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MODELO DE PRODUÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO EAD PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM ANEXO I 2 Psicologia e Aprendizagem Apresentação da disciplina Este livro foi construído para auxiliar todo aquele acadêmico que atravessa o Campo da Licenciatura com prospectivas de atuar como professor em seu curso favorito. Nos dez capítulos que o compõe, denominado de Psicologia e Aprendizagem, a preocupação está no ser humano, na sua vivência em sociedade e interligando-se estes dois campos: Psicologia e Aprendizagem. O primeiro capítulo estuda o desenvolvimento humano em suas características consideradas comuns a cada faixa etária, sendo permeadas pela interação de fatores que compuseram ou que comporão a história de cada um e da própria história da humanidade sob a perspectiva da Psicologia como estudo da “alma” originária da Filosofia e na procura de estabilidades e harmonias a cada faixa/ fases e suas mudanças advindas. Entrelaçam-se desenvolvimento humano e aprendizagem, mesclando-se como resultados das estruturas mentais e meio ambiente, suas influências e aquisições individuais. Para entender a aprendizagem humana, no segundo capítulo, tem destaque o Cérebro e suas estruturas e funções principais como a “máquina fascinante”, conectado pelo sistema nervoso que vai gerenciando a capacidade física, mental e conduzindo as informações entre os órgãos receptores de estímulos. Neste entremeio, a maturação vai ocorrendo no ser humano, que evolui, chegando aos bancos escolares, estendendo-se às suposições sobre o aprendizado cotidiano escolar, às formas de conviver, legislar e gerir políticas educacional- econômica e social, abordadas no terceiro capítulo sob o prisma de diferentes teorias que tentaram explicar a aprendizagem, oportunizando uma reflexão sob as formas diferentes de perceber o processo de ensino aprendizagem ao longo da própria evolução humana: Inato-maturacionista; empirista, cognitivista e interacionista com destaque aos seus principais idealizadores e expoentes. Chega-se no quarto capítulo ao estágio – adolescência, analisado sob o seu desenvolvimento biopsicossocial e naturalmente cognitivo, que refletirá no seu mundo adulto, perpassando o sujeito conservador para o reflexivo, chegando a juventude (adulto-jovem), marcando as gerações X,Y e Z no mundo ocidental e para este entendimento estará, certamente, o professor envolvido. Mas o mundo sofre a influência deste adolescente à medida que ele atinge, também, a idade adulta e muitos até a envelhecência, com curiosidades a serem desvendadas ou entendidas pelo leitor acadêmico. O quinto capítulo parte do embasamento do capítulo anterior e faz uma análise rápida da evolução do processo de humanização para chegar ao adulto. 3 Psicologia e Aprendizagem Agora é o campo do próprio acadêmico como ser humano que se desenrola no desenvolvimento do conhecimento, do conhecer-se, fazendo desfilar a origem recente do estudo sobre o adulto e das especializações que se geraram para ser uma pessoa saudavelmente humana ou melhor na contemporaneidade. Isto posto, no sexto capítulo há uma retomada analítica sobre a aprendizagem em diferentes contextos: formal ou não formal, envolvendo a aquisição de habilidades e competências desde a criança até o adulto como evidência de maleabilidade e de plasticidade cerebral, principalmente. A comunicação pede passagem no sétimo capítulo para desfilar perspectivas históricas e didáticas objetivando a compreensão da necessidade de esclarecimentos sobre a integração desta área de conhecimento à área da Educação, por meio da narrativa de inovações apresentadas pelas mídias digitais, agora ao alcance de todos e, em especial, daqueles que estão em situação de aprendizagem. Nesta “aldeia”, no oitavo capítulo, a “casa ou tribo” familiar e suas tipologias, constituições sociais, arranjos de convivência são tratados sob aspectos de relação ajustada ou não, ressaltada a importância da afetividade usada, seu grau, suas implicações e consequências. Então, aparece o lúdico e as artes, no nono capítulo, aplicadas nesta convivência, com possibilidades de levar a sonhar com o potencial artístico mais inato e, respondendo a necessidades de quem possui determinadas habilidades transformando em competências o belo, o criativo, artístico, até mesmo vantajosamente econômico-social- cultural e a autorrealização. Como trabalhar é questionamento feito e tentativa de resposta para quem deseja aplicar em educação e em diferentes idades. Com o desenrolar deste trabalho e para finalizar, no décimo capítulo, procura-se dialogar com certos desconhecimentos que o ser humano possa ter em relação a dogmas, preconceitos, aos apegos, às perdas necessárias ou inconscientes, que podem conduzir a experiências inusitadas, além de constituir em aprendizagem social e emocional. Não esqueça que este livro é um roteiro de leitura e condutor para o estudo de assuntos que não pretendem se esgotar aqui. Pesquise mais a respeito para que você possa participar dos fóruns e contribuir com algo novo ou não pensado, mas importante. Desejamos a cada um, em particular, muito bom estudo, bom desempenho na interligação de experiências pessoais importantes com os temas trazidos nas páginas que ora se descortinam. Os (as) Autores (as) 4 Psicologia e Aprendizagem Sumário 1. DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM 2. AS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM HUMANA E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA PEDAGÓGICA - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO 3. ABORDAGEM INATISTA. ABORDAGEM EMPIRISTA. ABORDAGEM COGNITIVISTA. ABORDAGEM INTERACIONISTA 4. ADOLESCÊNCIA: SEU DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL E COGNITIVO QUE SE REFLETE NO COMPORTAMENTO ADULTO 5. O MUNDO ADULTO: UM DESENVOLVIMENTO A SER PERCORRIDO CHEGANDO NA CONTEMPORANEIDADE 6. CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM EM DIFERENTES CONTEXTOS: FORMAL E NÃO FORMAL 7. TECNOLOGIA DA COMUNICAÇÃO: OS DESAFIOS COTIDIANOS DA APRENDIZAGEM 8. GRUPO FAMILIAR: UM CONTEXTO, VÁRIAS REALIDADES 9. O DESENVOLVIMENTO HUMANO ATRAVÉS DE PROCESSOS LÚDICOS E DAS ARTES 10. DESENVOLVIMENTO HUMANO NA PERSPECTIVA DAS EMOÇÕES: PERDAS AO LONGO DA VIDA 5 Psicologia e Aprendizagem 1. Desenvolvimento Humano e Aprendizagem Luciana Schermann Azambuja1 Introdução Vimos instigar o seu pensamento para torná-lo mais consciente sobre o que vivemos todo dia, conosco e, com todos ao nosso redor: o desenvolvimento humano! Com características biológicas, sociais, cognitivas e psicológicas, o desenvolvimento se caracteriza por fases etárias, por maturação, por estágios, ao longo de toda vida, assim como a aprendizagem, com suas complexas interações entre estruturas mentais e o meio ambiente, num desenrolar de estar sempre acontecendo e evoluindo. Então, por se tratar de educação como foco, entrelaçam-se desenvolvimento humano e aprendizagem, cujas tessituras se mesclam em/e como resultados das estruturas mentais e meio ambiente, suas influências e aquisições individuais coloridamente peculiar. 1.1 Desenvolvimento Humano “ Podemos dizer que cada homem aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe preciso ainda entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante, através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles” (Leontiev). O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e aocrescimento orgânico. O desenvolvimento mental se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais e algumas dessas estruturas permanecem por toda a vida, sendo que desde o seu nascimento, constrói o conhecimento. 1 Psicóloga, Doutora em Neurociências. Professora na Universidade Luterana do Brasil. 