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Resumo de Direito Econômico

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93
 
DIREITO 
ECONÔMICO
SUMÁRIO
1. Introdução ao Direito Econômico	7
1.1. Conceito de Direito Econômico	7
1.2. Objeto do Direito Econômico	7
1.3. Constituição Econômica	8
1.3.1. Conceito	8
1.3.2. Tipologias de Sistemas Econômicos	10
1.3.2.1. Notas sobre o Capitalismo	11
1.3.3. Ordem Jurídico-Econômica	14
1.3.4. Competência para Legislar sobre Direito Econômico	14
1.3.5. Princípios Constitucionais do Direito Econômico	14
1.3.5.1. Princípio da Soberania Nacional	15
1.3.5.2. Propriedade Privada e Função Social da Propriedade	16
1.3.5.3. Princípios da Livre Concorrência e da Livre Iniciativa	17
1.3.5.3.1. Relação entre a Livre Concorrência e a Livre Iniciativa	18
1.3.5.3.2. Diferença entre Livre Iniciativa e Livre Concorrência	21
1.3.5.4. Princípio da Defesa do Consumidor	24
1.3.5.5. Princípio da Defesa do Meio Ambiente	24
1.3.5.6. Princípio da Redução das Desigualdades Regionais e Sociais	25
1.3.5.7. Princípio da Busca do Pleno Emprego	25
1.3.5.8. Princípio do Tratamento Favorecido para as Empresas de Pequeno Porte Constituídas sob as Leis Brasileiras e que tenham sua Sede e Administração no País	26
1.3.5.9. Princípio do Livre Exercício de Qualquer Atividade Econômica	26
1.4. Princípios Regentes do Direito Econômico	29
1.4.1. Os Princípios de Integração, de José Afonso da Silva	29
1.5. Política Econômica	30
1.6. Sujeitos do Direito Econômico	30
1.7. Intervenção do Estado no Domínio Econômico	31
1.7.1. Liberalismo e Intervencionismo	33
1.7.2. Modalidades de Intervenção	36
1.7.2.1. Intervenção Direta: Exercício de Atividade Econômica	37
1.7.2.1.1. Atividade Econômica Estatal, Subsidiariedade e Interesse Público	38
1.7.2.2. Intervenção Direta: Monopólio	41
1.7.2.2.1. Monopólio X Privilégio: a Questão a ADPF 46 (ECT)	43
1.7.2.3. Intervenção Direta: Serviços Públicos	46
1.7.2.4. Intervenção Indireta	46
1.7.2.5. Intervenção Indireta: Estado como Agente Normativo	47
1.7.2.6. Intervenção Indireta: Estado como Agente Fiscalizador	52
1.7.2.7. Intervenção Indireta: Atividades de Fomento ou Incentivo	52
1.7.2.7.1. Atividade de Fomento e Princípio da Isonomia	52
1.7.2.8. Intervenção Indireta: Planejamento Estatal	62
1.8. Origem e Evolução do Direito Econômico	62
1.8.1. O Estado Democrático de Direito	62
1.8.2. Formas de Posicionamento Econômico do Estado	63
1.9. Análise Econômica do Direito – AED	64
1.10. As “Cores” da Economia	67
1.11. Observações de Provas	68
2. Normas de Proteção à Concorrência	73
2.1 O Ordenamento Jurídico da Concorrência	73
2.1.1. A Empresa e o Mercado	73
2.1.2. Liberdade de Atuação no Mercado: Livre Concorrência	74
2.1.2.1. Liberdade de Iniciativa: Condicionamentos e Restrições	77
2.1.3. O Fenômeno da Concentração de Empresas	79
2.1.4. Concentração de Empresas: Consequências	79
2.1.5. Posicionamento dos Estados perante a Concentração	79
2.1.5.1. A Legislação Antitruste nos EUA	80
2.1.5.2. A Legislação Antitruste no Brasil	80
2.2. A Execução da Lei de Concorrência	80
2.2.1. Princípios Norteadores	80
2.2.1.1. Princípio da Liberdade de Comércio	81
2.2.1.2. Princípio da Liberdade Contratual	81
2.2.1.3. Princípio da Igualdade	81
2.2.1.4. Princípio da Não Discriminação	81
2.2.1.5. Princípio da Transparência do Mercado	81
2.2.1.6. Princípio da Eficiência	81
2.3. A Lei Antitruste Brasileira (Lei nº 12.529/11)	82
2.3.1. Origem	82
2.3.2. Disposições Gerais	82
2.3.2.1. Remissões Constitucionais	82
2.3.2.2. Conteúdo	82
2.3.2.3. Aplicação Espacial	82
2.3.2.4. O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC (art. 3º)	83
2.3.3. Concentração Econômica	83
2.3.3.1. Concorrência Ilícita X Concorrência Desleal	84
2.4. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE (arts. 4º a 18)	85
2.4.1. Criação e Transformação	85
2.4.2. Estrutura do CADE	86
2.4.3. O Tribunal Administrativo de Defesa Econômica – TADE (arts. 6º a 11)	86
2.4.3.1. Estrutura e Composição	86
2.4.3.2. Competências do Plenário do TADE (art. 9º)	88
2.4.3.3. Competências do Presidente do TADE (art. 10º)	90
2.4.3.4. Competências dos Conselheiros (art. 11)	91
2.4.3.5. A Consulta	93
2.4.3.6. A Possibilidade de Revisão das Decisões do CADE pelo Poder Judiciário	93
2.4.4. A Superintendência-Geral – SG (arts. 12 a 14)	93
2.4.4.1. Competências da Superintendência-Geral (art. 13)	94
2.4.4.2. Atribuições do Superintendente-Geral (art. 14)	97
2.4.5. A Procuradoria Federal junto ao CADE (arts. 15 e 16)	97
2.4.5.1. Competências da Procuradoria Federal (art. 15)	98
2.4.5. O Departamento de Estudos Econômicos – DEE (arts. 17 e 18)	99
2.5. A Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE (art. 19)	99
2.6. Ministério Público Federal perante o CADE (art. 20)	101
2.6. Infrações da Ordem Econômica (arts. 31 a 47)	101
2.6.1. Disposições Gerais	101
2.6.2. Delimitação da Responsabilidade	101
2.6.3. Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 34)	102
2.6.4. Visão Geral sobre as Infrações à Ordem Econômica	103
2.6.4.1. Infrações à Ordem Econômica	103
2.6.4.2. Efeitos das Infrações (art. 36)	103
2.6.5. Condutas contra a Ordem Econômica (art. 36, § 3º)	105
2.6.5.1. Tipificação das Condutas contra a Ordem Econômica	106
2.6.6. Das Penas (arts. 37 a 45)	109
2.6.6.1. Multa Aplicável à Empresa, Grupo ou Conglomerado (art. 37, I)	110
2.6.6.2. Faturamento da Empresa ou Faturamento da Empresa no Mercado Relevante em que se Deu a Infração?	111
2.6.6.3. Multa Dirigida a Outras Pessoas Físicas ou Jurídicas (art. 37, II)	111
2.6.6.4. Multa Dirigida aos Administradores (art. 37, III)	111
2.6.6.5. Penas Não Pecuniárias (art. 38)	112
2.6.6.6. Quadro Síntese das Penas Previstas na Lei nº 12.529/11	114
2.6.6.7. Continuidade dos Atos, Desrespeito a Decisão do CADE, Descumprimento de Medidas Preventivas ou de Compromisso de Cessação (arts. 39 e 40)	114
2.6.6.8. Outras Multas (arts. 42 a 44)	115
2.6.6.9. Discricionariedade na Dosagem da Pena	115
2.6.6.10. Critérios a serem Considerados para a Dosagem da Pena (art. 45)	116
2.6.7. Prescrição (art. 46)	116
2.6.8. Direito de Ação (art. 47)	117
2.7. Das Diversas Espécies de Processo Administrativo (arts. 48 a 87)	117
2.7.1. Processo Administrativo no Controle de Atos de Concentração Econômica – PAACE (arts. 53 a 65)	119
2.7.1.1. PAACE na Superintendência-Geral (arts. 53 a 57)	119
2.7.1.2. Do PAACE no TADE (arts. 58 a 63)	120
2.7.1.3. Recurso contra a Aprovação do Ato de Concentração pela SG (art. 65)	122
2.7.2. Inquérito Administrativo para Apuração de Infrações à Ordem Econômica e do Procedimento Preparatório (arts. 66 a 68)	123
2.7.2.1. O Procedimento Preparatório – PP	123
2.7.2.2. Inquérito Administrativo para Apuração de Infrações à Ordem Econômica (IAAI)	123
2.7.2.3. Roteiro Esquemático da Atuação do PP e do IAAI	125
2.7.3. Processo Administrativo para Imposição De Sanções Administrativas Por Infrações à Ordem Econômica – PAISA (arts. 69 a 83)	125
2.7.4. Medidas Preventivas (art. 84)	128
2.7.5. Compromisso de Cessação (art. 85)	129
2.7.6. Programa de Leniência (arts. 86 e 87)	131
2.7.6.1. Efeitos Penais da Celebração do Acordo de Leniência	134
2.7.8. Decisões Judiciais sobre Questões Relativas a Processos do CADE	135
2.8. Controle dos Atos de Concentração – AC (arts. 88 a 91)	141
2.8.1. Sistema da Razão ou Sistema de Autorização	146
2.8.2. O Compromisso de Desempenho (art. 89 c/c art. 81)	147
2.9. Execução Judicial das Decisões do CADE (arts. 93 a 111)	147
2.9.1. Do Processo	147
2.9.2. Da Intervenção Judicial	150
2.10. Disposições Finais	152
2.11. Tabela Síntese dos Institutos da Lei nº 12.259/11	152
2.11. Cartéis	154
2.11.1. Acordos Verticais e Acordos Horizontais	154
2.11.2. Acordos Horizontais: Os Cartéis	155
2.11.3. Os Cartéis e suas Justificativas	156
2.11.4. Cartéis de Preços	156
2.11.5. Acordos entre Agentes em Posição de Igualdade	157
2.11.6. Acordos de Price Leadership	157
2.11.7. Os Cartéis de Exportação (Uma Constante Exceção)	158
2.12. Aumento Arbitrário dos Preços	158
2.13. Monopólios, Oligopólios, Monopsônios, Oligopsônios e Trustes	1602.14. Jurisprudência Colacionada (TRF1)	161
2.15. Modificações Penais Produzidas pela Nova Lei do CADE	170
2.16. Observações de Provas	171
3. Processos de Integração e Blocos Econômicos	178
