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Texto 02 - Sidnei Munhoz - Ecos da Guerra Fria no Brasil

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Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
ECOS DA EMERGÊNCIA DA GUERRA FRIA NO BRASIL 
(1947-1953) 
Sidnei J. Munhoz∗
Resumo. O propósito deste texto é estudar as possíveis relações entre a emergência 
da Guerra Fria e a repressão política ocorrida no Brasil no imediato pós II Guerra 
Mundial. O artigo trabalha com a hipótese de que as raízes dessa repressão política 
são tanto endógenas quanto exógenas. Além disso, defende a idéia de que tão logo 
as relações envolvendo a grande aliança da II Guerra Mundial deterioraram as elites 
brasileiras retornaram ao seu conservadorismo e tradicional anticomunismo. Como 
resultado, o registro do partido comunista foi cancelado, o movimento operário e 
outras organizações populares foram duramente reprimidos, a imprensa foi 
censurada e mesmo grupos militares progressistas e diplomatas supostamente 
vinculados à esquerda tornaram-se alvos da repressão. 
Palavras-chave: Brasil, Guerra Fria, repressão política, comunismo. 
ECHOES OF THE EMERGENCE OF THE COLD WAR IN 
BRAZIL (1947-1953) 
Abstract. The purpose of this paper is to advance the study of possible 
relationships between the emergence of the Cold War and the political repression 
that took place in Brazil in the immediately after the Second World War. The 
article examines the hypothesis that there were both endogenous and exogenous 
origins of the political repression. Furthermore, it supports the idea that the 
Brazilian elites, faced with the deterioration of the wartime alliances, returned to 
their conservatism and traditional anticommunism. As result, the registration of 
Communist Party was cancelled, the working-class movement and other popular 
organizations were severely repressed, the press was censured and even 
 
∗ Este trabalho constitui-se em parte da pesquisa desenvolvida em meu projeto de Pós-
doutorado, no Laboratório de Estudos do Tempo Presente (IFCS-UFRJ). Devo agradecer à 
Universidade Estadual de Maringá, pela liberação de minhas atividades regulares para a 
realização desse projeto; ao Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva, Coordenador do 
Laboratório de Estudos do Tempo Presente- Tempo (IFCS-UFRJ) onde desenvolvi esse 
trabalho; aos colegas do Tempo, pelo estímulo e apoio; à Thaís Mantovani e à Maria Suely 
Pereira pelo auxílio na pesquisa documental., Ao Alberto Gawryszewski pela leitura e 
comentários e ao José Henrique Rollo Gonçalves pelo apoio, críticas e sugestões Esse 
projeto contou com o apoio financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à 
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro- Faperj- através da concessão Bolsa de Estudos. 
42 Munhoz 
progressive military groups and suspected left-wing diplomats became targets of 
repression. 
Key words: Brazil, Cold War, political repression, Communism. 
INTRODUÇÃO 
Nos anos que se seguiram ao fim da II Grande Guerra, estava a 
ocorrer um rápido processo de mudança na configuração política da maioria 
dos governos da América Latina. Na Argentina, Juan Domingo Perón foi 
eleito presidente1. No Brasil, em 1945, após 15 anos no poder, o governo de 
Getúlio Vargas chegou ao fim. Seu sucessor, Eurico Gaspar Dutra, foi 
escolhido através do mais amplo processo eleitoral que o país havia 
experimentado2. Na Guatemala, foi eleito Juan José Arévalo. Em cada país 
houve configurações distintas para o novo poder estabelecido; no entanto, 
pode-se dizer que, por influência do fim da guerra e dos regimes autoritários 
na Europa, houve uma guinada para a democracia formal. Para Leslie Bethell e 
Ian Roxborough, a América Latina experimentou duas fases distintas naqueles 
anos. Na primeira, que teve início entre 1944 e 1946, variando de país para 
país, observou-se um processo de democratização, uma mudança para a 
esquerda e o crescimento da militância operária. No entanto, também variando 
de caso para caso, entre 1945 e 1947 iniciou-se uma fase de reversão desse 
processo que, regra geral, se concluiu por volta de 1948, com exceção da 
Guatemala, onde os ventos democráticos do pós-guerra perduraram até 19543. 
 
1 Deve-se observar a excepcionalidade da Argentina, a partir do golpe militar de 4 de junho de 
1943, não houve um alinhamento automático do país com os EUA. Após a guerra, a 
campanha do embaixador estadunidense Spruille Braden contra a eleição de Perón foi um 
indicador claro da preocupação dos EUA com os destinos da Argentina. Perón enfrentou a 
pressão e conclamou o povo argentino a escolher “entre o porco do Braden ou o patriota 
Perón”. Perón venceu, o que foi observado, nos EUA, como uma derrota humilhante (Veja, 
LAFEBER, W. American Age, op. cit, p. 488). Deve-se ainda observar que já entre 1946-47 
Perón esmagou quase todas as forças do movimento operário argentino que agiam com 
independência frente ao governo, subordinando completamente as organizações sindicais ao 
peronismo. 
2 BETHELL, Leslie and ROXBOROUGH, Ian. Latin America between The Second World War and 
The Cold War.1944-1948. Cambridge: Cambridge University Press, 1992, p. 55-56; 
GAWRYSZEWSKI, Alberto - A agonia de morar: urbanização e habitação na cidade do Rio 
de Janeiro (DF) - 1945/50". São Paulo: FFLCH/USP, Tese de doutoramento, 1996. 
3 BETHELL, Leslie and ROXBOROUGH, op. cit., p.1-3.Veja também dos mesmos autores 
The impact of the Cold War in Latin America in: LEFFLER, M and PAINTER, D. Origins of the 
Cold War op. cit., p. 293-316. Como os autores indicam o artigo foi baseado nas idéias presentes 
no livro acima citado. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 43 
A esse respeito, penso que devam ser cuidadosamente observadas as 
particularidades do processo nos diferentes países do continente. Muitos deles 
mantiveram democracias formais, embora restritas, como o Brasil, a Argentina, 
a Venezuela, a Colômbia, o Uruguai e o Chile. Outros, como o México, 
mantinham um sistema de partido único, contudo com significativa base social 
e alguns mecanismos de participação democrática. 
Os EUA apressaram a formação de alianças regionais com o intuito de 
combater a possível expansão soviética e, mais que isso, impedir a expansão do 
ideário comunista, e mesmo reformista, evitando assim que tais ideais 
pudessem de alguma forma ameaçar a segurança do país.4Ao analisar os 
documentos relativos ao Tiar, é possível observar dentre os seus objetivos o 
desenvolvimento de uma política de defesa para o continente, restringindo a 
interferência de potências não-americanas na região5. Assim, considerando-se 
o contexto inicial da Guerra Fria e o papel de liderança dos EUA, é possível 
compreender claramente o significado político do tratado, naquele momento 
histórico. Para o Senador Vanderberg, um dos expoentes do conservadorismo 
republicano, o Tiar preservava integralmente os preceitos da Doutrina 
Monroe6. Alguns autores, vêem na Doutrina Truman a transformação da 
Doutrina Monroe em uma política global7. 
Considerando a liderança e a supremacia militar norte-americana, com 
a aprovação do Tiar e, posteriormente, com a criação da OEA – Organização 
dos Estados Americanos, formalizam-se os documentos legais que 
 
