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sumário 01 Introdução e conceito de consumidor 4 03 Responsabilidade Civil - Prescrição e Decadência 27 05 proteção contratual 60 02 12Da Relação de Consumo. Direitos Básicos e Proteção à Saúde 04 45práticas abusivas 54 dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará Có- digo de Defesa do Consumidor.” Levou um pouco mais de tempo, pois apenas com a Lei 8.078/90 é que surge o nosso Código de Defesa do Consumidor, que do que um código de consu- mo, trata-se de uma lei que TUTELA a proteção do consumidor em vários aspectos, como um microssistema jurídico próprio. A Constituição Federal, em seu artigo 24, também estabelece a competência concorrente entre União, Estados e o Distrito Federal para legislar sobre: V – produção e consumo; VIII – responsabilidade por dano ao consumidor, (...); Por último a nossa Carta Magna trata do direito de informação do consumidor sobre os impostos incidentes sobre produtos e serviços, conforme previsto no Art. 150 §5º “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.” A inserção do tema em nossa Constituição é também vista como uma evo- lução de direitos humanos e a nossa legislação, através do nosso Código de Defesa do Consumidor, influencia até hoje a adoção de medidas semelhantes por parte dos países do MERCOSUL. DIFERENÇAS ENTRE DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR Para entendermos as diferenças entre o direito Civil e o Direito do Consumi- dor, precisamos compreender rapidamente a evolução deste contexto. Com o surgimento de uma sociedade de consumo, derivada da revolução indus- trial, o mercado precisava de cada vez mais consumidores para comprar seus produtos. Nessa velocidade, as relações de consumo demandavam situações que os preceitos cíveis e contratuais até então não conseguiam mais manter um equilíbrio. DIREITO DO CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL O direito do consumidor surgiu nos Estados Unidos da América e levou al- gum tempo para chegar ao Brasil. A efetiva tutela dos direitos do Consumi- dor só foi introduzida no ordenamento brasileiro com a Constituição Federal de 1988, que reconheceu como sujeito de direitos o CONSUMIDOR, tanto no aspecto individual como no Coletivo, assegurando sua proteção tanto como direito fundamental (Art. 5º Inciso XXXII), bem como princípio da Ordem Econômica Nacional no Art. 170, V, da CF/88. Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi- dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do traba- lho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observa- dos os seguintes princípios: V – defesa do consumidor. O tema é tão importante que a Constituinte previu no art. 48 do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) que: O Congresso Nacional, Introdução e conceito de consumidor ue01 76 A vulnerabilidade, a fragilidade do consumidor perante o fornecedor é ampla- mente prevista e definida no CDC e na Constituição Federal. É a Lei quem re- conhece a vulnerabilidade e prevê mecanismos para garantir a igualdade ma- terial entre consumidor e fornecedor. Pode-se estabelecer que o Consumidor apresenta 03 (três) aspectos de vulnerabilidade: a técnica, a fática e a jurídica. A. A vulnerabilidade TÉCNICA: aduz à falta de conhecimento técnico do consumidor perante o produto ou serviço adquirido. Uma pessoa que compra um celular não precisa entender como funciona o sistema, ou da qualidade, origem e especificações de cada peça e serviço adquirido, dessa forma o CDC considera esta vulnerabilidade presumida; B. A vulnerabilidade FÁTICA: pode ser considerada também como vulnerabilidade econômica. É o que ocorre quando o fornecedor por seu “poder econômico” ou posição privilegiada de mercado impõe aos consumidor as suas condições, seja uma venda casada, uma garantia extendida, um plano de fidelidade, enfim, abusa do consumidor mediante a natureza de seu produto ou serviço para fazer o consumidor aceitar suas condições abusivas. Para pessoas físicas é presumido, para profissionais e pessoas jurídicas devem provar tal vulnerabilidade; C. Vulnerabilidade JURÍDICA: pode ser chamada também de científica. É a falta de conhecimentos jurídicos, econômicos e contábeis, para os consumidores profissionais e pessoas jurídicas tal vulnerabilidade não se aplica; Os contratos equilibrados, paritários, nascidos da vontade de ambas as par- tes, debatidos ponto a ponto, cláusula a cláusula, tornaram-se cada vez me- nos frequentes. A sociedade era massificada pelas indústrias, buscando agili- dade, economia e lucro, começaram a adotar contratos de adesão, já prontos, formulados totalmente pelas empresas e impostos aos consumidores. No- ta-se que nesse tipo de contrato não há equilíbrio, não há alternativa, nem sequer a possibilidade de negociação por parte do consumidor. Diante dessa realidade o Estado teve que começar a intervir nestas questões para garantir o equilíbrio, evitar as desigualdades e assegurar a segurança dos consumidores como um todo. Considera-se então que as relações de di- reito civil são mais equilibradas, no geral, e que o desequilíbrio é exceção. Já nas relações de consumo é o contrário, a desigualdade é a regra, sendo latente e notória. Nas relações de consumo o equilíbrio é a exceção. Nesse aspecto o Direito do Consumidor chega para estabelecer que as rela- ções jurídicas das obrigações relacionadas ao consumo deveriam, a partir de então, atender à BOA-FÉ OBJETIVA, ou seja fundar-se em princípios éticos de LEALDADE e PROBIDADE, determinando que os contratos de- veriam prever prestações equivalentes, considerando cláusulas abusivas como nulas, considerando o consumidor como vulnerável às ações descon- troladas do mercado capitalista e, portanto, merecedor de proteção espe- cial para assegurar o equilíbrio desta relação e, portanto, a dignidade da pessoa humana. Ressalte-se que os temas de direito civil são, em geral, disponíveis. Por ser o direito do Consumidor um tema a ser interpretado à luz da Constituição e seus princípios, considera-se que a relação de consumo tem características próprias que exigem do Estado a proteção do consumidor para assegurar a dignidade da Pessoa Humana, portanto, os temas de direito do consumidor não são disponíveis, são de ordem pública e interesse social, não podem ser renunciados ou afastados por cláusulas ou dispositivos particulares. Ou seja, o consumidor não pode abrir mão desses direitos. Portanto temos: DIREITO CIVIL DIREITO DO CONSUMIDOR Equilíbrio entre as partes Desequilíbrio entre as partes Relação entre iguais Relação entre Consumidor e Fornecedor Direitos disponíveis Direitos Indisponíveis Aplica-se sempre o Código Civil Só aplica o C/C se for mais benéfico que o CDC 98 DESTINATÁRIO FINAL – TEORIAS A doutrina trabalha com 03 teorias para definir o termo “destinatário final”. A. A teoria FINALISTA: esta é uma teoria restritiva, consideran- do a vulnerabilidade do Consumidor e considerando como tal apenas aqueles que requerem maior proteção do Estado. Nesta teoria consumidor é apenas aquele que além de retirar o produto do mercado (destinatário final fático) não o insere em sua própria cadeia produtiva (destinatário final econômico); B. A teoria MAXIMALISTA: teoria expansiva, consideraque o CDC deve ser aplicado de forma ampla, irrestrita, a todas as rela- ções de consumo. Nesse contexto o consumidor seria aquele que retira o produto do mercado de consumo (destinatário fático) não importando se utilizará tal produto ou serviço para auferir lucro. C. A teoria FINALISTA MODERADA, reconhecida e adotada pelo STJ, reconhece presumida a vulnerabilidade da pessoa física e também a do profissional que adquire produto ou serviço de fora de sua especialidade, considera como vulnerável também o profissional de pequeno porte, o que se submete ao regime de monopólio, desde que comprove tal vulnerabilidade. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO Definidos nos artigos 02, 17 e 19 do CDC. É uma expansão do conceito de consumidor para pessoas que são atingidas indiretamente pela relação de consumo, até mesmo uma coletividade. Seja por serem vítimas de um produ- to ou serviço defeituoso, bem como aqueles expostos a práticas abusivas de publicidade, ofertas, cobranças, etc. É uma inovação do CDC que rompe com o paradigma de que a relação de consumo só afetaria as partes diretamente envolvidas. A lei garante o reconhecimento como consumidor à pessoas es- tranhas ou alheias à relação direta para garantir a sua proteção. Portanto, presentes quaisquer destes aspectos de vulnerabilidade, o consu- midor fará jus à proteção do CDC quando na sua relação com o fornecedor de produto e/ou serviço. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO – CONSUMIDOR Pode-se considerar que a relação jurídica de consumo é o negócio jurídico em que o vínculo entre as partes dá-se pela aquisição e/ou utilização de um produto ou serviço, sendo o consumidor o destinatário final e o fornecedor o vendedor do produto e/ou serviço. Essa relação de consumo tem 03 elementos: 1. Elementos subjetivos: fornecedor e consumidor; 2. Elementos objetivos: produtos e/ou serviços, objetos da rela- ção de consumo; 3. Elemento finalístico ou teleológico: o consumidor deve adquirir o produto ou utilizar o serviço como destinatário final. Nesse sentido o Consumidor pode ser considerado como pessoa física ou ju- rídica, sem distinções entre nacionais e estrangeiros ou tipo de organização e formação de pessoa jurídica. Conforme ressalta o art. 2º do CDC: Art.2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Embora o termo pareça simples, existem ponderações sobre o termo desti- natário final. O que acontece se o consumidor retira o produto de circulação, não o revende, mas usa-o para auferir lucro de outra forma, como um advo- gado que compra um notebook para atender seus clientes? Ele ainda seria o destinatário final, ou seriam os seus clientes? 1110 De toda forma, o CDC estabelece que a natureza jurídica do fornecedor é de certo modo irrelevante. Os requisitos fundamentais para sua caracterização como Fornecedor na relação jurídica é o da habitualidade e da onerosidade, ou seja, exercício contínuo e profissional de determinado serviço ou forneci- mento de produto no mercado de consumo mediante remuneração. Até o poder público, se atuar no mercado de consumo por si ou por meio de seus concessionários, prestando serviço mediante pagamento, terão que obedecer os preceitos do Código de Defesa do Consumidor. FORNECEDOR - ENTES DESPERSONALIZADOS Conforme o item anterior, a natureza jurídica do Fornecedor não é condição necessária para ser considerado fornecedor na relação de consumo. Os re- quisitos da habitualidade e onerosidade são deveras mais objetivos e impor- tantes na qualificação do Fornecedor. É o que acontece também com os entes despersonalizados. Mas mesmo as- sim é bom tomar certos cuidados: 1. Condomínios: A relação entre condomínio e fornecedores pode ser enquadrada como relação de Consumo, se o condomínio for o destinatário final. Já entre os Condôminos e o Condomínio a relação é CÍVEL e não de consumo, pois condomínio e condômi- nos se confundem, sendo o condomínio a representação coletiva do patrimônio dos condôminos, não tendo como objetivo o lucro, mas a manutenção deste patrimônio comum. 2. Sociedades civis sem fins lucrativos: mesmo que não tenham por objetivo o lucro, estas entidades podem ser conside- radas fornecedores se prestarem serviços médicos, hospitalares, odontológicos, jurídicos e outros a seus associados, bastando que desempenhe atividade no mercado de consumo (mesmo que restrito a seus associados) mediante remuneração de qualquer espécie (como taxas ou anuidades); São 03 situações previstas: 1. Artigo 2, parágrafo único, CDC: “Equipare-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. Esta situação é o que legitima a tutela coletiva do Consumidor, abrangendo a intervenção, mesmo que indireta, da coletividade nesta relação. Como exemplo didática considere a tutela coletiva nos casos de publicidade enganosa. 2. Artigo 17, CDC: “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento”. Situação que ultra- passa a pessoa do consumidor fático para proteger os demais que sofreram danos por fato/defeito do produto e/ou serviço. Como exemplo cite-se uma família onde o pai compra um bolo, o pai é o consumidor fático, mas toda a família acaba comendo do bolo. Se o bolo estiver estragado ou impróprio para o consumo, toda a família será equiparada como consumidores, mesmo não fazendo parte da relação original. 3. Artigo 29, CDC: “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas”. Aqui a Lei estabelece a proteção da coletividade às práticas abusivas comerciais, de ofertas, de cobranças, etc. Que será considerada como toda coleti- vidade na determinação de eventuais quantum indenizatórios. FORNECEDOR - HABITUALIDADE E ONEROSIDADE O Art. 3º do CDC caracteriza como FORNECEDOR toda pessoa física ou ju- rídica, nacional ou estrangeira, de direito público ou privado, que atua na cadeia produtiva, exercendo atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comer- cialização de produtos ou prestação de serviços. 1312 OBJETO DA RELAÇÃO DE CONSUMO - MÓVEIS OU IMÓVEIS. MATERIAL OU IMATERIAL O produto é um dos possíveis objetos da relação de consumo. Pode ser qual- quer bem, seja móvel ou imóvel, material ou imaterial, novo ou usado, fungí- vel ou infungível, principal ou acessório, corpóreo ou incorpóreo, desde que seja possível de apropriação (posse efetiva) e que tenha valor econômico, destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor. O produto gratuito está protegido pelo CDC. A amostra grátis deve se sub- meter às regras dos demais produtos quanto aos vícios, defeitos, prazos de garantia, segurança, etc. SERVIÇO Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e se- curitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. O serviço remunerado é aquele em que há alguma contraprestação em troca do serviço. Para ser enquadrado assim, basta a remuneração indireta para caracterizar tal serviço como remunerado. Ex: Estacionamento gratuito de shopping mas no valor dos produtos do shopping já está embutido as despe- sas com o estacionamento. Serviço gratuito é considerado quando não há qualquer contraprestação pelo mesmo, seja direta ou indireta. PRINCÍPIOS Conceito de Princípios: São normas gerais que delimitam a base teórica para solução de conflitos jurídicos. Por meio dos princípios podemos extrair re- gras e normas de procedimento.A estrutura do Direito é resultado dos prin- cípios jurídicos. Dentro os princípios do Direito do Consumidor, explanamos os mais cobra- dos nos moldes ensinados pelos doutrinadores RIZZATO NUNES e CLÁU- DIA LIMA MARQUES, principais nomes em relação ao CDC em nosso meio. Abaixo, quadro esquemático para lhe ajudar a localizar os princípios e relem- brar suas principais características e efeitos: Da Relação de Consumo. Direitos Básicos e Proteção à Saúde ue02 Princípio Referência Descrição e efeitos Proteção do Consumidor Art. 1º Estabelece que as normas de proteção ao Consumidor são de Ordem Pública, de Inte- resse social e irrenunciáveis Vulnerabilidade Art 4º, I Desigualdade material do consumidor em relação ao fornecedor. Conceito jurídico Hipossuficiência Art. 6º, VIII Desigualdade Processual do consumidor em relação ao fornecedor. Baseado no FATO concreto 1514 Boa-fé objetiva Art. 4º, III Obrigação de comportamento ético, legal, probo, na interpretação de fatos e negócios, limitando a vontade das partes Transparência / confiança Arts. 4º e 6º, III Tutela da informação. Direito de anunciar x dever de informar e proteger o consumidor. Re- quisitos: adequação – suficiência - veracidade Função social do contrato Equida- de / Equilíbrio do contrato Implícito: Art. 51, IV Interpretação dos contratos de acordo com o equilíbrio material entre as prestações. Aplica- -se a todas as relações contratuais. Proporcio- nalidade entre direitos e obrigações Ação Governa- mental Art. 4º, II Intervenção do Estado na Economia a fim de proteger o consumidor. Dever de instituir ór- gãos públicos de defesa do consumidor, incen- tivar associações civis, regular o mercado para preservar a qualidade, segurança, durabilidade e desempenho dos produtos e serviços. Harmonização dos Interesses dos Consumido- res e Fornece- dores Art. 4º, V e Art. 107 Evita a proteção desmedida ao consumidor ao ponto de inviabilizar o mercado. Caracterizado pela obrigação de criar pelo fornecedor setores de atendimento ao consumidor e vários meios de comunicação com o consumidor, bem como pelas Convenções Coletivas de Consumo Reparação Integral Art. 6º, VI Em caso de dano, a reparação deve ser a mais ampla possível, abrangendo todos os danos causados Solidariedade Art. 7º, 18º, 19º, 25º e 34º Facilitar a defesa do consumidor em juízo, pois nos casos em que tiver mais de um fornecedor responsável pelo dano, todos poderão respon- der em litisconsórcio ou individualmente Acesso à justiça Art. 6º, VII e VIII Garante que todos têm direito de recorrer à justiça para garantir um direito. O Estado deve fornecer meios para facilitar ainda mais o acesso de todo cidadão à justiça. OBS: Podemos considerar como Princípios CONSTITUCIONAIS do Direito do Consumidor os seguintes: 1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (Art.1º, III da CF/88): A defesa do consumidor tem como base o resguardo da pessoa humana, sua proteção e defesa que não pode se submeter aos interesses produtivos e patrimoniais em detrimento desta dignidade. 