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TRAB. DIR. INT. COOPERAÇÃO JURÍDICA.

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FACULDADE DE DIREITO
ROSEMEIRE SILVA DE ARAÚJO
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL: JURISDIÇÃO E SENTENÇA ESTRANGEIRA; JUÍZO DE DELIBAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO PELO STJ.
SALVADOR/2018
ROSEMEIRE SILVA DE ARAÚJO
DIREITO INTERNACIONAL
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL: JURISDIÇÃO E SENTENÇA ESTRANGEIRA; JUÍZO DE DELIBAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO PELO STJ.
Trabalho apresentado ao professor Lucas Rios, como forma parcial de avaliação. 8º semestre do curso de Direito. 
SALVADOR, BA/2018
Nessa nova ordem global, alguns países elaboraram normas de cooperação entre Estados soberanos com o fim de ampliar e aperfeiçoar o diálogo político-jurídico entre as autoridades internacionais. No âmbito jurídico, essas normas pretendem dar eficácia extraterritorial às medidas processuais oriundas de acordos ou tratados.
No Brasil, as regras referentes à cooperação jurídica internacional estão organizadas, por exemplo, em acordos multilaterais e bilaterais de cooperação jurídica; em resolução do STJ e portarias do Ministério da Justiça; no regimento interno do STF; em algumas disposições da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro (LINDB) e da Constituição Federal; e, atualmente de forma mais aprofundada, no Novo Código de Processo Civil.
Além do mais, é importante mencionar que a própria Constituição, em seu artigo 4º, inciso XI, prevê que o Brasil rege-se nas relações internacionais pelo princípio da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
O CPC em seu artigo 26, § 1º, determina que a cooperação internacional será regida pelos tratados internacionais dos quais o Brasil seja signatário ou, na falta destes, por meio da reciprocidade manifestada pela via diplomática. Assim devemos lembrar que a competência para a celebração de tratados internacionais pertence à União, mas, após assinados, eles devem ser ratificados pelo Poder Executivo, com a aprovação do Poder Legislativo. A matéria disciplinada no tratado é que irá determinar o procedimento legislativo a ser adotado para a sua aprovação.
No aparelhamento da cooperação internacional é exigido que as garantias processuais adotadas no Brasil e no país estrangeiro sejam observadas.
O artigo 26, I a II do novo CPC, verifica-se maior destaque ao devido processo legal; ao tratamento isonômico de brasileiros e estrangeiros. Residentes ou não no país, quanto ao acesso a justiça, a tramitação dos processos e a assistência judiciária para os necessitados; e à publicidade dos atos processuais, com exceção das situações em que legalmente deve-se observar o sigilo processual (art. 26, § 3º).
Quanto ao objeto da cooperação jurídica internacional, o art. 27 estabelece algumas das diligências processuais que podem ser objeto de cooperação jurídica internacional entre os estados estrangeiros e o Brasil. Cabe dizer que esse rol não é taxativo, sendo possível a utilização de medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
1. Autoridade Central
É o órgão interno responsável por conduzir a cooperação jurídica entre os Estados. É a autoridade central que gerencia os pedidos de auxílio, transmitindo-os às autoridades estrangeiras após um juízo antecipado de admissibilidade, que não importará em prévia análise do mérito. Cabe à autoridade central, por exemplo, “evitar falhas na comunicação internacional e o seguimento de pedidos em desacordo com os pressupostos processuais gerais e específicos aplicáveis ao caso, bem como não permitir que sejam adotados mecanismos de cooperação inadequados à situação específica”.
Em regra, o Ministério da Justiça, é o órgão responsável por exercer o papel de autoridade central na cooperação jurídica internacional. Inclusive está contida no novo CPC, em seu artigo 26, § 4º, segundo o qual “o Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica”. Porém, em alguns casos, há a designação de outros órgãos para execução das funções de autoridade central, como é o exemplo da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que atua nesta função para gerenciar os acordos internacionais referentes à criança e ao adolescente.
O artigo 26, IV, do novo CPC, pressupõe a existência da autoridade central para a recepção e transmissão dos pedidos de cooperação. Já o artigo 31, estabelece que a comunicação realizada pela autoridade central para o exercício de suas funções ocorrerá de forma direta para com as autoridades semelhantes e, se necessário, também será possível a comunicação com outros órgãos estrangeiros que estejam envolvidos com a tramitação e execução dos pedidos enviados e recebidos pelo Estado Brasileiro. Vale ressaltar que antes de qualquer medida deverão ser observadas as eventuais disposições contidas em tratado firmado entre os Estados ou em acordo de reciprocidade.
2. Reciprocidade
A prestação jurisdicional muitas vezes depende de uma constante troca de informações entre órgãos de países diferentes. Essa troca se torna possível quando entre os países há uma espécie de auxílio recíproco para a execução dos atos processuais. 
Há séculos, os Estados reconhecem a importância de atuar em conjunto para dar uma maior eficácia à atividade jurisdicional desenvolvida em seus territórios. Nesse sentido, alguns mecanismos, seja por força do costume ou de tratado, passaram a incorporar-se, com maior frequência, à prática da cooperação jurídica interestatal. Poderíamos citar a carta rogatória, a extradição, a homologação de sentença e a transferência de presos, entre as categorias mais tradicionais de assistência jurídica internacional.
