sua ação cessa apenas 
quando ele é reabsorvido para a circulação sistêmica. 
As drogas aminoamidas sofrem degradação enzimática principalmente 
no fígado. A primeira etapa na metabolização é a conversão da base em 
ácido aminocarboxílico. O metabolismo completo inclui hidroxilação e N-
desalquilação do ácido aminocarboxílico. 
A lidocaína é metabolizada um pouco mais rapidamente do que a 
mepivacaína, que por sua vez é mais rapidamente metabolizada do que a 
bupivacaína. Doença hepática grave pode retardar o clearance dos amino-
amidas e níveis significantes podem acumular-se. 
A excreção de metabolitos do tipo amida ocorre através dos rins. Me-
nos de 5% da droga é excretada inalterada na urina. Os ésteres praticamen-
te não aparecem na urina, com exceção da cocaína, em que 10 a 15% da 
droga é excretada na urina sem metabolização. 
Alterações farmacocinéticas 
A idade do paciente pode influenciar a concentração sérica de anestésicos 
locais. Pacientes jovens que receberam lidocaína intravenosa apresentam meia-
vida de duração da droga mais curta que pacientes de 61 a 71 anos de idade. 
Os recém-nascidos têm sistemas de enzimas hepáticas imaturos e con-
sequentemente, eliminação prolongada de lidocaína, bupivacaína e ropiva-
caína. Eliminação prolongada é particularmente um problema para infusão 
contínua de anestésicos locais em recém-nascidos e o uso de aminoésteres 
parece ser mais seguro que o de aminoamidas. 
A redução do fluxo sanguíneo hepático ou da função hepática pode 
produzir uma elevação substancial dos níveis sanguíneos dos anestésicos 
aminoamidas e um aumento da meia vida. A taxa de desaparecimento de 
lidocaína de sangue é marcadamente prolongada em pacientes com insufi-
ciência cardíaca congestiva. A doença renal tem pouco efeito sobre os pa-
râmetros farmacocinéticos de anestésicos locais. 
	
 22 
Diferenças entre os sexos na farmacocinética clínica de anestésicos locais 
ainda não foram estabelecidos, embora a gravidez possa diminuir o clearance. 
Todos esses fatores devem ser considerados quando se utiliza anesté-
sicos locais e a toxicidade sistêmica deve ser minimizada respeitando as do-
sagens máximas. 
Intoxicações e Eventos adversos 
Reações sistêmicas aos anestésicos locais envolvem principalmente o 
sistema nervoso central e o sistema cardiovascular. Em geral, o SNC é mais 
suscetível às ações sistêmicas dos anestésicos locais que o sistema cardiovas-
cular, e assim a dose de anestésico local necessário para produzir toxicidade 
para o SNC é geralmente menor do que a que resulta colapso circulatório. 
Toxicidade ao SNC 
Os anestésicos locais atravessam rapidamente a barreira hematoence-
fálica e a toxicidade no SNC pode ocorrer tanto por injeção direta no vaso 
quanto por absorção sistêmica. 
Os sintomas iniciais de toxicidade ao SNC tontura e vertigem seguidos 
frequentemente por distúrbios visuais e auditivos,tais como dificuldade em 
se concentrar e zumbido. Outros sintomas subjetivos do SNC incluem deso-
rientação e sonolência. Sinais diretos de toxicidade SNC são geralmente de 
natureza excitatória e incluem tremores e espasmos musculares envolvendo 
inicialmente músculos da face e partes distais das extremidades. Em última 
análise, convulsões generalizadas de natureza tônico-clônica ocorrem. 
Se uma dose elevada ou injeção intravenosa rápida de um anestésico 
local é administrada, os primeiros sinais de excitação do SNC são rapida-
mente seguidos por um estado de depressão generalizada. Apreensão, hi-
poatividade, depressão respiratória e parada respiratória pode ocorrer em 
última instância. Em alguns pacientes a depressão do SNC é vista sem uma 
fase de excitação, principalmente se outras drogas depressoras do sistema 
nervoso central tiverem sido administradas. 
 Excitação do SNC pode ser o resultado de um bloqueio inicial de vias 
inibitórias no córtex cerebral por anestésico local, mas também pode resul-
tar a da liberação de glutamato, um neurotransmissor excitatório. O blo-
	
