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OBJETIVOS DO APRENDIZADO Ao término deste capítulo, o leitor estará apto a: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Descrever a incidência e o impacto associados aos transtornos vasculares cerebrais. Identificar os fatores de risco de transtornos vasculares cerebrais e as medidas relacionadas para a prevenção. Comparar os vários tipos de transtornos vasculares cerebrais: suas causas, manifestações clínicas e tratamento clínico. Aplicar os princípios dos cuidados de enfermagem a um paciente em um estágio agudo de um acidente - vascular cerebral isquêmico. Usar o processo de enfermagem como referencial para o cuidado ao paciente que se recupera de um acidente vascular cerebral isquêmico. Usar o processo de enfermagem como referencial para o cuidado ao paciente com um acidente vascular cerebral hemorrágico. Identificar os elementos essenciais para o ensino e preparo da família para os cuidados domiciliares de um paciente que sofreu um acidente vascular cerebral. GLOSSÁRIO afasia: incapacidade de se expressar ou de compreender a linguagem afasia expressiva: incapacidade de se expressar; frequentemente associada a danos na área do lobo frontal esquerdo afasia receptiva: incapacidade de compreender o que alguém está dizendo; associada frequentemente a uma lesão na área do lobo temporal agnosia: não reconhecimento de objetos familiares percebidos pelos sentidos aneurisma: um enfraquecimento ou saliência na parede arterial apraxia: incapacidade de executar atos motores intencionais aprendidos anteriormente de forma involuntária disartria: defeitos da articulação devidos a causas neurológicas hemianopsia: cegueira de metade do campo visual de um dos olhos ou de ambos hemiplegia/hemiparesia: fraqueza/paralisia de um lado do corpo, ou de parte dele, devido a uma lesão à área motora do cérebro infarto: uma zona residual privada do suprimento sanguíneo região de penumbra: área de fluxo sanguíneo cerebral baixo síndrome de Korsakoff: distúrbio da personalidade caracterizado por psicose, desorientação, delírio, insônia e alucinações A expressão transtornos vasculares cerebrais é genérica e se refere a uma anormalidade funcional do sistema nervoso central (SNC) que ocorre quando o suprimento sanguíneo normal para o cérebro é rompido. O acidente vascular cerebral é o principal distúrbio vascular cerebral, nos EUA, e a terceira causa principal de morte após a doença cardíaca e o câncer. Aproximadamente 780.000 pessoas sofrem um acidente vascular cerebral a cada ano nos EUA. Aproximadamente 600.000 destes são novos acidentes vasculares cerebrais e 180.000 são recorrentes (Rosamond, Flegal, Furie, et al., 2008). Cerca de 5,6 milhões de sobreviventes de acidentes vasculares cerebrais não institucionalizados estão vivos atualmente; o acidente vascular cerebral é a causa principal de incapacidade grave e a longo prazo nos EUA. O impacto financeiro do acidente vascular cerebral é profundo, com custos diretos e indiretos estimados de US$ 65,5 bilhões em 2008 (Rosamond, et al., 2008). Os acidentes vasculares cerebrais podem ser divididos em duas categorias principais: isquêmicos (85%), nos quais ocorrem a oclusão vascular e uma hipoperfusão significativa, e os hemorrágicos (15%), nos quais existe o extravasamento de sangue para dentro do cérebro ou do espaço subaracnóideo (Hinkle & Guanci, 2007). Embora existam algumas similaridades entre os dois amplos tipos de acidentes vasculares cerebrais, existem diferenças quanto à etiologia, fisiopatologia, tratamento clínico, tratamento cirúrgico e cuidado de enfermagem. A Tabela 62.1 compara os acidentes vasculares cerebrais isquêmico e hemorrágico. Tabela 62.1 COMPARAÇÃO ENTRE OS PRINCIPAIS TIPOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Item Isquêmico Hemorrágico Causas Trombose de grande artéria Hemorragia intracerebral Trombose de pequena artéria penetrante Hemorragia subaracnóidea Embolia cardiogênica Aneurisma cerebral Criptogênico (sem causa conhecida) Malformação arteriovenosa Outras Principais sintomas na apresentação Dormência ou fraqueza da face, braço, perna, especialmente em um dos lados do corpo “Cefaleia explosiva” Nível de consciência diminuído Recuperação funcional Geralmente platôs aos 6 meses Mais lenta, geralmente platôs em cerca de 18 meses Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Um acidente vascular cerebral isquêmico ou “ataque cerebral” é uma perda súbita da função resultante da ruptura do suprimento sanguíneo para uma parte do cérebro. O termo ataque cerebral está sendo usado para sugerir aos profissionais de saúde e ao público que um acidente vascular cerebral é uma questão urgente de saúde similar ao ataque cardíaco. Com a aprovação da terapia trombolítica para o tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico agudo em 1996, ocorreu uma revolução nos cuidados dos pacientes após acidente vascular cerebral. O tratamento precoce com trombolíticos para acidente vascular cerebral isquêmico resulta em menos sintomas desse distúrbio e em menor perda da função (National Institute of Neurologic Disorders and Stroke [NINDS], 1995). A terapia trombolítica atualmente aprovada tem uma janela terapêutica de apenas 3 h após o início de um acidente vascular cerebral. A urgência é necessária por parte do público e dos profissionais de saúde para o rápido transporte do paciente a um hospital para avaliação e administração do medicamento. Os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos são subdivididos em cinco tipos diferentes, com base na causa: acidentes vasculares cerebrais trombóticos em grandes artérias (20%), acidentes vasculares cerebrais trombóticos em pequenas artérias penetrantes (25%), acidentes vasculares cerebrais embólicos cardiogênicos (20%), acidentes vasculares cerebrais criptogênicos (30%) e outros (5%) (ver Tabela 62.1). Os acidentes vasculares cerebrais trombóticos em grandes artérias são causados por placas ateroscleróticas nos grandes vasos sanguíneos do cérebro. A formação de trombos e a oclusão no local da aterosclerose resultam em isquemia e infarto (privação do suprimento sanguíneo) (Hinkle & Guanci, 2007). Os acidentes vasculares cerebrais trombóticos em pequenas artérias penetrantes afetam um ou mais vasos e são o tipo mais importante de acidente vascular isquêmico. Os acidentes vasculares cerebrais trombóticos em pequenas artérias também são denominados acidentes vasculares cerebrais lacunares, em razão da cavidade criada depois da morte do tecido cerebral infartado (American Association of Neuroscience Nurses [AANN], 2008). Os acidentes vasculares cerebrais embólicos cardiogênicos associam-se a arritmias cardíacas, geralmente à fibrilação atrial. Os acidentes vasculares cerebrais embólicos também podem estar associados a valvopatia cardíaca e trombos no ventrículo esquerdo. As embolias originam-se do coração e circulam até a vasculatura cerebral, mais comumente a artéria cerebral média esquerda, resultando em um acidente vascular cerebral. Os acidentes vasculares cerebrais embólicos podem ser prevenidos com o uso de terapia anticoagulante em pacientes com fibrilação atrial. As duas últimas classificações de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos são os acidentes vasculares cerebrais criptogênicos, que não têm causa conhecida, e os acidentes vasculares cerebrais por outras causas, como o uso de drogas ilícitas, coagulopatias, enxaqueca e dissecção espontânea das artérias carótidas ou vertebrais. Fisiopatologia Em um ataque cerebral isquêmico, existe a rupturado fluxo sanguíneo cerebral devido à obstrução de um vaso sanguíneo. Essa ruptura no fluxo sanguíneo inicia uma série complexa de eventos metabólicos celulares, denominados cascata isquêmica (Figura 62.1). Figura 62.1 Processos que contribuem para a lesão isquêmica das células cerebrais. Cortesia da National Stroke Association, Englewood, Colorado, EUA. A cascata isquêmica começa quando o fluxo sanguíneo cerebral diminui para menos de 25 mℓ por 100 g de sangue por minuto. Nesse ponto, os neurônios não são mais capazes de manter a respiração aeróbica. As mitocôndrias devem então passar para a respiração anaeróbica, que produz grandes quantidades de ácido láctico, causando uma alteração no pH. Essa passagem para a respiração anaeróbica menos eficiente também torna o neurônio incapaz de produzir quantidades suficientes de trifosfato de adenosina (ATP) para manter os processos de despolarização. As bombas da membrana que mantêm os equilíbrios eletrolíticos começam a entrar em insuficiência e as células param de funcionar. No início da cascata, existe uma área de baixo fluxo sanguíneo cerebral, denominada região de penumbra em torno da área do infarto. Essa região é um tecido cerebral isquêmico que pode ser recuperado no caso de uma intervenção oportuna. A cascata isquêmica ameaça as células na penumbra, porque a despolarização da membrana da parede celular leva a um aumento no cálcio intracelular e à liberação do glutamato. Quando continuado, o influxo de cálcio e a liberação de glutamato ativam diversas vias nocivas que acarretam a destruição da membrana celular, a liberação de mais cálcio e glutamato, vasoconstrição e a geração de radicais livres. Esses processos aumentam a área do infarto até a penumbra, ampliando o acidente