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Virgílio - Bucólicas Odorico Mendes

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Mel. Tityre, tu patulae recubans sub tegminefagi, 
Silvestrem tenui musam meditaris avena:
Nos patriae fines et dulcia linquimus arva;
Nos patriam fugimus: tu, Tityre, lentus in umbra 
5 Formosam resonare doces Amaryllida silvas.
Tit. O Meliboee, deus nobis haec otia fecit.
Namque erit ille mihi semper deus: illius aram 
Saepe tener nostris ab ovilibus imbuet agnus.
Ille meas err are boves (ut cernis) et ipsum 
10 Ludere, quae vellem, calamo permisit agresti.
Mel. Non equidem invideo; miror magis: undique totis 
Usque adeo turbatur agris. En ipse capellas 
Protinus aeger ago: hanc etiam vix, Tityre, duco;
Hie inter densas corylos modo namque gemellos,
15 Spem gregis, ah! silice in nuda connixa reliquit.
Saepe malum hoc nobis (si mens non laeua fuisset) 1
1. Faia: “árvore... de madeira rija, e branca, dá flores campanadas adentadas na borda, e por frutas duas 
boletas triangulares, que se comem” (Moraes). Trata-se de árvore nativa da Europa (Fagus sylvatica). 2. 
Tênue: delgada; frágil; cana: metonímia para flauta; entoas: fazes ressoar. 3. Fins: fronteiras, limites. 4. 
Lavra: terra cultivada. Note-se o emprego do verbo fugir como transitivo direto. 5. Pausado: lento, 
vagaroso. 6. Aras: altares. 7. Anho: cordeiro. Em ordem direta: “e um tenro anho (cordeiro) do nosso 
aprisco (curral de ovelhas) tingirá (com seu sangue) sempre as aras dele”. 8. Deu-me: permitiu-me.
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Mel. Tu, sob a larga faia reclinado1,
Silvestre musa em tênue cana entoas2:
Nós, Títiro, da pátria os fins deixamos3 
E a doce lavra, a pátria nós fugimos4;
5 As selvas tu, pausado à sombra, ensinas5 
Amarílis formosa a ressoarem.
Tít. Ó Melibeu, este ócio é dom divino;
Que um deus o creio, e sempre as aras dele6 
Tenro anho tingirá do aprisco nosso7:
10 Deu-me, estás vendo, errarem minhas vacas8, 
Tanger a meu sabor na agreste avena9.
Mel. Eu não to invejo, admiro, no alvoroto10 
Que anda em redor. Aqui já levo as cabras,
E esta aflito conduzo, que entre espessas 
15 Aveleiras pariu, pouco há largando11 
Ai! sobre lisa pedra uns gemeozinhos, 
Esperança da grei. Do céu feridos12,
Não fora avessa a mente, o mal por vezes13
9. Tanger a meu sabor: “tocar como eu quisesse, de acordo com meu gosto”; avena: a flauta dos pastores (propria­
mente, a flauta feita do talo da aveia, daí seu nome). 10. Alvoroto: alvoroço, agitação. 11. Aveleiras: “arbusto ou 
árvore pequena da família das betuláceas (Corylus avellana), das regiões temperadas do hemisfério norte, cujo fruto 
é a avelã” (Aurélio). 12. Grei: rebanho. Do céu feridos: “feridos pelo céu”, isto é, “atingidos por raio”. 13. Não fora 
avessa a mente: “se a mente não tivesse sido desfavorável, contrária”. Alusão ao engano em que esteve Melibeu, que 
não percebera a mensagem enviada pelos sinais divinos prevendo o que aconteceria aos pastores como ele.
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De coelo tactas memini praedicere quercus;
Saepe sinistra cava praedixit ab dice cornix.
Sed tamen, iste deus qui sit, da, Tytire, nobis.
20 Tit. Urbem, quam dicunt Romam, Meliboee, putavi, 
Stultus ego, huic nostrae similem, quo saepe solemus 
Pastores ovium teneros depellere fetus.
Sic canibus catulos similes, sic matribus haedos 
Noram: sic parvis componere magna solebam.
25 Verum haec tantum alias inter caput extulit urbes, 
Quantum lenta solent inter viburna cupressi.
Mel. Et quae tanta fu it Romam tibi causa videndi? 
Tit. Libertas: quae, sera, tamen respexit inertem, 
Candidior postquam tondenti barba cadebat;
30 Respexit tamen, et longo post tempore venit, 
Postquam nos Amaryllis habet, Galatea reliquit. 
Namque (fatebor enim) dum me Galatea tenebat,
Nec spes libertatis erat, nec cura peculi.
Quamvis multa meis exiret victima septis,
35 Pinguis et ingratae premeretur caseus urbi;
Non unquam gravis aere domum mihi dextra redibat. 
Mel. Mirabar quid moesta deos, Amarylli, vocares, 
Cui pendere sua patereris in arbore poma.
Tityrus hinc aberat: ipsae* te, Tityre, pinus,
40 Ipsi te fontes, ipsa haec arbusta uocabant.
Tit. Quidfacerem? neque servitio me exire licebat, 
Nec tarn praesentes alibi cognoscere divos.
Hie ilium vidi juvenem, Meliboee, quotannis 
Bis senos cui nostra dies altaria fumant.
45 Hie mihi responsum primus dedit ille petenti:
Pascite ut ante boves, pueri, submittite tauros.
* 0 texto estampado na edição original traz “ipse”, evidente erro tipográfico. 14. O carvalho era a árvore consagrada 
a Júpiter. O fato de que o próprio pai dos deuses feria sua árvore predileta com 0 raio tomava ainda mais sinistro 0 
prodígio. 15. Enzinha: fruto da enzinheira ou azinheira, aqui empregado pela árvore, uma espécie de carvalho. O ruí­
do da gralha à esquerda seria um sinal infausto (ver nota de Odorico Mendes ao final da égloga). O verso é tido hoje 
como interpolado. 16. Néscio: tolo. 17. Usamos: costumamos; ovelheiros: pastores de ovelhas. 18. Borregos: os filhotes 
machos da ovelha até completarem um ano. 19. Semelharem-se: assemelharem-se. 20. Fléxeis: flexíveis; viburnos: se­
gundo o Aurélio, “grande gênero, de larga distribuição, e de origem européia, de árvores e arbustos da família das ca- 
prifoliáceas, dotados de folhas simples e flores alvas, e raramente róseas, em cimeiras; os frutos são, ger., bagas brancas”. 
Muitos tradutores tomam a palavra como sinônimo de vime, mas de forma equivocada, segundo Odorico (veja-se sua
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Os carvalhos me lembra o anunciaram14,
20 Por vezes de oca enzinha a esquerda gralha15.
Mas, Títiro, esse deus quem é nos conta.
Tít. Néscio, a terra julguei chamada Roma16 
Pela nossa, a que usamos ovelheiros17 
Ir vender os borregos desmamados18;
25 Qual sabia à cadela os cachorrinhos,
Qual à mãe semelharem-se os cabritos19,
Qual ao grande o pequeno eu comparava:
Porém soberba excede as mais cidades,
Quanto aos fléxeis viburnos os ciprestes20.
30 Mel. E o que impeliu-te a Roma? Tít. A liberdade,
Que, tarda, olhou-me inerte, rasa a barba21 
A me cair mais branca; olhou-me e veio,
Depois que enfim, nos braços de Amarílis,
Soltou-me Galatéia; pois, confesso,
35 De Galatéia escravo, eu no resgate 
Fé não tinha ou cuidado no pecúlio22.
Dos redis muita rês a Mântua ingrata23,
Grosso queijo dos cinchos me saía24,
E à casa nunca as mãos voltavam cheias.
40 Mel. Os céus pasmava-me invocares triste25,
N arvore as frutas, Amarílis, teres26;
Guardadas para Títiro pendiam.
Estes pinheiros, Títiro, estas fontes,
Estes soutos umbrosos te chamavam27.
45 Tít. Que remédio! remir-me não podia,
Achar divos alhures tão presentes28.
Lá vi, pastor, o moço a quem fumegam29 
Doze dias por ano altares nossos;
Meu rogo ele atalhou: “Como antes, filhos30,
50 Ide as vacas pascer, jungir os touros”31.
nota à passagem). 21. Rasa: raspada com navalha. 22. Títiro diz que, enquanto amava Galatéia, não se preocupava 
com a liberdade (resgate) nem em amealhar riquezas para comprá-la (com o pecúlio; veja-se nota do próprio 
tradutor). Galatéia é, aqui, uma pastora, e não a ninfa que aparece em VII, 37. 23. Redis: currais. 24. Cinchos: 
moldes feitos de vime ou outro material para prensar o queijo e extrair-lhe o soro. 25. Isto é: “O fato de invo­
cares, triste, os céus causava-me espanto” (o pastor dirige-se a Amarílis, amada de Títiro então). 26. Amarílis 
deixava de colher os frutos, deixando-os nas árvores. 27. Soutos: bosques espessos; umbrosos: que produzem 
sombra. 28. Em ordem direta: “não podia remir-me (obter minha liberdade) alhures (em outra parte), achar 
divos (deuses) tão presentes (favoráveis, propícios)”. 29. Fumegam: deitam fumaça. 30. Meu rogo ele atalhou: 
“ele interrompeu meu pedido”. 31. Pascer: apascentar, levar para pastar; jungir: atrelar ao jugo.
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Mel. Fortunate senex! ergo tua rura manebunt,
Et tibi magna satis; quamvis lapis omnia nudus 
Limosoque palus obducat pascua junco.
50 Non insueta graves tentabunt pabula fetas,
Nec mala
vicini pecoris contagia laedent.
Fortunate senex! hie interflumina nota,
Et fontes sacros, frigus captabis opacum.
Hinc tibi, quae semper vicino ab limite sepes 
55 Hyblaeis apibus florem depasta salicti,
Saepe levi somnum suadebit inire susurro;
Hinc alta sub rupe canet frondator ad auras;
Nec tamen interea raucae, tua cura, palumbes,
Nec gemere aeria cessabit turtur ab ulmo.
60 Tit. Ante leves ergo pascentur in aethere cervi,
Et freta destituent nudos in littore pisces:
Ante, pererratis amborum finibus, exul,
Aut Ararim Parthus bibet, aut Germania Tigrim, 
Quam nostro illius labatur pectore vultus.
65 Mel. At nos hinc alii sitientes ibimus Afros;
Pars Scythiam et rapidum Cretae veniemus Oaxem, 
Etpenitus toto divisos orbe Britannos.
En unquam pátrios longo post tempore fines, 
Pauperis et tuguri congestum cespite culmen,
70 Post aliquot, mea regna videns, mirabor aristas? 
Impius haec tarn culta novalia miles habebit? 
Barbaras has segetes? En quo discórdia cives 
Perduxit miseros! en queis consevimus agros!
32. Calva: nua, sem vegetação; paul: pântano; junco: planta juncácea, própria dos terrenos úmidos. 33. Andaço: epi­
demia de pequenas proporções, num espaço restrito, como o de aldeias e vilas. 34. Danar: causar dano, transmitindo 
doença. Melibeu felicita Títiro por seu rebanho ficar protegido, ao passo que os dos exilados serão afetados por 
doenças, já que não haverá quem deles cuide. 35. Notos: conhecidos. 36. Lograrás: desfrutarás de. 37. Sebe: cerca 
feita com plantas. 38. Libado: sugado, sorvido; de: por; Hibla: monte e localidade da Sicilia famosos por seu mel. 39. 