 23 
queio de vias inibitórias libera neurônios excitatórios que funcionam sem 
oposição, o que resulta em um aumento na atividade excitatória levando a 
convulsões. Um novo aumento da dose de anestésico local leva à inibição 
da atividade de ambos os circuitos inibitórios e excitatórios, o que resulta 
num estado generalizado de depressão do SNC. 
Em geral existe uma correlação entre a potência do anestésico local e 
toxicidade no SNC. Convulsões causadas por um bolus intravenoso inadver-
tido de anestésico local geralmente pode ser combatido por pequenas do-
ses intravenosas de midazolam ou tiopental. Acidose metabólica ou respira-
tória aumenta os riscos de toxicidade dos anestésicos locais no SNC. 
PaCO2 alta (acidose respiratória) aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e 
assim o anestésico chega mais rapidamente no cérebro. Além disso, a difu-
são do dióxido de carbono em células neuronais diminui o pH intracelular, o 
que facilita a conversão da neutra para a forma ionizada que não se difunde 
através da membrana do neurônio e assim causa aprisionamento iônico que 
promove o aumento da toxicidade dos anestésicos locais no SNC. 
Hipercapnia e acidose também diminuem a ligação às proteínas plas-
máticas de agentes anestésicos locais. Assim, uma elevação nos PaCO2 ou 
uma diminuição no pH irá aumentar a proporção de fármaco livre disponível 
para difusão para dentro do cérebro. A implicação clínica deste efeito de 
hipercapnia e acidose sobre a toxicidade merece destaque. Convulsões 
produzem hipoventilação e um combinado de acidose respiratória e meta-
bólica, o que agrava ainda mais a toxicidade. 
No cenário de reações tóxicas aos anestésicos locais, é essencial for-
necer ventilação assistida rápida e suporte circulatório necessário para pre-
venir ou corrigir a hipercapnia e a acidose e para prevenir a hipoxemia que 
também agrava toxicidade no SNC. 
Concentração	lidocaína	no	plasma	
mcg/mL	 Efeito	no	SNC	
1	-	5	 Analgesia	
5	-	10	 Tontura,	zumbido,	amortecimento	língua	
10	-	15	 Sedação	e	inconsciência	
15	-	25	 Coma,	depressão	respiratória	
>	25	 Depressão	cardiovascular	
	
 24 
Toxicidade cardiovascular 
Em geral a toxicidade cardiovascular é vista em uma concentração 
plasmática muito maior do que a toxicidade do SNC. O potencial de toxici-
dade cardiovascular correlaciona-se com a potência e a solubilidade lipídica 
dos anestésicos locais. No entanto, enquanto todos os anestésicos locais 
podem causar hipotensão, arritmias e depressão miocárdica, agentes mais 
potentes (bupivacaína, ropivacaína e levobupivacaína) estão predispostos a 
resultados devastadores como o colapso cardiovascular fatal e bloqueio 
atrioventricular total. 
Os anestésicos locais podem exercer ações diretas sobre o coração e 
os vasos sanguíneos periféricos e ações indiretas na circulação pelo blo-
queio da atividade eferente autonômica. 
O efeito eletrofisiológico cardíaco primário é um decréscimo na taxa 
de despolarização nos tecidos condutores rápidos das fibras de Purkinje e 
do músculo ventricular. Acredita-se que esta redução é devida a uma dimi-
nuição na disponibilidade de canais de sódio rápidos nas membranas. Dura-
ção do potencial de ação e do período refratário efetivo também são dimi-
nuídos por anestésicos locais. 
Os efeitos eletrofisiológicos de vários agentes diferem qualitativamen-
te. Bupivacaína deprime a fase de despolarização rápida nas fibras de Pur-
kinje e músculo ventricular numa extensão maior do que faz a lidocaína. 
Além disso, a taxa de recuperação a partir de um bloqueio uso dependente 
é mais lento em músculos papilares tratados com bupivacaína do que em 
músculos tratados com lidocaína. Esta baixa taxa de recuperação resultada 
da restauração incompleta da disponibilidade do canal de Na+ entre os po-
tenciais de ação, particularmente em altas frequências cardíacas. Estes efei-
tos diferenciais de lidocaína e bupivacaína têm explicações sobre as propri-
edades antiarrítmicas da lidocaína e do potencial arritmogênico do bupiva-
caína. 
Estudos eletrofisiológicos demonstraram que os níveis sanguíneos ele-
vados de anestésicos locais irão prolongar o tempo de condução em várias 
partes do coração, tal como indicado no ECG por um aumento do intervalo 
PR e duração do complexo QRS. Concentrações extremamente elevadas de 
anestésicos locais deprimem a atividade marcapasso espontânea do nódulo 
sinusal, resultando em bradicardia sinusal e parada sinusal. 
	
