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1 MMEEIIOOSS AALLTTEERRNNAATTIIVVOOSS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS Professora Fernanda Tartuce www.fernandatartuce.com.br 55 ccoonnfflliittooss 1. Pai e mãe controvertem quanto ao direito de visitas ao filho; 2. Dois vizinhos litigam em razão do corte de um das árvores limitrofes; 3. Contratantes divergem sobre a interpretação de cláusulas contratuais; 4. Herdeiras questionam a forma de divisão de bens (de valor afetivo); 5. Vítima e causador de um acidente controvertem quanto à indenização. Reflita se todos estes conflitos devem ser tratados com o mesmo mecanismo de resolução de controvérsias. Justiça x Jurisdição Cerne do acesso à justiça: ir ao Poder Judiciário? Ter seu DAY IN COURT? Realizar a justiça no contexto em que se inserem as partes? Perspectiva mais ampla HHáá ttécnicas diferenciadas de tratamento do conflito como alternativas à solução judicial: alternative dispute resolution (sigla no plural: ADRs) ; resolução alternativa de disputas (sigla em português “RAD”); meios alternativos de solução de conflitos (sigla em português “MASCs”). Sistema pluriprocessual “Ordenamento jurídico processual formado por um espectro de processos que compreende o processo judicial e a mediação, entre outros. O sistema pluriprocessual tem por escopo disponibilizar processos com características específicas que sejam adequados às particularidades do caso concreto, permitindo assim que se reduzam as ineficiências inerentes aos mecanismos de solução de disputa” (AZEVEDO, André Gomma de). Pouco uso no Brasil Segundo Kazuo Watanabe por 4 razões: arraigada tendência de solução adjudicada pelo juiz (decorrente da formação acadêmica e agravada pela sobrecarga de serviços do magistrado); preconceito quanto aos meios alternativos (especialmente pelo receio de que possam comprometer o poder jurisdicional); falsa percepção de que a função de conciliar seria menos nobre (sendo a mais importante atribuição a de sentenciar); percepção de que, para a avaliação de seu merecimento pelos membros do Tribunal, serão consideradas as boas sentenças proferidas (e não as atividades conciliatórias empreendidas). Localização do tema na doutrina Meios alternativos sao mencionados na abordagem da garantia do ACESSO À JUSTIÇA - obbssttááccuullooss ee ssuuppeerraaççããoo: ondas renovatórias de universalização do acesso à justiça (Mauro Cappelletti e Bryant Garth, anos 70: Projeto Florença). 2 ACESSO À JUSTIÇA 1ª onda renovatória de universalização do acesso: foco na assistência judiciária, a fim de propiciar serviços jurídicos aos pobres. Desenvolvimento da assistência judiciária gratuita, organização das defensorias públicas, redução dos custos de acesso. 2ª ONDA: PROCESSO COLETIVO - dotar sistemas jurídicos de mecanismos atinentes à representação jurídica dos interesses “difusos”, atuando especialmente sobre conceitos processuais clássicos para adaptá-los à adequada concepção de processo coletivo. 3ª ONDA: VÁRIAS MEDIDAS Concepção mais ampla de acesso à justiça: o inclusão da advocacia, judicial ou extrajudicial o atenção para o conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e prevenir disputas nas sociedades modernas; o Técnicas processuais diferenciadas. 3ª onda – reformas para simplificar procedimentos; modificar instâncias julgadoras; Utilizar pessoas leigas (ou paraprofissionais) Criar vias alternativas de solução de controvérsias, considerando ainda a necessária correlação entre processo civil e o tipo de litígio. QUESTÃO MULTIFACETADA Necessidade de conceber vários meios de composição de conflitos, considerando a sugestão de que “a mediação e outros mecanismos de interferência apaziguadora são os métodos mais apropriados para preservar os relacionamentos”. TTeennddêênncciiaass aattuuaaiiss:: rreeffoorrmmaass pprroocceessssuuaaiiss Foco no acesso à justiça mediante o incentivo à adoção de outras formas de realização dos direitos: equivalentes jurisdicionais / meios alternativos de solução de conflitos Principais fundamentos: adoção de meios “alternativos”. Crise do Poder Judiciário? Adequação do método ao tipo de conflito? Pacificação do conflito e das partes? Crise do Poder Judiciário Ada Grinover - duas vertentes de atuação: - judicial: “deformalização do processo” (com uso técnica processual em busca de um processo mais simples, rápido, econômico e acessível); - extrajudicial: “deformalização das controvérsias” (buscando, segundo sua natureza, equivalentes jurisdicionais como vias alternativas ao processo, capazes de evitá-lo por meio de instrumentos institucionalizados de mediação) Técnica adequada ao tratamento do conflito Diante de uma controvérsia, cumpre ao operador do direito encaminhar as partes ao mecanismo adequado para a composição do impasse. 