A sebe do vizinho, formada por salgueiros, atrai as abelhas para suas flores; o murmúrio dos insetos incitará Títiro 
ao sono. 40. Desfolhador: podador; penha: rochedo. 41. Auras: brisas, ares. 42. Torcaz: uma espécie de pombo; 
mesta: triste, aflita. 43. Ulmeiro: olmo, que, segundo o Aurélio, é “árvore da família das ulmáceas (Ulmus campestris), 
própria da Europa e ausente dos trópicos, que tem folhas simples e dísticas, exíguas flores, monoclamídeas, fruto 
drupáceo, e cuja madeira tem importância local”. 44. Éter: espaço celeste. 45. Rolo: grande onda. 46. Êxul: exilado; 32
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Mel. Ditoso velho! os campos teus conservas, 
E a ti bastantes, bem que os pastos cubra 
Calva rocha e paul de limo e junco32;
Nem relva estranha e andaço em grei vizinha33 
55 Te há-de as prenhes danar. Ditoso velho!34 
Entre estes notos rios, sacras fontes35,
Lograrás sossegado a sombra amena36.
Daqui, te induzirá contígua sebe37,
Libado o salgueiral de abelhas d’Hibla38,
6o Com suave sussurro ao meigo sono39;
Dali, desfolhador sob alta penha40 
Às auras cantará; no entanto, rouco41 
Torcaz, prazeres teus, nem mesta rola42 
Cessará de gemer do aéreo ulmeiro43.
65 Tít. Leves pelo éter pastarão veados44,
Peixes nus lançará na praia o rolo45;
Antes, confins trocando, êxul o Parto46 
O Áraris beberá, Germânia o Tigre47,
Que o vulto seu do peito nos decaia48.
70 Mel. E nós! iremos aos sedentos Afros49 
Parte à Cítia, ao veloz Cretense Oaxes50,
Do orbe inteiro aos Britanos separados51. 
Quando será que, após algumas ceifas52.
Longo desterro findo, aqui reveja53 
75 Barrada pobre choça onde eu reinava!54 
Terá brutal soldado estes alqueives?55 
Um bárbaro estas messes? Ao que arrasta56 
ímpia civil discórdia! Eis quem desfruta 
Nosso agro e semeada! Agora enxerta57
Parto: povo da antiga Pérsia. 47. 0 rio Áraris, atual Saône, se situava em território gaulês, mas sua nascente surgia em 
território ocupado pelos germanos na época de Virgílio. O Tigre atravessava território parto. Títiro imagina uma si­
tuação caótica de mundo às avessas, em que o parto e o germano trocariam de territórios. 48. Do peito nos decaia: “se 
esvaia do nosso peito”. 49. Afros: o nome do povo (africanos) usado metonimicamente pelo nome do país (África), 
como é comum em latim. 50. Cítia: vasta região oriental e ao norte do mundo então conhecido, que se estendia até 
o rio Volga; para os antigos, designava um mundo distante, inóspito e bárbaro. Oaxes: rio de identificação duvido­
sa. 51. “Aos Britanos separados do orbe inteiro”. Para os antigos romanos, a Britânia se situava nos confins do mun­
do. 52. Ceifas: colheitas (empregado, metonimicamente, por “anos”). 53. Desterro: exílio. 54. Barrada: revestida de 
barro. 55. Alqueives: terra que se deixa repousar de tempo em tempo para conservar sua força produtiva. 56. Messes: 
searas, campos de cereal maduro, pronto para a colheita. 57. Agro: campo cultivado; semeada: terra semeada.
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Insere nunc, Meliboee, piros, pone ordine vites.
75 Ite, meae, felix quondam pecus, ite, capellae.
Non ego vos posthac, viridi projectus in antro, 
Dumosa pendere procul de rupe videbo.
Carmina nulla canam; non, me pascente, capellae, 
Florentem cytisum et salices carpetis amaras.
8o Tit. Hic tamen hac mecum poteris requiescere nocte 
Fronde super viridi; sunt nobis mitia poma, 
Castaneae molles et pressi copia lactis:
Et jam summa procul villarum culmina fumant, 
Majoresque cadunt altis de montibus umbrae.
58. Bacelos: “vara(s) que se tira(m) de uma vide velha para formar uma nova planta” (Caldas Aulete). 59. Frondente: 
coberta de folhas; lapa: caverna, gruta. 60. Sarçoso: coberto de sarças, moitas de arbustos espinhosos. 61. Codesso: 
uma espécie de arbusto, provavelmente o Cytisus Laburno, que no Brasil é vulgarmente conhecido como codesso- 
bastardo, codesso-dos-alpes ou falso-ébano. É uma planta ornamental, de flores amarelo-claras, e tem propriedades 34
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8o Pereiras, Melibeu, dispõe bacelos58.
Ide, rebanho venturoso outrora,
Ide, cabrinhas: em frondente lapa59 
Estendido, não mais hei de avistar-vos 
De sarçoso rochedo penduradas60.
85 Não mais canções; não mais, queridas cabras, 
O codesso florente, eu pastorando61,
Nem as salgueiras tosareis amargas62.
Tít. Podes contudo sobre verde folha 
Cá pernoitar. Macios pomos temos,
90 Em cópia requeijões, castanhas moles63.
E ao longe dos casais fumando os cumes64, 
Dos altos caem já maiores sombras.
melíferas. Muitos supõem que o cytisus de Virgílio seja o Medicago arbórea; florente: florido. 62. Salgueiras: sal­
gueiros; tosareis: comereis, roereis pastando. 63. Cópia: abundância. 64. Casais: pequenas propriedades; fumando: 
deitando fumaça.
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NOTAS DE ODORICO MENDES À ÉGLOGA I
Compô-la o poeta nos seus 29 anos, de Augusto 22, em louvor deste, que lhe restituiu o campo de 
que fora despojado, com outros vizinhos de Mântua, em proveito dos veteranos; depois da batalha de 
Filipos, onde pereceram os mais devotados amigos da liberdade e antigas instituições de Roma. Cuidam 
alguns que esta não foi a primeira que fez, mas voga a opinião contrária. - Pergunta-se como ele, que 
era moço, chamou-se velho. Sérvio, a quem seguiu Leonel da Costa, refere o candidior do v. 29 a liber­
tas·. mas, aos 29 tendo já feito a barba muitas vezes, era supérfluo o postquam tondenti barba cadebat, e 
Virgílio não ama o supérfluo. Nem pode aplicar-se o tondenti ao buço, como opina Pompônio, porque 
já então a barba é fechada. Não penso, com La Cerda, que por mero capricho o poeta representou-se 
velho; porque é de mau gosto andar um homem encanecido a mudar de amantes, e em matérias de gosto 
só devemos condenar a Virgílio com provas evidentes. Desfontaines tem por manifesto que Títiro, em 
quem se disfarçou o autor, se compara a um escravo só forro no fim de seus dias, e reforça este parecer 
com o termo peculi, que era o cabedal junto pelo escravo com licença do senhor. O Sr. Leitão vê neste 
lugar sobressair o talento com que 0 poeta se embebeu no falar campestre, pois é muito usual dizer-se: 
Há cem anos que trabalho nisto; o negócio me fez criar cabelos brancos: - o que tudo é para exagerar a 
tardança da cousa desejada.
Inclino a qualquer das duas últimas
interpretações, ou antes a ambas combinadas; creio que a 
mente do poeta é que, apesar de moço, tanto lhe tardou a liberdade que, de esperar, ia já encanecendo; 
e que, nos grilhões de Galatéia, estava como um escravo, sem cuidar sequer no resgate e no pecúlio. O 
meu amigo o Sr. Joaquim Caetano da Silva, nosso digno representante na Holanda, meditando neste 
ponto com a seriedade que usa em todos os seus trabalhos, pensa que o poeta, achacado e de fraquíssima 
compleição, na realidade já teria algumas cãs; o que não é raro aos 29 anos. Em reforço desta conjectura, 
note-se que o comparativo, quando em lugar ou quase em lugar do positivo, longe de aumentar, parece 
diminuir de força: querendo nós, por exemplo, falar de um homem que principia a decair, dizemos que 
já está mais quebrado-, se nos servíssemos do positivo, daríamos a idéia de maior decadência. Assim, 
lembrando o pastor que a sua barba caía candidior, pode exprimir que lhe vinham aparecendo as bran­
cas, ou que já pintava, sem tratar da sua velhice. - Ao diante, voltaremos à matéria.
18-26.20-29. A gralha, segundo La Rue que cita a Plauto e Cícero, dava os bons agouros à esquerda, 
o corvo à direita: os Gregos tinham por favoráveis os da direita; os Romanos, os da esquerda: os poetas 
servem-se destas crenças a seu bel-prazer. - Os nosso verteram viburna por vimes·, a vimes corresponde em 
latim vimina: veja-se viburnum em Calepino. Os Italianos e os Castelhanos foram mais exatos.
33-42.36-46. Pecúlio, o dinheiro adquirido pelo escravo, no direito Romano tem outras significa­
ções análogas. Em português estando adotado o termo, não pode ser substituído com igual propriedade: 
o poeta refere-se aos costumes do seu país. Os tradutores que tenho consultado não fizeram caso desta 
alusão; nem mesmo Desfontaines, que dela fala em suas notas. - Alhures é o alibi latino ou o francês 
ailleurs. Por um mero capricho, os nossos advérbios algures, nenhures, alhures, estão fora do uso, prin- 
cipalmente nas terras freqüentadas por estrangeiros, onde a língua está mais corrupta. - Os clássicos 
tomam presente por favorável, só por variarem: aqui há necessidade, porque presentes lembra a crença 
de que a simples vista de um deus era sinal de favor; o que se toca no v. 24 da égl. VI.
* Na indicação dos versos, o primeiro número ou par de números corresponde aos versos do original latino; o 
segundo, aos versos da tradução. Por exemplo: 18-26.20-29 é uma indicação que aponta para os versos 18 a 26 do 
original latino, a que corresponderiam os versos 20 a 29 da tradução em português.
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46. 48. Os intérpretes não têm atendido ao plural pueri. Para mim, indica a presença do pai de 
Virgílio; pois, tendo o poeta falado só, como declara o singular mihi petenti, a resposta é dada a mais 
de um; e esse que estava com ele, se é que não estavam outros, era o velho interessado no bom êxito da 
petição. Isto explica a exclamação Fortunate senex! dirigida ao pai em toda a fala de Melibeu. O lugar 
assim entendido concilia-se com o que dissemos da velhice de Títiro. Nem obste a palavra pueri aplicada 
a um homem idoso, pelo que passo a expor. Puer, segundo La Rue que cita a Paulo in Verborum signi- 
ficatione, tem quatro acepções: primeira, a de servo, como entre nós moço que se acomoda a um criado 
velho; segunda, quanto ao sexo, em oposição a puella; terceira, a de menino-, quarta enfim, expressão de 
brandura, com que o patrono ou o senhor trata os que lhe são sujeitos: eis porque, neste último sentido, 
vertifilhos-, pois filhos chamamos ainda hoje os criados e os escravos, quando com eles estamos de bom 
humor. Nem é provável que Virgílio, tão sensível e respeitoso, deixasse de consagrar a seu pai alguns 
versos, na obra em agradecimento à restituição do campo que a ambos pertencia.