6 Psicologia e Aprendizagem O estudo do desenvolvimento Humano em sua trajetória histórica registra no mundo ocidental o seu começo com a Filosofia. Avançou na época dos gregos que chegou a ter um ramo muito especial denominado de Psicologia por se tratar do estudo específico da alma humana (Lorenzoni e Gil). Estudar o desenvolvimento humano implica em conhecer as características comuns de cada faixa etária, permitindo assim, reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos. Desta forma o entendimento do desenvolvimento humano é determinado pela interação de vários fatores Para Papalia e colaboradores (2006), o ciclo vital apresenta quatro princípios fundamentais: · É vitalício, sendo que cada período de vida é influenciado pelos acontecimentos anteriores e, ao mesmo tempo, produz influências sobre períodos futuros; · É histórico, já que cada pessoa desenvolve-se em um contexto histórico e social do qual recebe influências e no qual também interfere; · É multidimensional, pois envolve um equilíbrio entre crescimento e declínio. Com a idade, algumas capacidades aumentam enquanto outras diminuem; · É plástico, uma vez que sempre existe a possibilidade dos indivíduos transformarem e ampliarem suas capacidades. O desenvolvimento humano ocorre ao longo de toda vida, sendo cada período influenciado pelo que aconteceu antes e irá afetar o que virá depois. Nenhuma fase é mais ou menos importante do que a outra e, cada uma tem suas características próprias, ocorrendo assim o desenvolvimento do ciclo da vida (Lorenzoni e Gil). De acordo com Papalia (2006), o desenvolvimento humano é o estudo da mudança e da estabilidade ao longo de toda a vida. Tradicionalmente, os primeiros estudos referentes à psicologia do desenvolvimento faziam menção somente ao desenvolvimento da criança. Entretanto, teóricos de todas as correntes concordam com o fato de que os indivíduos se desenvolvem durante toda a vida. Por tal motivo, esse foco vem mudando ao longo dos anos, e hoje, tem-se uma ideia que o estudo sobre o desenvolvimento humano deve abranger todo processo de ciclo vital, pois o estudo da psicologia do desenvolvimento traz uma compreensão sobre as transformações psicológicas que ocorrem no decorrer do tempo. Os seres humanos têm a vida dividida em fases, de acordo com a idade em que ele passa começando como um embrião e terminando com a morte. O ciclo normal de vida começa na concepção. Cada fase tem suas características específicas, compatíveis com o desenvolvimento do corpo humano bem como do cérebro e suas funções cognitivas (percepção, aprendizagem, memória, pensamento, linguagem, atenção) e comportamentais (personalidade). A primeira fase da vida chamada infância inicia do nascimento até os 12 anos. A criança não é mais um adulto em miniatura, como era na idade média, 7 Psicologia e Aprendizagem ela apresenta características próprias de acordo com a sua idade e contexto em que vive. Nesta etapa, os estímulos são de extrema importância para o desenvolvimento e caracteriza-se por um período de maior aprendizado. A infância é um período em que a criança tem vontade de experimentar tudo, tocar, sentir, se manifestar de forma ativa e criativa. Quanto mais ricos forem os estímulos nesta fase maiores as possibilidades de sucesso de desenvolvimento de algumas habilidades (motoras, cognitivas e comportamentais). Após, aos 13 anos, se inicia a fase da adolescência, onde acontece mudanças intensas nos aspectos físicos, cognitivos e psicológicos em decorrência das mudanças biológicas e fisiológicas. Nessa idade os jovens querem maior liberdade para sair com seus amigos e fazerem coisas que gostam. É a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a infância e a idade adulta. A partir dos 20 anos começa a fase adulta, embora desde os 18 anos, o indivíduo é legalmente responsável pelos seus atos. Essa é a fase de maior duração das pessoas, que se estende até os 64 anos. Na adultez, ocorrem alterações importantes em todas as esferas da vida humana (novas responsabilidades e novos referenciais de existencialidade). Aos 65 anos nos países em desenvolvimento como o Brasil, a pessoa pode ser chamada de idosa. Nessa fase da vida, os problemas de saúde tendem a ser mais frequentes e, por isso, é importante uma boa alimentação e que o médico seja visitado ao menos uma vez ao ano. Com o aumento da expectativa de vida em nosso país, a pirâmide populacional está sendo modificada e os idosos estão cada vez em maior número. Diante deste contexto, outra fase da vida está crescendo rapidamente, os chamados superidosos, que são pessoas a partir dos 80 anos. Em se tratando do curso de vida, a infância, a adolescência e todos os demais estágios constituem exemplos de padrões desenvolvidos pelo indivíduo em suas interações e reconstruções com o ambiente (Sifuentes et al, 2007). Durante toda a vida os seres humanos sofrem influencias tanto de agentes internos, como externos (de natureza física e social). Esses agentes atuam estimulando suas capacidades e aptidões e promovendo o seu desenvolvimento físico e mental. O desenvolvimento e crescimento humano podem ser afetados por diversos fatores e/ou condições. Este comprometimento pode ocorrer tanto no período pré quanto pós-natal e são oriundos de fatores internos e externos. Entre os fatores internos estão as influências genéticas e as condições maternais do ambiente pré-natal. Já entre os fatores externos, a alimentação, o álcool, o tabagismo e as drogas ganham destaque, pois se sabe que, embora o feto esteja protegido pela placenta, certas substâncias podem penetrá-la e causar reações negativas como deformidades físicas e disfunções comportamentais (GABBARD, 2000). 8 Psicologia e Aprendizagem Bock (2008) refere que vários fatores atuando juntos em permanente interação afetam o desenvolvimento humano. Este são: Hereditariedade: a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não se desenvolver. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra. Crescimento Orgânico: refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida. Maturação Neurofisiológica: é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como um adulto, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Meio: o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade umaescada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. Desta forma, desenvolvimento humano, pode ser abordado a partir de quatro aspectos básicos (aspecto físico-motor-relacionado com aspectos neurofisiológicos, intelectual, afetivo-emocional e social). Para Bock e colaboradores (2008), o desenvolvimento é um processo contínuo e ininterrupto em que os aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais se interconectam, se influenciam reciprocamente, produzindo indivíduos com um modo de pensar, sentir e estar no mundo absolutamente singulares e únicos. Uma das grandes áreas de interesse da psicologia é o estudo de como o pensamento se modifica ao longo da vida dos indivíduos, o qual ressalta que uma questão premente são as possíveis relações que podem existir entre o desenvolvimento e a aprendizagem (Filho, 2008). Os esforços relacionados ao desenvolvimento cognitivo buscam compreender como as habilidades mentais surgem e modificam-se em face da maturação biológica e da experiência ou aprendizagem (Sternberg, 2000). 9 Psicologia e Aprendizagem 1.2 RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM No que se refere à aprendizagem como resultado do desenvolvimento e que o desenvolvimento não ocorre sem a aprendizagem (Motta, 2008). O conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo com base no pressuposto de que todo conhecimento provém da experiência. Aprendizagem é caracterizada por um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente, processo de aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, possibilitado através do estudo, do ensino ou da experiência. É fundamental à vida, por meio dela que o homem se afirma como ser racional, forma a sua personalidade e se prepara para o papel que lhe cabe na sociedade. Embora fatores internos (genéticos, hereditários) sejam fatores decisivos para o desenvolvimento do aprendizado, o ambiente torna-se fundamental para este processo. Pesquisas referentes a influência do ambiente no desenvolvimento, evidenciam que quanto mais rico e cheio de estímulos este for, maior o aprendizado a criança terá. Do contrário, crianças que vivem privadas de estímulos (afetivo, cognitivo) podem vir a ter um desenvolvimento abaixo do esperado para sua idade cronológica. Alguns outros fatores também influenciam no deficitário desenvolvimento do aprendizado como por exemplo, vulnerabilidade social, carência nutricional entre outros. Para Pain (1992) o processo de aprendizagem não é uma estrutura, mas sim um efeito, um lugar de articulação de esquemas. Como praticamente todo o comportamento é aprendido, o meio será imprescindível para a formação da personalidade do indivíduo. Campos (2003), afirma que a aprendizagem leva o indivíduo a viver melhor ou pior, mas indubitavelmente a viver de acordo com o que aprende. Porém, quando realmente a aprendizagem começa e termina? Para a maioria, começamos a aprender somente quando balbuciamos nossas primeiras palavras ou damos nossos primeiros passos, mas na realidade a aprendizagem começa logo após nosso nascimento, quando, por exemplo, o bebê descobre que ao chorar sua mãe aparece e que se parar ela sumirá. Mas o que realmente importa é: a aprendizagem para em algum momento? (Diaz, 2011). Para o mesmo autor: [...] até a idade adulta, os conhecimentos aprendidos vão se acumulando e se integrando ao aparato psicológico de cada indivíduo, moldando a sua maneira própria de aprender, até a velhice, quando se observa um declínio 10 Psicologia e Aprendizagem normal da plasticidade psicológica e cerebral, para processar estímulos novos. Contudo, notamos que cada vez mais idosos estão aprendendo habilidades novas, viajando, se reinventando, em vez de apenas decaírem, como seria o esperando pela sociedade. Para Mota e Pereira (2007, p. 3): As pessoas idosas embora nossa sociedade seja reticente quanto às suas capacidades de aprendizagem podem continuar aprendendo coisas complexas como um novo idioma ou ainda cursar uma faculdade e virem a exercer uma nova profissão. A aprendizagem pode permitir compreender melhor as situações que estão a nossa volta, nossos companheiros, a natureza e o mais crucial, compreender a si mesmo, podendo ajustar e instruir ao ambiente físico e social que estamos inseridos. Com o desenvolvimento do sujeito, este cria elementos que lhe permitem absorver conhecimento, e com isso a aprendizagem ocorre de maneira mais satisfatória. Ao absorver conhecimento sobre elementos que lhes são ensinados, há o conhecimento de si próprio e este autoconhecimento é essencial para a constituição do sujeito. Desta forma, conclui-se que a aprendizagem e o desenvolvimento não coincidem inteiramente, mas são dois processos que estão em complexas inter- relações (Leonardo e Silva, 2013). RECAPITULANDO No e para o estudo do Desenvolvimento Humano, teóricos apresentam aspectos e subdivisões, mas sempre girando como básicos, neurofisiológicos, intelectual, afetivo- emocional e social ou outras denominações, cujo reconhecimento é o de ser o desenvolvimento como um processo contínuo, geralmente gradativo no indivíduo saudável. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente, a aprendizagem, para que se efetive, envolve mudanças, podendo ser observável ou não nas articulações e nos próprios esquemas cerebrais, que vão refletir na “aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes. Pode-se afirmar que Desenvolvimento leva a aprendizagem e, esta como mudança leva à ampliação do próprio desenvolvimento. 11 Psicologia e Aprendizagem Referências e Obras Consultadas: BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M.; FURTADO, O. (Orgs). Psicologia Sócio- Histórica– uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez Editora, 2008. CAMPOS, Dinah Martins Souza. Psicologia da Aprendizagem. Petrópolis, Vozes, 33.ed., 2003. DÍAZ, Félix. O processo de aprendizagem e seus transtornos. Salvador: EDUFBA, 2011. FILHO, M.L.S. Relações entre aprendizagem e desenvolvimento em Piaget e em Vygotsky.Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 8, n. 23, p. 265-275, jan./abr. 2008 GABBARD, C. P. Lifelong Motor Development. Boston: Allyn & Bacon, 3º ed., 2000. LEONARDO, N.S.T; SILVA, V.G. A relação entre aprendizagem e desenvolvimento na compreensão de professores do Ensino Fundamental. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 17, Número 2, Julho/Dezembro de 2013: 309-317. LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. 2.ed. São Paulo: Centauro, 2004. MOTA, Maria Sebastiana Gomes; PEREIRA, Francisca Elisa de Lima. Desenvolvimento e aprendizagem: Processo de construção do conhecimento e desenvolvimento mental do indivíduo. In: FILHO, Raul de Souza Nogueira. I Colóquio sobre docência profissional e PROEJA do CEFET-AM. Amazônia: CEFET, 2007. MOTTA, A. P. F. 2008. O letramento crítico no ensino/aprendizagem de língua inglesa sob a perspectiva docente. Londrina, Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/379-4.pdf. SIFUENTES, T.R; DESSEN, M.A; OLIVEIRA, M.C.L. Trajetórias Probabilísticas e Desenvolvimento Humano. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2007, Vol. 23 n. 4, pp. 379-386 PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dosproblemas de aprendizagem. 4.ed. Porto Alegre: Artes médicas, 1992. PAPALIA, D. E; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8.ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 12 Psicologia e Aprendizagem STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. Atividades Com base na reflexão, que supostamente você deve ter feito durante a sua leitura, é que são propostos os exercícios a seguir: 1. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? Em relação ao desenvolvimento humano, avalia as assertivas abaixo: I. O estudo do desenvolvimento Humano em sua trajetória histórica registra no mundo ocidental o seu começo com a Filosofia. II. Desta forma o entendimento do desenvolvimento humano é determinado pela interação de vários fatores. III. O desenvolvimento humano ocorre somente na infância. Respostas: a) I e II são verdadeiros b) II e III são verdadeiros c) Somente a III é verdadeira d) Todas as alternativas são verdadeiras. e) Todas as alternativas são falsas. 2. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? I - Os seres humanos têm, conforme estudiosos, a vida dividida em fases. II- Todas as fases são semelhantes. III- o estudo da psicologia do desenvolvimento traz uma compreensão sobre as transformações psicológicas que ocorrem no decorrer do tempo. Respostas: a) I, II são verdadeiras. b) Todas as alternativas são verdadeiras. c) I, III são verdadeiras. d) Todas as alternativas são falsas. 3. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? I- A primeira fase da vida chamada infância inicia do nascimento até aproximadamente os 12 anos. 13 Psicologia e Aprendizagem II- A infância é um período em que a criança tem vontade de experimentar tudo, tocar, sentir, se manifestar de forma ativa e criativa. III- A criança é um adulto em miniatura. Respostas: a) I e II são falsas. b) II e III são falsas. c) I e II são verdadeiras. d) Todas as alternativas são verdadeiras. e) Todas as alternativas são falsas. 4. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? Vários fatores atuando juntos em permanente interação afetam o desenvolvimento humano. Este são: I. Hereditariedade II. Crescimento orgânico III. Maturação neurofisiológica IV. Meio Respostas: a) I e II são verdadeiros b) II e III são verdadeiros c) Somente a III é verdadeira d) Todas as alternativas são verdadeiras. e) Todas as alternativas são falsas. 5. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? Aprendizagem é caracterizada por um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores: I. Emocionais II. Relacionais III. Neurológicos IV. Ambientais Respostas: a) I e II são verdadeiros b) I, II e III são verdadeiros c) II, III e IV são verdadeiros d) Todas as alternativas são verdadeiras. e) Todas as alternativas são falsas. 14 Psicologia e Aprendizagem 2. As concepções de desenvolvimento e aprendizagem humana e suas repercussões na prática pedagógica - teorias do desenvolvimento Ursula Boeck2 Introdução Neste capítulo trabalharemos as concepções de desenvolvimento e aprendizagem humana e a importância do conhecimento das etapas de desenvolvimento para a efetiva prática pedagógica. É imprescindível que tenhamos conhecimento das diversas modificações que perpassam o desenvolvimento de uma pessoa desde o seu nascimento até a velhice, nossa discussão tem como finalidade tornar evidente a relação existente entre desenvolvimento humano e a aprendizagem e as consequências existentes nessa relação, pois só assim, o educador poderá elaborar um trabalho que considere a potencialidade do desenvolvimento físico, neurológico, cognitivo, social e afetivo de cada um de seus alunos. 2.1.O cérebro humano: conhecendo sua estrutura e principais funções O enfoque aqui apresentado será baseado nas teorias da área médica - principalmente da neurologia - pois se torna necessário conhecermos o funcionamento do cérebro para entendermos como o organismo reage aos seus comandos e as consequências dessas reações no desenvolvimento do individuo em suas várias etapas O cérebro humano é formado por aproximadamente 100 bilhões de neurônios e por células de glia ou neuroglia (são elas que proporcionam as condições adequadas para o bom funcionamento dos neurônios). Ele é responsável por grande parte das atividades vitais indispensáveis à nossa sobrevivência, tais como a sede, o sono, a fome, os movimentos. Também são controlados pelo cérebro os nossos pensamentos, decisões, julgamentos, todas as nossas emoções como alegria, ódio, amor, tristeza. 2 Mestra em Educação, Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Psicomotricista Relacional. 