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O Pensamento Geográfico Brasileiro As matrizes clássicas originárias Ruy Moreira Bruna Cristina Peripato Paloma do Prado Santiago História do Pensamento Geográfico 2018 Resumo O pensamento geográfico brasileiro é um livro que reúne os principais geógrafos responsáveis pela formação da Geografia brasileira. Tendo suas matrizes na Geografia Francesa e Alemã, esses autores foram fundamentais para o surgimento da Geografia Clássica que deu início a diversos outros ramos que estudamos e nos baseamos hoje. Dividido em três partes, o livro vem mostrando as tradições das escolas e as dicotomias que foram se formando. A primeira parte do livro se remete justamente a essas escolas, a formação histórica da Geografia clássica e moderna e analisa o contexto e o conceito dos autores escolhidos. Na segunda parte, o autor apresenta um resumo crítico de cada obra tendendo a expor o pensamento desenvolvido nas mesmas. E na terceira parte, se faz um balanço analítico das ideias desses autores, apresentando o quadro sintético do modelo matricial de cada um. A GEOGRAFIA CLÁSSICA A Geografia moderna e a Geografia Clássica “A Geografia moderna nasce como um projeto da revolução burguesa. E como um fenômeno alemão, em que a revolução burguesa mais se atrasa. Hartshorne informa que, no formato de base com que a conhecemos, nasce das mãos de Kant (Moreira, 2006). ” Kant, busca apoia na Geografia e na Historia para pensar no homem e na natureza. A geografia no século XVIII era uma aglomeração de conhecimentos classificado em grupos, definindo assim a Geografia Física. A princípio Kant não promoveu grandes mudanças na geografia então conhecida, mas teve seu enfoque no espaço (causa e efeito). Diferenciou o conhecimento puro do real, classificando assim conhecimento real que são as experiências e está apreendida a sensibilidade (empirismo) e o conhecimento puro que se realiza no plano de pensar, nas instâncias do Entendimento (priori). Para Kant, o espaço é um dado a priori da percepção, um plano de extensão geométrica preexistente ao olhar humano que já faz o fenômeno vir à percepção humana ordenado nos parâmetros de uma ordem espacial, cada fenômeno ocupando um lugar e uma distância pré-determinados em suas disposições recíprocas. (MOREIRA, 2008). Karl Ritter, era um geógrafo de formação e foi responsável pelo grande salto que a geografia teve. Usou a corografia como referência para transforma-la em método comparativo, fez a conexão entre os fenômenos naturais e as atividades humanas e ele tinha a preocupação com a individualidade. Ele cria a Geografia Comparada, no intuito de propor uma geografia baseada no conceito e na explicação. Pode-se, assim, falar de uma Geografia de antes e de depois de Ritter, no sentido do corte epistemológico referido por Foucault para as ciências do homem do século XVIII (Foucault 1885 e 188), de levá-la a transpor a fase taxonômica e descritiva da representação clássica para a representação moderna, centrada no conceito e na explicação. Ritter cria, de fato, uma forma e uma fase nova para a Geografia, e designa- a de Geografia Comparada. (MOREIRA, 2008, p. 15) Humboldt, tinha como característica a visão da totalidade, também parte do esquema de classificação utilizada por Ritter. Ele cria a Geografia das Plantas e através da natureza ele faz associação com uma nação. Tentava entender a harmonia sem a interferência humana e fez a relação de cada paisagem é ligada para baixo com a base inorgânica e para cima com a interação da vida com o homem. Esta fase da Geografia Moderna ficou conhecia como Geografia dos Fundadores, fechando assim um ciclo e quando renasce, Humboldt não reaparece diferente de Ritter. A geografia de Humboldt exerce um efeito e atração mais forte que a de Ritter sobre seus contemporâneos. Mas logo a seguir vem uma fase de fragmentação que joga no ostracismo tanto Humboldt quanto Ritter, passando-se um período de quase cinquenta anos antes que Geografia voltasse ao cenário do mundo cientifico. E quando retorna, não é de imediato, pelas mãos dos geógrafos, mas pelas mãos dos cientistas de áreas tornadas conexas. Quando então renasce, é Ritter não Humbold que reaparece. Fecha-se, assim, uma primeira fase da Geografia moderna, que poderíamos designar de a Geografia dos fundadores. (MOREIRA, 2008, p. 16) Com o final do século XIX acontece o nascimento da Geografia Clássica que teve a necessidade de fragmentar-se para estar em conformidade com a contemporaneidade do pensamento e a recuperação da integridade de visão de mundo que tinha antes. Vivia-se em um período de grande desenvolvimento, tanto científico, quanto econômico que influenciou na fragmentação do trabalho, do homem e do pensamento. O fulcro condutor da face triunfante é a divisão técnica do trabalho trazida pela segunda Revolução Industrial, que fragmenta o trabalho, o pensamento e a sociabilidade exaustivamente, a começar pela fragmentação do conhecimento numa diversidade infinita de formas de ciências. (MOREIRA, 2008, p. 16) O sistema positivista que surgiu na França, tinha como principal ideal que todo conhecimento cientifico deveria ser reconhecido como único conhecimento verdadeiro. Este sistema é a principal ênfase dessa sociedade técnica e foi ele que também influenciou as ciências a se modernizar, como a Física, Química e Biologia. Face espiritual da divisão industrial do trabalho que está se estabelecendo na base da organização da sociedade moderna, o positivismo referenda a visão física e matemática de natureza do projeto científico renascentista, separa o inorgânico, o orgânico e o humano em esferas dissociadas e proclama o paradigma do inorgânico da Física como base, orientando as demais ciências nessa padronagem. (MOREIRA, 2008, p. 16) Para a Geografia moderniza-se, houve a necessidade da organização interna, pois não se trata de uma ciência exata e sim um apanhado de conhecimentos que até então não haviam sidos desenvolvidos de modo efetivo, assim retardando o avanço de certas áreas da geografia, essa que contém um leque distinto de seguimentos. Nesse campo também acontece primeiro a modelização interna da geografia. A esfera do humano é um processo tardio. É necessário esperar o nascimento dos modelos matemáticos ou algo equivalente dê conta dos fenômenos ligados ao homem. E só então tardiamente a geografia vai se modelizar nesse terreno. (MOREIRA, 2008, p 