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NewsLab - edição 63 - 2004102 Acompanhamento do Perfil Hematológico de Pacientes Portadores de Leucemia Linfóide Aguda (LLA) Tratados pelo Protocolo GBTLI LLA-93 Gustavo Enrico B. de Medeiros1, Fabio de Medeiros Lima1, Telma Maria Araújo Silva2, Elione Soares de Albuquerque3, Edvis Santos Soares Serafin3 e Ney Moura Lemos Pereira4 1 - Acadêmico do Curso de Farmácia e Bioquímica da Universidade Potiguar (UNP) 2 - Docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, doutora em Biologia Funcional e Molecular (UFRN) - PhD 3 - Medica Onco-Hematologista da Oncoclínica São Marcos - Natal, RN 4 - Farmacêutico da Oncoclínica São Marcos e mestre em Bioquímica - MSc Artigo IntroduçãoIntrodução Leucemias Agudas Os estudos morfológicos e de ci- nética celular indicam que, nas leu- cemias agudas, existe um bloqueio na diferenciação das células primi- tivas leucêmicas e que os blastos leucêmicos apresentam um tempo de geração prolongado e não encur- tado. Assim, o cálculo de blastos leu- cêmicos na leucemia aguda resulta da expansão clonal das células pri- mitivas transformadas, bem como da falha na maturação até células terminais funcionais. À medida que se acumulam na medula óssea, as células precursoras leucêmicas Acute leukemias are malignant disorders caused by the clonal expansion of a hematopoietic precursor with a phenotype defined by the stage of the cellular diffe- rentiation, either producing a lymphoid or myeloid line- age. Acute lymphoblastic leukemia (ALL) is a disease principally seen in children and young adults. The aim of the study was to evaluate the hematological profile of patients who use the GBTLILLA-93 protocol, as patients with leukemia present with a significant reduction of leu- kocytes, red blood cells and platelets. Patients suffering from acute lymphocytic leukemia (LLA) attended and tre- ated in the São Marcos Cancer Clinic obtained thera- peutic results within the parameters predicted by the GBTLILLA-93 protocol. Keywords: Leukemia, GBTLILLA-93 protocol, Acu- te Lymphocytic Leukemia, hematocrit, leukocytes and platelets A leucemias agudas são desordens malignas decor- rentes da expansão clonal de um precursor hematopoé- tico com um fenótipo definido pela etapa da diferencia- ção celular, seja da linhagem linfóide ou mielóide. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é principalmente uma doença presente em crianças e adultos jovens. O obje- tivo deste trabalho foi avaliar o perfil hematológico des- tes pacientes que fizeram uso do protocolo GBTLI LLA- 93, já que pacientes leucêmicos apresentam uma dimi- nuição significativa dos leucócitos, hemácias e plaque- tas. Os pacientes portadores de leucemia linfócita agu- da (LLA) atendidos e tratados na Oncoclínica São Mar- cos obtiveram resultado terapêutico dentro dos parâme- tros preconizado pelo protocolo GBTLI LLA 93. Palavras-chaves: Leucemias, protocolo GBTLI LLA- 93, Leucemia Linfócitica Aguda, hematócrito, leucóci- tos e plaquetas Resumo Summary 103NewsLab - edição 63 - 2004 (blastos) suprimem as células pri- mitivas hematopoiéticas normais através de substituição física e ou- tros mecanismos pouco conhecidos. A supressão das células primitivas hematopoiéticas normais na leuce- mia aguda apresenta duas implica- ções clínicas importantes: • Escassez de hemácias, leu- cócitos e plaquetas normais • Do ponto de vista terapêuti- co, a meta é reduzir a produção de clone leucêmico o suficiente para permitir a recuperação das células primitivas normais (1, 2) A transformação leucêmica pode afetar qualquer estágio du- rante a diferenciação das células primitivas hematopoiéticas pluri- potenciais. O comprometimento da série linfóide dá origem à leuce- mia linfóide aguda (LLA), enquan- to que a transformação neoplásica das células progenitoras mielóides se expressa sob a forma de leuce- mia mielóide aguda (LMA) (14). Neste trabalho abordaremos mais os casos que se referem a LLA. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é principalmente uma doen- ça presente em crianças e adultos jovens. Cerca de 2.500 casos no- vos são diagnosticados a cada ano nos Estados Unidos em indivíduos com menos de 15 anos de idade; isso constitui 80% das leucemias agudas da infância. A LLA ocorre em adultos, mas com uma freqüên- cia muito menor. A LLA da infância tem incidência máxima por volta dos quatro anos de idade, sendo quase duas vezes mais comum em caucasianos do que não-caucasia- nos e um pouco mais freqüente em meninos do que meninas (1, 2). Manifestações Clínicas As leucemias agudas possuem as seguintes características: • Início súbito e intempesti- vo. Na maioria dos pacientes, apresenta-se dentro de três me- ses após o início dos sintomas • Sintomas relacionados com a depressão da função medular nor- mal. Fadiga principalmente decor- rente de anemia; febre, refletindo uma infecção decorrente da ausên- cia de leucócitos maduros; sangra- mento (petéquias, equimoses, epis- taxe e sangramento gengival) se- cundário a trombocitopenia • Dor e sensibilidade óssea. Resultados da expansão da me- dula óssea com infiltração do subperiósteo • Infiltração de órgãos, ma- nifestada por linfadenopatia ge- neralizada e hepatoesplenomega- lia. Ocorrem em todas as leuce- mias agudas, porém, são mais comuns na LLA. O comprometi- mento testicular também é espe- cialmente comum na LLA. Manifestações do sistema ner- voso central (tais como cefaléia, vômitos e paralisia de nervos re- sultantes de propagação menín- gea). Estas manifestações são mais comuns em crianças do que em adultos e mais comuns na LLA do que na LMA (1, 2, 3, 4). Esquema Terapêutico e Proto- colo Grupo Brasileiro de Tra- tamento da Leucemia Infantil Leucemia Linfóide Aguda (GB- TLI LLA- 93) A despeito dos melhores trata- mentos utilizados mundialmente, ainda 20 a 30% dos pacientes por- tadores de LLA com melhores prog- nósticos e, 40 a 50% daqueles com LLA de alto risco, recaem. Outras abordagens terapêuticas tornam-se então necessárias através de des- cobertas de novas substâncias, do melhor uso das drogas já conheci- das, da detecção precoce da resis- tência às drogas, da quimioterapia mais agressiva com emprego dos fatores de crescimento mielóide, do uso dos imunomoduladores, do co- nhecimento da expressão dos ge- nes leucêmicos e finalmente, do estímulo da maturação da célula leucêmica. Todas estas linhas de pesquisa, presentes e futuras, vi- sam melhores chances de cura para a criança portadora de LLA (5). Em termos de experiência na- cional, significante e crescente; a probabilidade de cura para a leu- cemia ocorreu através dos estu- dos Grupo Brasileiro de Tratamento da Leucemia Infantil GBTLI 80, 82 e 85. Foram inscritas 994 crianças nos três protocolos. A sobrevida livre de eventos, para todos os gru- pos de risco, está em 50% (GBTLI LLA-80), em 58% (GBTLI LLA-82) e, em 70% (GBTLI LLA-85) (5). A construção do protocolo GB- TLI LLA-93 está alicerçada nos bons NewsLab - edição 63 - 2004104 Resultado e Discussão Materiais e Métodos Objetivos resultados dos estudos anteriores. Todavia, hoje, torna-se muito cla- ro que o sucesso alcançado no tra- tamento da leucemia trouxe um nú- mero substancial de seqüelas, mui- tas delas evidenciadas anos após o término da terapia. A informação do Grupo Italiano (estudo AIEOP 82) da ocorrência de nove casos de tumor cerebral (predominante- mente astrocitoma) em crianças leucêmicas previamente submeti- das à radioterapia craniana, justi- fica adicional preocupação, acres- cida aos já conhecidos efeitos da irradiação nodesenvolvimento neu- ropsicológico da criança. A ocorrên- cia de segunda neoplasia tem sido progressivamente relatada na lite- ratura, em associação com o em- prego de agentes alquilantes e, re- centemente, com o uso da podofi- lotoxina. Igualmente preocupantes são as alterações ecocardiográficas encontradas em crianças submeti- das ao tratamento com antracicli- nas: 38% de alterações registra- das nos primeiros 10 anos de se- guimento, com a expectativa de 71% de achados anormais no pra- zo de 15 anos após o término do tratamento da LLA (5, 6, 7, 8, 9). Estes fatos justificam a tendência atual da exclusão das antraciclinas e da radioterapia para as crianças com LLA de melhor prognóstico (baixo risco e risco intermédio) (5, 6). O objetivo da criação do proto- colo abrange o tratamento de todos os grupos de pacientes para elevar a sobrevida livre da doença para to- dos os grupos com terapia adapta- da aos riscos respectivos, reduzin- do a taxa de morbi-letalidade secun- dária ao tratamento, comparativa- mente aos estudos anteriores e com- parar a taxa de sobrevida de doen- ças nos pacientes tratados com te- rapia de manutenção durante dois anos, versus 1 ano e meio (5, 6, 9). O objetivo para os grupos estu- dados no protocolo de 93 é de (1) avaliar as taxas de remissão clíni- ca completa (RCC) nos grupos de Risco Básico Verdadeiro (RBV) e de Risco Básico (RB) com redução da dose das antraciclinas, associada a infusão prolongada (uma hora) na terapia de indução, (2) deter- minar