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As Novas Tecnologias Musicais no contexto escolar: ensinado música com recursos digitais. Jhoanatan Willy Silva de Aquino natanwilly@hotmail.com Resumo O artigo tem como objetivo refletir sobre o uso de novas tecnologias para o ensino e aprendizagem musical na escola. Essa reflexão foi resultado de uma experiência prática vivida durante o estágio supervisionado no programa Mais Educação em uma escola pública de educação básica de Maringá/PR. O objetivo do estágio foi proporcionar vivências musicais significativas que ampliasse o universo musical dos alunos, buscando a motivação e a potencialização do interesse deles em aprender música. Nesse sentido, com base no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, foi possível o trabalho com elementos lúdicos, por meio de jogos e brincadeiras, tendo como recurso o uso das novas tecnologias. Como resultado da reflexão trazida neste artigo é possível afirmar que o uso dos recursos tecnológicos me permitiu personalizar minhas aulas, criar arranjos e materiais adequados para trabalhar os conteúdos que precisava naquele momento, o que aumentou minha autonomia em relação a materiais didáticos. Palavras chaves: novas tecnologias, aula de música, motivação e engajamento. Introdução Nos dias atuais, crianças e jovens crescem próximos a novas tecnologias, fazendo com que tais recursos digitais façam parte de seu tempo diário, de seu cotidiano. Como afirma Souza (2008), Crianças e jovens crescem convivendo naturalmente com as mídias Ipods, CD-player, TV e computadores- e que estas representam componentes importantes de duas vidas: a busca de identidade e a socialização (SOUZA, 2008, pag. 8). Como educadores, considero necessário que acompanhemos as transformações mundiais, que estejamos atentos a quais dessas mudanças tem atraído e sido interessante para essa nova geração. Ou seja, precisamos atualizar constantemente nossas metodologias para manter o interesse dos alunos em nossas aulas. Acredito que precisamos estar abertos a mudanças e a novas ideias, mostrar disposição e preocupação com a formação do aluno. Como afirma Beyer (apud KEILLING 2011), Temos de estar abertos a novos conhecimentos, buscar e criar propostas de trabalho que de fato contribuam para a formação de um ser humano mais completo, capaz de pensar e agir com consciência e crítica, sabendo-se sujeito de sua própria história e de seu conhecimento. (BEYER apud KIELING, 2011, p.23). Em relação ao uso de novas tecnologias a aprovação da Lei de nº 11769/2008, que instituiu a música como conteúdo obrigatório na educação básica, ocorreu em um momento em que há, também, uma grande preocupação com os processos de inclusão digital. Em relação ao meio cultural, principalmente o musical, Kieling (2011) nos traz uma reflexão interessante: A aprovação desta Lei [11.769/208] ocorreu em um momento em que a indústria cultural instituiu a apreciação e o uso das tecnologias de massa, fazendo com que os computadores, softwares e a internet, façam parte da vida desta nova geração. O professor que não estiver atento para esta realidade corre o risco de ficar datado (KIELING, 2011, p.24). O risco de o professor ficar datado se dá pela questão das escolas estarem se adaptando a realidade dessa nova geração com a implantação de computadores com acesso a internet, aparelhos de Dvd’s entre outros recursos digitais. Desta forma o professor que não considerar a utilização de tais recursos será considerado ultrapassado. Para a autora, diante dessas transformações, como educadores precisamos rever perspectivas didáticas, reavaliar nossos conceitos educacionais, adaptando-nos a uma nova realidade “complementando nossa formação, e permitindo maior interação com alunos, colegas e com o mundo” (KIELING, 2011, p.23). Nesta experiência pode-se dizer que a motivação dos alunos foi o cerne dos caminhos metodológicos seguidos. Ao motivar os alunos acredito que podemos nos aproximar mais de uma experiência musical que seja significativa para eles e que os estimule a aprender novos conteúdos musicais. Acredito que o investimento no interesse do aluno potencializa sua capacidade de aprendizagem. Ou seja, na experiência aqui relatada, parto do princípio de que o uso de novas tecnologias como ferramenta para pratica de ensino de música pode motivar a participação dos alunos nas atividades desenvolvidas em aula. Assim, contribuir com a qualidade das experiências musicais vividas e, por fim, refletir em seu desenvolvimento musical. O cenário: contextualizando a experiência A experiência aqui relatada foi realizada durante a disciplina Estágio Curricular Supervisionado I, do Curso de Licenciatura em Música da Universidade Estadual de Maringá (UEM), na Escola de Educação Básica Olga Aiub Ferreira, da rede Municipal de Maringá/PR no conjunto Habitacional Requião I. O estágio foi realizado durante o ano de 2012 com uma turma de 1ª ano do ensino fundamental, com aproximadamente 20 alunos. O objetivo do