17) As linhas de força da Geografia clássica Este período do século XIX a XX podemos dizer, que foi um dos mais ricos e discordantes no campo do pensamento. No âmbito surgem reavaliações e questionamento que colocaram fim na dominação da natureza desde o século XVIII. No campo das ciências do homem, a longa lista de tensões e conflitos que se referenciam na ideologia do direito de os povos decidirem sobre a forma e o destino da sociedade em que vivem, seja pelo autogoverno, seja pelo governo representativo, numa reiteração seja da utopia socialista, seja da utopia liberal oitocentista, introduz também aí os princípios que estão descolando o pensamento cientifico, técnico e artístico de um esquema de representação de mundo de estrutura permanente e intangível (apenas preditivo e previsível) por outro fluido e contraditório (Touraine, 1994 e 2006). (MOREIRA, 2008, p. 22) O autor admite como clássico os consolidadores da geografia moderna. Assim são os geógrafos seguintes à geração criadora de Humboldt e Ritter. O livro irá assumir a matriz francesa, que é, no geral, de onde vem a nossa origem. Ruy irá reunir Reclus, Vidal e Brunhes em um só primeiro grupo, Sorre já em um segundo grupo, Hartshore como contemporâneo de Sorre, porém em uma mesma linha, e George e Tricart em um terceiro grupo. A partir daí o autor estabelece relações histórico-metodológicas entre estes respectivos grupos e caracteriza cada autor em seu ambiente histórico-social. Reclus, Vidal de La Blache e Brunhes Reclus nasce em 1830, Vidal em 1845 e Brunhes em 1869, e morrem respectivamente, em 1905, 1918 e 1940. O texto de Reclus antecipa a Geografia de tom social e político, ao passo que o texto de Vidal exprime o tom de aparência neutra que no geral veremos instituir-se como modelo intelectual típico da academia. Reclus vem de uma formação iluminista para a qual a razão é um instrumento de emancipação do homem, que tomando por princípio a origem racional e livre da natureza humana, encarna no papel da educação individual e libertária. Compreender e conhecer a natureza para compreender, conhecer e fazer aflorar a natureza do homem, um ser que nasce racional e livre e que só as cadeias da sujeição social aprisionam e escravizam, este é o papel científico da Geografia, aqui se manifestando plenamente o viés rousseauniano de Reclus. Entre suas obras há três de grande importância, A Terra, A Nova geografia universal e O homem e a terra. A geografia através destas três obras, candidata-se e qualifica-se, assim, para Reclus, como êmulo de uma ciência libertária, pondo o homem diante de si como um ser conscientemente livre e atuante (“ o homem é a natureza adquirindo consciência de si própria”, diz em A Terra), um homem conhecendo e consciente da sua condição natural de ser humano racional, sujeito de si mesmo na história. (MOREIRA, 2008, p.26) Paul Vidal de La Blache é historiador de formação com áreas de interesse na Antiguidade, após a França perder a guerra franco-germânica, para organizar uma Geografia acadêmica na universidade francesa com objetivo de ultrapassar a geografia alemã quanto ao conteúdo, que no período era de grande utilidade em guerras. Será o primeiro professor regular de Geografia em uma universidade francesa. Três livros indicam a diversidade de linhas e direções que segue o seu pensamento. O primeiro e o ultimo vão orientar a Geografia lablacheana para duas distintas direções: a Geografia Regional e a Geografia da Civilização. Surge assim, a noção de uma diversidade de regiões, cada qual dotada de uma face singular na sua peculiaridade. Jean Brunhes é um terceiro caso e gerador de um discurso de Geografia surpreendente. Pode ser considerado também como introdutor do pensamento dialético na Geografia. O conceito-chave de Brunhes é o que chama de fatos essenciais, um modo de valorizar o dado visual e empírico, e assim, de conferir a paisagem e ao seu viés cartográfico o valor metodológico central da reflexão geográfica. “Só é fato o que se relaciona”, diz ele, advertindo para a necessidade de um cuidado com o empirismo e remetendo sua teoria e seu método para o plano necessário da totalidade, sem a qual o fato geográfico não revela seu real significado. (MOREIRA, 2008, p.29) Sorre Max Sorre foi um marco da transição entre as estruturas do pensamento e do elo entre o originário bloco (Reclus, Vidal de La Blache e Brunhes) para o subsequente de George e Tricart, que ocupam um papel destacado na história das ideias clássicas. Com Sorre as técnicas vão ganhar força e importância como o ele mento-chave na interpretação da paisagem e dos espaços que hoje compõem a geografia. O mesmo compõe a parte contemporânea da implantação da fase industrial avançada da segunda Revolução Industrial e ele registra tal momento muito bem, e o traz para Geografia com enorme vislumbramento do seu significado. A técnica está nascendo, então ele apreende a forte aliança e o que traz à tona à relação entre homem-meio e o mais importante dando sentido a ecologia, que se tornará a substancia do seu pensamento, dando atenção para a biologia e ecologia, ele se torna o precursor da Geografia Médica. Qual da origem a Geografia Ecológica. Ele tem cuidado em dar continuidade à geografia clássica que o antecedeu mantendo a mesma linha de raciocínio, porém mais evoluída com o conjunto de conceitos que irão consagrar a geografia clássica. Sorre tem como centro da sua analise o conceito de complexidade, foco pelo qual ele vê o todo e as partes da superfície terrestre, a exemplo do ecúmeno terrestre, que conceitua como uma rede de complexos. George e Tricart Pierre George (1920-2005), estudioso de vários assuntos, escreveu e publicou ensaios e livros em praticamente todos os campos em que a Geografia se quebrou e se dividiu em seu tempo. O foco de George é o espaço, embora nunca o defina com clareza, o espaço e para ele o estruturador geográfico das sociedades na história. Jean Tricart (1920-2003) tem como ponto de partida a Geomorfologia, a Climatologia, a Hidrologia, a Geologia e a Biogeografia numa teoria e num método unificados, realizando a primeira de uma série de ondas de integralização das “geografias físicas” no sentido de chegar a um conceito mais completo e integrado de meio ambiente Hartshorne Hartshorne é uma espécie de consciência mundial dos caminhos espinhosos que a geografia passa a percorrer a partir do entre guerras, ele vem da tradição