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A contribuição da geografia humanista e cultural para a compreensão da complexidade da relação homem-natureza

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A contribuição da geografia humanista e cultural para a compreensão da complexidade da relação homem-natureza
A geografia humanista e cultural surgiu na década de setenta do século XX, em consonância com o aparecimento de radical corrente fundamentada no materialismo histórico e dialético.
Ao contrário dos geógrafos críticos, os humanistas e culturais buscaram imediatamente analisar a relação homem-natureza através da valorização do lugar enquanto conceito-chave. A geografia militante, denunciadora de contrastes, sobretudo sócio-espaciais, foi acusada por sua congênere contestatória das propostas das anacrônicas correntes pretéritas de ser exageradamente economicista.
De certa forma, creio que os humanistas e culturais tenham razão em diversas críticas aos marxistas. A necessidade de ser dinamizada continuamente a produção de bens e de serviços, democratizando o acesso a estes, permeia alicerce das propostas da corrente radical surgida quando do despertar de alguns geógrafos quanto ao verdadeiro papel desempenhado pela ciência geográfica desde o ano de 1870.   
Inovando, a geografia humanista e cultural prioriza a subjetividade ao invés da objetividade, propondo entender os motivos de cada pessoas e dos grupos aos quais pertencem sobre a relação com o lugar.
Houve concentração na análise sobre as diferentes formas de relação com a natureza implementada por comunidades primitivas, havendo constatações acerca das diferenças impressionantes entre essas e as sociedades industriais sofisticadas quanto ao respeito ao ambiente natural.
Os geógrafos humanistas e culturais, cuja maior expressão encontramos em Yi-Fu-Tuan, autor de célebre livro por título Topofilia, fomentam que os lugares e suas potencialidades naturais, fomentando a sobrevivência, despertam fascínio nas pessoas, com a preservação desses consistindo em condição imprescindível para o sucesso da permanência de grupos humanos.
A natureza, conforme essa corrente, se harmoniza com homens primitivos em razão que esta representa, na verdade, a razão da sobrevivência e da perpetuação daqueles que dela dependem. Exemplo disso observa-se quando lemos a famosa carta de chefe Seattle ao presidente dos Estados Unidos, escrita no século XIX, quando de resposta à proposta feita pelo líder do executivo norte-americano para comprar a terra dos antepassados do sábio cacique.
A geografia humanista e cultural e suas propostas revolucionárias representam nova abordagem na ciência geográfica, nas quais, indiscutivelmente, o valor da natureza para a qualidade de vida das pessoas é hiper dimensionado.
Espaço para esta corrente geográfica tem o sentido de vivido, valorizando-se a importância da hierofania para os sentimentos humanos, cuja compreensão se busca na análise do íntimo das pessoas em suas relações com o sagrado, enquanto manifestação subjetiva do espírito.  
Para que preceitos científicos sejam efetivados, a geografia humanista e cultural busca embasamento em inúmeras teorias, como a psicanálise freudiana, o existencialismo de Sartre, a Fenomenologia do Espírito, entre outras.
A subjetividade se tornou ferramenta imprescindível para os objetivos dessa corrente geográfico, visto que a meta, obviamente, exige, para que se cumpra, conscientização do homem acerca da importância da natureza para o homem.
Nenhuma corrente geográfica atribuiu tanta importância à necessidade da harmonia homem-natureza enquanto parâmetro primordial de análise, contribuindo efetivamente para que a ciência geográfica dimensione as diversas estruturas implementadas pela pós-modernidade em sua fase mais aguda no que diz respeito ao conjunto de incertezas originado com as complexas exigências do capital.
Em consonância com a preocupação ambiental difundida pelos geógrafos humanistas e culturais, surgiu também no início da década de setenta, do século XX, o conceito de ecodesenvolvimentismo, elaborado pelo canadense Maurice Strong, reconhecido no presente como desenvolvimento sustentável.
A diferença encontra-se na ênfase à relação entre conquistas da pós-modernidade de forma plena para todos, com indisfarçável economicismo permeando a noção de desenvolvimento sustentável com a utopia de que o mesmo sendo implementado de forma exponencial haveria lugar para respeito à natureza de forma concreta, em razão de inúmeros fatores, a exemplo da explosão demográfica e a complexidade crescente das necessidades humanas.
A geografia humanista e cultural prega a urgência do homem em se harmonizar com a natureza, permitindo efetiva sustentabilidade a fim de garantir melhores condições de vida para todos, sendo necessário ponderar e dimensionar o ritmo assustador da economia produzida pelas sociedades avançadas e pouco preocupadas com os rumos incertos que a impactação antrópica vem perpetrando à natureza.

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