O tema da reciprocidade tem sido tratado, de forma recorrente em processos de extradição, segundo a Lei nº 6.815/1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil. O princípio é invocado várias vezes no Estatuto do Estrangeiro, como no art. 76, que trata: “A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade”.
O princípio da reciprocidade entre os Estados é abordado no artigo 26, § 1º do NCPC, que prevê: “na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática”.
A reciprocidade não é exigida, no entanto, para os casos de homologação de sentença estrangeira (art.26, § 2º). Isso porque, ao requerer em face do STJ a homologação de decisão proferida por órgãos jurisdicionais estrangeiros, não é necessário demonstrar que a jurisdição do outro país também admite a homologação de sentenças brasileiras.
3. Mecanismos de cooperação internacional
Os principais instrumentos usados pelos Estados no tratamento de questões jurídico-políticas de cunho internacional são: os tratados internacionais, as cartas rogatórias, a homologação de sentença estrangeira, a extradição e o auxílio direto.
O NCPC abordou o auxílio direto (arts. 28 a 34) e a carta rogatória (art. 36) em seções próprias do capítulo referente à cooperação internacional, sem deixar de referir-se às outras medidas internacionais.
A concessão de exequatur a carta rogatória e a homologação de sentença estrangeira estão previstas em capítulo próprio (arts. 960 e seguintes). Quanto à extradição, o tema é objeto da Lei nº 6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro).
1. Auxílio direto (ou assistência direta)
É o instrumento de colaboração internacional, por meio do qual se cumpre a solicitação de uma autoridade estrangeira. No auxílio direto o pedido é enviado pela autoridade central ao órgão que deverá realizar o ato processual solicitado, sem que para isso seja necessária a expedição de carta rogatória. 
No auxílio direto não há o exercício do juízo de delibação pelo Estado requerido. Um dos Estados transfere às autoridades do outro a tarefa de dizer o direito sobre determinado objeto de cognição. 
Não há, por consequência, o exercício de jurisdição pelos dois Estados, mas apenas pelas autoridades do Estado requerido. Estaregra é prevista na Resolução nº 09 do STJ, bem como no artigo 28 do CPC/2015.
Dos procedimentos que servem a dar ciência dos atos processuais aos envolvidos (citação, intimação e as notificações), caberá o auxílio direto quando não for possível ou recomendado o uso de meios eletrônicos.
A autoridade central, isto é, o Ministério da Justiça (art.26, § 4º), detém competência para receber a solicitação de auxílio direto do órgão estrangeiro, de acordo com o próprio tratado de cooperação.
2. Carta Rogatória
É o instrumento através do qual um juízo estrangeiro solicita a realização de alguma diligência processual em juízo não nacional. Através da carta rogatória a autoridade judicial solicita ao Estado requerido que execute ato jurisdicional já proferido, de modo que não cabe àquele outro Estado exercer qualquer cognição de mérito sobre a questão processual.
O art. 109, X, da Constituição diz que a competência para a execução de carta rogatória é de juiz federal, após a concessão de exequatur por parte do STJ (art. 105, i, CF/88). Exequatur é uma autorização prévia concedida pelo STJ para que as diligências eventualmente requisitadas pela autoridade estrangeira possam ser executadas no Brasil.
O art. 36 do CPC/2015 descreve que o procedimento da carta rogatória perante do STJ é de jurisdição contenciosa, devendo ser assegurada às partes as garantias do devido processo legal.
3.Homologação de sentença estrangeira
O art. 40 do NCPC estabelece que a execução de sentença estrangeira dar-se-á por meio de carta rogatória ou de ação de homologação de sentença estrangeira, segundo o disposto no art. 960.
Em resumo, é por meio deste mecanismo que se reconhecerá, em um determinado Estado, decisão judicial definitiva proferida por autoridade estrangeira. Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de uma autoridade estrangeira só terá eficácia no Brasil após sua homologação pelo STJ.
Até 2004 esse processo era de competência do STF. Entretanto, após a Emenda Constitucional nº 45/2004, o STJ passou a ter competência para processar e julgar os feitos relativos à homologação de sentença estrangeira e à concessão de exequatur às cartas rogatórias. Tal competência é exercida pelo Presidente do STJ, mas, no caso de pedido de homologação de sentença estrangeira, se houver contestação, o processo será submetido a julgamento pela Corte Especial.
O art. 5º da Resolução nº 9 do STJ trata dos requisitos indispensáveis à homologação de uma sentença estrangeira. O STJ deverá ainda, analisar se a decisão proferida no estrangeiro não contraria os princípios fundamentais de direito existentes no ordenamento jurídico brasileiro.
REFERÊNCIAS
Novo Código de Processo Civil, Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015, 2ª edição – Barueri, SP: Manole, 2016.
Site: file:///C:/Users/Not/Downloads/artigo__mecanismos_de_cooperacao_juridica_internacional_no_brasil.pdf. Acessado em: 29/04/2018.
Site: Portal do Ministério da Justiça sobre Cooperação Internacional. http://portal.mj.gov.br/cooperacao/data/Pages/MJDFBD6D24PTBRNN.htm. Acessado em 30/04/2018.

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