Buscar

Identidades capítulo 3

Prévia do material em texto

IDENTIDADES E DIVERSIDADES ÉTNICO-RACIAIS 
 
CAPÍTULO 3 - COMO DESCONSTRUIR A COLONIZAÇÃO NA PRÁTICA 
 
Introdução 
Você já parou para pensar a respeito da origem e do histórico dos direitos humanos? E sobre o 
respeito à diversidade étnico-racial, com base nos direitos humanos? 
Neste capítulo, refletiremos juntos sobre as bases dos direitos humanos, sua relação com o respeito 
à diversidade cultural e conheceremos as bases dos direitos civis. 
Veremos que a experiência da escravidão na história do Brasil é a semente da desigualdade que nos 
assola. Mesmo depois de aboli-la, observamos diversos aspectos que levaram à continuidade de seu 
projeto, como a presença dos grandes latifúndios e do sistema patriarcal, que levaram o negro a 
continuar sendo visto como inferior, legitimando a exploração. A marginalização foi perpetrada pela 
falta de políticas públicas para que os escravos libertos fossem inseridos na sociedade, além da 
imigração europeia como forma de substituir sua mão de obra – na agricultura de café e na indústria. 
Pensando nesse contexto social, você já refletiu sobre a necessidade de ações afirmativas e políticas 
públicas de promoção da igualdade racial? Aqui você terá a oportunidade de compreender o 
significado desses termos, além de conhecer quais ações foram implantadas no Brasil. 
Por fim, terá a oportunidade de pensar e recordar sobre as propostas da Legislação 10.639/2003, a 
qual altera as bases da educação nacional e inclui os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
brasileira no ensino básico nacional (BRASIL, 2003). Refletiremos também sobre a lei 11.645/2008, a 
qual diz respeito à inclusão da História da África e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar 
(BRASIL, 2008). 
Após estudar este capítulo, você será capaz de reconhecer a importância de educar cidadãos 
conscientes sobre seu pertencimento étnico-racial. 
Bom estudo! 
3.1 Direitos humanos, diversidade e direitos civis 
Neste item veremos os motivos que fomentaram as propostas de declaração dos direitos humanos e 
quais as dificuldades de colocá-las em prática. Pensaremos sobre as principais críticas a essa 
declaração e sobre como foi realizada no contexto de pós-Segunda Guerra Mundial – um período em 
que não havia consenso quanto aos conceitos de direitos e de humanos. 
Vamos encarar alguns desafios juntos, ao analisar em que medida as convenções de eliminação de 
todas as formas de discriminação racial, em 1965, e dos direitos dos povos indígenas, aprovada em 
2007, têm relação com as conquistas pelo direito de civil de forma mais ampla em nosso país (BRASIL, 
2007). 
3.1.1 Os sentidos e as origens dos direitos humanos 
Neste subtópico, o objetivo é levar você, estudante, a compreender os meandros da Declaração 
Universal dos Direitos dos Humanos proclamada em 1948, após o término da Segunda Guerra 
Mundial (1933 a 1945). O holocausto de judeus (e de populações consideradas “inferiores” pelos 
nazistas) e o lançamento das bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki, em 1945, foram 
evidências da possibilidade da humanidade se autodestruir (FISCHMANN, 2001). 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – proclamada em 1948 pela Assembleia Geral 
da Organização das Nações Unidas (ONU) – reconhece a necessidade impreterível de união entre os 
povos para a proteção universal dos direitos. Para ler o documento na íntegra acesse o endereço: 
<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. 
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi criada a Organização das Nações 
Unidas (ONU) com o objetivo de mediar as relações entre todos os países. A DUDH foi proclamada 
três anos depois, – em Assembleia Geral da ONU – abarcando, em seus 30 artigos, direitos civis, 
políticos, econômicos, sociais e culturais para todos os cidadãos do mundo. Em suma, o documento 
aborda direitos indispensáveis ao ser humano. 
De acordo com Fischmann (2001, p. 67), ao lermos os artigos da DUDH percebemos “o 
reconhecimento do caráter insubstituível de cada indivíduo para a espécie humana”. Contudo, 
sabemos que mesmo depois da declaração houve muitas atrocidades contra seres humanos em todas 
as localidades do planeta (SANTOS, 1997). 
Mesmo havendo muitos questionamentos a respeito do caráter universal proposto pela DUDH, o tema 
da diversidade de povos e nações foi lentamente incutido nos debates internacionais. 
Um dos estudiosos sobre o assunto, Santos (1997, p. 11), diz o seguinte: “os direitos humanos 
só poderão desenvolver o seu potencial emancipatório se se libertarem do seu falso universalismo e 
se tornarem verdadeiramente multiculturais”. 
O que significa tornar-se multicultural? De acordo com Santos (1997), basicamente significa: 
• não subordinar outras formas de culturas a uma cultura dominante; 
• promover, além da igualdade econômica, o respeito às diferenças étnicas, à orientação sexual, ao 
gênero e a faixa etária; 
• promover uma redistribuição socioeconômica e uma política da diferença, ou seja, que 
proporcionem ações afirmativas para os grupos que sofreram discriminação; 
• reconhecer as diversidades culturais. 
Boaventura de Sousa Santos é pesquisador e diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade 
de Coimbra (Portugal). Possui uma extensa lista de obras publicadas na área das ciências sociais e 
dos direitos humanos. Mantém estreita relação com o Brasil e se preocupa com o melhor 
entendimento entre os povos. 
Outra crítica de Santos (1997, p. 11) diz respeito ao fato de que: 
[...] após a Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos foram parte integrante da política da Guerra Fria, 
e como foram considerados pela esquerda. Duplos critérios ocorreram na avaliação das violações dos 
direitos humanos: complacência para com ditadores amigos, defesa do sacrifício dos direitos humanos em 
nomes dos objetivos do desenvolvimento – tudo isto tornou os direitos humanos suspeitos enquanto guião 
emancipatório. 
Em outras palavras, além da complacência com ditadores amigos, as políticas dos direitos estavam 
atreladas aos “[...] interesses econômicos e geopolíticos dos Estados capitalistas hegemônicos” 
(SANTOS, 1997, p. 20). O aspecto central dessa crítica reside no fato de os direitos humanos terem 
sido concebidos como universais, mas operarem como uma forma de globalização de-cima-para-
baixo, ou seja, etnocêntrica. Os valores ditos como universais na verdade são os valores dos países 
de capitalismo desenvolvido, portanto, não haveria como os direitos humanos serem universais na 
sua aplicação (SANTOS, 1997). 
