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02 Caso Conc PRATICA I resposta

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PRÁTICA SIMULADA I - Curso de Direito – 6 Período
Professor(a): Cristiane Dutra
Aluna: 
Plano de aula 02 - Caso concreto 2
Tema: Processo de Conhecimento. Procedimento Comum. Petição Inicial. Negócio Jurídico. Invalidade.
CASO CONCRETO 
127o EXAME DE ORDEM SP (modificado) 
No dia 20/12/2016, Joana, brasileira, solteira, técnico em contabilidade, moradora de Itabuna/BA, recebeu notícia que seu filho Marcos, de 18 anos de idade, tinha sido preso de forma ilegal e encaminhado equivocadamente ao presidio XXX. No mesmo dia Joana procurou um advogado criminalista para atuar no caso, sendo que o advogado cobrou R$ 20.000,00 de honorários.Joana ao chegar em casa comentou com Joaquim, seu vizinho, que não tinha o valor cobrado pelo advogado e que estava desesperada. Joaquim vendo a necessidade de Joana de obter dinheiro para contratar um advogado, aproveitou a oportunidade para obter uma vantagem patrimonial, propôs a Joana comprar seu carro pelo valor de R$ 20.000,00, sendo que o carro o preço de mercado no calor de R$ 50.000,00. Diante da situação que se encontrava, Joana resolveu celebrar o negócio jurídico. No dia seguinte ao negócio jurídico realizado e antes de ir ao escritório do advogado criminalista Joana descobriu que a avó paterna de seu filho tinha contratado um outro advogado criminalista para atuar no caso e que tinha conseguido a liberdade de seu filho através de um Habeas Corpus. Diante destes novos fatos Joana fala com Joaquim para desfazerem o negócio, entretanto, Joaquim informa que não pretende desfazer o negócio jurídico celebrado. 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO 1a VARA CIVEL DA COMARCA DE ITABUNA - BA
JOANA DA SILVA, brasileira, solteira, Técnico em Contabilidade, portadora da carteira de identidade nº.123.456.7, expedida pelo SSPBA, inscrita no CPF/MF sob o nº. 123.456.789-00, endereço eletrônico: joana@net.com.br, residente à Estrada do Portela, 01 – Centro - Itabuna / BA – Cep.: 71000-000, vem por seu advogado infra-assinado, com endereço profissional à Estrada do Portela 02 – Centro - Itabuna / BA – Cep.: 71000-000, endereço eletrônico: advogado@net.com.br, para fins do artigo 77, inciso V, do CPC, vem a este juízo, propor a presente
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGOCIO JURIDICO
em face de JOAQUIM DA SILVA, brasileiro, casado, Comerciante, portador da carteira de identidade nº.123.456.7, expedida pelo SSPBA, inscrito no CPF/MF sob o nº. 123.456.789-00, endereço eletrônico: joaquim@net.com.br, residente à Estrada do Portela, 03 – Centro - Itabuna / BA – Cep.: 71000-000, pelas razões de fato e de direito que passa a expor.
III- DA OPÇÃO DO AUTOR PELA REALIZAÇÃO OU PELA NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
A autora requer a designação de audiência prévia de conciliação e mediação, nos termos do artigo 319, inciso VII do CPC.
IV - DOS FATOS 
Que diante da prisão ilegal de seu filho Marcos da Silva, de 18 anos de idade, o qual foi encaminhado ao Presídio da cidade de Itabuna – BA, a autora procurou o Advogado Criminalista, Dr. Joao da Silva, com escritório a Estrada do Portela, 04 – Centro, na cidade de Itabuna / BA, para que o mesmo atua-se no caso, visando a defesa de seu filho, ora citado.
Diante da demanda apresentada ao Advogado ora contratado pela autora, o mesmo cobrou seus honorários no valor de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais) para que pudesse postular em defesa do filho da autora.
Fato à autora não dispor de quantia elevada para propor tal propositura e livramento de seu filho, comentou a autora com o réu, o fato de não ter condições financeiras para contratar o Advogado, e encontrava-se “desesperada” e precisava a qualquer custo, livrar seu filho da penalidade ilegal imposta a seu filho.
O réu valendo-se do desespero da autora, e sua necessidade em contratar um advogado, visando obter vantagem patrimonial, aproveita-se da oportunidade e propõe a autora comprar seu carro pelo valor correspondente aos honorários cobrados pelo advogado, na quantia de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais), sendo que o veículo de propriedade da autora, tem o valor de mercado fixado em R$ 50.000,00 (Cinquenta Mil Reais).
Em face da situação que se encontrava a autora, a mesma decide, diante de seu “desespero”, celebrar o negócio jurídico com o réu.
Ocorre, que no dia seguinte ao negócio jurídico celebrado, e antes de ir ao escritório do Advogado Criminalista, Dr. João da Silva, a autora toma ciência que a avó paterna de seu filho, Sra. Ana da Silva, já havia contrato outro advogado criminalista, Dr. Cesar da Silva para atuar no caso em tela, e que o mesmo já havia conseguido a liberdade de seu filho através de um Habeas Corpus.
Diante dos fatos, a autora procura o réu para desfazerem o negócio jurídico celebrado, entretanto, o réu “opõe-se”, alegando que não pretende desfazer o negócio jurídico celebrado.