norte- americana, uma tradição que aqui e ali se entrecruzam a tradição francesa e também a alemã de geografia. O mesmo corre em raia própria e melhor pode entender a necessidade de classificar os rumos da Geografia nos Estados Unidos, onde a percepção da história transparecia mais que em outros lugares, ao procurar respostas na Geografia alemã descobre Hettner. Com tais resultados dessa pesquisa expõe seu primeiro livro A natureza da geografia, e o mesmo dá origem a inúmeras críticas que busca em seu segundo livro Propósitos e a natureza da geografia responde-las, que apresentou o conteúdo final de sua proposta por ser mais claro e simples com maior influência por se tornar um verdadeiro balanço crítico. Para Hartshorne a Geografia ser ia um estudo da variação de áreas – ou a diferenciação do movimento do fenômeno em diferentes áreas da paisagem – é o enfoque, a superfície terrestre é o campo que a perspectiva Hettner ia na de Hartshorne toma como objeto da Geografia. Sobre escolas, geografias setoriais e matrizes A Geografia tem a tradição da escola. Escola Francesa, Alemã, Norte americana, etc. Cada escola é um país, cada país é uma escola. Ao lado da tradição das escolas vicejam o que podemos chamar de geografias setoriais. Por esse prisma, há o geógrafo urbano, o geógrafo agrário, o geomorfólogo, entre outros. O defeito desse modelo é o abandono da prática de pensar o todo. Uma terceira tradição é a do geógrafo criador de matrizes de pensamento. Imbuídos seja de uma tradição ou de outra, não nos demos conta de que cada geógrafo se distingue do outro por sua forma própria de pensamento. O discurso das escolas A tradição da escola vem da ideia da associação e colagem da Geografia com os discursos do Estado e do imperialismo. Dissolvidos num todo, os geógrafos e o apetite de grande potência dos seus respectivos países foram vinculados numa teoria de Escola nacional que, a par da generalização, não encontra respaldo na análise das obras. Primeiro, suas obras não são pensamentos nacionais, não tem a nação como espelho e não visam dar elementos para a formação de um espírito nacional como intenção. Segundo, não são propaganda do Estado nacional respectivo em suas ações de incursão sobre territórios de outras nações. Tem havido aqui uma confusão entre a ação de Sociedades Nacionais de Geografia e os geógrafos da mesma nação. O discurso das escolas setoriais A fragmentação é a responsável por outros tipos de problemas. O principal deles é o isolamento e guetização dos geógrafos em compartimentos estanques, além de alimentar muitas dicotomias, umas declaradas, outras disfarçadas. A mais conhecida e presente delas é a dicotomia Geografia Física versus Geografia Humana. O grande problema da fragmentação setorial e da dicotomização somadas é nem tanto a supressão do que seriam pares dialéticos e nem tanto a separação formal, mas o esvaziamento que de um lado responde por hoje fazermos uma Geografia Física pura (a-natureza-sem-o-homem), e de outro lado uma Geografia Humana pura (o-homem- sem-a-natureza), sem a possibilidade teórica de nenhuma ponte de entrecruzamento. As matrizes Matrizes são as formas de pensamento que partem de um núcleo racional por meio do qual uma estrutura global emerge como discurso de mundo, uma estrutura matricial se distinguindo da outra justamente pela maneira como o intelectual vê e integraliza o mundo. O conceito de matriz do pensamento supõe, então, o clareamento do campo epistemológico dos pensadores. Isto é, o fundamento conceitual-ideológico de onde eles partem como raiz de base é o quadro das mediações que utilizam para organizar esse fundamento num formato discursivamente localizado. No caso, a Geografia. OBRAS, OLHARES Elisée Reclus: comunidade e Libertarismo em O homem e a terra Em sua obra O homem e a terra podemos ver uma visão anarquista, livre de interpretações político-ideológica. Ruy nos mostra a ideia de Reclus em relação às diferenças entre comunas, cidades e burgos. Trazendo como ocorreu o desenvolvimento territorial de cada um deles durante a Idade Média, e posteriormente durante o Iluminismo e a Revolução Industrial na Europa, passando pela dissolução dos burgos e comunas, e mostrando como se estabelece uma nova relação homem-meio. A propriedade privada, a dissolução das comunas e a nova relação homem-meio O tópico contextualiza a industrialização e a colonização sobre os espaços livres do novo mundo, onde a modernização e a privatização dessas áreas causaram a destruição da flora e fauna, bem como a extinção de espécies animais em curto período de tempo, conforme as citações: “[...] a indústria reorganiza a paisagem rural e inicia o processo que leva a natureza a modificar-se”, “A colonização europeia está entre as causas iniciais dessa destruição acelera” e “Mas é à instituição da propriedade privada que se deve a que a Terra de ser “cuidada como um grande corpo, cuja respiração, efetuada pelos bosques, se regularia conforme a um método científico”” (MOREIRA, 2008, v.1, p.57). Abordando o desenvolvimento da privatização e o desaparecimento da antiga forma comunal de propriedade, mudando as relações do homem com a Terra e o surgimento da indústria generalizando a ação em escala global. A união da indústria e da finança Neste tópico podemos compreender a dimensão alcança pela indústria e como ela causou o crescimento desenfreado das cidades, levando a população rural a migrar para as cidades e também aos conflitos entre países, mesmo que haja a política da boa vizinhança, citado pelo autor como “triste solidariedade política agressiva”, pois a rivalidade quanto as finanças (progresso dos países) se acentuava cada vez mais, contribuindo para o isolamento desses e desgaste da massa. Dessa forma o capitalismo cresce e alcança vários produtores e clientes do globo, “ Em cada país o capital trata de avassalar os trabalhadores, do mesmo modo que no grande mercado do mundo capital, aumentando desmesuradamente, prescindindo de todas as antigas fronteiras, trata de fazer que a massa de produtores obre em seu proveito e de assegurar-se da clientela de todos os consumidores do globo, selvagens e bárbaros tanto quanto os civilizados” (MOREIRA, 2008, v.1, p.59). O espaço do capital e seus descontentes Retratando o isolamento dos trabalhadores assalariados, muitas vezes subnutridos e de pouca estrutura, ainda aborda o enriquecimento de uns e o mercado em ascensão, bem como a expansão