Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Anderson Luiz Pinheiro Colaço DIVÓRCIO EM CARTÓRIO Curitiba 2012 1 Anderson Luiz Pinheiro Colaço DIVÓRCIO EM CARTÓRIO Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Nogueira Artigas. Curitiba 2012 2 TERMO DE APROVAÇÃO Anderson Luiz Pinheiro Colaço DIVÓRCIO EM CARTÓRIO Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito, do Curso de Direito, da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 04 de Abril de 2012. ________________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias Universidade Tuiuti do Paraná ________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Marcelo Nogueira Artigas Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná __________________________________ Prof. Dr. Membro da Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná __________________________________ Prof. Dr. Membro da Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná 3 Dedico este trabalho aos meus pais. A meu irmão. Aos meus amigos. A minha namorada. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Marcelo Nogueira Artigas. Aos meus professores que ao longo desta jornada deram seu máximo. Meu muito obrigado! Ao meu irmão que está se formando comigo neste mesmo semestre. Aos meus pais pela educação e ensino para trilhar o caminho do bem. Aos amigos que juntos torceram para que pudéssemos juntos chegar ao final nesta tarefa. A minha namorada, obrigado pela companhia e força. 5 “Jamais se arrependerá o homem de haver proporcionado para seu espírito os elementos de juízo que requerem o desenvolvimento pleno de suas aptidões e o exercício sem limites de sua inteligência.” Raumsol 6 RESUMO O objeto deste estudo contempla aprimorar conhecimentos e identificar elementos estruturais da entidade no contexto do Direito de Família, para identificar conceitos fundamentais, principais vantagens e problemas apresentados no divórcio realizado em Cartório. Discute a simplificação do divórcio com ou sem culpa, no sentido de perceber a obrigatoriedade da separação extrajudicial para quem possui requisitos determinados em lei; seus benefícios/prejuízos; documentos exigíveis; investigar como resolve a partilha de bens; gratuidade; caso uma parte sinta-se lesada, como resolver; advogados necessários para celebrar o ato e, finalmente, entender se a ação extrajudicial dispensa o requisito temporal. O método empregado contemplou uma revisão da literatura em obras, revistas online, artigos, Resoluções e outras obras padrão do Estado, como a Constituição do país (1916, 1934, 1969, 1988), o Código Civil (2002), Resoluções do Conselho Nacional de Justiça e da Corregedoria, bem como leis diversas. O estudo levou a concluir que a livre escolha do tabelião para a lavratura das Escrituras Públicas de separação, divórcio consensual e partilha, conforme explicita as orientações normativas da Corregedoria Geral de Justiça e do Conselho Nacional de Justiça tem amparo não apenas legislativo, mas na nacionalidade do sistema notarial brasileiro. Assim, devem ser desenvolvidas estratégias para concentrar dados e informar os atos notariais lavrados, prevenindo assim, a duplicidade de Escrituras e assim facilitar as buscas. O Direito de Família não se ocupa em satisfazer a vontade individual do cidadão, acima disso, protege as vontades racionais destes. Palavras-chave: Divórcio; Cartório de Registro Notarial; Lei n. 11441/07; Emenda Constitucional 66/10. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................... 9 1 EVOLUÇÃO DA UNIÃO ENTRE HOMEM/MULHER NO TEMPO E DIREITO........................................................................................................ 13 1.1 BREVE HISTÓRICO................................................................................... 13 1.2 A FAMÍLIA E O CASAMENTO.................................................................... 19 1.3 DESQUITE, SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO.................................. 22 1.3.1 Separação judicial: não divorciados.......................................................... 27 1.3.2 Divórcio judicial e divórcio extrajudicial..................................................... 29 1.3.3 Divórcio judicial (consensual e litigioso).................................................... 30 1.3.4 Divórcio extrajudicial................................................................................. 30 1.4 LEI No. 11.441/2007: BREVES COMENTÁRIOS........................................ 31 1.5 SIMPLIFICAÇÃO DO DIVÓRCIO............................................................... 32 2 LEGITIMIDADE, PROCEDIMENTOS E DOCUMENTAÇÃO........................ 36 2.1 LEGITIMIDADE E DOCUMENTAÇÃO......................................................... 36 2.2 DIVÓRCIO COM OU SEM CULPA.............................................................. 37 2.3 OBRIGAÇÃO DA SEPARAÇÃO PARA QUEM TEM OS REQUISITOS DE LEI....................................................................................................... 40 2.4 BENEFÍCIOS DO DIVÓRCIO...................................................................... 41 2.5 PREJUÍZOS DO DIVÓRCIO........................................................................ 43 3 CASAMENTO EFICAZ COMO PRESSUPOSTO PARA O DIVÓRCIO......... 45 3.1PACTOS PRÉ-NUPCIAIS............................................................................. 46 3.2 PARTILHA DE BENS................................................................................... 47 3.3 GRATUIDADE NO TABELIONATO............................................................. 49 8 3.4 COMO AGIR SE UMA DAS PARTES SENTIR-SE LESADO...................... 51 3.5 DESISTÊNCIA JUDICIAL PARA OPTAR PELO EXTRAJUDICIAL............. 51 CONCLUSÃO.................................................................................................... 54 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 56 9 INTRODUÇÃO No Brasil, ao completar mais de 30 anos em que o divórcio foi estabelecido percebe-se que, principalmente, na última década, um grande número de separações que culminam em divórcio. Em 2007, segundo dados informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número chegou a um patamar de 1,49/1000 habitantes, mostrando um crescimento de 200%, em relação a 1984, quando a taxa era de 0,46%/1000 habitantes. Dados de pesquisas estatísticas do Registro Civil revelam que em números absolutos os divórcios passaram de 30.847 (1984), para 179.342, em2007, em contrapartida, o número de casamentos realizados no Brasil, desde 2003, vem crescendo significativamente. De acordo com dados técnicos fornecidos pelo IBGE, as taxas de elevação do divórcio também revelam gradual mudança no comportamento social da população brasileira, que passa a aceitá-lo com maior naturalidade e tolerância, buscando mecanismos jurídicos para formalizar as dissoluções e encaminhamento para um novo relacionamento. No Brasil, em 2007 foram realizados 916.006 casamentos, sendo que o maior número se deve as iniciativas de formalização de uniões consensuais, considerando o entendimento do Código Civil (2002) e incentivo aos casamentos coletivos. Nesse mesmo ano houve 231.329 uniões desfeitas entre separações/divórcios, ou seja, 1/4 dos casamentos realizados. Em relação a 2006, houve um crescimento na ordem de 2,9% (IBGE, 2008). Em relação à natureza das separações, em 2007, um percentual de 75,9% foi separação consensual, conquanto que separações não consensuais foram na 10 ordem de 24,1% do total. As estatísticas do Registro Civil divulgadas desde 1974, reunindo dados de 2007, dos Cartórios, Varas de Família, Foros, Varas Cíveis e Tabelionatos de Notas de todo o país revelam hegemonia das mulheres na guarda dos filhos menores, com 89,1% nesse mesmo ano. Essa mesma pesquisa mostra que em 1999 a taxa de nupcialidade legal atingiu 6,7 casamentos por 1000 habitantes, a maior taxa da série. Em 2010 foram realizados 977.620 casamentos, com um incremento de 4,5% em 2009. Do total, apenas 19.367 foram entre cônjuges menores de 15 anos (2,0%). A maior parte deles envolveu cônjuges solteiros (81,7%). Os recasamentos (casamentos em que pelo menos um dos cônjuges era divorciado ou viúvo) totalizaram 18,3% das uniões, um crescimento em relação a 2000 (11,7%) – (JORNAL DO BRASIL, 2012). O surgimento da Lei nº. 11.441/2007 e a Emenda Constitucional nº. 66/2010 permitiu que um maior número de divórcios ocorresse devido à celeridade do ato, facilidade, simplicidade e redução nos custos, mas, principalmente, pela facilidade em tornar uma situação fática em um direito. Assim, este estudo tem como objeto principal a análise minuciosa e pormenorizada da Lei e da Emenda, as quais trazem passos, regras e especificações de como realizar o instituto do divórcio consensual em Cartório. No presente trabalho, buscam-se conhecer mecanismos de simplificação do divórcio; o divórcio com ou sem culpa; a obrigatoriedade da separação extrajudicial para quem possui requisitos determinados em lei; quais