15 Psicologia e Aprendizagem Mesmo com as inúmeras pesquisas existentes em todo o mundo, até hoje, sobre as capacidades do cérebro, os cientistas nos alertam para as incontáveis facetas desconhecidas que ainda existem em relação à estrutura e o funcionamento desta “máquina” tão fascinante chamada “cérebro”. Imagem retirada do site: http://www.comportamento.net/saberes/como-a-mente-funciona/ Para darmos início a nossa incursão pelo estudo do sistema nervoso (SN) e compreendermos melhor como funciona o cérebro humano, torna-se indispensável saber como ele encontra-se estruturado. A anatomia do sistema nervoso é composta de duas partes, são elas: o sistema nervoso central (SNC) que é composto pelo encéfalo e a medula espinhal (tendo como função o processamento e a organização das informações) e o sistema nervoso periférico que compreende os sistemas nervoso sensitivo e motor (tem como função conduzir as informações entre órgãos receptores de estímulos). Pensando no funcionamento do cérebro humano, muitas pessoas se perguntam sobre a seguinte questão: o cérebro das crianças, igual à de um adulto? A resposta é não, isso porque de acordo com as literaturas existentes sobre o assunto, é possível dizer que ao nascer o cérebro de uma criança pesa por volta de 300/330 gramas. E sua massa encefálica triplicará chegando a 900 gramas quando a criança atingir um ano de idade. Diferentemente de um adulto saudável – normal – que tem seu cérebro pesando entre 1.400/1.500 gramas. Com base nestas informações, podemos constatar a importância que deve ser dispensada no primeiro ano de vida da criança, no que se refere ao seu desenvolvimento, principalmente em relação a sua maturação neurológica. Isto porque ela será a base para o desenvolvimento das capacidades motoras, cognitivas e sensoriais futuras do indivíduo em sua fase adulta. Não podemos esquecer que no primeiro ano de vida da criança, ela está vulnerável a inúmeras situações que poderão comprometer o desenvolvimento 16 Psicologia e Aprendizagem normal do seu cérebro. Situações estas que podem ser desde doenças metabólicas ou genéticas, até mesmo desnutrição (realidade ainda presente em nosso país), infecções do tipo meningite e encefalite, entre outras. Todas estas questões que podem comprometer o desenvolvimento neurológico da criança podem ser amenizadas, desde que se tenha o cuidado de fazer as avaliações recomendas periodicamente pelos profissionais que cuidam da criança. Torna-se importante citar o fato de que o cérebro vai sendo estruturado ao longo da maturação do indivíduo. É sabido que ele se desenvolve com maior intensidade nos primeirosanos de vida (de zero a seis anos), mas a ciência já comprova que as novas conexões neuronais são formadas ao longo de toda a vida e, mesmo na fase adulta, quando o número de neurônios diminui, elas acontecem, salvo se houver o desenvolvimento de alguma “patologia neurológica ou se o cérebro for agredido por causas externas como o uso de drogas, estresse, má alimentação e falta de exercício cerebral” (DOMINGUES, 2007). Fonte:http://www.afh.bio.br/basicos/Nervoso3.htm#encefalo O cérebro é uma máquina que precisa estar em funcionamento para não “enferrujar”, as crianças devem ser colocadas perante estímulos diversos para que seu cérebro se desenvolva e para que novas conexões neuronais sejam formadas. O ser humano é a máquina mais perfeita que existe, desta forma, o cérebro vai amadurecendo em etapas e isso vai sendo percebido pelas manifestações de aprimoramento que a criança vai demonstrando. Conforme citado por Domingues (2007), “a primeira área que amadurece é a motora, pois a criança necessita se sustentar e se locomover a fim de conquistar as outras etapas” (p. 169). Nessa questão, chamamos a atenção para um cuidado importante a ser tomado pela família, primeiro contato da criança com o meio social. Cabe aos 17 Psicologia e Aprendizagem familiares proporcionarem situações saudáveis para o aprendizado dos limites e referenciais sociais. As relações familiares dão à criança as dimensões de segurança, pertencimento, troca, companheirismo, respeito e equilíbrio emocional, condições primordiais para a maturação adequada do cérebro. Segundo Domingues (2007, p. 54), na maioria das vezes, os adultos se incomodam quando uma criança não está “fazendo nada”, pois parece que ela está alheia ao seu entorno, sem relação com a realidade, “viajando”. Para Domingues, “na realidade, ela está captando todos os estímulos a sua volta, interpretando-os e registrando-os e, desta forma, estruturando seu cérebro”. Seguindo o pensamento de Domingues (2007), concordamos com a mesma quando diz que: “o mundo é um ambiente totalmente novo e rico em estímulos, e seus neurônios estão sedentos em captar esses estímulos, a fim de que possa se situar e saber que atitude tomar diante desse mundo novo ao qual agora pertence” (p. 54). Assim como todo o organismo, o cérebro também precisa de um tempo para seu desenvolvimento e maturação. Erroneamente pensamos que quanto mais estímulos proporcionarmos as crianças, mais rapidamente se desenvolverão. Se agirmos desta forma, corremos o risco de sobrecarregar o cérebro de informações causando mais danos do que benefícios. Tudo em seu tempo, o desenvolvimento neuronal também. O estímulo é extremamente necessário e importante, mas deve ser ofertado de forma adequada e respeitando os ritmos internos e externos de cada indivíduo. Domingues (2007), cita um trecho do artigo “Algo além da manada”, de Lya Luft, publicado no jornal Zero Hora – Porto Alegre, edição de 5 de julho de 2003, que nos faz refletir sobre a necessidade de dosagem nos estímulos oferecidos, sem, entretanto, negar sua importância: Estamos tão integrados na correria generalizada, que vendo uma criança quieta – talvez sentindo o milagre do mundo ao seu redor – nos preocupamos: anda tão quieta, deve estar doente. No entanto, é essa capacidade de refletir ou de simplesmente aquietar-se para sentir que faz de nós algo além de cabides de roupas ou de ideias alheias... Discernir e escolher ficam mais difíceis porque o excesso de informações nos atordoa, a vertiginosa troca de mitos nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure...Para ter um relativo controle de nossa vida, é necessário descobrir quem somos ou queremos ser... Dura empreitada, num momento em que tudo parece colaborar para que não se pense demais, mas se aceite um mundo de ideias e modelos prontos... (p. 54). 18 Psicologia e Aprendizagem Vários estudos, ao longo dos anos, resultaram na formação de uma espécie de escala em que o desenvolvimento neuronal é demonstrado por fases de maturação (fases maturativas ou anos formativos). Essas fases são as responsáveis pelas aquisições no desenvolvimento cerebral desenvolvidas pelo indivíduo durante toda a sua vida. Domingues (2007) chama “atenção para esses períodos nos quais ocorre a maturação neural e, consequentemente, o desenvolvimento da motricidade, habilidade, sentidos, manifestações comportamentais ou conduta em cada fase considerada.” (p. 27) A autora continua comentando sobre ser esse um “fator de extrema importância no processo formativo de uma criança e que tem como suporte três itens fundamentais”, os quais ela chama de ‘tripé da mielinização’: • nutrição adequada: tanto da mãe na fase gestacional quanto da criança em seus anos formativos, pois a nutrição é responsável pelo suprimento do material da qual a mielina é constituída: proteínas e lipídios. • estimulação: sem estímulos, os neurônios “murcham” e perdem sua capacidade funcional podendo vir a desaparecer. A estimulação deve ser adequada, sem falta ou excesso, propiciando a mielinização. • afeto: embora pareça subjetivo, esse aspecto proporciona ausência de estresse e segurança necessária para a maturação neural, que está diretamente relacionada a mielinização (DOMINGUES, 2007, p. 27). Ao observarmos algumas crianças brincando em um parque, comprova-se a teoria ao percebermos as diferenças comportamentais, motoras e emocionais de uma criança com dois anos de idade comparada a outra de quatro anos de idade. Não poderemos exigir que a primeira aja exatamente como a segunda perante um obstáculo ou situação. As reações motoras, emocionais e comportamentais dos indivíduos serão determinadas pela maturação desenvolvida de acordo com o ‘tripé da mielinização’, citado por Domingues, 2007 (p. 54). A mesma autora refere que em torno dos seis anos de idade o cérebro da “criança possui o volume de 95% de um cérebro adulto. Durante os dez anos 19 Psicologia e Aprendizagem seguintes, em uma escala gradual, até a adolescência, há uma eliminação competitiva das sinapses através da remoção e reestruturação destas” (p. 30). Ela chama a atenção para a importância das fases de zero a seis anos; seis anos aos 12 anos; 12 anos aos 18 anos, salientando o volume quase pleno do cérebro infantil aos seis anos, bem como a eliminação competitiva, remoção e reestruturação. Isso se dará diretamente relacionada ao tipo e intensidade dos estímulos recebidos, sendo, portanto, de extrema importância nessas fases o meio social, o afeto e a segurança, bem como a nutrição adequada, para que a intercomunicação entre os neurônios ocorra adequadamente, com a consequente saúde física e mental adequadas. Essas são as fases formativas em que, como a designação indica, estarão sendo formadas as estruturas nervosas que servirão de base orgânica e emocional do indivíduo para toda a vida (DOMINGUES, 2007, p. 30). Através do estudo da neurociência, verificamos a importância dos primeiros anos de vida de um indivíduo, incluindo-se o período de gestação. Todas as funções do organismo humano dependem dos comandos enviados pelo sistema nervoso central. O indivíduo depende do funcionamento do cérebro para efetuar desde movimentos simples aos mais complexos. Para pensar e ser capaz de elaborar respostas, para sentir estímulos físicos úteis para a preservação de sua integridade física, mas que também serão responsáveis pela sua inter-relação com o meio em que vive. Os estudos cada vez mais aprofundados, na área da neurociência, têm demonstradoque antigos