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TEORIA GERAL DO DIREITO AGRÁRIO AULA 1 – INTRODUÇÃO: CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO 1. DENOMINAÇÃO a. Direito agrário: substantivo referente à produção/exploração do campo (conceito dinâmico) b. Direito rural: substantivo referente ao terreno que se situa distante da urbs, pouco importando sua destinação (conceito estático) 2. CONTEXTO HISTÓRICO Impulso do homem de retirar da terra os alimentos necessários à sobrevivência Contornos nitidamente sociais: proteger o homem do campo em detrimento do proprietário rural Necessidade de criação de normas reguladoras das relações entre o homem do campo e o proprietário rural 2.1. BRASIL a. Emenda Constitucional nº 10, 10/11/1964: competência da União para legislar sobre direito agrário b. Lei Federal nº 4.504, de 30/11/1964 = Estatuto da Terra, também conhecido como Código Agrário c. Fontes normativas: Arts. 184 a 191, CF/88; Lei nº 4.504/64 = Estatuto da Terra; Decreto nº 59.566/66 = Contratos Agrários; Lei nº 6.969/81 = Usucapião Especial Agrária; Lei nº 8.171/91 = Política Agrícola; Lei nº 8.629/93 = Lei da Reforma Agrária; Lei Complementar nº 76/93 = Desapropriação; Lei nº 13.288/16 = Contratos de Integração. 3. CONCEITO a. Paulo Torminn Borges: Direito agrário é o conjunto sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade b. Octávio Mello Alvarenga: Direito agrário é o ramo da ciência jurídica, composto de normas imperativas e supletivas que regem as relações emergentes da atividade do homem sobre a terra, observados os princípios de produtividade e justiça social c. Christiano Cassetari: Direito agrário é o conjunto de princípios e normas de direito público e de direito privado que visa disciplinar as relações emergentes da atividade agrária, com base na função social da propriedade 3.1. IDEIAS PRINCIPAIS DOS CONCEITOS Relação homem-terra Produtividade e justiça social Progresso social e econômico Função social (exploração agrária com a conservação dos recursos naturais) 3.2. ANÁLISE DO CONCEITO DE CASSETARI Direito agrário é o conjunto de princípios e normas de direito público e de direito privado que visa disciplinar as relações emergentes da atividade agrária, com base na função social da propriedade. 3.2.1. AUTONOMIA a. Autonomia legislativa: leis específicas (ex.: Estatuto da Terra; LC nº 76/93 e Lei nº 8.629/93) a.1. Fundamentos constitucionais: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar (Grifo nosso) b. Autonomia científica: institutos próprios do Direito Agrário (ex.: ITR, contratos agrários, desapropriação para fins e reforma agrária) b.1. Objeto de estudo Atividade agrária vista como o resultado da atuação humana sobre a natureza Atividade agrária = ação humana na natureza visando ao processo produtivo b.2. Modalidades de atividade agrária Formas típicas de exploração rural: o Lavoura temporária (arroz, milho, feijão) e lavoura permanente (café, abacate, cacau) o Pecuária de pequeno porte (aves domésticas, abelhas), médio porte (suínos, ovinos) e grande porte (bovinos, equinos) o Extrativismo vegetal (castanha, açaí, babaçu) e animal (caça e pesca) o Hortigranjeira (pequenas glebas: hortaliças, frutas e verduras) Forma atípica de exploração rural: o Agroindústria: processo industrializante desenvolvido nos mesmos limites territoriais em que são obtidos os produtos primários (ex.: produção de rapadura, farinha de mandioca) Atividade complementar de exploração rural: o Transporte e comercialização dos produtos diretamente do estabelecimento rural e pelo próprio produtor (não é pacífica essa classificação na doutrina) c. Autonomia jurisdicional: art. 126, CF, porém há poucas varas especializadas em Direito Agrário (ex.: MT, AM, PA) c.1. Fundamento constitucional: Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias. (EC nº 45/2004) Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio. (Grifo nosso) Conflitos fundiários = natureza contratual = Justiça Estadual Demais matérias = Justiça Federal 3.2.2. DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO Existência de institutos tanto de direito público quanto de direito privado 3.2.3. ATIVIDADE AGRÁRIA Segurança alimentar: decorre da estabilidade do país no setor de produção de alimentos para a população, sem ter necessidade de importar, protegendo assim a agricultura nacional 3.2.4. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE É a ideia de função social que faz do imóvel um bem de produção de alimentos e matéria- prima Estatuto da Terra: primeiro diploma legal a usar a expressão “função social da propriedade” a. Fundamento constitucional: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; (produção) II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; (ecologia) III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; (elemento social) IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (bem estar) (Grifo nosso) a.1. Da produção Disciplinada no art. 6º, da Lei nº 8.629/93 (Lei da Reforma Agrária): Art. 6º. Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. § 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. (Grifo nosso) Observações: (1) Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploraçãoexigidos para a espécie; (2) São garantidos os incentivos fiscais referentes ao imposto territorial rural (ITR) relacionados aos graus de utilização e de eficiência na exploração, conforme o art. 49, do Estatuto da Terra. a.2. Da ecologia Está ligada à preservação do meio ambiente, à manutenção das características próprias do meio natural e da quantidade de recursos ambientais, e, ao mesmo tempo, à manutenção e equilíbrio ecológico da propriedade, da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas a.3. Do elemento social Faz com que a produção respeite as relações de trabalho (pagamento de salário condizente, férias, 13º salário, registro em CTPS) A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica o respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho e às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento e parcerias rurais a.4. Do bem-estar Relação entre empregado e empregador deve ter como objetivos: o O atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra; o A observância das normas de segurança do trabalho; o A não provocação de conflitos e tensões social no imóvel. AULA 2 – CONTRATOS AGRÁRIOS 1. CONCEITO Todas as formas de acordo de vontade que se celebrem, conforme a lei, para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos vinculados à produtividade da terra 2. PRINCÍPIOS a. Liberdade contratual Art. 421, CC. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. (Grifo nosso) A função social dos contratos está relacionada à função social da propriedade e depende dos seguintes elementos: o Conservação dos recursos naturais (meio ambiente ecologicamente equilibrado); o Proteção do contratante hipossuficiente (o contrato é interpretado em favor do mais fraco); o Prazo mínimo de 3 anos (espaço de tempo suficiente para vingar a atividade rural, gerar riqueza); o Proibição de serviços gratuitos (tem que ser remunerada essa contraprestação para evitar condição análoga de escravo). b. Boa-fé objetiva Não aparece expressamente no Estatuto da Terra, mas é presumida Conceito ético (comportamento dos contratantes) Orienta a conduta em benefício da sociedade, não das partes (é necessário provar a má-fé) c. Informalismo contratual Não há forma definida em lei para os contratos agrários (prevalece a realidade rural) Segundo o Estatuto da Terra: Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa, nos termos desta Lei. § 8º Para prova dos contratos previstos neste artigo, será permitida a produção de testemunhas. A ausência de contrato não poderá elidir a aplicação dos princípios estabelecidos neste Capítulo e nas normas regulamentares. (Grifo nosso) Meios de prova: o Presunção da boa-fé; o Observância da lei sobre o tema; o Prova testemunhal, independentemente do valor do contrato. 3. CONTRATOS ESCRITOS Decreto nº 59.566/66: Art. 12. Os contratos escritos deverão conter as seguintes indicações: I - Lugar e data da assinatura do contrato; II - Nome completo e endereço dos contratantes; III - Características do arrendador ou do parceiro-outorgante (espécie, capital registrado e data da constituição, se pessoa jurídica, e, tipo e número de registro do documento de identidade, nacionalidade e estado civil, se pessoa física e sua qualidade (proprietário, usufrutuário, usuário ou possuidor); IV - característica do arrendatário ou do parceiro-outorgado (pessoa física ou conjunto família); V - objeto do contrato (arrendamento ou parceria), tipo de atividade de exploração e destinação do imóvel ou dos bens; VI - Identificação do imóvel e número do seu registro no Cadastro de imóveis rurais do IBRA (constante do