benefícios/prejuízos do divórcio administrativo; procedimentos, documentos e exigências para realização; inventário; gratuidade; caso uma das partes sinta-se lesada; número de advogados necessários no trâmite; desistência de ação judicial para optar pela forma 11 administrativa; separados judicialmente e não divorciados; extinção do requisito temporal. O objetivo geral deste estudo contempla aprimorar conhecimentos e identificar elementos estruturais da entidade no contexto do Direito de Família, para identificar conceitos fundamentais, principais vantagens e problemas apresentados no divórcio realizado em Cartório. Busca-se, ainda, demonstrar a simplificação do divórcio e discutir o divórcio com/sem culpa; verificar a obrigatoriedade da separação extrajudicial para quem possui requisitos determinados em lei; analisar os benefícios e prejuízos do divórcio administrativo; expor procedimentos, documentos e exigências para realização; investigar como se resolve o inventário; como conseguir a gratuidade em cartório; caso uma parte sinta-se lesada, como resolver; número de advogados necessários para celebrar o ato; pesquisar a ação judicial e opção pela forma administrativa; pormenorizar a questão dos separados judicialmente, porém, não divorciados; analisar a extinção do requisito temporal. O trabalho encontra-se estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo aborda a evolução histórica da união entre homem e mulher no tempo, sob o contexto do Direito, da família e do casamento. Trata do desquite, separação judicial e do divórcio, finalizando com a Lei n. 11441/2007. O capítulo dois trás ao conhecimento do leitor a legitimidade, procedimentos e documentação para o divórcio com ou sem culpa, a separação para os cosortes que apresentam os requisitos da lei, os benefícios versus prejuízos do divórcio. O capítulo três aborda a eficácia do casamento como pressuposto para o divórcio, o pacto pré-nupcial, a partilha de bens, gratuidade do ato notarial, prejuízo de uma das partes no divórcio extrajudicial, desistência da separação judicial para 12 optar pela via extrajudicial, finalizando com a extinção do requisito temporal para o divórcio. 13 1 EVOLUÇÃO DA UNIÃO ENTRE HOMEM/MULHER NO TEMPO E DIREITO Este capítulo tem como finalidade tratar da evolução histórica da união entre homem e mulher, no tempo e no Direito, abordar a família, seu funcionamento e importância para a sociedade, discorrer sobre o casamento, desquite, separação judicial e divórcio judicial/extrajudicial (consensual/litigioso). 1.1 BREVE HISTÓRICO No Direito Romano a família era organizada sob o manto da autoridade, cujo princípio permitia que os pais exercessem direito de vida ou morte sobre os filhos, não podendo vendê-los, era permitido que castigassem com penas corporais e, se necessário fosse, tirar a vida destes. No modelo de união antigo a mulher era subordinada ao marido, podendo mesmo renegá-la (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A família era fonte econômica, religiosa, política e jurisdicional e o ascendente mais velho tinha participação simultânea na chefia política e sacerdotal no cargo de juiz, em âmbito familiar (CAHALI et al., 2008). Com o passar do tempo, durante uma fase mais avançada do Direito Romano surgem patrimônios individuais administrados por pessoas que estavam sob a autoridade do pai. No entanto, essa autoridade, gradativamente, foi sendo amenizada e os romanos passam a reconhecer a importância do casamento (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A partir do século IV, com o Império Constantino instala-se a concepção cristã de família no Direito Romano. Posteriormente, na Idade Média as famílias foram influenciadas exclusivamente pelo Direito Canônico. No contexto, a família 14 brasileira sofreu forte influência da família romana canônica e germânica (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). O Código Canônico de 1983, atento à contratualidade do matrimônio, considera-o um sacramento produzido pelo consentimento de pessoas capazes perante o Direito. Este consentimento gera a aliança matrimonial que [...] faz nascer o vínculo, a comunidade de toda a vida. A aliança, pacto, acordo ou contrato é o casamento. Assim, é o teor do cânone 1055 § 1º. do Codex Canonici: a aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda (consortium totius vitae), ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole foi elevada, entre os batizados à dignidade de sacramento (SAAD, 2008, online). Nos diversos organismos sociais e jurídicos o conceito, compreensão e extensão de família se alteram com o passar do tempo. No transcurso do Século XX e Século XXI a sociedade modifica seu modo de ver o mundo, com um pensamento mais urbanizado, não necessariamente uma sociedade urbana. Porém, acendendo para a globalização através dos meios de comunicação. Agora pressupõe e define nova modalidade conceitual de família, porém, distante do antigo modelo de família. No curso das primeiras civilizações, como assírios, hindus, egípcios, gregos e romanos, o conceito de famíliafoi de uma entidade ampla e hierarquizada, retraindo- se na atualidade, fundamentalmente, para um âmbito em que o número de filhos é reduzido (CAHALI et al., 2008). Assim, o casamento adquiriu uma forma de sacramento onde, o homem e a mulher se uniriam formando "uma só carne", estando Deus no centro como Ser Supremo e responsável pela união, cuja frase é conhecida mundialmente: “o que Deus uniu o homem jamais separa”. É importante ressaltar que a união entre homem e mulher – união de fato - goza de direitos, além de notoriedade social (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Partindo-se do conceito de indissolubilidade do matrimônio (casamento civil), 15 outras formas precárias de união anteriormente ao Código Civil (2002) não recebiam mesma conotação, sendo indissolúveis a qualquer instante (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). O Direito Bárbaro seguiu os passos do Direito Romano, suprimindo algumas lacunas, porém, no Direito Germânico o casamento atingiu seu máximo, deveria ser realizado na presença de um juiz, representando a comunidade, servindo como base para o casamento civil na atualidade (SAAD, 2008). O intervencionismo estatal conduziu homem e mulher à instituição do casamento em virtude dos filhos, dos bens formandos durante a união e respectivos direitos sobre estes, pela manutenção da prole e maior proteção às pessoas que estivessem ligadas por laços de família. Ressalta-se que a direção da sociedade conjugal no interesse da família é um dever daquele que administra o patrimônio comum (SILVA, 2010). Assim, o Estado criou uma espécie de convenção social para organizar vínculos interpessoais em torno da estrutura familiar e não em torno de grupos ou de indivíduos únicos (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A sociedade, em determinado momento histórico instituiu o casamento como regra de conduta, passando a união entre homem e mulher por várias fases até chegar no direito que gozam os cônjuges no tempo atual. O trabalho é resultado de longa evolução, imposta em face do fator social, tornando-se uma realidade a constituição da entidade familiar paralelamente a que é formada oficialmente (SAAD, 2008). A literatura jurídica, religiosa e outras entendem que a principal forma de agrupamento humano é a família, criada para organizar a sociedade, caracteriza-se como uma instituição jurídica constitucionalmente protegida, assegurada por direitos e deveres. É um modo de vida em sociedade, cujos integrantes desfrutam de vínculos afetivos, familiares, consanguíneos e patrimoniais, originária na sociedade 16 antiga, hoje, representa a célula mater de uma nação (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A família como instituição social é uma entidade que, além de protegida, antecede até mesmo à formação do próprio Estado, da religião e do Direito que hoje a regulamenta. Porém, resistiu todas as transformações que a humanidade sofreu ao longo do tempo, em termos consuetudinários, econômicos, sociais, científicos ou culturais, atravessando a história da civilização antiga e moderna, sobrevivendo incólume até o Século XXI. Desde tempos antigos existia na sua estrutura simples, voluntária e natural, seguido a função natural e primordial, de conservar e perpetuar a espécie humana, guardada sob os laços afetivos, no formato de uma entidade protegida (SAAD, 2008). A família não foi criada pelo homem, mas pela natureza. O legislador não criou a família, nem tampouco o jardineiro criou a estação da primavera, esses fenômenos são naturais e antecedem o regime de casamento, por isso, é um fenômeno legal e acontece naturalmente (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) reconhece a família como uma entidade familiar e com união estável, de convivência pública, contínua e duradoura entre um homem e uma mulher, vivendo sob o mesmo teto sem vínculo matrimonial. Normalmente, embora a posteriori, a união estável tem como objetivo constituir família, desde que haja condições de converter-se em casamento, isto é, não havendo impedimento legal, como casado, por exemplo (GONÇALVES, 2007). No Brasil, a família não está mais relacionada apenas ao casamento celebrado em Cartório. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), art. 226 (§ 3º.), a família tem proteção especial do Estado: “para efeito de proteção do Estado é reconhecida a união estável entre homem e mulher como 17 entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”1, ganhando, a união estável denominação de entidade familiar, não mais sociedade de fato (GONÇALVES, 2007). A união estável não deve ser confundida com união livre, tendo em vista que as partes não têm a intenção de montar família, assumindo uma relação aberta onde inexiste compromisso (SAAD, 2008). A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) reconhece a família como entidade familiar, união de convivência pública, contínua e duradoura entre homem e mulher que vivem sob o manto do vínculo matrimonial em um mesmo teto. Normalmente, tem como objetivo central proteger a mulher, o marido e os filhos que daí resultarem, com proteção, amor e segurança entre todos, tendo os filhos, o marido e a mulher direitos e obrigações justapostas e legitimadas pela lei (SAAD, 2008). Da mesma forma, ambos, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) e o Código Civil (2002) privilegiaram a dignidade da pessoa humana e realizaram sua manifestação no campo do Direito de Família, partindo de aspectos que relacionam a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), art. 226, quando afirmam que a entidade familiar tem várias formas de constituição. Seja na modalidade de casados ou de união estável (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Ambos os Diplomas revolucionam o Direito de Família enquanto ciência e os direitos das partes que integram a família, a partir do momento que o art. 226, § 6º. 1 Os atributos da supremacia e da força normativa da Constituição tem como consequência direta a derrogação do caput e do § 2º. do art. 1.580 do Código Civil, na parte do prazo da separação judicial, nos casos de divórcio por conversão; e ao prazo de separação de fato, no divórcio direto. A partir daí é possível o divórcio por conversão, independentemente do prazo de separação legal, bem como o divórcio direto, independentemente do prazo de separação de fato. Entende-se [...] como derrogados o § 1.º do art. 1.572 e o caput do art. 1.574 quanto aos prazos de um ano de ruptura da vida em comum ou mais de um ano de casamento, para propositura da ação de separação judicial litigiosa ou consensual. Se foram suprimidos os requisitos de prazo, o divórcio extrajudicial pode ser decretado independentemente de comprovação de período anterior de separação, quer de fato ou de direito, e a separação extrajudicial também não se vincula a qualquer tipo de prazo (DELGADO, 2011, online). 18 do Diploma maior afirma que ser uma entidade familiar plural, não mais singular, tendo várias formas de constituição". Esse mesmo artigo preconiza que: “o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio consensual ou litigioso, na forma da lei” (CAHALI et al., 2008). O art. 277, § 6°. do mesmo Diploma altera o sistema de filiação e proíbe designações discriminatórias decorrentes da concepção ocorrida dentro ou fora do casamento. Os art. 5°., inciso I e art. 226, § 5°., consagram o princípio da igualdade entre homem e mulher derrogando muitos artigos do Código Civil (1916). O Diploma maior dedicou-se ao planejamento familiar e assistência direta à família (art. 226, § 7°. e 8°.) – (SAAD, 2008). Todas as manifestações sociais presentes na segunda metade do século XX, com a introduçãoda Constituição da República Federativa do Brasil (1988) e do Código Civil (2002) convocam os pais para assumirem uma paternidade responsável, bem como a viverem uma realidade familiar concreta, nos parâmetros ditados pela lei, isentando-os de eventuais culpas frente aos filhos, o Estado e a sociedade (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). O Código Civil (2002) disciplina o direito pessoal e o direito patrimonial da família, frisando a igualdade dos cônjuges (art. 1511), determina paridade no exercício da sociedade conjugal e redunda o poder familiar, proíbe a interferência das pessoas jurídicas de direito público na comunhão de vida instituída pelo casamento (art. 1513), além de disciplinar o regime religioso e tudo o que derivar de seus efeitos (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Ambos os Diplomas frisam alterações em âmbito do Direito de Família do Direito brasileiro, partindo do ponto da proclamação da igualdade absoluta dos cônjuges e respectivos filhos (CAHALI et al., 2008). 19 1.2 A FAMÍLIA E O CASAMENTO No entendimento de Fachin (1999, p. 11): “é inegável que a família como realidade sociológica apresente, na sua evolução histórica, desde a família patriarcal romana até a família nuclear da sociedade industrial contemporânea e passa a ter íntima ligação com as transformações operadas nos fenômenos sociais”. O casamento, semelhante a outras instituições sociais, sofre variações segundo a cultura, tempo e povos (FARIAS e ROSENVALD, 2009). Washington de Barros Monteiro (2004) afirma que no Direito o casamento é amplamente debatido, estudado, revisado e discutido. Mas não para por ai, requer a atitude do legislador, para que formule enunciados que contribuam com a solução da família, de seus integrantes e dos litígios que dela derivem (SANT’ANNA, 2010). As definições dos juristas sobre o casamento, na sua grande maioria, se assemelham, reunindo requisitos de consentimento, diversidade sexual, sanção legal, finalidade de constituição familiar, disciplina nas relações sexuais, procriação, auxílio mútuo e educação da prole. Nesse mesmo sentido, Caio Mário da Silva Pereira (1977, p. 35) entende que o casamento é uma: “união de duas pessoas de sexos diferentes, realizando uma integração fisiopsíquica permanente”. Martha Solange Scherer Saad (2008) salienta que o casamento é representado pela família matrimonializada e legalizada em todos os aspectos, com direito e deveres. Álvaro Villaça Azevedo (2002, p. 272), ao comentar sobre o casamento, afirma ter conteúdo metajurídico e enfatiza que: “nada mais é do que um elo espiritual, que une os esposos, sob a égide da moralidade e do direito”. 20 A família conjugal implica na comunhão de corpos e de interesses, personalíssimos e pessoais, eventualmente patrimoniais, criando sociedade conjugal e vínculo jurídico matrimonial e, consequentemente, submetendo os cônjuges a um complexo de direitos e deveres legais e convencionais. A doutrina, sempre que empreendeu tentativas de conceituar casamento, deparou-se com a difícil tarefa de congregar, numa definição, os múltiplos aspectos que compõem este instituto jurídico. O casamento é, ao mesmo tempo, o liame que une dois seres física e afetivamente, a conjunção de corpo e espírito, uma instituição moral e religiosa, uma agregação socialmente organizada, o ato jurídico que lhe dá nascimento, o estado vincular e a sociedade conjugal por ele gerado (SAAD, 2008, online). Juridicamente, conceituar a sociedade matrimonial equivale definir o casamento, que está representado por atos conjuntos, espontâneos, incluindo a união estável, que receba qualificação de matrimônio (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). É importante destacar duas importantes definições consideradas clássicas. A primeira é de Lafayette Pereira Rodrigues (1977, p. 29), ao proclamar que o casamento é um ato solene, no qual duas pessoas de sexos diferentes se unem sob o manto da promessa recíproca de fidelidade integral, no amor e em uma estreita comunhão de vida. A segunda é de Clóvis Beviláqua (1976, p. 22), quando define que: [...] o casamento é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses, comprometendo-se a criar e educar a prole, que de ambos há de nascer. No entendimento de Maria Helena Diniz (2007, p. 55): “os demais são secundários, não essenciais, como a procriação, a educação dos filhos e a satisfação sexual, aliados à atribuição de nome de um dos cônjuges ao outro e o de ambos aos filhos, bem como a legalização de um estado de fato”. Inúmeras definições não se limitam apenas em conceituar o casamento, mas refletem concepções originais e tendências filosóficas (FARIAS e ROSENVALD, 2009). Clóvis Beviláqua (1976, p. 22-23) conceitua a família como 21 sendo um: [...] casamento [...] um contrato bilateral e solene pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legitimando por ele suas relações sexuais; estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses [comuns], comprometendo-se em criar e educar a prole que de ambos nascer. Caio Mário da Silva Pereira (1997, p. 36) diferencia o conceito institucional do conceito contratual de casamento: Para uns, o casamento é uma instituição social, no sentido que reflete uma situação jurídica, cujas regras e quadros se acham preestabelecidos pelo legislador, com vistas à organização social da união dos sexos. Dentro da sociedade, a família é um organismo de ordem natural com a finalidade de assegurar a perpetuidade da espécie humana, e bem assim o modo de existência conveniente às aspirações e a seus caracteres específicos. Em face disto, o casamento é o conjunto de normas imperativas cujo objetivo consiste em dar à família uma organização social moral correspondente às aspirações atuais e à natureza permanente do homem. A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) ampliou as espécies de família, segundo Eduardo de Oliveira Leite (1999, p. 17): "há precedência e excelência desta forma legal de união em relação às demais entidades familiares". A leitura do mesmo Diploma, art. 226, § 3°. incentiva a conversão de uniões estáveis em casamento (FARIAS e ROSENVALD, 2009). Esse mesmo Diploma, art. 5°., caput, inciso I, prescreve que: Art. 5o.: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes; I. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição. Nesse mesmo sentido, entende-se que frente à variedade de definições, naturalmente, há ampla diversidade na conceituação que, para Lafayette Rodrigues 22 Pereira é um: “ato solene” (apud TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Porém, Sá Pereira (1997, p. 36) entende tratar-se de uma convenção social. Para Rodrigo da Cunha Pereira (2004, p. 122), o casamento é um "contrato”, não se assemelhando a união estável devido à informalidade enquanto instituto, válido posteriormente ao novo Código Civil (2002). 1.3 DESQUITE, SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2012), o sistema canônico manteve e mantém a diretriz da indissolubilidade do matrimônio, com influência no Direito brasileiro, consagrando assim a figura da separação dos cônjuges com permanência do vínculo, o denominado “desquite”. No entanto, com a Proclamação da República, em 1889, o Direito Canônico, gradativamente, foi sendo retirado do Direito brasileiro e, consequentemente, das relaçõesfamiliares, especialmente, do matrimônio (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Nessa linha, afirma-se que o primeiro Código Civil (1916), concebido no século XIX, incorporou concepções do sistema religioso que até então eram predominantes (GAGLIANO e PAMPLONA, 2012)2. 2 Art. 315: A sociedade conjugal termina: I. Pela morte de um dos cônjuges. II. Pela nulidade ou anulação do casamento. III. Pelo desquite, amigável ou judicial. Parágrafo único. O casamento valido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges, não se lhe aplicando a presunção estabelecida neste Código, art. 10, segunda parte. Art. 316: A ação de desquite será ordinária e somente competirá aos cônjuges. Parágrafo único. Se, porém, o cônjuge for incapaz de exercê-la, poderá ser representado por qualquer ascendente, ou irmão. Art. 317: A ação de desquite só se pode fundar em algum dos seguintes motivos: I. Adultério. II. Tentativa de morte. III. Sevicia ou injúria grave. IV. Abandono voluntário do lar conjugal, durante dois anos contínuos. Art. 318: Dar-se-á também o desquite por mútuo consentimento dos cônjuges, se forem casados por mais de dois anos, manifestado perante o juiz e devidamente homologado. Art. 319: O adultério deixará de ser motivo para o desquite: I - Se o autor houver concorrido para que o réu o cometa. II - Se o cônjuge inocente lhe houver perdoado. Parágrafo único. Presume-se perdoado o adultério quando o cônjuge inocente, conhecendo-o, coabitar com o culpado. Art. 320: No desquite judicial, sendo a mulher inocente e pobre, prestar-lhe-á o marido a pensão alimentícia, que o juiz fixar. Art. 321: O juiz fixará também a quota com que, para criação e educação dos filhos, deve concorrer o cônjuge culpado, ou ambos, se um e outro o forem. Art. 322: A sentença do desquite autoriza a separação dos cônjuges, e põe termo 23 De acordo com Valéria Maria Sant’Anna (2010), o aparecimento das expressões “desquite”, “separação judicial” e permissão para o divórcio nas legislações mais antigas praticamente não era observada, somente ocorreu mediante a intervenção direta ou indireta da Igreja Católica, pelo repúdio ao divórcio como ato jurídico que colocaria fim ao casamento, permitindo que os cônjuges contraíssem novas núpcias3. Até a Constituição da República Federativa do Brasil (1934), art. 144, o casamento era indissolúvel, ou seja, a legislação da época não aceitava o divórcio (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Assim, a lei empregou o vocábulo “desquite” para designar a dissolução da sociedade conjugal, conforme preconiza a redação seguinte: Art. 144 - A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. Parágrafo único - A lei civil determinará os casos de desquite e de anulação de casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito suspensivo. Para Gagliano e Pamplona Filho (2012), nestas últimas quatro décadas do século XX houve forte resistência jurídica em relação ao fim do vínculo matrimonial, admitido somente no caso de morte ou reconhecimento de nulidade do matrimônio, especialmente, por força da Igreja Católica, que influenciou a disciplina normativa do casamento na sociedade ocidental, mas também a brasileira. ao regime matrimonial dos bens, como se o casamento fosse dissolvido (art. 267). Art. 323: Seja qual for a causa do desquite, e o modo como este se faça, é licito aos cônjuges restabelecer a todo o tempo a sociedade conjugal, nos termos em que fora constituída, contanto que o façam, por ato regular, no juízo competente. Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará os direitos de terceiros, adquiridos antes e durante o desquite, seja qual for o regime dos bens. Art. 324: A mulher condenada na ação de desquite perde o direito a usar o nome do marido (art. 240). No entanto, todo o texto da Constituição da República Federativa do Brasil (1916) foi revogado pela Lei do Divórcio. (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012, p. 38-39). 3 Desquite: separação legal dos cônjuges e de seus bens, porém, sem dissolução do vínculo matrimonial (desquite amigável): resulta do acordo entre os cônjuges, manifestado perante o juiz e devidamente homologado (desquite litigioso ou desquite judicial): decretado pelo juiz em sentença proferida em processo contencioso. 24 No Brasil, o casamento foi submetido às regras do Direito Natural, uma consequência de preceito divino. Tal ideia de indissolubilidade do casamento foi elevada a dogma, cuja concepção continua no Código Canônico (FARIAS e ROSENVALD, 2009). A sede constitucional que disciplina o divórcio é a Lei no. 6.515/77 e, em algum ponto, ainda nos dias atuais, é aplicável na sistematização normativa da matéria, muito especialmente, na ordem processual (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A Emenda Constitucional no. 9, de 1977 passou a utilizar a expressão: “poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei”, condicionando o divórcio à prévia separação judicial por mais de três anos. Desta forma, autorizou o divórcio mediante atendimento a requisitos prescritos em lei ordinária (Lei no. 6515/1977) - (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A Constituição da República Federativa do Brasil (1988), art. 226, § 6o. manteve o mesmo entendimento, alterando apenas o tempo de separação como pressuposto para se atingir ao divórcio4. Art. 226: a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 6º.: o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (Alterado pela Emenda no. 66, de 2010) – (CAHALI et al., 2008). A redação da Constituição da República Federativa do Brasil (1967-1969), introduzida em 1977, art. 175 comenta que: “§ 1º. - o casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por 4 A Lei nº. 6.515/76 trouxe significativas alterações para a matéria concernente à dissolução da sociedade conjugal, como, por exemplo, a utilização da separação como ponte para o divórcio, o abandono da verificação da culpa de um dos cônjuges como condição necessária para a concessão da separação. Com relação à nomenclatura, as expressões desquite litigioso e desquite por mútuo consentimento, deram lugar à separação litigiosa e separação consensual respectivamente. Após anos de batalha surge a Lei nº. 6.515/77 (Lei do Divórcio), provocando sensíveis mudanças nas relações maritais, concedendo àqueles casais que não mais guardavam o status de marido e mulher a possibilidade de dissolver o matrimônio e, com isso, começar uma nova vida (GARIN PORTO, 2002, online). 