 25 
Todos os anestésicos locais exercem ação inotrópica negativa dose-
dependente no músculo cardíaco; a depressão da contratilidade cardíaca é 
aproximadamente proporcional à potência do bloqueio de condução. As-
sim, bupivacaína e tetracaína são mais cardiodepressoras do que a lidocaína. 
Os anestésicos locais podem deprimir a contratilidade do miocárdio por afe-
tar o influxo e liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, bem como 
através da inibição de correntes Ca+2 e de Na+ do sarcolema cardíaco. 
Entre os agentes potentes de ação prolongada, ropivacaína e 
levobupivacaína podem ter um perfil de toxicidade cardiovascular mais se-
guro do que a bupivacaína. A S (-) bupivacaína (levobupivacaína) geralmente 
é menos potente do que a R (+) bupivacaína no bloqueio do potencial de 
ação cardíaco e ligação aos canais de sódio voltagem dependentes durante 
a fase inativa. Da mesma forma para a ropivacaína, as evidências sugerem 
que a cadeia lateral propil a torna menos cardiodepressora do que a cadeia 
lateral maior butil da bupivacaína. 
As concentrações elevadas de anestésicos locais inibem a condutivi-
dade elétrica e diminuem a contratilidade. Apesar de todos os anestésicos 
locais afetarem o sistema da condução cardíaca através de um bloqueio do-
se-dependente dos canais de sódio (visto clinicamente como um prolonga-
mento do intervalo PR e duração do complexo QRS), várias características 
únicas à bupivacaína parecem potencializar a sua cardiotoxicidade. Em pri-
meiro lugar, a bupivacaína tem uma afinidade inerentemente maior nos ca-
nais de sódio inativados ou em repouso que a lidocaína. Segundo que, em-
bora todos os anestésicos locais se liguem aos canais de sódio durante a sís-
tole cardíaca e se dissociam durante a diástole, a dissociação de bupivacaí-
na durante diástole ocorre mais lentamente (fast in – slow out) do que a li-
docaína (fast in – fast out). Esta velocidade lenta de dissociação impede uma 
recuperação completa dos canais ao final de cada ciclo cardíaco, mesmo 
com frequências cardíacas de 60 a 80 batimentos/minuto, levando a um 
acúmulo e piora do defeito de condução. A taquicardia pode intensificar o 
bloqueio dos canais de sódio produzido pela bupivacaína e piorar a cardi-
otoxicidade; a bradicardia facilita a eliminação na fibra cardíaca. Em contras-te, a lidocaína dissocia-se totalmente dos canais de sódio durante a diástole 
e causa pouca alteração na condução. 
Sabe-se que os canais de sódio são dextrógiros. Assim, drogas que 
possuam maior quantidade de forma dextrógira terão maior afinidade pelos 
canais de sódio, dificultando o desligamento. Como foi dito anteriormente, 
	
 26 
a bupivacaína é uma mistura racêmica, enquanto a ropivacaína apresenta-se 
somente na forma levógira e a lidocaína não apresenta quiralismo. Daí os 
menores riscos cardiovasculares da levobupivacaína que possui um número 
reduzido de isômeros dextrógiros. 
Finalmente, bupivacaína 
exerce um maior grau de de-
pressão direta do miocárdio 
do que os agentes menos po-
tentes. A bupivacaína ainda 
inibe canais de Ca+2, metabo-
lismo mitocondrial e a produ-
ção de AMPc. Gravidez, hipo-
xemia e acidose são fatores 
predisponentes para maior 
toxicidade cardiovascular da 
bupivacaína. Veja na imagem 
a seguir a cardiotoxicidade 
cardiovas-cular da bupivacaína 
em estudo experimental em 
cães. 
Tratamento da intoxicação 
A melhor prática para a intoxicação sistêmica do anestésico local co-
meça com a vigilância e prevenção. Níveis plasmáticos elevados de anesté-
sicos locais podem ocorrer por meio de injeções intravasculares acidentais 
ou absorção sistêmica. Toxicidade precoce do SNC pode ser manifestada 
por zumbido ou sedação excessiva. 
O tratamento de toxicidade sistêmica do anestésico local é principal-
mente de suporte. A administração de anestésico local deve cessar imedia-
tamente. Oxigenação e ventilação devem ser mantidas e as vias aéreas ga-
rantidas. Isso é necessário, não só como padrão de ressuscitação, mas tam-
bém para evitar mais exacerbação da toxicidade do anestésico local por hi-
poxemia, hipercapnia e acidose. Em muitos casos, com a gestão da via aé-
rea adequada e reversão da acidose, complicações mais graves de intoxica-
ção por anestésico local podem ser evitadas, especialmente em casos que 
envolvam agentes menos potentes. 
	