4 Para os policymakers de Washington, segurança nacional era definida em termos de 
correlação de poder. Poder era definido em termos de controle de recursos, infra-estrutura 
industrial e bases externas. Assim a segurança do país residia na superioridade econômica e 
tecnológica sobre qualquer potencial adversário. LEFFLER, M. The preponderance of 
Power. National Security, the Truman Administration, and the Cold War,.Stanford: 
Satanford University Press, 1992, principalmente, p. 1-15. Nesse aspecto, é necessário 
esclarecer que a noção de Segurança Nacional cunhada nos EUA é tão amplaque ela pode 
ser considerada ameaçada, por eventos ou mudanças ocorridas em qualquer parte do planeta. 
Referindo-se às relações com a URSS, Leffler afirma que a concepção norte-americana de 
segurança nacional podia gerar ansiedades e provocar reações de um governo orgulhoso, 
suspeito, inseguro e cruel, que era, ao mesmo tempo apreensivo sobre as implicações em 
relação à reabilitação de inimigos tradicionais e à instalação de bases estrangeiras na periferia 
do seu território. LEFFLER, Melvin. National Security and US foreign policy. In: 
LEFFLER, M ; PAINTER, David (ed). Origins of the Cold War: an international history. London: 
Routledge, 1994, p.39 
5 Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI)- Pasta 389/ 1 /31 - Tratado Interamericano de 
Assistência Recíproca e Ata Final. 
6 GILDERHUS, Mark. The Second Century. U.S.-Latin American Relations since 
1889.Wilmington: SR Books, 2000, p. 120. 
7 SMITH, Gaddis. The Last Years of the Monroe Doctrine, 1945-1993. New York: Hill and Wang, 
1994, p. 56, citado por Gilderhus, op. cit, p. 121. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
44 Munhoz 
possibilitam a intervenção dos EUA em qualquer região do continente 
americano. Devido ao peso econômico, militar e político, os Estados Unidos 
possuíam, e ainda possuem, força suficiente para garantir a sua hegemonia e, 
regra geral, impor as suas decisões ao continente. Contudo, em diversos 
momentos teve que fazer concessões, como veremos à frente. 
No imediato pós-guerra, o inimigo não mais era representado pelos 
antigos regimes autoritários de tendência fascista, mas pelos governos 
reformistas ou os movimentos sociais que pudessem pressionar por reformas 
políticas e sociais que implicassem na redução da capacidade de intervenção 
dos EUA no continente. Assim, iniciou-se a definição de políticas de 
contenção aos movimentos que pudessem significar alguma ameaça à ordem 
vigente e, como decorrência, aos interesses das elites norte-americanas. 
Todavia, é enganoso acreditar que a guinada autoritária no continente tenha 
sido uma derivação exclusiva do projeto de contenção estadunidense. No 
Brasil, podemos observar uma pesada influência da grande potência do Norte 
no processo de democratização ocorrido ao final da II Guerra Mundial e um 
rápido retorno às raízes autoritárias assim que ficaram evidentes os sinais de 
que o mundo experimentava um retrocesso democrático. Dessa forma, 
devemos considerar que o fechamento político ocorrido no Brasil, durante o 
governo Dutra, possui tanto raízes exógenas quanto endógenas. 
Em 1948, na conferência de Bogotá, com a criação da OEA, foram 
consolidadas as estratégias de defesa hemisférica. A organização serviu para 
aumentar o domínio dos EUA sobre os países do continente e, ao mesmo 
tempo, fortalecer a sua hegemonia no chamado Hemisfério Ocidental8. De 
fato, as relações entre os EUA e as outras nações do continente foram 
bastante intensas durante a Guerra. Os EUA aplicaram cerca de 450 milhões 
de dólares na região, na forma de lend lease. Desse montante, pouco mais de 
três quartos foram destinados ao Brasil, o parceiro mais próximo e que teve 
maior envolvimento no conflito mundial9. Assim, como a URSS controlava o 
Leste Europeu, os EUA pretendiam controlar o continente americano. No 
entanto, o governo dos EUA pensava o continente como uma espécie de 
reserva a ser mantida sob estreito controle, mas ao mesmo tempo a 
negligenciava. Após a Guerra, o centro das atenções da política norte-
americana foi a Europa. A insistência dos governantes latino-americanos para 
a criação de um Plano Marshall para o continente foi ignorada. Durante a 
realização da Conferência de Bogotá foram anunciados investimentos de 500 
milhões de dólares, principalmente para financiar as atividades de importação e 
 
8 ARMS, Thomas. Encyclopedia of The Cold War, op. cit., p. 446-447. 
9 DAVIS, Sonny. A Brotherhood of Arms. Brazil-United States Military Relations, 1945-1977. Niwot: 
1996, p. 14-15. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 45 
exportação10. Isso estava muito aquém das demandas regionais11. O pacto foi 
firmado proibindo expressamente, na cláusula número 15, a intervenção de 
qualquer nação nas questões internas ou externas de outra nação. Essa 
cláusula, que indicava o receio de ações unilaterais norte-americanas, sofreu 
objeção por parte dos EUA, mas acabou sendo aprovada12. Os receios de uma 
possível intervenção norte-americana na região já haviam sido expressos na 
Conferência de Chapultepec, em 194513. Na prática, foram desenvolvidos 
artifícios e meios para justificar ações que afrontavam o texto do tratado, 
como se deu nos casos do golpe militar na Guatemala, em 1954, e na invasão 
da Baía dos Porcos em Cuba, em 1961. Além disso, nas décadas seguintes 
ocorreram dezenas de operações secretas que desrespeitaram a soberania de 
nações latino-americanas. 
O Brasil no contexto interamericano ao final da II Grande Guerra 
Ao final da II Guerra Mundial, Vargas procurou adequar-se à nova 
conjuntura mundial, marcada pela pressão das grandes potências ocidentais 
para a democratização dos regimes ditatoriais então vigentes. Obviamente, isso 
deve ser relativizado: onde o processo de democratização colocava em risco os 
interesses estratégicos da nova potência hegemônica, a ordem antiga foi 
mantida. Durante a guerra, após a fase inicial de uma política externa que 
buscava um ponto de equilíbrio e explorava as rivalidades entre os EUA e a 
Alemanha, observando-se inclusive uma forte simpatia pelas forças do Eixo, 
por parte de membros do primeiro escalão do governo Vargas, incluindo o 
General Góes Monteiro e o ministro da guerra, Eurico Gaspar Dutra,14 o 
Brasil acabou integrando as forças aliadas e, certamente, foi o seu maior 
parceiro na América Latina. 
Em 1941, Vargas autorizou a construção, em Natal, da estratégica 
base norte-americana, que deveria funcionar como um ponto de apoio para as 
operações no Norte da África. O país tornou-se também um importante 
fornecedor de matérias-primas e outros produtos vitais para a guerra. Além 
disso, enviou, em 1944, 25 mil homens para combater na Europa. A vitória 
aliada e a redemocratização do Velho Continente estimularam a oposição 
 