das ferrovias, trabalhando a todo vapor e transportando mercadorias e pessoas me tempo recorde. Assim a superprodução limita os pequenos produtores e vemos como o capitalismo beneficia aos grandes e aos poderosos países os tornando potências em ascensão e de difícil alcance, onde transformam a natureza do espaço sem cuidado com as paisagens visando o lucro. “Submetem a natureza. A indústria ocupa velhos espaços e erradia suas paisagens rurais”, “Submetem a circulação. Mola da “grande explosão do imperialismo britânico”, a associação indústria- ferrovia se propaga difundindo mundo afora o sistema social do mundo industrial”. “Todo esse processo desemboca numa crescente concentração monopolista de que a economia do Estados Unidos é o melhor exemplo, porque é onde “o fenômeno se desenvolveu em toda sua plenitude, ali o sindicato da indústria é a regra””. “Assim como na Europa, nos Estados Unidos o monopólio leva a miséria e a fome do proletariado” (MOREIRA, 2008, v.1, p.61). “Por fim, submetem o mercado. A evolução das trocas é uma das causas do monopólio” “O tempo é o grande comércio, apoiado em grandes armazéns para onde convergem objetos de todos os cantos do mundo” (MOREIRA, 2008, v.1, p.62). Vidal de La Blache: civilização e contingência em Princípios de geografia humana O autor nos mostra como Vidal introduz a noção do gênero de vida na Geografia. Em um primeiro momento vemos como Vidal concebe a questão do homem e a sua distribuição na superfície da Terra; apresentando como o homem é um ser contingente, e que por isso, a determinação de sua distribuição na superfície da Terra é fluida. Posteriormente nos mostra como a densidade da população está ligada aos modos de vida de cada civilização, posto que cada coletividade obedece a suas próprias necessidades. Depois discorre como o arranjo espacial é móvel, em decorrência da ação e dinâmica dos meios de circulação e por fim, como há a incorporação de certos espaços a lógica produtiva a partir do desenvolvimento técnico. Os homens no globo Tópico que nos passa a visão de como o homem se estabeleceu na superfície da Terra, desde o descobrimento do fogo até a criação de suas culturas, como as sociedades estabeleceram relações de troca e seus desenvolvimentos em cidades. “É assim, com suas semelhanças e diferenças, que os homens se difundem pela superfície do globo. Obedecendo a “lei da necessidade”, se adensam mais nalguns pontos noutros, entre os quais deixa que se formem grandes intervalos vazios por logo tempo. Isso porque a difusão não se faz como uma nódoa de azeite, mas por enxames, multiplicando-se” (MOREIRA, 2008, v.1, p.64). As “áreas-laboratórios” e a formação das grandes civilizações O tópico de certa forma continua o ponto abordado no anterior, visto que trata das relações interpessoais de troca de mercadorias e cultura, porém ainda de como se sucedeu a expansão humana, de pequenos grupos e povoados à grandes civilizações e que apesar das distinções espaciais, hoje fronteiras dos países, algumas culturas possuem as mesmas bases culturais e agrícolas, mostrando que num tempo antigo chegaram a se socializar fortemente e formando o que chamamos de nações. “Cada “área-laboratório” funcionou como uma “oficina de civilização””, “O intercambio das experiências acumuladas pelos homens em sua relação com seus diferentes meios foi assim uma peça básica na evolução civilizatória. De modo que é por força desse intercâmbio que as relações entre a Terra e o homem esclarecem-se acima dos localismos”. (MOREIRA, 2008, v.1, p.65) A contingencia, os gêneros de vida e as formas de civilização O tópico aborda o desenvolvimento humano e seus hábitos, como esses sobreviveram até hoje, graças as capacidades humanas de locomoção e criatividade, permitiram que o intercâmbio entre culturas e a troca de experiências fossem herdados por seus descendentes e sobrevivessem através séculos, como a propagação ou absorção de técnicas quanto a expansão de cultivo de certos vegetais e cereais, e mantiveram-se da mesma forma tranando-se base da cultura do povo da região, assim como o modelo de construção de casas e afins. O habitat e o arranjo do espaço Estabelece a relação do homem com o meio onde vive ou onde viverá, visto que há, de certo modo, um critério para a escolha do habitat, conforme citado “Já o habitat concentrado as habitações se reúnem num só ponto, de modo que num só golpe de visualização do horizonte se podem ver ao mesmo tempo os vários campanários da aldeia” e “O habitat concentrado tem seus pontos próprios de aglutinação, seus centros de vida. O habitat disperso precisa busca-los num mercado, numa igreja, numa referência externa” (MOREIRA, 2008, v.1, p.71). A força espacial da circulação Abordando o desenvolvimento comunicativo e comercial da antiguidade, por meio do domínio de animais para transporte de cargas pesadas e desenvolvimento de estradas para facilitar esses transportes, já que o relevo muitas vezes, assim o homem pode vencer grandes distâncias. “O arranjo do espaço é móvel, em decorrência da ação dinâmica dos meios de circulação. A possibilidade do estabelecimento do intercâmbio ou a quebra do isolamento ou estagnação de uma civilização está relacionada ao invento dos transportes e meios de comunicação” (MOREIRA, 2008, v.1, p.71). A integração do espaço mundial Neste tópico já vemos a grandeza do desenvolvimento humano, visto que compreendemos o avanço das máquinas a vapor e como elas contribuição para o transporte externo dos países e continentes, levando animais e vegetais/cereais a um outro nível de produção falando agora numa escala global de desenvolvimento, já que também houve a necessidade ou vontade de descobrimento de novos espaços e conhecimentos. “O isolamento dos países e regiões é posto em cheque. Apura-se a disputa pelo domínio internacional. As civilizações e os gêneros de vida entram em uma nova etapa” (MOREIRA, 2008, v.1, p.75). Jean Brunhes: ordem e desordem espacial em Geografia humana Ruy traz como Brunhes colocou na geografia a questão da ordem como uma "força construtora" e a desordem como uma “força destrutora”. Coloca-nos a questão da casa e do caminho, a casa como habitação e o caminho como a circulação de cada sociedade, põe a ideia de que a cidade é um fato dinâmico e que as vias de circulação tendem a interligar espaços de domínios. Também, nos traz a ideia do trabalho como uma força que pode ser tanto construtiva como