Breve Histórico da Integração Regional	178
3.1. Mercosul	179
3.1.1. Histórico	179
3.1.2. Natureza Jurídica	181
3.1.3. Estrutura	181
3.1.3.1. Conselho do Mercado Comum – CMC	181
3.1.3.2. Grupo Mercado Comum – GMC	181
3.1.3.3. Comissão de Comércio do Mercosul – CCM	182
3.1.3.4. Comissão Parlamentar Conjunta – CPC	182
3.1.3.5. Foro Consultivo Econômico-Social – FCES	182
3.1.3.6. Secretaria Administrativa do MERCOSUL – SAM	182
3.1.3.7. Parlamento do MERCOSUL	182
3.1.4. Propósito, Princípios e Instrumentos	183
3.1.5. Solução de Controvérsias entre Estados-Partes – Protocolo de Olivos	185
3.1.5.1. Intervenção do Grupo Mercado Comum	186
3.1.5.2. Tribunal Arbitral Ad Hoc	186
3.1.5.3. Tribunal Permanente de Revisão	186
3.1.6. Defesa da Concorrência no MERCOSUL – Protocolo de Fortaleza	187
3.1.7. Reclamação de Particulares	188
3.1.8. Eleição de Foro	188
3.1.9. Estados Partes e Associados	188
3.2. GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio	188
3.2.1. Princípios	188
3.2.2. Consequências do GATT	189
3.3. Organização Mundial do Comércio – OMC	189
3.3.1. Estrutura Organizacional	190
3.3.1.1. Conferência de Ministros	190
3.3.1.2. Conselho Geral	190
3.3.1.3. Secretariado	190
3.3.2. Estrutura das Negociações	190
3.3.3. Posição do Brasil junto à OMC	191
3.3.4. Sistema de Solução de Controvérsias	191
3.3.5. Princípios da OMC	191
3.4. O Fundo Monetário Internacional – FMI	192
3.4.1. Princípios do FMI	192
3.4.2. Estrutura Organizacional	193
3.4.2.1. Conselho de Governadores	193
3.4.2.2. Conselho de Administração	193
3.4.2.3. Comitê Interino	193
3.5. Integração Econômica	193
3.5.1. Introdução	193
3.5.1.1. Barreiras Tarifárias	194
3.5.1.2. Barreiras Não Tarifárias	194
3.5.2. Fases ou Estágios da Integração Econômica	195
3.5.2.1. Zona de Tarifas Preferenciais (Preferências Aduaneiras)	195
3.5.2.2. Zona de Livre Comércio – ZLC (Free Trade Association)	195
3.5.2.3. União Aduaneira – UA	196
3.5.2.4. Mercado Comum – MC	196
3.5.2.5. União Econômica ou Monetária	197
3.5.2.6. União Política	197
3.5.2.7. Como se Classifica o Mercosul?	197
3.6. Observações de Provas	198
4. Sistema Brasileiro de Comércio Exterior e Defesa Comercial	200
4.1. O Comércio Exterior	200
4.1.1. Departamento de Operações de Comércio Exterior – DECEX	200
4.1.2. Departamento de Negociações Internacionais – DEINT	202
4.1.3. Câmara de Comércio Exterior – CAMEX	202
4.1.4. Secretaria de Comércio Exterior – SECEX	204
4.2. A Defesa Comercial	205
4.2.1. Departamento de Defesa Comercial – DECOM	205
4.2.1.1. Histórico da Defesa Comercial no Brasil	205
4.2.1.2. Investigação	207
4.3. Infrações ao Comércio Exterior	207
4.3.1. Dumping	209
4.3.2. Subsídios	210
4.3.2.1. O Processo de Investigação de Subsídios	211
4.3.2.1. Subsídios Acionáveis ou Amarelos	211
4.3.2.2. Subsídios Não Acionáveis ou Não Recorríveis	211
4.3.3. Tabela Síntese – Conceitos	212
4.4. Instrumentos de Defesa Comercial	213
4.4.1. Medidas ou Direitos Antidumping	216
4.4.1.1. Proibição de Importação de Produtos sob Margem de Dumping sem Processo Administrativo	217
4.4.2. Medidas Compensatórias	220
4.4.3. Medidas de Salvaguarda	221
4.4.4. Defesa Comercial – Tabela Síntese	224
4.5. Observações de Provas	225
5. A Ordem Econômica Internacional	226
5.1. Aspectos da Ordem Econômica Internacional	226
5.2. Definição	226
5.3. Normas de Direito Econômico Internacional	227
5.4. Sujeitos da Ordem Econômica Internacional	227
6. Programa Nacional de Desestatização	227
1. Introdução ao Direito Econômico
1.1. Conceito de Direito Econômico
“Trata-se do ramo do Direito Público que disciplina a condução da vida econômica do país, tendo como finalidade o estudo, o disciplinamento e a harmonização das relações jurídicas entre os entes públicos e os agentes privados, detentores dos fatores de produção, nos limites estabelecidos para a intervenção do Estado na ordem econômica” (Leonardo Vizeu).
Para Fábio Konder Comparato, é o “conjunto das técnicas jurídicas de que lança mão o Estado contemporâneo na realização de sua política econômica”.
Para Washington Peluso Albino de Souza, trata-se do “ramo do Direito, composto por um conjunto de normas de conteúdo econômico e que tem por objeto regulamentar medidas de política econômica referentes às relações e interesses individuais e coletivos, harmonizando-as – pelo princípio da economicidade – com a ideologia adotada na ordem jurídica”.
Direito Econômico não se confunde com a Economia, já que esta é a ciência que visa a estudar a forma pela qual os indivíduos e a sociedade interagem com os fatores de produção, tanto de um ponto de vista microeconômico quanto macroeconômico.
1.2. Objeto do Direito Econômico
Ele objetiva, primordialmente:
A organização da economia, definindo juridicamente o sistema e o regime econômicos a serem adotados pelo Estado;
A condução ou controle superior da economia pelo Estado, uma vez que estabelece o regime das relações ou equilíbrio de poderes entre o Estado e os detentores dos fatores de produção e entre estes;
O disciplinamento dos centros de decisão econômica não estatais.
Na verdade, deve-se entender que o Direito Econômico tem a função juridificante, já que busca ordenar a ordem jurídico-econômica de forma a garantir o bem-estar social, precipuamente.
Há de se lembrar que o Estado cumpre sua função através de políticas públicas, ou seja, o Estado governa através de mecanismos jurídicos – a lei – que materializa a política econômica. Assim, é o Estado que tem competência para fixar, determinar, estipular e executar políticas econômicas. 
A política econômica é uma decorrência da necessidade do Estado e da sociedade de traçarem as diretrizes fundamentais da economia COM VISTAS À REALIZAÇÃO DE CERTOS OBJETIVOS, como, por exemplo, a estabilidade econômica, o desenvolvimento ou crescimento econômico. Esses objetivos são traçados pela Constituição, que faz as opções políticas fundamentais, elencados nos princípios do art. 170, onde há um conjunto de escolhas fundamentais relativas à ordem econômica.
A política econômica realiza-se em um sistema econômico já existente, liberal ou socialista, de modo que possa operar alterações no sistema econômico, adaptando-o, com o escopo de atingir os fins escolhidos pelo Estado.
Ademais, ela pode variar de acordo com as necessidades da época e do contexto social. Assim é que se constata a evolução histórica da política econômica.
A POLÍTICA ECONÔMICA SURGE COM AS OPÇÕES POLÍTICAS QUE O CONSTITUINTE ADOTOU E MATERIALIZA-SE POR MEIO DE DISPOSIÇÕES LEGAIS.
A política econômica é constituída pelo conjunto de intervenções dos poderes públicos na economia, caracterizadas por uma escala de prioridades dos objetivos a alcançar e pela seleção dos instrumentos coerentes para os atingir. Permite beneficiar do conhecimento teórico para influenciar a realidade econômica e, sobre muitos aspectos, o próprio desenvolvimento da sociedade e sobretudo sobre as forças produtivas.
Curto prazo
Médio/longo prazo
Política Conjuntural
Política EstruturalA política econômica pode caracterizar-se por uma perspectiva de curto prazo e denomina-se então por política conjuntural ou caracterizar-se por efeitos que se fazem sentir a médio ou longo prazo através duma política estrutural. De resto, há necessidade de articular a política conjuntural com a política estrutural, de modo que as políticas conjunturais sejam meios para se lograr êxito na política estrutural.
 
A política econômica desempenha uma função normativa no tocante à situação econômica. O caráter, a orientação social e a extensão da influência que a política econômica exerce são na sua totalidade determinadas pelo regime político-social e pelas leis objetivas do seu desenvolvimento. Tais objetivos podem resumir-se a partir das três funções do Estado: a função de atribuição, com o fimde criar condições favoráveis ao crescimento e ao desenvolvimento econômicos; a função de redistribuição, a incidir sobre a repartição dos rendimentos, justificada por um interesse que deveria ser coletivo; a função de estabilização que tem a ver com a regulação conjuntural da atividade econômica. Por vezes, os objetivos pretendidos são contraditórios, estão sujeitos a restrições que impedem de os levar à prática ou dependem de condições históricas favoráveis à sua concretização.