10 As cifras oficiais indicam o aporte de 13,3 bilhões de dólares na Europa através do Plano 
Marshall. Há divergências quanto ao montante realmente empregado, sendo que alguns 
autores chegam a mencionar 17 bilhões de dólares. 
11 NOTAS e informações. OESP, 04/04/1948, p.3; 
12 LaFEBER, Walter. The American Age, op. Cit, 487-491. 
13 GREEN, David. The Containment of Latin America. A History of the Miths and realities of the Good 
Neighbor Policy. Chicago: Quadrangle books, 1971, p. 187. 
14 DAVIS, Sonny. The Brotherhood of Arms, op. Cit, p.7-9. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
46 Munhoz 
varguista a intensificar as suas ações exigindo o fim do regime ditatorial. Nesse 
contexto, o movimento pela liberalização do regime, que vinha num crescente 
de mobilizações desde 1943, encontrou amplo espaço para a ação política. 
Dessa forma, houve uma somatória de pressões externas e internas para a 
democratização do país. 
Vargas, considerando que o mundo do pós-guerra deveria se 
conformar ao modelo norte-americano, iniciou um processo de abertura em 
que ampliava a sua base de sustentação social agregando forças políticas de 
diversos matizes. O ditador brasileiro esperava que o país pudesse ocupar um 
papel de maior destaque no cenário político internacional do pós-guerra, mas 
sabia que para isso deveria se adequar à nova situação internacional. Além 
disso, o Brasil necessitava de capitais externos para dar continuidade ao seu 
processo de industrialização e, novamente,seria conveniente ao governo 
brasileiro demonstrar que os ventos democráticos também sopravam por aqui. 
Assim, já em setembro de 1944, Vargas prometeu a realização de eleições após 
o término da guerra. No início de 1945, foi abolida a censura à imprensa e 
reduzida a repressão à oposição. Em abril, foi promulgada a anistia aos presos 
políticos, que desde então em liberdade, tiveram um importante papel no 
processo de redemocratização do país. Nesse mesmo mês, o Partido 
Comunista iniciou os trabalhos para a sua legalização, o que veio a ser 
confirmado com o seu registro em 10 de novembro. Em maio, definiu-se para 
02 de dezembro a realização de eleições para a presidência da República e para 
o Congresso. Contudo, havia suspeitas de que Vargas pudesse estar tramando 
alguma forma de continuísmo15. Nessa conjuntura, a oposição liberal pôs de 
lado as bandeiras vinculadas às reformas sociais. Vargas, aproveitando-se da 
sua popularidade e do seu carisma, apossou-se dessas bandeiras e estimulou a 
mobilização popular em torno delas. Assim, o ditador procurou manter o 
movimento popular sob o seu controle e fortalecer a sua base de sustentação 
política. 
Nessa conjuntura, emergiu o movimento queremista, que pregava a 
realização da Constituinte com Getúlio. Os queremistas afirmavam que a 
constituinte deveria preceder as eleições para evitar que o novo governante 
dispusesse dos mecanismos autoritários, desenvolvidos durante o Estado 
Novo. No entanto, a oposição via nessa postura uma estratégia de postergar as 
eleições objetivando manter a continuidade de Vargas no poder. Essa 
perspectiva era reforçada pela participação de membros do alto escalão do 
governo no movimento. Contudo, Vargas manteve uma certa distância dele. 
Os comunistas aderiram ao queremismo, que dia-a-dia se tornava um 
 
15 HILTON, Stanley. O Ditador e o embaixador. Getúlio Vargas e Adolf Berle Jr e a queda do Estado 
Novo.Rio de Janeiro: Record, 1987, principalmente p. 101-116. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 47 
movimento de massas16. Com o crescimento do movimento, os EUA 
começaram a temer a perspectiva de permanência de Vargas no poder. 
Receavam a esquerdização do regime, em decorrência de possíveis 
aproximações com os comunistas. 
Inicialmente de forma velada, a pressão dos EUA para pôr fim à 
ditadura adquiriu contornos de uma intervenção direta nos negócios do Brasil. 
O embaixador norte-americano, Adolf Berle Jr., em um almoço em sua 
homenagem, realizado no Sindicato dos Jornalistas, em 29 de setembro de 
1945, discursou defendendo a democratização do país e criticou qualquer 
alteração no processo eleitoral em andamento. A repercussão do fato 
provocou animosidades entre os dois governos e gerou protestos do 
Itamaraty. É bastante plausível supor que a atitude de Berle não representasse 
apenas a sua posição pessoal e que o Departamento de Estado possuísse 
conhecimento da sua estratégia. Além disso, posteriormente, Berle vangloriou-
se do feito, considerando-o fundamental no processo de redemocratização do 
Brasil. O embaixador ainda se auto-atribuiu os louros de haver evitado uma 
sangrenta guerra civil no país17. 
Ao final da guerra, houve a crença entre as lideranças governamentais 
brasileiras de que, em decorrência do papel desempenhado pelo país durante o 
conflito mundial, receberia um tratamento preferencial por parte dos EUA. A 
partir de 1943, observa-se a execução de uma política de facilitação da 
penetração norte-americana, culminando em um processo de americanização 
do país. Como é possível observar, posteriormente essa expectativa revelou-se 
incorreta e o país não recebeu qualquer tratamento de parceiro preferencial. 
Foi possível constatar que quanto mais o país cedia aos desígnios do grande 
aliado, aparentemente mais respeito perdia. Assim, quando os EUA 
perceberam uma ação de aliado quase incondicional, do Brasil, passaram a 
ceder muito menos às reivindicações do país18. 
No Brasil observa-se, já nos primeiros meses do governo Dutra, um 
retrocesso democrático, com a intensificação da repressão aos movimentos 
sociais e às organizações políticas de esquerda. Esse processo deve ser lido à 
luz da evolução das lutas sociais, retomadas com amplo vigor em 1945 e 
 