58-70. 73-75. Tomo aristas por ceifas ou anos. La Cerda opina que, se o pastor achava tão longo 
o tempo do desterro, não podia voltar depois de alguns anos: pelo contrário, o desterro de alguns anos 
devera parecer bem longo a quem nunca tinha deixado a sua aldeia.
82. 90. Molles, ou se refere ao fruto macio e bom para comer, ou a certa espécie de ouriço menos 
duro ou de mais grato sabor. Moles em português tem as mesmas acepções que no latim.
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NOTAS E COMENTÁRIOS SOBRE 
A TRADUÇÃO DA ÉGLOGA T
VV. 1-2 No original latino, temos uma forte aliteração em It/, que, combinada 
com o jogo sonoro das vogais, mimetiza o som da flauta dos pastores:
TITYre, TUpaTUlae recubans sub TEgminefagi
Os sons ecoam o início do primeiro idílio de Teócrito, o grande modelo de 
Virgílio, apontando, programaticamente, no início mesmo da obra, sua filiação ge­
nérica.
A tradução de Odorico não mantém o quiasmo Tityre, tu (verso 1)/ tu, Tityre 
(verso 4), mas notemos a delicadeza e a sutileza dos sons do segundo verso, cuja so­
noridade se apóia não apenas em leve aliteração do /t/ mas também em consoantes 
nasais:
silvesTre Musa eM TêNue caNa eNToas
Muito feliz na teia sonora dos versos é a tradução de Valéry:
O Tityre, tandis qua l’aise sous le hêtre,
Tu cherches sur ta flüte um petit air champêtre
Note-se, além da aliteração em dental, a assonância do /ε/: aise, hêtre, cherches, 
air, champêtre, bem como a do lül em tu, sur, flute.
1. A numeração inicial dos versos diz respeito aos versos da tradução.
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Mencionamos o quiasmo não mantido por Odorico tal qual aparece no original; 
entretanto, o maranhense apresenta uma alternância Tu...nós (verso 3)/...nós (verso 
4)...tu (verso 5), que, de fato, resgata o quiasmo. É curioso observar, com os comenta­
dores de Virgílio, que este primeiro poema apresenta vários quiasmos; Odorico não 
os manteve todos.
VV. 1-6 O primeiro poema de uma coletânea e os primeiros versos de uma obra 
poética na literatura antiga têm caráter programático: revelam a filiação do poeta 
a uma tradição genérica, a um predecessor ilustre, a uma arte poética particular. 
Notemos como neste primeiro grupo de versos (cinco no original), cada unidade 
termina por um substantivo importante no gênero bucólico: a faia (fagi), árvore pre­
ferida das églogas; a flauta dos pastores, aqui denominada avena (avena), símbolo da 
poesia pastoril (cf. Os Lusíadas I, 5,1-2: “Dai-me üa fúria grande e sonorosa,/ E não 
de agreste avena ou frauta ruda”); os campos cultivados (arva, vertido com precisão 
por Odorico: “lavra”); a sombra (umbra), palavra recorrente nas églogas (na décima, 
aparece três vezes, justamente no final do poema e da obra); as selvas (silvas). Os três 
primeiros substantivos ainda vêm destacados por formarem um sintagma com adje­
tivos dos quais estão separados: patulae...fagi; tenui...avena; dulcia...arva. Veja-se:
Tityre, tu patulae recubans sub tegmine fagi.
Silvestrem tenui musam meditaris avena:
Nos patriae fines et dulcia linquimus arva:
Nos patriam fugimus: tu, Tityre, lentus in umbra
Formosam resonare doces Amaryllida silvas.
É curioso observar que na tradução de Odorico temos, invariavelmente, for­
mas verbais em fim de verso (destoa apenas o particípio passado inicial, que, porém, 
não deixa de ser forma verbal, embora, mais precisamente, uma forma nominal do 
verbo): reclinado, entoas, deixamos, fugimos, ensinas, ressoarem. Essa disposição do 
original e da tradução tem certo efeito na leitura dos versos, o que não deve ter esca­
pado a um leitor de poesia tão atento como Odorico Mendes; assim, é difícil crer que 
a posição das formas verbais em sua tradução seja mera obra do acaso.
Merece um pequeno comentário a tradução literal do adjetivo tenui por “tê­
nue”. Sérvio (séculos IV-V) vê, aqui, de forma metapoética, uma evocação do caráter 
“humilde”, “baixo” (humilis) do estilo bucólico. A flauta dos pastores é denominada 
“tênue” porque seu canto, sua poesia tem, por oposição à grandiloqüência épica, uma 
elocução mais simples e despretensiosa. Ao leitor da tradução
de Agostinho da Silva 
(“frauta amena”), tal associação virtual fica impossibilitada. Valéry, sem ser literal, 
não veda a seu leitor essa associação metapoética: “Tu cherches sur ta flute un petit 
air champêtre”.
VV. 5-6 Ao dizer As selvas tu, pausado à sombra ensinas/ Amarílis formosa a
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ressoarem, o tradutor mantém a ousada e densamente poética imagem do original, 
ao contrário de outros tradutores. No original, diz-se, literalmente: “ensinas as selvas 
a ressoar a formosa Amarílis”. Cabe ao leitor entender que o pastor canta o nome 
da amada, Amarílis, que é ecoado por entre os bosques. Há, aqui, um tema caro 
ao gênero: a personificação da natureza, que parece confraternizar com o pastor- 
cantor, numa sintonia harmoniosa. Para apreciar a maior “ousadia” do tradutor, sua 
fidelidade ao poético do original, comparemos outras traduções que se pretendem 
poéticas:
e tu, bem descansado,
o nome ao bosque ensinas de Amarílis. (Agostinho da Silva, que, à maneira de Odorico, 
verteu todo Virgílio em versos decassílabos.)
tu, na sombra vagaroso,
fazes a selva ecoar o nome de Amarílis bela. (Péricles Eugênio da Silva Ramos, que tra­
duziu as églogas em versos de quatorze sílabas.)
et toi, tranquille à 1’ombre
Tu fais chanter au bois le nom dAmaryllis. (Paul Valéry)
Como se vê, os tradutores explicitam e explicam a imagem do original, tornan- 
do-a mais prosaica. Uma exceção se vê na tradução de Raimundo Carvalho, publica­
da recentemente, em dodecassílabos:
Levas selvas a ecoar Amarílis formosa.
W. 8-io Nos versos originais, há uma forte presença do demonstrativo ille 
(“aquele”, “ele”), numa ênfase típica da linguagem religiosa (ille, illius, ille), ou seja, 
Títiro se refere ao seu protetor com uma linguagem típica da invocação aos deuses. 
Os tradutores, e entre eles se inclui Odorico, não mantêm esse dado do original. Num 
tradutor que evita a repetição deselegante e procura a variação, era previsível essa 
“infidelidade” ao original. Novamente, Raimundo Carvalho é exceção.
V. l i O original traz calamus (caniço e, por extensão, flauta pastoril), que aqui 
se traduz por “avena”; no verso 2, traduz-se por “cana” o que em latim é avenal Em 
latim, há vários substantivos para designar a flauta dos pastores e é interessante ob­
servar como o tradutor verteu os diferentes termos.
V. 16 A língua do gênero bucólico abriga traços da língua coloquial, dentre eles 
o diminutivo afetivo, como no verso 14, que Odorico verte tal qual: “gemeozinhos”. 
Nem Agostinho da Silva, nem Péricles Eugênio da Silva Ramos, nem Valéry, nem 
Raimundo Carvalho usam diminutivo aqui. Entretanto, este nos parece um traço
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B U C Ó L I C A S
importante da língua típica do gênero, que vemos também nos nossos árcades, como 
neste início da Lira XXV de Tomás Antônio Gonzaga:
Minha Marília,
O passarinho,
A quem roubaram 
Ovos e ninho,
Mil vezes pousa 
No seu raminho...
W. 25-27 No original latino, temos uma estrutura comparativa que se faz apenas 
com o advérbio sic, “assim”, em vez da construção mais freqüente sic (ou ita)... ut, 
“assim como”:
Sic canibus catulos similes, sic matribus haedos 
Noram: sic parvis comp onere magna solebam. (w. 23-24)
“Assim os cachorrinhos semelhantes aos cães, assim os cabritos às mães 
eu sabia: assim costumava comparar coisas grandes às pequenas”.
Normalmente, teríamos em latim algo como Vt canibus catulos símiles, ut matri­
bus haedos/ Noram, sic parvis componere magna solebam, em que a conjunção com­
parativa ut vem em correlação com o advérbio de modo sic.
Essa sintaxe especial é imitada por Odorico, que emprega o mesmo relativo em 
anáfora:
Qual sabia à cadela os cachorrinhos,
Qual à mãe semelharem-se os cabritos,
Qual ao grande o pequeno eu comparava
Não há nada de semelhante nem em Péricles Eugênio da Silva Ramos, nem em 
Agostinho da Silva, nem em Raimundo Carvalho, nem em Valéry.
V. 37 Com Mântua ingrata, o tradutor conduz a interpretação para uma leitu­
ra biografista da égloga, o que tantas vezes se fez desde a Antigüidade. O original 
traz, simplesmente, “cidade ingrata” (ingratae...urbi, v. 35). Tem-se, aqui, como em 
outras passagens desta e de outras églogas, o contraste típico entre o mundo do cam­
po e o mundo da cidade. Mas explicitar na tradução o que é apenas uma conjectura, 
ou seja, que Virgílio se referiria a sua cidade natal, é um procedimento a nosso ver 
inadequado.
W . 58-59 No original, tem-se uma passagem das mais difíceis de todo o poema. 
Duas interpretações são possíveis:
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vicino ab limite sepes
Hyblaeis apibus florem depasta salicti
1° “do limite vizinho a sebe, sugada na flor do salgueiral (em que florem seria 
um objeto direto de um verbo médio ou um acusativo de relação, em construção 
influenciada pela sintaxe grega e de uso poético) pelas abelhas do Hibla (agente da 
passiva no dativo)”.
22 “do limite vizinho, a sebe, que dá como alimento às abelhas do Hibla a flor 
do salgueiral”.
Seja como for, Odorico emprega uma construção sintática também invulgar: 
Libado o salgueiral de abelhas d ’Hibla, com uma espécie de ablativo absoluto (libado 
o salgueiral) e, sobretudo, um agente da passiva com a preposição “de” {de abelhas, 
isto é, “por abelhas”), em vez da mais comum “por”, uma construção freqüente em 
Camões. Basta consultar outras traduções para perceber como são banalizadoras do 
original.
V. 6o No original, temos forte aliteração em /s/ para reproduzir o zumbido das 
abelhas que leva o pastor a adormecer:
Saepe levi Somnum Suadebit inire SuSurro (v. 56)
“Freqüentemente com leve susurro induzirá ao sono”.
Odorico Mendes reproduz a aliteração atribuindo a “sussurro” 0 adjetivo “sua­
ve” (em vez do que seria o literal “leve”); acrescenta, também, o adjetivo “meigo” a 
“sono” . É interessante ver que os sons iniciais de suadebit (“induzirá”) ecoam em sua­
ve; aliás, 0 verbo suadere significa, etimologicamente, persuadir de que algo é suave, 
doce. Note-se como o verso corre melodioso como o 57 {Lograrás sossegado a sombra 
amena).