destrutiva, que o homem, apesar de não renovar as riquezas que ele esgota também constrói casas, caminhos e meios de circulação. E, sendo assim, é nesta contradição que a economia destrutiva gera as paisagens do mundo. Um mundo de oposições Tópico que trabalha a origem da Terra e as forças que a geraram e a regem e sobre a permanência do homem e de como se sucedeu essa ocupação não só do homem, mas também dos seres viventes. No desenvolvimento desses, quanto sociedade em busca da sobrevivência no espaço em que habita. O habitat e as paisagens: a ordem da destruição construtiva Como o título do tópico apresenta, aqui vemos um pouco mais sobre o desenvolvimento humano e seu meio, porém com os olhos de Brunhes, podemos refletir mais sobre o passado, já que como o autor diz no início do livro Brunhes falou sobre algo que ocorreria em grande escala, acerando uma de nossas maiores crises, a superprodução e escassez de certos materiais, pelo consumo exacerbado ou desperdício por parte do homem, uma visão mais profunda e impactante. O trabalho e as transformações do meio: a desordem da construção destrutiva O tópico aborda a destruição causada pelo avanço do homem em sua trajetória rumo ao desenvolvimento na nacional, isto é, ao massacre exercido sobre as florestas e civilizações indígenas, acabando as espécies de plantas, árvores e animais de modo irreparável e de como tudo isso modificou as paisagens naturais e urbanas nas colônias e também para os colonos. Max Sorre: ecologia, sociabilidade e complexidade em o homem na terra Ruy mostra como Sorre traz a ideia de ecúmeno e do complexo. Para Sorre do ponto de vista da estrutura o ecúmeno é um complexo de complexos, um todo formado e caracterizado pela superposição e encruzamento de diferentes níveis de complexidade. Assim, Sorre vai discorrer sobre o complexo rural, aonde vai nos mostrar que a fusão desses complexos está relacionada à formação e evolução dos gêneros de vida. E por fim, vai mostrar como ocorre o surgimento do complexo técnico-industrial e do complexo cultural que o acompanha, evidenciando como o povoado rural dá lugar à cidade moderna. O ecúmeno: a sociabilidade e complexidade Tópico que fala sobre a diversidade dos alimentos e de como as civilizações o utilizaram e utilizam até hoje certa forma, já que culturalmente o consumo dessa dieta se difundiu, e quanto relação do homem com o meio e entre os próprios homens. O complexo rural: a sociabilidade antiga Aqui vemos como o sedentarismo, devido a nova atividade humana, a agricultura, fez com que os primeiros povoados fossem criados, o conceito de sociabilidade privada e urbana. “O povoado é o “estabelecimento agrícola ou grupo de estabelecimentos que formam bloco ou que pelo menos estão bastante próximos entre si para que se possa reconhecer a individualidade do conjunto”” (MOREIRA, 2008, v.1, p.92) O complexo urbano industrial: a sociabilidade moderna Com a industrialização e seu crescimento, os povoados dão lugar a cidades modernas, porém abordando a indústria profundamente, informando quanto as considerações da produção de matérias-primas. Ainda sobre o aumento de novas formas de energia, mais uma vez alterando a paisagem natural, mostrando a evolução do homem em seu meio, visto que podemos compreender no tópico. Pierre George: o espaço organizado e não organizado em A ação do homem Vemos neste segmento a noção de espaço organizado de Pierre George, onde diz ele que parte da humanidade vive em espaços pouco organizados pela ação humana, mas é cada vez mais restrita a quantidade de homens que ainda são sujeitos ao tempo e ao ritmo da vida natural. Posteriormente, nos mostra como o espaço vai se desenvolver nas sociedades de cunho agrícola, nas sociedades de base industrial e por fim no espaço global. Analisando como se vai de um espaço especializado para um globalizado, onde a indústria deita a sua relação sobre todos os lugares, valorizando-os pela incorporação. Foi considerado um dos criadores da Geografia Social. O espaço não organizado: a “geografia natural sofrida” Esse tópico tratada relação homem-homem, como suas relações contribuíram para a formação de sua cultura e organização de sua sociedade. O espaço organizado das sociedades de base agrícola Exemplo da diversidade agrícola e das culturas, bem como dos trabalhos rurais. Quanto a economia de países, variando conforme o clima e vegetação e tomamos noção de como os influenciou e nos influencia. O espaço organizado das sociedades de base industrial Nos contextualiza sobre o que é indústria em países de primeiro mundo e o que ela é em países subdesenvolvidos e das particularidades que envolvem países desenvolvidos e as evoluções alcançadas com esse processo. Sobre as tecnologias desenvolvidas devido as consequências da primeira revolução industrial. O espaço global Contrariando boa parte do que vemos nos tópicos anteriores, a migração se inverte e a população das cidades vão para os campos, assim mostrando o grande estabelecendo entrelaçamento alcançado pelas nações que possuíram capacidade para tal. Jean Tricart: morfogênese e meio geográfico em A Terra planeta vivo Tricart vê o planeta como resultante da interação de três forças, e formas de energia. Onde a primeira força está embutida na matéria que constrói o planeta. A segunda força vem da atração dos astros no universo, que se materializa na gravidade. E a terceira força vem da radiação solar que se traduz em forma de energia. O meio físico-geográfico seria resultante das duas primeiras forças. Tricart coloca a questão da integração entre sociedade e meio, onde o homem está na natureza e a natureza está no homem, e nos traz a importância de levar em conta a questão espaço-temporal. Os seres vivos e a morfogênese do meio geográfico Mais uma forma de interpretar o início do planeta, atribuindo novas considerações para o que pode ter causado a aparecia da Terra, como as tectónicas, gravidade e radiação. O estabelecimento da vida no planeta, as mudanças que ela provocou no sistema natural. Ver a integração, ver a escala do espaço-tempo Abrangência de considerações e exemplos de sistemas na Terra e que foram detalhados dentro de possíveis áreas da geografia. Temos a evolução da superfície de um todo definido, porém interligado. O homem Seus processos no meio, o desgaste e destruição desse, bem como superação ao reparar esse meio, entendemos melhor o que a agricultura e a pecuária