Imagine se fôssemos consultar todos os povos do mundo sobre o assunto. Perceberíamos que “[...] 
todas as culturas tendem a considerar os seus valores máximos como os mais abrangentes, mas 
apenas a cultura ocidental tende a formulá-los como universais” (SANTOS, 1997, p. 19). A própria 
Declaração Universal de 1948 foi elaborada sem a participação da maioria dos povos do mundo, uma 
vez que a Assembleia Geral da ONU reuniu 56 países e muitos povos não eram considerados como 
nação, portanto, não participaram. Você concorda que há uma contradição? Para serem considerados 
universais não deveria ter havido a participação da maioria dos povos? 
O documentário Unidos pelos direitos humanos traz um panorama histórico sobre os direitos do homem 
desde 539 a.C., na Antiga Pérsia, além da citação de diversos documentos que serviram como 
precursores dos direitos humanos de 1948, tais como a Declaração Francesa dos Direitos do Homem 
e do Cidadão (1789) e a Declaração dos Direitos dos Estados Unidos (1791). Para assisti-lo acesse 
o endereço: <http://br.humanrights.com/what-are-human-rights.com.pt>. 
Em 1948, conforme já dito anteriormente, muitos povos não eram reconhecidos como Estados, 
portanto, não tiveram a oportunidade de participar da Convençãoda ONU. Para Chaui e Santos 
(2013), se considerarmos os conhecimentos e experiências do Brasil e de outros povos colonizados, 
a declaração é colonialista. 
E apesar de todas as lacunas e tendências hegemônicas, de acordo com Santos (1997, p. 20), em 
muitos lugares do mundo, 
[...] milhões de pessoas e milhares de ONG’s têm vindo a lutar pelos direitos humanos, muitas vezes 
correndo grandes riscos, em defesa de classes sociais e grupos oprimidos, em muitos casos vitimizados 
por Estados capitalistas autoritários. Os objetivos políticos de tais lutas são frequentemente explícita ou 
implicitamente anticapitalistas. 
Ainda conforme Santos (1997, p. 19), “[...] é como se os direitos humanos fossem invocados para 
preencher o vazio deixado pelo socialismo”. Até o final dos anos 1980, a esquerda sonhava com o 
socialismo e via com desconfiança os direitos humanos, pois muitas vezes os representantes da ONU 
fecharam os olhos, por exemplo, para as torturas e violências realizadas por parte do Estado durante 
as ditaduras militares no Brasil e em outros países na América Latina. 
Contudo, como atestam Chaui e Santos, (2013, p. 42): “A hegemonia dos direitos humanos como 
linguagem de dignidade humana é hoje incontestável”, apesar disso, sabemos que o que prepondera 
mundialmente é a ausência de direitos humanos na prática. 
Para refletirmos juntos: como tornar esse documento mais que palavras em um papel e incluir a 
maioria da população mundial como sujeitos de direitos humanos? Quem são as pessoas que lutam 
pelos direitos humanos? Pessoas comuns e não necessariamente militantes de partidos, que lutam 
pelos direitos humanos e pelo respeito. Onde começam? Em pequenos lugares: perto de casa, no 
bairro, na escola, no elevador. Nesses lugares procuramos por justiça e dignidade. 
Leia um exemplo a seguir: 
Erro! O nome de arquivo não foi especificado. 
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) – da Prefeitura de São Paulo – e o Instituto 
Vladimir Herzog realizaram projeto intitulado Educação em Direitos Humanos (EDH). Na primeira etapa, o 
objetivo é sensibilizar e refletir sobre os significados de educação em direitos humanos, sempre relacionando 
com os problemas do cotidiano escolar que demonstram situações adversas. Todos os educadores que 
trabalham na escola são envolvidos. Na segunda etapa, é destacado o envolvimento de cada um, e do 
coletivo da escola, com a EDH. Na terceira etapa, as atividades são focadas em estimular um olhar atento 
para as práticas, na identificação do que precisa ser transformado para a produção de um mapeamento. Na 
última etapa, é proposta a elaboração de um plano para a realização efetiva de ações em colaboração com 
os alunos e familiares. Para saber mais sobre este projeto acesse: <http://respeitarepreciso.org.br/>. 
Em resumo, o que são os direitos humanos? São os direitos fundamentais que marcam a trajetória de 
uma pessoa, o direito à vida, à liberdade, à educação, ao trabalho, direito de ter voz, de ter vez e de 
ser diferente. Direito à dignidade, enfim. 
O ponto de partida para a garantia desses direitos é priorizar e disseminar valores como a igualdade, 
solidariedade, dignidade, justiça, amizade e respeito, no cotidiano. Mas afinal, o que é respeito? De 
acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, respeitar vem do latim respecto, que significa 
“olhar outra vez”; algo que seja digno de um segundo olhar merece respeito, consideração, apreço e 
deferência (HOUAISS, 2009, s. p.). 
3.1.2 Respeito à diversidade 
É sempre bom lembrar que não somos únicos, precisamos uns dos outros, somos seres sociais. 
Quando vivemos pautados pelos valores dos direitos humanos, esses nos orientam para o 
posicionamento diante de problemas como a homofobia, a discriminação étnica e de gênero, bem 
como a violência. Quando as relações passam a ser pautadas pelo respeito mútuo, contribuímos para 
o afastamento da violência na vida dentro e fora das escolas. 
Você já havia pensado nisso? Conhecer os outros – que vivem de forma distinta daquela que 
conhecemos – leva à superação do medo que gera preconceito e discriminação. 
A partir dos anos 1960, as lutas pela autodeterminação dos povos tornaram-se pauta da ONU. Nessa 
linha de raciocínio, foi organizada,em 1965, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação Racial. Como apontam Chaui e Santos (2013, p. 61): “[...] com o passar 
do tempo, também o sexismo, o colonialismo e outras formas mais cruas de dominação de classe 
foram sendo reconhecidos como dando azo a violações dos direitos humanos”. 