V. 63 O tradutor emprega termo menos banal do que seria o comum “pomba(s)” 
para traduzir palumbes, como fazem Agostinho da Silva, Raimundo Carvalho e 
Pérides Eugênio da Silva Ramos. De fato, palumbes é, por oposição a columba, o 
pombo selvagem. Os dicionários dizem que “torcaz” é uma espécie de pombo dotado 
de um colorido no pescoço à semelhança de uma coleira. Seja como for, Odorico 
escolhe uma palavra não banal, sempre atento à natureza do léxico empregado pelo 
poeta que está traduzindo.
W. 65-69 Notemos como 0 tradutor procura manter a ênfase expressiva da se­
paração entre adjetivo e substantivo {leves...veados) e, traduzindo literalmente, re­
produz a imagem do original em toda a sua estranheza e sugestão: éter (a tendência 
dos tradutores é empregar 0 banalizador “céu”), peixes nus (a tendência é explicar 
essa imagem curiosa), êxul, decaia (com a força expressiva equivalente à do original 
labatur, cujo sentido inicial é “deslizar”, “escorregar”). Notemos também rolo, palavra
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especial para designar uma grande onda do mar como no latim é freta, que designa, 
em poesia, as ondas agitadas. Além disso, Odorico emprega o mesmo número de 
versos do original (5), ao passo que Agostinho da Silva, por exemplo, apresenta quase 
o dobro (9).
V. 71 Cretense Oaxes revela que Odorico entendeu o difícil cretae do original 
como uma referência à ilha de Creta; de fato, o latim estampado em sua edição traz 
inicial maiúscula. Entretanto, a tendência hoje é rejeitar tal interpretação e ver em 
rapidum cretae uma construção que corresponderia a qui rapit cretam, isto é, o rio 
Oaxes arrastaria greda em seu curso impetuoso. A passagem, porém, é difícil de in­
terpretar, e nem mesmo há acordo quanto ao nome verdadeiro e à localização do rio 
mencionado por
Virgílio.
V. 72 Do orbe inteiro aos Britanos separados. Note-se o forte hipérbato; numa 
ordem direta: “[iremos] aos Britanos separados do orbe inteiro”. Com essa ordem es­
pecial das palavras, Odorico produz efeito equivalente ao do original, que traz (as 
letras minúsculas que colocamos sob certas palavras do verso indicam adjetivos; as 
maiúsculas, substantivos):
Et penitus toto diuisos orbe Britannos. (v. 67) 
a b A B
“E os britanos, completamente separados do mundo todo”.
No latim, as duas separações do sintagma adjetivo-substantivo realçam a idéia 
de separação entre o mundo e aquele povo que para os antigos romanos estavam 
situados nos confins extremos da terra.
V. 77 Com civil discórdia o tradutor reproduz a seqüência do original discórdia 
eives, em que eives não é, porém, adjetivo em concordância com o substantivo, mas um 
complemento de verbo. Entretanto, a aproximação que Virgílio fez entre substantivo e 
adjetivo, enunciados contiguamente, reforça o patético de uma dissensão surgida en­
tre cidadãos, isto é, de uma guerra civil. É interessante notar que Odorico não traduz 
literalmente para poder manter a proximidade imediata entre as duas palavras.
V. 84 O tradutor reproduz a estranheza da imagem de cabras que parecem pen­
duradas da pedra, mas o faz como em Virgílio, isto é, sem atenuar a imagem através de 
uma expressão comparativa. O original diz, literalmente, “[não mais vos verei] pender 
ao longe da rocha sarçosa”. Agostinho da Silva introduz um “como que” (“ao longe 
como que pregadas/ À recoberta rocha”) que enfraquece o poder sugestivo da imagem. 
Aliás, em nosso exame da tradução da Eneida odoricana, pudemos observar como isso 
é freqüente: Odorico reproduz as imagens em toda a sua imediatez e singularidade, de 
forma a provocar no leitor a mesma estranheza do original, ao passo que tradutores 
como Agostinho da Silva relativizam a expressão com locuções comparativas.
V. 87 Nem as salgueiras tosareis amargas
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“Salgueiras” por “salgueiros” não se encontra registrado nos dicionários moder­
nos; entretanto, uma consulta ao Moraes revela que não apenas essa forma existe em 
português mas que foi empregada em verso que provavelmente Odorico tinha em 
mente: “[minhas cabras] já vos não verei roer as salgueiras amargosas”.
W. 91-92 É interessante observar como se sai o tradutor que tem de verter versos 
tão célebres pela musicalidade, ritmo e imagética fortemente expressiva. No original, 
observamos o jogo delicado das nasais, a assonância em /u/, o eco proCULI CULmina, 
a aliteração em /l/. Há, além disso, um efeito rítmico notável: os dois versos têm exa­
tamente o mesmo esquema métrico:
Êtjãm/ sümmã prõ/cül vll/lãrüm/ cülminã /fümãnt,
Mãjõ/rêsqué cã/dünt ãl/tís dê/ mõntíbüs/ ümbrãe. (w. 83-84)
Na versão de Odorico, temos algo comparável (enumeramos as sílabas poéticas 
tônicas):
E ao longe dos casais fumando os cumes,
2 6 8 10
Dos altos caem já maiores sombras.
2 4 6 8 10
No original, termina-se o poema com a palavra umbrae, “sombras”, em con­
traponto com o verso inicial do poema, que menciona a sombra da faia sob a qual 
se recosta o pastor Títiro. Notemos que o deslocamento do sujeito do verbo cadunt, 
“caem”, para o final do verso, após o dátilo do quinto pé, parece mimetizar com maes­
tria a idéia da queda das sombras sobre a paisagem (e se note como o alongamento 
dado pela enclítica - que à palavra majores ressalta a idéia do alongamento da tre- 
va que cai da montanha). Assim, julgamos bastante significativo que a tradução de 
Odorico desloque “sombras” para o final do último verso do poema. Outra observa­
ção é sobre a ousada idéia dos cumes que fumegam, uma referência à fumaça que sai 
dos tetos dos casebres e anuncia o jantar que aguarda os pastores em seu retorno para 
casa. Este é um exemplo entre muitos da habilidade de Virgílio em criar uma expres­
são muito poética a partir de palavras relativamente comuns. Com seu “fumando os 
cumes”, o tradutor mantém a imagem.
Os versos de Virgílio são um prodígio de musicalidade, ritmo expressivo e su- 
gestividade; a tradução de Odorico parece, dentre as traduções portuguesas, a mais 
próxima de sua poeticidade.
Agostinho da Silva tem imagem mais banal (“cobertos deitam fumo”), perde 
a força da colocação de “sombras” em fim de verso e fica longe da musicalidade de 
Virgílio. Péricles Eugênio da Silva Ramos é mais expressivo, mas perde de Odorico
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B U C Ó L I C A S
em ritmo e concisão; por outro lado, recupera a força expressiva de majoresque com 
o polissílabo “alongadas”:
já das granjas, ao longe, vêem-se fumegar os tetos, 
e do topo dos montes caem as sombras alongadas.
A tradução de Valéry é sonoramente muito expressiva: no primeiro verso, há 
presença significativa da sonoridade aberta em /a/ no início e no meio, mas som 
mais fechado e nasal no fim; o segundo verso é repleto de nasais e o verbo trissilábico 
grandissent depois do monossílabo monts e da cesura parece ter o efeito de ressaltar 
a idéia de alongamento.
Vois: au lointain déjà les toits des fermes fument 
Et les ombres des monts grandissent jusqud nous.
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ALEXIS, ECLOGA II
ALÉXIS, ÉGLOGA II
Formosum pastor Cory don ardebat Alexim, 
Delidas domini: nec, quid speraret, habebat. 
Tantum inter densas, umbrosa cacumina, fagos 
Assidue veniebat: ibi haec incondita solus 
5 Montibus et silvis studio jactabat inani.
O crudelis Alexi, nihil mea carmina curas? 
Nil nostri miserere? mori me denique coges. 
Nunc etiam pecudes umbras etfrigora captant: 
Nunc virides etiam occultant spineta lacertos.
10 Thestylis et rapido fessis messoribus aestu
Allia serpyllumque herbas contundit olentes.
A t mecum raucis, tua dum vestigia lustro,
Sole sub ardenti resonant arbusta cicadis. 
Nonnefuit satius tristes Amaryllidis iras 
15 Atque superba pati fastidia? nonne Menalcam, 
Quamvis ille niger, quamvis tu Candidas esses? 
O formosepuer, nimium ne crede colori:
1. Alheio de esperança: sem ter o que esperar, sem ser retribuído pelo objeto do seu desejo. 2. Umbroso: que dá 
sombra; fatal: bosque ou mata de faias (ver égloga I, 1); de opaco cimo: de cume sombrio, em referência à cerrada 
copa das árvores. 3. Soía: costumava. 4. Vozes: palavras. 5. Cogitas: cuidas, dás atenção. 6. Sardão: espécie de la­
garto. 7. Em ordem direta: “O gado (goza da) frescura (frescor) à sombra; o sardão verde goza (a frescura) oculto 
no espinhal”. Ceifeiros: os homens que, com a foice ou outro instrumento, procedem à ceifa, ao corte das plantas 
durante a colheita. 8. Calma: calor intenso, fadiga causada pelo Sol; serpilo: nome comum a várias plantas labiadas,
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Coridon por Aléxis belo ardia.
Delícias do amo, e alheio de esperança1,
Entre umbroso faial de opaco cimo2 
Vir soía o pastor, e ao vale e ao monte3 
5 Vozes rudes sozinho em vão soltava4.
Dos versos meus, Aléxis, nem cogitas?5 
Nem dó te inspiro? Tu, cruel, me matas. 
Frescura à sombra o gado, o sardão verde6 
No espinhal goza oculto; ora aos ceifeiros7,
10 Que intensa calma afronta, alho e serpilo8 
Téstiles miga, recendentes ervas9,
E enquanto após ti ando, ao sol violento 
Roucas cigarras o arvoredo atroam10.
Melhor não fora o entono e arrufo iroso11 
15 De Amarílis sofrer? Sofrer Menalcas12,
Bem que és alvo e ele fusco? Ó lindo Aléxis13, 
Em cor não creias muito: a branca alfena14
com propriedades medicinais. 9. Miga: esmigalha, amassa. Os latinos utilizavam esse ungüento para suavizar os 
efeitos do calor; recendentes: que cheiram bem, olentes. Note que recendentes ervas aparece como aposto para alho 
e serpilo. Em ordem direta: “ora (agora) Téstiles (nome de uma pastora) miga aos ceifeiros alho e serpilo, ervas 
recendentes”. 10. Atroam: fazem ressoar. 11. Entono: soberba, orgulho; arrufo: enfado, amuo, mau humor; iroso: 
irascível. 12. Sofrer: suportar. 13. Fusco: escuro, negro. 14.
Alfena: flor branca da planta oleácea de mesmo nome 
(Ligustrum vulgare).
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Alba ligustra cadunt, vaccinia nigra legimtur. 
Despectus tibi sum, nec qui sim quaeris, Alexi,
20 Quam dives pecoris, nivei quam lactis abundans. 
Mille meae Siculis errant in montibus agnae;
Lac mihi non aestate novum, nonfrigore, defit.
Canto quae solitus, si quando armenta vocabat, 
Amphion Dircaeus in Actaeo Aracyntho.