causaram ao solo e também as bacias hidrográficas. Richard Hartshorne: diferença e significância em Propósitos e natureza da geografia Hartshorne foi um geógrafo preocupado com a questão do método na geografia. Para ele a geografia é a ciência que estuda a diferenciação de áreas. E com essa questão, algumas categorias de análise despontam, tais quais, semelhança, similaridade, diferença, identidade, entre outras. Ele também nos traz a distinção entre natural e natureza, que apesar de serem termos próximos se distinguem, pois natural seria a parte da realidade independente do homem, e natureza é o todo que inclui a parte humana. Por fim, Ruy traz a preocupação central de Hartshorne que é com a natureza das conexões que interligam os fenômenos. A definição O tópico nos apresenta a visão de Hartshorne sobre a geografia, sobre como a ciência da diferenciação pode ir para vários lados e de como uma escolha de linha pode transformar um assunto em uma generalização que não agrega conhecimento por se tornar maçante ou mal explicado. O método Aqui temos uma “receita” do modo como deve ser realizado algum tipo de estudo, o quem importa mostrar ao realizar esse tipo de projeto, isso tudo vinculado às relações interpessoais humanas. Natural, natureza e homem Diferenciação do natural e natureza, onde natural exclui a humanidade, ou seja, tudo que não foi tocado ou independe do homem para existir. Lei científica e ciência em Geografia Esse tópico vai mais a fundo no que se refere a geografia, uma vez que temos o início dela com os gregos demonstrada e se sucedeu a diferenciação entre geografia física e humana e o quanto as leis da física da natureza e as relações humanas, definem o que essa ciência é. IDEIAS E ESTRUTURAS DO DISCURSO Continuidade e descontinuidade no pensamento clássico Há entre os clássicos uma relação visível de continuidade e descontinuidade. A presença comum dos temas e conceitos fala de uma continuidade. O modo de compreensão e projeção dos conceitos sobre o real dando em concepções de relação espaço mundo diferentes, fala de uma descontinuidade, além de haver um modelo matricial em cada obra. Há em comum entre eles o longo arco de tempo que vai de 1860 a 1960, o que corresponde ao período de consolidação e auge do capitalismo como modo de produção e do surgimento das primeiras experiências de fazer a história ir para frente como um ato de ação consciente dos homens na busca de uma alternativa socialista. O que há de diferente é o tempo específico, a realidade temporal e o modo como veem e se posicionam dentro desse tempo-espaço. (MOREIRA, 2008, p. 137) Modelos e fundamentos O fenômeno muda na história e o enfoque paisagístico prende o conhecimento e a compreensão que está ao seu alcance nesse limite. Por isso podemos chamar a teoria de Vidal de La Blache, de Brunhes e de Sorre de uma Geografia da permanência, e a de Reclus, de George e de Tricart de uma Geografia da mudança. E chamar a todas elas pelo mesmo nome de Geografia clássica. E essas aproximações e afastamentos são perceptíveis na forma como estes clássicos leem a paisagem, concebem o papel da técnica na construção das sociedades a partir da construção do espaço, entendem o modo como se dá os arranjos do espaço, a interação entre os objetos e os homens na sociedade e definem pelo eixo discursivo na Geografia. Daí que no geral são os mesmos os temas que eles analisam. Mas não o foco e o enfoque. Esta é uma característica que os une e os separa. Os temas são os de uma sociedade capitalista hegemônica sobre a história. E na natureza da Geografia como ciência. O foco corresponde ao ângulo de visada do tema, o que tem a ver com a mundivisão e posicionamento de cada clássico frente o seu mundo vivido. E o enfoque remete aos fundamentos teórico-metodológicos utilizados, que em cada clássico tem conceitos e formatos de análise e interpretação compreensiva diferentes. (MOREIRA, 2008, p. 143) A taxonomia e leitura das paisagens O tema das paisagens une os clássicos. O sentido que lhe emprestam e o tipo de paisagem a que recorrem para atingir o entendimento, os separam. Mesmo quando o momento histórico e a sociedade são os mesmos, o que buscam atingir através dela não o é. Em Vidal de La Blache são as paisagens agrarias e suas formas o tema centra da leitura geográfica. Em Reclus são as paisagens dos conflitos socioespaciais da sociedade industrial. Em Brunhes e Sorre, as paisagens dos arranjos criados pela técnica industrial. Em George, as indicadoras do modo de organização espacial da sociedade. Em Tricart, as ordenadoras do meio geográfico. Em Hartshorne, as que informam os estados da diferença. (MOREIRA, 2008, p. 144) Eles fazem uma leitura das paisagens de acordo com suas referências centrais. O arranjo espacial É fundamental primeiramente localizar os fenômenos na superfície terrestre para que os clássicos lerem eles geograficamente. Depois, em compor a rede da sua distribuição no espaço. O conjunto da distribuição das localizações se dá no formato do arranjo. E o visual desse conjunto do arranjo é a paisagem. Brunhes e Sorre tem uma visão que vem do modelo teórico de La Blache. MOREIRA (2008), ressalta que para Vidal a leitura geográfica consiste na constituição do mapa da distribuição dos homens na superfície terrestre. E também é o motivo que faz do conceito de diferenciação de áreas de Hartshorne/Hettner algo de sentido tão revolucionário. Para Hartshorne a diferença comporta tanto o viés horizontal do conceito do arranjo de George quanto o vertical do conceito de hierarquia espacial dos meios de Tricart, aparecendo como escala na sua riqueza geográfica mais plena. (MOREIRA, 2008, p. 151) A técnica, o meio e o espaço A técnica é o elo portador da ação geográfica, ela viabiliza a montagem do arranjo, e este responde pela formação da paisagem. Entendida como componente orgânica no conceito do gênero de vida e como mediação da relação do homem com o meio no conceito de sociedade, é com ela e através dela que o homem modela a paisagem e transforma o meio em espaço socialmente organizado. Recebe um tratamento etnográfico pela maioria dos clássicos, as técnicas agrícolas e dos transportes e comunicação são ênfase de La Blache, Sorre é reverente à evolução das técnicas de interação com os espações e paisagens, já o enfoque da técnica é da relação por excelência contraditória desta com o espaço acontece com Brunhes e Georges é continuador dessa