vascular cerebral. Uma pessoa que sofre um acidente vascular cerebral tipicamente perde 1,9 milhão de neurônios a cada minuto, no acidente vascular cerebral não tratado, e o cérebro isquêmico envelhece 3,6 anos a cada hora sem tratamento (Saver, 2006). Cada etapa da cascata isquêmica representa uma oportunidade de intervenção para limitar a extensão do dano cerebral secundário causado por um acidente vascular cerebral. A área de penumbra pode ser revitalizada pela administração do ativador de plasminogênio tecidual (t-PA). Os medicamentos que protegem o cérebro contra lesão secundária são denominados neuroprotetores. Diversos estudos clínicos em andamento concentram-se nos medicamentos neuroprotetores e nas estratégias para melhorar a recuperação e a sobrevivência a acidentes vasculares cerebrais (Lapchak & Araujo, 2007). Manifestações Clínicas Um acidente vascular cerebral isquêmico pode causar uma ampla variedade de déficits neurológicos, dependendo da localização da lesão (que vasos são obstruídos), tamanho da área de perfusão inadequada e quantidade de fluxo sanguíneo colateral (secundário ou acessório) (ver Capítulo 60 para discussão da anatomia e do suprimento sanguíneo cerebral). O paciente pode apresentar-se com um dos seguintes sinais ou sintomas: • Dormência ou fraqueza da face, braço, perna, especialmente em um lado do corpo. • Confusão mental ou alteração no estado mental. • Dificuldade de falar ou de compreender a fala. • Distúrbios visuais. • Dificuldade de caminhar, tonturas ou perda do equilíbrio ou da coordenação. • Cefaleia intensa súbita. As funções motoras, sensoriais, cognitivas, dos nervos cranianos e outras funções podem estar comprometidas. A Tabela 62.2 revê os déficits neurológicos frequentemente encontrados em pacientes com acidentes vasculares cerebrais. A Tabela 62.3 compara os sintomas e comportamentos observados nos acidentes vasculares cerebrais do hemisférico direito com aqueles observados nos acidentes vascula- res cerebrais do hemisfério esquerdo. Tabela 62.2 DÉFICITS NEUROLÓGICOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: MANIFESTAÇÃO E IMPLICAÇÕES DE ENFERMAGEM Déficit Neurológico Manifestação Implicações de Enfermagem/Aplicações à Instrução do Paciente Déficits do Campo Visual Hemianopsia (perda da • Desatenção das pessoas e objetos do lado da Colocar objetos dentro do campo intacto da visão. metade do campo visual) homônimo perda visual • Negligência de um dos lados do corpo • Dificuldade de avaliar distâncias Abordar o paciente pelo lado do campo intacto da visão. Instruir/lembrar o paciente para virar a cabeça na direção da perda visual buscando compensá-la. Estimular o uso de óculos quando disponível. Quando ensinar ao paciente, fazê-lo dentro do campo visual intacto do paciente. Perda da visão periférica • Dificuldade para enxergar à noite Colocar objetos no centro do campo visual intacto do paciente. • Desatenção de objetos ou bordas de objetos Estimular o uso de uma bengala ou de outros objetos para identificar objetos na periferia do campo visual. A capacidade de dirigir precisará ser avaliada. Diplopia • Visão dupla Explicar ao paciente a localização de um objeto quando colocado próximo. Consistentemente, colocar nos mesmos lugares os itens de cuidado do paciente. Déficits Motores Hemiparesia • Fraqueza da face, braço e perna no mesmo lado (devido à lesão no hemisfério oposto) Hemiplegia • Paralisia da face, braço e perna do mesmo lado (devido à lesão no hemisfério oposto) Ataxia • Marcha cambaleante e instável • Incapaz de manter os pés juntos; precisa de uma base ampla para permanecer em pé Colocar objetos ao alcance do paciente no lado não afetado. Instruir o paciente a exercitar e a aumentar a força do lado não afetado. Estimular o paciente a realizar exercícios de amplitude de movimento no lado afetado. Proporcionar imobilização, quando necessário, para o lado afetado. Manter o alinhamento corporal na posição funcional. Exercitar o membro não afetado para aumentar a mobilidade, força e o uso. Apoiar o paciente durante a fase de deambulação inicial. Proporcionar dispositivo de suporte para deambulação (andador, bengala). Instruir o paciente a não caminhar sem assistência ou dispositivo de apoio. Disartria • Dificuldade em formar palavras Oferecer ao paciente métodos alternativos de comunicação. Permitir ao paciente um tempo suficiente para responder às comunicações verbais. Dar apoio ao paciente e à família para aliviar a frustração relacionada com a dificuldade de comunicação. Disfagia • Dificuldade de deglutição Testar os reflexos faríngeos do paciente antes de oferecer alimento ou líquidos. Ajudar o paciente com as refeições. Colocar alimento no lado não afetado da boca. Permitir bastante tempo para comer. Déficits Sensoriais Parestesias (ocorrem no lado oposto da lesão) • Dormência e formigamento do membro • Dificuldade com a propriocepção Instruir o paciente de que a sensação pode estar alterada. Proporcionar amplitude de movimento para as áreas afetadas e aplicar dispositivos corretivos quando necessário. Déficits Verbais Afasia expressiva • Incapaz de formar palavras compreensíveis; Encorajar o paciente a repetir os sons do alfabeto. pode ser capaz de falar dando respostas monossilábicas Afasia receptiva • Incapaz de compreender a palavra falada; pode falar, porém pode não fazer sentido Explorar a capacidade do paciente para escrever como um meio alternativo de comunicação. Falar lenta e claramente para ajudar o paciente a formar os sons. Explorar a capacidade do paciente de ler como um meio alternativo de comunicação. Afasia global (mista) • Combinação de ambas as afasias – receptiva Falar claramente e por meio de sentenças simples; usar gestos ou figuras e expressiva quando for capaz. Estabelecer meios alternativos de comunicação.Déficits Cognitivos • Perda de memória de curto e longo prazos • Limite de atenção diminuído • Capacidade comprometida de se concentrar • Raciocínio abstrato deficiente • Julgamento alterado Reorientar o paciente quanto ao tempo, ao espaço e à situação frequentemente. Usar pistas verbais e auditivas para orientar o paciente. Fornecer objetos familiares (fotografias da família, objetos favoritos). Usar linguagem não complicada. Compatibilizar tarefas visuais com uma pista verbal; segurar uma escova de dentes, simular a escovação dos dentes dizendo: “Eu gostaria que você escovasse os dentes agora”. Diminuir os ruídos e visões que causam distrações enquanto estiver ensinando o paciente. Repetir e reforçar frequentemente as instruções. Déficits Emocionais • Perda do autocontrole • Labilidade emocional Dar apoio ao paciente durante crises incontroláveis. • Tolerância diminuída a situações estressantes • Depressão • Isolamento • Medo, hostilidade e raiva • Sensações de isolamento Discutir com o paciente e a família argumentando que as explosões são devidas ao processo patológico. Estimular o paciente a participar de atividades em grupo. Fornecer estimulação para o paciente. Controlar situações estressantes se possível. Fornecer um ambiente seguro. Estimular o paciente a expressar seus sentimentos e frustrações relacionados com o processo patológico. Tabela 62.3 COMPARAÇÃO ENTRE ACIDENTES VASCULARES CEREBRAIS DOS HEMISFÉRIOS ESQUERDO E DIREITO Acidente Vascular Cerebral do Hemisfério Esquerdo Acidente Vascular Cerebral do Hemisfério Direito Paralisia ou fraqueza no lado direito do corpo Paralisia ou fraqueza no lado esquerdo do corpo Déficit do campo visual direito Déficit do campo visual esquerdo Afasia (expressiva, receptiva ou global) Capacidade intelectual alterada Comportamento lento e cauteloso Déficits perceptivos-espaciais Distração aumentada Comportamento impulsivo e julgamento prejudicado Falta de percepção dos déficits Adaptado de Hickey, J. V. (2009). The clinical practice of neurological and neurosurgical nursing (6th ed., p. 600). Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. Perda Motora Um acidente vascular cerebral é uma lesão do neurônio motor superior e ocasiona a perda do controle voluntário dos movimentos motores. Como os neurônios motores superiores decussam (cruzam), um distúrbio do controle motor voluntário em um lado do corpo pode refletir dano dos neurônios motores superiores do lado oposto do cérebro. A disfunção motora mais comum é a hemiplegia (paralisia de um lado do corpo) causada por uma lesão do lado oposto do cérebro. A hemiparesia, ou fraqueza de um lado do corpo, é outro sinal. O conceito de lesão de neurônios motores superiores e inferiores é descrito em maiores detalhes na Tabela 60.4, no Capítulo 60. No estágio inicial do acidente vascular cerebral, as manifestações clínicas iniciais podem ser paralisia flácida e perda ou diminuição dos reflexos tendíneos profundos. Quando esses reflexos profundos reaparecem (geralmente por volta de 48 h), o tônus aumentado é observado juntamente com espasticidade (aumento anormal do tônus muscular) dos membros do lado afetado. Perda da Comunicação Outras funções cerebrais afetadas pelo acidente vascular cerebral são a linguagem e a comunicação. De fato, o acidente vascular cerebral é a causa mais importante de afasia. As disfunções da linguagem e da comunicação são as seguintes: • Disartria (dificuldade de falar), causada pela paralisia dos músculos responsáveis pela produção da fala. • Disfasia (comprometimento da fala) ou afasia (perda da fala), que pode ser uma afasia expressiva, afasia receptiva ou afasia global (mista). • Apraxia (incapacidade de realizar uma ação previamente aprendida) como pode ser observado quando um paciente faz substituições verbais para sílabas ou palavras desejadas. Distúrbios Perceptivos A percepção é a capacidade de interpretar a sensação. O acidente vascular cerebral pode resultar em disfunções perceptivas visuais, distúrbios nas relações visuoespaciais e perda sensorial. As disfunções perceptivas visuais são causadas por distúrbios das vias sensoriais primárias entre o olho e o córtex visual. A hemianopsia (perda da metade do campo visual) homônima pode ocorrer devido a acidente vascular cerebral, e pode ser temporária ou permanente. O lado afetado da visão corresponde ao lado paralisado do corpo. Os distúrbios das relações visuoespaciais (percepção da relação de dois ou mais objetos em áreas espaciais) são frequentemente observados em pacientes com dano no hemisfério direito. Perda Sensorial As perdas sensoriais em decorrência de acidentes vasculares cerebrais podem tomar a forma de comprometimento leve do toque, ou podem ser mais graves, com perda da propriocepção (capacidade de perceber a posição e o movimento de partes do corpo), bem como dificuldade de interpretar estímulos visuais, táteis e auditivos. As agnosias são déficits na capacidade de reconhecer objetos anteriormente familiares percebidos por um ou mais dos sentidos. Comprometimento Cognitivo e Efeitos Psicológicos Quando ocorre dano no lobo frontal, a capacidade de aprendizagem, a memória ou outras funções intelectuais corticais superiores podem ser comprometidas. Essa disfunção pode ser refletida em um limite de atenção reduzido, dificuldades na compreensão, esquecimento e uma falta de motivação. Essas alterações podem fazer com que o paciente se torne facilmente frustrado durante a reabilitação. A depressão é comum e pode ser exagerada pela resposta natural do paciente a esse evento catastrófico. A labilidade emocional, hostilidade, frustração, ressentimento, falta de cooperação e outros problemas psicológicos podem ocorrer. Histórico e Achados Diagnósticos Qualquer paciente com déficits neurológicos requer uma história cuidadosa e um exame físico e neurológico completo. A avaliação inicial concentra-se na permeabilidade da via respiratória, que pode estar comprometida pela perda do reflexo do vômito ou da tosse e padrão respiratório alterado; no estado cardiovascular (incluindo pressão arterial, ritmo e frequência cardíacos, sopro carotídeo); e nos déficits neurológicos macroscopicamente evidentes. Os pacientes podem se apresentar na instituição de cuidados de fase aguda com sintomas neurológicos temporários. Um ataque isquêmico transitório (AIT) é um déficit neurológico que, tipicamente, dura menos de 1 h. Um AIT é manifestado pela perda súbita da função motora, sensorial ou visual. Os sintomas resultam de isquemia temporária (comprometimento do fluxo sanguíneo) para uma região específica do cérebro, porém, quando as imagens cerebrais são realizadas, não há evidência de isquemia. Um AIT pode servir como um alerta de acidente vascular cerebral iminente. A falta de avaliação e tratamento de um paciente que sofreu um AIT prévio pode resultar em um acidente - vascular cerebral e déficits irreversíveis (Lewandowski, Rao & Silver, 2008). O exame diagnóstico inicial para um acidente vascular cerebral geralmente é uma tomografia computadorizada sem contraste realizada emergencialmente para determinar se o evento é isquêmico ou hemorrágico (a categoria do acidente vascular cerebral determina o tratamento). A investigação diagnóstica adicional para o acidente vascular cerebral isquêmico envolve a tentativa de identificar a fonte dos trombos ou êmbolos. Um eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações e uma ultrassonografia de carótidas são os exames padrões. Outrosestudos podem incluir a angiografia por TC ou a ressonância magnética e a angiografia por ressonância magnética (angiorressonância magnética) (RM e ARM) do cérebro, do pescoço e de seus vasos; estudo de fluxo com Doppler transcraniano; ecocardiografia transtorácica ou transesofágica; TC intensificada com xenônio e uma TC com emissão de fóton único (SPECT) (Adams, Zoppo, Alberts, et al., 2007). Prevenção A prevenção primária do acidente vascular cerebral isquêmico continua sendo a melhor abordagem. Levar um estilo de vida saudável, que inclui não fumar, manter um peso saudável, seguir uma dieta saudável (incluindo consumo modesto de bebidas alcoólicas) e exercícios diários podem reduzir o risco de sofrer um acidente vascular cerebral em cerca de 50% (Chiuve, Rexrode, Spiegelman, et al., 2008). O risco de cardiopatia coronária e de acidente vascular cerebral diminuiu em mulheres que seguem a dieta Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH). A dieta DASH é rica em frutas e vegetais, moderada em laticínios de baixo teor de gordura e pobre em proteínas animais (tem uma quantidade substancial de proteínas vegetais oriundas de legumes e nozes) (Fung, Chiuve, McCullough, et al., 2008). As avaliações do risco de acidente vascular cerebral são uma oportunidade ideal para reduzir o risco desse transtorno, identificando-se pessoas, ou grupos de pessoas, sujeitas a alto risco de acidente - vascular cerebral e orientando os pacientes e a comunidade sobre o reconhecimento e prevenção do acidente vascular cerebral. Achados de pesquisas sugerem que o ácido acetilsalicílico em baixa dose pode reduzir o risco de acidente vascular cerebral em mulheres com fatores de risco (Ridker, Cook, Lee, et al., 2005). A idade avançada, sexo e raça são fatores de risco não modificáveis bem conhecidos para acidente - vascular cerebral. Os grupos de alto risco incluem pessoas com mais de 55 anos de idade; a incidência de acidente vascular cerebral mais que dobra em cada década sucessiva. Os homens têm uma taxa mais elevada de acidente vascular cerebral do que as mulheres. Outro grupo de alto risco é o de afrodescendentes; a incidência do primeiro acidente vascular cerebral é quase 2 vezes maior que em americanos brancos (Rosamond, et al., 2008). Os fatores de risco modificáveis para acidente vascular cerebral isquêmico incluem hipertensão, fibrilação atrial, hiperlipidemia, obesidade, tabagismo e diabetes (Quadro 62.1). Para pessoas que estão em alto risco, intervenções que alteram os fatores modificáveis, como o tratamento da hipertensão e da hiperglicemia e a interrupção do hábito de fumar, reduzem o risco de acidente vascular cerebral. Outras condições tratáveis que aumentam o risco de acidente vascular cerebral são a estenose assintomática da carótida e a valvopatia (p. ex., endocardite, próteses valvares cardíacas); a doença periodontal também está vinculada ao risco de acidente vascular cerebral. A associação entre a doença periodontal e acidente vascular cerebral pode resultar na resposta inflamatória do hospedeiro e da infecção bacteriana crônica, porém o mecanismo exato ainda não foi completamente compreendido. A doença periodontal é uma condição tratável é passível de prevenção. QUADRO Fatores de Risco Modificáveis para Acidente Vascular Cerebral Isquêmico 62.1 • Hipertensão (controlar a hipertensão, o principal fator de risco, é a chave para prevenir acidente vascular cerebral) • Fibrilação atrial • Hiperlipidemia • Diabetes melito (associada à aterogênese acelerada) • Tabagismo • Estenose carotídea assintomática • Obesidade • Consumo excessivo de bebidas alcoólicas Vários métodos de prevenção de acidentes vasculares cerebrais recorrentes foram identificados para pacientes com AIT ou acidente vascular cerebral isquêmico. Os pacientes com estenose carotídea moderada a grave são tratados com endarterectomia carotídea (Sacco, Adams, Albers, et al., 2006). Em pacientes com fibrilação atrial, que aumenta o risco de embolia, a administração de varfarina (Coumadin), um anticoagulante que inibe a formação de coágulos, pode prevenir tanto acidentes vasculares cerebrais trombóticos quanto embólicos. Tratamento Clínico Os pacientes que sofrem um AIT ou acidente vascular cerebral devem seguir tratamento clínico para prevenção secundária. Aqueles com fibrilação atrial (ou acidentes vasculares cerebrais cardioembólicos) são tratados com varfarina (Coumadin) com doses ajustadas, a não ser quando contraindicada. A razão normalizada internacional (INR)-alvo é de 2 a 3. Quando a varfarina está contraindicada, o ácido acetilsalicílico é a melhor opção, embora outros medicamentos possam ser usados se ambos estiverem contraindicados (Karch, 2008). Os medicamentos inibidores de plaquetas, incluindo o ácido acetilsalicílico, o dipiridamol de liberação ampla (Persantine) mais ácido acetilsalicílico, clopidogrel (Plavix), e ticlopidina (Ticlid) diminuem a incidência de infarto cerebral em pacientes que sofreram AIT e acidente vascular cerebral em consequência de causas embólicas ou trombóticas suspeitas. O medicamento específico que é usado baseia-se na história de saúde do paciente. Uma pesquisa verificou que os medicamentos classificados como inibidores da 3-hidroxi-2- metilglutarilcoenzima A redutase (também conhecidos como estatinas) reduzem eventos coronários e os acidentes vasculares cerebrais. Os benefícios foram independentes dos níveis de colesterol, e esses medicamentos agora são amplamente usados para a prevenção de acidentes vasculares cerebrais. A U.S. Food and Drug Administration (FDA) recentemente atualizou as indicações para um medicamento à base de histatina, como a sinvastatina (Zocor), para incluir a prevenção secundária de acidente vascular cerebral (Nassief & Marsh, 2008). Após um período de acidente vascular cerebral agudo, os medicamentos anti-hipertensivos também são usados quando indicados para a prevenção secundária do acidente vascular cerebral. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e os diuréticos tiazídicos também podem ser benéficos na prevenção do acidente vascular cerebral (Luders, 2007). Pesquisa em andamento está se concentrando nos diversos aspectos do tratamento clínico do acidente vascular cerebral isquêmico agudo. A FDA aprovou um dispositivo de recuperação do coágulo (cujo formato assemelha-se a um minúsculo saca-rolha) que abre a artéria bloqueada e restaura o fluxo sanguíneo para o cérebro (Felton, Ogden, Pena, et al., 2005). Outros dispositivos de recuperação do coágulo estão sendo pesquisados, incluindo cateteres usando vácuo e técnicas de ultrassom para ajudar na remoção dos coágulos do cérebro. Terapia Trombolítica Os agentes trombolíticos são usados para tratar acidente vascular cerebral isquêmico pela dissolução do coágulo sanguíneo que está bloqueando o fluxo sanguíneo para o cérebro. O t-PA recombinante é uma forma obtida por engenharia genética do t-PA, uma substância trombolítica produzida naturalmente pelo organismo. Ele funciona ligando-se à fibrina e convertendo plasminogênio em plasmina, o que estimula a fibrinólise da lesão aterosclerótica. O rápido diagnóstico de acidente vascular cerebral e o início da terapia trombolítica (dentro de 3 h) em pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico promovem uma diminuição no tamanho do acidente vascular cerebral e uma melhora global no resultadofuncional após 3 meses (Adams, et al., 2007; NINDS, 1995). Estudos clínicos em andamento continuam a investigar outros agentes trombolíticos (Lapchak & Araujo, 2007). Para obter todo o potencial da terapia trombolítica, é necessária a educação comunitária direcionada ao reconhecimento dos sintomas do acidente vascular cerebral e a obtenção de cuidados de emergência apropriados para assegurar o rápido transporte a um hospital e o início da terapia dentro do período de 3 h. Retardos tornam o paciente inelegível para a terapia trombolítica, porque a revascularização do tecido necrótico (que se desenvolve depois de 3 h) aumenta o risco de edema cerebral e de hemorragia. Estímulo ao Pronto Diagnóstico Após ter sido notificado pela equipe de serviço médico de emergência, o serviço de emergência entra em contato com a equipe apropriada (neurologista, neurorradiologista, departamento de radiologia, equipe de enfermagem, técnicos de ECG e laboratório) e os informa da chegada iminente do paciente ao hospital. Muitas instituições contam com equipes de acidente vascular cerebral agudo que respondem rapidamente, garantindo que o tratamento ocorra dentro do período estimado (AANN, 2008). O tratamento inicial requer o diagnóstico definitivo de um acidente vascular cerebral isquêmico por meio de imagens cerebrais e uma história cuidadosa para determinar se o paciente atende aos critérios da terapia com t-PA (Quadro 62.2). Algumas das contraindicações absolutas da terapia trombolítica incluem o início dos sintomas com mais de 3 h antes da admissão, um paciente em uso de anticoa- gulantes (com uma INR acima de 1,7) ou paciente que recentemente apresentou algum tipo de patologia intracraniana (p. ex., acidente vascular cerebral prévio, lesão cranioencefálica, traumatismo). Assim que ficar determinado que o paciente é candidato para terapia com t-PA, nenhum anticoa- gulante é administrado nas próximas 24 h. Quadro 62.2 • Critérios de Elegibilidade para a Administração de t-PA • Idade igual ou superior a 18 anos • Diagnóstico clínico de acidente vascular cerebral isquêmico • Momento de início do acidente vascular cerebral é conhecido há menos de 3 h • Pressão arterial sistólica 185 mmHg; diastólica 110 mmHg • Não se trata de acidente vascular cerebral de menor gravidade ou de resolução rápida • Ausência de convulsão no início do acidente vascular cerebral • Não faz uso de varfarina (Coumadin) • Tempo de protrombina 15 s ou INR 1,7 • Não fez uso de heparina durante as últimas 48 h com um tempo de tromboplastina parcial elevado • Contagem de plaquetas 100.000/mm3 • Ausência de hemorragia intracraniana, neoplasia, malformação arteriovenosa ou aneurisma • Não realizou procedimentos cirúrgicos importantes nos últimos 14 dias • Não apresentou acidente vascular cerebral, traumatismo craniano grave nem cirurgia intracraniana nos últimos 3 meses • Ausência de sangramento gastrintestinal ou urinário há menos de 21 dias Antes de receber o t-PA, o paciente é avaliado usando a National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS), uma ferramenta de avaliação padronizada que ajuda a avaliar a gravidade do acidente - vascular cerebral (Tabela 62.4). Os escores totais da NIHSS variam de 0 (normal) até 42 (acidente - vascular cerebral grave) (Kasner, 2006). A certificação na administração da escala é recomendada e está disponível para enfermeiras e outros profissionais de saúde. Tabela 62.4 RESUMO DA ESCALA DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL DOS NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH stroke scale (NIHSS) Categoria Descrição Escore 1a. Nível de consciência Lúcido Passível de ser ativado por estímulo mínimo Embotado, estimulação forte necessária para responder Não responsivo ou respostas reflexas apenas 1b. Perguntas sobre o nível de consciência (mês, idade) Responde a ambos corretamente Responde apenas a um corretamente 0 1 2 3 0 1 Ambos incorretos 2 1c. Comandos do nível de consciência (abrir, fechar os olhos; fechar o punho, abrir a mão) 2. Melhor olhar (olhos abertos – paciente acompanha o dedo ou a face do examinador) 3. Visual (introduzir estímulo visual/ameaça aos quadrantes dos campos visuais do paciente) Obedece a ambos corretamente Obedece apenas a um corretamente Ambos incorretos Normal Paralisia parcial do olhar Desvio forçado Não há perda visual Hemianopsia parcial 0 1 2 0 1 2 0 1 Hemianopsia completa Hemianopsia bilateral 4. Paralisia facial (mostrar os dentes, elevar as sobrancelhas e fechar os olhos Normal 2 3 0 com força) 5a. Motor; braço – esquerdo (elevar o membro a 90° e marcar desvio/movimento) 5b. Motor; braço – direito (elevar o membro a 90° e marcar desvio/movimento) 6a. Motor; perna – esquerda (elevar o membro a 30° e marcar desvio/movimento 6b. Motor; perna – direita (elevar o membro a 30° e marcar desvio/movimento Pequena Parcial Completa Ausência de desvio Desvia, porém mantém o braço no ar Incapaz de manter o braço no ar Nenhum esforço contra a gravidade Nenhum movimento Amputação, fusão articular (explicar) Ausência de desvio Desvia, porém mantém o braço no ar Incapaz de manter o braço no ar Nenhum esforço contra a gravidade Nenhum movimento Amputação, fusão articular (explicar) Ausência de desvio Desvia, porém mantém a perna no ar Incapaz de manter a perna no ar Nenhum esforço contra a gravidade Nenhum movimento Amputação, fusão articular (explicar) Ausência de desvio Desvia, porém mantém a perna no ar 1 2 3 0 1 2 3 4 N/A 0 1 2 3 4 N/A 0 1 2 3 4 N/A 0 1 Incapaz de manter a perna no ar Nenhum esforço contra a gravidade Nenhum movimento Amputação, fusão articular (explicar) 7. Ataxia de membros (teste dedo-nariz e calcanhar-canela) Ausente Presente em um membro Presente em dois membros 2 3 4 N/A 0 1 2 8. Sensorial (picar com agulha a face, braço, tronco e perna – comparar um lado com o outro) Normal Perda leve a moderada 0 1 Perda grave a total 9. Melhor linguagem (citar itens, descrever uma figura e ler frases) Sem afasia Afasia leve a moderada Afasia grave Mudo 10. Disartria (avaliar a clareza da fala fazendo o paciente repetir as palavras) Normal Disartria leve a moderada Disartria grave, principalmente ininteligível ou pior Intubado ou outra barreira física 11. Extinção e desatenção (usar informação de exames prévios para pontuar) Sem anormalidades Extinção visual, tátil, auditiva ou de outro tipo para estimulação bilateral simultânea Hemiatenção profunda ou extinção de mais de uma modalidade 2 0 1 2 3 0 1 2 N/A 0 1 2 Escore total Adaptado da versão disponível nos National Institute of Neurological Disorders and Stroke. National Institutes of Health, Bethesda, MD 20892, www.ninds.nih.gov/doctors/NIH_Stroke_Scaler.pdf. É recomendado que seja usada a escala completa com todas as instruções. Dosagem e Administração O paciente é pesado para determinar a dose de t-PA. A dosagem de t-PA é de 0,9 mg/kg, com uma dose máxima de 90 mg. Dez por cento da dose calculada é administrada sobre a forma de bolo de carbono (Pa CO ) dentro dos limites de 30 a 35 mmHg e posicionando para evitar a hipoxia. Outrasintravenoso (IV) durante 1 min. A dose remanescente (90%) é administrada por via IV durante 1 h através de uma bomba de infusão. O paciente é admitido na unidade de terapia intensiva ou na unidade de acidente vascular cerebral agudo, onde monitoramento cardíaco contínuo e