 27 
Atividade convulsiva induzida por anestesia local pode aumentar con-
sideravelmente o metabolismo do corpo e a acidose metabólica resultante 
pode produzir reanimação mais difícil. Convulsões prolongadas devem ser 
suprimidas. Os benzodiazepínicos, tais como midazolam ou diazepam, têm 
sido usados para elevar o limiar de convulsão e são os agentes preferidos 
para abolir e prevenir convulsões. Agentes hipnóticos, tais como o propofol 
e tiopental, podem não ser adequados para as convulsões induzidas por 
anestésicos locais, porque em doses significativas, eles podem potencializar 
a depressão do miocárdio. Se a atividade convulsiva é prolongada, succinil-
colina ou outros bloqueadores neuromusculares podem ser administrados, 
não só para facilitar a ventilação pulmonar, mas também para interromper a 
atividade muscular e reduzir a consequente demanda metabólica. No entan-
to, é importante notar que os relaxantes musculares não reduzem a excita-
ção elétrica no SNC e a taxa metabólica cerebral pode prosseguir ininterrup-
tamente alta. 
Depressão do miocárdio e vasodilatação sistêmica podem ser corrigi-
das com agentes simpaticomiméticos como a efedrina ou adrenalina. Colap-
so cardiovascular decorrente de arritmias cardíacas graves exige imediata 
ressuscitação cardiopulmonar. Para a fibrilação ventricular e qualquer tipo 
de parada cardíaca, os protocolos do ACLS devem ser iniciados. Bloqueado-
res de canais de cálcio e β-bloqueadores podem piorar a função miocárdica 
e devem ser evitados. 
Historicamente, circulação extracorpórea foi considerada a única me-
dida eficaz para salvar vidas por disritmias fatais e colapso cardíaco resultan-
te da toxicidade cardíaca do anestésico local. No entanto, a evidência apoia 
o uso de uma infusão intravenosa de emulsão lipídica para apressar o retor-
no da função cardíaca normal. Estudos em animais demonstraram eficácia 
de uma infusão de lipídios na reversão assistolia induzida pela bupivacaína. 
Relatórios clínicos posteriores descreveram reanimação bem-sucedida usan-
do emulsões lipídicas em indivíduos com parada cardíaca induzida por anes-
tésico local. A emulsão de lipídios pode atuar como um removedor no 
plasma para absorver anestésicos locais ligados a tecidos através de princí-
pios de partição. Alternativamente, os lipídios podem proporcionar uma fon-
te de energia utilizável já que existe um impedimento sobre o funcionamen-
to das mitocôndrias cardíacas. 
 
	
 28 
	
Fixando Conhecimento 
Mulher de 53 anos, 57 Kg e 1,60 m será submetida a tratamento ci-
rúrgico de fratura de rádio distal direito sob bloqueio do plexo bra-
quial por via axilar. Logo após a injeção de 30 ml de ropivacaína a 
0,5%, a paciente cursa com convulsão generalizada. O anestesiologis-
ta administra 5 mg de midazolam com controle efetivo da convulsão e 
inicia ventilação sob máscara facial. Essa última medida trará como 
benefício teórico no tratamento da intoxicação por anestésico local 
o(a): 
	
	
A) aumento do fluxo sanguíneo cerebral 
 
B) redução do aprisionamento iônico neuronal 
 
C) aumento da extração pulmonar do anestésico local 
 
D) redução da forma catiônica do anestésico local no plasma 
 
	
Resposta:	B	
	
Comentário	-	PaCO2	alta	(acidose	respiratória)	aumenta	o	fluxo	sanguíneo	cerebral	e	assim	o	anes-
tésico	chega	mais	rapidamente	no	cérebro.	Além	disso,	a	difusão	do	dióxido	de	carbono	em	células	
neuronais	diminui	o	pH	intracelular,	o	que	facilita	a	conversão	da	forma	neutra	para	a	forma	ioni-
zada	que	não	se	difunde	através	da	membrana	do	neurônio	e	assim	causa	aprisionamento	iônico	
que	promove	o	aumento	da	toxicidade	dos	anestésicos	locais	no	SNC.		No	cenário	de	reações	tóxi-
cas	 aos	 anestésicos	 locais,	 é	 essencial	 fornecer	 ventilação	 assistida	 rápida	 e	 suporte	 circulatório	
necessário	 para	 prevenir	 ou	 corrigir	 a	 hipercapnia	 e	 a	 acidose	 e	 para	 prevenir	 a	 hipoxemia	 que	
também	agrava	toxicidade	no	SNC.	
	
Referência:	Berde	CB,	Strichartz	GR.	Local	Anesthetics,	em:	Miller	RD,	Cohen	NH,	Eriksson	LI,	et	al.	
Miller’s	Anesthesia.	8th	Ed,	Philadelphia,	Elsevier	Saunders,	2015;1028-1053.	
Emulsão	Lipídica	20%	
Bolus	inicial	de	1,5	mL/kg	
Manter	infusão	0,25	mL/kg/min	até	retorno	da	função	cardíaca	
Instabilidade	cardiovascular	refratária	repetir	bolus	1,5	mL/kg	
e	aumentar	a	infusão	0,5	mL/kg/min	
Dose	máxima	30	mL/kg	em	30	minutos	
	
