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RESENHAJurandir Malerba , OS HISTORIADORES E SEUS PÚBLICOS

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RESENHA 
OS HISTORIADORES E SEUS PÚBLICOS
Jurandir Malerba 
Na admirável era digital, a maneira como enxergamos nosso mundo e sociedade vem sofrendo diversas metamorfoses, especialmente na última década. A popularização da internet banda larga, da tecnologia smart, e o advento das redes sociais como um mecanismo que não só aproxima ainda mais as fronteiras, mas vem moldando nosso comportamento, modos de agir e pensar, são apenas alguns dos vários exemplos que o tempo presente nos apresenta.
Logo, não é de se surpreender que tais mudanças vêm afetando o campo da História. Com a Era Digital, o historiador vê-se desafiado com o surgimento de novas fontes, novos problemas, que exigem a elaboração de métodos que se adequem a contemporaneidade. No mesmo passo, o público “consumidor” de História se expandiu, do mesmo modo que abriu espaço para que qualquer indivíduo possa fabricar sua História, a sua versão, sem que haja a necessidade de uma chancela acadêmica para conseguir agregar um determinado grupo.
Estes são apenas alguns dos assuntos abordados pela historiadora Anita Lucchesi e pelo historiador Jurandir Malerba. Ambos abordam, sob a ótica da História Digital e da História Pública, como o ciberespaço está trazendo uma série de problematizações quanto ao papel do historiador, a atuação do grande público na produção historiográfica, entre outras questões.
Tratando especificamente de cada abordagem, na entrevista com Anita Lucchesi, intitulada “História Digital”, a historiadora apresenta de maneira sucinta o que ela entende por História Digital e História Pública. Uma vez que busca aplicar estes dois campos a seu atual projeto de pesquisa, em sua fala a historiadora consegue apresentar, de forma objetiva, as principais propostas e polêmicas que circundam estas propostas. 
Um dos momentos que chamam a atenção em sua entrevista, é a sua defesa por uma História que efetivamente se abra para a interdisciplinaridade. O profissional de História, para Lucchesi, ainda está acomodada em utilizar apenas as “ciências vizinhas” – Antropologia; Sociologia; por vezes a Linguística – e vem negligenciando o importante papel que as Ciências Aplicadas podem proporcionar ao ofício do historiador, tendo em vista as novas demandas.
Seguindo uma linha próxima, o recente artigo de Jurandir Malerba focaliza suas discussões em três questões básicas: as mudanças que o tripé “Historiador / historiografia / Público” – produtor / produto / consumidor – vem sofrendo nos últimos anos; qual o papel da internet nestas transformações; e a necessidade de se discutir o papel do historiador e seu campo de atuação.
O autor realiza um panorama, expondo que, com o objetivo de se reafirmar como uma ciência, a História tentou se aproximar da “dureza” das Ciências Naturais. Logo, passou por um processo de distanciamento do grande público, onde o historiador colocou-se numa “Torre de Marfim”, voltando-se apenas para os seus pares, negligenciando a sociedade. Considerando que este cenário reverbera desde o século XIX, a Era Digital só trouxe ainda mais luz a este debate, uma vez que a partir do momento que o público “leigo” passou a “produzir” sua História, parte da academia tenta retirar a legitimidade desta produção.
Isto nos leva a apresentar brevemente o que seria a História Digital e a História Pública. Utilizando a fala de Lucchesi, a História Digital refere-se a presença e o uso de diferentes elementos históricos sob as plataformas online. Como exemplo, podemos apontar o uso de TIC’s – Novas Tecnologias de Informação – no trato com as fontes, a escrita historiográfica e a própria divulgação de material.
Enquanto isso, a História Pública, segundo Malerba, surgiu na década de 1970 com o objetivo de dar voz as pessoas comuns no campo da historiografia, isto é, transformar o grande público em potenciais autores da História. Entretanto, dos anos 1970 para os dias atuais, diversas foram as polêmicas quanto a essa proposta, e é notório a heterogeneidade nas tentativas de conceitua-la. [1: MALERBA, 2017, pg 142.]