16 Ocorreram divergências no interior do PCB sobre o apoio a Vargas. Houve inclusive 
insinuações de que Prestes haveria negociado a sua libertação, oferecendo apoio ao Ditador. 
Posteriormente, em discurso após a sua libertação, Prestes afirmou que a saída de Vargas 
poderia levar o país à Guerra Civil e que o caos daria novas esperanças aos fascistas e 
reacionários. Chilcote, Ronald H. Partido comunista Brasileiro. Conflito e integração. 1922-1972. 
Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 95. 
17 HILTON, Stanley. O Ditador e o embaixador... op cit p. 118-120. 
18 McCANN, Frank D. Brazil, the United States, and the World War II: a Commentary. Diplomatic 
History,v3,n.1 (Winter 1979) p. 59-76. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
48 Munhoz 
continuadas nos anos seguintes, e do contexto internacional, em que havia a 
exacerbação dos conflitos entre as potências capitalistas ocidentais e a URSS. 
Assim, deve se observar que o país experimentou durante o primeiro semestre 
de 1946 mais de 70 greves de médio ou grande porte, envolvendo mais de 100 
mil trabalhadores de algumas das principais categorias, como bancários, 
metalúrgicos, têxteis, eletricitários e portuários.19 Além disso, os movimentos 
populares, estimulados pela alta inflacionária e pela carestia, eclodiram nos 
principais centros urbanos do país, protestando contra a carestia, reivindicando 
melhores salários e a solução dos graves problemas habitacionais. 
Dutra era um anticomunista histórico e um dos expoentes da linha 
germanófila do exército, mas rapidamente adaptou-se à situação quando o 
Brasil aderiu às forças aliadas20. No processo de abertura, iniciado ao final do 
governo ditatorial de Vargas, Dutra se opôs à concessão da anistia política e à 
legalização do Partido Comunista21. No entanto, nota-se uma rápida mudança 
de posição em meados de 1945. Respondendo a uma carta de Átila Soares, 
datada de 13 de abril, em que o missivista relata os contatos que efetuara com 
Prestes,22 Dutra respondeu que era favorável à organização legal do PCB. 
Afirmou ainda que o partido deveria se organizar e possuir vida própria como 
qualquer outra agremiação política. Contudo, no seu governo, aos primeiros 
sinais de uma ação coordenada pelos EUA objetivando conter qualquer 
influência soviética fora de sua área de influência, Dutra retornou à sua 
posição original. 
Assim, reprimiu duramente o PCB e os movimentos sindicais e 
populares. Logo no início de seu governo, em dois de março de 1946, 
conseguiu que a Assembléia Nacional Constituinte aprovasse a manutenção do 
 
19 BETHELL, L. & HOXBOROUGH, I. Latin America between The Second World War and The 
Cold War.1944-1948, p. 56-57. 
20 Foi inclusive condecorado pelo governo alemão em 1939, quando o exército brasileiro 
adquiriu significativa quantidade de armamentos daquele país. Veja DENNIS, Frank L. 
Dutra´s Visit here a Symbol of Mutual Linking and Respect Washington Post, Washington, 
May, 15, 1949, p. 2B. Fundação Getúlio Vargas (FGV)–CPDOC ED. Vp. 1949.05.06.Em 
1943, Dutra foi um dos acusadores (senão o principal) do General Rabelo, Presidente da 
Sociedade dos Amigos da América, de comunista. Em agosto do ano seguinte, na 
continuidade dessas provocações, houve o incidente da invasão da sede da Sociedade e na 
seqüência do automóvel Clube, onde havia uma reunião festiva da entidade, com a presença 
do ministro Osvaldo Aranha, que era o seu vice-presidente.O incidente levou Osvaldo 
Aranha a pedir a sua exoneração do Ministério das Relações Exteriores. 
21 Exposição de motivos no. 693, Ao senhor Presidente da República. 22/06/1944. FGV-
CPDOC ED Vp. 1944.04.28. Nessa pasta existem diversos outros documentos que indicam 
a posição anti-comunista de Dutra. 
22 FGV-CPDOC ED vp 1944.04.28 Carta de Átila Soares a Eurico Gaspar Dutra, datada de 
24/04/1945. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 49 
texto constitucional de 1937 até a promulgação da nova carta. Com os poderes 
ditatoriais da constituição estadonovista, em 15 de março, através do Decreto-
Lei número 9.070, regulou o direito de greve de forma draconiana, o que 
significou a proibição quase total dos movimentos grevistas. Em maio do 
mesmo ano, o governo expulsou do funcionalismo público os comunistas 
assim identificados23.
Em 15 de abril de 1947, a Juventude Comunista teve as suas atividades 
suspensas por seis meses24. No dia 07 de maio, o PCB, que havia obtido 
expressiva votação nas eleições de 1945 e 1947, conquistando ao redor de 10% 
dos votos para presidente, elegendo um senador e fazendo expressivas 
bancadas nas assembléias legislativas, na Câmara dos Deputados, e nas 
câmaras municipais das principais cidades do país, foi posto na ilegalidade. O 
partido havia também atingido 200 mil filiados, tornando-se o maior partido 
comunista da América Latina25. No mesmo dia, a Confederação dos 
Trabalhadores do Brasil (CTB), as Uniões Sindicais e outras organizações 
similares foram suspensas por seis meses26. Além disso, o decreto destituiu as 
direções e instituiu juntas governativas indicadas pelo Ministério do Trabalho 
nos sindicatos que contribuíram financeiramente ou se filiaram às entidades 
mencionadas27. O decreto foi assinado pelo presidente imediatamente após o 
TSE cassar o registro do PCB. Somente nesse dia, 14 sindicatos sofreram 
intervenção governamental, e ao final do período somavam-se 143 
intervenções, representando 15,15% de todas as entidades sindicais 
reconhecidas pelo governo28. 
Inicialmente, o PCB procurou evitar o enfrentamento, na esperança 
de reverter, no Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão que colocava o 
partido na ilegalidade. Assim, ainda no calor da hora, Prestes enviou um 
telegrama às direções regionais do partido aconselhando a manutenção da 
calma e o acatamento da decisão, afirmando que o partido recorreria da 
 
23 CHILCOTE, R.op.cit., p.100. 
24 DECRETO Nº 22.938, DE 15 DE ABRIL DE 1947. O artigo segundo do decreto previa 
ainda que o Ministério Público tomaria as medidas para a dissolução da associação. 
25 CHILCOTE, R. op. cit, p. 102. 
26 DECRETO Nº 23.046, dE 07 DE maio DE 1947 
27 DECRETO Nº 23.046, de 07 DE maio DE 1947; GAWRYSZEWSKI, Alberto. Panela 
Vazia: o cotidiano carioca e o fornecimento de gêneros alimentícios – 1945/50. Relatório de 
pesquisa apresentado ao Departamento de História da Universidade de Londrina p. 32; 
(foram consultados os originais cedidos pelo autor); BANDEIRA, Moniz. A presença dos 
Estados Unidos no Brasil (dois séculos de história) Rio de Janeiro: civilização Brasileira, 
1978, p. 311-312. CHILCOTE, R. op. cit, p. 101. 
28 O FUNCIONAMENTO da Confederação dos Trabalhadores do Brasil.OESP, 08/05/1947, 
p.5; CHILCOTE, R. op. Cit, p.100-101. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
50 Munhoz 
decisão ao STF29. No entanto, com o agravamento da repressão, o partido 
radicalizou a sua postura, publicando um manifesto em que exigia a renúncia 
do presidente Dutra. O Correio da Manhã, que havia se postado como um dos 
poucos órgãos da chamada grande imprensa a defender a legalidade do PCB, 
criticou duramente tal atitude30. 
Em julho de 1947, pouco após tornar o PCB ilegal, o governo enviou 
à Câmara Federal um projeto de lei que restringia as liberdades públicas, 
censurava a imprensa e atacava a estabilidade do funcionalismo e dos 
trabalhadores do setor privado. O autoritarismo do projeto original era tão 
acentuado que foi noticiado pelo conservador “O Estado de S. Paulo” como 
“Golpe na constituição”. O jornal ainda atacou o projeto de lei caracterizando-
o como fascista 31. Os Jornais sob influência ou ligados ao PCB foram 
duramente reprimidos, havendo o fechamento de alguns deles, como por 
exemplo o Voz do Povo (Maceió), Jornal do Povo (João Pessoa), já em maio 
de 194732. Mesmo atividades multipartidárias, como as ocorridas em 22 de 
agosto de 1947, em comemoração à entrada do Brasil na guerra, foram 
dissolvidas pela polícia. Nesse caso, as tropas chegaram a disparar contra a 
multidão33. Em setembro, foram reprimidas as manifestações em que 
comunistas discursavam34. Ao retratar esse período, alguns autores referem-se 
a uma cruzada anticomunista no país35. 
No dia 21 de outubro de 1947, a sede da “Tribuna Popular” foi 
depredada. Em discurso na Assembléia Legislativa de São Paulo, o Deputado 
Caio Prado Jr. protestou contra a atitude da polícia, que, avisada do ocorrido, 
apesar de ter a sua sede central a poucos metros do local, nada fez para evitar 
o empastelamento do jornal e a danificação das instalações36. Ainda, segundo o 
deputado, populares que tentaram conter os desordeiros foram espancados 
 
