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AD2.1 2013 Semestre 1

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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Avaliação a Distância – AD2 -1ª lista 2013/1º semestre
Disciplina: Teorias da Administração Pública / Coordenador: Carlos Frederico Bom Kraemer.
Questão 01. (2,0 pontos) Faça uma síntese das principais características da Administração Pública Patrimonialista praticada em Portugal.
Analisando o contexto do material didático podemos apresentar a Administração Patrimonialista praticada em Portugal cujas características mais marcantes foram: 
A origem do Governo exercido por Dom Afonso I que dispunha dos poderes político e econômico, possuidor de terras o que repassava a Coroa Portuguesa enorme patrimônio rural e, dessa forma, não se distinguia de forma clara o que era da Coroa e dos indivíduos, em relação ao que seria de domínio público e privado;
A criação do Conselho Ultramarino em Portugal, que passou a tratar dos negócios comerciais com suas colônias, sendo muito poderoso no Brasil e só deixando de existir com a vinda da Família Real à Colônia em 1808;
A designação de donatários de capitanias ou governadores gerais (os vice-reis), para a composição dos quadros administrativos do Conselho Ultramarino na Colônia;
Um Inchaço no quadro de funcionários na Administração colonial para o exercício da fiscalização e de atividades vinculadas à promoção da justiça, criados nem sempre com definições claras, de forma constante possibilitando áreas de conflito de atribuições;
A instituição de câmaras municipais (instâncias de poder local), onde só podiam ser escolhidos como vereadores, assim como votar, os chamados “homens bons”. Tais câmaras vivenciaram certa autonomia em relação aos governos-gerais e às capitanias, dadas às distâncias que dificultavam a comunicação, representando mais interesses de poderosos senhores locais, geralmente latifundiários;
A definição de uma hierarquia vertical da Administração Pública com a seguinte composição: o Rei – ladeado por um corpo “ministerial” de altos funcionários (os estamentos), o Governador-geral ou vice-rei, os Capitães das capitanias e as autoridades ligadas às câmaras municipais; 
A definição de um corpo distante do perfil do burocrata moderno. Na Colônia, assim como acontecia na Coroa, o funcionário se constituía a sombra do monarca, por este escolhido, bem como não praticava a obediência a regras impessoais de conduta, nem se vinculava a aspectos de competência profissional.
Questão 02. (2,0 pontos) O que significavam os estamentos? Por quais razões não podemos compará-los à burocracia moderna como pensou Weber?
Segundo o material didático os estamentos foram a gênese da burocracia estatal onde um grupo de funcionários de alto escalão (letrados) exercendo o governo ao lado do monarca – gerenciavam o Estado sendo responsáveis pela justiça e elaboração das Leis - beneficiando-se dos privilégios e honras que os distinguiam na sociedade da época, assim como da própria Coroa Portuguesa. Segundo a definição de Weber a burocracia baseava-se no exercício do poder, a partir de cargo público, cujo acesso era mensurado pelo conhecimento técnico. Diferentemente desta característica os “burocratas” no estamento não possuíam critérios objetivos, impessoalidade na tomada de decisões ou base de conhecimento técnico; a escolha ocorria uma indicação do monarca (sua vontade prevalecia). Mesmo possuindo certos traços burocráticos, não podemos comparar com a burocracia moderna.
Questão 03. (2,0 pontos) Descreva o processo de reprodução do patrimonialismo português na administração de sua Colônia nos trópicos. Procure, ainda, sintetizar as experiências de centralização e descentralização administrativas aqui implantadas.
Analisando o texto verificamos que, no Brasil, o patrimonialismo fora implantado pelo Estado Colonial cujo processo inicial partiu da concessão de títulos, de terras e poderes quase absolutos aos senhores de terra culminando com uma prática político-administrativa em que o público e o privado não se distinguiam perante as autoridades. Assim, foi vista da forma mais "natural" no período colonial, passando pelo Império e chegando mesmo ao período da República Velha o que gerou profunda confusão na distinção entre o público e o privado. A ideia inicial do patrimonialismo no Brasil girava em torno da definição do "Homem Cordial", conceito este idealizado na obra Raízes do Brasil por Sério Buarque de Holanda. Victor Nunes Leal cita em seu clássico "Coronelismo: enxada e voto" trabalham de modo magistral o patrimonialismo no Brasil. Para ele, a medida que o poder público ia se afirmando sobre o poder privado, e o Estado imperial ganhava força e podia prescindir do apoio dado pelos latifundiários e senhores de terras, este mesmo Estado teria de forma extraordinária tolerado que o fazendeiro (Coronel) embarcasse na "canoa" do Estado moderno; em troca da "força moral" (dos votos) dos coronéis, o Estado brasileiro continuou, embora ilegalmente, concedendo os poderes formais e/ou informais destas figuras. Já os fazendeiros, “perdendo para ganhar” souberam adaptar-se aos novos tempos, embarcando quase intactos na "canoa sem remo" da república. O legado do poder privado, ainda hoje, sobrevive dentro da máquina governamental com o "jeitinho brasileiro" (isso fora a burocracia), quando a maioria dos políticos veem o cargo público que ocupam como uma "propriedade privada" sua, ou de sua família, em detrimento dos interesses da coletividade.