Vimos que os direitos humanos não são incólumes às falhas. Vale ressaltar que, em uma primeira 
versão da DUDH, nota-se uma inclinação pelo cuidado com a vida humana, mesmo que abstrata, 
motivada pelas atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, como o extermínio de 
seres humanos de determinados grupos. Contudo, ao longo de três décadas após 1948, compreende-
se que certos grupos não são vistos, não são contemplados, por serem mais vulneráveis à 
discriminação – principalmente mulheres, crianças, indígenas, afro-descendentes, homossexuais e 
transgêneros, entre outros – quando a promessa de proteção é universal. 
Nesse sentido, observamos que o fato de existirem populações mais vulneráveis que outras, é preciso 
focar ao oferecer políticas públicas. Sejamos mais específicos: as populações mais vulneráveis – 
dentre as quais, as citadas no parágrafo anterior – precisam ser vistas com particularidade devido a 
sua condição social de exploração e dominação histórica. Para completar, “ao lado do direito à 
igualdade, surge, também, como direito fundamental, o direito à diferença. Importa o respeito à 
diferença e à diversidade, o que lhes assegura um tratamento especial” (PIOVESAN, 2007, p. 39). 
A questão da igualdade e da diferença recebe um tratamento sem reservas em Santos (2003, p. 57): 
[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes 
quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as 
diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. 
Este pensamento de Santos (2003) é citado em muitas de suas palestras, e referenciado em livros e 
artigos de diversos autores que trabalham com direitos humanos. 
Direitos humanos devem assegurar a igualdade e o respeito às diferenças. Fonte: Anna 
Om, Shutterstock, 2018. 
Com base no que você estudou até aqui, e a partir da análise sobre os direitos humanos ao longo das 
últimas décadas, é possível perceber que a proibição da discriminação – por meio de leis – não basta 
para assegurar a igualdade e o respeito à diferença. Chegou-se à conclusão da necessidade de haver 
políticas compensatórias conjuminadas à legislação contra a discriminação (PIOVESAN, 2007). 
Além disso, muitos povos continuaram internamente na condição de colonizados, como é o caso dos 
povos indígenas. O direito à autonomia desses povos foi reconhecido apenas no século XXI, com a 
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na Assembleia 
Geral das Nações Unidas de 2007 (CHAUI; SANTOS, 2013). Mesmo assim, os povos indígenas 
continuam sofrendo violência e persistem na luta pela demarcação de suas terras – ou para não perder 
as terras já demarcadas. 
3.1.3 As bases dos direitos civis 
Os direitos humanos e o respeito à diversidade coadunam com a história dos direitos civis. Tornou-se 
uma prática entre os historiadores sobre a temática do direito desmembrar a cidadania em direitos 
civis, políticos e sociais. Segundo Carvalho (2013, p. 9): “O cidadão pleno seria aquele que fosse 
titular dos três direitos”. 
Essa maneira de desdobrar os direitos foi desenvolvida pelo sociólogo inglês Thomas Humphrey 
Marshall (1893-1981), o qual nos ajudaa pensar sobre o tema da conquista da cidadania. Na 
Inglaterra, “[...] primeiro vieram os direitos civis, no século XVIII. Depois, no século XIX, surgiram os 
direitos políticos. Finalmente, os direitos sociais foram conquistados no século XX” (CARVALHO, 
2013, p. 10). Nesse país, a educação popular – uma conquista importante – foi obtida no século XIX, 
o que proporcionou as reivindicações sociais ocorridas no início do século XX. 
Parafraseando Carvalho (2013), referem-se aos direitos civis aqueles indispensáveis à vida, tal como 
os citados na Declaração dos Direitos Humanos. No entanto, a ênfase está na relação civilizada entre 
as pessoas e sua referência é a liberdade individual. Vale lembrar que o surgimento da sociedade civil 
– o primeiro direito a ser conquistado – advém do capitalismo, algo que na Inglaterra ocorreu no século 
XVIII. 
De maneira geral, os direitos políticos se referem à participação no governo pelo voto direto e secreto, 
com valor igual para todos, mas também no direito de ser votado, de ser candidato a um cargo de 
representante. Para completar, é imprescindível para existir os direitos políticos ter como instituição 
principal um parlamento livre e representativo. 
Os direitos sociais, em resumo, se referem ao acesso à educação de qualidade, ao trabalho digno e 
outras benfeitorias relacionadas à riqueza coletiva. Outro aspecto importante de sua concepção reside 
no fato de “[...] permitirem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de 
desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar para todos. A ideia 
central em que se baseiam é da justiça social” (CARVALHO, 2013, p. 10). 
Todavia, no Brasil, o modelo britânico não se aplica, embora nos ajude a entender os fundamentos 
dos direitos, sobretudo o civil. Uma das diferenças diz respeito à alteração na sequência da conquista 
dos direitos, e outra, nas características da nossa sociedade. 
[...] a herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. O novo país herdou a escravidão, que negava 
a condição humana do escravo, herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um 
Estado comprometido com o poder privado. Esses três empecilhos ao exercício da cidadania civil 
revelaram-se persistentes. 
Em outras palavras, no Brasil, os direitos civis não coadunavam com uma sociedade escravista. A 
situação agravou-se depois de 1964, quando a ditadura militar os suprimiu, e aqui vale lembrar que 
foram retiradas as liberdades de expressão, de imprensa e da organização em partidos políticos. 
Estes direitos foram retomados com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). 
 
3.2 Abolição para os ingleses verem 
Você já deve ter ouvido a expressão “para inglês ver”, não é mesmo? Normalmente a utilizamos 
quando algo é feito apenas para dissimular a verdadeira realidade. Veremos, neste tópico, como foi 
realizada a abolição da escravatura no Brasil. Assim, refletiremos se tratou-se de uma lei demagógica 
e apenas para os ingleses verem. 
Após a abolição, quais as possibilidades de mudança social para os ex-escravos? Veremos juntos se 
houve possibilidades de inserção desse contingente populacional na sociedade e no mundo do 
trabalho de forma digna. 
Por último, veremos qual relação podemos estabelecer entre a abolição da escravatura e a imigração 
europeia no final do século XIX. Após a leitura deste tópico, você será capaz de compreender esta 
relação. 
3.2.1 Abolição e estratégias de continuidade 
É possível afirmar que houve estratégias de continuidade da escravidão após a abolição da 
escravatura de 1888, no Brasil? Você já havia refletido a respeito? 