avaliações neurológicas frequentes são realizados. Os sinais vitais são obtidos frequentemente,com especial atenção à pressão arterial (com a meta de reduzir o risco de hemorragia intracraniana). Exemplo de um protocolo padrão seria obter os sinais vitais a cada 15 min pelas primeiras 2 h, a cada 30 min pelas 6 h seguintes, e, daí por diante, a cada hora até 24 h após o tratamento. A pressão arterial deve ser mantida com a pressão sistólica abaixo de 180 mmHg e a pressão diastólica abaixo de 105 mmHg (Adams, et al., 2007). O controle das vias respiratórias é instituído com base na condição clínica do paciente e dos valores da gasometria arterial. Efeitos Colaterais O sangramento é o efeito colateral mais comum da administração de t-PA, e o paciente é rigorosamente monitorado para qualquer sangramento (locais de inserção IV, locais da sonda urinária, cânula endotraqueal, sonda nasogástrica, urina, fezes, vômitos, outras secreções). Um adiamento de 24 h na colocação de sondas nasogástricas, sondas urinárias e cateteres de pressão intra-arterial é recomendado. O sangramento intracraniano é uma complicação importante que ocorre em aproximadamente 6,4% dos pacientes no estudo inicial do t-PA (NINDS, 1995). Diversos fatores estão associados à ocorrência de sangramento intracraniano sintomático: idade superior a 70 anos, escore basal da NIHSS superior a 20, concentração sérica de glicose 300 mg/dℓ ou superior e edema ou efeito de massa observado na TC inicial do paciente. Terapia para Pacientes com Acidente Vascular Cerebral Isquêmico que Não Estão Recebendo t-PA Nem todos os pacientes são candidatos para terapia com t-PA. Outros tratamentos podem incluir a administração de anticoagulantes (heparina IV ou heparina de baixo peso molecular). Por causa dos riscos associados à anticoagulação, o seu uso geral não é mais recomendado para pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico agudo, seja tratado ou não com t-PA (Adams, et al., 2007). A manutenção cuidadosa da hemodinâmica cerebral para manter a perfusão cerebral é extremamente importante após um acidente vascular cerebral. A pressão intracraniana (PIC) aumentada em consequência de edema cerebral e complicações associadas podem ocorrer após um grande acidente - vascular cerebral isquêmico. As prescrições durante esse período incluem medidas para reduzir a PIC, com a administração de um diurético osmótico (p. ex., manitol), mantendo a pressão parcial do dióxido 2 medidas terapêuticas incluem as seguintes: • Elevação da cabeceira do leito para promover a drenagem venosa e reduzir a PIC aumentada. • Possível hemicraniectomia para PIC aumentada em consequência de edema cerebral em um acidente vascular cerebral muito grande. • Intubação com uma cânula endotraqueal para estabelecer uma via respiratória permeável, quando necessário. • Monitoramento hemodinâmico contínuo (as metas para pressão arterial permanecem controvertidas para um paciente que não está recebendo terapia trombolítica; o tratamento anti-hipertensivo pode ser suspenso a menos que a pressão arterial sistólica exceda 220 mmHg ou a pressão arterial diastólica exceda 120 mmHg). • Avaliação neurológica para determinar se o acidente vascular cerebral está evoluindo e se outras complicações agudas estão se desenvolvendo; essas complicações podem incluir convulsões, sangramento em consequência dos anticoagulantes ou bradicardia induzida por medicamentos, que pode resultar em hipotensão e diminuições subsequentes no débito cardíaco e na pressão de perfusão cerebral. As orientações clínicas para acidentes vasculares cerebrais agudos são apresentadas no Apêndice B. Tratamento das Complicações Potenciais O fluxo sanguíneo cerebral adequado é essencial para oxigenação cerebral. Quando o fluxo sanguíneo cerebral é inadequado, a quantidade de oxigênio suprida para o cérebro diminuirá e resultará em isquemia tecidual. A oxigenação adequada começa com os cuidados pulmonares, manutenção de uma via respiratória e administração de oxigênio suplementar quando necessário. A importância da troca gasosa adequada nesses pacientes não pode ser superestimada, uma vez que muitos estão em risco de pneumonia aspirativa. Outras complicações potenciais após o acidente vascular cerebral incluem as infecções do trato urinário, arritmias cardíacas e complicações da imobilidade. Prevenção Cirúrgica do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico O principal procedimento cirúrgico para pacientes selecionados com AIT e acidente vascular cerebral leve é a endarterectomia carotídea, que atualmente é o procedimento vascular não cardíaco mais frequentemente realizado. A endarterectomia carotídea é a remoção de uma placa aterosclerótica ou trombo da artéria carótida para prevenir acidente vascular cerebral em pacientes com doença oclusiva das artérias cerebrais extracranianas (Figura 62.2). Essa cirurgia está indicada para pacientes com sintomas de AIT ou acidente vascular cerebral leve que mostram ser causados por estenose grave (70 a 99%) ou moderada (50 a 69%) da artéria carótida com outros fatores de riscos significativos (Chaturvedi, Bruno, Feasby, et al., 2005). Figura 62.2 A placa, uma fonte potencial de embolia no ataque isquêmico transitório e no acidente vascular cerebral, é cirurgicamente removida da artéria carótida. A colocação de stent carotídeo, com ou sem angioplastia, é um procedimento menos invasivo que é utilizado, às vezes, para a estenose grave. Ele é usado para pacientes selecionados que estão em risco para cirurgia, e sua eficácia continua a ser investigada. Em um estudo recente, 334 pacientes com estenose grave da artéria carótida e de alto risco para a cirurgia submeteram-se a colocação de stent com o uso de um dispositivo de proteção contra embolia ou endarterectomia carotídea. Esse estudo demonstrou que esse procedimento não é inferior à endarterectomia carotídea, uma vez que resultou em evoluções similares a longo prazo (Gurm, Yadav, Fayad, et al., 2008). Cuidado de Enfermagem As complicações principais da endarterectomia carotídea são o acidente vascular cerebral, lesões dos nervos cranianos, infecção e hematoma na incisão e ruptura da artéria carótida. É importante manter os níveis adequados de pressão arterial no período pós-operatório imediato. A hipotensão é evitada para prevenir isquemia e trombose cerebral. A hipertensão não controlada pode precipitar hemorragia e edema cerebrais, hemorragia na incisão cirúrgica ou ruptura da reconstrução arterial. Os medicamentos são empregados para reduzir a pressão arterial aos níveis anteriores. O monitoramento cardíaco rigoroso é necessário, porque esses pacientes apresentam uma incidência elevada de doença da artéria coronária. Após a endarterectomia carotídea, usa-se um fluxograma neurológico para monitorar e documentar os parâmetros de avaliação para todos os sistemas orgânicos, com especial atenção ao estado neurológico. O cirurgião é notificado imediatamente quando um déficit neurológico se desenvolver. A formação de um trombo no local da endarterectomia é suspeito quando existe um aumento súbito nos déficits neurológicos, como fraqueza em um dos lados do corpo. O paciente deve estar preparado para repetir a endarterectomia. A dificuldade de deglutição, rouquidão ou outros sinais de disfunção dos nervos cranianos devem ser avaliados. A enfermeira concentra-se na avaliação dos seguintes nervos cranianos: nervo facial (VII), vago (X), espinal acessório (XI) e hipoglosso (XII). Algum edema no pescoço após a cirurgia é esperado; entretanto,edema extenso e formação de hematoma podem obstruir a via respiratória. Suprimentos de via respiratória de emergência, incluindo aqueles necessários para uma traqueostomia, devem estar disponíveis. A Tabela 62.5 oferece maiores informações sobre as complicações potenciais da cirurgia de carótida. Tabela 62.5 COMPLICAÇÕES SELECIONADAS DE ENDARTERECTOMIA CAROTÍDEA E PRESCRIÇÕES DE ENFERMAGEM Complicações Características Prescrições de Enfermagem Hematoma na Ocorre em 5,5% dos pacientes. Hematomas grandes e rapidamente expansivos exigem Monitorar o desconforto cervical e a expansão da incisão tratamento de emergência. Se a via respiratória estiver obstruída pelo hematoma, ferida. Relatar tumefação, sensação subjetiva de a incisão pode ser realizada à beira do leito. Hipertensão Hipertensão mal controlada aumenta o risco de complicações pós-operatórias, incluindo hematoma e síndrome de hiperperfusão. Existe uma incidência aumentada de comprometimento neurológico e morte devido à hemorragia intracerebral. Pode estar relacionada com anormalidades cirurgicamente induzidas na sensibilidade dos barorreceptores carotídeos. pressão no pescoço, dificuldade de respirar. O risco é mais elevado nas primeiras 48 h após a cirurgia. Verificar a pressão arterial frequentemente e relatar desvios em relação aos níveis basais. Observar e relatar déficits neurológicos de início recente. Hipotensão pós- operatória Síndrome de hiperperfusão Hemorragia intracerebral Ocorre em aproximadamente 5% dos pacientes. Tratada com infusão de líquidos e fenilefrina em baixa dose. Geralmente regride em 24 a 48 h. Pacientes com hipotensão devem realizar ECG seriados para descartar infarto do miocárdio. Ocorre quando a autorregulação dos vasos cerebrais falham. As artérias acostumadas ao fluxo sanguíneo