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Administração de Serviços Hospitalares Aula 3- Organização do Trabalho e Gestão do cuidado em saúde AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conteúdo Programático desta aula ▪ Identificar a gestão compartilhada e a co- produção de sujeitos autônomos. ▪ Identificar as relações entre a atenção e a saúde. ▪ Conhecer arranjos e dispositivos para este compartilhamento ( incluindo a visão do apoio institucional nestas relações). ▪ Indicar dispositivos que permitam o apoio matricial especializado concorrente com os processos de tomada de decisão. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde A divisão social e técnica do trabalho, resulta em três dimensões básicas: a)natureza formativa dos profissionais de saúde; b)gestão e da gerência dos serviços; e c)da produção propriamente dita dos serviços. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde O profissional de saúde, durante o exercício de sua atividade, precisa manter uma relação “humanizada” com seus pacientes. O clínico depara-se com um ser pensante e igualmente desejante, assim como ele próprio o é. Nesse encontro entre dois sujeitos, o fluxo das emoções flui entre ambos, criando uma relação autêntica entre dois seres e não entre um técnico e uma patologia. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde O modo de operar os serviços de saúde é definido como um processo de produção do cuidado. É um serviço peculiar, fundado numa intensa relação interpessoal, dependente do estabelecimento de vínculo entre os envolvidos para a eficácia do ato. Por ser de natureza dialógica e dependente, constitui-se também num processo pedagógico de ensino-aprendizagem. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde O trabalho em saúde é um serviço que não se realiza sobre coisas ou sobre objetos, como acontece na indústria; dá-se, ao contrário, sobre pessoas, e, mais ainda, com base numa intercessão partilhada entre o usuário e o profissional, na qual o primeiro contribui para o processo de trabalho, ou seja, é parte desse processo. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde Na definição clássica sobre o processo de trabalho, destacam-se os seguintes componentes: • matéria-prima • instrumentos de trabalho • homem • produto AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde No caso do processo de trabalho em saúde, é possível sistematizar da seguinte forma: • matéria-prima X usuário • instrumentos de trabalho X tecnologia (leve/dura/leve-dura) • homem X trabalhador em saúde = operador do cuidado • produto X trabalho em saúde ⇒ atos de saúde = produção do cuidado AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde Qualquer processo de trabalho em saúde possui: - uma dimensão cooperativa, que integraliza a ação e complementa o processo de produção de serviço, orientado a este fim. - uma direcionalidade técnica, que diz respeito aos conhecimentos científicos e ao uso de tecnologias que influenciam a produção específica do serviço de saúde. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde Quanto à relação entre práticas de saúde e o modelo assistencial, discute-se que o modelo assistencial cria missões diferenciadas para estabelecimentos de saúde aparentemente semelhantes, as quais se traduzem em diretrizes operacionais bem definidas. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Conceitualização e Organização dos Serviços de Saúde A organização e a divisão do processo de trabalho define-se pelo objetivo final que se quer atingir. Nesse sentido, a lógica da produção dos serviços centrada na concepção médico-curativa tem como finalidade à cura, orientada pela fragmentação dos procedimentos, pela tecnificação da assistência e pela mecanização do ato em saúde. Assim se desejamos pensar um novo modelo assistencial em saúde centrado no paciente, é fundamental re-significar o processo de trabalho. Essa re- significação exige a mudança da finalidade desse processo, que passa a ser a produção do cuidado, na perspectiva da autonomização do sujeito, orientada pelo princípio da integralidade e requerendo, como ferramentas: a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, o trabalho e a tecnologia (um conjunto de conhecimentos e agires aplicados à produção de algo AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares A evolução histórico e social de gestão e a organização do trabalho em saúde. Atualmente, no setor privado, a valorização da produtividade, (remuneração mediante padrões de produção, geralmente com base em procedimentos) que é prática comum tem forte fundamentação no modelo Taylorista. Na área pública, as características mais marcantes da organização do trabalho são: • baixo controle sobre o trabalho e • excessiva divisão em tarefas fragmentadas. Muitas vezes percebemos a ótica da segregação de planejamento versus execução amplamente abordada em Introdução à Administração, no primeiro período. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares A evolução histórico e social de gestão e a organização do trabalho em saúde. A própria política de pessoal para o SUS é muito restrita. No Brasil hoje, observa-se um padrão de gestão que não favorece o trabalho em equipe, e ainda não se desenvolveu uma cultura de avaliação do desempenho. Estudos realizados pelo Observatório de Recursos Humanos, vinculado ao Ministério da Saúde e a OPAS apontam que as categorias "otimização da alocação e da utilização da força de trabalho", ainda que raramente utilizadas no campo da gestão pública de pessoas, apesar de fundamentais não são suficientes para lidar com a complexidade do desafio de fazer tal tipo de gestão. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares A evolução histórico e social de gestão e a organização do trabalho em saúde. Avanços teóricos acerca de novos modelos para as políticas de pessoal não tem sido acompanhados de mudanças práticas em escala suficiente para gerarem um novo padrão de governança para o SUS. A Política Nacional de Humanização tem trazido alguns referenciais para a gestão do trabalho em saúde, propondo a atuação em dois eixos: •transformar a forma de produzir e prestar serviços de saúde (novos arranjos organizacionais); e •alterar as relações sociais que envolvem os trabalhadores e gestores em sua experiência cotidiana de organização e condução dos serviços. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares A evolução histórico e social de gestão e a organização do trabalho em saúde. A existência da dimensão política nas organizações, em várias concepções, é vista muitas vezes como algo disfuncional, e não como um aspecto essencial, como instrumento para reconhecer os diferentes interesses e gerar negociações e consensos possíveis, com a finalidade de pactuar uma ordem institucional não coercitiva e possibilitar o melhor desempenho organizacional. O processo de tomada de decisões permanece centralizado tanto no campo público como no privado, sendo que neste último até o trabalho médico, tradicionalmente objeto de grande autonomia na sua prática, tem sido submetido a maior controle e normatização, buscando-se maior eficiência, algumas vezes, com foco excessivo nos custos.AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O modo de operar os serviços na atenção básica A característica dos serviços na atenção básica pressupõe a divisão de trabalho a partir de duas perspectivas: a primeira, de natureza horizontal, exigida pela própria complexidade dos serviços oferecidos (unidades produtoras); e outra, vertical, necessária à subdivisão das unidades produtoras, exigindo assim, como pressuposto operacional, a cooperação entre aqueles que executam o trabalho e o conhecimento técnico para a resolubilidade das ações e a garantia da integralidade do atendimento •Núcleo das atividades cuidadoras de saúde Núcleo profissional específico •Núcleo específico por problemas AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O trabalho médico e a incorporação tecnológica O conceito de profisisonal de saúde abrange um grande número de profissões, sem falar nas diversas especialidades médicas e nas profissões emergentes e ainda não regulamentadas. O Ministério do Trabalho, por meio da Classificação Brasileira de Ocupações registrava mais de 50 ocupações na área da saúde no final de 2011. (http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo.jsf;jsessio nid=9A0F6872ABEEFB7B134728A208F67131.lbroutef121p006 ) AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O trabalho médico e a incorporação tecnológica As práticas de gestão utilizadas para lidar com esta realidade e lidar com a autonomia do trabalho médico têm sido diferenciadas no setor público e privado. Podemos citar 2 práticas bem difundidas : •A Atenção Gerenciada : originária do setor privado de saúde, surgiu como alternativa para regular o trabalho médico com foco na relação custo/benefício, estabelecendo protocolos para as ações diagnósticas e terapêuticas, a partir da preocupação com a contenção dos custos crescentes. •A Medicina baseada em evidências : busca uma situação onde as intervenções diagnósticas e terapêuticas sejam normatizadas, o que é possível até certo ponto, a partir do qual, cada caso volta a ser um caso. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O trabalho médico e a incorporação tecnológica Atualmente observamos diversas situações que contribuem com o estabelecimento de crises na gestão em saúde. A tecnologia denominada Medicina Baseada em Evidências possibilita organizar o acesso dos médicos ao conhecimento acumulado sobre as patologias, indicando alternativas que oferecem melhores resultados; no entanto, não é suficiente para superar as dificuldades com a singularidade das situações clínicas e a necessidade de tomada imediata de decisões, quando não há tempo para a busca de revisões bibliográficas. além de que os estudos científicos que indicam as evidências, nem sempre guardam similaridade com a complexidade dos casos concretos, ou mesmo entre eles. Assim, uma base em evidências, não atenua os desdobramentos negativos do descolamento de contato entre o profissional de saúde e o paciente. A clínica demanda uma visão ampliada dos fatores geradores do processo saúde, risco e doença. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O modo de se fazer gestão nos setores público e privado No setor público brasileiro, encontramos uma centralização administrativa bem identificada no poder executivo (governo), não existindo ações de promoção da autonomia nas organizações e da rede de saúde, dificultando o exercício de autoridade, responsabilidade e distribuição de poder, principalmente nos recursos financeiros e sobre a gestão de pessoal. Encontramos estruturas organizacionais de desenho piramidal, sendo que do vértice para a base, os graus de autonomia vão sendo reduzidos. As funções gerenciais encontram-se mais voltadas para o controle da execução de atividades especializadas do que para a avaliação de resultados, alcance de objetivos e metas. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares O modo de se fazer gestão nos setores público e privado Os setores se estruturam segundo as especialidades médicas e profissionais, calçados nas concepções estruturalistas (muitas vezes ainda usando o modelo burocrático) e nos padrões de conformidade e uniformidade. Os objetivos tendem a ser estabelecidos para o curto prazo, em decorrência da alternância de poder e da cultura de não continuidade dos projetos desenvolvidos por gestores precedentes, o que contribui para a submissão e falta de credibilidade do corpo de trabalhadores para com as propostas das direções, levando ao discurso recorrente de que ―já vimos isto antes e não deu certo. A cultura organizacional ainda centra no modelo orçamentário funcional programático preconizado na Lei 4.320/64 ( em vigor) e ainda está incorporando as mudanças incluídas com a visão de planejamento pluriuanual (PP) em vigor desde 2000 na esfera do SUS, mas não as recentes mudanças de 2012. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares As relações entre gestão e atenção à saúde Produção de valor de uso para terceiros: No caso das organizações de saúde, para os clientes ou usuários. Esta finalidade agrega sentido conceitual à existência institucional. A dimensão de não atingimento desta finalidade é distinta na área pública e privada, na privada tem como decorrência a falência e extinção da organização, na pública além da estagnação perde-se o sentido em relação a premissa constitucional de gerar acesso. Normalmente devemos explicitar esta finalidade na própria missão organizacional. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares As relações entre gestão e atenção à saúde Satisfação as necessidades de sobrevivência dos trabalhadores: Destina-se a atender as necessidades objetivas e subjetivas destes: • construção de significado pessoal; • noção de pertencimento social; e • autoria por meio do trabalho. Como já demonstrado pela teoria de relações humanas, nem sempre o dinheiro é fator preponderante na relação motivacional e muitos continuam a trabalhar independente do fator monetário, sendo os principais motivos: •se relacionar com outras pessoas; •ter o sentimento de vinculação; •ter algo para fazer; •evitar o tédio; •ter um objetivo na vida. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares As relações entre gestão e atenção à saúde Satisfação as necessidades de sobrevivência dos trabalhadores: Diferenças quando focamos as áreas públicas e privadas. Vejamos: Área de Saúde suplementar: a sobrevivência está intimamente ligada aos mecanismos de mercado; a relação custo/benefício das suas atividades indica diretamente atratividade para o empreendedor; capacidade de atender as exigências dos órgãos reguladores em curto prazo. maior profissionalização da gestão; maior uso de indicadores que acompanhem objetivos e metas; AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares As relações entre gestão e atenção à saúde Satisfação as necessidades de sobrevivência dos trabalhadores: Diferenças quando focamos as áreas públicas e privadas. Vejamos: Área pública: As organizações não deixam de existir após sua falência financeira, ao contrário, costumam sobreviver "sucateadas", isto é, com desempenho cada dia pior; As organizações não deixam de existir quando há perda, quase absoluta, de eficiência, eficácia e efetividade; Incapacidade de acompanhar as mudanças tecnológicas contemporâneas; Falta de controle social; e Ausência de opções para os usuários em relação ao uso de outros serviços. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares As relações entre gestão e atenção à saúde produção de valor de uso: Atendimento os objetivos e propósitos da instituição como organizaçãosocial. Podemos indicar o binômio atingimento de missão e visão da organização como ponto focal desta finalidade. Que embora subliminarmente contida nas duas anteriores, transcende elas na dimensão tempo e escopo de atuação. Indo muito além das necessidades materiais e subjetivas dos clientes e trabalhadores, para a qual o planejamento contribui quando realizado de modo participativo, cumprindo a finalidade de organizar a ação do grupo e ao mesmo tempo concorre para a sua constituição e crescimento técnico e político. AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares Gestão compartilhada ou co-gestão A gestão participativa (co-gestão) e departamentos organizados segundo lógica inter-profissional guardam relação direta com a estrutura organizacional, para ganhos de flexibilidade e possibilitar adequações. Podemos então agrupar arranjos e dispositivos sob as seguintes dimensões: 1)A gestão colegiada e as unidades de produção 2)A função de Apoio institucional 3)Planejamento e Contratação 4) a coordenação da atenção clínica 5) Avaliação de risco e vulnerabilidade 6) Projeto Terapêutico Singular 7) Outros dispositivos para a gestão da clínica - Diretrizes clínicas; - Protocolos; - Discussão de caso; e - Visita conjunta. 8) Apoio Matricial Especializado AULA 3 Administração de Serviços Hospitalares
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