2. Princípio da Isonomia (Art. 5º Caput, CF/88): A atitude de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, é a máxima deste princípio. Seria uma forma de equilibrar as relações estabelecendo vantagens para o menos favorecido e deveres para o mais forte, a fim de res- tabelecer a igualdade entre estas pessoas. É deste princípio que se deriva o princípio da Vulnerabilidade. DIREITOS BÁSICOS Previstos nos artigos 6º e 7º do Código de Defesa do Consumidor, os direitos básicos funcionam como parâmetro MÍNIMO que deve ser observado pelo fornecedor em sua relação com o consumidor de forma a garantir sua dignida- de. São os Direitos básicos derivados dos princípios que vimos na aula passada e também da Política Nacional de Proteção dos Direitos do Consumidor: 1. Proteção da vida e da saúde Antes de comprar um produto ou utilizar um serviço você deve ser avisado, pelo fornecedor, dos possíveis riscos que podem oferecer à sua saúde ou se- gurança. Não se confunde com uma proibição de produzir tais produtos e/ ou serviços, mas de garantir que o consumidor conheça esses riscos e tenha todas as formas possíveis de se prevenir deles. Como no caso de inseticidas, máquinas pesadas, pesticidas, fogos de artifício, etc, onde o fornecedor tem por obrigação alertar sobre os riscos à saúde e à vida, informar como deve ser o uso correto para evitar tais riscos e o que fazer em casos de eventual dano. Lembrando que este é um direito típico dos consumidores por equiparação, onde a coletividade pode ser passiva de dano e, portanto, indenização. 1716 2. Educação para o consumo Você tem o direito de receber orientação sobre o consumo adequado e corre- to dos produtos e serviços. É uma obrigação do fornecedor que deve prestar todas estas informações desde antes da relação de consumo. A educação do consumidor também é fundamental para o desenvolvimento de um consumo consciente, em contrapartida ao consumo desenfreado e irresponsável. Ex: avisos no cigarro, nas bebidas alcóolicas, conteúdo nutricional nos alimen- tos, etc. 3. Liberdade de escolha de produtos e serviços O consumidor tem todo o direito de escolher o produto ou serviço que achar melhor, para isso tem o direito de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, ca- racterísticas, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem – Este direito está diretamente correlacionado com o anterior, mas tem caráter específico de proporcionar que o consumidor educado (que recebeu o objeto do princípio anterior) possa fazer a melhor es- colha mediante as informações fornecidas sobre o produto e/ou serviço. 4. Proteção contra publicidade enganosa e abusiva Serve também para os casos de métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimen- to de produtos e serviços. O consumidor tem o direito de exigir que tudo o que for anunciado seja cumprido. Se o que foi prometido no anúncio não for cumprido, o consumidor tem direito de cancelar o contrato e receber a devolução da quantia que havia pago. A publicidade enganosa e a abusiva são proibidas pelo Código de Defesa do Consumidor. São consideradas crime (Art. 67, CDC). Casos típicos são de publicidade que induzem a realidades que não existem, como a de um produto de emagrecimento que não tem resultados compro- vados cientificamente; ou a inserção nos contratos de cláusulas que visam beneficiar somente o fornecedor, tal como cláusula de juros abusivos. 5. Proteção contratual Leva-se em conta que os contratos de consumo não são equilibrados. Ge- ralmente tem suas cláusulas pré-redigidas pelo fornecedor e não dão espa- ço para negociação equilibrada. O Código protege o consumidor quando as cláusulas do contrato não forem cumpridas ou quando forem prejudiciais ao consumidor. Neste caso, as cláusulas podem ser anuladas ou modificadas de ofício por um juiz. Da mesma forma o contrato não pode obrigar o consumi- dor caso este não tome conhecimento do que nele está escrito. A essência deste direito é a modificação (até mesmo de ofício) das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas – É com esse direito que surge a teoria da imprevisão. Nesta teoria ocorrendo fato posterior à formação da relação de consumo, do qual nenhuma das partes podia prever, e em virtude deste fato o consumi- dor passar a ter umaprestação desproporcional ao que havia anteriormente contratado, deve haver a revisão contratual a fim de que seja restabelecido o equilíbrio contratual. A revisão contratual é um direito do consumidor. 6. Indenização Integral dos danos Quando for prejudicado, o consumidor tem o direito de ser indenizado por quem lhe vendeu o produto ou lhe prestou o serviço, inclusive por danos morais. A efetiva prevenção e reparação de danos deve ser amplo, abranger os danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. Essa reparação decorre do fato de que todos que pratiquem ato ou fato ilícito devem indenizar. O fornecedor que praticar qualquer ato ilícito contra o consumidor, ainda que exclusivamente moral, deve reparar. 7. Acesso à Justiça O consumidor que tiver os seus direitos violados pode recorrer à Justiça e pedir ao juiz que determine ao fornecedor que eles sejam respeitados. O efetivo acesso ao judiciário se dá quando o acesso aos órgãos judiciários e 1918 administrativos é feito de forma facilitada, ampla, com o intuito de prevenir ou reparar danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, as- segurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos hipossuficientes. Considerando a realidade da justiça brasileira, cara e morosa, o CDC dá ao consumidor a oportunidade de ver o seu conflito resolvido de forma me- nos burocrática e mais rápida. A partir desse direito é que foram criados em 1995, através da Lei n. 9.099, os juizados especiais cíveis e de defesa do consumidor, que permitem a estes, em processos de menor potencial ofensivo (causas de até 20 (vinte) salários mínimos), buscar seus direitos contra os fornecedores, sem a necessidade da assistência de um advogado, com rito mais célere. 8. Facilitação da defesa dos seus direitos O Código de Defesa do Consumidor facilitou a defesa dos direitos do consu- midor, permitindo até mesmo que, em certos casos, seja invertido o ônus de provar os fatos quando, no processo civil, a critério do juiz, for verossímil a alegação (tem a fumaça do bom direito) ou quando for ele hipossuficiente. Como regra, no Código de Processo Civil, aquele que alega o fato é quem tem a obrigação de fazer prova do mesmo, entretanto, o consumidor, presu- midamente em desvantagem financeira, técnica e jurídica, muitas vezes não tem como fazer prova do dano provocado pelo fornecedor. Nestas hipó- teses, o CDC determinou que a obrigação é do fornecedor fazer a prova, ainda que de fato negativo. 9. Qualidade dos serviços públicos Existem normas no Código de Defesa do Consumidor que asseguram a pres- tação de serviços públicos de qualidade, assim como o bom atendimento do consumidor pelos órgãos públicos ou empresas concessionárias desses servi- ços. A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral reconhece que os órgão da administração direta e indireta também são fornecedores para os fins de incidência do CDC, desta forma, todos que contratam com eles são considerados consumidores. PUBLICIDADE ENGANOSA, PUBLICIDADE ABUSIVA Para falarmos sobre publicidade no âmbito do CDC faz-se necessário enten- dermos o conceito de OFERTA. Segundo Nelson Nery Júnior: “Conceito de oferta: Denomina-se oferta qualquer informação ou publi- cidade sobre preços e condições de produtos ou serviços, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma. Pode haver oferta por anúncio ou informação em vitrine, gôndola de supermercados, jornais, revistas, rádio, televisão, cinema, Internet, videotexto, fax, telex, catálogo, mala-direta, te- lemarketing, outdoors, cardápios de restaurantes, lista de preços, guias de compras, prospectos, folhetos, panfletos etc.” Segundo o Art. 30 do CDC, caput: “Toda informação ou publicidade, sufi- cientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o for- necedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado”. Portanto, todos os elementos que compõem a oferta passam a integrar au- tomaticamente o conteúdo do negócio celebrado. Correto compreender que deve prevalecer a oferta em relação às cláusulas contratuais. Conhecendo o conceito de oferta, vamos diferenciar o que é publicidade do que é propaganda, conforme Flávio Tartuce e Daniel Amorim A. Neves: Publicidade Propaganda Tem fins comerciais, de consumo e circulação de riquezas. Tem fins políticos, sociais, culturais e ideológicos. Envolve uma remuneração direta, diante de seu intuito de lucro. Não tem intuito de lucro. Tem sempre um patrocinador. Nem sempre tem um patrocinador. Exemplo: anúncio publicitário de uma loja de eletrodomésticos ou de uma montadora de veículos. Exemplo: propaganda do governo para uso de preservativo no carnaval. 