Recibo de Entrega da Declaração, do Certificado de Cadastro e do Recibo do Imposto Territorial Rural). VII - Descrição da gleba (localização no imóvel, limites e confrontações e área em hectares e fração), enumeração das benfeitorias (inclusive edificações e instalações), dos equipamentos especiais, dos veículos, máquinas, implementos e animais de trabalho e, ainda, dos demais bens e ou facilidades com que concorre o arrendador ou o parceiro-outorgante; VIII - Prazo de duração, preço do arrendamento ou condições de partilha dos frutos, produtos ou lucros havidos, com expressa menção dos modos, formas e épocas dêsse pagamento ou partilha; IX - Cláusulas obrigatórias com as condições enumeradas no art. 13 do presente Regulamento, nos arts. 93 a 96 do Estatuto da Terra e no art. 13 da Lei 4.947-66; X - foro do contrato; XI - assinatura dos contratantes ou de pessoa a seu rogo e de 4 (quatro) testemunhas idôneas, se analfabetos ou não poderem assinar. Parágrafo único. As partes poderão ajustar outras estipulações que julguem convenientes aos seus interesses, desde que não infrinjam o Estatuto da Terra, a Lei nº 4.947-66 e o presente Regulamento. Estatuto da Terra: Art. 93. Ao proprietário é vedado exigir do arrendatário ou do parceiro: I - prestação de serviço gratuito; II - exclusividade da venda da colheita; III - obrigatoriedade do beneficiamento da produção em seu estabelecimento; IV - obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em seus armazéns ou barracões; V - aceitação de pagamento em “ordens”, “vales”, “borós” ou outras formas regionais substitutivas da moeda. Parágrafo único. Ao proprietário que houver financiado o arrendatário ou parceiro, por inexistência de financiamento direto, será facultado exigir a venda da colheita até o limite do financiamento concedido, observados os níveis de preços do mercado local. Art. 94. É vedado contrato de arrendamento ou parceria na exploração de terras de propriedade pública, ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. Excepcionalmente, poderão ser arrendadas ou dadas em parceria terras de propriedade púbica, quando: a) razões de segurança nacional o determinarem; b) áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de implantação, forem organizadas para fins de demonstração; c) forem motivo de posse pacífica e a justo título, reconhecida pelo Poder Público, antes da vigência desta Lei. Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-se-ão os seguintes princípios: I - os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua ultimação; II - presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o arrendamento por tempo indeterminado, observada a regra do item anterior; III - o arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos frutos não possam ser recolhidos antes de terminado o prazo de arrendamento, deverá ajustar, previamente, com o arrendador a forma de pagamento do uso da terra por esse prazo excedente; IV - em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário, até 6 (seis) meses antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação extrajudicial das propostas existentes. Não se verificando a notificação extrajudicial, o contrato considera-se automaticamente renovado, desde que o arrendador, nos 30 (trinta) dias seguintes, não manifestesua desistência ou formule nova proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no competente Registro de Títulos e Documentos; V - os direitos assegurados no inciso IV do caput deste artigo não prevalecerão se, no prazo de 6 (seis) meses antes do vencimento do contrato, o proprietário, por via de notificação extrajudicial, declarar sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou por intermédio de descendente seu; VI - sem expresso consentimento do proprietário é vedado o subarrendamento; VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário, cláusula que permita a substituição de área arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural, desde que respeitadas as condições de arrendamento e os direitos do arrendatário; VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis; será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo proprietário do solo; e, enquanto o arrendatário não for indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gozo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de arrendamento e das disposições do inciso I deste artigo; IX - constando