conceitos a respeito do cérebro estavam equivocados, como por exemplo, o conceito de que a criança nasceria “como uma tabula rasa que somente após o nascimento ‘irá se formar’” (DOMINGUES, 2007, p. 33). Pesquisas atuais demonstram que a atividade cerebral é mais intensa e dinâmica na fase intrauterina do que após o nascimento. Sendo que a fase mais importante para o desenvolvimento do indivíduo, tanto físico quanto psíquico, é a ocorrida entre o zero e os seis anos de idade. Para uma melhor compreensão do exposto, veja a citação abaixo: ... é nesta fase, principalmente, que o neurônio modifica dinamicamente suas conexões, reagindo ao aprendizado, às vivências, 20 Psicologia e Aprendizagem às experiências de vida, às emoções, às drogas e às doenças, não desconsiderando obviamente o caráter genético. Este último fator, entretanto, não é definitivo em sua manifestação, seja benéfica ou nocivamente, e sim será desencadeado, muitas vezes pela atuação do meio agindo sobre o gene (DOMINGUES, 2007, p. 33). O cérebro ainda é um grande desconhecido, temos muitas informações e muito ainda a descobrir sobre essa máquina. Mas nosso objetivo é estudar o desenvolvimento neuromotor do indivíduo, portanto vamos delimitar nossas discussões, às partes do cérebro responsáveis pelo desenvolvimento dessa área. 2.2 Processo de desenvolvimento humano O cerebelo sempre levou a fama de ser o responsável pelas funções motoras do organismo. Com o avanço dos estudos na área da neurociência, descobriu-se que o cerebelo humano é responsável por uma grande variedade de atividades nem sempre relacionada ao movimento. Estas descobertas revelaram que havendo lesões no cerebelo, algumas áreas especificas podem ficar comprometidas causando falhas no recebimento das informações sensoriais, como por exemplo, o ato reflexo de retirar a mão quando esta toca uma superfície quente. Quando existe uma lesão cerebelar esse ato reflexo pode ficar muito lento, ocasionando danos a integridade física do indivíduo. O cerebelo também é responsável pelo desenvolvimento e maturação do tônus muscular que é a base das atividades práxicas. Essa maturação ocorre paulatinamente como nos explica Le Bouch (1982) durante o 3º mês, o tono do músculo da nuca e do pescoço vai organizar-se em função das posições do eixo corporal. Quando a criança passa da posição deitada a sentada com apoio, sua cabeça mantém-se bem firme, o pescoço serve de suporte firme a fim de que a criança possa orientar o olhar em direção de um estímulo visual ou sonoro; entre o 6º e o 8º mês, a criança vai conquistar a verticalidade e equilibrar-se em posição sentada. Esta aquisição vai permitir-lhe ter uma visão mais global de seu ambiente, graças a possibilidade de 21 Psicologia e Aprendizagem aperfeiçoamento dos movimentos associados dos olhos e da cabeça. Nesta posição se sentirá mais segura nas experiências de manipulação, já que seus braços estão completamente liberados e o tono da cintura escapular está bem desenvolvido; entre o 9º e o 12º mês, a criança reforça a cintura pelviana, primeiro rastejando, depois de quatro, prelúdio indispensável para a estação de pé. Entre o 10° e o 12º mês, ficará de pé de forma prolongada com apoio e passará à posição bípede, primeiro titubeante e depois mais firme (p. 56). Na figura abaixo, podemos observar com clareza as etapas da maturação citadas acima Fonte: http://www.misodor.com/DNPS.html 2.3 O desenvolvimento neuromotor – algumas considerações Se levarmos em consideração que desde o nascimento a criança é psicologicamente ativa e que a maturação de suas funções sensória motoras depende amplamente dos estímulos que são oferecidos pelo meio social em que vive, e principalmente do contato que a mesma tem com a mãe ou com o cuidador/professor. Vamos perceber que a criança deve ser estimulada todo o tempo durante suas atividades cotidianas, e as pessoas que convivem diretamente com ela poderão ficar atentas as suas atitudes em momentos específicos de sua vida: na forma de carregá-la, de trocá-la, de dar-lhe banho, 22 Psicologia e Aprendizagem comida e de brincar. Principalmente levando em conta, que a cada fase do desenvolvimento infantil, corresponde a estímulos e necessidades diferenciadas da criança, sendo de fundamental importância a estimulação dos vários níveis de expressão corporal, encontrados na criança, como por exemplo, o gestual, tônico, mímico, ocular, auditivo, etc. Se não ocorrer esta estimulação na criança, ela pode ter uma interrupção na maturação que vai interferir na organização do sistema nervoso, de maneira a ocorrer perda definitiva de funções inatas ao desenvolvimento do indivíduo. É nos primeiros anos de vida que as relações afetivas estabelecidas entre a criança e a mãe ou pelo cuidador/professor, apresentarão reações que irão desencadear e reforçar esta relação. O ambiente familiar/escolar como um todo também é importante e as reações da criança irão se caracterizar por meio de sinais vocais, tônico-posturais, oculares e mímicos, devendo ser considerado, sempre, a relação da ação com a idade da criança. Conforme a criança vai crescendo, é capaz de brincar sozinha e com outras crianças, reconhecendo inclusive o meio de que faz parte, e consegue distinguir as pessoas que estão ao seu redor. Tem consciência de si e dos outros. O que é importante “marcar” neste período, é o quanto o limite e o conhecimento de regras sociais bem estabelecidas são importantes para todo o desenvolvimento da criança, algo que muitos pais, cuidadores/professores não se dão conta ou confundem com o ser autoritário, algo que pode interferir no desenvolvimento psicológico da criança, fazendo com que muitas vezes ela não se desenvolva de uma maneira sadia. No desenvolvimento da aprendizagem na criança, é fundamental a observância dos três domínios do comportamento humano: cognitivo, afetivo e motor, constituindo um meio conveniente de organização a partir do qual o estudo do comportamento pode-se desenvolver. O processo de adaptação da criança ao meio social é um processo mais cultural que biológico, apesar de os atos biológicos serem atos de adaptação ao meio físico e que possibilitam a criança organizar o ambiente. Sendo assim, é muito difícil separar o funcionamento corporal da criança do mental, pois os dois são submetidos às mesmas formas de desenvolvimento, um exemplo disso, 23 Psicologia e Aprendizagem é a estrutura que nos permite ingerir e digerir - o estômago; ou outra que nos permite respirar - o pulmão. Assim também acontece com a estrutura mental. Estas estruturas são nossos sistemas para compreender e interagir com o mundo. Ao nascerem às crianças apresentam esquemas de natureza reflexa como, por exemplo, sugar, pegar. Estes esquemas iniciais ainda não são mentais, são precursores das atividades mentais posteriores. As características biológicas da criança influem, mas não oferecem uma estrutura pronta desde o nascimento. Em torno dos três anos de idade, o cérebro da criança atingiu 80% das dimensões do adulto. Nesta fase já existem mil trilhões de conexões entre os neurônios (sinapses), aparato essencial para que o desenvolvimento intelectual da criança aconteça em sua plenitude. A área pré-frontal do cérebro é a responsável pelo pensamento, pela atenção e pela conduta do indivíduo. Quando a criança recebe uma estimulação adequada desde o nascimento, em torno dos cinco anos de idade, essa área já estará bem estruturada.Nessa idade a criança já pensa em suas ações utilizando as palavras para demonstrar o que quer fazer e partir para a ação motora necessária a realização do pensamento. Domingues (2007) exemplifica perfeitamente essa situação quando coloca que a criança, aos cinco anos de idade ... pensa ‘vou jogar bola’, depois fala o que pensou para então realizar o ato. Ou seja, primeiro a criança pensa, depois expressa para então realizar a atividade. Ela não irá mais agir com impulsividade (por maior maturação do pré-frontal), e sim irá ponderar sobre a atividade [grifos da autora] (p. 67). Observando todo o exposto sobre a estrutura do cérebro humano, bem como a relevância dos estímulos recebidos para o seu pleno desenvolvimento, é importante termos consciência de que quanto mais estimulada a criança for, mais sinapses seu cérebro realizará, portanto, os estímulos recebidos desde os 24 Psicologia e Aprendizagem primeiros momentos de vida, tem um papel fundamental em todo a vida do ser humano. Concluindo esse capítulo, sugiro a realização de pesquisas sobre os temas abordados visando um maior aprofundamento das questões apresentadas. A realização dos exercícios e atividades propostas, ao final deste, também servirá de subsídios para a ampliação do conhecimento sobre as temáticas expostas. Recapitulando Neste capítulo conversamos sobre as concepções de desenvolvimento e aprendizagem humana baseados nas teorias do desenvolvimento. O enfoque apresentado foi baseado nas teorias da área médica - principalmente da neurologia - pois precisamos conhecer o funcionamento do cérebro para entendermos como o organismo reage aos seus comandos e as consequências dessas reações no desenvolvimento do individuo em suas várias etapas. Tratamos, também, sobre a importância da atenção que deve ser dispensada a criança em seu primeiro ano de vida, principalmente em relação a sua maturação neurológica. Isto porque ela será a base para o desenvolvimento das capacidades motoras, cognitivas e sensoriais futuras do indivíduo em sua fase adulta. Concluímos tratando sobre a adaptação social da criança relacionada ao seu desenvolvimento neuromotor. Referências e Obras Consultadas DOMINGUES, Maria Aparecida. Desenvolvimento e aprendizagem: o que o cérebro tem a ver com isso? Canoas: Ed. ULBRA, 2007 CAMPOS, Miriam P. BOECK, Ursula. Neuromotricidade na constituição e desenvolvimento humano. Canoas: Ed. ULBRA, 2011. 