29 O MOMENTO POLÍTICO. Um telegrama do senador Luis Carlos Prestes aos organismos 
do P.C.B. OESP, 08/05/1947, p.5. 
30 ESTÁ errado. Correio da Manhã, 22/05/1947, p4. Veja também artigo publicado por Carlos 
Dávila. Insensatez. Correio da Manhã, 27/05/1947. 
31 GOLPE na Constituição. OESP, 23/07/1947, p. 5. Veja também A NOVA lei de segurança. 
OESP, 24/07/1947, P. 05. 
32 SUSPENSÃO de Jornais. O Estado de S.Paulo, 15/05/1947, p. 3.. 
33 DISSOLVIDO violentamente um comício no Rio. OESP. 23/08/1947, p.2. 
34 NOTAS e informações, OESP, 23/09/1947, p.3. 
35 DAVIS, Sonny. A Brotherhood of Arms: Brazil-United States Military Relations, 1947-1977. Niwox: 
University Press of Colorado, 1996, p. 55. 
36 Os jornais noticiaram diversos casos em que a polícia nada fez para impedir o 
empastelamento e a destruição de instalações de jornais ou mesmo facilitou a ação desses 
grupos que aparentemente tinham as suas raízes no próprio aparelho repressor. Veja, por 
exemplo, A covardia não constrói. OESP, 26/10/1947, p. 3. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 51 
por investigadores da polícia37. Em decorrência do ocorrido, os comunistas 
organizaram uma milícia de proteção à sede da Tribuna. No início de 
dezembro, a polícia invadiu a sede e prendeu mais de uma dezena de ativistas, 
acusados de portarem armas e de organizarem uma “guarda de choque”38. Na 
seqüência, o Jornal foi proibido de circular. Os editores colocaram em 
circulação outro jornal, o “Imprensa Popular”, que também teve as suas 
edições de 30 e 31 de dezembro de 1947 e de 1o de janeiro de 1948 
apreendidas. No dia 08 do mesmo mês, imediatamente após serem cassados os 
mandatos dos parlamentares comunistas, o Ministro da Justiça assinou uma 
portaria suspendendo o jornal. Quando a polícia foi cumprir a ordem, ocorreu 
um confronto com os trabalhadores da oficina do jornal. Houve diversos 
feridos e foram presas 25 pessoas. O fato repercutiu na Câmara Federal, onde 
uma moção repudiando a repressão policial foi assinada por Afonso Arinos, 
Hermes Lima, Jaci Figueiredo, Monteiro de Castro, Café Filho, Gurgel do 
Amaral, Nelson Carneiro e outros parlamentares39. 
No dia 31 de janeiro, a edição do “Hoje” (São Paulo) foi apreendida, 
dessa vez sob a acusação de “haver adotado uma linguagem ofensiva às 
autoridades constituídas e incitar a sublevação da ordem social”. Para o “O 
Estado de S. Paulo”, a ação do Departamento de Ordem Política e Social mais 
uma vez atentou contra a liberdade deimprensa. A edição do “Hoje” foi 
apreendida por haver noticiado a ação perpetrada pela polícia contra essa 
gráfica para confiscar o folheto denominado “Zé Brasil”, de autoria de 
Monteiro Lobato, sob o título de “Assalto policial aos escritórios da 
Atualidades Ltda.”40 
No dia 03 de fevereiro, pela madrugada, novamente a sede do “Hoje” 
foi invadida. O delegado de polícia afirmou que houve resistência. Cerca de 
trinta pessoas foram detidas41. No dia 15, o Ministro da Justiça suspendeu o 
jornal “Tribuna Popular”, por um prazo de seis meses42. Em 27 do mesmo 
mês, o jornal Hoje foi novamente suspenso, dessa vez por seis meses. A 
penalidade foi aplicada com base no artigo 4o. do Decreto-lei 431, de 1938, 
referente aos crimes contra a segurança nacional43. No dia 06 de março, o 
 
37 EMPASTELAMENTO da Tribuna Popular. OESP, 23/10/1947. 
38 DILIGÊNCIAS nas oficinas da “Tribuna Popular”.OESP, 02/12/1947, p. 20. 
39 SUSPENSO a Imprensa Popular. OESP, 09/01/1948, p. 3. 
40 ATENTADO à liberdade de imprensa. OESP, 01/02/1948. 
41 ATACADA pela polícia a folha comunista “Hoje”. OESP, 04/02/1948. 
42 SUSPENSA a “Tribuna Popular”. OESP, 17/02/1948, p. 3. 
43 OESP. 28/02/1948, p.3. O jornal mencionou também a prisão de membros do jornal e o voto 
do desembargador Azevedo Marques em um pedido de hábeas corpus impetrado em favor dos 
presos, afirmando que a referida lei colidia frontalmente com a constituição em vigor. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
52 Munhoz 
“Tribuna Popular” foi novamente suspenso por quinze dias, acusado de “fazer 
propaganda de guerra”44. Em 03 de março, o jornal “Notícias de Hoje” 
(sucessor do Hoje), foi suspenso por quinze dias. As edições do jornal vinham 
sendo há dias apreendidas por policiais, que mantinham um intenso cerco às 
oficinas do órgão de imprensa45. No dia 04, a edição do “O Popular”, lançado 
em substituição ao “Notícias de Hoje”, foi apreendida. Além disso, o Jornal 
“O Trabalho”, que circulava na cidade de Sorocaba e era impresso na mesma 
gráfica, também foi proibido de circular46. Novamente, o “O Estado de S. 
Paulo” efetuou criticas contundentes ao Ministério da Justiça e à polícia pelo 
desrespeito à lei e pelas atrocidades cometidas. Verifica-se pelos dados acima 
apresentados a violação da liberdade de informação e o emprego abusivo da 
força para garantir a aplicação de medidas arbitrárias de legalidade, no mínimo, 
duvidosa. Osório Borba, em artigo publicado no “O Estado de S. Paulo”, 
afirmou 
(...) O que a polícia fez foi atacar a tiros as oficinas, arrombar as 
portas do prédio e, depois de dominar a desesperada resistência dos 
atacados e de prendê-los, espancá-los brutalmente, arrastá-los pela 
rua, não como seres humanos, mas como um bando de animais 
batidos às mãos de donos perversos (...)47. 
A imprensa noticiou dezenas de casos de arbitrariedades, maus-tratos 
e torturas a militantes detidos. O “O Estado de S. Paulo”, por exemplo, 
noticiou, em 24 de fevereiro de 1948, a prisão do ex-deputado comunista 
Gervásio Gomes de Azevedo. O ex-deputado, segundo o jornal, foi 
brutalmente espancado, deixado sem alimentação e submetido inclusive a 
torturas morais. O laudo dos legistas indica que o prisioneiro possuía diversas 
marcas de espancamento pelo corpo48. No mesmo dia, o jornal noticiou 
também a prisão arbitrária de Holda Malanconi, membro da Comissão 
Estadual do Partido Socialista Brasileiro. A notícia destacou ainda que a 
militante da organização partidária legalmente registrada vinha sendo seguida 
há dias pela polícia49. 
A repressão durante o governo Dutra atingiu os mais diversos setores 
 
