Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PARTOGRAMA: DAS EVIDÊNCIAS À PRÁTICA melania.amorim@gmail.com Melania Amorim Leila Katz Nicole Viana UFCG – IMIP – ISEA – IPESQ PARTOGRAMA CONCEITO: “Representação gráfica do trabalho de parto que permite acompanhar sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção destes desvios, ajudando ainda a evitar intervenções desnecessárias.” (MS, 2001) Sistema precoce de aviso OMS 1988: “O PARTOGRAMA: UMA FERRAMENTA DE GERENCIAMENTO PARA PREVENÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PROLONGADO” Reedição (1994): “PREVENINDO O TRABALHO DE PARTO PROLONGADO: UM GUIA PRÁTICO – O PARTOGRAMA” 1996: Categoria A nas recomendações do atendimento ao parto normal PARTOGRAMA O partograma permite: Acompanhar a evolução do TP Documentar o TP Diagnosticar alterações no TP Indicar a tomada de condutas apropriadas para correção destes desvios Evitar intervenções desnecessárias PARTOGRAMA VANTAGENS Efetividade: detecção precoce de problemas Baixo custo Aumenta a qualidade e a regularidade das observações PARTOGRAMA PONTOS IMPORTANTES Só pode ser utilizado por profissionais de saúde com treinamento adequado em obstetrícia e que sejam capazes de : Observar e conduzir um trabalho de parto normal e o parto Acompanhar a dilatação cervical corretamente Anotar a dilatação e a hora, de maneira correta, no gráfico PARTOGRAMA PONTOS IMPORTANTES Não deve ser utilizado em partos domiciliares e/ou acompanhados por pessoas não treinadas em obstetrícia. Não deve ser iniciado caso haja complicações na gestação/parto que impliquem em uma ação imediata. Não foi validado para apresentação pélvica. PARTOGRAMA ESTUDO DA DILATAÇÃO CERVICAL: Friedman, 1954 – padrão sigmoide da dilatação, fase latente e fase ativa Hendricks, 1969 – padrão de dilatação na multípara Philpott & Castle, 1972 OMS, 1994 – obrigatório em maternidades Schwarcz et al., 1996 (CLAP) PARTOGRAMA DIVISÃO PREPARATÓRIA Dilatação (<1,2cm/h) Analgesia interrompe DIVISÃO DE DILATAÇÃO Dilatação em fase mais rápida Não é afetada por analgesia DIVISÃO PÉLVICA Desaceleração da Dilatação (Dilatação em velocidade constante) Descida da apresentação - Movimentos fetais FASE LATENTE Contrações progressivamente mais intensas Até 3-5cm 14-20h FASE ATIVA Aceleração da Dilatação Contrações Uterinas Regulares Trabalho de Parto Ativo Nulípara: 10-12h Multípara: 6-8h DIVISÃO FUNCIONAL DO TRABALHO DE PARTO FASES DA DILATAÇÃO CERVICAL PARTOGRAMA: FRIEDMAN 2º PERÍODO (PERÍODO EXPULSIVO) Dilatação cervical total (10cm) 20-50min Prolongado: >2h Nulípara >1h Multípara PARTOGRAMA: FRIEDMAN CRÍTICAS: Os dados de Friedman são antigos e não refletem necessariamente o padrão “normal” de evolução do TP. Cerca de 50% das mulheres não dilatam 1cm/hora até alcançarem 5-6cm. Estudos recentes (ZHANG et al., 2010) demonstram padrão de evolução diferente que pode ser usado para definir fase ativa prolongada ou outros distúrbios. PARTOGRAMA Percentil 95 da duração cumulativa do TP da admissão ao parto vaginal em primíparas com início espontâneo do TP, parto vaginal e desfechos neonatais normais. Zhang J, Landy H, Ware Branch D, et al. Contemporary patterns of spontaneous labor with normal neonatal outcomes. Obstet Gynecol 2010; 116:1281 PARTOGRAMA Curva de evolução da cervicodilatação (Schwarcz et al.. 1996) PARTOGRAMA FASE DE DILATAÇÃO/FASE ATIVA 2 ou mais contrações eficientes (>20seg) em 10min ~1cm/h “A abertura do partograma na fase latente ou no início da dilatação (menor que 3 - 4 cm) implicaria em intervenções não só desnecessárias, mas também iatrogênicas.” (MS, 2001) PARTOGRAMA PARTOGRAMA P A R T O G R A M A PARTOGRAMA NOME REGISTRO DATA DE INICIO IDADE PARIDADE DUM, IG Partograma em papel quadriculado: Marcadores dos eixos X (abscissa) e Y (ordenadas), com os planos de De Lee e de Hodge PARTOGRAMA LINHA DE ALERTA LINHA DE AÇÃO PLANOS DE DE LEE PARTOGRAMA PLANOS DE HODGE APRESENTAÇÃO CEFÁLICA: OCCIPITAL – Fletida BREGMA – Deflexão 1ºgrau GLABELA/NASO – Deflexão 2ºgrau MENTO – Deflexão 3ºgrau PARTOGRAMA PARTOGRAMA ANTERIOR PUBE DIREITA ESQUERDA TRANSVERSA SACRO POSTERIOR PARTOGRAMA PARTOGRAMA PUBE SACRO ESQUERDA DIREITA