1.3. Constituição Econômica
1.3.1. Conceito
Ao se referir à Constituição Econômica, está-se a falar sobre o CONJUNTO DE REGRAS CONSTITUCIONAIS QUE VERSAM SOBRE O DIREITO ECONÔMICO. A ordem econômica e financeira está tratada nos arts. 170 a 181 da CR/88.
Ela visa a regular tanto a atuação do particular na vida econômica da sociedade, consagrando como regra a livre iniciativa, como limitar a atuação estatal, além de dotar-lhe de mecanismos aptos a interferir na ordem econômica de forma positiva e a corrigir desvios deletérios para a sociedade.
Por regular a atividade econômica em geral, necessário saber o que ela é: trata-se de todo empreendimento envidado no sentido de produzir, circular ou consumir bens, a fim de atender as necessidades coletivas e individuais da sociedade.
Já atividade econômica em sentido estrito é aquela exercida exclusivamente pelos agentes privados, sendo regida somente pelas normas de direito privado.
O Estado pode desempenhar atividades econômicas em sentido estrito em duas hipóteses: quando houver autorização constitucional e quando assim o permitir a lei fundada em motivo de segurança nacional ou relevante interesse público.
CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA é uma constituição mais diretiva, programática, que contém em seus dispositivos programas e objetivos a serem alcançados e implementados. São estabelecidas diretrizes para as políticas públicas, orientando a atividade dos administradores públicos. Como destaca a doutrina, através das normas programáticas, “o legislador maior traça rumos a serem seguidos e metas a serem alcançadas, fixando princípios básicos que nortearão a iniciativa do legislador ordinário e exigirão do administrador e do juiz o seu acatamento e aplicação nos atos de concretização das normas, lembrando-se sempre de que a finalidade intrínseca das normas programáticas é a de criar uma nova realidade política, econômica e social”.
A Constituição econômica é definida, para José Afonso da Silva, como a parte da constituição que interpreta o sistema econômico, ou seja, que dá forma ao sistema econômico. Por sua vez, Vital Moreira, considera que a Constituição econômica está constituída pelo conjunto de preceitos e instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema econômico, instituem uma determinada forma de organização e funcionamento da economia e caracterizam, por este mesmo motivo, uma determinada ordem econômica.
A Constituição Econômica pode ser classificada em formal ou material.
A Constituição econômica formal é o conjunto de normas que, incluídas na constituição, escrita, formal do Estado, versam o econômico.
A Constituição econômica material é aquela que abrange todas as normas que definem os pontos fundamentais da organização econômica, estejam ou não incluídas no documento formal que é a constituição escrita.
Inclusive é comum que a Constituição econômica material seja mais extensa que a constituição formalizada. Portanto, as regras jurídicas que integram a constituição material, caracterizam-se não pela forma e sim pelo seu conteúdo. Esse conteúdo, ou matéria, é o fundamental para a organização da economia. 
Em sendo a Constituição econômica considerada aquela parcela da constituição diretamente direcionada à regulação da economia no âmbito estatal, tal processo de constitucionalização imprime dois principais efeitos direcionados especificamente ao tratamento, no âmbito prático, dado à ordem econômica.
Em primeiro lugar, ao ser constitucionalizado, o sistema econômico, no âmbito normativo de aplicação (interpretação), acaba recebendo a influência de toda a sistemática normativa constitucional, na medida em que a ordem econômica e financeira torna-se uma parte da constituição formal, ou seja, uma parte do texto constitucional e nele se integra, daí porque os critérios juspolíticos e as exigências de índole material e formal imputadas às demais proposições constitucionais serão também aplicadas às proposições constitucionais de regulação da economia. 
Logo, a interpretação, a aplicação e a execução dos preceitos que compõem a Constituição econômica passam a reclamar, com a sua respectiva constitucionalização, o ajustamento permanente das regras da ordem econômica e financeira às disposições do texto constitucional que se encontram nas outras partes da constituição, uma vez que sua totalidade textual é indissociável, posto que a Constituição constitui um sistema. Desta feita, o grande efeito gerado por tal constitucionalização é que os preceitos constitucionais relativos à ordem econômica e financeira ficam submetidos e devem, portanto, se harmonizar aos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil e do Estado democrático constitucional de direito.
Em segundo lugar, os preceitos econômicos incorporados à constituição servem como fundamento ou parâmetro de análise da legitimidade de todas as atuações econômicas no âmbito do Estado, em especial para as condutas dos poderes públicos concernentes às intervenções na economia.
1.3.2. Tipologias de Sistemas Econômicos
Sistema econômico é a forma adotada por um Estado no que se refere à propriedade dos fatores de produção e distribuição do produto do trabalho. Pode também ser conceituado como um conjunto coerente de instituições jurídicas e sociais, no seio das quais são postos em ação, a fim de assegurar a realização do equilíbrio econômico, certos meios técnicos organizados na junção de certos móveis dominantes.
Outra definição ainda é como sendo a forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade. Engloba o tipo de propriedade, a gestão da economia, os processos de circulação das mercadorias, o consumo e os níveis de desenvolvimento tecnológico e da divisão do trabalho.
De conformidade com sua definição, os elementos básicos de um sistema econômico são: 1) os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, que são os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia; 2) o complexo de unidades de produção, que são constituídas pelas empresas e; 3) o conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais, que constituem a base de organização da sociedade.
Há dois principais sistemas:
Capitalismo: sistema no qual as relações de produção estão assentadas na propriedade privadas dos bens em geral, dos fatores de produção, na ampla liberdade de iniciativa e de concorrência. Tem no capital um de seus principais fatores de produção. Foi claramente o sistema adotado pelo constituinte, já que há a expressa consagração da livre iniciativa no caput do art. 170.
Socialismo, economia centralizada ou planificada: sistema baseado na autoridade estatal que centraliza e unifica a economia em torno do Poder Central. Ele em muito limita o direito de propriedade; estatiza os meios de produção; tem como principal fator de produção a mão de obra, com gestão política que visa à redução das desigualdades sociais. O sistema socialista tem suas doutrinas e movimentos políticos voltados para os interesses dos trabalhadores, priorizando eliminar as diferenças entre as classes sociais e planificar a economia, para obter uma distribuição racional e justa da riqueza social.
1.3.2.1. Notas sobre o Capitalismo
Os sistemas econômicos (também chamados modelos econômicos), como organização institucional da sociedade, criados para enfrentar o problema da escassez de recursos, podem ser classificados em três modelos fundamentais: 
Sistema fundado na tradição: baseado na repetição de tudoo que já estiver ocorrendo, ou seja, na reiteração dos padrões comportamentais até então existentes; sistema no qual os agentes econômicos, sem efetiva racionalidade, repetem os padrões de comportamento impostos pela tradição.
Sistema fundado na autoridade: no qual se verifica uma fusão entre os planos econômico e político, cabendo ao Estado promover um plano (planejamento) em que se encontrem previstas as variáveis da produção (economia planificada); sistema baseado na crença de que o Estado, por meio da autoridade, pode resolver o problema econômico, planificando a economia. 
Sistema fundado na autonomia: também chamado modelo de mercado ou sistema descentralizado, no qual os cidadãos, individual ou agrupadamente, são livres para tomarem as decisões econômicas, por não acreditarem que o Estado pode resolver o problema econômico; ao contrário, creem na ideia de que é dispensável o planejamento do Estado, já que agirão hedonisticamente (objetivando a maximização dos resultados), todos os agentes agirão da melhor forma possível, gerando uma planificação subliminar do mercado; o referido sistema, tempos após sua criação, passou a ser denominado sistema capitalista.
A História mostra que tem havido combinações entre esses três modelos, originando famílias de sistemas, conforme a predominância de cada um. 
 Ao final do século XVIII, como consequência dos ideais de liberdade surgidos na Europa, em contraposição ao absolutismo real visto como direito divino, começaram a surgir as constituições chamadas liberais. Com essas constituições, que foram o primeiro e fundamental instrumento para a implantação do sistema descentralizado ou autônomo supracitado, surgiram as ideias complementares, entre as quais se destacam:
ideias que, com o objetivo de enfraquecer o Estado, asseguravam e pregavam a liberdade, inclusive a econômica, estabelecendo uma distinção razoavelmente ampla entre o plano político e o plano econômico e demarcando a tripartição dos poderes; 
a sistematização ou codificação do Direito privado, representando uma estrutura apta a assegurar a certeza das relações jurídicas, configurando um grande suporte para a implantação do sistema de mercado;
o desenvolvimento de um Direito Administrativo amoldado ao sistema liberal com uma posição absenteísta do Estado, surgindo o poder de polícia como forma incipiente de impor restrições a certas iniciativas dos particulares tidas como ofensivas à ordem, à segurança e à incolumidade dos cidadãos, uma vez que a liberdade individual não poderia ser ilimitada, encontrando seus limites na proteção dos interesses sociais e públicos. 
Embora o progresso e o desenvolvimento da tecnologia e da atividade econômica tenham sido notáveis, os aproximadamente 150 anos de vivência do sistema liberal produziram um quadro político e social conturbado, acabando por revelar importantes falhas, inoperacionalidades ou imperfeições do sistema, devido à confirmação do alto grau de dificuldade apresentado pela função de coordenar as inúmeras decisões de aspectos econômicos. 
As falhas apresentadas por esse sistema, que podem ser chamadas falhas de mercado, são cinco e correspondem à ausência dos pressupostos que haviam lastreado a concepção liberal ideal na sua formulação, quais sejam: 
Mobilidade de fatores: representa a agilidade de modificação dos fatores de produção, a fim de se poder reagir aos sinais indicativos, representados pelos preços, revertendo automaticamente certas situações indesejáveis. Verificou-se, porém, que essa agilidade não ocorre; na verdade, em quase todos os fatores (físicos, operacionais, institucionais etc.) existe uma rigidez que impede aqueles deslocamentos céleres, automáticos e oportunos para o afastamento das situações indesejáveis que se apresentam em determinadas circunstâncias.