25 Psicologia e Aprendizagem JUNQUEIRA, Luiz C.; CARNEIRO, José. Histologia Básica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2004 LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento Psicomotor. Porto Alegre: Artes Médicas, l982. LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora: a psicomotricidade na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. Atividades Atividades Leia com atenção cada questão abaixo, analise se a afirmativa é verdadeira ou falsa e coloque entre parênteses V ou F, de acordo com o que foi estudado no capítulo. Nas linhas pontilhadas, em cada questão, faça um comentário justificando a sua resposta. 1. ( ) O cérebro se estruturando ao longo da maturação do indivíduo, e seu maior desenvolvimento acontece com maior intensidade nos primeiros anos de vida. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 2. ( ) O indivíduo não depende do funcionamento do cérebro para efetuar os movimentos simples ou mais complexos. Isso acontece como uma ação reflexa. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. 3. ( ) Vários estudos, ao longo dos anos, resultaram na formação de uma espécie de escala em que o desenvolvimento neuronal é demonstrado por fases de maturação. 26 Psicologia e Aprendizagem ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 4. ( ) Os neurônios exercem pouca importância para o sistema nervoso, eles só têm a função de receber e enviar mensagens de um ponto a outro de nosso cérebro, ou de uma parte a outra do nosso corpo. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. 5. ( ) As relações familiares dão à criança as dimensões de segurança, pertencimento, troca, companheirismo, respeito e equilíbrio emocional primordiais para a maturação adequada do cérebro. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ....................................... 27 Psicologia e Aprendizagem 3. Abordagem inatista. Abordagem empirista. Abordagem cognitivista. Abordagem interacionista. Selma França e Silva da Costa3 Introdução Em geral possuímos uma posição sobre o significado de desenvolvimento humano e aprendizagem humana. Conseguimos observar, prever e avaliar o comportamento dos outros, enquanto se desenvolvem em diferentes aspectos e aprendem a ser humanos. Nossa teoria sobre o desenvolvimento humano é originada de muitas experiências em nossa vida. Provavelmente a consultamos quando queremos entender, explicar e avaliar alguém ou uma situação. Nossa teoria do desenvolvimento humano é referendada por fatos e coisas de nossa vida. Ela é consultada quando queremos descrever, explicar, persuadir ou avaliar uma questão. Ela pode ser considerada a nossa ideia sobre o que já aprendemos, vivemos e podemos consultar no momento presente. Assim vamos construindo suposições sobre o aprendizado cotidiano e escolar, sobre formas de conviver, legislar e gerir políticas educacionais, econômicas e sociais. Teorias similares, ou rivais, sobre este tópico de estudo entrelaçam-se em diferentes modos de vida e em diferentes sistemas políticos e têm explicado muitos conflitos humanos ao longo da história. O capítulo se propõe a descrever e analisar diferentes formas de explicar a aprendizagem e como é demonstrada ao longo do desenvolvimento de forma essencial e conceitual, para auxiliar nas reflexões que acadêmicos em formação devem realizar em busca de esclarecimentos sobre o comportamento humano. 3 Professora do Curso de Pedagogia e Tecnólogo de RecursosHumanos, na Graduação e Pós- Graduação, Doutora em Psicologia, produtora de materiais acadêmicos para cursos na modalidade a distância, consultora empresarial sobre comportamento humano em ambientes de trabalho 28 Psicologia e Aprendizagem 3.1 Abordagem Inatista O termo tábula rasa é originado do Latim e diferentes teóricos atribuem o mesmo ao filósofo John Lucke (1632-1704), ao utilizar a ideia sobre a mente humana como um papel em branco ao nascer, desprovida de qualquer sentido. E com esta posição, começou a se perguntar: “Como ela pode ser preenchida?” “De onde vêm os subsídios que dão razão ao conhecimento?” A partir daí desenvolveu suas teses sobre a importância da experiência humana dando origem ao empirismo, corrente estudada adiante nesta obra. Observando-se os estudos de Filosofia e Educação nos últimos séculos, observa-se que a teoria da tábula rasa norteou intensos trabalhos da época nas ciências sociais e comportamentais. A partir deste paradigma, a Psicologia se empenhou em tentar explicar o pensamento, sentimento e comportamento com alguns mecanismos simples de aprendizagem. Nesse contexto, diferentes áreas de conhecimento tentaram explicar os costumes e aspetos sociais como o resultado das socializações das crianças por meio de um sistema de palavras, falas, linguagem, estereótipos e modelos de recompensa e punição. Assim, uma lista considerável de explicações sobre o que parecia ser natural ao modo de pensar humano (parentesco, emoções, doença, natureza, emoções, natureza, o mundo) passou então a ser vista como “inventada, ou “socialmente construída”. A tábula rasa também contribuiu de referência para crenças políticas e éticas, ou seja, toda diferença que vemos entre raças, grupos étnicos, sexos e indivíduos provém não de diferenças em sua constituição inata, mas de diferenças em suas experiências, visto por este ângulo, toda discriminação baseada em características ditas inatas de um sexo, ou grupo étnico é considerada irracional, em especial nos dias atuais, onde tantos conflitos humanos são testemunhados, no ocidente e oriente do planeta. Outra contribuição para a explicação desta posição refere-se ao filósofo e matemático René Descartes (1596-1650), que afirmava existir uma grande diferença entre corpo e mente, visto que o corpo é por natureza divisível e a mente inteiramente indivisível, isto é, seus estudos defendiam a fragmentação do corpo e mente, o que pode ter inspirado o aprofundamento das ciências de forma fragmentada, dando origem às especializações e estudos diferenciados entre teoria e prática. Alguns séculos depois, o filósofo Gilbert Ryle (1900-76) avançou na reflexão e concluiu que corpo e mente estão atrelados entre si, onde o corpo humano é tanto corpo como uma mente. O que reforçou a discussão e análise sobre o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem na contemporaneidade de forma integrada e interdisciplinar. Contextualizando a discussão percebe-se a clara influência da Filosofia para as construções dos estudos realizados na Psicologia no decorrer dos últimos séculos, quando relacionamos a posição empirista (Aristóteles, Demócrito); e a posição racionalista (Sócrates e Platão) que concebia a alma na inteligência, 29 Psicologia e Aprendizagem que conhece e dirige o homem em suas ações. Locke e Hume, teóricos ingleses dos séculos XVII e XVIII aprofundaram a teoria da tábula rasa, onde o conteúdo vazio da mente vai sendo preenchido por impressões ambientais decodificadas pelos órgãos dos sentidos. Paralelamente a esta posição, o francês Descartes diferenciou o homem dos demais animais, indicando que o homem é dotado de razão e dela surge o conhecimento. O termo Inatista-maturacionista, parte do princípio de que fatores hereditários ou de mutação são mais importantes para o desenvolvimento da criança. Onde a hereditariedade refere-se à herança genética que a criança recebe de seus pais e a mutação refere-se a um padrão de mudanças comum a todos os membros de determinada espécie. A contribuição da psicologia, por meio dos teóricos que defendem a posição inatista – maturacionista supõe que, aptidões individuais e inteligências herdadas dos pais quando a criança nasce. Estudos da época apresentaram nas primeiras investigações psicológicas sobre a natureza hereditária das aptidões e da inteligência, que pessoas com uma aptidão especial, normalmente tinham familiares com mesmo tipo de aptidão. Identificaram diferenças de aptidões entre homens e mulheres ou entre raças diferentes. Nessa linha surgiram estudos sobre as diferenças individuais, onde se desenvolveram os primeiros estudos psicológicos de avaliar a inteligência, como o francês Alfred Binet, que se interessou pela