 29 
Toxicidade Neural 
Todos os anestésicos locais podem causar dano neuronal direto se 
usados em concentrações altas; as concentrações usadas na clínica diária 
são seguras. A medula espinhal e as raízes nervosas são mais propensas a 
lesão. 
Vários mecanismos podem causar lesão direta: exposição direta, lesão 
nas células de Schwann, inibição do transporte axonal, quebra da barreira 
nervo-sangue, alteração do fluxo sanguíneo neural e alteração na integrida-
de da membrana. 
Estudos in vitro demostram que lidocaína e tetracaína causam lesão dire-
ta quando utilizadas em altas concentrações. Bupivacaína, lidocaína, mepivaca-
ína e tetracaína causam vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo medular. 
Ropivacaína causa vasoconstricção concentração dependente. A adição de va-
soconstritores ao anestésico local potencializa os riscos de toxicidade neural. 
Reações alérgicas 
São raras e envolvem a tipo I (IgE) e a tipo IV (imunidade celular). As 
reações tipo I podem resultar em anafilaxia grave e serem potencialmente 
fatais, mas são muito raras. As reações do tipo IV são mais tardias (12 – 48 
horas) e se manifestam por eritema, prurido, pápulas ou vesículas. 
Ésteres são mais frequentemente associados por possuírem um meta-
bólito, o ácido para-aminobenzo ́ico, reconhecidamente alergênico. Anafila-
xia com amidas é raríssima. 
O preservativo metilparabeno é estruturalmente parecido com o ácido 
para-aminobenzóico podendo causar reações alérgicas. Outro preservativo 
que pode causar reação alérgica é o metabissulfito. 
Metahemoglobinemia 
Um efeito secundário sistêmico associado com um anestésico local es-
pecífico, a prilocaína, é o desenvolvimento de metahemoglobina após a ad-
ministração de grandes doses dessa droga. O metabolismo hepático de pri-
locaína gera O-toluidina, que oxida a hemoglobina em metahemoglobina. 
Metahemoglobinemia pode ser tratada com administração intravenosa de 
azul de metileno. Dosagem padrão de anestésico local tópico EMLA (mistura 
eutética de lidocaína e prilocaína) em recém-nascidos produz quantidades 
	
 30 
mínimas de metahemoglobina e o EMLA pode ser considerado como seguro 
na grande maioria dos recém-nascidos. Deve notar-se que o risco aumenta 
em recém-nascidos com doenças metabólicas raras ou após a administração 
concomitante de outros fármacos que dificultam a redução de metahemo-
globina. 
Anestesia Clínica 
Diversas drogas podem ser adicionadas as soluções de anestésicos lo-
cais para promoverem aumento da duração e intensidade do bloqueio e 
diminuir a absorção sistêmica de anestésico local. 
Adrenalina 
Os benefícios conhecidos incluem prolongamento e aumento do blo-
queio. A vasoconstrição antagoniza a vasodilatação produzida pelos anesté-
sicos locais, diminuindo a absorção sistêmica e diminuindo as chances de 
intoxicação. 
Efeitos diretos incluem ativação de receptores alfa-2-agonistas no cé-
rebro e medula espinhal que promovem a receptação de noradrenalina e 
diminuição do tônus simpático. 
Alcalinização 
A adição de bicarbonato de sódio a uma solução de anestésico local 
aplicado a um nervo isolado acelera a instalação e diminui a concentração 
mínima necessária para bloqueio. Embora o efeito do dióxido de carbono 
na atividade de anestésico local seja facilmente demonstrável no nervo iso-
lado, existem controvérsias relacionadas com a utilidade clínica de soluções 
anestésicas locais carbonatadas. 
A adição de bicarbonato de sódio a soluções de anestésico local dimi-
nui o tempo de latência do bloqueio. Um aumento do pH da solução de 
anestésico local aumenta a quantidade de fármaco na forma de não ionizada 
que aumenta a velocidade de difusão através da membrana da bainha do 
nervo e resulta num aparecimento mais rápido da anestesia. 
Opioides 
	
 31 
Os opioides possuem múltiplos mecanismos centrais e periféricos de 
analgesia. Administração espinhal de opioides fornece analgesia principalmen-
te por atenuar nocicepção de fibras A e C e é independente de mecanismos 
supraespinhais. Administração de opioides com anestésicos locais em neuroei-
xo resulta em analgesia sinérgica. Uma exceção é a cloroprocaína que parece 
para diminuir a eficácia de opioides peridurais, apesar de não se saber o moti-
vo. 
Com exceção da cloroprocaína, a maioria dos estudos clínicos apoiam 
a prática do uso de anestésicos locais e opióides no neuroeixo para prolon-
gamento e intensificação da analgesia e anestesia. 
O uso de opioides associados aos anestésicos locais nos bloqueios de 
nervos periféricos ainda não conseguiram comprovação científica adequada. 
A buprenorfina pode aumentar e prolongar a analgesia no pós-operatório 
associada ou não a anestésicos locais isolados quando administrada por via 
intramuscular. A evidência não suporta o uso anestésico local e opioides in-
tra-articular para analgesia pós-operatória. 
α-2-agonistas 
Podem ser um complemento útil para anestésicos locais. A clonidina 
produz analgesia via receptores adrenérgicos supraespinhais e espinhais. A 
clonidina também tem efeitos inibidores diretos sobre as fibras A e C. As-
sim, a adição de clonidina pode ter múltiplas vias de ação, dependendo do 
tipo de aplicação. 
A administração concomitante de um α2 agonista e anestésicos locais 
via neuraxial ou nervo periférico resulta em sinergia analgésica, enquanto 
que os efeitos sistêmicos (supraespinhais) são aditivos. 
A clonidina prolonga a duração da analgesia por cerca de 2 horas, in-
dependentemente do anestésico local que é usado. No geral, os resultados 
dos ensaios clínicos indicam que a clonidina pode potencializar os anestési-
cos locais utilizados para anestesia peridural, intratecal e bloqueios de ner-
vos periféricos. 
Esteroides 
Em experiências animais, utilizando preparações de anestésicos locais 
de liberação prolongada com adição de dexametasona ocorre prolonga-
	