Acesso às informações relevantes: pressuposto básico, pois dispondo dessas informações sobre o mercado e sobre as características dos produtos nele negociados, os agentes poderiam atuar hedonisticamente, fato responsável pela organização e planificação do mercado. Entretanto, quer em razão do aumento da complexidade dos produtos, do tamanho dos mercados e de inúmeros outros fatores, quer em decorrência da intenção dos agentes econômicos de esconderem informações para agirem de forma egoísta, verificou-se ser impossível assegurar a todos os agentes a totalidade das informações relevantes de que necessitavam. 
Concentração econômica: uma falha de estrutura. O mercado foi pensado, originariamente, como um conjunto de unidades economicamente pequenas (concepção atomística), sem que a presença ou ausência de qualquer uma dessas unidades pudesse ou tivesse um peso que implicasse alterações do próprio mercado.
Externalidades: correspondentes a fenômenos pelos quais os custos ou benefícios de qualquer atividade circulam na economia. Esses custos/benefícios passam de um setor para outro, sem qualquer compensação e desconfiguram o funcionamento do mercado, pelo fato de alguns produtos ou serviços terem, por preço, valores distintos daqueles que realmente deveriam ter, em razão da incorporação do benefício ou prejuízo – em decorrência da externalidade, positiva ou negativa, respectivamente. As externalidades configuram falha de sinal, uma vez que os preços e custos dos produtos assinalam o seu grau de escassez. Como as externalidades têm a habilidade de maquiar esses preços, a respectiva escassez não é fielmente sinalizada.
Mobilidade dos fatores de produção
Acesso às informações relevantes
Concentração econômica
Externalidades
Existência de bens coletivosExistência de bens coletivos (públicos): bens que atendem simultaneamente a um conjunto de pessoas. Esses bens geram uma falha de incentivo, uma vez que, no regime de mercado, os produtores são levados a produzir, e os consumidores a adquirir, pelo menor preço possível – ambos, portanto, são incentivados pelo preço. Quanto aos bens públicos, não há incentivo, porque não existe a possibilidade de escolha. 
Falhas de mercado:
Verificadas essas falhas (inoperacionalidades) do mercado, começou a surgir um grande número de normas jurídicas visando ao respectivo controle ou mesmo à mitigação. TRATA-SE, JUSTAMENTE, DA REINTRODUÇÃO DO ESTADO NO SISTEMA ECONÔMICO, MEDIANTE A EDIÇÃO DE NORMAS DE CARÁTER GERAL E REGULAMENTAR. Esse reingresso do Estado não foi sistemático, nem sempre conscientemente desejado, mas fruto de uma necessidade impostergável, à falta de alternativa para com elas lidar.
A AÇÃO DO ESTADO, COMO MERO CONTROLADOR DAS INOPERACIONALIDADES DO MERCADO, RECEBEU O NOME CAPITALISMO REGULAMENTAR OU NEOLIBERALISMO, designação que quer mostrar a permanência dos ideais do liberalismo, mas modificados para poderem levar em consideração os novos reclamos provocados pelo imperfeito funcionamento dos mercados.[1: O neoliberalismo é uma busca, por parte do capital, de regras que lhe garantam mais estabilidade para investir e continuar controlando o capital. Não tem fundo de caráter social, mas eminentemente econômico, de buscar eliminar as falhas de mercado.]
Iniciou-se, assim, o fenômeno da intervenção do Estado na economia, ou no domínio econômico, função essa que passou a ser aceita, desde que cercada das indispensáveis cautelas para limitá-la ao estritamente necessário, ou seja, suprir as disfunções maiores do sistema, sem, contudo, tolher-lhe as condições de funcionamento. A essa função acoplou-se outra, decorrente da colocação, agora sim consciente, de objetivos de política econômica, isto é, de posições e resultados a serem assumidos ou produzidos pelo sistema econômico para o desempenho do sistema como um todo. Assim, para a intervenção do Estado na economia, os objetivos de caráter político também foram destacados.
Verifica-se, portanto, e, em conclusão, que a presença do Poder Público na economia deixa de ter por justificativa apenas as falhas do mercado, passando também a ter uma segunda e extremamente poderosa motivação, que se acoplou à primeira e que decorre das preferências políticas quantoao desempenho total do sistema, levando o Estado não somente a completá-lo, mas também a direcioná-lo deliberadamente visando fins específicos.
Assim: 
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA: CORREÇÃO DE FALHAS DE MERCADO + IMPLEMENTAÇÃO DA IDEOLOGIA ECONÔMICA DO GOVERNO
1.3.3. Ordem Jurídico-Econômica
Por ordem econômica se entende as DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS ESTABELECIDAS PARA DISCIPLINAR O PROCESSO DE INTERFERÊNCIA DO ESTADO NA CONDUÇÃO DA VIDA ECONÔMICA DA NAÇÃO. A Ordem Econômica consiste no conjunto de normas constitucionais que definem os objetivos de um modelo para a economia e as modalidades de intervenção do Estado nessa área.
Para José Afonso da Silva, ela consiste na racionalização jurídica da vida econômica, com o fim de se garantir o desenvolvimento sustentável da nação.
São fundamentos da ordem econômica a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa. Veja que os fundamentos escolhidos pelo constituinte mostram claramente a busca da tentativa de se compatibilizar os valores da igualdade e da liberdade, um dos grandes desafios dos Comunitaristas.
Essa interferência pode se dar tanto de forma direta, quando o Poder Público explora atividades econômicas, quanto de forma indireta, monitorando a exploração das riquezas, regulamentando, fomentando, fiscalizando e intervindo quando necessário.
A Constituição da República prevê, como regra, a atuação indireta do Estado na economia; somente excepcionalmente, para os imperativos da segurança nacional ou por relevante interesse coletivo, ele atuará na condição de agente econômico.
1.3.4. Competência para Legislar sobre Direito Econômico
Muitos já sustentaram a inexistência do direito econômico enquanto ramo independente do direito. Hoje, à luz do disposto na CR, arts. 24 e 30, o Direito Econômico é inequivocamente um ramo autônomo do direito, cabendo à União, Estados, Municípios e Distrito Federal legislar sobre o tema. Cuida-se de competência legislativa concorrente dos entes da federação.
1.3.5. Princípios Constitucionais do Direito Econômico
A CR arrola os princípios da ordem econômica no art. 170. Segundo José Afonso da Silva, alguns desses princípios se revelam mais tipicamente como objetivos da ordem econômica, como o da redução das desigualdades regionais e sociais e a busca do pleno emprego. Mas todos podem ser considerados princípios na medida em que constituem preceitos condicionadores da atividade econômica.[2: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:I - soberania nacional;II - propriedade privada;III - função social da propriedade;IV - livre concorrência;V - defesa do consumidor;VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)VII - redução das desigualdades regionais e sociais;VIII - busca do pleno emprego;IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.”]
1.3.5.1. Princípio da Soberania Nacional
A soberania nacional, além de princípio da ordem econômica, também está prevista como um princípio fundamental da República Federativa do Brasil. Não se trata de repetição, mas de complementação, pois a soberania política não sobrevive sem a soberania econômica.
A soberania nacional caracteriza-se como atributo do Estado, ou seja, as políticas econômicas a serem adotadas devem levar o Estado a estabelecer uma posição de soberania independente dos demais países, importando na possibilidade de AUTODETERMINAÇÃO DE SUA POLÍTICA ECONÔMICA.
Esse princípio está fortemente corroído em sua conceituação tradicional pelo avanço da ordem jurídica internacional e da globalização. A ação dos Estados é movida pela incessante busca de níveis de competitividade internacional. Porém, em atendimento a esse princípio, a colaboração internacional não pode chegar ao ponto de subtrair do país as possibilidades de autodeterminação.
Vide, no entanto, que a corrosão se revela quando analisado o princípio em sua feição tradicional. Soberania não pode ser vista, hodiernamente, como um tipo de isolacionismo, conforme adotado por alguns países tal qual a Coréia do Norte. Antes, a soberania econômica está ligada à definição da política econômica interna de acordo com o projeto previsto na Constituição. Esse projeto certamente irá considerar, assim como a política econômica, a complexidade da realidade do sistema comercial e financeiro mundial, mas sempre buscando, de alguma forma, reverter a realidade externa em proveito para a realidade interna.
Soberania é um atributo essencial do Estado, sendo conceito de dupla significação: do ponto de vista do direito internacional, expressa a ideia de igualdade, de não subordinação; do ponto de vista interno traduz a supremacia da Constituição e da lei, e da superioridade jurídica do Poder Público na sua interpretação e aplicação. Se o Estado brasileiro decretar embargo comercial a um país, proibindo as exportações, todas as empresas terão de sujeitar-se. Se partes privadas escolherem contratualmente a aplicação de lei estrangeira em matéria na qual a norma brasileira seja de aplicação cogente, é esta que prevalecerá. A própria reserva de mercado em setor estratégico é manifestação de soberania nacional na ordem econômica.
1.3.5.2. Propriedade Privada e Função Social da Propriedade
A propriedade privada é condição inerente à livre iniciativa e lugar da sua expansão, além de direito individual constitucionalmente assegurado. Sua função como princípio setorial da ordem econômica é, em primeiro lugar, assegurar a todos os agentes que nela atuam ou pretendam atuar a possibilidade de apropriação privada dos bens e meios de produção. Ao mesmo tempo, impõe aos indivíduos em geral o respeito à propriedade alheia e limita a ação do Estado, que só poderá restringir o direito à propriedade nas hipóteses autorizadas pela Constituição da República.
Nada obstante, e superando uma concepção puramente individualista da propriedade, o texto constitucional estabeleceu que, na ordem econômica por ele disciplinada, a propriedade deverá ter uma função social. O conceito é relativamente difuso, mas abriga ideias centrais como o aproveitamento racional, a utilização adequada dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, o bem-estar da comunidade etc.
