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SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 1 3.3 Identidade A noção de identidade é um processo contínuo de elaboração de um conceito estável de si mesmo como indivíduo e adoção de um sistema de valores que promo- ve um senso de direção. É um processo no qual se forma a autoimagem, a integra- ção das ideias sobre si e sobre o que os outros pensam de você. Um dos compo- nentes que promove a elaboração da identidade do individuo é o processo de identi- ficação com o outro ou com modelos de referência. Seu desenvolvimento envolveria busca por autoafirmação, papéis e inser- ções nas estruturas sociais, formando-se princípios e valores orientadores de condu- ta, resultando, em geral, numa afirmação pessoal e social, de que se é alguém, e de que se ocupa um lugar no mundo. A noção de identidade cultu- ral implica também, na construção de um senso de direção, de uma estru- tura psicológica e emocional que possa promover certa noção de equi- líbrio de atitudes, valores e princípios norteadores para que o indivíduo consiga assumir a vida adulta e soci- al, que lhe é pedida pelo desenvolvi- mento físico, psicológico e social a que todos estão sujeitos, elaborando um quadro psicológico diante de si, do mundo e dos outros. Para Ciampa a principal motivação do consumidor é a busca de uma identi- dade própria, pois consumindo é que adquire uma identidade, a sua forma de intera- gir com o mundo está ligada a sua auto identidade, como ele se vê e como os outros o vem, realizando uma troca de identidades. A busca pela satisfação, não deixa es- paço para a reflexão, o que leva a uma desconstrução, fragmentação do sujeito e uma perda de referências. Aula 21 SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 2 A lógica capitalista busca igualar a todos. A mesma lógica se perpetua para o resto: “se você é pobre é porque não trabalha o suficiente”. Com isso a indústria cul- tural promove, segundo Adorno e Horkheimer, a “homogeneização das consciên- cias”. Isso faz com que os sujeitos passem a se esforçar e trabalhar mais, atenden- do assim, a necessidade do sistema, e o sistema se utiliza do homem para circular mercadoria. Não existe nenhuma tecnologia criada para o benefício do homem, ela existe para atender as necessidades do sistema. E é este pretenso caráter de neu- tralidade, que permite e reforça a ideologia. Os meios de transporte e comunicação em massa, as mercadorias, casa, ali- mento, roupa, a produção irresistível da indústria de diversão e informação, trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, certas reações intelectuais e emocionais, que prendem os consumidores aos produtos. Os produtos doutrinam, manipulam, pro- movem uma falsa consciência. Estando tais produtos à disposição de maior número de indivíduos e classes sociais, a doutrinação deixa de ser publicidade para tornar- se um estilo de vida (MARCUSE, 1982, p.31 e 32). O fetiche é criado pela própria mercadoria com seu poder de sedução, na qual ela trará prazer e satisfação, que gera uma necessidade no indivíduo mesmo que esta não exista. Mas isso não se dá de forma inconsciente, pois o indivíduo quer fazer parte da massa, ele precisa ter e consumir aquilo que os outros têm e consomem para tentar se igualar ao outro, e esse comportamento é captado pelo mar- keting para manipular o desejo do indivíduo. A in- SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 3 dústria cultural obtém assim, uma homogeneização dos comportamentos, e a massi- ficação do sujeito. Poder comprar é o que classifica o sujeito a um determinado grupo social, ge- rando um desejo enorme de se ter para poder ter uma identidade parecida com o outro, o qual é motivo de inveja. Se antes valorizava o SER, hoje valoriza o TER (BAUDRELLARD, 1995). Para Marcuse, a dominação funciona como administração total das necessi- dades e prazeres, escravizando o homem no trabalho e no lazer, preenchendo o tempo livre dos indivíduos com programações dirigidas, fabricando uma humanidade apta a consumir objetos inúteis, cuja obsolescência fora desejada. (apud, NAZÁ- RIO, 1998, p.84). As pessoas querem CONSUMIR estilos de vida, em busca da satisfação desejada frente à frustrante realidade. Estilo de vida pode ser defini- do como mais ou menos uma série de práticas, da qual os indivíduos abraçam, não apenas por satis- fazerem necessidades úteis, mas porque elas dão forma material para uma narrativa particular de auto identidade. São práticas rotineiras, as rotinas incorporadas aos hábitos de vestir, comer e mo- dos de agir. A gama de informações e pressões a que estão submetidas as pessoas inse- ridas na faixa dos que são capazes de consumir, é enorme. Isso causa não só uma angústia, por maquiar um perfil a ser aceito socialmente, mas denuncia o vazio ao qual estão submetidos, haja vista o processo de anulação dos quais muitos se re- vestem em prol de uma aceitação social. A sociedade contemporânea, diluída e efêmera, constrói padrões de aceitabilidade social que conflitam com o perfil almeja- do por muitos indivíduos. Comentando sobre a cultura do consumo, as pessoas gas- tam um dinheiro que não possuem, para comprar coisas que não necessitam, para impressionar pessoas que não conhecem. SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 4 3.4 Mídia, comportamento e identidade Vimos que o marketing não “cria” o desejo de consumo, concordando com a posição de KELLNER (2001) que entende que nem sempre a mídia atinge seu ob- jetivo de manipulação, e