2120 A publicidade é o meio utilizado pelo fornecedor para chamar a atenção, des- pertar o interesse sobre e demonstrar seus produtos e serviços. Porém, tais anúncios devem ser leais, transparentes e permeados de boa-fé. O art. 36, parágrafo único, previu que o fornecedor, após realizar a publicidade, deverá guardar em seu poder, os dados fáticos, técnicos e científicos que compro- vem as qualidades anunciadas dos produtos ou serviços, para informação dos legítimos interessados. A publicidade deve retratar a realidade do pro- duto ou serviço. O CDC protege o consumidor contra efeitos nocivos da publicidade. Para tanto proíbe toda publicidade enganosa ou abusiva. a) Publicidade enganosa O art. 37, § 1° do CDC define publicidade enganosa como sendo: “Qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publici- tário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quais- quer outros dados sobre produtos e serviços”. Publicidade enganosa é, então, aquela capaz de induzir o consumidor ao erro. Para configurá-la, basta que a informação seja inteira ou parcialmente falsa ou, então, que omita dados importantes. Ex: a propaganda que men- ciona um produto em promoção que não existe ou acabou, a fim de atrair o consumidor até o estabelecimento comercial. Pode ocorrer também a publicidade enganosa por omissão, definida no art. 37, § 3° do CDC que ocorre quando o fornecedor “deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço”. Ex: Computador em promoção, mas não havia a informação de que para poder usar tem que adquirir um sistema operacional em separado. Portanto, a informação errônea, assim como a ausência de informação tor- nam o produto ou serviço defeituoso, responsabilizando civilmente o forne- cedor que o inseriu no mercado. b) Publicidade abusiva O art. 37, § 1° do CDC define publicidade abusiva, como sendo: “Dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança”. Podemos considerar que a publicidade abusiva é antiética, se aproveitando da vulnerabilidade do consumidor, atingindo a dignidade humana e os valores sociais, podendo até, chegar a ferir a sociedade como um todo. Ex: Um apa- relho de celular de luxo que ao fazer seu lançamento veicula: “O celular que pobre não pode ter” ou mais sutil, como: “Só para os melhores e mais bonitos”. Também serão abusivas publicidades que possam conduzir as crianças a comportamentos perigosos, como exposição a produtos e situaçõesde risco. O rol apresentado pelo artigo deixa claro que é exemplificativo quando se refere a “dentre outras” permitindo que se apliquem os princípios e disposi- tivos do CDC de forma dinâmica e adequada às inovações contemporâneas. Ressaltamos que o ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina, ou seja, quem é o dono do “comercial” e não ao veículo de comunicação, como regra, embo- ra já existam teorias para ampliar esta responsabilidade de forma solidária com o meio de comunicação, que também lucra com a publicidade, chamado de teoria do “fornecedor equiparado”, que ampliaria a responsabilidade de indenizar para os meios de comunicação que veiculassem quaisquer publici- dades abusivas e/ou enganosas. Quando ocorre este tipo de publicidade, cabe, além da indenização, medidas administrativas e penais, bem como a necessidade de veiculação de uma con- trapropaganda (art. 56, inc. XII, do CDC). 2322 REVISÃO CONTRATUAL Para o CDC o consumidor é presumidamente vulnerável. Portanto, sempre que existir uma onerosidade excessiva ensejará uma revisão contratual, onde o judiciário poderá, até mesmo de ofício, afastar uma cláusula abusiva, one- rosa, ambígua ou confusa (artigos 51 e 46) e a interpretação do contrato deve sempre ser em benefício do consumidor (artigo 47). Nas relações civis, como já vimos, rege o princípio do “pacta sunt servanda”, que traduzido quer dizer “o acordo deve ser mantido/obedecido/servido”, onde aquilo que está contratado valerá até o fim do contrato. Já nas relações consumeristas reconhecemos que a oferta vincula e os contratos são elabo- rados unilateralmente (contratos de adesão) ou nem sequer são apresenta- dos, podendo ser verbais, derivados do comportamento socialmente típico e incluir cláusulas gerais, em que nem sempre será possível manter o que está contratado em todos os seus termos. Por estes motivos e pelos princípios do CDC é que nas relações de consu- mo se aplica o princípio do “rebus sic stantibus”, que traduzido quer dizer “estando assim as coisas”, ou seja, manter-se-á o pactuado desde que as condições em que foi celebrado mantenham-se as mesmas. Resume-se em que, havendo fato superveniente que traga vantagem excessiva para uma das partes, o contrato poderá ser revisto, desde que tal fato seja extraordinário e de difícil ou impossível previsão. Estes fatos constituiriam a TEORIA DA IMPREVISÃO. Tal instituto está previsto nos artigos 317 e 478, 479 e 480, do Código Civil de 2002. Já no CDC, a Teoria da imprevisão é aplicada um pouco diferente, conforme Art. 6º, V do CDC: “Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. (...)”. Teríamos, portanto, com o Código de Defesa do Consumidor, a adoção de outro fundamento para a revisão contratual, a da revisão por simples onerosidade, que tem como embrião os princípios da isonomia, do equi- líbrio contratual, da boa-fé objetiva e da dignidade da pessoa humana, que é motivada pela busca, em todo o momento, de um ponto de equilíbrio nos contratos, afastando-se qualquer situação desfavorável ao protegido legal. Desta forma, a Teoria da Imprevisão, com o perfil que a ela é dado pelo direi- to civil, não se aplica às relações de consumo. O direito do consumidor dá ao assunto tratamento próprio e diverso. Note-se que a norma acima citada não exige a extraordinariedade, nem tampouco a imprevisibilidade, dos fatos su- pervenientes que venham a tornar o contrato excessivamente oneroso, para que surja o direito à revisão. O CDC adotou a cláusula de revisão pura, ou objetiva, que apenas exige a onerosidade excessiva ocasionada por fatos supervenientes para que surja ao consumidor o direito de modificar ou rever o contrato. Relatividade da revisão contratual: É importante salientar que o consumidor não pode pleitear a revisão con- tratual para levar vantagem ou eximir-se de cumprir com suas obrigações dolosamente. Os fatos supervenientes devem onerar de maneira crucial a prestação, de tal modo que os esforços do consumidor para o cumprimento do contrato sejam frustrados. Para que se possa verificar se a onerosidade é excessiva ou não, deve-se ana- lisar se outra pessoa, nas mesmas condições do consumidor em questão, se- ria capaz de cumprir a obrigação. Não se deve utilizar o instituto da revisão contratual para premiar a torpeza de algumas pessoas que agem de má-fé. Ressalte-se que o consumidor não pode ser o causador da onerosidade exces- siva. Também não pode ser beneficiado pela revisão contratual aquele con- sumidor que já estava em mora ao tempo do pedido revisional. Admitir que o consumidor causador da onerosidade excessiva seja beneficiário da revisão contratual seria anuir com a má-fé, privilegiando o consumidor que ensejou 2524 a situação de desequilíbrio, causando uma insegurança desnecessária nos contratos de consumo. Conclui-se, portanto, que para revisão de contrato de consumo basta a one- rosidade excessiva ao consumidor, decorrente de fato superveniente, não sendo necessário que tal fato seja extraordinário, ou que fosse imprevisível, na época da contratação. FACILITAÇÃO DA DEFESA DE SEUS DIREITOS A facilitação da defesa dos direitos do consumidor é composta, basicamente, de dois direitos básicos. O Direito de acesso aos órgãos de defesa e a inversão do ônus da prova: 1 - Direito de acesso aos órgãos de defesa Consoante o disposto no art. 6º, inciso VII do CDC, é direito básico do consumidor: “O acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, indivi- duais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, ad- ministrativa e técnica aos necessitados. ” O inciso VII destaca quais são os meios oferecidos ao consumidor para bus- car a tutela Estatal (Judiciário comum ou juizados especiais civis) ou na esfe- ra administrativa (Procon), para prevenir ou reprimir qualquer dano decor- rente da relação de consumo. É notório avanço nesta defesa de direitos dos necessitados que a previsão da DEFENSORIA PÚBLICA trouxe para o contexto judicial do país, em especial na defesa dos direitos dos consumidores, tal instituição, aliada à gratuidade judicial, tendem a democratizar o acesso aos órgãos do judiciário. Tal gratuidade e assistência da Defensoria Pública não é exclusiva para o consumidor, mas sim para qualquer pessoa que comprove que sua situação econômica não lhe permite arcar com as custas do processo e honorários ad- vocatícios sem prejuízo de seu sustento e da própria família. O consumidor que necessitar da assistência jurídica gratuita poderá se valer da Defensoria Pública ou Procuradorias de Assistência Judiciária, mantidas pelos Municí- pios ou por Instituições de Ensino que possuam Curso de Direito. 