Esse princípio foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro, pela primeira vez, com a CR/34, que assegurou o direito de propriedade com a ressalva de que não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo. A partir de então, salvo o silêncio da CR/37, o valor função social da propriedade incorporou-se de vez à nossa experiência constitucional, figurando em pelo menos quatro dispositivos da CR/88 (art. 5º, XXIII; art. 170, III; art. 182, § 2º e no caput do art. 186), evidenciando a preocupação em construir um Estado de Direito verdadeiramente democrático, no qual possuem a mesma dignidade constitucional tanto os valores sociais do trabalho quanto os da livre iniciativa.
O princípio da função social da propriedade não é derrogatório da propriedade privada. O conteúdo da função social assume papel promocional. A disciplina das formas de propriedade e suas interpretações devem garantir e promover os valores sobre os quais se funda o ordenamento.
O princípio econômico da função social da propriedade constitui o fundamento constitucional da função social da empresa e da função socialdo contrato. Busca-se, por meio da função social, conciliar o benefício individual com o coletivo.
A PROPRIEDADE PRIVADA CUMPRE A SUA FUNÇÃO SOCIAL QUANDO, ALÉM DE OPORTUNIZAR A REALIZAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA, CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO NACIONAL E PARA A DIMINUIÇÃO DA POBREZA E DAS DESIGUALDADES SOCIAIS.
Não tendo a CR/88 estabelecido nenhuma hierarquia entre os valores consubstanciados no direito de propriedade e na sua função social, que estão em permanente tensão, resta ao intérprete/aplicador resolver os eventuais conflitos à luz do caso concreto, mediante ponderação, optando, afinal, por aquele cuja prevalência conduzir a uma decisão correta e justa e, assim, realizar a justiça em sentido material como referente fundamental da ideia de direito.
Não é errado falar, pelo contrário, é totalmente certo dizer que o direito de propriedade é legitimado, no Estado Democrático de Direito, quando atender à função social que se lhe espera.
1.3.5.3. Princípios da Livre Concorrência e da Livre Iniciativa
Intimamente ligado ao princípio da livre iniciativa (fundamento da ordem econômica), mas com ele não se confundindo.
Particularmente acerca da livre iniciativa e dos demais princípios que com ela convivem, escreveu Diogo de Figueiredo Moreira Neto:
O princípio da liberdade de iniciativa tempera-se pelo da iniciativa suplementar do Estado; o princípio da liberdade de empresa corrige-se com o da definição da função social da empresa; o princípio da liberdade de lucro, bem como o da liberdade de competição, moderam-se com o da repressão do abuso de poder econômico; o princípio da liberdade de contratação limita-se pela aplicação dos princípios de valorização do trabalho e da harmonia e solidariedade entre as categorias sociais de produção; e, finalmente, o princípio da propriedade privada restringe-se com o princípio da função social da propriedade.
Gilmar Mendes, Inocêncio M. Coelho e Paulo Gustavo G. Branco, citando Miguel Reale, afirmam que a livre iniciativa é a PROJEÇÃO DA LIBERDADE INDIVIDUAL NO PLANO DA PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS, assegurando não apenas a livre escolha das profissões e das atividades econômicas, mas também a autonomia na eleição dos processos ou meios de produção. Abrange a liberdade de fins e meios. 
Já o conceito de livre concorrência tem caráter instrumental, significando que a fixação dos preços das mercadorias e serviços não deve resultar de atos cogentes da atividade administrativa e nem deve ser obstado pela atuação irregular dos particulares. A CR/88 adota o modelo liberal do processo econômico, que só admite a intervenção do Estado para coibir abusos e preservar a livre concorrência de quaisquer interferências, quer do próprio Estado, quer do embate das forças competitivas privadas que podem levar à formação dos monopólios e ao abuso do poder econômico visando ao aumento arbitrário dos lucros.
O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA VISA, PORTANTO, A GARANTIR AOS AGENTES ECONÔMICOS A OPORTUNIDADE DE COMPETIREM NO MERCADO DE FORMA JUSTA. A ideia de conquista de mercado e de lucratividade deverá estar ancorada em motivos jurídico-econômicos lícitos (inovação, oportunidade, eficiência etc.), e não serem decorrentes de hipóteses de abuso do poder econômico. NESSE QUADRO, ASSUME O ESTADO A TAREFA DE ESTABELECER UM CONJUNTO DE REGRAS COM VISTAS A GARANTIR A COMPETIÇÃO ENTRE AS EMPRESAS, EVITANDO AS PRÁTICAS ABUSIVAS.
O princípio da livre concorrência, corolário direto da liberdade de iniciativa, expressa a opção pela economia de mercado. Nele se contém a crença de que a competição entre os agentes econômicos, de um lado, e a liberdade de escolha dos consumidores, de outro, produzirão os melhores resultados sociais: qualidade dos bens e serviços e preço justo. Daí decorre que o Poder Público não pode pretender substituir a regulação natural do mercado por sua ação cogente, salvo as situações de exceção que serão adiante tratadas. Por outro lado, os agentes privados têm não apenas direito subjetivo à livre concorrência, mas também o dever jurídico de não adotarem comportamentos anticoncorrenciais, sob pena de se sujeitarem à ação disciplinadora e punitiva do Estado.
A ideia de livre iniciativa tanto reflete um valor, como um princípio. Enquanto valor refere-se ao ideal, à busca de uma ordem social aberta e democrática que permita o acesso e permanência e retirada de todos aqueles que desejam desenvolver determinada atividade econômica. Esse valor se relaciona com uma ideia de liberdade, de desnecessidade de permissão para atuar no mercado. 
Já enquanto princípio, a livre iniciativa adquire um caráter normativo, consubstanciando-se numa norma de elevada abstração que visa exatamente resguardar o “valor livre iniciativa”. 
Destarte, a livre iniciativa, com esse duplo perfil, encontra-se consagrada no caput do art. 170 da Constituição Federal como um dos princípios fundamentais da ordem econômica. Sendo um dos fundamentos dessa ordem a mesma condicionará a interpretação dos outros nove princípios especificados nos incisos do referido artigo. O professor José Afonso da Silva assim o concebe: 
“(...) a liberdade de iniciativa envolve a liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a liberdade de contrato Consta do artigo 170 [da CR], como um dos esteios da ordem econômica, assim como de seu parágrafo único, que assegura a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgão públicos, salvo casos previstos em lei”.
A livre iniciativa impõe obrigações de cunho negativo e positivo para o Estado. As de perfil negativo relacionam-se com a não intervenção do Estado, salvo nos casos determinados na própria constituição, criando-se e respeitando-se um espaço de autonomia da esfera privada como, por exemplo, não exigindo pagamento de taxas ou inscrição em determinado órgão para o exercício de atividade que não precise ser regulamentada. Já as obrigações de perfil positivo impõem ao ente publico tomar medidas de modo a assegurar a própria existência e “fertilidade” desse âmbito privado, adotando medidas de estímulo à economia e ao desenvolvimento privado.
1.3.5.3.1. Relação entre a Livre Concorrência e a Livre Iniciativa
Acerca da relação entre a "livre concorrência" e a "livre iniciativa", preleciona José Afonso da Silva que "os dois dispositivos se complementam no mesmo objetivo. Visam tutelar o sistema de mercado e, especialmente, proteger a livre concorrência, contra a tendência açambarcadora da concentração capitalista. A Constituição reconhece a existência do poder econômico. Este não é, pois, condenado pelo regime constitucional. Não raro esse poder econômico é exercido de maneira antissocial. Cabe, então, ao Estado intervir para coibir o abuso".
Carlo Barbieri Filho, a respeito especificamente do princípio da "livre concorrência", previsto no artigo 170, inciso IV, da Constituição da República, conceitua-o e demonstra sua importância numa economia de mercado, considerando a concorrência como "elemento fundamental para o democrático desenvolvimento da estrutura econômica. É ela a pedra de toque das liberdades públicas no setor econômico. Concorrência é disputa, em condições de igualdade, de cada espaço com objetivos lícitos e compatíveis com as aspirações nacionais. Consiste, no setor econômico, na disputa entre todas as empresas para conseguir maior e melhor espaço no mercado".
Celso Ribeiro Bastos, por sua vez, também a esse respeito, afirma que "a livre concorrência é indispensável para o funcionamento do sistema capitalista. Ela consiste essencialmente na existência de diversos produtores ou prestadores de serviços. É pela livre concorrência que se melhoram as condições de competitividade das empresas, forçando-as a um constante aprimoramento dos seus métodos tecnológicos, dos seus custos, enfim, da procura constante de criação de condições mais favoráveis ao consumidor. Traduz-se portanto numa das vigas mestras do êxito da economia de mercado. O contrário da livre concorrência significao monopólio e o oligopólio, ambos situações privilegiadores do produtor, incompatíveis com o regime de livre concorrência".