Questão 04. (2,0 pontos) Sintetize as principais características das práticas da gestão estatal no Brasil, de D. João VI até o fim da Monarquia. Por que elas podem ser classificadas como patrimonialistas?
Segundo entendimento do que foi abordado no material didático podemos entender que a gestão estatal no Brasil teve suas raízes estabelecidas no Estado patrimonial que possui sua origem em Portugal. Vem de lá, a dificuldade em se estabelecer relações impessoais no trato das coisas públicas. Durante o período Colonial e Monárquico, não se estabeleceu uma divisória entre os domínios públicos e aquilo que a realeza poderia usufruir. A administração pública não era pautada pelo trato impessoal. A consolidação do Estado patrimonial português e sua lógica burocrática do estado de estamentos dirigiam a dinâmica colonial. Sua influência não se limitava à esfera política, administrativa e militar, mas também se refletia no âmbito cultural, econômico e religioso. Faoro definiu assim a forma como tal esfera era regida:
“O mercantilismo empírico português, herdado pelo Estado brasileiro, fixou-se num ponto fundamental, inseparável de seu conteúdo doutrinário, disperso em correntes, facções e escolas. Este ponto, claramente emergente da tradição medieval, apurado em especial pela monarquia lusitana, acentua o papel diretor, interventor e participante do Estado na atividade econômica. O Estado organiza o comercio, incrementa a indústria, assegura a apropriação da terra, estabiliza preços, determina salários, tudo para o enriquecimento da nação e o proveito do grupo que a dirige. (...) O Estado, desta forma elevada a uma posição prevalente, ganha poder, internamente contra as instituições e classes particularistas, e, externamente, se estrutura como nação em confronto com outras nações”. 
( FAORO, R. (1977) Os donos do poder – formação do patronato político brasileiro. Vols. 1 e 2. Ed. Globo, Porto Alegre, p. 62).
O direito português foi articulado para servir à organização política em detrimento ao comércio e à economia particular; possui uma dinâmica autônoma e fechada, exercendo seu poder através do controle patrimonialista do Estado, não fazendo distinção entre o público e o privado. 
“O patrimonialismo, organização política básica, fecha-se sobre si próprio com o estamento, de caráter marcadamente burocrático. Burocracia não no sentido moderno, com aparelhamento racional, mas da apropriação do cargo - o cargocarregado de poder próprio, articulado com o príncipe, sem a anulação da esfera própria de competência. O Estado ainda não é uma pirâmide autoritária, mas um feixe de cargos, reunidos por coordenação, com respeito à aristocracia dos subordinados” (FAORO, R.).
A realidade histórica brasileira manteve essa estrutura patrimonial, resistindo à dinâmica capitalista. Ainda hoje vemos práticas (mesmo que pensemos o contrário ou que seja involuntária) consideradas patrimonialistas e algumas características do estado de estamentos em diversos segmentos da gestão pública no Brasil.
Questão 05. (2,0 pontos) O que entendemos por coronelismo? Quais foram as suas características?
 Analisando o material didático verificamos o período Monárquico anterior à maioridade de D. Pedro II onde foi criada a Guarda Nacional no País. Nesse período houve o enfraquecimento do exército sendo criados regimentos nas províncias e municípios e, o poder, distribuído aos “Coronéis” que eram recrutados junto aos grandes proprietários de terra e comerciantes (que compravam as patentes). Esses “Coronéis” detinham o poder econômico, político e militar, sendo os grandes mandatários da região. Esse poder oligárquico, o vínculo às grandes propriedades originou o fenômeno o qual Leal (1993) denominou de CORONELISMO. As características mais marcantes foram a manutenção nas mãos dos coronéis dos poderes econômico, político e militar; a forma de aquisição das patentes (compra) pelos grandes proprietários e comerciantes abastados; a troca de favores nos períodos eleitorais onde os coronéis apoiavam determinado candidato em troca de favores e cargos políticos locais e a contínua exclusão do povo nos processos políticos reproduzindo dessa forma as práticas patrimoniais na Administração Pública Brasileira.

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