25 Nec sum adeo informis: nuper me in littore vidi,
Cum placidum vends staret mare; non ego Daphnim, 
Judice te, metuam, si nunquam fallat imago.
O tantum libeat mecum tibi sordida rura 
Atque humiles habitare casas, etfigere cervos,
30 Haedorumque gregem viridi compellere hibisco! 
Mecum una in silvis imitabere Pana canendo.
Pan primus calamos cera conjungere plures 
Instituit; Pan curat oves oviumque magistros.
Nec tepoeniteat calamo trivisse labellum:
35 Haec eadem, ut sciret, quid non faciebat Amyntas? 
Est mihi disparibus septem compacta cicutis 
Fistula, Damoetas dono mihi quam dedit olim,
Et dixit moriens: Te nunc habet ista secundum.
Dixit Damoetas: invidit stultus Amyntas.
40 Praeterea duo, nec tuta mihi valle reperti,
Capreoli, sparsis etiam nunc pellibus albo,
Bina die siccant ovis ubera; quos tibi servo. 
Jampridem a me illos abducere Thestylis orat; 
Etfaciet, quoniam sordent tibi munera nostra.
45 Hue ades, 0 formose puer: tibi liliaplenis 15
15. Vacino: para alguns estudiosos, uma espécie de jacinto (também segundo Odorico; veja-se sua nota). A identifi­
cação da planta é controversa. Mas se poderia arriscar uma hipótese: a de que a palavra designe as bagas negras da 
alfena. A Enciclopédia Virgiliana (1990, V*. p. 413) menciona a associação que já se fez entre ligustrum e vaccinium. 
Plínio, o Velho diz que na Gália se fabricava com ela uma tintura púrpura para colorir as vestes dos escravos {ibidem). 
Poder-se-ia, então, compreender, diversamente do que diz Odorico: as flores da alfena caem e morrem sem utilidade, 
mas os seus bagos são recolhidos (e aproveitados para se fazer certa tintura). 16. Sicanos: relativos à Sicilia, sicilianos; 
serros: montes, cadeia de montanhas. 17. Alveja: torna-se branco (aqui, com o leite ordenhado); tarro: vaso em que 
os pastores recolhem o leite, quando ordenham o gado. 18. Anflon Dirceu: o filho de Zeus e de Antíope. Ao nascer 
foi posto com seu irmão, Zeto, no cimo de uma montanha pelo tio-avô Lico, marido de Dirce. Os dois irmãos foram 
criados por um pastor que os recolheu, desenvolvendo cada um uma arte específica; enquanto Zeto dedicou-se às 
artes violentas e à agricultura, Anfíon, com a lira que ganhara de presente de Hermes, o deus do rebanho, entregou- 
se à música. É tido como o herói da poesia bucólica e carrega o epíteto de Dirceu em razão do episódio em que os 
dois irmãos assassinaram a tia-avó, Dirce, que maltratava e mantinha como prisioneira sua mãe. 19. Ático: relativo à 
Âtica, região da Grécia onde se localiza Atenas; Aracinto: monte da Grécia, boseando: tocando com a voz os animais
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Cai murcha, apanha-se o vacino escuro15.
Tu me desprezas, nem quem sou perguntas,
20 Quanto em rebanhos, quanto em leite abundo: 
Mil crias vagam-me em Sicanos serros16,
De inverno e de verão me alveja o tarro17; 
Canto como Anfion Dirceu cantava18,
Lá no Ático Aracinto boseando19.
25 Nem sou tão feio: há pouco em mar quieto 
Mirei-me, e tu juiz, não temo a Dáfnis20,
Se a imagem me não mente. Oh! te aprouvesse, 
Na aldeia que te enoja, o meu tugúrio21,
Frechar os cervos, compelir os chibos22 
30 Ao verde malvaísco! A Pã comigo23 
Os sons imitarás pelas florestas;
Pã cálamos primeiro uniu com cera24,
Ovelhas Pã e os maiorais protege25.
Não te pese magoar na flauta os lábios26:
35 Para sabê-lo que não fez Amintas?
De sete canas desiguais possuo 
Fistula que Dametas expirando27 
Assim doou-me: “O dono és tu segundo.”
Foi dizê-lo e invejar-ma o estulto Amintas.
40 E em fragas, não sem risco, uns remendados28 
Capréolos deparei, que ao dia as tetas29 
Secam de nédia ovelha: eu tos reservo30.
Téstiles mos pediu para criá-los,
E os terá, que os dons nossos te enxovalham31. 
45 Vem cá, gentil menino: eis de açucenas32
da lida. 20. Dáfnis: semideus siciliano, filho de Hermes, deus dos rebanhos, e de uma ninfa. Na mitologia greco- 
romana é o inventor do gênero bucólico e um pastor de grande beleza, amado pelas ninfas, pelos mortais e pelos deu­
ses. Nasceu nos altos vales sicilianos, num pequeno bosque de loureiros consagrado às ninfas, dai resulta seu nome 
(■dafne em grego significa loureiro). As ninfas lhe ensinaram a arte da pastorícia; o deus Pã, a música. 21. Enoja: causa 
tédio, nojo; tugúrio: habitação rústica, choça, cabana. 22. Frechar. flechar, transpassar com flecha. Compelir: impelir; 
chibos: os cabritos com menos de um ano de vida. 23. Malvaísco: planta com propriedades medicinais, alta e flexível; 
Pã: deus protetor dos pastores e dos rebanhos, representado como uma divindade semi-humana, semianimal. Era 
oriundo provavelmente da Arcádia, embora o seu culto se tenha expandido e generalizado por toda a Grécia e até 
mesmo fora do mundo helênico (Grimal, 1993, p. 345). 24. Cálamos: caules de certas plantas, canas, que, unidas por 
cera, formavam uma espécie de flauta pastoril. 25. Maiorais: chefes dos pastores. 26. Magoar: ferir, machucar. 27. 
Fistula: flauta pastoril. 28. Fragas: rochas escarpadas, penhascos; remendados: manchados, com o pêlo de duas co­
res. 29. Capréolos: diminutivo de capro, bode; deparei: transitivo direto. 30. Nédia: de aspecto lustroso devido à 
gordura, reluzente; eu tos reservo: “eu os reservo para ti”. 31. Enxovalham: maculam, ultrajam. 32. Gentil: formoso, 
gracioso; açucenas: planta liliácea, também conhecida por lírio-branco ou copo-de-leite.
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Ecceferunt Nymphae calathis: tibi Candida Nais 
Pallentes violas et summa papavera carpens, 
Narcissum et florem jungit bene olentis anethi;
Turn, casia atque aliis intexens suavibus herbis,
50 Mollia luteola pingit vaccinia caltha.
Ipse ego cana legam tenera lanugine mala, 
Castaneasque nuces, mea quas Amaryllis amabat. 
Addam cerea pruna; et honos erit huic quoque porno. 
Et vos, 0 lauri, carpam, et te, proximo myrte;
55 Sic positae quoniam suaves miscetis odores.
Rusticus es, Corydon, nec munera curat Alexis;
Nec si muneribus certes, concedat Iolas.
Eheu! quid volui misero mihi? floribus Austrum 
Perditus et liquidis immisi fontibus apros.
60 Quern fugis? ah demens! habitarunt di quoque silvas 
Dardaniusque Paris. Pallas quas condidit arces 
Ipsa colat: nobis placeant ante omnia silvae.
Torva leaena lupum sequitur, lupus ipse capellam; 
Florentem cytisum sequitur lasciva capella.
65 Te Corydon, o Alexi: trahit sua quemque voluptas. 
Aspice: aratrajugo referunt suspensa juvenci,
Et sol crescentes decedens duplicat umbras:
Me tamen urit amor: quis enim modus adsit amori? 
Ah! Corydon, Corydon, quae te dementia cepit!
70 Semiputata tibi frondosa vitis in ulmo est.
Quin tu aliquid saltern potius, quorum indiget usus, 
Viminibus mollique paras detexere junco?
Invenies alium, si te hicfastidit, Alexim.
33. Açafates: pequenos cestos de vime, sem arco nem asa, usados para carregar flores. Em ordem direta: “Eis as nin­
fas te acumulam açafates de açucenas”. 34. Nais: ou Náiade, ninfa do elemento líquido (das fontes e rios). Segundo 
Grimal (1993, p. 321), “por vezes, existe apenas uma, que é a ninfa da nascente; outras vezes, a mesma nascente tem 
várias Náiades, consideradas como irmãs e iguais entre si”. 35. Endro: planta umbelífera, erva semelhante ao funcho, 
vulgarmente conhecida como erva-doce; viola: violeta (veja-se a nota do tradutor para este vocábulo). 36. Odoras: 
perfumadas. 37. Jalde: (adj.) de cor amarela. 38. Calta: malmequer, planta de flores amarelas e brancas. Na ordem 
direta: “e, salpicando (isto é, dando cor
diversa a) o ramalhete, a calta jalde lhe matiza moles vacinos (jacintos).” 39. 
Cãs: penugens, lanugens dos frutos. 40. Na ordem direta: “E as nozes amadas de (por) nossa Amarílis”. 41. Céreos: 
que se assemelham à cera, da cor da cera; abrunhos: frutos do abrunheiro, ameixas. 42. Mirto: planta da família das 
mirtáceas, espécie de dicotiledônea; propínquo: próximo, vizinho. 43. Em teus dons nem cuida Aléxis: “Aléxis nem 
se interessa por teus presentes”. 44. Nem, valham dons, a Iolas te equipares:'Nem, se presentes tiverem algum peso, 
poderás te igualar a Iolas”. Iolas seria o senhor do jovem escravo Aléxis. 45. Urdi: tramei. 46. O sul às flores /E deitei 
javalis às fontes claras: “deitei (lancei) o vento sul (o Austro, “que sopra com efeitos devastadores no inverno e na 52
52
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Açafates as Ninfas te acumulam33;
Cândida Nais te ajunta a flor cheirosa34 
Do endro e narciso, a pálida viola35,
A papoila, alfazema e odoras plantas36,
50 E jalde, o ramalhete salpicando37,
Moles vacinos lhe matiza a calta38.
Eu de cãs tenras vou colher marmelos39 
E as de Amarílis nossa amadas nozes40;
Céreos abrunhos, os aceites e honres41.
55 Louro, mirto propínquo, entrelaçados42,
Suave misturai-me o vosso aroma.
Ah! rústico, em teus dons nem cuida Aléxis43, 
Nem, valham dons, a Iolas te equipares44.
Triste! que urdi? Perdido, o sul às flores45 
60 E deitei javalis às fontes claras46.
Foges-me? louco! em selva o Teucro Páris47, 
Moraram deuses. Nos que alçou castelos48 
Minerva habite: agrade-nos a selva49.
Torva leoa ao lobo, o lobo à cabra50,
65 Lasciva cabra ao flórido codesso51;
A ti, Aléxis, Coridon te segue:
A cada qual atrai seu próprio gosto.
Olha, ao jugo a charrua os bois suspendem52, 
Crescidas posto o Sol duplica as sombras53:
70 E amor me abrasa; qual do amor o termo?54
Que insânia, ah! Coridon, que insânia a tua! 
No olmo frondoso a vide a meio podas55.
Por que antes utensis não vais ao menos56 
Tecer de brando junco ou lento vime?57 
75 Outro acharás, a desdenhar-te Aléxis.
primavera”, segundo Coleman 1994, p. 82) às flores e javalis às fontes claras”, expressão popular que significava 
estragar uma situação, meter os pés pelas mãos, 47. Teucro: troiano; Páris: filho mais novo de Príamo e Hécuba. 