Eros Roberto Grau, em suas lições, parte para uma análise mais acurada do princípio da "livre concorrência":
"A afirmação, principiológica, da livre concorrência no texto constitucional é instigante. De uma banda porque a concorrência livre – não liberdade de concorrência, note-se – somente poderia ter lugar em condições de mercado nas quais não se manifestasse o fenômeno do poder econômico. Este, no entanto – o poder econômico – é não apenas um elemento da realidade, porém um dado constitucionalmente institucionalizado, no mesmo texto que consagra o princípio. (...) De outra banda, é ainda instigante a afirmação do princípio porque o próprio texto constitucional fartamente o confronta. A livre concorrência, no sentido que lhe é atribuído – ‘livre jogo das forças de mercado, na disputa de clientela’ -, supõe desigualdade ao final da competição, a partir, porém, de um quadro de igualdade jurídico-formal. Essa igualdade, contudo, é reiteradamente recusada (...). O que se passa, em verdade, é que é outro, que não aquele lido no preceito por quantos se dispõem a fazer praça do liberalismo econômico, o sentido do princípio da livre concorrência. Deveras, não há oposição entre o princípio da livre concorrência e aquele que se oculta sob a norma do § 4º do art. 173 do texto constitucional, princípio latente, que se expressa como princípio da repressão aos abusos do poder econômico e, em verdade – porque dele é fragmento –compõe-se no primeiro. É que o poder econômico é a regra e não a exceção. Frustra-se, assim, a suposição de que o mercado esteja organizado, naturalmente, em função do consumidor. A ordem privada, que o conforma, é determinada por manifestações que se imaginava fossem patológicas, convertidas porém, na dinâmica de sua realidade, em um elemento próprio a sua constituição natural. (...) Livre concorrência, então – e daí porque não soa estranho nem é instigante a sua consagração como princípio constitucional, embora desnecessária (bastava, nesse sentido, o princípio da livre iniciativa) –, significa liberdade de concorrência, desdobrada em liberdades privadas e liberdade pública".
Do que até aqui foi exposto, pode-se concluir que o princípio constitucional da livre concorrência deve ser entendido como liberdade de concorrência enquanto direito subjetivo a competir no mercado, sempre sob o manto da proteção da legislação antitruste pátria, que garante a igualdade de oportunidade entre os players.
Por outras palavras, no princípio da livre concorrência se contém a crença de que a competição entre os players e, paralelamente, a liberdade de escolha dos consumidores, produzirão os melhores resultados sociais, promovendo a elevação da qualidade dos bens e serviços ofertados, bem como a prática de preços justos. Os players, entretanto, não têm apenas o direito subjetivo a competir no mercado, mas também o dever jurídico de não adotarem práticas entendidas pela legislação antitruste como anticoncorrenciais, sob pena de sobre eles recair a ação disciplinadora e punitiva do Estado.
A "livre iniciativa", como visto, é atributo inalienável do ser humano, é a liberdade "da expansão da própria criatividade", da "participação sem alienações na construção da riqueza econômica"; é a liberdade, outrossim, da empresa, "da organização de outros homens com vistas à realização de um objetivo". 
A "livre concorrência", nesse contexto, nada mais é que uma extensão do conceito de "livre iniciativa", desdobrando a liberdade de empresa na liberdade de competição entre as empresas. 
Por outro lado, o que se protege pela "livre iniciativa" e, em última análise, pela "livre concorrência", é a liberdade de trabalho, de todas as formas de produção, individuais ou coletivas, e por conseguinte, a "dignidade da pessoa humana". 
Do exposto, pode-se concluir que a "livre iniciativa" é complementada pela "livre concorrência" e ambas têm a finalidade de assegurar a "dignidade da pessoa humana". A respeito dessa perspectiva da "livre concorrência", confira-se as lições do mestre Tércio Sampaio: 
"A livre concorrência de que fala a atual Constituição como um dos princípios da ordem econômica (art. 170, IV) não é a do mercado concorrencial oitocentista de estrutura atomística e fluida, isto é, exigência estrita de pluralidade de agentes e influência isolada e dominadora de um ou uns sobre outros. Trata-se, modernamente, de um processo comportamental competitivo que admite gradações tanto de pluralidade quanto de fluidez. É este elemento comportamental – a competitividade – que define a livre concorrência. A competitividade exige, por sua vez, descentralização de coordenação como base da formação dos preços, o que supõe livre iniciativa e apropriação privada dos bens de produção. Neste sentido, a livre concorrência é forma de tutela do consumidor, na medida em que competitividade induz a uma distribuição de recursos a mais baixo preço. De um ponto de vista político, a livre concorrência é garantia de oportunidades iguais a todos os agentes, ou seja, é uma forma de desconcentração de poder. Por fim, de um ângulo social, a competitividade deve gerar extratos intermediários entre grandes e pequenos agentes econômicos, como garantia de uma sociedade mais equilibrada".
Nesse mesmo sentido, Eros Grau proferiu parecer:
"É que a liberdade de concorrência deve ser visualizada como elemento moderador do princípio da liberdade de comércio e indústria, e não como ratificador deste último. Não deve ser tomado, pois, como princípio negativo. Este sentido já é coberto pelo princípio da liberdade de comércio e indústria (não ingerência do Estado no domínio econômico). A liberdade de concorrência é, fundamentalmente, uma liberdade privada e se apresenta dotada de caráter positivo, expressando-se como direito a que o abuso (deslealdade) da liberdade de comércio e indústria não comprometa o funcionamento regular dos mercados. Esse o sentido sob o qual o princípio é consagrado no plano constitucional, no inc. IV do art. 170 da vigente Constituição".
Para que a "livre concorrência", nessa ordem de ideias, possa operar, na expressão utilizada por Paula A. Forgioni, como "concorrência-instrumento" para se "assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social", mostra-se indispensável a existência de legislação apta a evitar "a ocorrência de práticas desvirtuadoras da livre concorrência" que ferem "o direito subjetivo daqueles que, ao lançarem-se no mercado, o fazem sob o manto certo da proteção dos princípios da Constituição referente ao livre mercado". E é nesse sentido que atua a vigente lei antitruste nacional, a Lei n.º 12.529/11, que está voltada à prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica, da qual adiante se fará breve análise.
1.3.5.3.2. Diferença entre Livre Iniciativa e Livre Concorrência[3: Item extraído na íntegra da ata da 25ª Rodada de Questões Subjetivas do EMAGIS.]
Segundo Eros Grau (A ordem econômica na Constituição de 1988. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 205) a livre-iniciativa tem suas origens históricas no direito revolucionário francês de 1789, tendo o decreto d’Allarde de 1791 disposto que ‘seria livre a qualquer pessoa a realização de qualquer negócio ou exercício de qualquer profissão, arte ou ofício que lhe aprouvesse, sendo contudo ela obrigada a se munir previamente de uma patente (imposto direto), a pagar as taxas exigíveis e a se sujeitar aos regulamentos de polícia aplicáveis’. Segundo o mesmo autor, a livre-iniciativa abrange a liberdade de indústria, de comércio, de empresa e de contrato.
É uma regra e princípio nitidamente oponível em relação ao Estado ante o indivíduo, assegurando uma omissão, uma postura negativa do estado, para permitir a todo o tempo a possibilidade real de acesso (e de saída) dos particulares à atividade econômica.
Confira-se precedente do STF que tratou da questão, ao apreciar a inconstitucionalidade de lei queregulava a obrigatoriedade de distância mínima entre estabelecimentos comerciais do mesmo ramo:
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. LEI Nº 10.991/91, DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. FIXAÇÃO DE DISTÂNCIA PARA A INSTALAÇÃO DE NOVAS FARMÁCIAS OU DROGARIAS. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. A Constituição Federal assegura o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização do Poder Público, salvo nos casos previstos em lei. 2. Observância de distância mínima da farmácia ou drogaria existente para a instalação de novo estabelecimento no perímetro. Lei Municipal nº 10.991/91. Limitação geográfica que induz à concentração capitalista, em detrimento do consumidor, e implica cerceamento do exercício do princípio constitucional da livre concorrência, que é uma manifestação da liberdade de iniciativa econômica privada. Recurso extraordinário conhecido e provido.”
(RE 193749, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 04/06/1998, DJ 04-05-2001 PP-00035 EMENT VOL-02029-05 PP-00909)
Embora o pretório tenha utilizado no julgado acima o termo ‘concorrência’ no lugar da expressão que a doutrina de direito econômico indica como ‘iniciativa’, a fundamentação do item 1. da ementa do acórdão bem define o conceito de livre-iniciativa. O julgado deu origem à Súmula 646 do STF, que, contudo, manteve o termo ‘concorrência’, a saber: “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.
É importante observar que o mesmo STF também admite que a liberdade de iniciativa possa ser legitimamente limitada por regras do poder de polícia estatal, desde que fundadas na razoabilidade. É o que ocorre quando lei disciplina a distância mínima entre postos de gasolina com base na segurança devido ao risco de explosão e presença de líquidos inflamáveis:
“Postos de gasolina. Atividade de alto risco que justifica o prudente distanciamento, na mesma área geográfica, de estabelecimentos congêneres. Inexistência de inconstitucionalidade do art. 3º, letra b, da Lei 2.390, de 16.12.74, do Município de Belo Horizonte (MG). RE conhecido, mas improvido.”
(RE 204187, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 16/12/2003, DJ 02-04-2004 PP-00027 EMENT VOL-02146-04 PP-00818 RTJ VOL-00191-02 PP-00707)
“Município: competência: Lei municipal que fixa distanciamento mínimo entre postos de revenda de combustíveis, por motivo de segurança: legitimidade, conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal.”
(RE 199101, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 14/06/2005, DJ 30-09-2005 PP-00024 EMENT VOL-02207-02 PP-00270 JC v. 31, n. 107, 2005, p. 252-254)
Já o princípio da livre-concorrência possui um caráter instrumental, pois representa uma limitação de exercício da livre-iniciativa. 
Explica-se. 
A livre-iniciativa acaso exercida até seus limites máximos por um agente econômico pode resultar em danos ao bem estar econômico-social, chegando a prejudicar a livre-iniciativa de outro agente econômico, em razão da concentração de poder de mercado e do exercício abusivo de tal posição dominante, que prejudicariam a luta pela conquista da clientela, com repercussão no bem-estar econômico dos próprios consumidores e na eficiência do mercado (menor preço e maior qualidade e segurança de bens e serviços, ampliação ou não restrição da possibilidade de escolha).
Assim, a livre-concorrência busca evitar que determinados agentes econômicos monopolizem ou oligopolizem o mercado relevante, inviabilizando a competição pela quantidade insuficiente de demais agentes econômicos, ante sua exclusão ou impedimentos à entrada. Há dirigismo estatal para regular os abusos da livre-iniciativa que repercutem na livre-concorrência, como preceituado no art. 173, § 4º, da CF. 