Os fundamentos para esta análise encontram-se em estudos de diversos historiadores e sociólogos, 
dentre os quais Souza (2017), Carvalho (2013), Fernandes (2008) e muitos outros. 
A partir dessas leituras podemos afirmar que houve uma continuidade do sistema de grandes 
latifúndios e de uma sociedade patriarcal, levando o negro a continuar sendo tratado como inferior, de 
maneira a legitimar a exploração. Além disso, não houve políticas públicas para que os negros fossem 
inseridos na sociedade, sendo parte da estratégia trazer imigrantes europeus como forma de substituir 
a mão de obra na agricultura de café e na indústria que estavam em expansão, principalmente, em 
São Paulo e Rio de Janeiro.Deslize sobre a imagem para Zoom 
Figura 4 - Resquícios da escravidão permanecem no mundo contemporâneo. Fonte: 
Marzolino, Shutterstock, 2018. 
Vamos recordar alguns aspectos históricos? Segundo Carvalho (2013), de fato, o negro trazido do 
continente africano para o Brasil – desde a segunda metade do século XVI, continuamente até 1850 
– não encontra perspectiva de inserção e nem apoio na Constituição de 1891. 
Até a concretização da abolição da escravatura, em 1888, muitas foram as transações e interesses 
díspares entre Brasil e Inglaterra. 
A Inglaterra exigiu, como parte do preço do reconhecimento da independência, a assinatura de um tratado 
que incluía a proibição do tráfico de escravos. O tratado foi ratificado em 1827. Em obediência a suas 
exigências, foi votada, em 1831, uma lei que considerava o tráfico como pirataria (CARVALHO, 2013, p. 
45). 
Dessa lei ficou o lema “para inglês ver”. Afinal, não houve nenhum efeito prático, apenas manteve-se 
uma formalidade nas relações com o país europeu, que tinha intenções de aumentar as possibilidades 
de consumo de produtos ingleses pelos brasileiros. 
O Brasil voltou a ser pressionado pela Inglaterra em 1840, até que, em 1850, “[...] a marinha inglesa 
invadiu portos brasileiros para afundar navios suspeitos de transportar escravos. Só então o governo 
decidiu interromper o tráfico de maneira efetiva” (CARVALHO, 2013, p. 46.) 
Por fim, em 1888, a abolição é declarada, sendo que o Brasil foi o último país de tradição cristã e 
ocidental a abolir a escravidão. A escravidão aqui era muito difundida. Além dos escravizados pelos 
proprietários de terras, havia ex-escravos e pessoas pobres que também possuíam escravos para 
alugar, como meio de sobrevivência. “Testamentos examinados por Kátia Mattoso mostram que 78% 
dos libertos da Bahia possuíam escravos.[...] Os valores da escravidão eram aceitos por quase toda 
a sociedade” (CARVALHO, 2013, p. 48-49). 
Quanto vale ou é por quilo?, filme produzido em 2005 e dirigido por Sérgio Bianchi, tem roteiro inspirado 
no conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1997). A película faz uma analogia entre a 
mercadoria mais rentável do século XVIII, o escravo, com a atual miséria, que é uma mercadoria 
lucrativa para o terceiro setor. A abordagem proposta pelo filme nos faz pensar em uma continuidade 
das relações de trabalho forjadas na escravidão com a atualidade. Para assistir, acesse o endereço: 
<https://www.youtube.com/watch?v=2NEcwzvbNOk>. 
Seguindo nesse raciocínio de continuidade da escravidão, vimos que quando houve a abolição, não 
havia políticas que garantissem educação aos ex-escravos, muito menos condição de trabalho, por 
isso, muitos deles retornam a trabalhar com os mesmos senhores em péssimas condições. Enquanto 
isso, uma parcela foi para o Rio de Janeiro aumentar a população sem emprego fixo. Em São Paulo, 
onde havia novos empregos devido à expansão do café, os empresários preferiram contratar outros 
trabalhadores advindos dos países europeus: “[...] os senhores criaram uma estratégia de dominação, 
que se cristalizou no racismo, ao afirmarem que os escravos, por serem negros, eram inferiores, e, 
por se serem inferiores, eram passíveis de serem escravizados” (MOURA, 1993, p. 10). 
Qual o significado da expressão casa grande e senzala? Casa grande era o centro de 
organização social, local onde os escravos serviam aos senhores, construída próxima 
ao engenho de cana-de-açúcar. Senzala, o local de moradia coletiva dos escravos. Para 
saber mais, leia o livro “CasaGrande e Senzala”, de Gilberto Freyre (2005). 
Para Souza (2017), após a abolição, o sistema “casa grande e senzala” se espalhou. Esses 
fragmentos disseminaram-se, ao longo do século XX e início do XXI, atualmente, por toda a parte, 
acentuando conflitos e oposições. Da casa grande e senzala, depois sobrados e mocambos, e, hoje 
em dia, bairros e condomínios burgueses e favelas, as acomodações e complementaridades ficam 
cada vez mais raras. 
3.2.2 Culturalismo e racismo científico 
Dando continuidade aos estudos sobre as estratégias de dominação, Souza (2017) defende a tese de 
que o paradigma culturalista, que surge no início do século XX, repete o mesmo esquema do racismo 
científico do século XIX. 
O que significam os termos racismo científico e culturalismo racista? Racismo 
científico advém da teoria racial, a qual defendia a existência de raças humanas 
distintas. Para tanto, valia-se de aspectos da anatomia para comprovar a superioridade 
da raça branca sobre as demais. Por sua vez, culturalismo racista advém do 
culturalismo, ramo da Antropologia que defende a cultura como sendo o que diferencia 
os seres humanos, e não a raça (SOUZA, 2017). 
Para Souza (2017, p. 18), o culturalismo: cumpre assim exatamente as mesmas funções do racismo 
científico da cor da pele. Presta-se a garantir uma sensação de superioridade e de distinção para os povos 
e países que estão em situação de domínio e, desse modo, legitimar e tornar merecida a própria dominação. 
O racismo implícito do culturalismo reside justamente na diferenciação entre seres humanos que se 
sentem superiores, e aqueles que são vistos como inferiores. 