do contrato de arrendamento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja forma de restituição não tenha sido expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou rescindido o contrato, a restituí-los em igual número, espécie e valor; X - o arrendatário não responderá por qualquer deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa; XI - na regulamentação desta Lei, serão complementadas as seguintes condições que, obrigatoriamente, constarão dos contratos de arrendamento: a) limites da remuneração e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente em produtos; b) prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência para os vários tipos de atividades agrícolas; c) bases para as renovações convencionadas; d) formas de extinção ou rescisão; e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias realizadas. XII - a remuneração do arrendamento, sob qualquer forma de pagamento, não poderá ser superior a 15% (quinze por cento) do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que entrarem na composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em glebas selecionadas para fins de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que a remuneração poderá ir até o limite de 30% (trinta por cento) Art. 95-A. Fica instituído o Programa de Arrendamento Rural, destinado ao atendimento complementar de acesso à terra por parte dos trabalhadores rurais qualificados para participar do Programa Nacional de Reforma Agrária, na forma estabelecida em regulamento. Parágrafo único. Os imóveis que integrarem o Programa de Arrendamento Rural não serão objeto de desapropriação para fins de reforma agrária enquanto se mantiverem arrendados, desde que atendam aos requisitos estabelecidos em regulamento. (Grifo nosso) Lei nº 4.947/66: Art. 13. Os contratos agrários regulam-se pelos princípios gerais que regem os contratos de Direito comum, no que concerne ao acordo de vontade e ao objeto, observados os seguintes preceitos de Direito Agrário: I - artigos 92, 93 e 94 da Lei n º 4.504, de 30 de novembro de 1964, quanto ao uso ou posse temporária da terra; II - artigos 95 e 96 da mesma Lei, no tocante ao arrendamento rural e à parceria agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa; III - obrigatoriedade de cláusulas irrevogáveis, estabelecidas pelo IBRA, que visem à conservação de recursos naturais; IV - proibição de renúncia, por parte do arrendatário ou do parceiro não-proprietário, de direitos ou vantagens estabelecidas em leis ou regulamentos; V - proteção social e econômica aos arrendatários cultivadores diretos e pessoais. § 1º O disposto neste artigo aplicar-se-á a todos os contratos pertinentes ao Direito Agrário e informará a regulamentação do Capítulo IV do Título III da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. § 2º Os órgãos oficiais de assistência técnica e creditícia darão prioridade aos contratos agrários que obedecerem ao disposto neste artigo. a. Características: Consensual; Bilateral; Oneroso; Comutativo; Trato sucessivo (prestações continuadas no tempo). b. Modalidades: Nominados ou típicos: arrendamento, parceria e integração agroindustrial; Inominados ou atípicos: empreitada agrícola, pastoreio e compáscuo (não há regras definidas em lei, mas obedecem aos arts. 38 e 39, do Decreto nº 59.566/66) c. Prorrogação A renovação dos contratos agrários pode ser feita independentemente de manifestação expressa das partes. Para que ocorra a renovação, findo o prazo inicial do contrato sem qualquer objeção do proprietário, será fixado novo prazo de 03 anos. Após essa prorrogação inicial, o proprietário pode denunciar o contrato com antecedência mínima de 06 meses. O prazo é de 06 meses para denunciar porque a atividade é demorada, a exemplo da colheita de safra. d. Término do contrato É possível ao proprietário (arrendatário ou parceiro outorgado) evitar a renovação automática decorrente de lei do contrato por meio de notificação à outra parte entre o 5º e o 6º mês antes do término do contrato e. Direito de preferência Tanto o arrendatário quanto o parceiro outorgado têm o direito de preferência na aquisição do imóvel A notificação deve ser dada com 06 meses de antecedência e o parceiro tem 30 dias para se manifestar (o silêncio significa recusa) f. Causas de extinção do contrato f.1. Retomada do imóvel Ocorre quando o próprio arrendador ou parceiro outorgante, inclusive seus