Como afirma a doutrina, a livre-concorrência busca favorecer condutas competitivas entre os agentes econômicos, limitando a expressão absoluta do princípio da livre-iniciativa por parte de um agente econômico (ou um grupo de agentes) em busca da universalização da livre-iniciativa a todos os agentes de mercado. (GABAN, Eduardo Molan; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Direito antitruste. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 54)
Observe-se julgado em que o STF corretamente definiu a liberdade de concorrência como sendo um instrumento limitador da livre-iniciativa de um agente econômico em prol da mesma livre-iniciativa só que de outro agente econômico:
“O desenvolvimento do poder econômico privado, fundado especialmente na concentração de empresas, é fator de limitação à própria iniciativa privada à medida que impede ou dificulta a expansão das pequenas iniciativas econômicas.”
(RE 199517, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 04/06/1998, DJ 13-11-1998 PP-00015 EMENT VOL-01931-03 PP-00608) 
Curiosa é a constatação de que a livre-concorrência se destina primordialmente aos próprios agentes econômicos, exigindo-se dele mesmos uma omissão entre si, de não concorrer de modo desleal. Tal desígnio, por outro lado, para ser concretizado exige do Estado uma postura positiva, uma obrigação de fazer, para fiscalizar e até mesmo intervir para assegurar a livre-concorrência. No caso brasileiro, as hipóteses de regulação da livre-concorrência pelo Estado estão na novel nº Lei 12.529/11.
Assim a liberdade de iniciativa e a de concorrência são conceitos correlatos, pois um se define em função do outro, como bem assenta a doutrina:
“A livre-iniciativa e a livre-concorrência são conceitos distintos, porém complementares, sendo o primeiro a projeção da liberdade individual no plano da produção, circulação e produção de riquezas, significando a síntese da liberdade de ação e escolha, o livre acesso às atividades econômicas, ao passo que o segundo representa uma limitação e uma instrumentalização do exercício do primeiro.” (GABAN, Eduardo Molan; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Direito antitruste. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 53)
1.3.5.4. Princípio da Defesa do Consumidor
Há de se buscar equilíbrio entre as empresas que atuam no mercado e entre essas e os consumidores.
A livre concorrência constitui relevante princípio da atividade econômica, propiciando a competição entre os agentes econômicos, sendo certo que essa competição tende a gerar inegáveis benefícios aos consumidores.
A experiência demonstrou, todavia, que o sistema de autorregulação do mercado nem sempre é eficaz em relação a um conjunto de outros aspectos dos produtos e serviços, como qualidade e segurança, veracidade das informações ao consumidor, vedação de cláusulas abusivas, atendimento pós-consumo etc. Daí a necessidade de uma regulamentação específica de proteção ao consumidor, que veio inscrita inclusive como um direito individual constitucionalizado.
Trata-se, aqui, tanto de um princípio de funcionamento da ordem econômica, ao qual está vinculada a iniciativa privada, quanto de um dever do Estado. A ele cabe não apenas assegurar um mercado efetivamente concorrencial, como também criar condições equitativas entre partes naturalmente desiguais, ainda que de forma induzida, e assegurar condições objetivas de boa fé negocial.
Esse princípio é cumprido, por exemplo, ao se editar uma lei protetiva como o CDC e ao se criar mecanismos de acesso do consumidor ao Judiciário, tais como os juizados especiais de relações de consumo, os PROCONS etc.
1.3.5.5. Princípio da Defesa do Meio Ambiente
A conjugação do econômico e do ambiental reconduz ao que se tem entendido por desenvolvimento sustentável. Ou seja, a exploração econômica há de ser realizada dentro dos limites de capacidade dos ecossistemas, resguardando a possibilidade de renovação dos recursos renováveis e explorando de forma não predatória os não renováveis.
Se, por um lado, o desenvolvimento pode se mostrar prejudicial ao MA (meio ambiente), por outro, pode trazer benefícios. Diante dessa relação entre MA e desenvolvimento,que hoje se traduz na noção de desenvolvimento sustentável, não pode a atividade econômica deixar de observá-los; mesmo porque o fim da ordem econômica é assegurar a todos a existência digna e esta inexiste sem que esteja inserida em um MA ecologicamente equilibrado.
A preservação do meio ambiente condiciona o exercício das atividades econômicas em geral. O constituinte de 1988 não apenas incluiu sua defesa entre os princípios da ordem econômica (CR, art. 170, VI), como também dedicou todo um capítulo (Capítulo VI do Título VIII) à sua disciplina, elevando-o à categoria de direito de todos.
O agente econômico, público ou privado, não pode destruir o meio ambiente a pretexto de exercer seu direito constitucionalmente tutelado da livre iniciativa. Um ambiente saudável é o limite ao livre exercício da atividade econômica e, para defendê-lo e garantir a sadia qualidade de vida da população, o Estado tem o poder-dever de intervir na atuação empresarial, mediante a edição de leis e regulamentos que visem a promover o desenvolvimento sustentado.
Esse conjunto de princípios setoriais, acima examinados, forma, em suma, as “regras do jogo”, que limitam e obrigam a conduta dos particulares. O destinatário principal dos princípios de funcionamento da ordem econômica é, como se vê, a iniciativa privada (e também o Estado quando atua empresarialmente, nos termos do art. 173 da Constituição). Cabe ao Poder Público, nesse particular, regulamentar aquilo que lhe compete – como, e.g., os direitos do consumidor – e respeitar, sem outras interferências não autorizadas, o exercício da livre iniciativa.
Lembrar que o princípio também prevê o tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação, tratamento esse que deve ser dar nos diversos ramos do Direito, como na tributação diferenciada, acesso a crédito e financiamento, maior celeridade nos processos administrativos etc.
1.3.5.6. Princípio da Redução das Desigualdades Regionais e Sociais
A redução das desigualdades regionais e sociais constitui objetivo fundamental da república e deve ser perseguido pela política econômica adotada. Compete à União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social (art. 21, IX, CF) e a lei de diretrizes e bases deve incorporar e compatibilizar os planos nacionais e regionais (art. 174, § 1º).
Esse princípio busca uma maior isonomia entre as regiões, ou seja, uma melhor equalização das condições sociais por todo o país.
Entre os mecanismos previstos na CR para a redução das desigualdades regionais estão os incentivos tributários e orçamentários (art. 43 e 165, § 1º), tais como os fundos de participação.
Os direitos sociais previstos no art. 6º da CR constituem parâmetros para a aferição da desigualdade no país.
1.3.5.7. Princípio da Busca do Pleno Emprego
Para Eros Grau, esse princípio consubstancia “uma garantia para o trabalhador, na medida em que está coligado ao princípio da valorização do trabalho humano e reflete efeitos em relação ao direito social do trabalho”.
A busca pelo pleno emprego visa a propiciar trabalho para aqueles que estejam em condições de exercer uma atividade produtiva; trata-se de princípio diretivo da atividade econômica que se opõe às políticas recessivas.
É forma de buscar a observância do princípio a interação do governo com as federações de indústrias e Conselhos Profissionais, pela qual se tenta formar uma mão de obra qualificada e capaz de atender as demandas do mercado. 
1.3.5.8. Princípio do Tratamento Favorecido para as Empresas de Pequeno Porte Constituídas sob as Leis Brasileiras e que tenham sua Sede e Administração no País
Cuida-se de princípio constitucional impositivo de caráter conformador. O art. 179 determina que todos os entes da Federação dispensarão as M.E.s e E.P.P.s tratamento jurídico diferenciado. Às M.E.s haverá de se outorgar um tratamento mais favorecido do que às E.P.P.s e a essas, um tratamento mais favorecido do que às empresas em geral.
Cuidado: aqui não entram as médias empresas!
1.3.5.9. Princípio do Livre Exercício de Qualquer Atividade Econômica
A liberdade de iniciativa no campo econômico compreende a liberdade de trabalho e de empreender. Pressupõe o direito de propriedade e a liberdade de contratar. Decorre da livre iniciativa, prevista como fundamento da República (art. 1º, IV, CR). O direito ao livre exercício da atividade econômica é consequência do princípio da livre iniciativa.
Limites: O Estado poderá, nos termos da lei, disciplinar o exercício desse direito. Citamos algumas formas de limitação: a) autorização para o exercício de determinadas atividades somente mediante habilitação e atendimento a requisitos pré-determinados; b) intervenção direta na atividade econômica, nas hipóteses de relevante interesse coletivo e imperativo da segurança nacional; c) punição de atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular e reprimindo o abuso do poder econômico que visem à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
Tais limitações têm por fim garantir a realização da justiça social e do bem-estar coletivo.
Sobre esse princípio:
Registro profissional de músico em entidade de classe - 3
A atividade de músico não depende de registro ou licença de entidade de classe para o seu exercício. Essa a conclusão do Plenário ao negar provimento a recurso extraordinário, afetado pela 2ª Turma, em que a Ordem dos Músicos do Brasil – Conselho Regional de Santa Catarina alegava que o livre exercício de qualquer profissão ou trabalho estaria constitucionalmente condicionado às qualificações específicas de cada profissão e que, no caso dos músicos, a Lei 3.857/60 estabeleceria essas restrições — v. Informativos 406 e 568. Aduziu-se que as restrições feitas ao exercício de qualquer profissão ou atividade profissional deveriam obedecer ao princípio da mínima intervenção – a qual se pautaria pela razoabilidade e pela proporcionalidade. Ressaltou-se que a liberdade de exercício profissional, contida no art. 5º, XIII, da CF, seria quase absoluta e que QUALQUER RESTRIÇÃO A ELA SÓ SE JUSTIFICARIA SE HOUVESSE NECESSIDADE DE PROTEÇÃO A UM INTERESSE PÚBLICO, a exemplo de atividades para as quais fosse requerido conhecimento específico, técnico, ou ainda, habilidade já demonstrada. 