2 - Direito à inversão do ônus da prova Esse direito encontra sua fundamentação jurídica no art. 6º, inciso VIII, abaixo transcrito: “A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a crité- rio do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossufi- ciente, segundo as regras ordinárias de experiências”. Segundo os dispositivos que regulam o Processo, em especial o CPC, cabe ao autor o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito e ao réu o de provar o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. A inversão do ônus da prova busca restabelecer a igualdade e o equilíbrio da relação processual e está adequada aos princípiosgerais que regulam os aspectos processuais, ou seja, não é uma simples exceção, mas uma evolução derivada do princípio constitucional da isonomia. A inversão do ônus da prova vem para facilitar a defesa do consumidor em juízo, garantindo que o fornecedor é quem deve cercar-se de provas de que cumpre as obrigações e respeita o direito do consumidor, como um ônus da própria atividade econômica, visando proteger a coletividade de consumido- res. Todavia, para que o Juiz possa aplicar tal direito devem ser identificadas a verossimilhança e a hipossuficiência do consumidor. Portanto, a inversão do ônus não é automático ou obrigatório nos processos que envolvem relação de consumo. Esta é uma regra de “flexibilização” da norma processual, com um caráter eminentemente instrutório e não de julgamento, ou seja, não define se o 2726 consumidor tem razão ou não, mas garante que para o juiz ter todos os ele- mentos de convencimento o consumidor conte com uma obrigação do forne- cedor em fornecer as provas de respeitou e cumpriu seus deveres para com o consumidor. 2.1 – Verossimilhança A verossimilhança é um juízo de probabilidade, onde após sopesar os moti- vos que lhe são favoráveis em contrapartida aos desfavoráveis, reste maior peso aos motivos favoráveis (convergentes) de que o direito e a situação de fato são realmente verdadeiros. É uma alta probabilidade de que o alegado pode ser verdadeiro e merece o benefício de “parecer verdade”. 2.2 – Hipossuficiência Conforme já vimos em aulas anteriores, não se trata de vulnerabilidade ma- terial, mas de situação desfavorável processualmente falando. Quando falta ao consumidor, por exemplo, conhecimento das normas técnicas e infor- mações especializadas das quais não tenha a obrigação de conhecer, con- sideramos que este consumidor seja hipossuficiente. Não está relacionado à questão meramente econômica, mas sim à um conjunto de situações que demonstram o desequilíbrio perante o fornecedor em produzir, guardar e conhecer de provas de situações de fato e/ou de direito. 3 - Questão polêmica: Qual o momento da inversão do ônus probatório? A doutrina questiona qual seria o melhor momento para o juiz considerar e decidir sobre o ônus da prova. Três são as correntes existentes. Na primeira o juiz deverá conceder a inversão do ônus da prova apenas por ocasião da sentença, após a instrução. A segunda corrente acredita que o próprio con- sumidor, na inicial de sua ação, já deve requerer tal inversão, posto que uma vez concedida tratar-se-á de Decisão Interlocutória, cabível de recurso. Tal corrente é interessante pois uma vez que a inversão do ônus pode, ou não, ser concedida, será possível recorrer da decisão e portanto revista a decisão. Já a terceira corrente estabelece que o momento da inversão do ônus pro- bandi seria o despacho saneador, no qual o magistrado, saneando o pro- cesso, no intuito de que o mesmo possa prosseguir de forma regular, livre de vícios ou quaisquer questões que venham obstar a análise do mérito da causa, colocando em ordem o processo e, consequentemente, determinando as providências de natureza probatória, evitando, dessa maneira, qualquer ofensa aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2928 RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO - DEFEITO E VÍCIO O CDC concentra a abordagem da responsabilidade civil no produto e no serviço. Nesse contexto, surgem a responsabilidade pelo vício ou pelo fato, sendo o último também denominado de defeito. Dentre todas as situações previstas pela legislação de proteção ao consumidor para responsabilizar ci- vilmente (ter a obrigação de indenizar) há grandes diferenças de efeitos e requisitos dependendo se o dano foi oriundo de vício ou do fato/defeito do produto e/ou serviço. Portanto, é importante diferenciar o vício do fato ou defeito . a) Vício: Seja do produto ou do serviço, no VÍCIO o problema fica dentro dos limites e características do bem de consumo, sem outras repercussões, não causa dano à saúde, não provoca reação nas pessoas e/ou outros objetos. É a mera inadequação do produto ou do serviço para os fins a que se destina. Enfim, são prejuízos intrínsecos. Exemplo Produto: Um celular que de repente para de funcionar ou apresenta defeito na tela, sem causar nenhum outro prejuízo a não ser o seu conserto ou substituição. Exemplo Serviço: Consumidor contrata um eletricista e após a execução do serviço ainda exis- tem lâmpadas que não acendem e tomadas que não funcionam. b) Fato ou defeito: Seja também do produto ou serviço, no fato/defei- to há consequências a terceiros, que extrapolam o âmbito do produto ou Responsabilidade Civil - Prescrição e Decadência ue03 serviço e provocam danos externos, como é o caso de danos materiais de- rivados, danos à saúde, danos morais, danos estéticos, etc. diz respeito à insegurança do produto ou do serviço. Provocam prejuízos extrínsecos. É o que se denomina acidente de consumo. Espécies de defeitos: de fabricação, de concepção e de comercialização. Em síntese, o produto defeituoso é aquele que não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. Observam-se a informação do produto, a sua apresen- tação, os riscos que ele pode causar, levando-se em consideração a época em que foi colocado em circulação. Trata-se da teoria do risco do desenvolvimento. Exemplo Produto: um celular que quando está carregando explode, da- nificando os móveis próximos e causando queimaduras em uma pessoa que estava próxima. Exemplo Serviço: Consumidor contrata um eletricista e após a execução Um caso concreto famoso por sua didática, elaborado pelo doutrinador Riz- zatto Nunes, merece ser mencionado: Dois consumidores adquirem dois li- quidificadores em uma loja de departamentos e resolvem utilizar o produto para fazer um bolo. Quando o primeiro liga o aparelho, o motor estoura, fazendo com que a pá de liquidificação fure o copo e atinja a barriga do con- sumidor, que é hospitalizado. Na situação, está presente o fato do produto ou defeito. A segunda consumidora liga o seu aparelho e os mesmos fatos acontecem. Porém, a pá do liquidificador fura o copo, mas não atinge o con- sumidor, estando evidenciado o vício do produto. Fica claro, portanto, que “no primeiro caso, ele sofreu acidente de consumo. É defeito. No segundo, ela nada sofreu. Apenas o liquidificador deixou de funcionar. É vício”. Mas enfim, para que serve essa diferença? A resposta deste item gira em tor- no da RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. Na Responsabilidade Solidária, todos os envolvidos na cadeia de produção do produto e/ou serviço podem responder pelos danos causados por fatos e/ 3130 ou vícios de seus produtos e/ou serviços. Na prática, o consumidor poderia escolher quem processar, pois todos, do produtor ao comerciante, responde- riam integralmente pelos danos. O Código Civil em seu art. 265 dispõe que a solidariedade não se presume, decorre da lei (solidariedade legal) ou da vontade das partes (solidariedade convencional). Ainda, de acordo com o art. 942 do Código Civil, os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado. Se a ofensa tiver mais de um autor, todos res- ponderão solidariamente pela reparação. Complementando, de acordo com o seu parágrafo, são solidariamente responsáveis com os autores os coauto- res do ato e as pessoas designadas no art. 932 da mesma norma. O CDC prevê quatro hipóteses de responsabilidade civil (obrigação de indenizar): A. responsabilidade pelo vício do produto; B. responsabilidade pelo fato do produto ou defeito; C. responsabilidade pelo vício do serviço; D. responsabilidadepelo fato do serviço ou defeito. Em três delas, há a solução da solidariedade, respondendo pela obrigação de indenizar todos os envolvidos com o fornecimento ou a prestação. Em uma delas, a solidariedade não é aplicada. A exceção à solidariedade atinge o fato do produto ou defeito, conforme consta dos arts. 12 e 13 da Lei 8.078/1990. Isso porque ambos os comandos consagram a responsabilidade imediata do fabricante – ou de quem o substi- tua nesse papel – e a responsabilidade subsidiária do comerciante. Veremos melhor esse tema quando da aula específica. RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO - CULPA E DANOS A responsabilidade é de fato uma obrigação que ocorre por um dever contra- tual ou extracontratual, assim como, quando uma norma é violada, quem a descumpriu deve reparação pelo prejuízo causado. A partir da Lex Aquilia (Roma antiga) ficou estabelecida que a culpa seria fundamental para caracterizar a responsabilidade. Atualmente, a responsa- bilidade civil pode advir tanto dos atos ilícitos quanto dos lícitos que im- portam riscos. A regra geral prevista no Código Civil é a responsabilidade subjetiva, aquela que depende da comprovação da culpa do agente. Nesse sentido, a responsabilidade SUBJETIVA precisa dos seguintes elementos: a) Conduta humana antijurídica ou conduta ilícita: usa-se nesse caso o termo “neminem laedere”, que traduzido significa “ninguém pode le- sar ninguém”. Deve haver uma ação (consciente ou não) que seja contrária à Lei. Note-se que a culpa é parte da conduta