Dada a previsão de que seu nascimento causaria a ruína de Tróia, foi abandonado pelos pais na montanha de 
Ida, onde foi criado por pastores. 48. Entenda-se: “o Teucro Páris e os deuses habitaram em selva”. Castelos: 
cidadelas, fortalezas. 49. Minerva: deusa romana identificada com a Palas Atena helênica. Filha de Zeus e de 
Métis é a deusa da sabedoria da guerra, patrona e protetora de diversas cidades. Entenda-se: “Que Minerva ha­
bite nas fortalezas que ergueu”. 50. Torva: terrível, irascível. 51. Flórido: florido; codesso: ver I, 86. 52. Charrua: 
arado grande; jugo: canga com que se jungem os bois para puxarem o arado. Na ordem direta: “os bois sus­
pendem a charrua ao jugo.” 53. Na ordem direta: “O sol, posto, duplica as sombras crescidas”. 54. Termo: fim, 
limite, medida. 55. Olmo: ver I, 64; vide: videira. Coridon se esquece dos deveres (deixa a videira podada pela 
metade...) por causa da paixão amorosa. 56. Utensis: utensílios. Em ordem direta: “Por que não vais, antes, ao 
menos tecer utensis de brando junco ou lento vime?” 57. Junco: ver I, 53; lento: flexível; vime: arbusto que dá 
varinhas de que se tecem cestas.
53
NOTAS DE ODORICO MENDES À ÉGLOGA II
Foi composta, parece que não logo depois da primeira, para de Polion alcançar um escravo de 
nome Alexandre, e para persuadir a este que seria tão feliz no campo quanto o era em casa de Polion: o 
rapaz amava mais o palácio do magnata que o casal do poeta. Algumas expressões têm sido maliciosa­
mente interpretadas; as quais não passam de uma viva imitação de Teócrito. Virgílio, tão respeitador e 
amigo dos bons costumes, como provam as suas obras, é impossível que sem a menor vergonha, depois 
de três anos de correção, legasse esta égloga à posteridade, a não ter o sentido que lhe dão os críticos bem 
intencionados; e no livro X*, do verso 324 a 327, repreendendo a Cidon o vício de que o acusam, mostra 
que não podia querer deixar de si tal fama, gabando-se de uma torpeza.
11-18.10-18**. Para serpyllum temos serpão, serpol, serpilo: usei do último, por causa da medida, e 
por ser mais doce mormente que serpão. - Querem alguns que vaccinia sejam as violetas roxas, violae as 
pálidas ou alvacentas; ao que obsta o v. 39 da égl. X: Et nigrae violae sunt et vaccinia nigra. Sendo as violas 
e os vacinos flores escuras, não tem lugar a dita opinião. Vaccinia são uns jacintos a que os Franceses 
chamam vaciet e os Latinos também gladiolus, de cor de aço resfriado, entre azul e roxo. A dificuldade 
nos tiraram nossos maiores, deduzindo de vaccinium vacino, terminando à portuguesa, suprimindo um 
c, porque em latim escreve-se também sem letra dobrada.
21-24. 21-24. In Siculis montibus, ou porque a cena seja na Sicilia, ou para indicar bons pastos, 
quais os da ilha cuja fertilidade era famosa entre os romanos. - Actaeo pensa o comentador Sérvio ser li­
toral ou marítimo: La Rue, que se encosta a Sérvio, não o faz com seguridade, pois conserva a maiúscula, 
o que não faria no adjetivo marítimo ou litoral. Havendo na Ática ou Actica um monte Aracinto, e não 
se achando em toda a latinidade outro exemplo, que eu saiba, de Actaeo por marítimo, refiro o adjetivo 
ao tal monte. - Bosear, isto é falar aos bois, despertar os animais com a voz, traduz o armenta vocabat: é 
antigo, mas não há verbo que o supra na nossa moderna linguagem afrancesada.
30.30. Pretende-se que hibisco é o cajado de malvaisco, arbusto que engrossa a ponto de se poder 
fazer um bastão da sua haste principal. O adjetivo viridi exclui esta idéia, porque o bastão só se faria do 
pau seco ou quase seco; mostra que hibisco, quando tenro, serve de pasto. Afirma-se que os rebanhos por 
si buscam esta planta como um purgativo.
42-55. 43-56***. Casia, termo também nosso, é nome genérico de várias plantas: aqui significa 
alecrim ou alfazema. Caltha é o malmequer: preferi esta palavra à mais vulgar para verter com melodia 
um verso tão celebrado. Omiti carpam, não só porque facilmente se subentende, mas para não repetir 
um verbo de que pouco atrás usou o poeta.
*Da tradução da Eneida! A formulação de Odorico pode levar o leitor a erro.
**Na edição consta o verso 11, mas, na verdade, serpilo aparece no verso 10 da tradução.
** Casia e sua respectiva tradução alfazema aparecem no verso 49 de ambos os textos. Caltha, no verso 50 do origi­
nal latino e calta no 51 da tradução. A numeração dada por Odorico é, pois, injustificável. 54
54
NOTAS E COMENTÁRIOS SOBRE 
A TRADUÇÃO DA ÉGLOGA II
V. 3 No original latino podemos observar que Virgílio dispõe os dois sintagmas 
que formam o verso de maneira icônica:
inter densas, umbrosa cacumina, fagos (v. 3)
1 2 2 1
“entre densas faias (1), umbrosos cimos(2)”
O adjetivo densas é separado do substantivo que modifica, fagos, e no meio dos 
dois termos, isto é, entre eles, é colocado o sintagma apositivo umbrosa cacumina, 
representando graficamente o sentido expresso pelo verso. A tradução de Odorico 
não recupera esse efeito de sentido do original, mas é curioso observar que ele o 
traduz, poderíamos dizer, de forma “trocada”. Para densas, umbroso, com o sentido 
de “copado”, “frondoso”, e para umbrosa, opaco, com o sentido de “escuro”, “cheio de 
sombras”, isto é, “umbroso”:
Entre umbroso faial de opaco cimo
A estratégia utilizada pelo tradutor representa, de certa forma, o que temos no 
original, ainda que somente com a leitura da tradução ela não possa ser recuperada.
V. 6 A linguagem desta bucólica é fortemente afetiva, o que se vê, por exemplo, 
no emprego relativamente freqüente de interjeições. Odorico ora as verte, ora não; 
verte as que se encontram nos versos
17, 28 e 69 do original latino (0 formose puer; 0 
tantum libeat; Ah! Corydon, Corydon), mas não as dos versos 6, 45 e 65 (O crudelis 
Alexi; 0 formose puer; o Alexi).
V. 10 No original latino podemos perceber a ambigüidade causada pelo sintag-
55
B U C Ó L I C A S
ma rápido aestu, que significa, mais concretamente, o calor escaldante provocado 
pelo sol, mas também, em sentido figurado, força violenta, paixão. Odorico o traduz 
como intensa calma, que também mantém esses dois significados em português (cf. 
o verbete calma no dicionário Moraes). Na tradução de Leonel da Costa encontra­
mos a mesma solução “Aos cansados segadores da calma ardente”. Em contrapartida, 
Agostinho da Silva traduz “os que na colheita / tão abatidos andam do calor”, perden­
do-se a ambigüidade original.
VV. 12-13 No original, temos a bela imagem das cigarras que com seu canto fa­
zem ressoar as árvores, apoiada pela sonoridade das guturais, dos /r/ e das sibilantes, 
além da assonância em /a/:
at meCum RauCiS, tua dum veStigia luStro,
Sole Sub ARdenti ReSonAnt ARbuStA CiCAdiS. (w. 12-13)
Em Odorico, temos os /r/, a assonância em /a/ e um jogo com vogais 
nasalizadas:
e enquanto após ti ando, ao sol violento
RoucAs cigARRAs o ARvoredo AtRoAm.
Note-se: ENquANto após ti ANdo, ao sol violENto.
W . 14-15 No original latino, temos os versos:
Nonnefuit satius tristes Amaryllidis iras
Ãtquè sü/pêrbã pã/tl //fã/stldiã?// nõnné Mè/nãlcãm (w. 14-15)
“Não teria sido melhor suportar os ódios pesados de Amarílis
E seus soberbos desdéns? Ou, então, Menalcas?”
Há no segundo verso, além da cesura pentemímera (pausa sintática e rítmi­
ca após o quinto meio pé), uma cesura típica do gênero bucólico, a assim chamada 
diérese bucólica (pausa sintática e rítmica bem marcada após o quarto pé), o que 
dá destaque ao substantivo entre elas, fastidia (plural de fastidium, i, repugnância, 
aversão, desdém).
Na sua tradução, Odorico não destaca o substantivo em questão, mas enfatiza, 
através de uma repetição que não existe no original, o verbo pati (“sofrer”, “supor­
tar”), colocado entre os dois substantivos próprios que aparecem nos versos:
Melhor não fora o entono e arrufo iroso
De Amarílis sofrer? Sofrer Menalcas
56
B U C Ó L I C A S
VV. 17-18 No enjambement “a branca alfena/ Cai murcha, apanha-se o vacino es­
curo”, podemos notar o quiasmo adjetivo-substantivo, substantivo-adjetivo. Também 
no original latino encontramos essa figura de linguagem:
Alba ligustra cadunt, vaccinia nigra leguntur. (v. 18)
adj. subst. subst. adj.
“Os alvos ligustros caem, os vacinos negros são colhidos.”
Com o enjambement, ausente no original, Odorico realça a idéia da queda.
V. 23 Cabe ressaltar a singularidade desse verso no original:
Ãmphi/õn Dlr/cãêüs// ϊη/ Ãctéê/õ Ãrâ/cynthõ (v. 24)
“Anfion Dirceu no ático Aracinto”.
Num verso que já a princípio nos remete a um modelo grego (todas as palavras 
que o compõem são gregas, exceto a preposição in, que corresponde ao grego έν, po­
demos perceber em seu ritmo características ainda mais helenizantes: a cesura trocai- 
ca (depois do troqueu do terceiro pé), não havendo nenhuma outra cesura possível, e 
um hiato entreActaeol Aracyntho, típico dos poemas gregos. O filólogo Heyne (apud 
Clausen, 1995, p. 71) suspeitava que Virgílio tivesse reproduzido, transliterando, o 
verso grego Αμφίων Διρκαΐος εν Άκταίω Άρακυνθω, que não se encontra regis­
trado em nenhum autor.
Nem a tradução de Odorico, nem a de Leonel da Costa (“o Tebano Anfion no 
ameno monte/ Aracinto d’Arcadia...”), nem a de Agostinho da Silva (“o que entoava o 
Anfião de Dirce/ no ático Aracinto”, nem a de Péricles Eugênio da Silva Ramos (“...o 
que cantava habitualmente Anfião de Dirce/ no ático Aracinto”) mantêm a feição do 
verso, sua concentração de nomes gregos; fê-lo Raimundo Carvalho com seu alexan­
drino “Anfion, o dirceu, em ático Aracinto”.
Cabe ainda ressaltar que, embora o estilo bucólico, como já apontado anterior­
mente, pretenda-se humilde e baixo, tal verso, cantado por um pastor, imprime ao 
seu monólogo toda a erudição da tradição poética alexandrina, o que prova, para 
Perutelli (apud Horsfall, 1995, p. 48), que, especialmente no âmbito das escolhas lin­
güísticas, o realismo cede lugar ao artifício poético.