 32 
mento do bloqueio. A duração do bloqueio está associada com a potência 
da atividade glicocorticoide e parece ser dependente de receptores este-
roides e localmente mediada. 
Estudos clínicos com o uso da dexametasona como um adjuvante para 
anestésicos locais demonstraram prolongamento semelhante da anestesia 
do plexo braquial e da anestesia regional intravenosa. Combinada com 
anestésicos locais de intermediária e longa duração, a dexametasona esten-
de a duração da analgesia por cerca de 50% no bloqueio de plexo braquial 
por via supraclavicular ou interescalênica. 
Cetamina 
A analgesia com cetamina deve-se principalmente ao antagonismo do 
receptor NMDA, mas também pode envolver outros mecanismos, como o 
agonismo dos receptores opioides. A administração intratecal de cetamina 
juntamente com a bupivacaína acelera o início da analgesia e aumenta a du-
ração da analgesia. Quando usada no bloqueio do nervo periférico, a ceta-
mina parece prolongar a analgesia pós-operatória. Seu papel na analgesia 
peridural não é claro ainda. 
Gravidez 
 A extensão e a profundidade da anestesia epidural e espinhal são maio-
res em mulheres grávidas do que em mulheres não grávidas. Os efeitos da 
gravidez sobre a potência anestésica local podem refletir um efeito combinado 
de fatores mecânicos associados à gravidez, como a dilatação do plexo de Ba-
tson que diminui o volume dos espaços peridural e subaracnoide, e efeitos di-
retos de hormônios, especialmente a progesterona, que deixa os nervos mais 
suscetíveis ao bloqueio da condução por anestésicos locais. As alterações 
hormonais são provavelmente o mais importante desses dois fatores, porque a 
maior disseminação da anestesia peridural ocorre durante o primeiro trimestre 
da gestação, antes de qualquer mudança grosseira nas dimensões vasculares 
dos vasos do plexo de Batson. A dosagem de anestésicos locais provavelmen-
te deve ser diminuída em pacientes em todas as fases da gravidez. 
Anestésicos Locais em Uso Clínico 
O uso dos anestésicos locais é amplo em diversas áreas da medicina. 
	
 33 
A anestesia infiltrativa funciona desde a simples sutura no pronto socorro até 
as infiltrações da ferida cirúrgica e nas cirurgias plásticas. Obviamente para 
os bloqueios de neuroeixo, periféricos e de Bier, o conhecimento do anes-
tésico local e qual se adequa a cada técnica, paciente e situação cirúrgica é 
obrigatório. Outro uso dos anestésicos locais é o tratamento de disritmias 
ventriculares e também diminuição das respostas reflexas a manipulação das 
vias aéreas que a lidocaína proporciona. Lidocaína associada a prilocaína 
pode ser encontrada na pomada anestésica EMLA. 
Os anestésicos locais estão disponíveis quer como enantiômeros sim-
ples quer como misturas racêmicas. Os enantiômeros consistem em dois es-
tereoisômeros que são imagens espelhadas uns dos outros em relação a um 
centro quiral específico. Os estereoisômeros podem ser levógiros (S - sinis-
tro) ou dextrógiros (R - retus). A isomeria inclui ainda o sinal + ou - na de-
pendência do sentido da rotação da luz polarizada que passa pela solução 
(+ no sentido horário e - no sentido anti-horário). Assim, os estereoisômeros 
podem ter a notação S (+), S (-), R (+) ou R (-). 
Uma mistura racêmica contém quantidades iguais dos dois enantiôme-
ros. As duas formas podem possuir propriedades farmacológicas diferentes 
que são de importânciaclínica. Por exemplo, a bupivacaína, um anestésico 
local de tipo amida comummente utilizado, é uma mistura racêmica e a 
levobupivacaína é o enantiômero levorotatório puro. A levobupivacaína de-
monstra uma potência e eficácia comparáveis à bupivacaína, mas tem signi-
ficativamente menos toxicidade cardíaca e do sistema nervoso central, pro-
vavelmente relacionada com a diminuição da afinidade a subtipos de canais 
de Na+ expressos nos tecidos cerebrais e cardíacos. Bupivacaína racêmica 
ou o isômero R (+) produz um bloqueio mais rápido e mais potente dos ca-
nais de Na+ nos cardiomiócitos ventriculares do que a levobupivacaína. 
Além disso, a bupivacaína R (+) produz uma maior redução da taxa máxima 
de despolarização em cardiomiócitos de animais, sugestivo da maior condu-
tância ao Na+. 
A lidocaína foi o primeiro anestésico local amplamente utilizado, e está 
disponível tanto para a infiltração quanto para bloqueios periféricos, incluin-
do bloqueio de Bier, espinhal e epidural. Sua utilização para anestesia espi-
nhal diminuiu devido a preocupações sobre neurotoxicidade e sintomas 
neurológicos transitórios. Pode ser aplicada topicamente como uma poma-
da ou gelatina, ou nebulizada como aerossol para anestesiar a via aérea su-
perior. A injeção intravenosa de lidocaína para atingir baixos níveis plasmáti-
	
