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CLÍNICA MÉDICA DE ANIMAIS DE PRODUÇÃO II
Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro – Campus Seropédica
Medicina Veterinária - Jeferson Bruno Da Silva – Matrícula: 201406074-4
Indigestão 
Definições
Digestão: quebrar o alimento em moléculas menores que possam ser digeridas/absorvidas e utilizadas pelo organismo. 
Ingestão: ato de ingerir, colocar o alimento para dentro.
Indigestão: é uma disfunção do processo digestivo.
Nutrientes essenciais: água, vitaminas, minerais, carboidratos, proteínas e lipídeos.
No processo de digestão o carboidrato confere energia, a proteína resulta em aminoácidos para re-síntese de proteínas e fonte de energia, e lipídeos servem para a síntese de AG e produção de energia. No processo de indigestão impede a metabolização principalmente de carboidratos, proteínas e lipídeos, impede o organismo de usá-los. Assim a digestão é necessária, pois fornece todos os nutrientes em questão, permite ao corpo usá-los. 
Temos que descobrir a causa (porquê) e onde ocorre (local), determinam o tipo e eficácia do tratamento que deverá ser aplicado.
Nos ruminantes a digestão é feita nos pré-estômagos. O animal rumina partículas grandes porque ele precisa diminuir essas partículas para chegarem no estômago químico e poder ser melhor utilizado nutricionalmente.
No ruminante a indigestão pode ocorrer por diversas causas, não apenas ligadas aos pré-estômagos, e tem alta incidência na clínica. Nos ruminantes a indigestão pode cursar com vários sinais, como a demora na ruminação com fezes ressecadas, ou até mesmo quadros de toxemia desidratação e morte.
Particularidades do ruminante: 
Estômagos divididos em 4 compartimentos: Retículo-Rúmen: função fermentativa, e absortiva, possui epitélio aglandular, ou seja não secretório.
Mastigação rápida, curta, deglutição rápida e depois regurgitação para remastigar, assim a mastigação se dá em duas etapas.
Fermentação anaeróbia anterior ao estômago químico.
Os ruminantes evoluíram dos monogástricos, sendo assim ele tem a capacidade de usar carboidratos não estruturais e NNP, para a produção de energia e proteína, de forma eficiente. De forma semelhante ocorre com os bezerros quando nascem se assemelham a monogástricos, e eles vão se tornando ruminantes aos poucos. 
Como esses microrganismos chegam lá? Vamos falar sobre desde os bezerros.
Bezerros:
Quando nascem os bezerros são ruminantes afuncionais, sua primeira ingestão é o colostro que vai direto para o abomaso, não sofre digestão nos pré-estômago e é completamente absorvido. O tubo digestivo é estéril e não funcional. O colostro é absorvido no abomaso, e é altamente carregada de bactérias.
O colostro deve ser dado em 40 mL por Kg de peso vivo na primeira mamada, e 8% do peso vivo em 24h.
O colostro tem funções de:
TIP: transferência de imunidade passiva
Nutrientes: água, energia, proteínas e minerais (principalmente minerais)
Gordura: que estimula a maturação e lubrifica o tubo digestivo, se ele não mama o bezerro vai reter o mecônio.
Defesa Celular: PMN – o colostro é rico em células somáticas, que servem para imunidade celular dada ao bezerro, principalmente neutrófilos que agem na fagocitose local de microrganismos. 
Antibacterianos: lactoferrinas, isozimas, etc
Após a ingestão do colostro o tubo digestivo é maturado, e as células começam então a ser renovadas na mucosa intestinal, que leva a perda progressiva de absorção de macromoléculas, assim após 24h não há mais efeitos a ingestão do colostro no sentido de imunidade, mas ainda vai ter sua ação local no tubo intestinal, como a liberação do mecônio. 
O bezerro já nasce com os quatro compartimentos, mas ele tem diferenças estruturais e tamanho. Mas para virar adultos ele precisa sofrer alterações anatômicas, fisiológicase metabólicas. O compartimento é o mesmo, mas o rumem e retículo são maiores no adulto – 30% do valor nos bezerros e nos adultos é de 80%. Então precisa de alterações no desenvolvimento e amplitude do rumem e retículo, o que começa a acontecer com o crescimento do animal e mudança na alimentação.
Os primeiros microrganismos que chegam com o leite são os Lactobacillus e os coliformes, assim começam as produções de ácido clorídrico, renina e pepsina. Começa-se então a digestão química do leite. 
O leite vai para o abomaso por meio da goteira esofágica, uma “calha” que conduz ao abomaso, ela fecha para que o leite não caia no rúmen. 
Se o leite for dado em condições ruins (leite frio, azedo, diluído, estragado, num balde sujo colocado no chão –posição do balde), a goteira esofágica não se fecha, pois não há estímulo, e assim o leite vai para o rumem e há indigestão química. O estímulo ideal para a abertura da goteira é o leite integral in natura, mamado na mãe. 
Todo o conjunto, o ato de mamar na mãe, leite integral, temperatura, e componentes do leite, são os fatores que levam o leite a estimular o fechamento da goteira esofágica. 
No mínimo 1,5Kg de volumoso para sofrer a desmama. 
Quando eles começam a comer volumosos, as bactérias fermentadoras vêm junto do alimento que produzem a fermentação e geram ao AG. Os ácidos propiônico e butírico, estimulam o crescimento das papilas ruminais, afim de se aumentar a área de absorção e fermentação ruminal. A produção de gases e alta quantidade de água distendem o rúmen induzindo a motilidade. Esse momento é um momento de estresse metabólico para o animal!
Ponto importante: Propiônico e butírico > estimulam o desenvolvimento das papilas ruminais.