25 mais de três anos". A evolução da separação judicial e do divórcio tem obedecido à seguinte ordem: a) Em 1977, a separação judicial era requisito necessário e prévio para o pedido de divórcio, que tinha de aguardar a consumação do prazo de três anos daquela; não havia, portanto, divórcio direto; b) Em 1988, a separação judicial deixou de ser requisito para o divórcio, passando a ser facultativa, tendo duas finalidades: 1. Ser convertida em divórcio, após um ano da decisão da separação judicial (ou da separação de corpos), o que a tornava em requisito por decisão dos cônjuges; 2. Permitir a reconciliação dos separados, antes do divórcio por conversão; o divórcio direto [...] dependia de requisito temporal (dois anos) da separação de fato (LOBO, 2011, online). O Código Civil (2002), art. 1576 coloca fim aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens. No entanto, pessoas separadas não podiam casar-senovamente, pois o vínculo matrimonial ainda não havia se desfeito (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). O termo “divórcio”, originário do latim divortium, vem de divertere, significa separar ou dissolver, ou seja, a dissolução legal e definitiva do matrimônio, do casamento civil, assim definido em lei com seus respectivos regimes, sendo uma maneira de dissolução do casamento (FARIAS e ROSENVALD, 2009). O divórcio apresenta dois sentidos, um, do Direito Romano, outro, do Direito Canônico. Em sentido romano o divórcio é a dissolução do vínculo matrimonial, com consequente liberação do divorciado para contrair novo matrimônio. Em sentido canônico, o divórcio é a simples separação de corpos, subsistindo o vínculo matrimonial. Entretanto, nas uniões monogâmicas o divórcio era vulgar. No entanto, a realidade prática do divórcio não se compara ao que disciplina o Direito, com a exigência de certas formalidades e o comparecimento perante a autoridade judicial (SANT’ANNA, 2010). 26 Maria Helena Diniz (2006, p. 280) entende que: “o divórcio é a dissolução de um casamento válido, ou seja, a extinção do vínculo matrimonial, que se opera mediante sentença judicial, habilitando as pessoas a convolar novas núpcias”. De acordo com Paulo Luiz Netto Lobo (2011), o Projeto de Emenda Constitucional (PEC), “PEC do Divórcio" ou “PEC do Amor”, resulta de uma proposta elaborada por um grupo de juristas, patrocinada pela Diretoria Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), que teve início em 2005, com Antônio Carlos Biscaia, conhecido como PEC no. 413/2005, reapresentado em 2007, por Sérgio Barradas Carneiro, também conhecido como PEC 33/2007. A redação proposta nesse mesmo documento tem o seguinte conteúdo: “§ 6º.: o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio consensual ou litigioso, na forma da lei" (LOBO, 2011). O novo documento dispõe que a separação judicial deixou de ser contemplada na Constituição da República Federativa do Brasil (1988) - (GIGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). De acordo com Paulo Luiz Netto Lobo (2011, online): c) Em 2009, com a "PEC5 do Divórcio", a separação judicial deixou de ser contemplada na Constituição, inclusive, na modalidade de requisito voluntário para conversão ao divórcio; desapareceu, igualmente, o requisito temporal para o divórcio, que passou a ser exclusivamente direto, tanto por mútuo consentimento dos cônjuges, quanto litigioso. A partir da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), consolidou-se o divórcio direto, aperfeiçoando a Lei no. 6.515/77, sem extinguir o divórcio indireto, decorrente da conversão da separação judicial (FARIAS e ROSENVALD, 2009). A partir desse momento que o divórcio direto passou a ser aceito no texto constitucional, com eficácia imediata, tendo como requisito único um 5 Projeto de Emenda Constitucional 27 decurso de lapso temporal “de mais de dois anos” para a separação de fato, vigorando até a nova Emenda do Divórcio, trazendo modificações geradoras de impacto (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2012). No entanto, com o advento da Emenda Constitucional no. 66/2010 passou a permitir que os cônjuges requeiram o divórcio a qualquer tempo, até mesmo um dia após o casamento, bastando apenas que expressem o ato volitivo para tanto (SANT’ANNA, 2010). 1.3.1 Separação judicial: não divorciados A separação judicial é uma forma de extinção da sociedade conjugal, porém, sem dissolução do vínculo matrimonial (SANT’ANNA, 2010). Este, (o vínculo matrimonial), passa a ser requisito primeiro para o divórcio indireto, ou seja, o divórcio por conversão. A Lei no. 6515/77 estabelece que a separação judicial (antigo desquite), passa a ser requisito básico e indispensável, antecede ao pedido de divórcio, que antes da nova lei deveria aguardar um prazo de três anos (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). Para que ocorresse o divórcio deveria haver um decurso de tempo entre a separação dos consortes e a ocorrência do divórcio, tratava-se de uma estratégia da lei para possibilitar aos consortes unir-se novamente, uma vez que o divórcio direto colocaria fim ao casamento de uma só vez e, caso houvesse desejo de unirem-se, os consortes teriam que fazer novo matrimônio (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). 28 Ocorre que o divórcio direto, o qual independe de separação judicial surgiu em um momento histórico no Brasil (1977), embora com previsão tímida. Tal feito se justificava na incorporação gradativa da cultura do povo brasileiro, aos requisitos exigidos para o divórcio até então, passando, a partir da Constituição da República Federativa do Brasil (1988) a amparar com maior segurança o divórcio direto6 (SANT’ANNA, 2010). Convém ressaltar, segundo o entendimento de Francisco Vieira Lima Neto (2011), a separação judicial não foi extinta do ordenamento jurídico brasileiro, conforme segue os argumentos desse autor: A Separação Judicial não foi extirpada do ordenamento jurídico nacional, de modo que é juridicamente possível o pedido de casal que, não desejando se divorciar, quer apenas se separar para dividir formalmente seus bens e extinguir a sociedade conjugal, desobrigando-se de cumprir os deveres matrimoniais (fidelidade, assistência, coabitação). E continua o autor com os comentários, em um primeiro momento é possível afirmar que: O primeiro argumento em defesa dessa nova tese é normativo: surge da leitura comparada da redação anterior da Constituição e da atual (§ 6º do art. 226); ela nos permitirá concluir que o texto da Emenda 66 limitou-se a excluir do parágrafo a referência à Separação (judicial ou de fato) como requisito para se obter o Divórcio. Mas, isso não significa dizer que a Separação desapareceu do mundo jurídico. Em segundo, argumenta que a Emenda teve como finalidade facilitar o divórcio, extinguindo o requisito “tempo de separado” para que ocorra literalmente o divórcio, conforme segue: O segundo argumento é de ordem teleológica: qual a finalidade da Emenda? Como está claro nas exposições de motivos do projeto, o objetivo foi o de facilitar o divórcio. E o Congresso Nacional atingiu esse objetivo ao extinguir o único requisito que persistia para decretação do divórcio: o 6 A partir de 1988 consolidou-se o divórcio direto, aperfeiçoando a tíbia previsão da Lei n. 6515/77, sem extinguir, porém, o divórcio indireto (decorrente da conversão da separação judicial) - (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012, p. 40-41). 29 "tempo de separado". Assim, não há mais "tempo de separado" a ser cumprido: uma pessoa pode se casar hoje e se divorciar amanhã. O propósito da alteração constitucional não era acabar com a Separação Judicial, mas sim, com o período de tempo em que as pessoas deveriam permanecer separadas para que pudessem se divorciar. Vale dizer, a Separação (judicial, extrajudicial ou de fato) deixou de ser aquele "estágio probatório" que o casal deveria cumprir antes de requerer o divórcio. Finalmente, os argumentos expostos à redação da lei se harmonizam com a autonomia da vontade. No entanto, não extinguiu totalmente o direito do casal separa-se, conforme segue. O terceiro argumento tem a ver com a liberdade; como se sabe, o Direito Civil, ao contrário de outras áreas do Direito, procura ser o reino da liberdade, tanto é que um de seus princípios fundamentais é o da Autonomia da Vontade. Desse modo, as normas de Direito Civil devem ser interpretadas com o cuidado necessário para se restringir o mínimo possível os interesses privados. Por que concluir que um casal não poderia se separar consensualmentesem se divorciar? A que bem maior, a que interesse social essa interpretação restritiva atenderia? A nenhum. Como a Constituição não extinguiu expressamente o direito de se separar, e considerando que a manutenção desse direito no sistema não traz mal nenhum, ao contrário, atende a um interesse do casal (motivo religioso, econômico, esperança de voltar a conviver junto) a conclusão é a de que ainda é juridicamente possível a Ação de Separação, especialmente, mas não unicamente, quando for consensual. Para o divórcio não ha necessidade da separação judicial a partir da nova lei. Hoje o divórcio pode ser direito, sem separação judicial e sem lapso de tempo. 1.3.2 Divórcio judicial e divórcio extrajudicial A partir da vigência da Emenda Constitucional n. 66/2010 passa a existir o divórcio extrajudicial, o divórcio consensual e o divórcio litigioso (FARIAS e ROSENVALD, 2009). 