3 Às partes devem ser disponibilizados todos os meios jurídicos para que possam defender seus interesses Em inglês, a sigla ADR (alternative dispute resolution) vem sendo repensada para que a letra A passe a representar “apropriate”; sem dúvida, mais do que simplesmente alternativos, os mecanismos devem ser apropriados para o enfrentamento da controvérsia, considerando não só o tipo de litígio, mas as condições das partes. Prevenção e manutenção do relacionamento A consideração da adequação do método deve ter em conta que a melhor escolha deve focar sua atenção mais no futuro de que no passado (Mauro CAPPELLETTI). Possibilidades Processos destrutivos : Pela forma de condução da disputa há o enfraquecimento ou o rompimento da relação pré- existente ao conflito; este tende a se expandir ou a se tornar ainda mais acentuado, assumindo as partes posições altamente competitivas para “vencer”. Processos construtivos Geram o fortalecimento da relação social anterior à disputa. Características: 1. capacidade de estimular as partes a desenvolver soluções criativas para compatibilizar interesses aparentemente contrapostos; 2. capacidade das partes ou do condutor do processo (e.g. magistrado ou mediador) de motivar os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição culpa; 3. desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses; 4. disposição das partes ou do condutor do processo de abordar não só as questões juridicamente tuteladas como todas e quaisquer outras que influenciem a relação (social) das partes” (Morton Deutsch) Ponto importante - Acesso à justiça por meios “alternativos”: Vantagens e desvantagens Vantagens obtenção de resultados rápidos, confiáveis, econômicos e ajustados às mudanças tecnológicas em curso; ampliação de opções ao cidadão; aperfeiçoamento do sistema de justiça estatal; fomento de uma relação saudável entre os indivíduos (compondo aquela controvérsia e prevenindo outras); aspecto psicológico: acordo pode inspirar nas partes a convicção de que se ajustaram espontaneamente, tendo prevalecido o bom senso, o desapego e a luta contra a intransigência e o egoísmo; maior efetividade no cumprimento dos acordos; Desvantagens deletéria privatização da justiça (retirando do Estado, a ponto de enfraquecê-lo, uma de suas funções essenciais e naturais, a administração do sistema de Justiça); falta de controle e confiabilidade dos procedimentos e das decisões (em procedimentos sem transparência e lisura); exclusão de certos cidadãos e sua relegação ao contexto de uma “justiça de segunda classe”; frustração do jurisdicionado e enfraquecimento do Direito e das leis. 4 Brocardo popular “ANTESUM MAL ACORDO DO QUE UM PROCESSO DEMORADO NAJUSTIÇA”. Procede? Crítica: Botelho de Mesquita Certeza da demora dos processos + forte insistência (dos auxiliares da justiça e do juiz) para a celebração de acordos + dúvida se o juiz decidirá segundo a lei (e não cf sua ideologia) pode gerar grave problema: “poderoso estímulo ao descumprimento das obrigações e, portanto, à criação de litígios onde, não fora isso, maiores seriam as probabilidades de adesão espontânea ao império da lei”. Solução ou composição de conflitos? Resolução/ solução implicam em DISSOLVER, SEPARAR, DECOMPOR. Composição significa a ação de compor um todo, juntando as partes; arranjo, disposição, associação, combinação, constituição, organização, estrutura. COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS Esta pode se verificar por atitude dos próprios contendores em auto defesa (autotutela) ou em autocomposição ou mediante a decisão imperativa de um terceiro. heterocomposição Pergunta A quem cabe escolher o método de composição de controvérsia: Às partes, Ao seu advogado Ou ao Estado? Tribunais multiportas - EUA Atividade do Poder Judiciário