diminuído podem ficar permanentemente dilatadas; o fluxo sanguíneo aumentado após a endarterectomia associado à vasoconstrição insuficiente leva a dano no leito capilar, edema e hemorragia. Ocorre raramente, porém, com frequência, é fatal (60%), ou resulta em grave comprometimento neurológico. Pode ocorrer secundariamente à síndrome de hiperperfusão. O risco está aumentado com a idade avançada, hipertensão, presença Monitorar a pressão arterial e observar sinais e sintomas de hipotensão. Observar quanto a uma cefaleia unilateral intensa melhorada ao assumir a posição sentada ou de pé. Monitorar o estado neurológico e relatar quaisquer alterações no estado mental ou no funcionamento neurológico imediatamente. de estenose de alto grau, fluxo colateral deficiente e fluxo lento na região da artéria cerebral média. PROCESSO DE ENFERMAGEM O PACIENTE QUE SE RECUPERA DE UM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO A fase aguda de um acidente vascular cerebral isquêmico pode durar 1 a 3 dias, porém um monitoramento contínuo de todos os sistemas corporais é essencial enquanto o paciente necessitar de cuidados. O paciente que sofreu um acidente vascular cerebral encontra-se em risco de múltiplas complicações, incluindo descondicionamento e outros problemas musculoesqueléticos, dificuldades de deglutição, disfunção intestinal e vesical, incapacidade de realizar o autocuidado, ruptura da pele. Após o acidente vascular cerebral ter se completado, o tratamento concentra-se no pronto início da reabilitação para quaisquer déficits. Histórico Durante a fase aguda, o fluxograma neurológico é mantido para proporcionar dados sobre as seguintes medidas importantes do estado clínico do paciente: • Alteração no nível de consciência ou responsividade, como evidenciado pelo movimento, resistência às mudanças de posição e resposta à estimulação; a orientação quanto ao tempo, lugar e pessoas. • Presença ou ausência de movimentos voluntários ou involuntários dos membros; tônus muscular; postura corporal; e posição da cabeça. • Rigidez ou flacidez do pescoço. • Abertura dos olhos, tamanho comparativo das pupilas, reações pupilares à luz e posição ocular. • Coloração da face e membros; temperatura e umidade da pele. • Qualidade e frequências do pulso e respiração; valores da gasometria arterial quando indicado, temperatura corporal e pressão arterial. • Capacidade para falar. • Volume de líquidos ingeridos ou administrados; volume de urina excretada a cada 24 h. • Presença de sangramento. • Manutenção da pressão arterial dentro dos parâmetros desejados. Após a fase aguda, a enfermeira avalia o estado mental (memória, limites de atenção, percepção; orientação, afeto, fala/linguagem), sensação/percepção (geralmente, o paciente tem uma menor percepção da dor e da temperatura), controle motor (movimento dos membros superiores e inferiores), capacidade de deglutição, estado de nutrição e de hidratação, integridade cutânea, tolerância à atividade e funções intestinal e vesical. A avaliação de enfermagem contínua mantém o foco em qualquer comprometimento na função das atividades diárias do paciente, porque a qualidade de vida após o acidente vascular cerebral está intimamente relacionada com o estado funcional do paciente. Diagnóstico Diagnósticos de Enfermagem Com base nos dados do histórico, os principais diagnósticos de enfermagem para o paciente com um acidente vascular cerebral podem incluir os seguintes: • Mobilidade física prejudicada relacionada com hemiparesia, perda de equilíbrio e da coordenação, espasticidade e lesão cerebral. • Dor aguda (ombro doloroso) relacionada com hemiplegia e desuso. • Déficits de autocuidado (banho, higiene e ações de usar o banheiro, vestir-se, arrumar-se e alimentar-se) relacionados com as sequelas do acidente vascular cerebral. • Sensopercepção alterada (cinestésica, tátil ou visual) relacionada com a recepção, transmissão e/ou integração sensorial alterada. • Deglutição comprometida. • Eliminação urinária alterada relacionada com a bexiga flácida, instabilidade do detrusor, confusão mental ou dificuldade de comunicação. • Processos de pensamento alterados relacionados com o dano cerebral. • Comunicação verbal prejudicada relacionada com dano cerebral. • Risco de integridade da pele prejudicada relacionado com hemiparesia, hemiplegia ou mobilidade diminuída. • Processos familiares disfuncionais relacionados com doenças catastróficas e com a carga da provisão dos cuidados. • Disfunção sexual relacionada com déficits neurológicos ou medo do fracasso. Problemas Interdependentes/Complicações Potenciais As complicações potenciais incluem: • Fluxo sanguíneo cerebral diminuído devido à PIC aumentada. • Oferta de oxigênio inadequada para o cérebro. • Pneumonia. Planejamento e Metas Embora a reabilitação comece no dia em que o paciente sofreu o acidente vascular cerebral, o processo é intensificado durante a convalescença e requer um esforço em equipe coordenado. É útil para a equipe saber como o paciente era antes do acidente vascular cerebral: suas enfermidades, capacidades, estado mental e emocional, características comportamentais e atividades de vida diária (AVD). Também é útil para os médicos conhecer a importância relativa dos preditores dos prognósticos do acidente vascular cerebral (idade, escore NIHSS e nível de consciência no momento da admissão) a fim de fornecer metas realistas aos sobreviventes do acidente vascular cerebral e suas famílias (Adams, et al., 2007). As principais metas para o paciente (e a família) podem incluir a mobilidade melhorada, a prevenção da dor no ombro, a obtenção do autocuidado, alívio da privação sensorial e perceptiva, prevenção da aspiração, continência do intestino e da bexiga, processos de pensamento melhorados, alcançar uma formade comunicação, manter a integridade cutânea, restaurar o funcionamento familiar, melhorar a função sexual e ausência de complicações. Prescrições de Enfermagem Os cuidados de enfermagem têm um impacto significativo sobre a recuperação do paciente. Frequentemente, muitos sistemas orgânicos estão comprometidos em decorrência do acidente vascular cerebral, e o cuidado consciencioso e as intervenções oportunas podem evitar complicações debilitantes. Durante e após a fase aguda, as prescrições de enfermagem concentram-se nas pessoas como um todo. Além de proporcionar cuidados físicos, a enfermeira estimula e apoia a recuperação, escutando o paciente e fazendo perguntas para avaliar o significado da experiência do acidente vascular cerebral. Melhora da Mobilidade e Prevenção das Deformidades Articulares Um paciente com hemiplegia tem paralisia unilateral (paralisia em um dos lados do corpo). Quando o controle os músculos voluntários é perdido, os músculos flexores fortes exercem controle sobre os extensores. O braço tende a aduzir (os músculos adutores são mais fortes que os abdutores) e a rodar internamente. O cotovelo e o punho tendem a flexionar, a perna afetada tende a rodar externamente na articulação do quadril e flexionar no nível do joelho, e o pé na articulação do tornozelo apresenta uma supinação e tende para a flexão plantar. O posicionamento correto é importante para evitar contraturas; são usadas medidas para aliviar a pressão, ajudar na manutenção do bom alinhamento corporal e prevenir neuropatias compressivas, especialmente dos nervos ulnar e fibular. Como os músculos flexores são mais fortes que os músculos extensores, uma tala aplicada à noite no membro afetado pode evitar a flexão e manter o posicionamento correto durante o sono. (Ver Capítulo 11 para informações adicionais.) prevenção da adução do ombro. Para evitar a adução do ombro afetado enquanto o paciente encontra- se acamado, um travesseiro é colocado na axila quando existe uma rotação externa limitada; isso mantém o braço afastado do tórax. Um travesseiro é posicionado sob o braço, e o braço é colocado em uma posição neutra (ligeiramente flexionado), com as articulações distais posicionadas em um nível mais elevado que as articulações mais proximais (i. e., o cotovelo é posicionado mais alto que o ombro e o punho mais alto que o cotovelo). Isso ajuda a prevenir o edema e a fibrose articular resultante que limitará a amplitude de movimento se o paciente readquirir o controle do braço (Figura 62.3). Figura 62.3 Posicionamento correto para evitar a adução do ombro. posição da mão e dos dedos. Os dedos são posicionados de modo a ficar pouco flexionados. A mão é posicionada em supinação leve (as palmas das mãos para cima), que é a posição mais funcional. Quando o membro superior está flácido, uma tala pode ser usada para apoiar o punho e a mão em uma posição funcional. Se o membro superior estiver espástico, não se usa um rolo de mão, porque ele estimula o reflexo da preensão. Nessa situação, uma tala dorsal para o punho é útil para permitir que a palma da mão esteja livre de pressão. Todo o esforço é feito para evitar o edema da mão. A espasticidade, particularmente na mão, pode ser uma complicação incapacitante após o acidente - vascular cerebral. Pesquisadores relataram que injeções intramusculares repetidas de toxina botulínica tipo A nos músculos do punho e dos dedos reduziram a espasticidade dos membros superiores após acidente vascular cerebral, resultando em melhora significativa e sustentada no tônus