V. 28 Mais uma vez Odorico prima pela concisão, vertendo sórdida rura (“hu­
mildes casebres”) por um termo específico em português que detém o mesmo signi­
ficado, tugúrio.
V. 34 Coridon, no discurso que profere para tentar convencer o jovem Aléxis 
a juntar-se a ele no convívio ameno da vida bucólica, adverte-o a que não tema fe­
rir os lábios na flauta quando estiver tentando tocá-la. No original latino temos o
57
B U C Ó L I C A S
substantivo labellum (“labiozinho”), mais um exemplo do diminutivo afetivo típico 
desse estilo literário. Odorico perde essa referência importante ao verter o vocábulo 
simplesmente como lábios.
W. 45-56 Nesse longo trecho, Coridon, numa última tentativa de convencimen­
to, mescla personagens mitológicas a elementos reais da vida campestre e descreve 
como, por exemplo, as ninfas e as náiades encheriam Aléxis de presentes e oferendas 
dignas de um deus se ele cedesse ao seu amor. Essa seqüência de versos de Virgílio 
prima pela descrição minuciosa de flores e de frutos campestres, pelo jogo de sonori- 
dades e pela construção sintática preciosa de alguns deles. Note-se, em especial:
Tum, casia atque aliis intexens suavibus herbis,
Mollia luteola pingit vaccinia calta. (w. 49-50)
“Então, entretecendo-as com cásia e outras ervas suaves,
matiza os jacintos delicados com a calta amarela”.
O verso 50 é um uersus aureus, pois apresenta dois adjetivos seguidos dos dois 
substantivos que eles modificam respectivamente (no centro, o verbo):
Mollia luteola pingit uaccinia calta. 
a b A B
A ordem mimetiza o entretecer das flores: a calta, colocada em meio aos jacin­
tos, matizará as cores do ramalhete. Coleman (1994, p. 102) diz: “A ordem entrelaçada 
das palavras do assim chamado verso de ouro [golden line] reflete o complexo padrão 
visual”. Odorico traduz:
E ialde [=amarela], o ramalhete salpicando,
Moles vacinos lhe matiza a calta.
Na tradução o sintagma jalde calta é separado de forma a que o adjetivo venha 
quase em primeira posição no primeiro verso, ao passo que o substantivo que ele 
modifica vem só ao final do verso seguinte! Assim, é como se se representasse a calta 
envolvendo os jacintos, num prodígio de iconicidade permitida pelo uso hábil da 
ordem das palavras em português.
W . 61-63 Nesse trecho, quando Coridon, desiludido, se aborrece com a idéia do 
repúdio de Aléxis pela vida nas selvas, há o contraste de dois mitos, que seria interes­
sante analisar. De acordo com Grimal (2000, p. 355), Páris, filho de Príamo e Hécuba, 
foi abandonado no monte Ida ao nascer e criado por pastores que o acolheram e lhe 
deram o nome de Alexandre (“o homem que protege” ou “o homem que é protegi­
do”). Viveu uma infância feliz no campo até retornar a sua cidade natal, e completar
58
B U C Ó L I C A S
a profecia que previu a guerra que duraria gerações e destruiria Tróia. Palas Atena, 
deusa da sabedoria bélica e protetora das cidades, é a antítese de toda a filosofia bu­
cólica, fundada na paz e na vida campestre. Também ela esteve envolvida no episódio 
mítico que teria determinado a guerra. Por não ter sido escolhida a mais bela das 
deusas por Páris, ajudaria aos gregos na contenda que se iniciaria após a concessão do 
amor da bela Helena (presente de Afrodite, ganhadora da competição) a este jovem. 
No original latino temos uma construção sintática peculiar:
Quemfugis? ah demens! habitarunt di quoque silvas 
Dardaniusque Paris. Pallas quas condidit arces 
Ipsa colat: nobis placeant ante omnia silvae. (w. 60-62)
“De quem foges? Ah, louco! Também os deuses habitaram as selvas 
e o dardânio
Páris. Palas, ela própria, habite as fortalezas 
que fundou: a nós, agradem-nos, antes de tudo, as selvas”.
Há no segundo verso a intercalação do antecedente (arces) do pronome relativo 
(quas) na oração relativa. Numa ordem mais banal, teríamos: Pallas ipsa arces colat, 
quas condidit. Odorico Mendes percebe a peculiaridade dessa construção e tenta re­
produzi-la em português:
Foges-me? louco! em selva o teucro Páris,
Moraram deuses. Nos que alçou castelos 
Minerva habite: agrade-nos a selva.
W. 69-70 No gênero bucólico há um topos comum em relação ao cair da noite. 
Durante o dia os pastores desenvolvem as suas atividades pecuárias e agrícolas tran­
qüilamente e, ao entardecer, retornam a seus casebres para desfrutar do descanso 
merecido e necessário. O pastor Coridon descreve a sua situação no momento em 
que isso acontece
Êt sõV crêscên/tês dê/cêdêns/ düplkãt/ ümbrãs:
Mê tãmên/ ürit ã/mõr: quis ê/nim mõdüs/ ãdstt ã/mõri? (w. 67-68)
“E o sol poente duplica as sombras crescentes:
A mim, porém, o amor abrasa: pois que limite haveria para o amor?”
O predomínio, no primeiro verso, de pés espondaicos torna o seu ritmo lento, 
como se a própria lentidão do cair da noite estivesse sendo representada. As três pa­
lavras centrais do verso possuem três sílabas, corroborando o aspecto solene e grave 
da passagem e realçando a idéia do avultar-se da sombra da noite. Já o segundo verso 
apresenta uma sucessão de pés datílicos, palavras em sua maioria de uma ou duas
59
B U C Ó L I C A S
sílabas, imprimindo ao ritmo rapidez e dinamismo. O estado emocional do pastor, 
sofrendo as angústias de sua paixão, fica então representado pela quantidade silábica. 
Há, então, contraste entre dois ritmos, um lento, outro rápido, que realçam o contras­
te entre o ritmo da natureza e o estado emocional do pastor, que não está em sintonia, 
graças à paixão infelicitadora, com o curso natural do cosmo.
É interessante notar como Odorico tenta reproduzir o efeito de sentido sonoro 
dos versos originais:
Crescidas posto o Sol duplica as sombras:
2 4 6 8 10
E o amor me abrasa; qual do amor o termo?
2 4 6 8 10
Marcando as sílabas tônicas, tem-se a impressão de um ritmo jâmbico semelhan­
te nos dois versos (uma sílaba poética átona é seguida de uma tônica). Entretanto, o 
primeiro hexâmetro se deixa ler ritmicamente como o hexâmetro heróico típico, com 
uma cesura após a sexta sílaba métrica (Sol), escamoteada pelo fato de recair sobre o 
sujeito do verbo que segue (duplica). Tendemos a interpretar assim:
Crescidas, posto, o Sol duplica as sombras (= “O Sol, posto, duplica as sombras 
crescidas”).
Quanto ao segundo verso, tem cesura forte, com forte quebra sintática e semân­
tica após a quinta sílaba métrica (isto é, depois de abrasa).
Além disso, a disjunção entre adjetivo e substantivo, no primeiro verso, realça o 
sentido contido no adjetivo, que vem em primeira posição (crescidas). O leitor tem de 
manter na memória o adjetivo até que o sintagma se complete, o que ocorrerá apenas 
ao término de todo o verso; assim, há uma espécie de amarramento sintático entre as 
partes do verso, e um efeito de prolongamento pelo fato de que o adjetivo ressoa na 
memória até o fim. Nada disso se vê no segundo, cujas partes como que se sucedem 
com maior autonomia.
Em resumo, com recursos próprios de sua língua, o tradutor diferencia ritmica­
mente os dois versos intensamente contrastados no original latino.
V. 71 Perutelli (apud Horsfall, 1995, p. 49) aponta em seu estudo sobre as Bucólicas 
já citado que um importante traço da linguagem de Teócrito são as repetições ver­
bais. Ainda que discutida, a influência de seus idílios e de outras fontes da poesia 
alexandrina sobre Virgílio são unanimemente reconhecidas. Um exemplo de alusão, 
entre tantos outros, a Teócrito nesta bucólica está na repetição do nome do pastor, 
que alude a Teócrito 11, 72: “ώ Κυκλωψ, Κυκλωψ”(“0 Ciclope, Ciclope!”):
6 0
B U C Ó L I C A S
Ah! Corydon, Corydon, quae te dementia cepit! (v. 69)
“Ah, Coridon, Coridon, que demência te acometeu!”
Odorico não mantém a repetição do original, impossibilitando a associação 
com a repetição de Teócrito, mas enfatiza o substantivo dementia ao duplicá-lo:
Que insânia, ah! Coridon, que insânia a tua!
V. 75 O verso que encerra o poema apresenta uma construção gramatical que 
não foi mantida por nenhum de seus tradutores
Invenies alium, si hicfastidit, Alexim. (v. 73)
“Se este tem desdém, encontrarás outro Aléxis”.
No latim as funções gramaticais são claras: hic, pronome demonstrativo tão 
caro aos versos bucólicos, que retoma Aléxis, é sujeito do verbo fastidire (“ter des­
prezo”, “ter fastio”), intransitivo nessa construção. O sujeito lógico da oração prin­
cipal do verso, invenies alium Alexim (“(tu) encontrarás outro Aléxis”), é o próprio 
Coridon, que conversa consigo mesmo, sendo o objeto direto do verbo o sintagma 
alium Alexim. Não associar, portanto, o adjetivo indefinido “outro” ao substantivo 
“Aléxis” muda o sentido original do verso. Em Agostinho da Silva temos: “Outro virá 
se te aborrece Aleixo”, e o leitor compreenderá: “Se Aleixo te aborrece, outro (isto é, 
um outro qualquer) virá”, deixando-se completamente de lado a idéia de renunciar a 
um objeto de paixão que, ele, tem desprezo pelo pastor Coridon. Em Leonel da Costa, 
temos: “Se este Aléxis te enfada acharás outro” que mantém a idéia de substituir um 
Aléxis por outro, mas associa, de novo, a noção do enfado a Coridon, não a Aléxis. 
Em Odorico, temos a associação de “enfado” a Aléxis, mas com perda da idéia de 
substituição: Outro acharás, a desdenhar-te Aléxis. Péricles Eugênio da Silva Ramos 
é mais fiel à idéia original, mas à custa de uma repetição excessiva: “Se Aléxis te des­
denha, encontrarás um outro Aléxis”. Raimundo Carvalho, em que pese o prosaísmo 
do enunciado, é mais fiel: “Se este te repele, acharás outro Aléxis”.
61
PALAEMON, ECLOGA III
MENALCAS, DAMOETAS, PALAEMON
PALEMO, ÉGLOGA III
MENALCAS, DAMETAS, PALEMO
Men. Die mihi, Damoeta, cujum pecus? an Meliboei? 
Dam. Non; verum Aegonis: nuper mihi tradidit Aegon. 
Men. Infelix o semper, oves* pecus! ipse Neaeram 
Dumfovet, ac ne me sibi praeferat ilia veretur,
5 Hie alienus oves custos bis mulget in hora,
Et succus pecori et lac subducitur agnis.
Dam. Parcius; ista viris tamen objicienda memento. 