Com a Era Digital, o debate se intensificou, seja pela produção historiográfica que hoje não se restringe apenas a Academia, mas a crescente proporção de “consumidores” da História, que podem ser diagnosticados facilmente em uma infinidade de páginas nas redes sociais, que de maneira informal apresentam fatos, curiosidades, fotografias de acontecimentos marcantes, e assim por diante.
Na tentativa de conceituar este campo, Anita Lucchesi aponta que a História Pública, acima de tudo, é um mecanismo que objetiva divulgar a História para além dos muros da academia. Ao mesmo tempo, deseja-se compartilhar a “autoridade” da construção historiográfica com o público em geral. Segundo a historiadora, “(...) todos podem lidar com a História, possuem uma História e tem autoridade sobre ela”.
Do mesmo modo, Malerba afirma que a suposto discurso de autoridade que os acadêmicos tentavam, de diversas maneiras, isolar o conhecimento histórico, não se adequa mais a realidade social que integra o ciberespaço. A web vem se moldando como um espaço imune a esse discurso de autoridade, onde todos têm direito e espaço de fala. Com isso, o historiador precisa aceitar e negociar junto a essa nova perspectiva.[2: MALERBA, 2017. p.144.]
Este cenário nos faz refletir sobre o papel do historiador na contemporaneidade. Jurandir Malerba salienta que, tão importante quanto as discussões sobre “quem deve produzir a História”, nosso campo também deve refletir as “mudanças de paradigma” das últimas décadas, em que saímos de um contexto de escassez para uma era de extrema abundância de informações e fontes. Como também aponta Lucchesi, como o historiador lidará com a era das mensagens instantâneas, das postagens, e de inúmeros outros dados produzidos sobre/ e pelo indivíduo desde o seu nascimento? 
Outro ponto crítico desse debate diz respeito as dificuldades que os historiadores enfrentam para dialogar com o público. Utilizando um exemplo brasileiro, a alguns anos, uma das grandes polêmicas do plano historiográfico foi o estrondoso sucesso das obras de cunho histórico produzidas pelo jornalista Laurentino Gomes. Seguindo pelo mesmo viés, hoje nos deparamos com diversas páginas online, que tratam do campo da História, que são administradas por profissionais de outras áreas. Jurandir Malerba aponta que o público “leigo” deixou de ser mero receptor de conteúdo, e hoje o ciberespaço encontra-se repleto de trabalhos de História produzidos por administradores, jornalistas, ou sujeitos que, mesmo não possuindo nenhuma formação, acreditam estar aptos a tecer pesquisas e publicar seus resultados.[3: São estas: 1808 (2007); 1822 (2010); e 1889 (2013).]
 A partir deste quadro, algumas questões vêm a tona: tais produções perdem a sua legitimidade por não terem sido frutos de dentro do ambiente acadêmico? Por que os historiadores têm dificuldade em ocupar o espaço de grandes divulgadores da História? Como o historiador deve lidar com estes novos rumos da história e seu contato com o público?
Utilizando mais uma vez a fala de Lucchesi, na atualidade o historiador precisa assumir o papel de mediador. As comunidades e os indivíduos podem tecer sua face da História. Entretanto a presença do profissional de história, seja no campo da pesquisa, ou do ensino, é essencial, uma vez que tem os domínios metodológico, conhecendo as “ferramentas” para se construir o conhecimento histórico.
	Em suma, tanto a historiadora Anita Lucchesi, como o historiador Jurandir Malerba, estão alinhados quanto as preocupações e os questionamentos quanto aos rumos que a História como disciplina e o ofício do Historiador irão trilhar na na Digital. Por isso, é mais que importante realizarmos esse exercício de reflexão quanto ao nosso papel junto ao público, e de que formas poderemos estabelecer linhas de comunicação diretas com a sociedade.

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