no grupo de Risco Básico Verdadeiro (RBV) se o emprego de doses intermédias do Metotrexato por via sistêmica logo após a tera- pia de indução, acrescido da trípli- ce terapia intratecal, reduz a inci- dência de leucemia em SNC com- parativamente ao estudo GBTLI LLA-85, (3) avaliar para os pacien- tes de RB a eficácia das doses in- termédias do MTX sistêmico, acres- cida da tríplice terapia intratecal, sem radioterapia craneana, na pre- venção da leucemia em SNC, (4) avaliar as taxas de uma sobrevida livre de eventos (SLE) com o uso de doses intermédias da ARA-C no final da indução e, na quimiotera- pia seqüencial durante a manuten- ção, para os pacientes de Alto Ris- co (AR) e (5) no grupo de pacien- tes de alto risco, verificar o valor da radioterapia craneana com 18 Gy acrescida da tripla terapia in- tratecal, na prevenção da leuce- mia em SNC (5, 6, 7, 8, 9). Objetivos O objetivo do presente traba- lho foi realizar levantamento de dados em relação a: • Realizar acompanhamento hematológico de pacientes que fazem e/ou fizeram uso do proto- colo GBTLI LLA-93 na fase de in- dução a intensificação na LLA para avaliar a eficácia deste protocolo; • Comparação de resultados ob- tidos com o protocolo GBTLI LLA-93. Materiais e Métodos O trabalho foi obtido a partir de coleta de dados dos pacientes pe- diátricos atendidos na Oncoclínica São Marcos através dos prontuári- os e do sistema informatizado. Em seguida foi comparado com o pro- tocolo GBTLI LLA-93 a monitoriza- ção clínica e farmacoterapêutica usando como um dos parâmetros terapêuticos exames laboratoriais. Resultado e Discussão O hematócrito (figura 1) dos pa- cientes estudados estava abaixo do nível normal (35-40%) no início do tratamento, como característica da doença de base (os valores nor- mais são representados pela faixa mais clara mostrada na figura) (1, 105NewsLab - edição 63 - 2004 tes ou após do tratamento rece- ber concentrado de hemácias. Como podemos evidenciar, al- guns dos exames laboratoriais apresentaram valores iniciais de plaquetas abaixo do nível normal (1, 14, 10) e progressivamente passaram aos padrões normais aceitáveis, representando assim uma diminuição da plaquetopenia nestes pacientes. Como podemos observar na figura 2 alguns valores dos pacientes apresentaram-se bem acima do normal como conse- qüência da administração do con- centrado de plaquetas, fazendo-se necessário este procedimento, pois, os medicamentos como a Citarabi- na causam esta reação de paque- topenia, principalmente na fase de reindução (5, 13, 15, 16, 17). Na figura 3 podemos evidenciar que os valores leucocitários dos pa- cientes estudados tiveram um de- créscimo nos seus níveis no início do tratamento da quimioterapia de in- dução da remissão medular com uma diminuição em torno de 90% nos ní- veis leucocitários como sugerido pelo protocolo. Esta característica é pe- culiar dessa fase em que é uma das mais agressivas do tratamento onde são utilizados daunorubicina, vincris- tina e L-asparaginase como forma de erradicar logo nas primeiras sema- nas de Rio de Janeiro (RJ): Guana- bara Koogan, 1988. Figura 2: Sobreposição dos valores plaquetários dos pacientes estudados na Unidade de Saúde Oncoclínica São Marcos Natal/RN Figura 1: Sobreposição dos valores de hematócritos nos pacientes estudados na Unidade de Saúde Oncoclínica São Marcos Natal/RN. Figura 3: Sobreposição dos valores leucocitários dos períodos de Indução e Remissão do protocolo GBTLI LLA-93 na Oncoclínica São Marcos Natal/RN 3, 10). À medida que o tratamen- to foi evoluindo, os níveis do he- matócrito foram se aproximando dos limites normais justificando um bom parâmetro de resposta tera- pêutica. Alguns valores oscilaram para uma margem abaixo do nor- mal, pois a anemia é um parâme- tro de efeito adverso causado pe- los medicamentos antineoplásicos como a Daunorubicina (11, 12, 13) e alguns pacientes precisaram an- Correspondência para: Dra. Telma Maria Araújo Silva E-mail: telmaml@yahoo.com.br Fone: (84) 214-4226/ 2154238 NewsLab - edição 63 - 2004106 Referências BibliográficasReferências Bibliográficas 1. Gorina ABA. Clínica e o laboratório. 16ª ed. Rio de Janeiro (RJ): MEDSI, 1996. 2. Lorenzi TF. Manual de Hematologia, propedêutica e clínica. 2ª ed. Rio de Janeiro(RJ): MEDSI, 1999. 3. Hoffbrand AV. Hematologia Clínica Ilustrada, manual e atlas colorido. São Paulo: Manole, 1991. 4. Verrastro T et al. Hematologia e Hemoterapia: fundamentos de morfologia, fisiologia, patologia e clínica. 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