ODA ODP ODT OET OEP OEA OP OS PARTOGRAMA Intervention Review: “Routine vaginal examinations for assessing progress of labour to improve outcomes for women and babies at term” (COCHRANE, Soo Downe et al., 2013) Estabelecer quando e com que frequência o uso do toque vaginal é uma intervenção efetiva para avaliar o progresso do trabalho de parto diagnosticar distocia PARTOGRAMA 2 ESTUDOS: 307 mulheres – comparação da avaliação vaginal versus avaliação retal 150 mulheres – comparação toques vaginais seriados 2/2h versus 4/4h PARTOGRAMA RESULTADOS: TOQUE RETAL X TOQUE VAGINAL Não houve diferença significativa entre os desfechos comparando a avaliação retal e vaginal. Maior conforto para a parturiente com a avaliação vaginal. PARTOGRAMA RESULTADOS: TOQUE VAGINAL 2/2h X 4/4h Não houve diferença na duração do TP Não houve diferença nos desfechos maternos e perinatais PARTOGRAMA CONCLUSÃO: São necessários novos estudos para avaliar a efetividade do uso e frequência de exames vaginais A opinião materna deve ser considerada Não identificamos evidência suficiente para apoiar ou rejeitar o uso rotineiro de toques vaginais durante do TP PARTOGRAMA PARTOGRAMA 10h 13h 11h 17h 14h 20h 19h 22h 21h PARTOGRAMA X I I R R --- --- CL M NÃO SIM P E N IC IL IN A C R IS TA LI N A 5 .0 0 0 .0 0 0 U O C IT O C IN A 8 G T S /M IN B C F + (1 0 h )= 1 4 0 b p m B C F + (1 0 :3 0 h )= 1 5 0 b p m O C IT O C IN A 1 6 G T S /M IN SIM SIM O C IT O C IN A 1 6 G T S /M IN DISTOCIAS 1) FALSO TRABALHO DE PARTO: Colo sem progressão da dilatação Contrações não palpáveis ou infrequentes PARTOGRAMA Erro de construção do Partograma 2) FASE LATENTE PROLONGADA Dilatação não progride além de 4cm após 8h de contrações regulares Duração: Nulípara: >20h Multípara: >14h Não é indicativo de distocia Atenção: risco de TP disfuncional PARTOGRAMA 3) FASE ATIVA PROLONGADA Dilatação cervical à direita da linha de alerta Velocidade de dilatação <1cm/h Contrações uterinas ineficientes (falta de motor) CONDUTA Deambulação Exercício Posições verticalizadas Ocitocina Amniotomia PARTOGRAMA Hipoatividade Uterina Conduta Ocitocina Amniotomia Fase ativa prolongada Hipoatividade Uterina Conduta Amniotomia Deambulação Exercícios Fase ativa prolongada 4) PARADA SECUNDÁRIA DA DILATAÇÃO: Dilatação cervical mantida >2h Contrações adequadas Principal Causa: DCP Absoluta Relativa – Posição: Deflexão, Transversa, Posterior CD: deambulação, analgesia, amniotomia PARTOGRAMA DCP Conduta Ressuscitação intrauterina Cesárea Parada secundária da dilatação Queda da FCF 5) PARADA SECUNDÁRIA DA DESCIDA: Dilatação cervical completa Cessação da descida >1h Contrações adequadas Principal Causa: DCP (absoluta/relativa) PARTOGRAMA DCP Conduta Ressuscitação intrauterina Cesariana Parada secundária da descida Queda da FCF 6) PERÍODO EXPULSIVO PROLONGADO (FASE PÉLVICA PROLONGADA) Dilatação cervical completa Descida lenta no Período Expulsivo >2h – Nulípara >1h - Multípara Contrações inadequadas DCP (absoluta/relativa) PARTOGRAMA 6) PERÍODO EXPULSIVO PROLONGADO (FASE PÉLVICA PROLONGAD0) CONDUTA Ocitocina Amniotomia Posições Verticalizadas Fórceps/Vácuo PARTOGRAMA Hipoatividade uterina Conduta Ocitocina Fórceps/ Vácuo Período pélvico prolongado PARTOGRAMA 7) PARTO PRECIPITADO (TAQUITÓCICO) Dilatação + Descida + Expulsão <4h Taquissistolia, Hiperssistolia Administração excessiva de OCITOCINA sintética geralmente associada PARTOGRAMA TAQUISSISTOLIA Parto precipitado PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS World Health Organization partograph in management of labour. World Health Organization Maternal Health and Safe Motherhood Programme. Lancet 1994; 343: 1399-404 PARTOGRAMA PARTOGRAMA TP prolongado (6,4% para 3,4%) necessidade de ocitocina (20,7% para 9,1%) cesárea de emergência (9,9% para 8,3%) óbito fetal intraparto (0,5% para 0,3%) Entre gestações únicas sem fatores de risco a queda de cesárea foi maior (6,2% para 4,5%) PARTOGRAMA “O partograma da OMS claramente diferencia a progressão do TP em normal ou anormal e identifica as mulheres que necessitam de intervenção. O seu uso em todas as unidades é recomendado.” PARTOGRAMA CONCLUSÕES Existem evidências científicas (nível B) favorecendo o uso do partograma para condução do trabalho de parto. Uso do partograma reduz taxas de cesárea e óbito intraparto (OMS, 1994) Falta de partograma é fator de risco para óbito perinatal (Landsky et al., 2006) Treinamento FUNDAMENTAL (Bosse et al., 2002; LEANZA et al., 2011) PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS REVISÃO SISTEMÁTICA DA COCHRANE (2013) 6 ECR: 7706 mulheres (somente 2 ECR partograma ou não) Não houve diferença na incidência de cesárea, parto instrumental ou baixos escores de Apgar Linha de ação com 3 horas x 4 horas: maiores taxas de cesárea e uso de ocitocina A PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS REVISÃO SISTEMÁTICA DA COCHRANE (2013) Partograma sem fase latente: menores taxas de cesárea Uso do partograma resultou em redução do risco de cesárea em países de baixa renda (1 ECR) A PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS CONCLUSÕES DOS AUTORES: Com base nos achados desta revisão, nós não podemos recomendar o uso rotineiro do partograma como parte do manejo padrão do TP. Tendo em vista que o partograma tem atualmente uso disseminado e é geralmente aceito, parece razoável que, até que mais forte evidência esteja disponível, o uso do partograma seja localmente determinado. A PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS CONCLUSÕES DOS AUTORES: Novos ECR são necessários para estabelecer a EFETIVIDADE do uso do partograma e comparar diferentes modelos. A PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS IMIP (Katz et al., 2011) Estudo de coorte Determinar os fatores associados à indicação da primeira cesárea em primíparas atendidas no CAM- IMIP. N=800 primíparas no período de agosto de 2008 a julho de 2009 PARTOGRAMA CESÁREA PARTO NORMAL RR p N % N % SIM 126 22,6 431 77,4 0,50 < 0,001 NÃO 108 44,4 135 55,6 1,00 Avaliação do preenchimento de partograma de acordo com a via de parto em primíparas atendidas no CAM-IMIP, no período de agosto de 2008 a julho de 2009 PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS ISEA, FAP (AMORIM et al., 2011) Análise secundária de um estudo de corte transversal para avaliar fatores associados à episiotomia. Setembro/2010 a Abril 2011. 214 mulheres que tiveram parto vaginal nas maternidades incluídas. Variáveis analisadas: Frequência de preenchimento dos partogramas Adequação do preenchimento dos partogramas PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS AMORIM et al.: ISEA e FAP, 2011 (226 partos) ISEA, FAP (AMORIM et al., 2011) RESULTADOS: Em praticamente todos os casos em que se preencheu o partograma, esse foi construído e preenchido de forma inadequada! PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS CONCLUSÃO: Apesar de todas as vantagens e segurança trazidas pelo partograma, verificou-se que seu uso ainda não foi implementado nas maternidades da cidade de Campina Grande. Urge capacitar e sensibilizar os profissionais de saúde para o correto preenchimento do partograma. PARTOGRAMA: EVIDÊNCIAS PARTOGRAMA MATERNIDADE RS (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFRGS): PARTOGRAMA PARTOGRAMA MOTIVOS PARA SE USAR O PARTOGRAMA Facilita registro Trocas de plantão Proteção do binômio: FILHO MÃE CESÁREA Proteção do profissional Tanto obstetras como parteiras devem ser treinados para seu uso (LEANZA et al., 2011) PARTOGRAMA PERSPECTIVAS PARA O FUTURO Ainda é um problema o preenchimento inadequado ou não preenchimento do partograma nas maternidades brasileiras. Profissionais devem ser treinados para o seu uso correto, o que pode acarretar expressiva redução da taxa de cesarianas, sobretudo por diagnósticos muito subjetivos como DCP, parada de progressão e outras distocias. Flexibilizar critérios para intervenção! PARTOGRAMA PERSPECTIVAS PARA O FUTURO Em médio ou longo prazo, a sugestão é manter o registro gráfico dos partos, mas substituir a curva de Friedman pela de Zhang. Por enquanto… Em casos individualizados, esquema 1:1 de atenção, usar partograma sem as linhas de alerta e de ação (confrontar com o padrão de Zhang) http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf PARTEJAR É PRECISO!!! OBRIGADA!
Compartilhar