estágio foi proporcionar vivências musicais significativas que ampliasse o universo musical dos alunos, buscando a motivação e a potencialização do interesse deles em aprender música. Nesse sentido, com base no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, foi possível o trabalho com elementos lúdicos, por meio de jogos e brincadeiras, tendo como recurso o uso das novas tecnologias. A proposta envolveu práticas musicais diversas, por meio de atividades de arranjo musical em grupos envolvendo a prática instrumental e o canto coletivo. O repertório abordado com o grupo de início foi baseado em canções do meio infantil, que eram acompanhadas pelos os alunos através de percussão corporal e com instrumentos alternativos de acompanhamento como chocalhos e ovinhos. No início, os alunos mais agitados não demonstraram interesse em participar das atividades, para me aproximar do universo infantil busquei, a cada aula, trazer vídeos de filmes, desenhos animados, que tinham relação com o tema desenvolvido naquela aula permitindo conhecer melhor suas particularidades e interesses pessoais. Os recursos digitais e a aula de música Considerando as novas tecnologias como ferramenta de apoio ao professor, o artigo terá como foco as contribuições dos recursos tecnológicos como meio para ampliar as vivências musicais dos alunos, aproximando-se de seus cotidianos, estimulando-os às práticas desenvolvidas nas aulas e ampliando, assim, seus conhecimentos musicais. Contudo, a utilização desses recursos funcionou tanto para motivação, interação e melhor aprendizagem dos alunos no estágio como na reflexão de professor de música com relação às possibilidades de transformações de recursos tecnológicos em materiais didáticos para o ensino musical. Os recursos utilizados foram: 1 (um) notebook. 1 (um) cabo coaxial simples com conector P2/P10. 1 (um) amplificador. É importante esclarecer que para a criação de dois dos arranjos musicais que foram trabalhados com os alunos foram necessários programas voltados à criação e produção musical, no caso, um programa multipista e plug-ins1 que simulasse instrumentos musicais para arranjar as músicas. Como eu não possuía um estúdio de produção sonora para a criação e produção das músicas que seriam trabalhadas em sala de aula, a solução foi estudar quais programas eram utilizados na área, como eram utilizados, e as suas capacidades se tratando da qualidade de produção musical. Para a preparação dos materiais foi utilizado o recurso digital multipista Sonar 8 Produce. Trata-se de um programa que permite mixar várias faixas ou músicas aomesmo tempo. 1 Plug-ins - Em computação, um plug-in é um conjunto de componentes de software que adiciona habilidades específicas para uma aplicação de software maior. Se suportado, plug-ins permitem personalizar a funcionalidade de um aplicativo. Figura 1 – Programa multipista Sonar 8 Produce com mixagem de cinco faixas simultâneas. Como forma de obter mais recursos, busquei vários pacotes digitais como o plug-in 2Virtual Studio Technology (VST): Roland GrooveSynth – pacote de simuladores de efeitos; True Piano – simulador de piano; Addictive Drums – simulador de bateria; Studio Instruments – simulador de contra-baixo; Stormdrum Kompakt Edition – simulador de percussão cinematográfica; Symphonic Choirs – simulador de coro; Symphonic Orchestra Gold – simulador de instrumentos de orquestra; 2 Virtual Studio Technology - (Em inglês: Tecnologia de Estúdio Virtual) ou simplesmente VST, é uma interface desenvolvida pela Steinberg e lançada em 1996 que integra sintetizadores e efeitos de áudio com editores e dispositivos de gravação de som digitais. Figura 2 – Plug-ins simuladores de instrumentos virtuais - Addictive Drums, Symphonic Orchestra Gold, Studio Instruments no arranjo “A Língua dos Animais”. A criação de arranjos com o recurso digital Durante o estágio, sentia a necessidade de me especializar no uso dos programas de gravação e produção musical, citados anteriormente. Isso porque sabia que a utilização deles me possibilitaria certa independência na criação de arranjos, e, assim não dependeria unicamente da utilização de arranjos prontos ou mesmo do uso de playbacks ou CD’s. O que, na prática, acabou tornando o trabalho mais rico e personalizado para o grupo com o qual eu estava trabalhando. Com tempo percebi que os alunos gostavam muito de timbres percussivos virtuais e com efeitos de mixagem encontrados principalmente no funk carioca e no rap nacional. Assim com a utilização de tais recursos digitais foi possível desenvolver dois arranjos musicais na busca de valorizar o gosto dos alunos, porém, sem fugir do universo musical infantil, o qual busquei trazer no uso de letras, no vínculo com histórias do imaginário infantil, personagens, animais, etc. Como os alunos ainda não estavam alfabetizados, para a composição dos arranjos, tive que buscar elaborar letras de fácil memorização mas e que possibilitassem trabalhar conteúdos musicais. O primeiro arranjo desenvolvido