empreendida para orientar os litigantes sobre as diferentes alternativas para compor o conflito, sugerindo qual seria a saída mais pertinente para o deslinde da questão. Atuação semelhante à avaliação preliminar de conflitos, serviço interno prestado pelo departamento jurídico de uma empresa ou por juristas em avaliação remunerada encomendada por particulares. Para eleger, é preciso conhecer... • O conflito; • Os meios de composição. Conhecemos a índole das controvérsias? Conflito: Definição Etimologia – conflitu (latim) – choque, embate ou peleja – confligere (verbo) – lutar. “Uma oposição seguida por outra, sendo que essa oposição pode ser uma afirmação, uma ação ou a constatação de uma característica pessoal da outra”. Difícil definir... 5 Conflito: Causas Falta de respeito com as diferenças: crenças, valores, religião, comportamentos, interesses, objetivos, cultura, opinião, percepção, educação e sentimentos. Busca por: poder, direitos, liberdade, pertencimento e segurança. CONFLITO É um tema que envolve aspectos não apenas jurídicos, mas também sociológicos, psicológicos e filosóficos. NOVA CONCEPÇÃO Justiça consensual (coexistencial e conciliatória) x Modelo contencioso (antagonista) Justiça consensual, conciliatória ou coexistencial: a Justiça, em tal viés, deve levar em conta a totalidade da situação na qual o episódio contencioso está inserido; seu objetivo é curar e não exasperar a situação de tensão. Diferenças Quais as diferenças entre os meios consensuais e as técnicas antagonistas? Contenciosas Não contenciosas Processo judicial Negociação Arbitragem Avaliação neutra de terceiro Conciliação Mediação AAUUTTOOTTUUTTEELLAA Autorizado por lei, aquele que se sente ofendido pode atuar em defesa de seu interesse pela própria força. Casos cíveis mais relevantes: - Legítima defesa e desforço imediato na proteção possessória (CC, art. 1210, § 1º); - Autotutela de urgência nas obrigações de fazer e não fazer (CC, art. 249, § único e 251, § único); - Direito de cortar raízes e ramos de árvores limítrofes que ultrapassem a extrema do prédio (CC, art. 1.283); - Direito de retenção de bens (CC, arts 578, 644, 1.219, 1.433, II, 1.434); - Embargo de obra nova efetuado pelo próprio interessado (CPC,art. 935). São interessantes tais condutas de imposição unilateral entre pessoas com vínculos contínuos? NNEEGGOOCCIIAAÇÇÃÃOO As próprias partes reorganizam-se e chegam ao acordo. Princípios importantes no método de negociação: - separar as pessoas dos problemas; - fixar-se nos reais interesses envolvidos (desejos e preocupações) e não nas posições formais adotadas (de rigidez ou conduta fechada); - imaginar, criativamente, opções alternativas, com ganhos recíprocos MMEEDDIIAAÇÇÃÃOO 6 As partes, com a intermediação de um terceiro imparcial (escolhido ou aceito pelas partes para facilitar a comunicação) restauram as condições para um diálogo eficiente e formulam opções para a composição da controvérsia. Pode ser melhor compreendida por meio da sessão de pré-mediação. MEDIAÇÃO – princípios: - liberdade; - não competitividade; - dignidade da pessoa; - inclusão social; - autonomia e eficiência do mediador. PLC 94/2002 Art. 2º Para fins desta Lei, mediação é a atividade técnica exercida por terceiro imparcial que, escolhido ou aceito pelas partes interessadas, e mediante remuneração, as escuta, orienta e estimula, sem apresentar soluções, com o propósito de lhes permitir a prevenção ou solução de conflitos de modo consensual. CCOONNCCIILLIIAAÇÇÃÃOO As partes são conduzidas por um terceiro na negociação para a identificação de seus interesses; o conciliador pode formular propostas e apresentar sugestões para que as partes cheguem a um acordo (transação). Previsões no CPC artigo 125, IV, sendo sua tentativa um incumbência do magistrado ; artigo 277, como primeira providência a ser intentada na audiência designada no rito sumário; artigo 331, com a previsão da audiência preliminar antes do início da fase probatória. Percebe-se, nos últimos tempos, um “incremento judicial-processual das audiências preliminares e/ou tentativa de autocomposição”. Perspectiva: novo CPC, art. 145 A realização de conciliação ou mediação deverá ser estimulada por magistrados, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. § 1º O conciliador poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. § 2º O mediador auxiliará as pessoas interessadas a compreenderem as questões e os interesses envolvidos no conflito e posteriormente identificarem, por si mesmas, alternativas de benefício mútuo. HETEROCOMPOSIÇÃO Um terceiro, alheio ao conflito, define a resposta com caráter impositivo em relação aos contendores. Resultado do tipo “ganha-perde”. Mecanismos: - ARBITRAGEM: Lei 9.307/96; - JURISDIÇÃO. AARRBBIITTRRAAGGEEMM A decisão sobre o conflito será proferida por um árbitro, pessoa de confiança mas eqüidistante em relação às partes; o árbitro, embora desprovido de poder estatal (porquanto não integrante do quadro dos agentes públicos) profere decisão com força vinculativa. Pressuposto: direitos patrimoniais disponíveis; Lei 9.307/96. 7 SOLUÇÃO JUDICIAL OO PPooddeerr JJuuddiicciiáárriioo éé aacciioonnaaddoo ppaarraa qquuee ddeeccllaarree oo DDiirreeiittoo aapplliiccáávveell ee ddeetteerrmmiinnee aa rreeggrraa aa sseerr oobbsseerrvvaaddaa,, eemm ssuubbssttiittuuiiççããoo àà vvoonnttaaddee ee aattuuaaççããoo ddaass ppaarrtteess.. GGrraannddee vvaannttaaggeemm:: ddeecciissããoo vviinnccuullaannttee.. Questão Se a parte quiser celebrar um acordo e o advogado não acreditar ser esta a melhor via, qual conclusão deve prevalecer? Pesquisa sobre JECs – conclusão: a probabilidade de realizar saídas consensuais diminui quando o reclamante comparece à audiência com o advogado. Pergunta Em que momento deve ser feita a escolha sobre o meio de composição de conflitos? Cabe sua revisão a qualquer tempo? Estando o conflito já instalado... Tendo havido opção por uma via, é possivel desistir e encaminhar-se a outra? Qual a importância do consenso em tal situação? Após o conflito ter tido uma resposta Ainda é possível tentar uma outra forma de composição dos interesses? TTééccnniiccaass-- CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddaass mmooddaalliiddaaddeess ((JJuuaann VVeezzzzuullllaa)) Contenciosas Não contenciosas As partes enfrentam-se As partes cooperam O procedimento é controlado por terceiros As partes controlam o processo Um terceiro decide As partes decidem Centra-se no passado Trato do presente e do futuro Trabalha sobre a realidade formal Trabalha sobre a realidade real Não pode ser interrompido Pode ser interrompido O seu resultado não satisfaz plenamente O acordo satisfaz plenamente (exceto na conciliação) O seu resultado pode não resolver o conflito O acordo resolve o conflito (exceto na conciliação) Pergunta Sobre que critérios refletir para decidir entre os meios de composição? Mecanismo pertinente Para aferi-lo, considerar características intrínsecas/ certos aspectos relativos a cada uma das técnicas. Cotejar elementos como custos financeiros, 8 celeridade, sigilo, manutenção dos relacionamentos, flexibilidade procedimental, exeqüibilidade da solução, custos ou desgastes emocionais na composição da disputa, adimplemento espontâneo do resultado e recorribilidade etc. Para refletir... "O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, é o inatingível. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes, a oportunidade” (Victor Hugo) Bibliografia Azevedo, André Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Brasília Jurídica, 2002, v. 3; GRINOVER, Ada Pellegrini. Deformalização do processo e deformalização das controvérsias. Revista de Processo, São Paulo, n. 46, p. 60-83, abr./jun. 1987. PATTON, Bruce. URY, William. FISHER, Roger. Como chegar ao sim: a negociação de acordos sem concessões. Ed. Imago; FALECK, Diego. Introdução ao Design de Sistemas de Disputas: Câmara de Indenização 3054. Revista Brasileira de Arbitragem nº 23, 2010; TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. Ed. Método; DEUTSCH, Morton. A resolução do conflito. In: Azevedo, André Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2004, v. 3, p. 38. COOLEY, John W. A advocacia na mediação (UNB); WATANABE, Kazuo. Cultura da sentença e cultura da pacificação. In: YARSHELL, Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de. (Coord.). Estudos em homenagem à professora Ada Pellegrini Grinover. São Paulo: DPJ, 2005. VEZZULLA, Juan Carlos. Mediação: teoria e prática. Guia para utilizadores e profissionais (Agora Publicações).
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