antijurídica, quando feita de for- ma consciente (dolo) ou inconsciente (culposo). Esse é o elemento essencial e caracterizador da responsabilidade subjetiva. A culpa é dividida em “lato sensu” e “stricto sensu”. A culpa “lato sensu” re- presenta o dolo, a intenção de provocar o dano. Já a culpa “stricto sensu” se- ria a não intenção de causar dano, mas que ocorre em razão de IMPERÍCIA, NEGLIGÊNCIA OU IMPRUDÊNCIA. • Negligência: Na negligência, alguém deixa de tomar uma atitude ou apresentar conduta que era esperada para a situação. Age com descui- do, indiferença ou desatenção, não tomando as devidas precauções. • Imperícia: Para que seja configurada a imperícia é necessário constatar a inaptidão, ignorância, falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausência de conhecimentos elementares e bá- 3332 sicos da profissão. Um médico sem habilitação em cirurgia plástica que realize uma operação e cause deformidade em alguém pode ser acusado de imperícia. • Imprudência: A imprudência, por sua vez, pressupõe uma ação precipitada e sem cautela. A pessoa não deixa de fazer algo, não é uma conduta omissiva como a negligência. Na imprudência, ela age, mas toma uma atitude diversa da esperada. b) Dano: É a lesão a um bem jurídico ou o prejuízo sofrido pela vítima que pode ser patrimonial ou extrapatrimonial. c) Nexo de causualidade: Relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado ou a ligação entre a conduta do agente e o dano. É o elo de ligação entre a ação e/ou omissão, o dano e suas consequências, fundamental para estabelecer o quantum indenizatório. O nosso CDC implantou um tipo diferente de responsabilidade, a RESPON- SABILIDADE OBJETIVA. Neste tipo a CULPA deixa de ser elemento essen- cial e a Conduta humana é substituída pelo RISCO DA ATIVIDADE, deriva- da da teoria de mesmo nome. A teoria do risco da atividade No direito do consumidor toda atividade econômica pressupõe risco para o consumidor, portanto uma vez que a atividade econômica traga dano ao con- sumidor, surge o dever de reparar esse dano, independentemente da com- provação de dolo ou culpa do fornecedor. O CDC transfere de forma integral o risco da atividade para quem a exerce e dela aufere lucro e/ou renda. Para o Direito do Consumidor a regra é a Responsabilidade OBJETIVA. Nesse tipo de responsabilidade a reparação do dano se baseia no dano causa- do e sua relação com a atividade desenvolvida pelo agente. Incide sobre ati- vidades que potencialmente ofereçam risco à coletividade. A atividade pode ser lícita, mas sua existência faz com que provoque danos e as vítimas devem ser protegidas. A obrigação de reparar surge da existência de um dano e da relação de causalidade com determinada atividade. ATENÇÃO: Não se confunde responsabilidade objetiva com a culpa presumida! Na culpa presumida ocorre uma inversão do ônus de prova. Presu- me-se a culpa por um comportamento do causador do dano, cabendo a este demonstrar ausência de culpa, para se eximir de indenizar. É um artifício PROCESSUAL e pode ser aplicado fora do CDC. Em caso de culpa presumida deve-se provar a conduta antijurídica, a culpabilidade, o dano e o nexo de causalidade; mas no caso da CULPA PRESUMIDA, o elemento culpa presu- me-se já provado. Só ocorre em casos previstos em lei. Já na responsabilidade objetiva, o agente responderá mesmo se tiver agido sem culpa e os elementos a serem provados pela vítima em uma eventual ação de indenização são o dano e o nexo de causalidade. EXCEÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL Conforme previsão no Art. 12, §3º do CDC, o fabricante, o produtor, o cons- trutor e o importador só não responderão pelo fato do produto se provarem as seguintes excludentes: I. que não colocaram o produto no mercado: o produto, por exem- plo, tem outro fabricante; II. que, muito embora o produto tenha sido colocado no mercado, o defeito inexiste: o produto foi colocado perfeito no mercado; III. que ocorreu culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: Das 03 hipóteses acima, a primeira é facilmente imaginável. Ex: Consumidor processa uma fábrica de refrigerantes por fato ocorrido no produto de uma cervejaria. Nesse caso a fábrica de refrigerantes poderá provar que não produz ou fabrica aquela cerveja, excluindo qualquer responsabilidade sobre o fato. 3534 Na segunda hipótese não haverá dever de indenizar por parte dos fornecedo- res e prestadores por não haver dano reparável. Ex: O cigarro é um produto perigoso, que faz mal à saúde, porém é colocado no mercado conforme todas as especificações técnicas previstas e regulamentadas em Lei. Não pode en- tão o consumidor pleitear indenização uma vez que o produto embora cause dano, é colocado no mercado de forma “perfeita”. A terceira hipótese é a mais importante e cobrada em provas. É a que trata da CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR e da CULPA CONCOR- RENTE (TERCEIROS). Na hipótese de culpa exclusiva do consumidor, o próprio consumidor é o único responsável pela ocorrência do dano, não tendo o fornecedor contri- buído de qualquer forma para o fato do produto e/ou serviço. Tem-se, na espécie, a auto exposição da própria vítima ao risco ou ao dano, por ter ela, por conta própria, assumido as consequências de sua conduta, de forma consciente ou inconsciente. Na hipótese de Culpa Concorrente, uma pessoa, completamente estranha ao ciclo de produção (da fábrica ao varejo dos produtos ou com a prestação dos serviços) ou à relação de consumo é quem teria, por ação e/ou omissão pro- vocado o dano. Esta é uma modalidade ligada ao NEXO DE CAUSALIDADE, onde deve ficar claro que sem a participação do terceiro não haveria o dano. Contudo, se a pessoa que causou o dano pertence ao ciclo de produção, não pode ser invocada a sua condição de terceiro, pois o fornecedor é responsável por seus prepostos nos termos do art. 34 do CDC. Exemplo de caso de excludente da responsabilidade por culpa exclusiva de terceiro: o carro tem vício no freio, mas, na verdade, quem causou o acidente foi o outro motorista, que passou no farol vermelho. Por fim, vale informar que as excludentes de responsabilidade do art. 12, §3º se apresentam em“numerus clausus”, ou seja, são em rol taxativo, represen- tado pela expressão “só não será responsabilizado quando provar”. Em todas as demais hipóteses, o fabricante, o produtor, o construtor e o importador responderão de forma objetiva. Caso fortuito e a força maior Caso fortuito se funda na imprevisibilidade. Já a força maior se baseia na irresistibilidade. Alguns doutrinadores, no entanto, consideram que a for- ça maior exprime a ideia de um acidente da natureza (raio, ciclone, tsunami, terremoto), enquanto o caso fortuito indica um fato do homem, como por exemplo, a guerra ou a greve. Independentemente disso é importante ressal- tar: NÃO SÃO EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO FATO DO PRODUTO O CASO FORTUITO E A FORÇA MAIOR. Ambos se- rão absorvidos pelo risco da atividade do fornecedor, quando provocam o acidente de consumo. Do serviço de transporte de pessoas Fique atento: no transporte de pessoas a excludente da culpa ou fato exclu- sivo de terceiro não é cabível. Estabelece o art. 735 do Código Civil que: “A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”. Percebe-se que a proteção estabelecida no Código Civil é mais vantajosa para os consumidores do que a aplicação do Código do Consumidor, cabendo a aplicação do Código Civil por ser mais vantajosa para o Consumidor. Um exemplo é o famoso caso do avião que caiu na região Centro-Oeste do Brasil, por ter sido atingido por um jatinho (culpa exclusiva de terceiro), a empresa aérea deve indenizar os familiares, consumidores por equiparação, pela inci- dência da norma civil. Por incrível que pareça, se fosse incidente o Código do Consumidor, isoladamente, a empresa aérea não responderia. 3736 RESPONSABILIDADE CIVIL POR DEFEITO DE PRODUTO OU SERVIÇO 1 – Conceito de fato de produto ou serviço Defeito (ou fato) de produto ou de serviço estão referidos nos artigos 12 e 14 do CDC, respectivamente, e também são chamados de ACIDENTES DE CONSUMO. Os produtos que, por seus defeitos, causarem danos, trarão, como consequência, a responsabilidade civil do fornecedor, independente- mente de culpa. O mesmo ocorre em caso acidente de consumo por fato/ defeito de serviço verificados na prestação de um serviço, bem como por in- formações insuficientes ou inadequadas sobre a sua fruição e riscos. 