tradição aberta por Brunhes. É com George que nasce na Geografia o conceito do espaço como produto da história. Fato que se dá segundo cada era técnica. De resto uma teoria anunciada por vários de seus contemporâneos, como François Perroux com quem divide as honras do compartilhamento. (MOREIRA, 2008, p. 154) O eixo estruturante A relação sociedade-natureza é o plano processual da ação geográfica do homem, pois é conhecendo a natureza que o homem se conhece a si mesmo (“o homem e a natureza adquirindo consciência de si próprio”). Vidal de La Blache é transparente na sua teoria. Seu conceito de civilização vem de uma relação histórica direta da relação do homem com o meio. A civilização nasce centrada na relação sociedade- natureza. Todavia, esta é uma relação orientada na contingência, o que traz a efetividade da sua realização para o plano da relação sociedade- espaço. (MOREIRA, 2008, p. 154) MOREIRA (2008), define o modo como Reclus vê o processo histórico é sui generis, ou seja, o Estado reúne os espações do feudo num só e da origem a feição do espaço fragmentando nos territórios nacionais, com a cidade como pólo agregador do conjunto do território nacional. Os conceitos e as categorias A leitura da paisagem é o começo do itinerário do trabalho geográfico nos clássicos. Talvez por isso a descrição surja como recurso do método por excelência. Em Vidal de La Blache a paisagem é a permanência. Em Reclus é o fluir material do tempo. Em Brunhes, o cartográfico. Em George é a existência. Em Tricart é a escala. E em Hartshorne é a significância. A paisagem nunca aprece em seu conceito explícito em nenhum momento o que se interpreta é o ser visível do espaço. A configuração é uma categoria sempre confundida com o conceito do arranjo espacial. A exemplo da descrição dos complexos de paisagens em Sorre, na qual é ela a categoria presente. A configuração é, entretanto, uma categoria de sentindo mais abrangente que a do arranjo, por incluir o sentido de organização do espaço. O arranjo é para a configuração apenas sua base arquitetônica. (MOREIRA, 2008, p. 166) Já o conceito de escala é estrutural, podendo ter sentido de extensão horizontal e em outro sentido de hierarquia vertical. De qualquer modo distintamente do conceito matemático, a escala para os clássicos tem um significado qualitativo. As matrizes, diferentes ontologias Comunidade e libertarismo em Reclus Geografia é a forma por meio da qual o homem pode se compreender como natureza e história humana. O espaço de um lado é a prisão dos homens e de outro é a possibilidade da sua emancipação libertária. A associação da Geografia com a Filosofia Libertária traz outro aspecto matricial distintivo. Em sua leitura da passagem do feudalismo para o capitalismo – Reclus extrai sua visão da história do esmo solo epistemológico do século XIX, a semelhança terminou aí -, Reclus acrescenta presença da comunidade ao lado do burgo e do feudo, nos convidando a uma releitura de nossas teorias da transição. (MOREIRA, 2008, p. 169) O sentido sociopolítico é o que constitui a matriz geográfica de Reclus e é nisso que se situa a explicação da sua subsistência. E por essa razão que acontece o seu retorno nesse momento de renovação que passa a Geografia herdeira dos clássicos. Civilizações e gêneros de vida em Vidal de La Blache A contingência é a possibilidade da livre escolha que a homem porta dentro de si de optar pela forma de relação que almeja ter com a natureza no momento da construção geográfica da sociedade na história. O gênero de vida é o veículo básico dessa construção e é a contingência materializada em modo de vida. O intercambio é a chave da constituição da coabitação. E do progresso civilizatório. Intercâmbio com os homens e intercambio com a natureza. Do intercâmbio com a natureza vem a essência cultural com que o homem cria sua civilização com seus gêneros e modos de vida. (MOREIRA, 2008, p. 170) Destruição e construção em Brunhes O mundo é o que dele faz a tensão das forças motoras que o mantêm em permanente estado de mudança, de um lado as “forças loucas do sol” e de outro lado as “forças sábias da terra”, a superfície terrestre surgindo da dialética de ordem e desordem que assim se estabelece. O homem intervém como um reprodutor dessa dialética em sua ação de destruir para construir e construir no ato de destruir os espaços. O espaço geográfico é essa combinação do caráter objetivo e subjetivo dos fatos geográficos. Objetivo por conta das forças que se embatem na constituição da superfície terrestre e do estado de ordem e desordem em que esta sempre se encontra. Subjetivo por conta da natureza psico-histórica do trabalho por meio do qual o homem intervém na superfície terrestre, destruindo para construir e construindo pelo ato de destruir. A dialética de objetividade- subjetividade dando o rumo do processo. (MOREIRA, 2008, p. 172) Ecologia e complexidade em Sorre O surgimento da técnica moderna imprime, para ele, uma escala maior e estruturalmente mais planetária da rede de complexos. O centro de gravidade da organização do espaço passa a ser o gênero e modo de vida urbano-industrial, que leva a relação homem-meio a ter de realizar-se na escala global da superfície terrestre. A unificação de todos os espaços num só ecúmeno, a rápida desintegração dos gêneros de vida pela aceleração dos melos de comunicação e transporte, o deslocamento das relações ambientais blocais para o nível de uma ecologia do planeta, somam-se ao caráter cosmopolita da vida, ao ecúmeno arrumando numa rede de complexo de complexos, com suas tensões, agitações e instabilidade de uma sociabilidade industrial e urbana. (MOREIRA, 2008, p. 173) Espaço não organizado e organizado de George O espaço é história porque o tempo existe como espaço e isso porque o espaço é a condição de materialidade do tempo histórico. As sociedades são organizadas através dos seus espaços. O tempo natural e substituído pelo tempo técnico, e a paisagem reflete a presença da técnica na determinação do modo de relação do homem com o meio e no modo como essa relação vai se exprimir como relação de espaço. O homem é o sujeito dessa sociedade de espaço organizado e sua ação se faz presente através das suas atividades de transformação do meio natural. E age por intermédio do trabalho, potencializando pelo poder da técnica. O esteio da ação é a evolução das relações e forças da produção, que atuam como o fio condutor e