44 A SUSPENSÃO do jornal “Hoje”. OESP, 07/02/1948,p. 3. 
45 SUSPENSO o Jornal Notícias de Hoje. O Estado de S.Paulo, 04/03/1948, p.3. 
46 NOVO jornal impedido de circular. OESP, 05/03/1948, p. 3. 
47 BORBA, Osório. O Crime na calada da noite. OESP, 05/02/1948, p. 3. 
48 AS SEVÍCIAS sofridas por um ex-deputado comunista. O Estado de S.Paulo. 24/02/1948, 
p.3. 
49 PEDIDO de “Habeas Corpus” em favor de um membro do Partido Socialista. O Estado de 
S.Paulo. 24/02/1948, p.3. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 53 
sociais. Para Gawryszewski, Dutra haveria dado continuidade a uma estratégia 
de ação desenvolvida durante o Estado Novo, objetivando o controle de 
manifestações culturais, como, por exemplo, o carnaval. Em 1949, foi criada a 
União Geral das Escolas de Samba do Brasil, comandada por um major do 
Exército. Ainda segundo esse autor, foi exercida a censura prévia às músicas 
transmitidas pelo sistema de radiodifusão, através do Serviço de Censura de 
Diversões Públicas50. 
Apesar de toda a repressão, os comunistas não se deram por vencidos. 
Militantes do partido, com a adesão de outras forças políticas, criaram, em 
1949, o Partido Popular Progressista (PPP)51. Contudo o pedido de registro do 
novo partido foi negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, baseado na 
interpretação de que o partido se constituía de fato em uma organização 
comunista52. Nessa época, nas hostes governistas chegou-se a vislumbrar um 
projeto para cancelar os títulos eleitorais dos cidadãos filiados ao extinto 
PCB53. 
O processo repressivo ocorrido no Brasil não foi um caso isolado. Na 
América latina, da mesma forma que, entre aproximadamente 1944 e 1946, os 
EUA apoiaram e estimularam a democratização, após esse período deram 
suporte para a conquista do poder para diversos grupos antidemocráticos. Os 
EUA almejavam a eliminação da influência e onde possível colocar na 
ilegalidade os partidos comunistas, o controle do Estado sobre o movimento 
operário e a exclusão da União Soviética de qualquer influência no 
hemisfério54. O Partido Comunista foi colocado na ilegalidade no Brasil, em 07 
de maio de 1947, no Chile, em abril e na Costa Rica, em julho de 1948. Os 
mandatos de parlamentares comunistas foram cassados no Chile, em 1947, e 
no Brasil em janeiro de 1948. Nesse ano, totalizaram oito os países que haviam 
posto os comunistas na ilegalidade. Por volta de 1956, em 14 dos vinte países 
da região, os comunistas haviam sido excluídos do processo eleitoral, afastados 
do serviço público e a sua imprensa e propaganda ou haviam sido restringidas 
 
50 GAWRYSZEWSKI, A. Panela vazia op. Cit, p. 33. 
51 Em 1947, já havia sido negada a autorização do registro do Partido Constitucionalista 
Brasileiro, também um sucessor do PCB.CHILCOTE, op. Cit, p.100, n.26. 
52 The Foreign Service of United States of America. American Embassy. Rio de Janeiro, July 6, 
1949 to Department of State. 832.00/7-649 – NARA. 1492, roll 13, fot. 0187. 
53 AINDA sobre a notícia da cassação dos títulos de eleitores comunistas. Correio paulistano, 
09/11/1948,CASSAÇÃO dos títulos dos eleitores comunistas. Seria levantado o cadastro 
eleitoral e far-se-ia o confronto com o fichário do extinto P.C.B., em poder da polícia. 
Correio Paulistano, 01/11/1948. FGV-CPDOC Arquivo Getúlio Vargas (A..G.V.) . rolo 
10, fotograma 187. quadrantes 3 e 4. 
54 SMITH, Peter H. Talons of Eagle. Dynamics of U.S. Latin American Relations. New York: Oxford 
University Press, 1996, p. 131. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
54 Munhoz 
ou postas na ilegalidade55. Além disso, os EUA procuraram influenciar o 
movimento operário latino-americano através de membros do corpo 
diplomático e principalmente através da American Federation of Labor56. 
O Brasil e o Chile romperam relações diplomáticas com a União 
Soviética em 1947, a Colômbia fez o mesmo em 1948, Venezuela e Cuba em 
1952 e Guatemala, em 1954, após o golpe militar organizado pelos EUA57. A 
ruptura das relações, por parte do Brasil, com a URSS, foi justificadacomo 
decorrente de acusações efetuadas pela imprensa soviética ao presidente 
Dutra. Contudo, a análise dos documentos indica um processo mais 
conturbado.58 Desde a abertura de relações diplomáticas entre os dois países, 
houve tensões no relacionamento. Os diplomatas brasileiros reclamavam da 
precariedade das instalações, da ausência de uma reciprocidade em relação ao 
tratamento que os soviéticos recebiam no Rio de Janeiro e da constante 
vigilância a que a embaixada estava submetida. Além disso, ocorreu um 
incidente quando o segundo secretário da embaixada, Soares de Pinna, foi 
detido no hotel onde funcionava provisoriamente a representação brasileira, 
acusado de embriaguez e arruaça, na noite de 26 de dezembro de 1946. A 
embaixada brasileira protestou, pois o diplomata chegou a ser amarrado pelas 
autoridades soviéticas. Não bastasse isso, os soviéticos exigiram que o Brasil 
pagasse os danos materiais supostamente provocados por Pina. Por seu lado, a 
embaixada brasileira afirmava que a confusão haveria sido planejada por 
agentes da polícia soviética, que o hotel funcionava como uma espécie de 
repartição da KGB e que foi utilizada violência contra o secretário. Os 
soviéticos exigiram a imediata saída de Soares de Pinna do país59. 
Esses fatos aumentaram a animosidade já existente entre os países, 
uma vez que a imprensa deu farta cobertura ao caso. Posteriormente, o 
 