STF, RE 414.426/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 1º.8.2011. (RE-414426)
Esse julgado foi muito relevante sobre o tema, motivo pelo qual coloco abaixo parte das transcrições do informativo 639 do STF:
Músico – Livre Exercício Profissional – Liberdade de Expressão Artística – Ordem dos Músicos – Inscrição – Desnecessidade (Transcrições)
RE 509409/SP*
RELATOR: Min. Celso de Mello
DECISÃO: A controvérsia jurídica objeto deste processo já foi dirimida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, que, ao julgar o RE 414.426/SC, Rel. Min. ELLEN GRACIE, fixou entendimento consubstanciado em acórdão assim ementado:
“DIREITO CONSTITUCIONAL. EXERCÍCIO PROFISSIONAL E LIBERDADE DE EXPRESSÃO. EXIGÊNCIA DE INSCRIÇÃO EM CONSELHO PROFISSIONAL. EXCEPCIONALIDADE. ARTS. 5º, IX e XIII, DA CONSTITUIÇÃO. 
Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionadas ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão.” (grifei)
A vigente Constituição da República, observando tradição inaugurada com a Carta Política do Império do Brasil (art. 179, n. 24), que foi reafirmada pelos sucessivos estatutos constitucionais (CF/1891, art. 72, § 24; CF/1934, art. 113, n. 13; CF/1937, art. 122, n. 8; CF/1946, art. 141, § 14; CF/1967, art. 150, § 23; CF/1969, art. 153, § 23), proclama e assegura a liberdade de profissão, dispondo,em seu art. 5º, inciso XIII, ser “livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
Tratando-se de norma revestida de eficácia contida (ou restringível), mostra-se constitucionalmente lícito, ao Estado, impor exigências, que, veiculando requisitos mínimos de capacidade e estabelecendo o atendimento de certas qualificações profissionais, condicionem o regular exercício de determinado trabalho, ofício ou profissão.
Essa competência constitucional, no entanto, não confere ao Estado poder absoluto para legislar sobre o exercício de qualquer atividade profissional, pois essa especial prerrogativa de ordem jurídico-institucional SÓ SE LEGITIMA QUANDO O PODER PÚBLICO, AO REGULAMENTAR O DESEMPENHO DE CERTA ATIVIDADE PROFISSIONAL, TOMA EM CONSIDERAÇÃO PARÂMETROS FUNDADOS EM RAZÕES DE INTERESSE PÚBLICO, COMO AQUELAS QUE CONCERNEM À SEGURANÇA, À PROTEÇÃO E À SAÚDE DAS PESSOAS EM GERAL.
Vê-se, portanto, que apenas razões de interesse público podem legitimar a regulação normativa, por parte do Estado, de qualquer ofício, trabalho ou profissão.
Isso significa que, se é certo que o cidadão é livre para escolher qualquer profissão, não é menos exato que essa escolha individual, para concretizar-se, deve observar as condições de capacidade técnica e os requisitos de qualificação profissional ditados por exigências que objetivem atender e proteger o interesse geral da coletividade.
TORNA-SE EVIDENTE, POIS, QUE NÃO É QUALQUER ATIVIDADE PROFISSIONAL QUE PODERÁ SER VALIDAMENTE SUBMETIDA A RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELO ESTADO, EIS QUE PROFISSÕES, EMPREGOS OU OFÍCIOS CUJO EXERCÍCIO NÃO FAÇA INSTAURAR SITUAÇÕES IMPREGNADAS DE POTENCIALIDADE LESIVA CONSTITUEM ATIVIDADES INSUSCETÍVEIS DE REGULAÇÃO NORMATIVA POR PARTE DO PODER PÚBLICO, porque desnecessário, quanto a tais profissões, o atendimento de requisitos mínimos de caráter técnico-científico ou de determinadas condições de capacidade.
Resulta claro que a regulamentação, por lei, de atividades profissionais implica, sempre, o estabelecimento de restrições normativas que interferem no plano da liberdade de ofício ou de profissão. É POR TAL MOTIVO QUE A INTERVENÇÃO NORMATIVA DO ESTADO NA ESFERA DA LIBERDADE PROFISSIONAL SOMENTE SE LEGITIMA QUANDO PRESENTES RAZÕES IMPOSTAS PELA NECESSIDADE SOCIAL DE PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO, SOB PENA DE ESSA ATIVIDADE DO CONGRESSO NACIONAL CONFIGURAR ABUSO DO PODER DE LEGISLAR, QUE TEM POR CONSEQÜÊNCIA O RECONHECIMENTO DA INCONSTITUCIONALIDADE DO PRÓPRIO DIPLOMA LEGISLATIVO.
[...]
Impende advertir, neste ponto, que o Poder Público, especialmente em sede de legislação restritiva de direitos e liberdades, não pode agir imoderadamente, pois A ATIVIDADE ESTATAL ACHA-SE ESSENCIALMENTE CONDICIONADA PELO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.
Como se sabe, a exigência de razoabilidade traduz limitação material à ação normativa do Poder Legislativo.
O exame da adequação de determinado ato estatal ao princípio da proporcionalidade, exatamente por viabilizar o controle de sua razoabilidade, com fundamento no art. 5º, LIV, da Carta Política, inclui-se, por isso mesmo, no âmbito da própria fiscalização de constitucionalidade das prescrições normativas emanadas do Poder Público.
[...]
Isso significa, portanto, dentro da perspectiva da extensão da teoria do desvio de poder ao plano das atividades legislativas do Estado, que este não dispõe de competência para legislar ilimitadamente, de forma imoderada e irresponsável, gerando, com o seu comportamento institucional, situações normativas de absoluta distorção e, até mesmo, de subversão dos fins que regem o desempenho da função estatal.
[...]
Essa cláusula tutelar dos direitos, garantias e liberdades, ao inibir os efeitos prejudiciais decorrentes do abuso de poder legislativo, enfatiza a noção de que a prerrogativa de legislar outorgada ao Estado constitui atribuição jurídica essencialmente limitada, ainda que o momento de abstrata instauração normativa possa repousar em juízo meramente político ou discricionário do legislador, como esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 176/578-579, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
[...]
Daí a advertência de SAMPAIO DÓRIA (“Comentários à Constituição de 1946”, vol. 4/637, 1960, Max Limonad) sobre os limites constitucionais que incidem sobre o poder normativo do Estado em tema de liberdade profissional:
“A lei, para fixar as condições de capacidade, terá de inspirar-se em critério de defesa social, e não em puro arbítrio. Nem tôdas as profissões exigem condições legais de exercício. Outras, ao contrário, o exigem. A defesa social decide. 
Profissões há que, mesmo exercidas por ineptos, jamais prejudicam diretamente direito de terceiro, como a de lavrador. Se carece de técnica, só a si mesmo se prejudica.
Outras profissões há, porém, cujo exercício por quem não tenha capacidade técnica, como a de condutor de automóveis, pilotos de navios ou aviões, prejudica diretamente direito alheio. Se mero carroceiro se arvora em médico-operador, enganando o público, sua falta de assepsia matará o paciente. Se um pedreiro se mete a construir arranha-céus, sua ignorância em resistência de materiais pode preparar desabamento do prédio e morte dos inquilinos. 
Daí, em defesa social, exigir a lei condições de capacidade técnica para as profissões cujo exercício possa prejudicar diretamente direitos alheios, sem culpa das vítimas.” (grifei)
[...]
Também se revela incompatível com o texto da Constituição - sob pena de reeditar-se a prática medieval das corporações de ofício, abolidas pela Carta Imperial de 1824 (art. 179, XXV) - a exigência de que alguém, para desempenhar, validamente, atividade profissional, tenha que se inscrever em associação ou em sindicato para poder exercer, sem qualquer restrição legal, determinada profissão.
[...]
Resulta claro, pois, da jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal consolidou em tema de liberdade constitucional de profissão, emprego ou ofício, que “Há profissões cujo exercício diz, diretamente, com a vida, a saúde, a liberdade, a honra e a segurança do cidadão e, por isso, a lei cerca seu exercício de determinadas condições de capacidade. Fora deste terreno, não podemos admitir exceções, porque estaríamos mutilando o regime democrático da Constituição (...), dando à lei ordinária uma força que não deve e não pode ter”, tal como assinalou JOSÉ DUARTE em preciso magistério sobre tão relevante direito fundamental (“A Constituição Brasileira de 1946”, vol. 3/33-34, 1947, Imprensa Nacional).
1.4. Princípios Regentes do Direito Econômico
Economicidade: possui expressa previsão no caput do art. 170 da CR/88. Ela significa que o Estado deve focar suas políticas públicas de planejamento para a ordem econômica em atividades economicamente viáveis, tanto a curto quanto a médio e longo prazo, garantindo, assim, o desenvolvimento econômico sustentável e racional do país.
Eficiência: o Estado, ao estabelecer suas políticas públicas, deve pautar sua conduta com o fim de viabilizar e maximizar a produção de resultados da atividade econômica, conjugando os interesses privados dos agentes econômicos com os interesses da sociedade.
Generalidade: busca conferir às normas de Direito Econômico alto grau de generalidade e abstração, ampliando seu campo de incidência ao máximo, a fim de permitir sua aplicação a todos os agentes econômicos e às constantes e dinâmicas modificações mercadológicas.
1.4.1. Os Princípios de Integração, de José Afonso da Silva
Também estão inseridos como princípios a defesa do consumidor (inc. V), a defesa do meio ambiente (inc. VI), a redução das desigualdades regionais e sociais (inc. VII) e a busca do pleno emprego (inc. VIII). Eles são denominados por José Afonso da Silva como “princípios de integração, porque todos estão dirigidos a resolver os problemas da marginalização regional ou social”.
1.5. Política Econômica
A política econômica é uma decorrência da necessidade do Estado e da sociedade de traçarem as diretrizes

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