30 1.3.3 Divórcio judicial (consensual e litigioso) O divórcio judicial subdivide-se em divórcio judicial consensual e divórcio judicial litigioso. No primeiro caso, a qualquer tempo, pessoas que são casadas, mas que possuam filhos menores ou incapazes, que desejam divorciar-se podem fazê-lo sem aguardar o lapso temporal (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). O ato percorre o que prevê os arts. 1120-1124 do Código de Processo Civil (Lei no. 6515/77), excluindo-se os arts. I e III – comprovação a separação de fato e produção de provas perante o juiz, a petição fixará o valor da pensão do cônjuge que dela necessitar indicando as garantias da obrigação assumida, apresentando a partilha dos bens para ser homologada, dissertando sobre a utilização do nome, da guarda e pensão dos filhos. Podem optar pelo divórcio judicial consensual os que estiverem aptos ao divórcio extrajudicial (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). No segundo caso, caso haja discórdia entre o casal, a Lei no. 6515/77, art. 40, § 3o., seguindo o rito ordinário, onde as partes discutirão sobre o valor da pensão alimentícia, guarda de filhos, partilha de bens comuns, entre outros. Em relação aos bens, nos termos do art. 1581, do Código Civil (2002), pode optar pelo procedimento autônomo de partilha, após o divórcio (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). 1.3.4 Divórcio extrajudicial O divórcio extrajudicial, livre do pressuposto temporal, aos que de comum acordo e de maneira consciente decidirem sobre a partilha de bens, pensão, permanência ou não do nome do cônjuge, não possuírem filhos ou mesmo forem maiores ou capazes, poderão optar pelo divórcio extrajudicial, procedimento simples, 31 viável economicamente e célere. Trata-se de uma Escritura Pública, devendo as custas serem pagas aos cofres do Tabelionato Notarial (SANT’ANNA, 2010). 1.4 LEI No. 11.441/2007: BREVES COMENTÁRIOS De acordo com Rui Rabello Pinho (2008), o Código de Processo Civil (2002), art. 1124-A, acrescido pela Lei no. 11.441/07 entregou aos Tabeliães a responsabilidade da dissolução matrimonial, dispondo a redação o seguinte texto: A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, poderão ser realizados por Escritura Pública, da qual constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando de seu casamento. Considerando a nova redação, Nalini (2008, p. 174) trata com o seguinte contexto de entendimento: A Lei nº. 11.441/2007, alterando e acrescendo artigos do Código de Processo Civil, criou a dissolução de matrimônio extrajudicial, por Escritura Pública, para inventário e partilha consensuais, separações e divórcios também consensuais, com escopo para descongestionar o judiciário, agilizar, simplificar e reduzir custos da forma jurídica. Não se trata [...] de movimento legal ilhado, mas situado em determinado contexto histórico e normativo, que indica tendência migratória do universo judicial ao extrajudicial. A Resolução 35, de 24 de abril de 2007, arts. 8o., 9 o., e 10 o., do Conselho Nacional de Justiça preconiza que na realização do ato notarial de divórcio um advogado deve estar presente, podendo representar ambas as partes, sendo vedado ao Tabelião indicá-lo, também ficara dispensada a procuração, devendo constar na Escritura Pública nome e OAB do Advogado. 32 Art. 8º.: É necessária a presença do advogado, dispensada a procuração, ou do defensor público, na lavratura das escrituras decorrentes da Lei no. 11.441/07, nelas constando seu nome e registro na OAB. Art. 9º.: É vedada ao Tabelião a indicação de advogado às partes, que deverão comparecer para o ato notarial acompanhadas de profissional de sua confiança. Se as partes não dispuserem de condições econômicas para contratar advogado, o tabelião deverá recomendar-lhes a Defensoria Pública, onde houver, ou, na sua falta, a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil. Para Rui Rabello Pinho (2008), a migração do judicial para o extrajudicial proporciona celeridade para os procedimentos e desafoga o Poder Judiciário com questões que podem e devem ser resolvidas de forma extrajudicial, tornando o ato muito mais simples, fácil, rápido e barato, com um desgaste extraordinariamente menor para ambas as partes envolvidas no processo. 1.5 SIMPLIFICAÇÃO DO DIVÓRCIO Historicamente, o pré-divórcio foi estabelecido pelo Código Civil (1916), conhecido como “desquite”, porém, não rompia o vínculo, dando fim apenas a sociedade conjugal. Nesta época somente se rompia o vínculo com a morte de um dos cônjuges, como estabelecia o referido Código Civil, art. 315, § único (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A ideia difundida pela Igreja Católica de que “o que Deus une o homem jamais separa”, influenciou na formulação do Direito de Família por longo período, passando um entendimento de que uma família indissolúvel seria formada somente pelo casamento, porém, com o desquite surge outra forma de união, o concubinato (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). Rui Rabello Pinho (2008) alude que o Direito Canônico contextualizou a indissolubilidade do vínculo matrimonial, em todas as Constituições Republicanas 33 (1934 / 1937 / 1946 / 1967)7, inclusive, na Emenda Constitucional (1969) e manteve o princípio da indissolubilidade do casamento. A respeito do assunto, a Emenda Constitucional nº. 9, de 28 de junho de 1977 tinha a seguinte redação: “o casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos”. Nesse mesmo período, a Lei no. 6515/1977 disciplina a separação, o divórcio e seus respectivos procedimentos, trazendo orientação ao Direito de Família (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil (1988): “o casamento se dissolve pelo divórcio, independentemente de qualquer requisito ou condição preestabelecida na lei”. Neste sentido, a mesma Carta não estabeleceu requisitos temporais. Todavia, já tendo suprimido, não seria lícito que a lei ordinária estabelecesse (DELGADO, 2011). No entendimento de Mário Luiz Delgado (2011, online), a atual legislação brasileira, sobre o casamento, instrui o seguinte: [...] quem contrair matrimônio hoje e pretender romper a relação casamentária amanhã poderá fazê-lo livremente, elegendo uma entre as duas alternativas possíveis: 7 A CF/1891 limita-se em enfatizar que a República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita (art. 72, § 4.º). A Constituição de 1934remete a questão para a lei ordinária (Art. 144: a família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. Parágrafo único. A lei civil determinará os casos de desquite e de anulação de casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito suspensivo). A Carta Polaca (1937) suprimiu a referência ao desquite e à anulação do casamento, limitando-se a reafirmar a indissolubilidade do vínculo. (Art. 124. A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. Às famílias numerosas serão atribuídas compensações na proporção dos seus encargos). A Constituição de 1946 manteve a supressão e reafirmou a indissolubilidade (Art. 163: a família é constituída pelo casamento de vínculo indissolúvel e terá direito à proteção especial do Estado). A Constituição de 1967/1969 também não mencionou o desquite. Apenas com a Emenda Constitucional nº. 9, de 1977, a separação judicial (antigo desquite) volta a ser mencionada na Constituição, agora como um requisito para o divórcio (Art. 175 [...] § 1.º O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos). Tanto as Constituições de 1967/1969, como a de 1988 mencionaram a separação apenas quando quiseram restringir ou dificultar o divórcio, elegendo-a como requisito, como pressuposto, um condicionante prévio (DELGADO, 2011, online). 34 (i) Dissolução simultânea do vínculo matrimonial e da sociedade conjugal pelo divórcio; ou (ii) Dissolução apenas da sociedade conjugal pela separação legal. Em ambos os casos poderão os cônjuges, igualmente, escolher entre valer- se ou não das vias judiciais, caso inexistam filhos menores ou incapazes e o rompimento seja consensual, poderá optar pela via extrajudicial. De acordo com Sant’Anna (2010, p. 12), a desburocratização do divórcio é um procedimento proposto pela Emenda 66, que na época do artigo já previa: [...] irá desburocratizar os procedimentos que atualmente retardam o divórcio. Hoje, um casal precisa requerer a separação judicial e ainda esperar um ano para obter o divórcio ou comprovar que já estão separados de fato pelo menos dois anos. Ao abolir o tempo de espera pela confirmação da separação, a emenda antecipa o divórcio, deixando os recém separados desimpedidos para novos casamentos. Com o advento da Lei no. 11.441/2007 e com a Emenda Constitucional no. 66/20108, o divórcio pode ser requerido sem a necessidade de separação, portanto, não se pede mais a separação consensual e, a partir de 2007, o divórcio pode ser requerido pela via administrativa e realizado em Cartório, não sendo necessário propor ação judicial para a resolução da lide, bastando apenas dirigir-se a um Tabelionato de Notas, juntamente com um advogado e apresentar o pedido (DELGADO, 2011). Com a evolução da humanidade, o movimento de independência pessoal e financeira de homens e mulheres induziu que a igualdade se fizesse cada vez mais evidenciada e presente no matrimônio, os casais muitas vezes vêm-se em conflitos conjugais, trazendo, não raro, casos de desentendimentos que culminam em divórcio. Assim sendo, com o aumento no número de casos de divórcio, o legislador procurou facilitar a resolução de conflitos sem o interesse de terceiros, promulgando 8 Emenda Constitucional nº. 66, de 13 de julho de 2010 dá nova redação ao § 6º do art. 226 da Constituição da Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois) anos (SENADO FEDERAL, 2010). 