Sendo assim, o racismo culturalista, para Souza (2017, p. 19-20): 
[...] passa a ser uma dimensão não refletida do comportamento social, seja na relação entre os povos, seja 
na relação entre as classes de um mesmo país. Um brasileiro de classe média que não seja abertamente 
racista também se sente, em relação às camadas populares do próprio país, como um alemão ou um 
americano se sente em relação a um brasileiro: ele se esforça para tratar essas pessoas como se fossem 
gente igual a ele. 
O que vem a ser, exatamente, essa dimensão não refletida de que fala Souza? O teórico está dizendo, 
em outras palavras, que ainda estamos presos a uma ideia de separação da raça humana, embora a 
neguemos, ou seja, ainda acreditamos em uma hierarquia, na qual existem aqueles que possuem 
espírito e aqueles que não o possuem e, portanto, são percebidos como corpo. Essa maneira de 
pensar foi impressa no espírito humano ao longo da história, como explica Morin (2013), em sua obra 
“A via para o futuro da humanidade”. Nessa passagem do livro, ao discorrer sobre a grande disjunção 
do Ocidente, ressalta momentos importantes da história humana, resumidos abaixo: 
 
 
1. As sociedades arcaicas, depois as sociedades tradicionais, sentiam-se integradas à vida do Cosmo, 
e a maior parte das religiões – entre elas o hinduísmo e o budismo – situavam o ser humano no ciclo 
das reproduções do mundo vivo. 
2. O monoteísmo judeu, depois cristão e islâmico, separou o ser humano do mundo animal ao atribuir-
lhe o privilégio supremo de ter sido criado à imagem divina. 
3. No século XVII, vimos a separação entre os humanos possuidores de alma e outros animais 
considerados como despossuídos de alma, legitimando a dominação e exploração por parte dos 
primeiros. 
4. Mesmo depois de Darwin apud Morin (2013) ter demonstrado que o homem é um primata originado 
de uma longa evolução animal, as ciências na primeira metade do século XX sustentam a separação 
homem/animal e cultura/natureza. 
5. Somente após o surgimento da ciência ecológica (na segunda metade do século XX), a abordagem 
sobre o tema passa por uma releitura. Nesta visão, todos os seres vivos têm a mesma origem, 
inclusive o ser humano. 
 
 
Da mesma forma que Morin (2013), Capra (2006), em “A teia da vida”, desenvolve uma reflexão sobre 
a visão ecológica, necessária para garantir a nossa sobrevivência no planeta. Nessas percepções, os 
seres humanos são apenas um fio particular na teia da vida e não mais o centro do universo. A vida 
não-humana passa a ser reconhecida e valorizada. Por isso, todos os seres vivos estão ligados como 
em uma rede de interdependências. Ou seja, todos os fenômenos são interdependentes e estão 
entrelaçados. 
Os pensamentos de Morin (2013) e de Capra (2006) vêm ao encontro das ideias desenvolvidas por 
Souza (2017, p. 21). 
Como nunca refletimos sobre essa ideia-força e suas consequências, ela se presta como nenhuma outra a 
separar e hierarquizar o mundo de modo prático e muito diferente da regra jurídica da igualdade formal. 
Ela é, inclusive e por conta disso, muito mais eficaz que todos os códigos jurídicos juntos. Não só a 
separação entre povos e países, mas também entre as classes sociais, entre os gêneros e entre as raças, é 
construída e passa a ter extraordinária eficácia prática precisamente por seu conteúdo aparentemente 
óbvio e nunca refletido. 
Essas ideias nos fazem pensar sobre as disjunções ocorridas ao longo da história da humanidade, 
que nos levam a separar o homem do animal, cultura de natureza, possuidor de alma e despossuído 
de alma. Tais classificações sugerem uma hierarquia, que por sua vez justifica a dominação, a 
exploração e, portanto, o racismo. Contudo, por não refletirmos sobre essa hierarquização do mundo 
em que vivemos, esquecemos que tudo foi criado por nós e também pode ser recriado por nós. 
3.2.3 Imigração europeia 
No período pós-abolição da escravatura, São Paulo estava em plena expansão na agricultura cafeeira 
e na indústria. Contudo, o espaço para a mão de obra foi ocupado por imigrantes italianos, o que 
relegou os ex-escravos aos trabalhos mais pesados e mal-remunerados. 
Segundo Souza (2017, p. 74): 
As bases desse novo eixo de desenvolvimento são o trabalho livre, como base da cultura cafeeira paulista, 
ou seja, não escravo, e a massiva imigração de contingentes estrangeiros que passam a vir ao país – 
especialmente para o estado de São Paulo e o Sul do país – a partir de 1880 aos milhões. 
Segundo Fernandes apud Souza (2017), o negro é colocado em um mundo do trabalho competitivo, 
para o qual não havia sido preparado. 
“A integração do negro na sociedade de classes”, de Florestan Fernandes (2008), é uma obra em dois 
volumes, reconstitui a tentativa de adaptação do ex-escravo à sociedade de trabalho livre após a 
abolição da escravatura na cidade de São Paulo. Elaborado originalmente para tese de doutorado 
apresentada na USP em 1964, o trabalho é composto por histórias de vida e de artigos de jornais, 
além de outras fontes importantes. Para ler, acesse o 
endereço: <http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/131955/128100>. 
Mesmo depois da abolição da escravatura, a sociedade se apresentava com a mesma hierarquia 
social. O poder continuava com os antigos proprietários rurais (cafeicultores), que agora preferiam a 
mão de obra europeia, com a alegação, inclusive, que era mais barata que a escrava. 
Para o negro, sem a oportunidade de competir com chances reais na nova ordem, restavam os interstícios 
do sistema social: a escória proletária, o ócio dissimulado ou a criminalidade fortuita ou permanente como 
forma de preservar a dignidade de ‘homem livre’. [...] Ele foi jogado em competição feroz com o italiano, 
para quem o trabalho sempre havia sido motivo principal de orgulho e de autoestima (SOUZA, 2017, p. 
77). 
A competição nesse caso é cruel, pois para o italiano o trabalho era visto como razão de orgulho. O 
negro, como escravo, sempre foi maltratado, e seu trabalho visto como indigno. 
Diversos fatores que perduram até hoje, conforme abordado neste subitem, comprovam que há uma 
continuidade da escravidão. Para Souza (2017), Carvalho (2013) e Fernandes (2008), a escravidão e 
seusefeitos são o aspecto central dos problemas do Brasil. 