 34 
cos (< 5 μg/mL) resulta em analgesia sistêmica, possivelmente por ação não 
apenas no SNC, mas também por afetar os nervos periféricos ou as termina-
ções nervosas cutâneas. Clinicamente, a lidocaína é administrada em infusão 
venosa para tratar a dor neuropática crônica. 
A lidocaína provoca vasodilatação na maioria das concentrações. A 
adição de epinefrina pode reduzir significativamente a absorção de lidocaí-
na, permitindo que mais da dose inicialmente administrada entre no com-
partimento neural, prolongando assim a duração da ação em até 50%. Expe-
rimentalmente, a lidocaína endovenosa suprime profundamente a ativação 
neuronal periférica induzida por lesão e inflamação, bem como a sensibiliza-
ção central wide dynamic neurons (neurônios relacionados a perpetuação e 
potencialização dolorosa) no corno dorsal da medula espinhal. 
O adesivo de lidocaína foi aprovado pelo FDA em 1999 para o trata-
mento da dor associada à neuralgia pós-herpética, uma condição de dor 
neuropática crônica grave. O adesivo é um sistema de administração tópico 
destinado a administrar baixas doses de lidocaína a nociceptores cutâneos 
superficialmente danificados ou disfuncionais em uma quantidade suficiente 
para produzir analgesia sem bloqueio mecanosensorial. Sua dosagem reco-
mendada é uma aplicação de até três adesivos para áreas de pele dolorosa 
intacta por 12 horas por dia. Estudos farmacocinéticos demonstraram que 
níveis plasmáticos clinicamente insignificantes são alcançados com esta for-
mulação. Os pacientes frequentemente relatam alívio da dor mesmo duran-
te as 12 horas entre as aplicações de um adesivo, e que apesar da meia-
vida plasmática curta da lidocaína, parece que alguns benefícios cumulativos 
resultam da liberação local prolongada do fármaco. 
Os anestésicos 
locais pipecoloxilidídi-
cos (bupivacaína, 
mepivacaína, ropivaca-
ína) são também cha-
mados de drogas 
quirais por possuírem 
um átomo de carbono 
assimétrico. A mepiva-
caína e a bupivacaína, 
utilizadas na prática clínica, são misturas racêmicas (50:50) de enantiômeros. 
Os enantiômeros de uma droga apresentam propriedades farmacocinéticas, 
	
 35 
farmacodinâmicas e toxicidade diferentes. Assim, ao administrarmos uma 
substância racêmica é como se estivéssemos administrando duas drogas dis-
tintas. É importante ressaltar que a lidocaína não apresenta quiralismo e que 
a ropivacaína tenha sido lançada no mercado exclusivamente levogira. 
Os aminoácidos dos canais de sódio dos nervos e do miocárdio são 
todos dextrógiros e, portanto, a ligação e o desligamento de um anestésico 
local levógiro puro ocorrem com mais facilidade e mais rapidamente. Já a 
bupivacaína é encontrada na forma racêmica com 50% S (-) e 50% R (+), e 
tem uma ligação mais estável nos canais de sódio, levando a uma maior to-
xicidade cardíaca (estereosseletividade). Os enantiômeros S da mepivacaína 
e da bupivacaína (levobupivacaína) parecem ser menos tóxicos do que as 
misturas racêmicas desses anestésicos locais. 
A ropivacaína e levobupivacaína foram formuladas para explorar a es-
tereosseletividade. A ropivacaína é um isômero S da bupivacaína que difere 
da levobupivacaína na substituição de um grupo propil por um grupo butil 
no anel piperidínico. Com essas mudanças projetadas na estrutura molecu-
lar, espera-se que a ropivacaína e levobupivacaína sejam menos cardiotóxi-
cas. Por outro lado, sabe-se que os enantiômeros (S) da mepivacaína e bupi-
vacaína são metabolizados pelo fígado mais lentamente do que os enan-
tiômeros (R) o que levaria a uma maior acumulação sistêmica com infusões 
prolongadas. 
 A reversão lenta de bloqueio do canal de Na+, após um potencial de 
ação cardíaco, típica com a bupivacaína, é consideravelmente mais rápida 
com a ropivacaína. O efeito inotrópico negativo da ropivacaína em tecido 
cardíaco isolado parece ser consideravelmente menor do com a bupivacaí-
na. Ambas as diferenças eléctricas e mecânicas dos perfis tóxicos podem 
resultar da inibição seletiva das correntes de Ca+2 pela bupivacaína. 
No geral pa-
rece que a ropiva-
caína é ligeiramen-
te menos potente 
do que bupivacaí-
na (1:1,3 a 1:1.5) 
para anestesia re-
gional. Em alguns 
estudos com ani-
	