35 uma legislação com o intuito de resolver de forma consensual e administrativa, promovendo agilidade ao Ato Notarial com menor custo e desgaste ao ex-casal (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). O divórcio permite que questões complementares ao processo principal sejam resolvidas, como pensão alimentícia, guarda de filhos menores, definição de visitas e partilha de bens. No entanto, alguns requisitos são necessários para que possa ser possível, como, por exemplo, que o casal não tenha filhos menores de idade ou incapazes e que a dissolução matrimonial se dê consensualmente (SANT’ANNA, 2010). 36 2 LEGITIMIDADE, PROCEDIMENTOS E DOCUMENTAÇÃO Este capítulo tem como finalidade abordar a legitimidade e a documentação do divórcio, seja com ou sem culpa, discorrer sobre as obrigações da separação para quem apresenta os requisitos de lei, abordar os benefícios e/ou os prejuízos oriundos do divórcio. 2.1 LEGITIMIDADE E DOCUMENTAÇÃO O Código Civil (2002), art. 1582 instrui que o pedido de divórcio compete somente aos cônjuges. Porém, se uma das partes for incapaz, como, por exemplo, portador de doença mental, para propor ação ou defender-se, poderá fazê-lo por intermédio de seu curador, ascendente ou o irmão. Assim, é possível afirmar que a ação de separação judicial e a ação de divórcio são personalíssimas, seu pedido cabe somente aos cônjuges, no caso de dúvida cabe ao Ministério Público representar a parte mais vulnerável (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). A partir da promulgação da Emenda Constitucional, que consagra o divórcio como um simples direito potestativo não condicionado e sem causa específica, dispensam-se outros documentos, senão unicamente a certidão de casamento. No entanto, caso os consortes desejem realizar a partilha imediatamente faz-se necessário documentos comprobatórios da titularidade dos bens integrantes do patrimônio comum (CAHALI et al., 2008). 37 2.2 DIVÓRCIO COM OU SEM CULPA De acordo com Valéria Maria Sant’Anna, o divórcio sem culpa foi contemplado na Constituição da República Federativa do Brasil (1988), art. 226, § 6o., ainda que dependente de requisito temporal, conforme segue a redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada a separação de fato por mais de dois anos" (SANT’ANNA, 2010, p. 22). As distorções na conceituação de culpa levam a ideias falhas sobre sua existência nas relações de família, cujos desvios acarretam em enganosa defesa da eliminação da culpa nos rompimentos do casamento e durante a comunhão de vida de um casal. Nesse caso, muitos consideram indesejável a intervenção do Estado na apuração do distorcido conceito de culpa (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). No Direito, a culpa vem a ser o descumprimento consciente do dever conjugal e não pode deixar de ser aplicado no rompimento de uma relação conjugal desfeita pelo motivo culpa. Esse sentimento propicia limites a aceitação da ética e das regras morais impostas pela cultura de cada povo, limitando os impulsos instintivos. Assim, tem importante significado nos relacionamentos interpessoais, nos comportamentos e nas atitudes sociais (SANT’ANNA, 2010). A reparação de um dano é considerada elemento essencial na integração da pessoa, que age em duplo sentido, para controlar o sentimento destrutivo e restaurar o dano feito. Por meio da reparação experimenta-se a dor que causou o dano e são adotadas as medidas apropriadas para aliviá-lo, seja no âmbito da fantasia ou na realidade (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). 38 A culpa, na responsabilidade civil, é demonstrada pela inexecução consciente de algo, ou de uma norma de conduta, ficando demonstrada pela vontade de causar um dano (dolo ou culpa delitual), ou de sua atuação negligente, imprudente ou imperita. Assim, avaliar a imputabilidade da culpa do agente no descumprimento do dever que podia conhecer e observara vontade do infrator sobre a prática do ato ilícito é fundamental (SANT’ANNA, 2010). Diante dos conceitos apresentados, sem desvios e com o apoio da doutrina verifica-se a impossibilidade de eliminar a culpa nas relações de família. No entanto, se a vida era a dois, ambos são responsáveis pela manutenção e fim do relacionamento (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). Quando ambos, marido e mulher, violam os deveres conjugais a culpa é recíproca. No descumprimento dos deveres conjugais vigora o princípio da inadmissibilidade da compensação de culpas, de modo que o descumprimento dos deveres conjugais, por um dos cônjuges, não compensa a culpa do seu consorte no inadimplemento de outro dever matrimonial (SILVA, 2011). Os deveres dos cônjuges são marcados pela reciprocidade (SANT’ANNA, 2010). O Código Civil (2002), art. 1566 enumera os deveres pessoais de ambos os cônjuges, sendo: o de fidelidade recíproca, vida em comum no domicílio conjugal, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e consideração mútua. O dever conjugal fundamenta-se nos direitos de personalidade, incluindo a vida, integridade física e psíquica, a honra, a liberdade e o segredo entre ambos, incluindo outros direitos de mesma natureza (SILVA, 2011). Sant’Anna (2010, p. 22) é favorável ao divórcio sem culpa e posiciona-se com o seguinte ponto de vista: 39 O divórcio sem culpa já tinha sido contemplado na redação originária do § 6o., art. 226, ainda que dependente do requisito temporal. A nova redação vai além, quando exclui a conversão da separação judicial, deixando para trás a judicialização das histórias pungentes dos desencontros sentimentais. Na atualidade, o Direito brasileiro tem procurado demonstrar que a culpa na separação conjugal gradativamente tem perdido as consequências jurídicas que anteriormente negavam a guarda dos filhos ao culpado pela separação, a partilha dos bens independente da culpa de qualquer um dos cônjuges, os alimentos hoje não são mais calculados em razão da culpa de seus pais e mesmo o cônjuge culpado tem direito a alimentos indispensáveis à sobrevivência e a dissolução da união estável independe da culpa do companheiro (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). A culpa, hoje, somente é admissível para anulabilidade, presente nos vícios de vontade aplicáveis ao casamento, a saber: coação e erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge (TEIXEIRA e RIBEIRO, 2008). De acordo com Sant’Anna (2010, p. 25), o casamento em que um dos cônjuges for declarado culpado o art. 1578, do Código Civil (2002), declara que: Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar: I - evidente prejuízo para a sua identificação; II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida; III - dano grave reconhecido na decisão judicial. § 1o. O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro. No divórcio sem culpa, sob a alegação da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), art. 226, § 6o., ao excluir o termo “separação judicial” e normatizar que o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, há o entendimento de que não mais se faz necessária a comprovação de culpa do outro cônjuge para se efetivar o requerimento unilateral do divórcio. Assim, terminam os ataques dos 40 casados ou conviventes que levavam aos tribunais histórias íntimas e pungentes, de forma que a instituição do divórcio sem culpa finaliza a problemática entre os cônjuges. A Constituição suprimiu o instituto da separação, porém, alguns autores entendem que a culpabilidade não deve ser eliminada (SANT’ANNA, 2010). Para Ana C. B. Teixeira e Gustavo Pereira L. Ribeiro (2008), a sentença de decretação judicial fundada na culpa de um ou ambos os cônjuges é constitutiva. A sentença produz efeitos a partir do seu trânsito em julgado ou da decisão que concedeu separação cautelar, nos termos do art. 8o., da Lei do Divórcio, cuja sentença não tem eficácia retroativa, nem mesmo em relação a pensão alimentícia não paga (SANT’ANNA, 2010). Assim, se um dos cônjuges devia alimentos provisionais à mulher, porém, foi vencedor na ação, ainda assim, terá que quitar as prestações vencidas até o trânsito em julgado da sentença. 