inteligência através de testes. Por meio desses testes, avaliava a inteligência pelas tarefas. Essa foi também uma necessidade experimentada por Gesell, preocupado em compreender a evolução da criança. Apesar das diferenças Binet e Gessell estabeleceram padrões de comportamento para avaliar a inteligência, ou o desenvolvimento da criança, os fatores biológicos pareciam ser para eles, os mais decisivos na determinação da inteligência e desenvolvimento, onde tais padrões de comportamentos são independentes de fatores externos, ou do contexto social em que a criança vive. Não importa o lugar e a época em que a criança viva. Esses estudos indicaram que, assim como o ritmo e o desenvolvimento são biologicamente determinados, certos comportamentos apareçam na mesma idade. A perspectiva inatista-maturacionista, indica que a aprendizagem depende do desenvolvimento. Ou seja, o que a criança é capaz ou não de aprender é determinado pelo seu nível de inteligência e experiências individuais de cada pessoa são desacreditadas. Assim, para os defensores da teoria do inatismo, todas as qualidades e capacidades básicas de conhecimento do ser humano já estariam presentes na pessoa desde o seu nascimento. Estas qualidades seriam transmitidas através da hereditariedade, em outras palavras, são características repassadas de pais para filhos por meio da herança genética. O pensamento inatista descarta a possibilidade de aperfeiçoamento do ser humano, sendo que este não teria capacidades de evoluir, ou possibilidades de mudanças após o seu nascimento. O indivíduo é visto como um ser estático, que desde a sua origem já possui personalidade, crenças, hábitos, valores e conduta social previamente definidos. Esta teoria abre espaço para ideologias 30 Psicologia e Aprendizagem que defendem a hierarquização social, ou seja, quando determinado grupo de seres humanos, supostamente, seriam “naturalmente” mais inteligentes, ou aptos, que outros. Segundo o inatismo, a educação deveria servir apenas para despertar a “essência” existente dentro de cada indivíduo. Conforme esta posição, os professores seriam aconselhados a não interferirem muito no processo de aprendizado dos seus alunos. A partir daí o sucesso, ou fracasso, depende exclusivamente do aluno, pois se este não consegue absorver ou aprender determinado assunto ou ciência, a justificativa estava na falta da sua capacidade genética de aptidão ou desempenho para aquela matéria. O behaviorismo analisou estes fundamentos e, de forma diferenciada, descreveu formas de aprendizagem a partir do reforço e recompensas, conforme descrição deste tópico de estudo. Observa-se que o empirismo se caracteriza como ambientalista e racionalismo, como inatista. (PENNA, 1981; BRAUSNSTEIN, 1976; WITTROCK, 1992; ZABALA, 1995). 3.2 Abordagem Empirista O empirismo é um pensamento filosófico, que influenciou os estudos psicológicos e que tenta explicar o processo de aprendizagem dos seres humanos ao se caracterizar como ambientalista, ao explicar asimpressões que os órgãos dos sentidos traduzem a partir de interpretações ambientais. Teóricos desta abordagem, ao discordarem da posição inatista, acreditavam que as ideias dos indivíduos só são desenvolvidas a partir das experiências vividas por cada pessoa. A partir do século XIX, quando a ciência da Biologia ganhou notoriedade a partir da publicação de sua concepção sobre organismos vivos, essa ideia ganhou força sobre o pensamento humano. Um ilustre teórico reconhecido mundialmente tem o mérito desta posição teórica. Darwin afirmou, por meio de sua tese evolucionista da seleção natural, que havia relação e demonstração de continuidade na explicação do desenvolvimento entre homem e demais animais. Formas de nascer, crescer e se desenvolver foram reveladas como sendo compartilhadas, traduzindo a tendência do empirismo como associacionista, ao analisar e considerar que dados da vida mental são organizados por associação a partir de impressões sensoriais, usando como referência o estudo da matéria, que se organiza por associação de átomos. A perspectiva do evolucionismo darwiniano superou a discussão feita pelo racionalismo sobre o inatismo e sacramentou a posição empirista, ao descrever que atributos relacionados ao homem, também podem ser associados a outros seres vivos. Desde a inserção dessa posição, a crença sobre a exclusividade da razão do homem foi questionada e inúmeros estudos foram publicados nessa direção. Nesse sentido, a questão central para o empirismo, foi discutir que todo o conhecimento é criado a partir de uma experiência, através da captura dos sentidos. Dessa concepção nasceu a teoria ambientalista, que busca sua inspiração na filosofia empirista, ao pressupor que a experiência é a fonte de conhecimento. A teoria ambientalista, também chamada behaviorista ou comportamentalista, atribui exclusivamente ao ambiente a constituição das 31 Psicologia e Aprendizagem características humanas, privilegiando a experiência como fonte de conhecimento e de formação de hábitos de comportamento; preocupa-se em explicar os comportamentos observáveis do educando, desprezando a análise de outros aspectos da conduta humana tais como: o raciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a fantasia, entre outros. Defende a necessidade de medir, comparar, testar, experimentar e controlar o comportamento. Um dos exemplos concretos que auxilia na compreensão desta posição é o condicionamento do medo, que surge no decorrer da vida em situações concretas, ou imaginárias. O medo é considerado como uma das aprendizagens mais antigas e conhecidas e que pode ser comparado, de forma associada, ao sentimento similar também observado em outros animais. Isto poderia esclarecer questões sobre a aprendizagem construída a partir de estímulos ambientais, que são acionados por mecanismos complexos acionados pelos sentidos (GALLISTEL, 2000; LeDoux, 2002; PAPINI, 2002). 3.3 Abordagem Cognitivista Ao se estudar a história da Psicologia, observa-se que o século XX foi considerado um marco no avanço das discussões sobre o desenvolvimento e a aprendizagem humana. Neste período surgiram pesquisas e publicações esclarecendo duas vertentes de estudo: o comportamentalismo, ou behaviorismo, e o cognitivismo, que discutia o processo de informação. De um lado estavam as explicações sobre formas mais simples de aprendizagem, aquelas observadas também em outras espécies, a partir de comportamentos explicados pelas leis do condicionamento, de outro estavam as manifestações mais complexas, especificamente humanas, que foram descritas com a amplitude cognitiva, e dependentes de processos mais complexos, como pensar, entender, compreender, explicar, aplicar e conhecer. A partir das décadas de oitenta e noventa, surgiram as publicações com fundamentos e resultados a partir da Psicologia da aprendizagem sob o enfoque de modelos e interpretações cognitivistas. Aos poucos os teóricos foram fazendo a crítica ao comportamentalismo, enfatizando a aprendizagem cognitivista e as explicações sobre expectativas e representações mentais, que os organismos apresentam em uma dada situação, ou ainda indicando uma associação cognitiva entre essas representações. (HUERTAS, 1992; VOSS, WILEY e CARRETERO, 1995; CARRETERO, 1997). Observam-se na atualidade estudos diversificados que esclarecem teorias de aprendizagem tanto humana, como aquelas relacionadas à aprendizagem animal, ou não humanas, com vasta descrição cognitiva. Os enfoques computacionais foram substituídos por uma série de conceitos e metáforas sobre a aprendizagem e os processos cognitivos relacionados às diferentes atividades realizadas pelas pessoas, como ler em smartfhones, participar de redes sociais e produzir conhecimento digital. Essa perspectiva de análise descreve processos de interação entre a pessoa e o ambiente, onde o foco não é mais internalista, sobre processos de aprendizagem ocorridos na mente, mas sim situacional, que se ocupa em descrever os fenômenos que expressam afazeres cotidianos, desdobrando-se, - 32 Psicologia e Aprendizagem ao contrário de dividir-, aspectos que explicam o que ocorre na mente, no corpo, na atividade e nos ambientes organizados culturalmente. Esta visão atualizada cria novos desafios de pesquisas sobre seres humanos, assim como outros animais, que ora se aproximam de seu convívio e demonstram, por sua vez, formas de aprendizagens articuladas, como podem ser observadas nos animais domésticos, atualmente muito presentes nas famílias em qualquer parte do mundo. Essa ideia que vem sendo discutida e transformada em novos processos teóricos, se ocupa em explicar que o conhecimento não pertence apenas a um indivíduo, porém pode ser observado entre aqueles que se encontram em um determinado contexto. Isso amplia as discussões sobre formas de pensar e aprender, a partir da concepção cognitivista e promove expectativas para novas teorias que poderão surgir sobre ambientes físicos, simbólicos, artificiais e virtuais, que já fazem parte da realidade existencial. Ao se ler sobre o tema, observa-se o panorama de pesquisas que avançaram desde a abordagem comum psicológica cognitivista baseada na analogia entre mente e computador, onde a mente era concebida como um sistema de processamento de informação, passando pelos estudos da psicologia cognitiva experimental através de estudos de laboratórios bem controlados sobre o comportamento humano, atingindo a neuropsicologia cognitiva, que analisou a organização modular do cérebro físico e da mente, entre pessoas normais ou com alguma síndrome cerebral. Atualmente, os estudos e publicações na área se desenvolvem a partir do enfoque da neurociência cognitiva, com inúmeras técnicas de estudo sobre o cérebro diante de variáveis espaciais e temporais. Ainda virão novos estudos a seguir, o mais interessante é que essas possibilidades de investigação sobre a cognição possam revelar questões ainda em discussão, como o que aprender, para que aprender e de que formas podemos aprender o que ainda nos é desconhecido. (LAVE, 1991; PINTRICH, 1994; PUTNAM E BORKO, 2000). 