foi o rap “O Planeta Azul”, com ele desenvolvi atividades de percussão corporal, visando o desenvolvimento do senso de pulso interno dos alunos, ampliando a capacidade de execução e noção rítmica. O Planeta Azul Precisamos cuidar do meio ambiente. Precisamos salvar o Planeta Azul. Não adianta ficarmos aqui parados. O planeta pede socorro, socorro, socorro, socorro. Em se tratando da estrutura do arranjo, a música se dividiu em duas partes, a primeira composta por um sampler3 de bateria onde os alunos somente cantavam. Na segunda parte entravam mais simuladores virtuais de instrumentos musicais como contrabaixo, piano, trompete e violinos, os alunos tinha que manter o pulso alternando entre os pés e ao mesmo tempo produzirem sons com o corpo. O segundo arranjo foi o rap “A língua dos animais”, com ele trabalhei o canto coletivo, visando desenvolver elementos de afinação. Isso, através de vocalizes com graus conjuntos em formato de brincadeiras e desafios que estavam relacionados com o repertório. Nesta experiência utilizei como recurso o programa PowerPoint, por meio do qual, imagens de animais eram apresentadas na medida em que a música se desenvolvia. Como pode ser observado na letra da música, onde aparecem os pontos de interrogação, a cada execução da música era apresentado um animal diferente, com o qual a velhinha iria cantar. Ver exemplo na segunda estrofe da música, abaixo: A língua dos Animais Havia uma velhinha que gostava de animais. Ela cantava com o “????????” numa língua que é demais. “?????????????????????????????” Havia uma velhinha que gostava de animais. Ela cantava com o cachorro numa língua que é demais. Au, au, au, au, au, au, au, au, au au, au au, au... Com relação à estrutura do arranjo, a música se dividiu em duas partes, a primeira composta por um sampler de bateria onde os alunos somente cantavam. Na 3 Sampler – é um software dedicado, feito para armazenar amostras de áudio (samples) de arquivos em diversos formatos, de origem digital (WAV, FLAC, MP3 etc). segunda parte entravam mais simuladores virtuais de instrumentos musicais como contrabaixo, violinos, os alunos tinha que manter o pulso e ao mesmo tempo produzir as onomatopeias dos animais que eram citados em cima da melodia o violino. Considerações finais Com a utilização das novas tecnologias nas aulas de música, houve um aumento significativo no envolvimento dos alunos durante as atividades, pois nas aulas em que utilizei de recursos digitais fui surpreendido pela interação e ampliação das habilidades musicais tais como: reconhecimento de pulso, execução rítmica em cima de peças musicais, ouvido harmônico e canto. Em algumas aulas optei por não utilizar recursos tecnológicos e, comparando com aulas em que utilizei tais recursos digitais, a diferença de interação dos alunos durante as atividades era visivelmente maior. Através dos arranjos os alunos também conseguiram aprimorar a sensibilidade de dinâmica na execução rítmica, pois à medida que eles conseguiam cumprir com os desafios das atividades, eu aumentava o grau de dificuldade, isso através dos próprios arranjos. Outro ponto muito importante foi o fato das professoras responsáveis pela turma notaram a empolgação dos alunos por minhas atividades, com isso, elas pediram para que eu disponibilizasse o áudio dos arranjos para que elas também utilizassem em suas aulas. Essa experiência me permitiu perceber que o uso de novas tecnologias facilitou meu acesso com os alunos fazendo com que eles se sentissem mais motivados, com isso, os objetivos das aulas em termos de aprendizagem musical foram atingidos de maneira satisfatória e visivelmente mais divertida para os alunos. Segundo Kieling (2011) o uso das tecnologias musicais é um caminho para que o professor não fique “datado”. Como educadores, precisamos conhecer essas ferramentas tecnológicas, nos adaptar a um contexto que será cada vez mais presente, pois vivemos diante de uma geração tecnológica. O texto apresenta o relato de uma prática de ensino realizada em uma escola publica em Maringá. Traz boa fundamentação em relação à utilização de novas tecnologias, descreve as atividades realizadas utilizando recursos tecnológicos durante aulas de musica e faz reflexões em relação a essa utilização. O texto contribui para a discussão sobre a Educação Musical nas escolas de educação básica do Paraná, ressaltando a utilização de novas tecnologias. Referências ALVES, Lynn Rosalina Gama. Relações entre os jogos digitais e aprendizagem: delineando percurso In: (Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia e da Faculdade) 2008 Pág. 01 - 08. KIELING, Carla Machado. A Contribuição das Novas Tecnologias de Informação de Comunicação para a Construção do Conhecimento Musical dos Aprendizes de Música da Educação Infantil In: (Universidade Feevale – Novo Hamburgo) 2011 Pág. 01 – 76. SOUZA, Jusamara. Aprender e ensinar música no cotidiano: pesquisas e reflexões,Rio Grande do Sul, 2008.
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