descendentes, desejam desenvolver atividade agrícola no imóvel A notificação deve ser feita até 06 meses antes do término do contrato f.2. Confusão Ocorre quando credor e devedor passam a ser a mesma pessoa (ex.: arrendatário que comprou o imóvel do arrendador) f.3. Distrato Ocorre com o cumprimento da prestação (forma natural da solução do contrato) f.4. Perda do imóvel rural f.5. Desapropriação para fins de reforma agrária Quando há desapropriação, os arrendatários e parceiros podem passar a condição de proprietários. Isso porque, na 3ª fase de distribuição da terra, pode ser dada ao arrendatário e ao parceiro AULA 3 – CONTRATO DE ARRENDAMENTO 1. CONCEITOS a. Arrendamento rural: é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo ou não outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei (Art. 3º, caput, Dec. nº 59.566/66, grifo nosso) b. Subarrendamento: é o contrato pelo qual o arrendatário transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de arrendamento. É necessário consentimento expresso do arrendador (Art. 31, caput, Dec. nº 59.566/66) c. Partes c.1. Arrendador Aquele que cede o imóvel rural ou o aluga c.2. Arrendatário A pessoa ou conjunto familiar, representado pelo seu chefe que recebe o imóvel ou toma por aluguel 2. LIMITE DO PREÇO (ART. 95, XII, ESTATUTO DA TERRA) 3. PRAZOS MÍNIMOS DO ARRENDAMENTO Os contratos de arrendamento rural são regidos por normas de caráter público e social, de observação obrigatória e irrenunciáveis REsp nº 1.339.432/MS, Min. Luis Felipe Salomão (16/04/2013):O prazo mínimo do contrato de arrendamento é um direito irrenunciável que não pode ser afastado pela vontade das partes sob pena de nulidade. 3.1. ART. 13, II, “A”, DEC. Nº 59.566/66 a. 03 anos: atividade de exploração de lavoura temporária ou de pecuária de pequeno e médio porte b. 05 anos: atividade de exploração de lavoura permanente ou de pecuária de grande porte para cria, recria e engorda ou extração de matérias-primas de origem animal c. 07 anos: atividade de exploração florestal 3.2. CONTROVÉRSIA JURISPRUDENCIAL a. Quarta Turma Cível do STJ: os prazos mínimos dispostos no dispositivo supramencionado não extrapolam os limites do Estatuto da Terra, haja vista que a ele incumbia fixar os prazos vistos a serem observados nos contratos (REsp nº 195.177, Min. Rel. Ruy Rosado) b. Terceira Turma Cível do STJ: os prazos mínimos legais fixados naquele Decreto podem ser afastados pela convenção ESTATUTO DA TERRA – CONTRATOS AGRÍCOLAS – PRAZO MÍNIMO. Nos contratos agrícolas, o prazo legal mínimo pode ser afastado pela convenção das partes. Decreto regulamentador não pode limitar, onde a Lei não o fez. O art. 13, II, a, do Dec. 59.566/66 não se afina com art. 96 da Lei 4.504/64 (REsp nº 806.094/SP, Min. Humberto Gomes de Barros, 18/12/2006) 3.3. PRORROGAÇÃO DO PRAZO Em caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, esses prazos ficarão automaticamente prorrogados até o final da colheita 4. DIREITO DE PREFERÊNCIA Estatuto da Terra: Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa, nos termos desta Lei. § 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri- lo em igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou comprovadamente efetuada, mediante recibo. § 4° O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de alienação no Registro de Imóveis. (Grifo nosso) 5. BENFEITORIAS Para o Direito Agrário, o conceito de benfeitorias é mais amplo do que aquele conhecido do Direito Civil, pois abarca obras consideradas verdadeiras acessões Decreto nº 84.685/80: Art. 6º. Para os efeitos deste Decreto, constitui área aproveitável do imóvel rural a quer for passível de exploração agrícola, pecuária ou florestal, não se considerando aproveitável: a) área ocupada por benfeitorias; b) a área ocupada por floresta ou mata de efetiva preservação permanente, ou reflorestada com essenciais nativas; c) a área comprovadamente imprestável para qualquer exploração agrícola, pecuária ou florestal. § 1º Consideram-se benfeitorias as casas de moradia, galpões, banheiros para gado, valas, silos, currais, açudes, estradas de acesso e quaisquer edificações para instalações do beneficiamento, industrialização, educação ou lazer. 