3.3 Descolonizar o legado histórico 
Você já havia pensado na expressão “descolonizar o legado histórico”? 
A partir das pesquisas realizadas nos sites e artigos citados neste tópico, podemos concluir que o 
caminho a seguir para ocorrer a descolonização do legado histórico é a implantação de políticas 
públicas de promoção da igualdade racial e ações afirmativas. 
Na sequência, você terá a oportunidade de compreender os sentidos de ações afirmativas, como foi 
pensado em outros países, e relembrar o debate em torno desse assunto na educação brasileira. 
3.3.1 Políticas públicas e ações afirmativas 
O propósito, aqui, é levar você, estudante, a compreender os significados de políticas públicas e ações 
afirmativas, e sua importância no Brasil, devido ao legado histórico atrelado à escravidão. 
Iniciaremos com uma citação do livro “Políticas públicas de promoção da igualdade racial”, organizado 
pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT). 
[...] política pública é um conceito originado da ciência política e da administração e designa um conjunto 
de programas, ações, bens e recursos públicos destinados à garantia de direitos, sejam eles a liberdade e a 
igualdade ou a satisfação de necessidades básicas como emprego, educação, saúde, habitação, acesso à 
justiça ou à terra (SILVA JR. et al., 2010, p. 15). 
Vale ressaltar que a definição conceitual é universalista, e na prática não contempla a população 
negra e outras categorias da população que sofrem preconceito. Por isso, considerando a Declaração 
das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 20 de 
dezembro de 1963, Silva Jr. et al. (2010, p. 16) afirmam: 
Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de 
assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos, ou de indivíduos que necessitem da 
proteção, que possam ser necessárias para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou 
exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam, em 
consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após 
terem sido alcançados os seus objetivos. 
Neste sentido, as medidas especiais são as ações que servirão para assegurar a inclusão de grupos 
que tiveram ao longo da história uma perda social e precisam de uma proteção para que alcancem o 
exercício de direitos humanos. Um aspecto importante é que essas ações não prossigam após terem 
sido alcançados os objetivos, porque, ao contrário, ficariam caracterizadas como discriminação e 
privilégio. 
Contudo, como afirma (GOMES, 2005, p. 47): 
O abismo racial entre negros e brancos no Brasil existe de fato. As pesquisas científicas e as recentes 
estatísticas oficiais do Estado brasileiro que comparam as condições de vida, emprego, saúde, 
escolaridade, entre outros índices de desenvolvimento humano, vividos por negros e brancos, comprovam 
a existência de uma grande desigualdade racial em nosso país. Essa desigualdade é fruto da estrutura 
racista, somada a exclusão social e a desigualdade socioeconômica que atingem toda a população brasileira 
e, de um modo particular, o povo negro. 
Considerando que o Brasil tem o histórico de mais de três séculos de escravidão, seguido da falta de 
políticas públicas de inserção para o ex-escravo na sociedade, não é suficiente que o Estado não 
pratique discriminação nas leis. O papel do Estado é criar ações afirmativas para beneficiar e 
promover a igualdade de oportunidades para favorecer grupos que tiveram perdas sociais ao longo 
da história. 
As ações afirmativas podem ser definidas, segundo Gomes (2007, p. 55), como: 
[...] um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, 
concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem 
nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, 
tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a 
educação e o emprego. 
Vale lembrar que se tratam de instrumentos de inclusão, não são medidas apenas para eliminar as 
desigualdades de oportunidades como educação e emprego, mas também para assegurar a 
diversidade cultural. 
O termo ação afirmativa foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, na década de 1960 do 
século XX, para se referir a políticas do governo para combater as diferenças entre brancos e negros. 
Antes mesmo da expressão, as ações afirmativas já eram pauta de reivindicação do movimento negro 
no mundo todo, além de diversos grupos discriminados, como árabes, palestinos, curdos, entre outros 
oprimidos (GOMES, 2007). 
3.3.2 O debate sobre as ações afirmativas na educação implantadas no Brasil 
Sempre que pensamos em adoção de políticas públicas de ação afirmativa, precisamos considerar 
as reivindicações dos movimentos negros e de outros grupos que batalham pela inclusão de 
categorias discriminadas existentes no país. No entanto, devemos lembrar e considerar a Constituição 
Federal de 1988, os tratados internacionais ligados à ONU e, sobretudo, a Conferência das Nações 
Unidas Contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, realizada em 2001. 
Vale ressaltar que o documento oficial brasileiro, apresentado à conferência para as populações afro-
descendentes, quanto ao acesso às universidades: 
[...] propôs a adoção de ações afirmativas para garantir o maior acesso de afro-descendentes às 
universidades públicas, bem como a utilização, em licitações públicas, de um critério de desempate que 
considere a presença de afro-descendentes, homossexuais e mulheres, no quadro funcional das empresas 
concorrentes. A Conferência de Durban, em suas recomendações, pontualmente nos seus parágrafos 107 
e 108, endossa a importância de os Estados adotarem ações afirmativas, enquanto medidas especiais e 
compensatórias voltadas a aliviar a carga de um passado discriminatório, daqueles que foram vítimas da 
discriminação racial, da xenofobia e de outras formas de intolerância correlatas (PIOVESAN, 2007, p. 41). 
No início da década de 2000, o debate na imprensa brasileira a respeito das cotas para afro-
descendentes em universidades públicas foi acirrado. No entanto, precisamos destacar que a 
compreensão da necessidade de uma ação afirmativa está atrelada ao conhecimento que se tem da 
história e do contexto social do país. O que leva, muitas vezes, ao preconceito, é observar a ação 
afirmativa sem ter o conhecimento crítico a respeito da história do país e das perdas sociais dos 
sujeitos contemplados pelas cotas. 
Deslize sobre a imagem para Zoom 
Figura 6 - As cotas raciais nas universidades públicas asseguram o direito à 
inclusão. Fonte: Phovoir, Shutterstock, 2018. 