o marco de passagens dos tempos históricos. (MOREIRA, 2008, p. 173) Morfogênese e escala de tempo – espaço em Tricart O meio geográfico é a forma por excelência da concepção de organização do espaço de Tricart. Se ganha na escala grande e perde-se na escala pequena o poder de percepção do movimento da visibilidade dos fenômenos no espaço e da própria marcha da temporalidade do tempo. O caráter integral vem do fato de o meio geográfico ser uma combinação de heterogeneidade e de homogeneidade. Os meios geográficos são hierárquicos em sua organização espacial. E quanto do espaço, a leitura do real devendo considerar a simultaneidade tanto de uma escala quanto de outra, já que a riqueza de detalhes do real em seu movimento tende a aparecer com maior transparência na escala espacial grande (área pequena) e a desaparecer ou aparecer num grau consideravelmente mais pobre na escala pequena (área grande) em face do nível de generalização. (MOREIRA, 2008, p.174) Diferença e significação em Hartshorne A diferenciação só é captável geograficamente quando referida a superfície terrestre em todo o seu significado e abrangência. Resgatar a diferenciação espacial e o recorte espacial como enfoque é resgatar a superfície terrestre como âmbito das reflexões do geógrafo. Haveria para isso que se revolver o problema do caráter heterogêneo com que a realidade fenomênica volta a aparecer neste resgate da superfície terrestre diante dos olhos do geografo. Mas também ai o resgate da superfície terrestre como o âmbito do estudo da Geografa traz consigo suas possibilidades de metodologia. (MOREIRA, 2008, p. 175) O que se aprende com os clássicos A Geografia é o estudo entre a relação sociedade-natureza e a relação sociedade espaço. Nessa interação o fenômeno ora se metaboliza numa, ora noutra forma, tomando essa dialética de transfiguração como seu eixo de movimento geográfico. O metabolismo homem – meio: a relação seminal A Geografia é uma ciência que extrai seu discurso da interface dos eixos sociedade- natureza e sociedade espaço, em que formal e conceitualmente prevalece ora o que hoje designamos de meio ambiente, ora o que entendemos por espaço. O trabalho é próprio nome do metabolismo. Embora só dedutivamente assim apareça entre os clássicos. Elementos operacionais desigualmente presente em cada um deles, é só em Reclus, Brunhes e George que ganha um status conceitual de mais clara evidencia teórica. (MOREIRA, 2008, p. 177) O metabolismo homem – espaço: desdobramento e efetividade Tudo aparece como produto da técnica. Assim também o espaço. O espaço é produzido pela esfera da produção e organizado pela esfera da circulação, o todo espacial refletindo em sua dinâmica evolutiva a progressão da interação e do nível de desenvolvimento dessas duas esferas. A técnica aparece como o agente da nova materialidade por excelência. A relação se inicia no fato da localização, Brunhes tem papel importante nesse processo de construção do espaço, toda localização deve ser vista no quadro das distribuição, logo, na extensão por estar determinada. A determinação locacional é decorrência do fato de o trabalho ter de ser necessariamente um processo localizado num ponto definido da superfície terrestre. E só a partir daí poder ganhar uma escala de extensão maior através da divisão territorial da produção e das trocas. A técnica é o motor de propulsão seja do trabalho, seja da sua abrangência de escala. (MOREIRA, 2008, p. 180) O homem é o meio O nascimento da técnica e seu desenvolvimento, expressando o surgimento da razão na relação com o meio, inicia um começo de dessacralização da natureza, que o crescimento das interações espaciais, os intercâmbios de conhecimento e a própria continuidade do desenvolvimento da técnica vão transformar numa relação mediada e desencantada pela ciência. O modus operandi indica a história contestável do sujeito com meio e a técnica. Já a “ área anfíbia” retrata um momento de princípio de dissociação. MOREIRA (2008, p. 185) descreve: “ metabolismo do trabalho é a um só tempo relação ambiental e espacial, o movimento que contém em si a reciprocidade das transfigurações do meio ambiente e do espaço um no outro, a dialética desse movimento como essência-conteúdo da historicidade. ” O que aprendemos através dos clássicos Nesse último trecho do livro, Ruy Moreira faz uma crítica em relação à postura dos geógrafos ao abandono dos clássicos, nos indagando a uma retomada dos mesmos para uma melhor reflexão e compreensão do que seria a geografia hoje. Sendo assim, Ruy diz que indo na contramão dos outros campos acadêmicos, dispensamos o estudo percuciente e constante dos fundamentos geográficos do mundo real do homem anos a fio formulados pelos clássicos, analisando e sistematizando com a paciência de um monge toda a riqueza do pensamento acumulado. E deixamos, assim, a Geografia sem rumo e sem alma, sem fôlego discursivo e sem vida própria para cair sistematicamente na dependência e cópia dos pensamentos mais prestigiados e estruturados (sem que mesmo nos indaguemos e procuremos saber o porquê) dos saberes que não tiveram a preguiça modista de fazer o dever de casa. Considerações finais A partir da leitura desta obra, percebe-se que Ruy Moreira a fez com o objetivo de informar aos seus leitores a origem da geografia clássica, seus primeiros pensadores, escolas, o momento em que viviam, assim como a relevância de seus estudos para este campo. Um bom livro, que apesar disso poderia ser melhor desenvolvido, principalmente no campo destinado aos principais autores, escassez no conteúdo e nas linhas de pensamentos é o que se encontra quando se faz a leitura destes campos, há também de ser apontado a organização do que se é falado, que se demonstrou falha, acabando por acarretar em momentos de confusão, que leva a repetição da leitura para uma melhor compreensão dos fatos. Entretanto, pode se elogiar o autor pela sua contribuição Bibliográfica, uma vez que se encontra poucos materiais destinados a esses assuntos, e até mesmo aos estudiosos específicos que foram citados. Tal fato é importante, pois a partir disso se pode despertar o interesse de seus leitores na busca por mais conhecimento sobre estes temas e também abre possibilidades na geração de mais conteúdo. Referência bibliográfica MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias. São Paulo: Contexto, 2008a.
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