55 SMITH, P. op. cit., p. 132. 
56 Essa assertiva é corroborada por um documento encaminhado pela embaixada brasileira, em 
Moscou, endereçado ao Ministro Interino das Relações Exteriores AHI, 35/4/14. 
Embaixada do Brasil. Moscou, 02/09/1946. 
57 SMITH, Peter H.op. cit, p. 131-139. 
58 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Departamento Político e Cultural. 
Divisão política. Documentos – Ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e a URSS. Rio de 
Janeiro: Imprensa nacional, 1947. Veja também outros documentos diplomáticos contidos 
nas correspondências enviadas pela embaixada brasileira em Moscou para o Itamaraty. AHI, 
Pastas 34/4/14 a 34/4/17. 
59 AHI-. 35-4-16. EMBAIXADA DO BRASIL. Moscou. DP/DP./3. Arquivo correspondência 
especial. Telegrama-embaixada. 04 a 06/01/1947. Confidencial. Secretário Soares de Pinna 
(sete telegramas); Dco/Dpo/12. Arquivo da correspondência especial. Telegrama- 
Embaixada. 24/01/1947. Confidencial. Violação de correspondência. Somente nessa 
pasta,há dezenas de documentos sobre o caso Soares Pinna e quatro sobre violação de 
correspondências. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 55 
fechamento do PCB e a repressão aos comunistas no Brasil contribuíram para 
piorar as relações. Contudo, deve-se observar que o pragmatismo adotado pela 
União Soviética nas relações com outros países, incluindo os EUA e a Grã 
Bretanha, não corrobora a tese de vincular a repressão ao comunismo no 
Brasil e as relações entre os dois países. Outro fator a ser considerado foi a 
posição soviética contrária à incorporação do Brasil no Conselho de Segurança 
da ONU. Creditar a ruptura de relações aos ataques da imprensa soviética ao 
presidente do Brasil é ater-se à aparência do fenômeno. Deve-se considerar 
que, se é verdade, e é, que a imprensa soviética se referiu ao presidente do 
Brasil de forma grosseira, também é fato que muitas autoridades brasileiras se 
referiam ao governo soviético em termos similares. Isto posto, pode-se 
concluir que a ruptura de relações com a União Soviética, por parte do 
governo brasileiro, está vinculada aos embates ocorridos no contexto da 
Guerra Fria60. 
Pelo exposto, é possível verificar a relação entre a repressão política 
ocorrida no Brasil, durante o período estudado, e as estratégias vinculadas à 
Guerra Fria desenvolvidas pelos EUA e seus aliados. Contudo, deve-se 
observar que o alinhamento brasileiro e de outros países latino-americanos 
nem sempre se dava de maneira incondicional, pois, se de um lado, os EUA 
impunham a sua política externa ao Hemisfério Ocidental, as nações 
subalternas, muitas vezes, procuravam explorar a rivalidade entre Washington 
e Moscou, objetivando atender a certos interesses regionais ou nacionais. 
Um exemplo ilustrativo do exposto foi o posicionamento dos países 
latino-americanos na IV Conferência dos Ministros das Relações Exteriores 
dos Estados Americanos, ocorrida em Washington, em março de 1951. O 
objetivo do encontro, solicitado pelo governo dos EUA, era definir apoios 
concretos para a ação norte-americana na Guerra da Coréia. Na reunião, foram 
aprovados documentos que confirmavam o alinhamento dessas nações aos 
EUA, contudo ficou evidente o caráter meramente formal dessas medidas. Os 
EUA viram frustrados os seus propósitos, uma vez que esperavam um apoio 
mais concreto, como, por exemplo, o envio de tropas para a região do 
conflito61. Em discurso, representando os seus colegas latino-americanos, o 
ministro brasileiro, Neves da Fontoura, afirmou o desejo de cooperação com 
os EUA na elaboração de um plano de emergência para a defesa do 
hemisfério, mas ao mesmo tempo realçou a expectativa de um plano de apoio 
 
60 No momento, estou levantando todos os documentos sobre o assunto, à época classificados 
como secretos, para através de uma análise mais meticulosa verificar até onde a decisão de 
romper relações foi endógena ou se houve influência da diplomacia norte-americana no caso. 
61 Apesar da continuidade de intensas negociações, nos meses seguintes, somente a Colômbia 
respondeu positivamente. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
56 Munhoz 
ao desenvolvimento econômico da região, após a guerra. Destacou que após o 
fim da II Guerra Mundial, as economias latino-americanas, que haviam sido 
redirecionadas para alimentar os esforços de guerra, se viram em profunda 
crise, sem que recebessem a atenção devida, uma vez que os EUA 
concentravam os seus esforços na reconstrução da Europa62. No entanto, 
Neves da Fontoura, nos meses que se seguiram, foi um árduo defensor do 
envio de tropas à Coréia. Ele e o general Góes Monteiro buscaram chegar a 
uma negociação com os EUA. Contudo, não se chegou a um ponto que 
atendesse às posições hegemônicas no governo e o acordo nunca foi 
firmado63. As divergências internas e a relutância dos EUA em aceitar os 
termos brasileiros criaram dificuldades nessas negociações e levaram o Brasil a 
não enviar as tropas. Porém, isso não impediu que em 1952 fosse firmado o 
acordo de cooperação militar entre os dois países, sancionado pelo Congresso 
em março do ano seguinte64. 
A posição de não enviar tropas para a Coréia não era unanimidade 
nem no governo nem nas forças armadas. As divergências em relação a esse 
assunto ecoavam no Clube Militar. A direção do clube, empossada em junho 
de 1950, tendo Estillac Leal como presidente, possuía uma orientação 
nacionalista. Posteriormente, Estillac afastou-se da diretoria para assumir o 
Ministério da Guerra. A publicação na Revista do Clube Militar de artigos 
contra a participação do Brasil nessa guerra e em defesa do monopólio do 
petróleo acirrou os debates sobre o tema na corporação. Além disso, os 
nacionalistas começavam a perder força tanto no exército quanto no primeiro 
escalão do governo. 
A negociação do Acordo Militar Brasil-EUA pelo Ministro das 
Relações Exteriores, sem que o Ministro da Guerra fosse ouvido, não deixou 
muita escolha a Estillac Leal. Em paralelo, ele foi pressionado com a renúncia 
do General Euclides Zenóbio da Costa, comandante da Primeira Região 
Militar (Rio de Janeiro), alegando que não continuaria no posto, tolerando a 
infiltração comunista de que o exército era alvo65. A grande imprensa noticiou 
 