5.1. ESPÉCIES DE BENFEITORIAS Decreto nº 59.566/66: Art. 24. As benfeitorias que forem realizadas no imóvel rural objeto de arrendamento, podem ser voluptuárias úteis e necessárias, assim conceituadas: I - voluptuárias, as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do imóvel rural, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor; II - úteis, as que aumentam ou facilitam o uso do imóvel rural; e III - necessárias, as que tem por fim conservar o imóvel rural ou evitar que se deteriore e as que decorram do cumprimento das normas estabelecidas neste Regulamento para a conservação de recursos naturais. Art. 25. O arrendatário, no término do contrato, terá direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Quanto às voluptuárias, somente será indenizado se sua construção for expressamente autorizada pelo arrendador. § 1º Enquanto o arrendatário não for indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá reter o imóvel em seu poder, no uso e gozo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de arrendamento. (Direito de retenção) § 2º Quando as benfeitorias necessárias ou úteis forem feitas às expensas do arrendador dando lugar a aumento nos rendimentos da gleba, terá ele direito a uma elevação proporcional da renda, e não serão indenizáveis ao fim do contrato, salvo estipulação em contrário. (Grifo nosso) 6. PERGUNTA Se o arrendatário tiver iniciado uma nova lavoura o mesmo imóvel, durante a retenção, por exemplo, deverá abandoná-la quando a indenização for paga pelo arrendador ou terá direito de ficar até a ultimação da colheita, considerando-se que este é também um direito irrenunciável previsto na regulamentação? Resposta: Em face da omissão da lei, deduz-se que a solução mais prática seja a composição em perdas e danos a favor do arrendatário, não sua permanência no imóvel até a colheita, pois a relação contratual já teria sido extinta subjacentemente. A retenção teria sido apenas um incidente no momento da restituição do imóvel ao arrendador. A retenção, no caso, parece ter a mesma natureza da prorrogação (que não se confunda com a renovação), na medida em que ela se presta apenas para a ultimação da colheita quando não for possível no prazo do contrato (art. 21, § 1º, Dec. 59.566/66). Ademais, caso fosse permitida a colheita de mais de uma safra na hipótese figurada, o contrato estaria renovado e, então, ter-se-ia de obedecer ao prazo mínimo de 03 anos. 7. HIPÓTESES DE ALIENAÇÃO DO IMÓVEL a. Direito de preferência do arrendatário em igualdade de condições com terceiros b. mesmo sendo notificado para exercer seu direito, se o arrendatário não adquirir, o contrato não será desfeito, subsistindo até seu final ou a ultimação da colheita 8. ARRENDAMENTO POR ESTRANGEIRO a. Fundamento legal: Art. 190, CF. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional. Art. 1º, Lei nº 5.709/71. O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil só poderão adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei. b. Pessoa física (art. 3º, da Lei nº 5.709/71) Limite de 50 módulos de exploração indefinida, em área contínua ou descontínua o Abaixo de 3 módulos: independe de autorização ou licença o Entre 3 e 50 módulos de exploração indefinida: cabe ao INCRA o controle e a expedição de autorização para o arrendamento o Acima de 50 módulos: é possível, desde que mediante autorização do Congresso Nacional = é exceção! (Art. 5º, Instrução Normativa do INCRA nº 70/2011) Módulo de exploração indefinida (MEI): unidade de medida, expressa em hectares, a partir do conceito de módulo rural, para o imóvel com exploração não definida. A dimensão do MEI varia entre 5 e 100 hectares, de acordo com a Zona Típica de Módulo (ZTM) do município de localização do imóvel rural. c. Pessoa jurídica (art. 5º, da Lei nº 5.709/71) Limite de 100 módulos (Parecer CGU/AGU nº 01/2008-RVJ) o Imóveis rurais destinados à implantação de projetos agrícolas, pecuários, industriais ou de colonização, vinculados aos seus objetivos estatutários (projetos = dependem de aprovação do Ministério da Agricultura, ouvido o órgão federal competente de desenvolvimentoregional na respectiva área) o Soma das áreas rurais pertencentes a estrangeiros: não pode ultrapassar um quarto da área do município onde esteja situado o imóvel rural, excetuando-se aquisições de áreas rurais inferiores a 3 módulos (art. 12, § 2º, I, Lei nº 5.709/71) 9. ANIMAIS, MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS INCLUÍDOS NO ARRENDAMENTO Se constar no contrato de arrendamento a forma de restituição, deve o arrendatário devolver conforme o pactuado Se nada tiverem combinado a