que não se pode atribuir a mídia tamanho poder de deter- minação, pois “o público pode resistir aos significados e mensagens dominantes, criar sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se” (2001, p.11) dos produ- tos midiáticos. Segundo este autor a mesma mídia oferece os instrumentais, para que o sujeito se opo- nha aos modelos hegemônicos. O sujeito não obe- dece a normas rígidas de consumo, pois obedece a impulsos de ordem “individual e intersubjetiva”. O poder da mídia reside em centralizar informação, entretenimento e negócios em um único espetáculo, que através do marketing e da propaganda serve para disseminar tendências, estilo e comportamento. No que tange a origem do consumo, havíamos partido da leitura marxista de que com o advento da Revolução Industrial, o aumento da oferta e o barateamento dos produtos, propiciou um aumento no consumo, ou seja, a mercadoria gerando a necessidade de nova mercadoria, num ciclo vicioso que alimenta o capital. No entanto, segundo a pesquisadora TASCHNER (1997) o consumo de bens supérfluos tem sua origem nas cortes europeias, tendo início na Idade Média e seu apogeu no Absolutismo (Sec. XIV à XVII). “É o padrão de consu- mo desenvolvido por esse segmento - que depois se populariza através de um pro- cesso de mudanças promovidas pelas camadas sociais que se situam mais abaixo dele - que parece estar na base da cultura do consumidor.” (p. 08). Este consumo vem em substituição aos troféus e títulos de nobreza, servindo para diferenciar o seu possuidor dos demais e desta forma, chamar a atenção do rei, o que pode ser tradu- zido como símbolo de prestígio. Aula 22 SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEADProf. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 5 “Uma vez admitido no círculo encantado da corte, um nobre teria de gastar ru- inosamente para permanecer lá. Ele precisava de roupas bordadas com fios de ouro e prata e de joias brilhantes para usar nos bailes; um estábulo para cavalos e uma matilha de cães de caça; carruagens com interior de veludo e painéis pintados para que pudesse acompanhar o rei em migrações para outros palácios; casas e mobília adequadas para que ele pudesse oferecer jantares e festas dançantes para a corte; e dúzias de valets e empregados para tornar todo o resto possível. Com raras exce- ções os cortesãos contraíam dívidas imensas... [e então] dirigiam-se ao monarca para obter ajuda financeira” (p. 20/21). Sendo assim, a cultura do consumo se dá a partir do momento em que não os bens, mas a imagem desses bens se torna acessível a todos na sociedade. Temos então, que “os homens preocupam-se em manter ou construir certa imagem”. Formar, nos outros, uma representação de si. (...). Daí a necessidade de uma identidade mediadora que nos permita comunicar quem somos. Que garanta a ilusão de um ser imutável e conhecível. (MEUCCI, p. 1), esta identidade mediadora, é feita através do consumo. Sendo assim, concluímos que a formação da identidade do sujeito, não se dá através do consumo, mas é através dele que o sujeito constrói a sua identidade vir- tual, a forma com que se apresenta e quer ser reconhecido, que segundo Goffman, esconde as marcas de suas vulnerabilidades. SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 6 1) Considere o trecho a seguir: “nesta sociedade o que se configura determinante para a existência do homem, é sua imagem. Passado por um processo socio- histórico, o homem, com a invenção de tantos recursos visuais se tornou um ser de aparências, no qual a visibilidade dá ao indivíduo o certificado de que o mesmo existe”. A consideração acima seria proporcionada: assinale a alternativa CORRETA: a) Pelo acesso dos indivíduos aos meios tecnológicos. b) Pelo acesso dos indivíduos ao processo de globalização. c) Pelo acesso dos indivíduos à educação. d) Pelo mecanismo da mídia. 2) Atente para a citação a seguir: “a principal motivação do consumidor é a busca de uma identidade própria, pois consumindo é que adquire uma identidade, a sua forma de interagir com o mundo está ligada a sua auto-identidade, como ele se vê e como os outros o veem, realizando uma troca de identidades”. (CIAMPA, 1984, p. 58). A afirmativa acima situa um novo conceito de identidade diferente das noções de raízes culturais e da tradição. Este conceito se baseia: assinale a formulação IN- CORRETA. a) Na imagem do indivíduo enquanto consumista. b) Na qualidade dos produtos e das marcas que o indivíduo tenha consumido. c) No valor cultural que o indivíduo tenha construído ao longo da sua trajetória histórica. d) Na forma de apresentação da sua imagem dentro da sociedade. SOCIOANTROPOLOGIA UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA – NEAD Prof. Cláudio Soares Barros: claudiobarros0108@gmail.com Página 7 3) Diversos fatores colaboram para aumentar a violência, tais como a urbanização acelerada, que traz um grande fluxo de pessoas para as áreas urbanas e assim contribui para um crescimento desordenado e desorganizado das cidades. Além desses elementos relacionados acima como promotores da violência urbana podemos citar como fator eminentemente atual: assinale a alternativa CORRETA. a) A falta de oportunidades de acesso à educação básica. b) As fortes aspirações ao consumismo, em parte frustradas pelas dificuldades de inserção no mercado de trabalho. c) A restrição ao acesso às tecnologias de informação. d) Ao descaso das autoridades políticas em relação às populações mais carentes
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