62 AHI- Pasta 75/5/16. MinistroJoão Neves da Fontoura. Abertura da IV Conferência de Ministros 
das Relações Exteriores dos Estados Americanos. Veja também na mesma pasta, a declaração do 
representante do Brasil na Comissão econômica da IV Conferência de Ministros das Relações 
Exteriores dos Estados Americanos, Dr. Clementino de Santiago Dantas, em 03/04/1951 
63 É possível encontrar no acervo do Presidente Vargas, no CPDOC, um rascunho de uma carta, 
comprometendo a enviar tropas para a Coréia. Contudo, há uma anotação feita a punho 
(aparentemente do próprio Getúlio), onde é possível ler: “a nota é inútil proposta. Embaixador 
não deixe nenhum documento escrito”. FGV-CPDOC A.G.V. rolo 12 fot. 752-53. 
64 Para uma análise detalhada do tema veja Davis, Sonny, op. cit, principalmente o capítulo 7 – the 
Milkitary Accord and the Post-Korea Relations. 
65 BREWER, Sam Pope. Brazil’s Military In Split Over Reds Noted Anti-Communist General 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 57 
esses episódios de forma sensacionalista, contribuindo para o desgaste do 
ministro. Essas pressões criaram uma situação de gravidade que levou Estillac 
Leal a renunciar66. O embate continuou no processo eleitoral para a sucessão 
na direção do Clube Militar, quando setores conservadores acusavam militares 
nacionalistas de serem comunistas ou acobertarem a ação dos comunistas67. 
Com a saída do ministério, Estillac candidatou-se à reeleição; no entanto foi 
derrotado pela chapa de oposição, liderada por Alcides Etchegoyen, contando 
com o apoio de Góes Monteiro e Eduardo Gomes.68 
Para Nelson Werneck Sodré, os simpatizantes da chapa de Estillac 
Leal foram perseguidos com transferências, prisões e torturas. O autor 
relaciona dezenas de casos, muitos incluindo militares que estavam em 
campanha ou trabalhando no serviço de coleta dos votos69. As tensões no 
interior das Forças Armadas tiveram continuidade durante os anos de 1953 e 
1954, culminando no “Manifesto dos Coronéis” em fevereiro de 195470. 
As pressões anticomunistas não deixaram incólume o Ministério das 
Relações Exteriores. Em março de 1953, Getúlio Vargas colocou em 
disponibilidade não remunerada diplomatas acusados de ligações ou simpatias 
para com o Partido Comunista. Os atingidos foram Cotrim Rodrigues Pereira, 
ex-cônsul em New Orleans e removido de lá a pedido do governo de 
Washington (à época era cônsul em Hamburgo), Mauri Banhos Porto de 
Oliveira, chargé d’affaires em El Salvador; Antonio Houaiss, ex- chargé d’affaires 
em Atenas; Jatyr de Almeida Rodrigues, cônsul em Liverpool e João Cabral de 
Melo Neto, cônsul em Londres. Além deles, foi afastada a criptógrafa do 
 
Resigns as Party’s Influence Becomes Explosive Issue. By. The New York Times. 20/03/1952 . 
AHI- PASTA 50-1-2 - 312/500.1. Veja também, Brazil. Time Magazine.21/07/52.AHI - PASTA 
50-1-8 - 793/500.1. 
66 Red Infiltration Disturbing Brazil. The New York Times. 25/02/1952. AHI 49-5-14 . 
238/500.1 
67 Juarez Távora, Zenóbio da Costa e Cordeiro de Farias alertaram para a indisciplina e para a 
divisão no interior das Forças Armadas. Denunciaram a presença de civis comunistas nas 
reuniões do Clube Militar e chegaram a pensar na possibilidade de intervenção na entidade, 
caso a chapa de oposição fosse derrotada. Veja D’ARAUJO, Maria Celina. O Segundo 
governo Vargas.1951-1954: democracia, partidos e crise política. Rio de Janeiro:Zahar, 1982, 
p. 156. 
68 Sodré, Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 
(Coleção Retratos do Brasil, v.40, p. 304-355. 
69 SODRÉ, Nelson Werneck op. cit, principalmente p. 326-345. Sodré era então membro da 
diretoria do Clube Militar. 
70 Manifesto da jovem oficialidade do Exército denunciando a crise de autoridade, infiltração 
comunista, o desaparelhamento e as condições salariais. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de 
Getúlio a Castelo (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, 6a. ed. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
58 Munhoz 
Ministério das Relações Exteriores Dahlia de Almeida Rodrigues.71 A acusação 
foi efetuada com base em uma carta que Paulo Cotrim Rodrigues havia escrito 
a João Cabral de Melo Neto solicitando informações sobre a economia 
brasileira para escrever um artigo a ser publicado na Europa. A carta foi 
interceptada, violada e entregue ao jornalista Carlos Lacerda. Nesse caso, o 
processo administrativo foi baseado em uma prova ilícita, obtida através da 
violação de correspondência, afrontando a Constituição Federal e outras 
medidas que caracterizavam explicitamente o abuso de poder. 
As punições foram revogadas pelo Supremo Tribunal Federal, que 
decidiu por unanimidade anular o processo administrativo, uma vez que os 
réus nem mesmo sabiam que corria um processo contra eles e tiveram dessa 
forma impedidos os direitos de defesa. Os acusados foram reintegrados aos 
seus postos. Evandro Lins e Silva, um dos defensores das vítimas desse 
arbítrio, em artigo recente, afirmou que, 
Do ponto de vista formal, o processo administrativo era pontilhado 
de ilegalidades, era um caso singular de abusos, não houve defesa 
alguma e se adotara um regulamento obsoleto e revogado para 
fulminar os acusados com a aplicação de uma pena cujo simples 
enunciado espanta pelo absurdo de seu próprio conteúdo: 
disponibilidade inativa sem remuneração72. 
Em paralelo ao processo administrativo correu um inquérito policial, 
que foi arquivado por ausência de provas que mostrassem as ligações dos 
acusados com o Partido Comunista73. Ainda para Lins e Silva, os diplomatas 
foram vítimas de uma perseguição de caráter meramente político no auge da 
Guerra Fria74. 
Sumariamente, é possível afirmar que durante o Governo Dutra o país 
experimentou um grande retrocesso no processo de democratização iniciado 
no final da ditadura Vargas. É possível ainda detectar a gênese de uma cruzada 
anticomunista que possuía tanto raízes endógenas quanto exógenas. Conclui-se 
ainda que o alinhamento incondicional do país aos Estados Unidos reduziu a 
sua capacidade de negociação, o que significou o fim da expectativa de receber 
um tratamento preferencial e a conquista do status de potência regional. 
 
71 AHI- 50-2-3. 308/500.1 BREWER, Sam Pope. Brazil Dismisses Diplomats as Reds. Five 
Relieved after six-month investigation. –woman code expert is transferred. The New York 
Times. 21/03/1953. 
72 LINS E SILVA, Evandro. Documento Antonio Houaiss. Punições por convicção política. 
Comunicação&política, v.8, n.1, p. 197-206, p. 198-199. 
73 LINS E SILVA, Evandro. Op. Cit, p. 202. 
74 LINS E SILVA, Evandro. Op. Cit, p. 204. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002 
Ecos da emergência 59 
Durante o segundo governo Vargas, houve tentativas de equacionar essas 
tensões, buscando uma linha de ação intermediária, em que se mantinha a 
aliança com os EUA em bases renegociadas, exigindo o apoio estadunidense 
para o desenvolvimento econômico do país. 
Diálogos, DHI/UEM, v. 6. p. 41-59, 2002

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