No caso do Brasil, para debater sobre as cotas raciais nas universidades, é imprescindível estudar o 
período colonial e pós-colonial, com foco no processo de escravidão, para compreender como foram 
geradas as desigualdades sociais que nos acometem até o século XXI, mesmo após mais de um 
século de abolição, de acordo com texto no portal da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção 
da Igualdade Racial (SEPPIR), a sugestão é a seguinte: 
É assim que nasce uma política de ação afirmativa. Após a leitura de um diagnóstico sócio-cultural 
histórico, há a comprovação estatística das desigualdades existentes e da necessidade de reparos. Após o 
diagnóstico e o planejamento de uma política de ação afirmativa, os gestores governamentais encaminham 
a legislação, monitoram sua aprovação e implementação (BRASIL, 2018, s. p.).Segundo levantamento realizado por (SILVA JR. et al., 2010), esse mesmo princípio de cotas havia 
sido aplicado para beneficiar outros segmentos da população e não tinha gerado tantos desconfortos 
ou críticas, a saber: 
Em 1968, o Congresso instituía cotas nas universidades, por meio da chamada Lei do Boi, a candidatos 
agricultores ou filhos destes. [...] Na Constituição de 1988, o país adotou cotas para portadores de 
deficiência nos setores público e privado, cotas para mulheres nas candidaturas partidárias e instituiu uma 
modalidade de ação afirmativa em favor doconsumidor [...] (SILVA JR. et al., 2010, p. 18). 
Vale ressaltar que as cotas adotadas em outros setores não levaram a tanto desconforto nos debates, 
amplamente divulgados pela imprensa, quanto à Lei 12.711/2012, a Lei de Cotas no Ensino Superior 
(BRASIL, 2012). 
3.4 Reparando 480 anos de dominação 
Neste tópico serão abordadas as estratégias para a reparação de 480 anos de dominação sofrida por 
algumas categorias da população, consideradas minorias por não terem representatividade. 
Considerando que o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, torna-se premente a 
necessidade de adotar uma intervenção para diminuir as desigualdades sociais e a exclusão étnico-
racial. 
Ao concluir o estudo deste tópico, você será capaz de identificar as mais importantes ações afirmativas 
implementadas no Brasil. 
3.4.1 A implementação de ações afirmativas no Brasil 
As ações afirmativas foram implantadas no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988. A primeira 
adotada no país foi a Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, sobre a contratação de deficientes nas 
empresas dos setores público e privado. 
As regras para a implementação da legislação são as seguintes (BRASIL, 1991, s. p.): 
Art. 93 - a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos 
seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas portadoras de deficiência, na seguinte proporção: 
- até 200 funcionários.................. 2% 
- de 201 a 500 funcionários........... 3% 
- de 501 a 1000 funcionários......... 4% 
- de 1001 em diante funcionários... 5%. 
A segunda ação afirmativa sancionada após 1988 foi a 9.504/1997 – Lei das Eleições, que estabelece: 
“cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de 
cada sexo” (BRASIL, 1997, s. p.). Refere-se a uma ação afirmativa de gênero, reforçada pela reforma 
eleitoral de 2009, Lei 12.034/2009, que substituiu a expressão prevista na lei anterior – “deverá 
reservar” – para “preencherá” (BRASIL, 2009, s. p.). 
Na área da educação houve a implementação da Lei 10.639/2003 (Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira nas Escolas) e, na sequência, a alteração para a Lei 11.645/2008, a qual passou a vigorar 
em 2008, inserindo o tema da cultura indígena. Esses temas tornam obrigatório, nos estabelecimentos 
de ensino fundamental e médio, o ensino de história (BRASIL, 2003; 2008). 
A principal ação afirmativa na área da educação é a Lei 12.711/2012, conhecida como a Lei de Cotas, 
que estabelece cotas para afro-descendentes nos processos seletivos de universidades e institutos 
federais. Vale ressaltar que, mesmo antes da lei ser aprovada, algumas universidades públicas 
haviam aderido ao sistema de cotas (BRASIL, 2012). 
Por último, temos a Lei 12.990/2014 (Cotas no Serviço Público), a qual reserva aos afro-descendentes 
20% das vagas nos concursos públicos da administração pública federal, autarquias, fundações 
públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas pela União (BRASIL, 2014). 
3.4.2 As legislações 10.639/2003 e 11.645/2008 – e os seus efeitos 
A Lei 10.639/2003, sancionada pelo governo federal em 9 de janeiro de 2003, instituiu a 
obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino 
fundamental e médio. 
Essa aprovação figura como uma das mais importantes conquistas da luta antirracista na história do 
Brasil. Com a experiência foi comprovado que não basta proibir a discriminação ou aplicar a sanção 
penal, é imprescindível que se conheça a história da África para que se estabeleça uma relação de 
respeito com as diversidades culturais (BRASIL, 2003). 
 Figura 7 - O ensino da história da África contribui para o respeito à diversidade. Fonte: 
Rawpixel.com, Shutterstock, 2018. 
A Lei 10.639/2003 coaduna com o sentido de patrimônio cultural, que é todo e qualquer testemunho 
do fazer humano que tenha caráter memorial e de pertencimento para uma sociedade. De acordo com 
a Constituição Federal de 1988, Art. 216: 
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados 
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes 
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão; 
II - os modos de criar, fazer e viver; 
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico - 
culturais; 
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, 
ecológico e científico (BRASIL, 1988, s. p.). 
Na mesma linha de raciocínio, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura 
(Unesco) deliberou a Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural. A diversidade cultural não é 
simplesmente um bem a ser preservado, mas um recurso que é preciso fomentar (UNESCO, 2002). 
Considerando o artigo V da Constituição Federal, no inciso VIII que dispõe sobre a igualdade racial, a 
Declaração da Unesco e, sobretudo, as reivindicações do movimento negro, as conquistas alcançadas 
com a lei que obriga o ensino da história da África nas escolas satisfazem dois objetivos fundamentais, 
segundo Malachias et al. (2010, p. 142): 
1) Assegurar o pleno desenvolvimento do alunado negro, contribuindo para diminuir a hostilidade 
etnocêntrica estabelecida pelo espaço escolar em detrimento dos não brancos. E, consequentemente: 2) 
Melhorar a qualidade do serviço público denominado Educação. Deve-se levar em conta que o currículo é 
uma construção sociocultural e histórica, entendido como a totalidade das relações que se estabelecem na 
escola em interação com a sociedade. 