3.4 Abordagem Interacionista A partir dos anos cinquenta, tanto no campo da Psicologia como na Educação, surgiram estudos que descreviam as variáveis e relações entre aspectos internos e externos, para explicar formas de aprender e desenvolver em novas teorias. Essa chamada visão sobre o psiquismo humano, vista de forma integrada e relacionada entre as condições de seu entorno ficou conhecida como “construtivismo”. Essa concepção, enquanto explicação psicológica, originou- se dos estudos realizados inicialmente por Jean Piaget e seus colaboradores, que demonstraram vasta discussão sobre a psicologia, biologiae epistemologia 33 Psicologia e Aprendizagem genética em busca de conclusões atualizadas sobre a “nova ciência da mente”. (COLL, 1997) A partir dos anos setenta, com a publicação de inúmeras pesquisas sobre o tema, este debate chega à Educação, por meio de seminários e congressos. A ideia que originou a aproximação da Psicologia com a Educação, provavelmente foi a de enfatizar a importância da atividade mental construtiva das pessoas no decorrer de processos de aquisição do conhecimento. Isto pode ser explicado pela alternância da aprendizagem tradicional para a aprendizagem digital, onde todas as áreas de conhecimento passaram por transformações, para que a humanidade iniciasse sua aprendizagem informacional, desde os primeiros computadores, até o surgimento dos smartphones, considerados hoje em dia como artefatos essenciais na vida cotidiana. E interessante ressaltar que a visão construtivista do psiquismo humano vem sendo compartilhada por inúmeras teorias do desenvolvimento, da aprendizagem e de outros procedimentos psicológicos, que são tópicos de estudo da Psicologia da Educação. O que se tem observado nas últimas décadas de estudo sobre o tema é que os teóricos estão estudando os princípios construtivistas, objetivando compreender e explicar melhor os processos de aprendizagem, escolares e não escolares. Advindas da concepção construtivista, as teorias interacionistas do desenvolvimento apoiam-se na ideia de interação entre o organismo e o meio. A aquisição do conhecimento é entendida como um processo de construção contínua do ser humano em sua relação com o meio. Organismo e meio exercem ação recíproca. Novas construções dependem das relações que estabelecem com o ambiente numa dada situação. Nessa concepção, o ser humano, ao longo de sua vida, do nascimento até sua conclusão é concebido como um ser dinâmico, que a todo momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida. A compreensão dessa interdependência entre o sujeito e o universo que lhe 34 Psicologia e Aprendizagem rodeia é o foco de interesse dessa corrente teórica, que pode ser vista em diferentes áreas de conhecimento, para explicar e discorrer sobre processos de aprendizagens no âmbito clínico, educacional, social, organizacional e até internacional, ao se propor a explicar o que tem mudado no mundo, com as imigrações e acolhimentos aos estrangeiros, que são obrigados a deixar seus países de origem, fugindo de guerras em busca de segurança e da construção de novas formas de vida, com dignidade e desejo de reconhecimento humano. (GAZZANIGA et al, 2006; CARBONELL, E. SALA, R., 2012). 3.5 Considerações em construções Apresentamos elementos considerados fundamentais para o estudo sobre a cognição, que explica o processo de aquisição de aprendizagem e que propõe ideias sobre distintos aspectos de se compreender o desenvolvimento humano. Tais evidencias podem contribuir concretamente na formação de novas gerações de profissionais em diferentes áreas de atuação, ou porque sugerem que o que foi concebido até aqui, ainda está em processo de reflexão e em plena transformação, conforme as necessidades e urgências apresentadas na vida contemporânea. Ficam as questões para o debate dos novos profissionais: “A cognição humana está explicada? Ela baseia-se em regras evidenciadas? Que processos estão envolvidos na alfabetização digital? O que ainda poderá ser aprendido para que novas formas de comunicação humana sejam mediatizadas por sistemas informacionais? Chips poderão ser implantados nos cérebros, para que a humanidade supere a síndrome de Babel, a torre que acolheu homens que não se entendiam e por isso nunca foi concluída enquanto construção coletiva, que afastou as diferentes culturas, por meio da língua falada e escrita, e para que todos consigam dominar e compreender todas as línguas estrangeiras, com a alternância de pensamento, intencionalidade de fala e de escrita? Percebe-se a esta altura que a proposição construtivista, diferente de suas antecessoras, aceita um enfoque mais holista, organicista e situacional, por vincular a aprendizagem ao significado que o organismo atribui aos ambientes que tem diante de si, conjugando processos cognitivos e conceituais, que auxiliam na interpretação de seu meio ambiente. Nesse enfoque o sujeito, objeto e meio interagem e se constroem conjuntamente, fazendo com que a representação da pessoa sobre o mundo em que vive, seja uma construção pessoal, onde cada pessoa, por sua vez, realiza sua construção em busca de compreensão sobre o que lhe cerca e sobre o que ainda sente necessidade de aprender. Encerro este capítulo sobre os enfoques descritos de forma didática e introdutória ao estudo dos tópicos, com três considerações: a primeira, é que o estudo histórico do tema, envolve dedicação, leitura e retomada das ideias embrionárias propostas pelos teóricos de cada época. Isso faz com que o 35 Psicologia e Aprendizagem pesquisador faça uma profunda reflexão sobre o início de cada etapa e das superações realizadas, por cada nova proposta investigativa surgida ao longo das últimas cinco décadas, de forma mais pontual. A segunda é que considero que a diversidade de estudos e achados sobre o tema, apresentados por diferentes teóricos e suas realidades de pesquisa refletem a distinção e a encruzilhada de cada aspecto teórico, onde se encontra a psicologia enquanto ciência, que agrega suas considerações à ciência da educação institucionalizada, que se apropria e articula os dados consagrados, para explicar as dificuldades que enfrenta ao acompanhar, observar e avaliar seres humanos em sua caminhada para a aquisição de conhecimentos, da educação infantil aos estudos de pós-graduação. A terceira, e última, está minha preocupação em registrar que a psicologia da educação, ao receber este referencial, deve se manter comprometida com o desenvolvimento do conhecimento, relacionando-o de forma atualizada às ocorrências, que emergem em uma sociedade em processo de constante transformação. Assim, poderá ser reconhecida como diretamente comprometida com os anseios de uma humanidade, que necessita assumir o rumo de sua trajetória, observando e valorizando o que já sabe, mas -acima de tudo- demonstrando a clareza de sempre estar apta a aprender, a abstrair e construir novas questões para respostas já conhecidas até aqui. A obtenção desses conhecimentos poderá revelar uma geração de profissionais mais comprometidos com a melhoria e transformação da educação e, por meio dela, auxiliar na qualidade de convívio entre as pessoas, para a busca da revitalização de compromissos morais e humanizados, como tanto anseia o conjunto das ciências sociais. Recapitulando O capítulo descreveu e analisou diferentes formas de explicar a aprendizagem e como estas proposições teóricas estão atreladas à teoria do desenvolvimento humano de forma essencial e conceitual, para auxiliar nas reflexões que acadêmicos em formação devem realizar em busca de esclarecimentos sobre o comportamento humano. Para tanto, apresentou as diferentes ideias que dão suporte ao estudo por meio de uma breve análise histórica de abordagens: Abordagem inatista. Abordagem empirista. Abordagem cognitivista. Abordagem interacionista. Para que serve tal tópico de estudo? Provavelmente
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