2 – Responsabilidade Civil Aplicável Nas relações abrangidas pelo CDC a regra é a responsabilidade objetiva e solidária, que atribui ao consumidor o direito de escolher de quem pleite- ar os danos, se do comerciante ao qual adquiriu o produto ou serviço, por estar mais próximo de si dentro desta relação, ou se do fabricante ou figura correlata, mesmo que nunca tenha interagido com o mesmo, estando mais distante na relação de consumo. “O consumidor tem a faculdade de escolher qualquer um deles, se- parada ou conjuntamente, pelo total dos danos, não podendo o for- necedor acionado denunciar a lide, por expressa vedação do CDC”. Assim, aplica-se a responsabilidade objetiva e solidária, em caso de acidente de consumo, isto é, o fornecedor responde independentemente da exis- tência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, monta- gem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamen- to de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO = ACIDENTE DE CONSUMO Art. 12, CDC: “O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informa- ções insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.” Art. 14, CDC: “O fornecedor de serviços responde, independente- mente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” O produto defeituoso é aquele que não oferece a segurança que dele legi- timamente se espera. A segurança esperada deve, necessariamente, incor- porar todos os princípios e direitos básicos do consumidor. O produto deve conter a informação correta de suas especificações técnicas, forma de uso, apresentação, obrigatoriamente alertar sobre os riscos que pode causar ao consumidor, os requisitos mínimos para seu uso seguro, e levando-se em consideração a época em que foi colocado em circulação. Trata-se da teoria do risco do desenvolvimento. 3 - Responsabilidade do comerciante: Em regra, a responsabilidade do comerciante é subsidiária. A responsabili- dade subsidiária advém do fato de o fabricante e o produtor serem os verda- deiros introdutores do risco no mercado ao inserirem produtos defeituosos em circulação, cabendo ao comerciante apenas avaliar a qualidade dos bens que coloca à venda em seu estabelecimento. O comerciante responde solidariamente, ou será igualmente responsável, nas hipóteses do art. 13 do CDC, quando: I. quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; 3938 II. quando não houver no produto identificação clara do fabricante, produtor, construtor ou importador; III. quando o comerciante não conservar adequadamente os produ- tos perecíveis. Tratando-se de responsabilidade solidária, aquele que pagar integralmente a indenização poderá propor ação de regresso contra os demais. O comercian- te poderá exercer o direito de regresso contra o produtor, fabricante ou im- portador em ação autônoma ou na mesma ação, desde que já tenha reparado os danos ao consumidor. A impossibilidade da intervenção de terceiros na ação de reparação de dano por fato do produto se justifica por dois motivos: retardaria a reparação do consumidor; e importaria na inclusão de nova argumentação jurídica na lide, já que entre os fornecedores a responsabilidade é subjetiva e deveria ser pro- vada a culpa daquele que contribuiu para a causação do evento danoso. RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIO DO PRODUTO Responsabilidade civil por vício do produto ou do serviço A responsabilidade civil por vícios do produto e do serviço está prevista nos artigos 18 e seguintes do CDC, que estabelecem a solidariedade de todos os fornecedores da cadeia produtiva e também prevê a responsabilidade objeti- va, aquela que independe da culpa. Mantem-se o entendimento do CDC em que seu objetivo é a reparação efetiva dos danos, ampliando a possibilidade de responsabilizar o maior número de pessoas participantes da cadeia pro- dutiva, ou seja, dos que lucram com a atividade econômica. A meta final de tais procedimentos é assegurar que os fornecedores e todos os demais agentes da cadeia produtiva cumpram com o dever de garantir a qualidade dos produtos e serviços, proporcionando a segurança do con- sumidor em relação à economia de massa, ou seja, a responsabilidade civil ampla, que transcende a figura do comerciante e/ou do fabricante original é o que assegura que um número maior de atores destes processos estejam também preocupados com o destinatário final de seus produtos e serviços, os consumidores. 1. Responsabilidade Civil por Vício do Produto Trata-se de um princípio de garantia que guarda similaridade com os vícios redibitórios, porém não se confundem com os mesmos. Os vícios redibitó- rios são defeitos ocultos da coisa que darão causa, quando descobertos, àresilição contratual, com a consequente restituição da coisa defeituosa, ou ao abatimento do preço. Já os vícios de qualidade ou quantidade dos produtos ou serviços, ao revés, podem ser ocultos ou aparentes, e contam com mecanismos reparatórios muito mais amplos, abrangentes e satisfatórios do que aqueles. Nas Relações de Consumo não se aplicam os requisitos da configuração dos vícios redibitórios, quais sejam: que a coisa seja recebida em virtude de uma relação contratual; que os defeitos ocultos sejam graves; e. ainda, que os de- feitos sejam contemporâneos à celebração do contrato. Isto porque no Direito do Consumidor não se aplica o “pacta sunt servanda” mas sim o “rebus sic stantibus”, portanto não há distinção quanto ao valor dos produtos e nem se leva em consideração o fato de o defeito ser anterior ou posterior à sua introdução no mercado de consumo. 2 - Espécies de Vício do Produto Os vícios do produto dividem-se em vícios de qualidade (art. 18 do CDC) e em vícios de quantidade (art. 20 do CDC). a) Vícios de qualidade do produto (art. 18 do CDC) Tornam o produto impróprio e/ou inadequado ao consumo a que se destina, po- dendo diminuir o valor do produto. Podem estar em desacordo com o contido: 4140 I. no recipiente ou na embalagem (lata, pote, garrafa, caixa, saco, etc.); II. no rótulo (informação estampada no recipiente ou na embalagem); III. na publicidade; IV. na apresentação (balcão, vitrine, prateleira, etc.); V. na oferta ou na informação (folheto, contrato, informação verbal, etc.). b) Vícios de quantidade do produto (Art. 19 do CDC) Haverá vício de quantidade quando o consumidor pagar o preço maior do que aquele correspondente à quantidade ou metragem do produto que lhe foi oferecido. Existe também vício de quantidade quando o produto é pesado juntamente com a embalagem, sem o desconto devido. Assim sempre que houver divergência de peso, tamanho, ou volume do pro- duto em relação às indicações constantes no recipiente, embalagem, rotula- gem ou mensagem publicitária, isso gera a obrigação de o fornecedor ressar- cir os prejuízos experimentados pelo consumidor. Respondem solidariamente os fornecedores pelos prejuízos causados por ví- cio de quantidade. Observação: Não haverá vício de quantidade quando a variação encontrada decorrer da natureza do produto. Ex: Quando o consumidor pede na padaria por 10 pães, sabe que o peso de cada pão pode variar de acordo com cada fornada, por isso hoje é obrigatória a venda de pães no peso e não mais por unidades. PRODUTOS IN NATURA E ALTERNATIVAS NOS CASOS DE VÍCIO DO PRODUTO 1 - Produtos In Natura As relações de consumo podem envolver, basicamente, dois tipos de produ- tos: industrializados ou in natura. O CDC no seu § 5º do art. 18 estabeleceu tratamento diferenciado aos produtos in natura. A definição de produto in natura ou produto agrícola ou pastoril remete ao produto que é colocado no mercado de consumo sem sofrer qualquer processo de industrialização. A responsabilidade do comerciante imediato pelos eventuais vícios de quali- dade do produto in natura se justifica por sua natureza orgânica, já que estes produtos correm maior risco de deteriorar-se nas prateleiras em função de mau acondicionamento, de alteração de embalagem ou mesmo pelas condi- ções climáticas do estabelecimento. O CDC prevê expressamente a responsabilidade exclusiva do produtor nos casos em que ele puder ser identificado e desde que o fornecedor imediato demonstre que o produtor deu causa ao perecimento do produto. Ou seja, há necessariamente uma análise do nexo de causalidade que deve ser provado pelo comerciante/fornecedor imediato. Neste sentido, deve-se ter em mente que o CDC relativizou a presunção de culpa do fornecedor imediato, pois admite a prova da culpa exclusiva do pro- dutor, excluindo, portanto, a culpa do fornecedor finalístico. 2 - Alternativas do Consumidor em Caso de Vício do Produto Já entendemos os casos de vício do produto. Mas o que fazer quando nos deparamos com estas situações? Nestes casos, o consumidor pode exigir a substituição das partes viciadas. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o con- sumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: A. Substituição do produto; B. Restituição da quantia paga; C. O abatimento do preço. Atente que o consumidor poderá fazer uso IMEDIATO das alternativas acima relacionadas, sem esperar o prazo de 30 dias, sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer 4342 a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. Isso de acordo com o parágrafo 3 do art. 18, do CDC. As partes poderão convencionar a redução ou ampliação do prazo de 30 dias para substituição das partes viciadas do produto, sendo que esta alteração de prazo não poderá ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. Caso o consumidor opte pela substituição do produto e não seja possí- vel, seja porque não há mais unidades em estoque ou o produto tenha saído de linha, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual di- ferença de preço, sem prejuízo de o consumidor escolher o disposto nos incisos II e III do § 1° do artigo 18 do CDC. PRAZO DECADENCIAL E PRESCRICIONAL A prescrição e decadência no código civil Para entendermos as distinções entre prescrição e decadência temos que en- tender que ambos tem efeitos na esfera processual e no direito material. PRESCRIÇÃO: interfere no direito de AÇÃO, é uma das causas que impede que a pessoa esteja no pólo ativo para defender seus direitos, impede que a pessoa ingresse com ação na justiça. Ou seja, extingue a pretensão do direito material. Pode acontecer pelo seu não exercício no prazo estipulado em lei. Efeito Processual: Uma vez decretado, extingue o processo com julgamento de mérito. Efeito Material: Impossibilita o exercício do direito de ação. Ex: Hotel hospedou uma pessoa por uma diária e ela saiu sem pagar. O Hotel deixou passar mais de 01 (um) ano para ajuizar a ação de cobrança. Não poderá mais fazê-la pois prescreveu o direito de ajuizar o judiciário para sub- meter a vontade do outro à sua. DECADÊNCIA: Já na decadência o que perece não é mais o direito de ação e sim o próprio direito material, que deixa de existir, ou seja, não pode nem ser requerido, nem defendido. Ocorre quando o direito não é exercitado den- tro do período previsto em lei. Efeito processual: Uma vez decretada a de- cadência, extingue o processo com julgamento do mérito. Efeito Material: extingue o direito que seria a causa de pedir, ou seja, não permite ação sobre o direito que decaiu. Ex: Casal se casou e depois de 02 anos um dos cônjuges descobre erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. Nesse caso o direito de anular o casamento já decaiu, pois o prazo para exercer esse direito é de 02 anos decadenciais a contar do casamento. PRAZO: A contagem do prazo de prescrição pode ser interrompida ou sus- pensa e não corre contra determinadas pessoas. Já os prazos de decadência fluem sem descanso contra quem quer que seja, não se suspendendo, nem admitindo interrupção. A prescrição atua diretamente na ação, então o seu prazo começa a ser contado a partir do dia em que a ação poderia ser propos- ta e não o foi. É o princípio da “actio nata”, ou seja, a prescrição começa do dia em que nasce a ação ajuizável. NATUREZA JURÍDICA: A Prescrição deriva de lei e, mesmo depois de consumada,pode ser renunciada (direito disponível); já a decadência igual- mente deriva da lei, mas também pode se originar do contrato e do testamen- to. Por ser direito indisponível não pode ser renunciada pelas partes, nem depois de consumada. Quadro das diferenças clássicas entre prescrição e decadência pelo código civil PRESCRIÇÃO – CC/02 DECADÊNCIA – CC/02 Perda do direito à pretensão Perda do direito subjetivo material Instituto de direito privado Instituto de direito público Direito a uma prestação Direito potestativo Possível somente em ações condenatórias Possível em ações condenatórias e constitutivas Pode ser interrompida ou suspensa Não pode ser interrompida ou suspensa Não corre contra determinadas pessoas Corre o prazo para todas as pessoas 4544 Prescrição e decadência no cdc Como observamos acima, tanto a prescrição como a decadência derivam de pre- visão legal. O CDC então estabelece as suas hipóteses de forma diferenciada. DECADÊNCIA NO CDC: Previsto no artigo 26, está vinculado aos VÍCIOS do serviço e do produto. Para o CDC “o direito de reclamar pelos vícios apa- rentes ou de fácil constatação caduca em trinta dias, tratando-se de forneci- mento de serviço e de produtos não duráveis” e em “noventa dias, tratando- -se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis”. O termo inicial deste prazo se dá com a efetiva entrega do produto ou com o término da execução dos serviços. Porém, caso seja o vício oculto o termo inicial será o “momento em que ficar evidenciado o defeito” (art. 26, CDC). ATENÇÃO: Ainda o art. 26, estipula que os prazos decadenciais obstam com a “reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor pe- rante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca” e pela ”instauração de inquérito civil, até seu encerramento”. O termo “OBSTAM” ainda não é pacífico na doutrina. Para uma corrente é considerado como interrupção do prazo (diferencian- do-se do conceito do Código Civil) por ser mais benéfico ao consu- midor, para outra corrente seria apenas um impedimento de que a decadência possa ser decretada durante este período previsto em lei. Para sua prova da OAB, use a segunda corrente, por ser a mais usada pela FGV. PRESCRIÇÃO NO CDC: Previsto no artigo 27, refere-se à responsabili- dade pelo FATO do produto ou serviço. O CDC preceitua que “prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”. PRESCRIÇÃO – CDC DECADÊNCIA – CDC Fato do produto ou do serviço Acidente de consumo Vício do produto ou Vício do serviço Prazo para exercer a pretensão à repa- ração de danos causados ao consumi- dor é de 5 anos Prazos para reclamar: Bens não duráveis - 30 dias / Bens duráveis - 90 dias Termo inicial do prazo a partir do co- nhecimento do dano e de sua autoria. O termo inicial do prazo: Vício aparente: da efetiva entrega do produto ou do término da execução dos serviços. Vício oculto: do mo- mento em que ficar evidenciado o defeito. 4746 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS Conceito de Práticas Comerciais: Ações e costumes que abrangem técnicas e métodos utilizados por fornece- dores para incrementar a comercialização dos produtos e serviços destinados ao consumidor, incluindo as ações pós e pré-vendas, como os mecanismos de cobrança e os serviços de proteção ao crédito. O Código de Defesa do Consumidor vislumbra o equilíbrio das relações de con- sumo. Para alcançar tal equilíbrio, optou-se por regular a proteção ao consu- midor no que tange à formação do contrato e a sua execução. Práticas abusivas são práticas comerciais, comportamentos ilícitos, que afrontam a principiolo- gia e a finalidade do sistema de proteção ao consumidor, bem como se relacio- nam com o abuso do direito. Em outras palavras, é um comportamento desleal do fornecedor que tenta se aproveitar da vulnerabilidade do consumidor. Dentre os princípios inerentes à relação de consumo, destacam-se o prin- cípio da transparência, o princípio da boa-fé, o princípio da equidade (ou equilíbrio contratual) e o princípio da confiança. Cada princípio, ao ser viola- do, tem correspondência com determinada prática comercial abusiva como veremos a seguir: O CDC estabelece uma série de práticas comerciais que o legislador conside- ra como abusivas, nos arts. 39 40 e 41. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: Práticas Abusivas ue04 A. Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao forneci- mento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; B. Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de confor- midade com os usos e costumes; C. Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço, inclusive às amostras grátis; D. Prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; E. Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; F. Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e auto- rização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; G. Repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; H. Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Asso- ciação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade creden- ciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); I. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; J. Recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; K. Elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. L. Deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. M. Aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contra- tualmente estabelecido. 4948 Dentre as práticas acima dispostas, vamos nos concentrar, nesta aula, em duas das mais usuais, previstas no item a da relação acima. 1 - Venda casada: Essa prática consiste no fornecimento de produto ou serviço sempre condicionado à venda de outro produto ou serviço. Essa prá- tica está expressamente vedada pelo art. 39, II do CDC, de forma que o con- sumidor não está obrigado a adquirir um produto ou serviço imposto pelo fornecedor para que possa receber o que realmente deseja. Apesar de proibi- da, infelizmente ainda é comum no nosso mercado de consumo. Pode-se diferenciar a venda casada “stricto sensu”, como sendo aquela em que o consumidor está impedido de consumir, a não ser que consuma tam- bém um outro produto ou serviço, da venda casada “lato sensu”, em que o consumidor pode adquirir o produto ou serviço sem ser submetido a adquirir outro, porém, se desejar consumir outro, fica obrigado a adquirir do mes- mo fornecedor, ou de fornecedor indicado pelo fornecedor original. Ambas as hipóteses são igualmente consideradas práticas abusivas, indevidamente manipuladoras da vontade do consumidor, que fica diminuído em sua liber- dade de opção. Ex: Consumidor ser obrigado a levar um
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