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A TÓPICA

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VIEHWEG: O RESGATE DAS TÓPICAS ARISTOTÉLICAS
Sobretudo após o final da Segunda Guerra Mundial, Viehweg resgata a tópica aristotélica como forma adequada para a interpretação do direito.
Os Tópicos constituem o tratado de Aristóteles sobre a arte dialética - a invenção e descoberta de argumentos em que as proposições se apoiam em opiniões comuns[2] ou endoxa. Os tópicos são "lugares" de onde tais argumentos podem ser descobertos ou inventados. Para Aristóteles, topoi, são pontos de vista utilizáveis e aceitáveis em toda a parte, mais ou menos estáveis e que enumerados podem nos ajudar a resolver o problema do raciocínio diante das aporias.
A Tópica pode ser compreendida como a arte de argumentação mediante o uso de opiniões correntes na sociedade, com o fim de encontrar uma solução para um determinado problema.
A descoberta, então, de novos conhecimentos se faz pela dialética, consistente na argumentação fundada em conhecimentos aceitos pela sociedade oposta a contra-argumentações de modo a se chegar a um novo conhecimento.
Viehweg resgata a forma tópico-problemática da antiguidade clássica como uma outra forma de fundamentar o raciocínio. Ele “reintroduz a argumentação como ferramenta do direito para a busca da decisão” (Eduardo Bittar e  Guilherme Assis de Almeida - Curso de filosofia do direito.2.ed., 2002, p.409).
A tópica é definida por Theodor Viehweg como “uma techné do pensamento que se orienta para o problema”. Trata-se de uma teoria da práxis, pensada pelo jusfilósofo como, a um só tempo, estrutura fundamental do saber jurídico e modelo descritivo da aplicação desse mesmo saber. 
Como asseverado, o Direito tem por objeto a resolução de questões afetas ao agir humano, isto é, à decisão hábil a determinar qual comportamento deve ser adotado em cada situação, impingindo-lhe, se for o caso, uma sanção. Tais questões qualificam-se como problemas, por inadmitirem uma resposta inequívoca tal qual a das ciências matemáticas, sendo a tópica o caminho possível na investigação da solução a tais imbróglios.   
O estilo de pensamento tópico pretende, pois, fornecer um modo de agir que se apresente como resposta a uma questão prática. Parte-se do problema, o qual, a partir da mirada pré-compreensiva do jurista, faz emergir uma série de pontos de vista, de lugares reflexivos, de razões de decidir, que recomendam a tomada de posição em um ou em outro sentido. A esses elementos, Viehweg dá o nome de topoi.
É a partir dos topoi que se desenvolve o raciocínio tópico, que Viehweg sustenta como formador da coerência e da integridade do ordenamento jurídico. A decisão a ser adotada diante do problema concreto será resultante do enfrentamento racional, ou seja, do confronto dialético entre os topoi, que têm força persuasiva diante do confronto de opiniões. Daí a íntima conexão entre a tópica e a retórica. Com efeito, a preponderância de uma decisão num ou noutro sentido diante de vários pontos de vista será dada pelo discurso, ou seja, de forma dialógica. A decisão a ser adotada será, com efeito, a resultante do confronto dialético entre esses pontos de vista (topoi). 
A teoria tópica veio para romper com o método sistemático-dedutivo, com a lógica formal que interpreta o direito como um sistema fechado. Ela tem uma ideia contrária, interpreta o direito como um sistema aberto (não há certezas absolutas, nada é indiscutível), parte do simplesmente provável, de conhecimentos fragmentários, ou seja, seus pontos de partida são abertos para discussão, são tentativas eternas de compreensão.
A tópica parte do reflexo para a reflexão, do específico para o geral, ou seja, a partir do problema encontra-se a solução da qual são retirados os fundamentos de validade. Além disso, a tópica se dirige para o problema e em razão deste. Viehweg acredita, que a tópica “é a forma adequada para o direito equacionar suas questões”, pois, para ele, o direito é “arte de pensar problemas”.
A tópica apresenta como características fundamentais: ser problemática; buscar e analisar premissas, tendo esta atividade como principal, já que para a tópica a ênfase recai nas premissas; e usar como argumentos iniciais do diálogo os topos ou lugares-comuns que consistem em ideias aceitas consensualmente e como uma grande força persuasiva.
	São exemplos de topoi na área jurídica:
As exceções têm interpretação jurídica
Na dúvida, deve-se dividir em partes iguais
Quem cometeu uma falta deve arcar com suas consequências 
A principal crítica à aplicação dos tópicos para a interpretação do direito é a imprecisão desses lugares comuns e o fato de, num litígio, ser raro ambas a partes não poderem invocar um ou outro a seu favor, não sendo possível prever o consenso a respeito de suas significações.

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