respeito, ao final do contrato, deve o arrendatário restituir os animais ou bens em igual número, espécie, quantidade e qualidade (art. 95, IX, do Estatuto da Terra, e art. 43, do Decreto nº 59.566/66) 10. DETERIORAÇÃO DO IMÓVEL Responsabilidade civil: existe quando caracterizada a conduta ativa ou omissiva do agente (arrendatário) na ocorrência do dano, ou a culpa e o nexo de causalidade ou vinculação entre a conduta do agente e o dano sofrido (art. 95, X, Estatuto da Terra) 11. HIPÓTESES DE DESPEJO NO ARRENDAMENTO Decreto nº 59.566/66: Art. 32. Só será concedido o despejo nos seguintes casos: I - Término do prazo contratual ou de sua renovação; Situação de posse injusta. Nesse caso, a condição legal a ser considerada é a notificação do arrendatário, 06 meses antes do término do contrato. Inexistindo essa notificação, presume- se prorrogado automaticamente o contrato. II - Se o arrendatário subarrendar, ceder ou emprestar o imóvel rural, no todo ou em parte, sem o prévio e expresso consentimento do arrendador; O art. 95, VI, do Estatuto da Terra, veda ao arrendatário o subarrendamento sem o consentimento do arrendador, total ou parcialmente, o imóvel arrendado. Nesse caso, a ação de despejo independe de prévia notificação por se tratar de infração grave. III - Se o arrendatário não pagar o aluguel ou renda no prazo convencionado; O pagamento do preço do arrendamento deve ser realizado no dia e local estabelecidos no contrato. Caso contrário, o arrendatário incorrerá em mora e poderá sofrer a ação de despejo. IV - Dano causado à gleba arrendada ou ás colheitas, provado o dolo ou culpa do arrendatário; O demandante, nesse caso, deve comprovar que o procedimento do arrendatário foi culposo ou doloso. V - se o arrendatário mudar a destinação do imóvel rural; VI - Abandono total ou parcial do cultivo; Estes dois casos configuram transgressão ou violação de cláusulas contratuais. VII - Inobservância das normas obrigatórias fixadas no art. 13 deste Regulamento; Tais normas asseguram a conservação dos recursos naturais e garantem a proteção social e econômica ao arrendatário. Logo, por se tratar dos casos em que a lei permite despejo do arrendatário, esse dispositivo autoriza ação de despejo nos casos comprovados de severa agressão ou descuido com o ambiente natural. VIII - Nos casos de pedido de retomada, permitidos e previstos em lei e neste regulamento, comprovada em Juízo a sinceridade do pedido; A lei presume, além da violação das cláusulas pactuadas, também aquelas obrigações legais inerentes ao contrato, mesmo que omitidas nele. IX - se o arrendatário infringir obrigado legal, ou cometer infração grave de obrigação contratual. 12. HIPÓTESES DE EXTINÇÃO Decreto nº 59.566/66: Art. 26. O arrendamento se extingue: I - Pelo término do prazo do contrato e do de sua renovação; II - Pela retomada; III - Pela aquisição da gleba arrendada, pelo arrendatário; IV - Pelo distrato ou rescisão do contrato; V - Pela resolução ou extinção do direito do arrendador; VI - Por motivo de for maior, que impossibilite a execução do contrato; VII - Por sentença judicial irrecorrível; VIII - Pela perda do imóvel rural; IX - Pela desapropriação, parcial ou total, do imóvel rural; X - por qualquer outra causa prevista em lei. Parágrafo único. Nos casos em que o arrendatário é o conjunto familiar, a morte do seu chefe não é causa de extinção do contrato, havendo naquele conjunto outra pessoa devidamente qualificada que prossiga na execução do mesmo. Art. 27. O inadimplemento das obrigações assumidas por qualquer das partes, e a inobservância de cláusula asseguradora dos recursos naturais, prevista no art. 13, inciso II, letra “c”, deste Regulamento, dará lugar facultativamente à rescisão do contrato, ficando a parte inadimplente obrigada a ressarcir a oura das perdas e danos causados (art. 92, § 6º do Estatuto da Terra). Art. 28. Quando se verificar a resolução ou extinção do direito do arrendador sobre o imóvel rural, fica garantido ao arrendatário a permanecer nele até o término dos trabalhos que forem necessários à colheita. Art. 29. Na ocorrência de força maior, da qual resulte a perda total do objeto do contrato, este se terá por extinto, não respondendo qualquer dos contratantes, por perdas e danos. Art. 30. No caso de desapropriação parcial do imóvel rural, fica assegurado ao arrendatário o direito à redução proporcional da renda ou o de rescindir o contrato.