Novimus et qui te... transversa tuentibus hircis,
Et quo, sedfaciles Nymphae risere, sacello.
10 Men. Turn, credo, cum me arbustum videre Myconis 
Atque mala vites incidere falce novellas.
Dam. Aut hie ad veteres fagos, cum Daphnidis arcum 
Fregisti et calamos; quae tu, perverse Menalca,
Et cum vidisti puero donata, dolebas,
15 Et, si non aliqua nocuisses, mortuus esses.
Men. Quid domini facient, audent cum talia fures? 
Non ego te vidi Damonis, pessime, caprum 
Excipere insidiis, multum latrante Lycisca?
* No original, não há vírgula após oves, que, entretanto, é necessária. 1. Grei: ver 1,17. 2. Egon pouco háfiou-ma: “Egon 
há pouco me confiou a grei (o rebanho)”. 3. O dono: Egon, proprietário do rebanho, mas que 0 deixou com Dametas 
para acariciar Neera, temendo que ela prefira Menalcas a ele. Em ordem direta, os w. 3-4: “Enquanto o dono afaga a 
Neera, por, cioso (ciumento), me temer,...” 4. Zagal: apascentador de rebanho, pastor; munge: ordenha, extrai leite 
das tetas. 5. Furta-se: tira-se de; atihos: ver I, 9. Parafraseando: “Tira-se o suco do gado e leite dos cordeiros”. 6. 
Passo: devagar (veja-se nota do próprio tradutor); a varões poupar te lembre afrontas: “lembra-te de que deves poupar 
afrontas aos varões, aos homens”. 7. Oblíquo: dissimulado, de través. 8. Sacelo: lugar sagrado no diminutivo, ou seja,
6 4
Men. De quem a grei? de Melibeu, Dametas?1 
Dam. Não, é de Egon: Egon pouco há fiou-ma2.
Men. Pobres ovelhas! a Neera enquanto.
Por me temer cioso, o dono afaga3,
5 O seu
zagal as munge de hora em hora4;
Furta-se ao gado o suco, o leite aos anhos5.
Dam. Passo; a varões poupar te lembre afrontas6. 
Sabemos quem te... oblíquo olhando os bodes7,
E em que sacelo... as fáceis ninfas rindo8.
10 Men. Sim, foi quando a Micon trancar me viram9 
Com má fouce arvoredos e videiras10.
Dam. Ou junto às velhas faias, ao quebrares"
A Dáfnis arco e frechas; que, ó perverso,
Ao rapaz tais presentes invejaste,
15 E ali, não lhe empecesses, rebentaras12.
Men. Se os ladrões galram, quanto mais seus amos!13 
E o capro que a Damon surripiaste14,
Muito a latir Licisca? Aos meus clamores15,
lugarzinho sagrado, segundo Sérvio. Odorico explica, em suas notas, que a palavra significa “um templozinho fecha­
do sem telhado ou cobertura”. 9. Truncar: separar do tronco, cortar. Observe-se aqui (assim como nos versos 13 e 17) 
a utilização do sintagma com a preposição “a”, numa espécie de dativo de interesse com matiz de posse, para verter 
termos que estão no caso que indica posse, o genitivo. 10. Fouce: foice. 11. Faias: ver 1, 1. 12. Não lhe empecesses: “se 
não o prejudicasses”, “se não o tivesses prejudicado”; rebentaras: “terias sofrido intensamente” “terias morrido”. 13. 
Galram: contam bravatas, blasonam, jactam-se. 14. Capro: bode; surripiaste: surrupiaste, roubaste furtivamente. 15. 
Parafraseando: “E quanto ao capro que surrupiaste a Damon, enquanto Licisca latia muito?”.
65
B U C Ó L I C A S
Et cum clamarem: - Quo nunc seproripit ille?
20 Tityre, coge pecus; - tu post carecta latebas.
Dam. An mihi, cantando victus, non redderet ille 
Quern mea carminibus meruissetfistula caprum?
Si nescis, meus ille caper fuit; et mihi Damon 
Ipse fatebatur, sed reddere posse negabat.
25 Men. Cantando tu ilium? aut unquam tibifistula cera 
Junctafuit? Non tu in triviis, indocte, solebas 
Stridenti miserum stipula disperdere carmen?
Dam. Vis ergo inter nos quid possit uterque vicissim 
Experiamur? Ego hanc vitulam (ne forte recuses,
30 Bis venit ad mulctram, binos alit ubere fetus)
Depono; tu die mecum quo pignore certes.
Men. De grege non ausim quidquam deponere tecum; 
Est mihi namque domi pater, est injusta noverca; 
Bisque die numerant ambo pecus, alter et haedos.
35 Verum, id quod multo tute ipse fatebere majus, 
Insanire libet quoniam tibi, pocula ponam 
Fagina, caelatum divini opus Alcimedontis;
Lenta quibus torno facili superaddita vitis,
Diffusos hedera vestit pallente corymbos.
40 In medio duo signa, Conon, et... quisfuit alter 
Descripsit radio totum qui gentibus orbem,
Tempora quae messor, quae curvus arator, haberet? 
Necdum illis labra admovi, sed condita servo.
Dam. Et nobis idem Alcimedon duo pocula fecit,
45 Et molli circum est ansas amplexus acantho, 
Orpheaque in medio posuit, silvasque sequentes: 
Necdum illis labra admovi, sed condita servo.
Si ad vitulam species, nihil est quod pocula laudes. 16
16. Carriços: segundo Odorico, “é certa cana ou junco dos pantanais”; te alapardavas: ocultavas-te. 17. Devera: deve­
ria. 18. Isto é, Damon confessava que o capro era de Dametas, mas dizia que não podia devolvê-lo. 19. Desentoado: 
desarmonioso; esperdiçar: desperdiçar; trívios: encruzilhadas. 20. Carme: qualquer composição poética; canto. 21. 
Alterno: que ocorre de modo alternado (à maneira de um desafio, os pastores-cantores se revezam, cada um, por 
sua vez, entoando um certo número de versos comum aos dois); exprimentemos: experimentemos, disputemos. 22. 
Dametas oferece uma novilha como penhor para quem vencer a competição musical; ponho: aposto. 23. Cria: ama- 
menta. 24. Contenda: competição. 25. Repassam: passam em revista. 26. Faia: ver 1, 1. 27. Ordem direta dos w. 38- 
40: “obra do divino Alcimedon ao torno fácil, de entalhe em cerco (em roda, em volta), onde a parra (ramo de videira) 
(re)veste e enlaça os corimbos (cachos) de hera pálida”. 28. Conon: astrônomo que residia na corte de Alexandria;
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B U C Ó L I C A S
“Títiro, ei-lo se esgueira, olho no gado”,
20 Nos carriços, ruim, te alapardavas16.
Dam. Ele, a cantar vencido ao som da flauta,
Pagar-me não devera? Se o ignoras17,
Meu era o capro, e sê-lo confessando,
Só poder-mo entregar Damon negava18.
25 Men. Tu com ele a cantar! Pois já tiveste 
Flauta unida com cera? não costumas,
Desentoado, esperdiçar nos trívios19 
Mísero carme na estridente gaita?20 
Dam. Queres que em verso alterno o exprimentemos?21 
30 Esta novilha, não recuses, ponho22;
Em dobro a ordenho, e cria dous bezerros23:
Qual teu penhor será nesta contenda?24 
Men. Não ouso pôr do gado: em casa o contam 
Pai e injusta madrasta; e mo repassam25 
35 Ambos ao dia, e um deles os cabritos.
Mas, já que és tonto, aposto o que tu mesmo 
Dirás mui superior, de faia uns copos26,
De Alcimedon divino ao fácil torno 
Obra, de entalhe em cerco, onde os corimbos 
40 De hera pálida veste e enlaça a parra27:
Conon avulta em meio, e... quem foi o outro28 
Cujo rádio marcou do mundo as raias29,
Do arador curvo o tempo e o do ceifeiro?30 
Beiço inda os não libou, tenho-os guardados31.
45 Dam. E o mesmo Alcimedon me fez dous copos;
As asas lhes abraça mole acanto32,
Em meio Orfeu com seguidoras selvas33:
Beiço inda os não libou, tenho-os guardados.
Copos, se olhas a rês, não há que louves34.
avulta: sobressai-se; 0 outro: veja-se nota do próprio tradutor. 29. Rádio: um instrumento de astrônomos e filósofos 
para medir e desenhar figuras geométricas na areia; raias: limites. 30. Curvo: recurvado, na tarefa de manejar o arado; 
ceifeiro: ver II, 9. 0 outro sábio teria fornecido aos agricultores informações importantes sobre o tempo da semeadura e 
o da colheita. 31. Beiço: lábio; libou: experimentou, provou. 32. Mole: flexível; acanto: trata-se, segundo a Enciclopédia 
Virgiliana (1984, vol. 1, p. 7), do Acanthus mollis, planta decorativa de folhas largas, brilhantes e verde-escuro, cujas 
folhas serviam de modelo aos escultores e arquitetos como motivos na decoração. 33. Orfeu: no mito, o cantor, músico 
e poeta por excelência. Filho de Calíope, tocava lira e citara, instrumento cuja invenção lhe é atribuída (Grimal, 1993, 
p. 340); seguidoras: ao canto mágico de Orfeu, as selvas se moviam, seguindo-o. 34. Copos... não há que louves: “não 
há razão para que louves os copos”; rês: “qualquer animal quadrúpede que se abate para a alimentação do homem”
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B U C Ó L I C A S
Men. Nunquam hodie effugies: veniam quocumque vocaris.
50 Audiat haec tantum, vel qui venit; ecce Palaemon.
Efficiam posthac ne quemquam voce lacessas.
Dam. Quin age, si quid habes? in me mora non erit ulla,
Nec quemquam fugio. Tantum, vicine Palemon,
Sensibus haec imis, res est non parva, reponas.
55 Pal. Dicite: quandoquidem in molli consedimus herba;
Et nunc omnis ager, nunc omnis parturit arbos, 
Nuncfrondent silvae, nunc formosissimus annus.
Incipe, Damoeta; tu deinde sequere, Menalca.
Alternis dicetis: amant alterna Camoenae.
60 Dam. Ab Jove principium, Musae; Jovis omnia plena.
Ille colit terras, illi mea carmina curae.
Men. Et me Phoebus amat, Phoebo sua semper apud me 
Munera sunt; lauri, et suave rubens hyacinthus.
Dam. Malo me Galatea petit, lasciva puella,
65 Etfugit ad salices et se cupit ante videri.
Men. At mihi sese offert ultro, meus ignis, Amyntas;
Notior utjam sit canibus non Delia nostris.
Dam. Parta meae Veneri sunt munera; namque notavi 
Ipse locum aeriae quo congessere palumbes.
70 Men. Quod potui, puero, silvestri ex arbore lecta,
Aurea mala decern misi, eras altera mittam.
Dam. O quoties et quae nobis Galatea locuta est!
Partem aliquam, venti, divum referatis ad aures.
Men. Quid prodest quod me ipse animo non spernis, Amynta, 
75 Si, dum tu sectaris apros, ego retia servo?
Dam. Phyllida mitte mihi, meus est natalis, Iola;
Cumfaciam vitula pro frugibus, ipse venito.
Men. Phyllida amo ante alias; nam me discedere flevit,
Et longum, formose, vale, vale, inquit, Iola.
80 Dam.

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