Em 10 de março de 2008 foi sancionada a Lei 11.645, que modifica e inclui uma nova temática, a 
cultura indígena. É importante ressaltar que a lei é conquista do movimento negro por políticas 
educacionais afirmativas. Conforme Malachias et al. (2010, p. 142): 
Há muito tempo essas proposições são feitas aos gestores públicos, mas um marco importante foi a 
“Marcha Zumbi dos Palmares”, em 1995, movimento altamente articulado que deflagrou ações de cunho 
afirmativo por parte, sobretudo, da União. Em seguida, houve a produção dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais – PCN, em 1997, que incluiu no caderno intituladoPluralidade Cultural a questão da diversidade 
étnico-racial e cultural. 
Após as leis, houve muitas conquistas na prática, muitos avanços inclusive em relação ao material 
desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), que incluiu os conteúdos da história da cultura afro-
brasileira e indígena. Nesse sentido, o MEC formou a coordenadoria na Secretaria do Ensino 
Fundamental (SEF), com o objetivo de criar ações educacionais em parceria com comunidades 
quilombolas. 
Malachias et al. (2010) ainda ressaltam que, a partir dessas ações, o preconceito racial passa a ser 
considerado um aspecto negativo nos critérios de avaliação do livro didático, ao mesmo tempo em 
que negros e indígenas conquistam seu lugar como membros do Conselho Nacional de Educação 
(CNE). 
Além disso, tanto a superação do racismo quanto as ações afirmativas têm sido temas frequentemente 
abordados em livros, artigos e em produçõesaudiovisuais, disseminando a ideia de que o pensamento 
colonizador deve ser desconstruído também na prática. 
Síntese 
Você concluiu o estudo que abordou as formas de desconstruir a colonização na prática. Esperamos 
que você se sinta estimulado a refletir sobre o respeito às diversidades, com base nos direitos 
humanos, independentemente de seu grupo étnico. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de: 
• compreender as fortes influências do passado escravista nos problemas sociais atuais; 
• identificar a relação entre o fim da escravidão e a imigração europeia; 
• analisar os conceitos de direito civil, social e político; 
• entender a importância das ações afirmativas para a promoção da igualdade racial. 
Referências bibliográficas 
ASSIS, M. de. Pai contra mãe. In: Contos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso 
em: 01/03/2018. 
______. Ministério dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade 
Racial – SEPPIR. O que são ações afirmativas. Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/assuntos/o-
que-sao-acoes-afirmativas>. Acesso em: 01/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei n. 
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para 
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-
Brasileira, e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 01/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei n. 
9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que 
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de 
ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 01/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre 
o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e 
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12711.htm>. Acesso em: 02/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil.Decreto n. 6.177, de 01 de agosto de 2007. Declaração 
Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6177.htm>. Acesso em: 
01/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os 
Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 02/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece 
normas para as eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9504.htm>. 
Acesso em: 02/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 12.034, de 29 de setembro de 2009. Altera as 
Leis 9.096, de 19 de setembro de 1995 – Lei dos Partidos Políticos; 9.504, de 30 de setembro de 
1997, que estabelece normas para as eleições, e 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm>. Acesso 
em: 02/03/2018. 
______. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 12.990, de 9 de junho de 2014. Reserva aos 
negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos 
efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das 
fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela 
União. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm>. 
Acesso em: 02/03/2018. 
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton 
Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2006. 
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2013. 
CHAUI, M.; SANTOS, M. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 
2013. 
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes: o legado da raça branca, v. 1. São 
Paulo: Globo, 2008. 
______. A integração do negro na sociedade de classes: no limiar de uma nova era, v. 2. São Paulo: 
Globo, 2008. 
FISCHMANN, R. Educação, direitos humanos, tolerância e paz. Paidéia, v. 11, n. 20, p. 67-77, São 
Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v11n20/08.pdf>. Acesso em: 
27/02/2018. 
FREYRE, G. Casa Grande e Senzala. 50. ed. São Paulo: Global Editora, 2005. 
GOMES, J. B. A Recepção do Instituto da Ação Afirmativa pelo Direito Constitucional Brasileiro. In: 
SANTOS, S. A. (Org). Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: MEC, 2007. 
Disponível em: 
<http://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/publicacoes/acoes_afirm_combate_racismo_americas.pdf
>. Acesso em: 08/02/2018. 
GOMES, N. L. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais: uma breve 
discussão. In: MUNANGA, K. Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf>. Acesso em: 02/03/2018. 
MALACHIAS, A. C. et al. Experiência na área de políticas educacionais. In: SILVA JR., E. et 
al. Políticas públicas de promoção de igualdade social. São Paulo: CEERT, 2010. Disponível em: 
<https://www.ceert.org.br>.Acesso em: 08/02/2018. 
MORIN, E. A via para o futuro da humanidade. Tradução de Edgard de Assis Carvalho e Mariza 
Perassi Bosco. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. 
MUNANGA, K. (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf>. Acesso em: 12/02/2018. 
ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível 
em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 28/02/2018. 
PIOVESAN, F. Ações afirmativas sob a perspectiva dos direitos humanos. In: SANTOS, S. A. 
(Org). Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: 
<http://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/publicacoes/acoes_afirm_combate_racismo_americas.pdf
>. Acesso em: 08/02/2018. 
QUANTO vale ou é por quilo? Direção: Sérgio Bianchi. Produção: Agravo Produções 
Cinematográficas. Brasil, 2005, DVD, 110 min. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=2NEcwzvbNOk>. Acesso: em 09/02/208. 
RESPEITO. In: HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de 
Janeiro: Objetiva, 2009. 
SANTOS, B. de S. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 
______. Por uma concepção multicultural dos direitos humanos. In: Revista Crítica de Ciências 
Sociais, n. 48, 1997. Disponível em: 
<http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Concepcao_multicultural_direitos_humanos_R
CCS48.PDF>. Acesso em: 01/03/2018. 
SILVA JR., E. et al. Políticas Públicas de Promoção de Igualdade Social. São Paulo: CEERT, 
2010. Disponível em: <https://www.ceert.org.br>. Acesso em: 08/02/2018. 
SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à lava jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. 
UNESCO. Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, 2002. Disponível em: 
<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em:02/03/2018. 
UNIDOS PELOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: <http://br.humanrights.com/what-are-human-
rights.com.pt>. Acesso em: 10/02/2018.

Continue navegando