 36 
mais de laboratório e em alguns estudos com humanos, a ropivacaína pro-
duziu bloqueios de duração mais curta que a bupivacaína. Outros estudos 
em animais e humanos têm encontrado durações iguais de bloqueio sensiti-
vo e motor para as duas drogas. 
A impressão geral é que a ropivacaína é menos cardiotóxica que a 
bupivacaína. Estudos em animais geralmente mostram que a bupivacaína 
prontamente produz mais distúrbios de condução, colapso cardíaco ou fibri-
lação ventricular que a ropivacaína e que a reanimação cardíaca após um 
bolus intravenoso intencional em cães leva a reversão dos efeitos tóxicos 
com muito mais facilidade com ropivacaína do que com bupivacaína. A mai-
or segurança da ropivacaína pode estar ligada à toxicidade reduzida do 
isômero (S). 
Levobupivacaína foi estudada em uma variedade de configurações clí-
nicas e locais de administração. Embora muitas publicações têm comparado 
a levobupivacaína com a bupivacaína e ropivacaína, conclusões diferem en-
tre os estudos sobre a potência relativa e duração do bloqueio destes três 
medicamentos em diferentes locais de administração tanto em relação aos 
bloqueios sensoriais quanto motores. 
A levobupivacaína é uma droga preparada com 100% de componente 
levógiro, mas na prática, apresenta uma grande dissociação entre bloqueio 
motor e sensitivo, semelhante ao que se obtém com a ropivacaína, o que 
representa, para algumas situações clínicas, um inconveniente. No sentido 
de incrementar o bloqueio motor da levobupivacaína, para as situações clí-
nicas indicadas, com o acréscimo de dextrobupivacaína, compondo uma 
mistura com excesso enantiomérico na relação de 75% de componente 
levogiro e 25% de componente dextrogiro. 
Já que buscamos anestésicos mais seguros, vale a pena uma observa-
ção. Vê-se na prática clínica uma frequente mistura de anestésicos locais. 
Essas misturas devem ser evitadas porque as drogas têm propriedades físico 
químicas diferentes e sua mistura produz uma droga com um pKa e outras 
características desconhecidas. Também devemos lembrar que a toxicidade 
dessa mistura é aditiva, sem benefício e com maior chance de efeitos colate-
rais. 
	 
	
 37 
	 pKa	 Ionização	 Lipossolubilidade	
Ligação	Pro-
teica	
Bupivacaína	 8,1	 83	 3420	 95	
Levobupi	 8,1	 83	 3420	 95	
Etidocaína7,7	 66	 7317	 94	
Lidocaína	 7,9	 76	 366	 64	
Mepivacaína	 7,6	 61	 130	 77	
Prilocaína	 7,9	 76	 129	 55	
Ropivacaína	 8,1	 83	 775	 94	
Atenção: Essa tabela deve ser decorada para a prova!!!!!!!! 
Por último, anestésicos locais de longa duração (7 a 10 dias) vem sen-
do alvo de pesquisas. Parecem ser muito úteis no tratamento de dor crônica 
e aguda para infiltração local ou bloqueio de nervos periféricos. Para au-
mentar a duração do bloqueio, mais do que criar novos agentes está sendo 
mudada a maneira como são apresentados: encapsulados em lipossomas, 
microesferas ou em polímeros, com liberação lenta. Essas formas de apre-
sentação também reduziriam a toxicidade no cérebro e miocárdio, por uma 
menor captação tecidual. 
	
 38 
Bibliografia Recomendada 
Barash PG, Culler BF, Stoelting RK, Calahan MK, Stock MC – Clinical Anes-
thesia, 8a Ed, Philadelphia, Lippincott Williams, 2014. 
Stoelting RK, Hillier SC – Pharmacology & Physiology in Anesthetic, 4th Ed, 
Philadelphia, 2006. 
Longnecker DE, Brown DL, Newman MF, Zapol WM – Anesthesiology, 2nd 
Ed, New York, McGraw Hill Medical, 2012. 
Miller RD Eriksson LI, Fleisher LA, Wiener-Kronish JP, Young WL – Miller’s 
Anesthesia 8th Ed, Philadelphia, 2014. 
Cangiani LM, Slullitel A, Potério GMB et al. – Tratado de Anestesiologia 
SAESP. 7a Ed. São Paulo, Atheneu, 2011 
Goodman & Gilman - As bases farmacológicas da terapêutica 12a edição 
2012.

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