2.3 OBRIGAÇÃO DA SEPARAÇÃO PARA QUEM TEM OS REQUISITOS DE LEI Os elementos que mais influenciam os cônjuges no momento de efetivar o divórcio são fatores como: rapidez, menor onerosidade e desburocratização na via administrativa e; segredo de justiça, reduzida possibilidade de fraude e maior confiança no Estado-juiz na via judicial (SANT’ANNA, 2010). A Lei no. 5.869, de 1973, do Código de Processo Civil, passa a vigorar acrescida do art. 1.124-A, da Lei nº. 11.441, de 4 de janeiro de 2007 (SANT’ANNA, 2010, p. 44): Art. 1.124-A [...] não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção 41 do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº. 11.441, de 2007). § 1o A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para o registro civil e o registro de imóveis. (Incluído pela Lei nº. 11.441, de 2007). § 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. (Incluído pela Lei nº. 11.441, de 2007). § 3o A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei. (Incluído pela Lei nº. 11.441, de 2007). Como se percebe, atualmente, a Escritura Pública independe de homologação judicial e, por sua vez, constitui um documento hábil, tanto no âmbito do Registro Civil como para o Registro de Imóveis, conforme preconiza o § 1o. da Lei no. 11.441/2007. 2.4 BENEFÍCIOS DO DIVÓRCIO O incremento do divórcio é um fenômeno observado há algum tempo, tanto no Brasil como no mundo, surgindo famílias recombinadas, uma, duas, três ou quantas vezes se necessário for ao cônjuge que desfez o casamento, em busca de ser feliz novamente, marcando o novo panorama tradicional de família. Nesse contexto, a facilitação do divórcio se deu em virtude de fatores sociais, econômicos, políticos, antropológicos e culturais, que desembocaram no aumento do número de casais divorciados (CAHALI et al., 2008). No Brasil, o divórcio é regido pelo princípio da intervenção mínima do Estado, se introduz apenas quando convocado, mas que, ao detectar o fim do afeto que unia o casal, em não havendo mais sentido para forçar uma relação que não mais se sustentaria, defende a lei que cabe estabelecer diretrizes para finalizar as relações afetadas e o consequente fim do casamento, implicando no processo final da união 42 a guarda dos filhos, uso continuum do nome, alimentos, divisão patrimonial/partilha de bens e outros elementos. No entanto, apenas aos cônjuges e a ninguém mais é dada a decisão do término do vínculo conjugal (CAHALI et al., 2008). De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2012), o divórcio é infinitamente mais vantajoso se comparado a simples medida judicial, nome este outorgado em 1977, anteriormente conhecido como “desquite”. Juridicamente, o divórcio conduz ao desfazimento da sociedade conjugal e aodesfazimento do vínculo matrimonial, permitindo aos ex-cônjuges um novo casamento. Sob o prisma psicológico, evita a duplicidade de processos, e na separação do marido e mulher o casal parte imediatamente para o divórcio (SANT’ANNA, 2010). Sob a ótica econômica o fim da separação é bastante viável, com isso, evitam-se gastos judiciais desnecessários por conta da duplicidade de procedimentos (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). Dentre as vantagens práticas do divórcio há de se constatar que: Um ano e meio após ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei n. 11441, que leva aos estabelecimentos notariais e registrais casos consensuais de divórcio, inventário e partilha de bens, desde que não envolvam o interesse de menores, já é uma realidade. A nova legislação trouxe agilidade e economia aos paranaenses, facilitando o procedimento; o tempo médio para a execução da Escritura Pública em Cartório é de 15 dias, dependendo do número de bens envolvidos na questão (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012, p. 70). Continua o autor, em termos de custos, pode ser até 90% mais econômico, comparativamente ao processo de divórcio judicial, conforme segue os pressupostos: Os preços também são mais acessíveis comparados ao procedimento judicial, custando até 90% menos ao bolso do cidadão. [...] antes da Lei no. 11.441/2010, separações e divórcios somente poderiam ser realizados por juízes nas Varas de Família e Sucessão e o processo era mais demorado. 43 Uma separação amigável levava em média dois meses. Já com a nova lei, pode ser feita no mesmo dia. Em casos de inventários que existem bens, o procedimento de trazer vantagens à população, a legislação é uma contribuição ao Poder Judiciário brasileiro, que pode concentrar esforços apenas aos casos em que realmente a figura mediadora do juiz se faz necessária, para a resolução de conflitos ou respaldar o direito de menores e incapazes (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012, p. 70). Todavia, é importante ressaltar que a separação judicial permitia a reconciliação do casal, o que fatalmente não seria possível mediante a consumação do divórcio que, uma vez decretado, se os ex-consortes pretendessem reatar o relacionamento e a vida de casados precisariam recelebrar o ato cerimonial (CAHALI et al., 2008). 2.5 PREJUÍZOS DO DIVÓRCIO O divórcio apresenta como desvantagem a impossibilidade de reatamento dos consortes, ao passo que a separação judicial permitia ao casal reatar a qualquer momento a união mediante o interesse para tal, estando aberta a possibilidade com a separação judicial (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). Também, os Tribunais ao vislumbrarem o dia a dia forense constataram casos de separação judicial que se convertiam em divórcios. No entanto, havendo arrependimento em meio ao universo passado e presente dos ex-cônjuges, percebiam hipóteses positivas para não realizar o divórcio, pois que uma vez divorciados os consortes/descasados, deveriam iniciar um novo processo de formalização do casamento (SANT’ANNA, 2010). A partir da promulgação da Emenda Constitucional n. 66/2010, que suprimiu a separação judicial e a exigência de prazo de separação de fato para a dissolução 44 do vínculo matrimonial, retirou também a possibilidade de reconciliação dos casados (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2012). 45 3 CASAMENTO EFICAZ COMO PRESSUPOSTO PARA O DIVÓRCIO O Código Civil (2002), art’s 1565 a 1570, tratam da eficácia do casamento, aduzem entender que para a possibilidade de divórcio deve haver o pressuposto básico, ou seja, “um casamento eficaz”. Mas para isso, primeiro, a união conjugal deve assumir a condição de companheiros perante parentescos e perante a sociedade (SANT’ANNA, 2010). Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1º. Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. § 2º. O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos. Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses. Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial. Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares relevantes. Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a administração dos bens. Todavia, enquanto interventor na dissolução o Notarial ou o magistrado devem compreender o que realmente conduz a um casal separar-se? Possivelmente o art. 1566 responderia a tal questionamento, seria, então: “a falta de respeito 46 mútuos, conhecida como “o amor acabou entre ambos”, ou, “não há mais compatibilidade emocional ou de vivência na relação”. Nesse caso, quando há certeza de que não há mais o desejo de continuidade do casamento, há dois caminhos a serem tomados, o divórcio por consentimento mútuo extrajudicial ou divórcio judicial. Caso o interesse seja apenas por uma das partes, o requerimento é feito pela via judicial e então o magistrado cita o outro cônjuge para vir responder os termos da demanda. 3.1 PACTOS PRÉ-NUPCIAIS De acordo com o site Diretório.org: “o pacto ou contrato antenupcial é usado para proteger bens [próprios] e defender o patrimônio, serve também para acordar a pensão para filhos, pensão para cônjuge, responsabilidade sobre dívidas, abdicação de convívio”. Apesar de não ser requisito obrigatório para o casamento, o pacto pré-nupcial quando não realizado automaticamente será adotado o regime obrigatório legal, isto é, comunhão parcial de bens. Caso os nubentes pretendam optar por casarem sob outros regimes cito a comunhão universal, separação de bens ou participação final nos aquestos, imprescindível a lavratura do pacto-nupcial junto ao tabelião. De acordo com Rodrigo Tubino Veloso (2005): A crescente utilização do contrato pré-nupcial, ainda que para conservadores ou ingênuos represente mal estar entre os nubentes e suas respectivas famílias, por tratar de questões de natureza patrimonial e financeira, anteriormente ao casamento, tem sido a forma mais adequada para antecipar soluções de problemas que posteriormente venham ter. 47 Embora haja resistência entre os nubentes e suas famílias o contrato pré- nupcial figura como importante instrumento na prevenção de conflitos e, especialmente, quando celebrado entre casais de nível sociocultural e/ou socioeconômico díspar, se um dos noivos exercer atividade econômica que envolva risco financeiro e, no caso de ter herdeiros filhos de outras uniões (VELOSO, 2005). [...]
Compartilhar