Vale ressaltar que a autora por inexperiência e desespero, celebrou o negócio jurídico em momento de falta de sua “lucidez” com intuito de livrar seu filho de prisão arbitral e indevida, e valendo-se o réu destes fatos, levar vantagem econômica sobre a autora.
V - DOS FUNDAMENTOS 
No caso em tela temos o Instituto da “Lesão” que está elencada no Artigo 157, parágrafo 1º e 2º do Código Civil Brasileiro.
Artigo 157 da Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
Frisa-se que a lesão é caracterizada pela “desproporção, necessidade ou inexperiência”.
É imperioso ressaltar que a lesão é um vício de vontade que tem como objetivo assegurar as declarações volitivas para que a realização do negócio jurídico sejam livres de pressões que dariam ensejo a celebração de negócios economicamente desproporcionais.
Entende a doutrina e neste sentido, a ilustre professora, Maria Helena Diniz leciona:
o instituto da lesão tem o escopo de “proteger o contratante, que se encontra em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido à desproporção existente entre as prestações das duas partes”, exemplificando com a situação da pessoa que, na iminência de ser despejada do imóvel onde reside, necessitando achar outro lugar para abrigar sua família, aceita pagar valor exorbitante a título de aluguel, em outro imóvel. (Curso de Direito Civil Brasileiro, op. Cit., p. 398)
Dispõe o CC, art. 145 que: “São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”. Tem-se aqui o dolo principal, o qual, para a doutrinadora Maria Helena Diniz, “o dolo principal é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído (CC, art. 145), acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio” (2004, p. 418). Podemos concluir, portanto, que o dolo é essencial, sem o qual o negócio não se concretizaria, sendo a anulação do negócio plenamente válida.
Por sua vez, dispõe o art. 147, do mesmo diploma legal: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.
Também o art. 171, II, do CC, verbis:
“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
(...)
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”.
Ora, não há dúvida de que o réu agiu dolosamente. Aproveitou-se do desespero de uma mãe ao ver o filho preso, e ofertou-lhe exatamente o montante que a autora necessitava para contratar um Advogado Criminalista, quando sabedor que o veículo da autora, no mercado, alcançava o valor de cerca de R$ 50.000,00. Havendo o dolo, não há como manter o negócio jurídico celebrado entre as partes litigantes.
Como é de sobejo conhecimento, o Código Civil não define dolo, mas paracompreendê-lo, traz-se definição de Clóvis Beviláqua: “Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”. Pode-se dizer que dolo é qualquer meio utilizado intencionalmente para induzir ou manter alguém em erro na prática de um ato jurídico, amoldando-se ao caso sub judice.
Maria Helena Diniz, citando Clóvis Beviláqua, leciona: “Parece-nos contudo que a razão está com Clóvis, pois além de que, na prática, ocorre uma correspondência entre a vantagem auferida pelo autor do dolo e um prejuízo patrimonial sofrido pela outra parte, há, virtualmente, um prejuízo moral pelo simples fato de alguém ser induzido a efetivar negócio jurídico por manobras maliciosas que afetaram sua vontade”. (2004, p. 417). Ora, é certo que não era da vontade da autora vender seu veículo naquele momento, e por aquele preço. O réu, repita-se, maliciosa e dolosamente, estimulou a autora a vender-lhe o veículo exatamente pelo valor que necessitava.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do RJ também é pacífica ao determinar:
DES (a). DENISE LEVY TREDLER - JULGAMENTO: 01/12/2010 - DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL
AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO, CUJO PEDIDO É CUMULADO COM OS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE NO INTERIOR DE COLETIVO DE PROPRIEDADE DA RÉ, QUE VITIMOU A AUTORA, PASSAGEIRA DO ÔNIBUS. ACORDO EXTRAJUDICIAL CELEBRADO PELAS PARTES PARA A COMPOSIÇÃO DOS DANOS. TRANSAÇÃO PREJUDICIAL À VÍTIMA, HAJA VISTA O VALOR IRRISÓRIO PAGO A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE LESÃO (...)
Assim, está claro que o contrato foi celebrado com vício de consentimento, caracterizado pela “lesão”, ou seja, o valor era desproporcional em relação ao real preço do bem móvel. Analisando sob essa ótica, o réu estaria colhendo para si vantagem ilícita, ao passo que o patrimônio da autoria sofreria prejuízos em prol da salvaguarda do seu filho.
Dessa forma, é possível a anulabilidade do contrato pela inteligência dos dispositivos trazidos à colação, dada a ineficácia causada pelo vício do ato arquitetado pelo réu, que culminou em diminuição do patrimônio da autora. Com a anulação do negócio jurídico em questão, a autora devolverá ao réu o valor pago por este.
VII - DO PEDIDO 
Diante de todo o exposto requer se digne Vossa Excelência a:
1 – A citação do réu para integrar a relação processual;
2 – a designação de audiência de conciliação e mediação com a intimação do réu para comparecimento;
3 – a procedência do pedido para anular o negócio jurídico celebrado;
4 - A condenação do réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios;
Protesta pela produção de todo gênero de provas admitidas, em especial documental, testemunhal e depoimento pessoal do Réu.
VII - DAS PROVAS 
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial a prova documental, a prova pericial, a testemunhal e o depoimento pessoal do Réu sob pena de confissão. 
VIII - DO VALOR DA CAUSA 
Dá se a causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) nos termos do Artigo 292, parágrafo II, do CPC.
Nestes Termos
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 18 de Março de 2018.
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