Por que esses microrganismos estão no rumem? A população de microrganismos que estão em simbioses com os ruminantes, que precisam fundamentalmente para seu desenvolvimento de água (80 a 90% de umidade), temperatura ruminal adequada (38 a 40ºC), substrato, pH, EH- (baixo potencial de oxidação – anaerobiose não significa que a alimentação não tenha oxigênio, porque o capim que ele ingere do ambiente vem com oxigênio e algumas bactérias conseguem metabolizar essa pequena quantidade) e a motilidade.
Se o animal beber água muito gelada, os microrganismos ruminais sofrem estase, até que a água fique na temperatura ideal para que eles continuem suas atividades e multiplicação, o animal requer então muita energia e tempo para fazer a água gelada chegar a 37ºC que é a temperatura do rumem, durante isso a digestão é atrasada, pois não há motilidade intestinal nem atuação dos microrganismos. 
O pH não é constante, o pH é consequência do que ele se alimenta e isso vai alterar as bactérias.
Alguns fatores são decisivos e independentes...
Acidose aguda, indigestão vagal e alteração do equilíbrio da microbiota. Isso é causa ou consequência?
Acidose aguda: excesso de AGV.
Indigestão vagal: lesão ou alteração no nervo vago que diminui a motilidade.
Desequilíbrio da microbiota: alteração nos microrganismos do rumem.
O tipo do substrato determina a motilidade e o pH do rúmen, se for de concentrados a digestão é rápida e o pH diminui, o substrato também determina o tipo de bactérias que se desenvolverão, se muita forragem celulolíticas, se muito concentrado amilolíticas.
O tipo do microrganismo presente no suco ruminal depende do pH, e principalmente do tipo de comida ingerida pelo animal, microrganismos de criação extensiva (+ volumoso) são diferentes dos presentes nas criações intensivas/confinamento (+ concentrado). Se o microrganismo usa amido e chega muito amido, esse microrganismo prevalece, se a ingestão de amido diminui, esse microrganismo diminui também. Esse desequilíbrio pode levar a uma digestão mais rápida ou mais lenta, a um melhor aproveitamento ou pior aproveitamento. 
Indigestão dos bezerros: leites caídos no rúmen vão coagular “virar queijo” e não há enzimas para sua digestão, assim há fermentação putrefativa, onde proteína e gordura tem fermentação indesejada, a consequência disso para o bezerro é a diarreia, e produção de ácidos indesejáveis, cialorreia, dor e etc.
Tipo de Alimentos:
Forragens:
Maior número de espécies de microrganismos, não selecionaas espécies, serve de substrato para todas.
Favorecem as bactérias celulolíticas, que tem uma taxa de multiplicação menor. Produzem menos AG, e mantém o pH estável à alto, como as fibras demoram a ser degradadas o animal rumina mais, assim maior quantidade de saliva tende a manter o pH mais alto.
Alta taxa de retenção, o alimento demora a ser digerido completamente, a absorção de água é maior, assim as fezes saem firmes.
Se o capim for picado muito pequeno para ser oferecido ao bovino, ele não vai fazer a separação eficiente para ruminação, assim os componentes de tamanho devem estar equilibrados na oferta da forragem, para que o rúmen faça a estratificação. 
Concentrados:
Sempre dar 2 partes de forragem para 1 parte de concentrado. 
Seleciona os microrganismos, assim somente sobrevivem os que são fermentadoras de carboidratos;
Taxa de multiplicação de mo grande, alta produção de AG.
Rumina pouco, pouca produção de saliva.
Passagem rápida pelo intestino, e alta absorção dos nutrientes e pouca de água, assim as fezes saem mais moles/fluidas.
Classificação das Indigestões:
PRIMÁRIA: causas que estão nos pré-estômagos, como úlceras, acidose, etc.
Fermentativa
Motora
SECUNDÁRIA: Causas que tem origem em locais que não são o aparelho digestivo, estão fora do rúmen, e levam a uma ineficiência digestiva, hipomotilidade. 
Deficiências minerais: Na deficiência de Fósforo, as bactérias necessitam do fósforo para a produção de energia, na deficiência as bactérias vão apresentar uma eficiência metabólica diminuída
Desidratação ou febre
Doença no SNC
Jejum: Quando os ruminantes deitam indispostos nos pastos, os sensores de motilidade ficam na parte superior do rúmen, e assim a motilidade diminui, e quando ele diminui o tônus muscular o rúmen também vai relaxar. 
Para funcionar como um biodigestor, o rumem precisa necessariamente de motilidade.
A motilidade que permite os microrganismos entre em contato com a superfície do alimento, a incorporação da saliva, mistura e homogeneização do alimento, posterior separação das partículas para promoção da ruminação dos grandes pedaços, e que os menores sigam para o abomaso. 
O alimento chega, é fermentado pelos microrganismos, e os gases têm de sair (amônia, ureia e metano) por isso o animal eructa, absorve os AG, rumina as partículas maiores e libera as menores para o abomaso, a fim de diminuir a pressão ruminal, assim há substrato para os microrganismos se desenvolverem em intervalos regulares. 
Os sensores que estimulam a motilidade estão em todo o trajeto por onde percorre o alimento: boca, língua, esôfago, cardia, rúmen. Sendo o maior estímulo da motilidade é a alimentação ou quando o rúmen está cheio distendido. Quando o alimento sai do abomaso que é ácido e chega ao intestino, o alimento na forma ácida estimula a motilidade intestinal atuando nos receptores.
 O bovino se alimenta sempre nas horas mais frescas, ou seja, entre as 22h e 05h da manhã, e posteriormente ele deita e rumina durante todo o dia.