muscular, incapacidade reduzida e qualidade de vida melhorada (Elovic, Brashear, Kaelin, et al., 2008). Outros tratamentos para espasticidade podem incluir alongamento e aplicação de tala. mudança de posição. A posição do paciente deve ser trocada a cada 2 h. Posicionar um paciente em decúbito lateral, usando um travesseiro entre as pernas antes que o paciente seja virado. Para promover o retorno venoso e evitar edema, a porção superior da coxa não deve ser flexionada em ângulo agudo. O paciente pode ser virado de um lado para o outro, porém, se a sensação estiver comprometida, o período de tempo gasto sobre o lado afetado deve ser limitado. Quando possível, o paciente é posicionado em decúbito ventral por 15 a 30 min várias vezes ao dia. Um pequeno travesseiro ou um apoio é colocado sob a pelve, estendendo-se a partir do nível do umbigo até o terço superior da coxa (Figura 62.4). Essa posição ajuda a promover a hiperextensão das articulações do quadril, que é essencial para a marcha normal e ajuda a evitar as contraturas de flexão do joelho e dos quadris. A posição de decúbito ventral pode ajudar a drenar as secreções brônquicas e evita as deformidades contraturais dos ombros e joelhos. Durante o posicionamento, é importante reduzir a pressão e mudar frequentemente a posição para evitar úlceras de pressão. Figura 62.4 A posição de decúbito ventral com apoio de travesseiro ajuda a impedir a flexão dos quadris. estabelecimento de um programa de exercícios. Os membros afetados são exercitados passivamente e movimentados em uma amplitude de movimento completa 4 a 5 vezes/dia para manter a mobilidade articular, readquirir o controle motor, prevenir contraturas no membro paralisado, evitar maior deterioração do sistema neuromuscular e melhorar a circulação. Os exercícios são úteis para evitar a estase venosa, que pode predispor o paciente à trombose e embolia pulmonar. A repetição de uma atividade forma novas vias no SNC e, consequentemente, estimula novos padrões de movimento. No início, os membros geralmente estão flácidos. Quando houver retesamento em qualquer área, os exercícios de amplitude de movimento devem ser realizados com maior frequência (Capítulo 11). O paciente é observado para sinais e sintomas que possam indicar embolia pulmonar ou carga de trabalho excessiva durante o exercício; esses incluem dispneia, dor torácica, cianose e frequência de pulso crescente com exercício. Períodos curtos e frequentes de exercícios sempre são preferíveis a perío- dos mais longos em intervalos infrequentes. A regularidade no exercício é mais importante. A melhora na força muscular e a manutenção da amplitude de movimento podem ser alcançadas mediante exercícios diários. O paciente é estimulado e lembrado para exercitar o lado não afetado em intervalos distribuídos durante todo dia. É útil desenvolver um esquema por escrito para lembrar o paciente das atividades de exercício. A enfermeira supervisiona e apoia o paciente durante essas atividades. O paciente pode aprender a colocar a perna não afetada sob a perna afetada para ajudá-la a mover-se quando girar e se exercitar. Exercícios para flexibilidade, fortalecimento, coordenação, resistência e equilíbrio preparam o paciente para deambulação. Exercícios de fortalecimento do músculo quadríceps e dos músculos glúteos são iniciados logo, para melhorar a força muscular necessária para caminhar; eles são realizados pelo menos 5 vezes/dia durante 10 min de cada vez. preparo para deambulação. Tão logo seja possível, o paciente é auxiliado a sair do leito e o programa de reabilitação ativa é iniciado. O paciente primeiramente aprende a manter o equilíbrio enquanto se senta e, em seguida, aprende a se equilibrar quando estiver de pé. Quando o paciente tem dificuldade em atingir um equilíbrio em pé, uma mesa inclinável, quetraz o paciente lentamente a uma posição ereta, pode ser usada. As mesas inclináveis são particularmente úteis no caso de pacientes que estiverem em repouso no leito por um período prolongado e têm alterações ortostáticas da pressão. Se o paciente precisar de uma cadeira de rodas, o tipo dobrável com freios manuais é o mais prático, por permitir que o paciente manipule a cadeira; esta deve ser baixa o suficiente para permitir que o paciente a impulsione com o pé não afetado, e estreita o bastante para ser usada no domicílio. Ao se transferir o paciente da cadeira para outro lugar, os freios devem estar aplicados e trancados de ambos os lados da cadeira. O paciente geralmente está pronto para caminhar logo que ele tem um equilíbrio em pé. Barras paralelas são úteis nesses primeiros esforços. Uma cadeira ou cadeira de rodas deve estar bem à mão caso o paciente fique fatigado subitamente ou tenha tonturas. Os períodos de treinamento para deambulação devem ser curtos e frequentes. Quando o paciente ganha força e confiança, uma bengala ajustável pode ser usada para apoio. Em geral, uma bengala de três ou quatro pernas proporciona um apoio estável nas fases iniciais de reabilitação. Prevenção da Dor no Ombro Até 72% dos pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral têm dor no ombro (Duncan, Zorowitz, Bates, et al., 2005). Essa dor pode evitar que eles aprendam novas habilidades e afetar sua qualidade de vida (Chae, Mascarenhas, Yu, et al., 2007). A função do ombro é essencial para alcançar o equilíbrio e realizar transferências e atividades de autocuidado. Três problemas podem ocorrer: ombro dolorido, subluxação do ombro e síndrome ombro-mão. Uma articulação do ombro flácida pode ser hiperestendida pelo uso de força excessiva ao se virar o paciente ou com um movimento excessivamente vigoroso do braço e do ombro. Para evitar a dor do ombro, a enfermeira nunca deve levantar o paciente pelo ombro flácido nem tracionar o braço ou ombro afetado. Se o braço estiver paralisado, pode ocorrer subluxação (luxação incompleta) no ombro como resultado de distensão excessiva da cápsula articular e da musculatura pela força da gravidade quando o paciente se senta ou fica de pé nos estágios iniciais após um acidente vascular cerebral. Isso provoca fortes dores. A síndrome ombro-mão (ombro doloroso e tumefação generalizada da mão) pode causar um ombro congelado e, finalmente, a atrofia dos tecidos subcutâneos. Um ombro que se torna rígido mostra-se geralmente dolorido. Muitos problemas do ombro podem ser evitados pelo movimento e posicionamento apropriado do paciente. O braço flácido é posicionado em uma mesa ou com travesseiros enquanto o paciente está sentado. Alguns clínicos defendem o uso de uma tipoia usada de forma correta quando o paciente começa a deambular, para impedir que o membro superior paralisado penda sem apoio. Os exercícios de amplitude de movimento são importantes para impedir o ombro dolorido. São evitados movimentos excessivamente vigorosos do braço. O paciente é instruído a entrelaçar os dedos, colocar as palmas das mãos unidas e empurrar as mãos entrelaçadas lentamente para adiante, procurando trazer as escápulas para frente; ele eleva então ambos os braços acima da cabeça. Isso é repetido o dia todo. O paciente é instruído a flexionar o punho afetado periodicamente e a mover todas as articulações dos dedos afetados. É encorajado a tocar, massagear, esfregar e observar ambas as mãos. É útil pressionar a parte posterior da mão com firmeza contra uma superfície. A elevação do braço e da mão também é importante para impedir o edema pendente da mão. Pacientes com dores contínuas após tentativas de movimento e posicionamento podem necessitar da adição de analgesia ao seu programa de tratamento. Outros tratamentos podem incluir injeções para a articulação do ombro com medicamentos à base de corticosteroides, estimulação elétrica, calor ou gelo e massagem dos tecidos moles (Duncan, et al., 2005). Os medicamentos são úteis no tratamento da dor pós-acidente vascular cerebral. O hidrocloreto de amitriptilina (Elavil) é usado, porém pode causar problemas cognitivos, tem um efeito sedativo e não é efetivo em todos os pacientes. Os medicamentos anticonvulsivantes lamotrigina (Lamictal) e pregabalina (Lyrica) mostraram-se efetivos para dor pós-acidente vascular cerebral e podem servir como alternativas para pacientes que não tolerem a amitriptilina (Vranken, Dijkgraaf, Kruis, et al., 2008). Melhora do Autocuidado Tão logo o paciente possa sentar-se, as atividades de higiene pessoal são estimuladas. O paciente é ajudado a estabelecer metas realistas; se possível, uma nova tarefa é adicionada diariamente. A primeira etapa é realizar todas as atividades de autocuidado no lado não afetado. Atividades como pentear o cabelo, escovar os dentes, barbear-se com um barbeador elétrico, tomar banho e comer podem ser reali- zadas com uma das mãos e devem ser estimuladas. Embora o paciente possa se sentir desajeitado inicialmente, essas habilidades motoras podem ser aprendidas pela repetição, e o lado não afetado tende a se tornar mais forte com o uso. A enfermeira deve certificar-se de que o paciente não negligencia o lado afetado. Dispositivos de assistência ajudarão a compensar alguns dos déficits do paciente (Quadro 62.3). Uma pequena toalha é mais fácil de controlar para se secar após o banho, e lenços de papel em caixa são mais fáceis de usar do que um rolo de papel higiênico. Quadro 62.3 • Dispositivos Auxiliares para Melhorar o Autocuidado após um Acidente Vascular Cerebral Dispositivos para se Alimentar • Toalha antiderrapante para estabilizar os pratos • Pratos com borda alta para evitar que os alimentos sejam empurrados para fora do prato • Utensílios de cabo largo para acomodar uma preensão fraca Dispositivos para Tomar Banho e se Arrumar • Esponja para banho com cabo longo • Barras laterais para apoio, tapetes antiderrapantes, chuveiros manuais (duchas) • Barbeadores elétricos com cabeças a 90° para manuseio • Assento no chuveiro e na banheira, estacionários ou sobre rodas Dispositivos para Vaso Sanitário • Assento de vaso sanitário elevado • Barras laterais de apoio junto ao vaso sanitário Dispositivos para se Vestir • Fechos com Velcro • Sapatos com cadarços elásticos • Calçadeira de cabo longo Dispositivos para Mobilidade • Bengalas, andadores, cadeiras de rodas • Dispositivos de transferência, como pranchas de transferência e cintos O retorno da capacidade funcional é importante para o paciente que se recupera após um acidente - vascular cerebral. Uma avaliação basal inicial sobre a capacidade funcional com um instrumento como a Functional Independence Measure (FIM) é importante no planejamento da equipe e no estabelecimento de metas para o paciente. A FIM é um instrumento amplamente utilizado na reabilitação de acidentes vasculares cerebrais e proporciona informação valiosa sobre a função motora, social e cognitiva (Kasner, 2006). O moral do paciente pode melhorar se as atividades de deambulação são realizadas com roupas de sair. A família é instruída a trazer roupas que sejam, de preferência, um número maior que o tamanho usado habitualmente. São mais adequadas roupas providas de fechos frontais ou laterais ou fechos de velcro. O paciente tem melhor equilíbrio se a maior parte das atividades de se vestir for realizada enquanto ele estiver sentado. Problemas perceptivos podem tornardifícil para o paciente vestir-se sem ajuda, devido a uma incapacidade de adequar as roupas às partes do corpo. Para ajudar o paciente, a enfermeira pode tomar providências visando manter o ambiente organizado e sem desordens, porque um paciente com problemas perceptivos se distrai facilmente. As roupas são colocadas do lado afetado, na ordem em que vão ser vestidas. O uso de um espelho grande ao se vestir promove o reconhecimento pelo paciente de que ele está vestindo o lado afetado. O paciente tem que fazer muitos movimentos compensatórios ao se vestir; esses movimentos podem produzir fadiga e torções dolorosas dos músculos intercostais. Proporcionam-se apoio e estímulo para evitar que o paciente se sinta excessivamente fatigado e desanimado. Mesmo com o treinamento intensivo, nem todos os pacientes podem obter independência no vestir-se. Administração das Dificuldades Sensoperceptivas Pacientes com campo de visão diminuído devem ser abordados pelo lado em que a percepção visual está intacta. Todos os estímulos visuais (p. ex., relógio, calendário, televisão) devem ser colocados desse lado. O paciente pode ser instruído a virar a cabeça na direção do campo visual deficiente para compensar essa perda. A enfermeira deve fazer contato olhos nos olhos com o paciente e chamar sua atenção para o lado, encorajando o paciente a mover a cabeça. Ela também pode optar por ficar de pé em uma posição que encoraje o paciente a se mover ou se virar para visualizar quem está no quarto. Aumentar a iluminação natural ou artificial no quarto e fornecer óculos são auxiliares importantes para a melhora da visão. O paciente com uma hemianopsia (perda de metade do campo visual) homônima vira-se em direção oposta ao lado do corpo afetado e tende a negligenciar esse lado e respectivo espaço; isso é designado amorfossíntese. Nesses casos, o paciente não consegue ver o alimento em metade da bandeja e somente metade do quarto é visível. É importante que a enfermeira lembre constantemente ao paciente o outro lado do corpo, mantendo o alinhamento das extremidades e, se possível, colocando os membros onde o paciente possa vê-los. Auxílio à Nutrição O acidente vascular cerebral pode resultar em problemas de deglutição (disfagia) devido ao comprometimento da função da boca, língua, palato, laringe, faringe ou porção superior do esôfago. Os pacientes devem ser observados quanto a paroxismos de tosse, alimentos escorrendo ou acumulando-se de um lado da boca, alimentos retidos por um longo período na boca ou regurgitação nasal ao engolir líquidos. As dificuldades de deglutição colocam o paciente em risco de aspiração, pneumonia, desidratação e desnutrição. Um fonoaudiólogo vai avaliar a capacidade de deglutição do paciente. Quando a função de deglutição está parcialmente comprometida, ela pode retornar com o passar do tempo, ou o paciente pode ser instruído quanto a técnicas alternativas de deglutição, aconselhado a ingerir porções menores de alimento e informado quanto aos tipos de alimentos que são mais fáceis de engolir. O paciente pode iniciar uma dieta líquida espessa ou pastosa, porque esses alimentos são mais fáceis de engolir que líquidos ralos. Colocar o paciente na posição sentada ereta, de preferência fora do leito, em uma cadeira, e instruí-lo a baixar o queixo em direção ao tórax ao deglutir vai ajudar a evitar a aspiração. A dieta pode ser avançada à medida que o paciente torna-se mais eficiente na deglutição. Se o paciente não conseguir retomar a ingestão oral, uma sonda de alimentação gastrintestinal pode ser passada para alimentações contínuas por sonda e administração de medicamentos. As sondas enterais podem ser nasogástricas (posicionadas no estômago) ou nasoenterais (colocadas no duodeno) para reduzir o risco de aspiração. As responsabilidades da enfermeira na alimentação incluem a elevação da cabeceira do leito a pelo menos 30° para prevenir aspiração, verificar a posição da sonda antes da alimentação, garantir que a bainha do tubo de traqueostomia (caso esteja colocado) esteja inflada e administrar lentamente a alimentação pela sonda. A sonda é aspirada periodicamente para garantir que as alimentações estão passando para o trato gastrintestinal. As alimentações retidas e residuais aumentam o risco de aspiração. Os pacientes com alimentações retidas podem beneficiar-se da colocação de uma sonda de gastrostomia ou uma sonda de gastrostomia endoscópica percutânea. Em um paciente com uma sonda nasogástrica, a sonda de alimentação deve ser posicionada no duodeno para reduzir o risco de aspiração. Para alimentações a longo prazo, uma sonda de gastrostomia é preferida. O tratamento de pacientes com alimentações por sonda é discutido no Capítulo 36. Obtenção do Controle Intestinal e Vesical Após um acidente vascular cerebral, o paciente pode apresentar incontinência urinária transitória devido a confusão mental, incapacidade de comunicar suas necessidades, incapacidade de usar o patinho ou a comadre e a comprometimento motor e do controle postural. Ocasionalmente, após um acidente vascular cerebral, a bexiga torna-se atônica, com a sensação prejudicada em resposta ao enchimento vesical. Algumas vezes, o controle do esfíncter urinário externo é perdido ou diminuído. Durante esse período, o cateterismo intermitente com técnica estéril é conduzido. Após o tônus - muscular aumentar e os reflexos tendíneos profundos retornarem, o tônus vesical aumenta e a espasticidade da bexiga pode se desenvolver. Como a percepção do paciente está alterada, incontinência/retenção urinária persistente pode ser sinal de uma lesão cerebral bilateral. O padrão da micção é analisado, e o patinho ou comadre é oferecida segundo esse padrão ou horário. A postura ereta e a posição de pé são úteis para os homens durante esse aspecto da reabilitação. Os pacientes podem ter problemas com o controle intestinal, especialmente constipação intestinal. A menos que contraindicado, uma dieta rica em fibras e uma ingesta adequada de líquidos (2 a 3 ℓ/dia) devem ser fornecidas, e um tempo regular (geralmente após o desjejum) deve ser estabelecido para o uso do banheiro. Ver Capítulo 11 para informações adicionais sobre o controle intestinal e vesical. Melhora dos Processos de Pensamento Após um acidente vascular cerebral, o paciente pode ter problemas com déficits cognitivos, comportamentais e emocionais relacionados com o dano cerebral. Entretanto, em muitas circunstâncias, um grau considerável de função pode ser recuperado, porque nem todas as áreas do cérebro são igualmente danificadas; algumas permanecem mais intactas e funcionais que outras. Após a avaliação que delineia os déficits do paciente, um neuropsicólogo, em colaboração com o médico assistente, psiquiatra, enfermeira e outros profissionais, estruturam programas de treinamento usando o retreinamento cognitivo-perceptivo, imagens visuais, orientação quanto à realidade ou procedimentos de fornecimento de indicações para compensar as perdas. O papel da enfermeira é de apoio. Ela revê os resultados dos exames neuropsicológicos, observa o desempenho e o progresso do paciente, fornece uma retroalimentação positiva e, o que é mais importante, transmite uma atitude de confiança e esperança. As prescrições tiram proveito dos pontos fortes do paciente e de suas habilidades remanescentes, tentando ao mesmo tempo melhorar o desempenho
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