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Redação Jornalística Prof. Julliane Brita Aprender a escrever é, em grande parte, se não principal- mente, aprender a pensar, aprender a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Othon M. Garcia Comunicação em prosa moderna Há uma maneira certa de dizer e se eu não alcançar essa maneira de dizer isso não existe. Nélida Piñon Em entrevista ao Roda Viva, da Rede Cultura ANDRADE, Maria Margarida de; MEDEIROS, João Bosco. Comunicação em Língua Potuguesa: Para cursos de Jornalismo, Propaganda e Letras. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. CAMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 22 ed. Petrópolis, RJ:Vozes, 2003 GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 17ªed.Rio de Janei- ro:Fund. Getúlio Vargas, 1998. KOCH, Ingedore G.V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo, Cor- tez, 1984. Bibliografia Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Certas palavras Carlos Drummond de Andrade Comunicação e Linguagem A língua como instituição social Enquanto você lê estas palavras, está tomando par- te numa das maravilhas do mundo natural. Você e eu pertencemos a uma espécie dotada de uma admirável capacidade, a de formar ideias no cérebro dos demais com esquisita precisão. Eu não me refiro com isso à te- lepatia, o controle mental ou as demais obsessões das ciências ocultas. Aliás, até para os crentes mais convic- tos, estes instrumentos de comunicação são pífios em comparação com uma capacidade que todos possuímos. Esta capacidade é a linguagem. Steven Pinker, O Instinto da Linguagem Do verbo latino communicare = pôr em comum Pôr em comum ideias, sentimentos, pensamentos, compartilhar formas de comportamento, modos de vida, regras de caráter social. Comunicação é também convivência, vida em co- mum, viver em comunidade. O que é comunicação? A linguagem estrutura o mundo interior e o expressa aos demais. Comunicar implica utilizar linguagem. A linguagem apareceu e desenvolveu-se para servir à comunicação. Não existe uma sem a outra. O que é linguagem? Linguagens mais ou menos articuladas. Animais: linguagem não verbal. Ex.: a dança das abelhas. Homem: linguagem não verbal e linguagem verbal, articulada (organizada, elaborada). O que é linguagem? Japão - Número 5 Alemanha - Número 1. Brasil - Está tudo certo e serve também para pedir carona. Europa e EUA - Pedido de carona. Turquia - Cantada para sair com homossexual. Nigéria e Austrália - Gesto obsceno. “A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. Saussure A linguagem (caráter universal), então, é a faculda- de natural de usar uma língua (caráter particular). O que é linguagem? Para Saussure, a linguagem é a faculdade natural de usar uma língua, “ao passo que a língua consti- tui algo adquirido e convencional”. A língua está no campo social. É um acordo. E a fala está no campo individual. O que é língua? Assumimos, então, três concepções de língua: + Língua como representação do pensamento: sujeito psicológico, individual e ativo + Língua como estrutura: assujeitamento + Língua como lugar de interação: sujeito psicossocial O que é língua? + Língua como lugar de interação Defende que os sujeitos (re)produzem o social na medida em que participam ativamente da defini- ção da situação na qual se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das repre- sentações sem as quais a comunicação não poderia existir. O que é língua? (...) é um sujeito social, histórica e ideologi- camente situado, que se constitui na interação com o outro. Eu sou na medida em que interajo com o outro. É o outro que dá a medida do que sou. A identi- dade se constrói nessa relação dinâmica com a alteridadade (diferença). Quem é o sujeito? O texto encena, dramatiza essa relação. Nele, o sujeito divide seu espaço com o outro porque nenhum discurso provém de um sujeito adâmico (primitivo) que, num gesto inaugural, emerge a cada vez que fala/escreve como fonte única do seu dizer. Tudo passa pelo sujeito (Vion, 1992). Quem é o sujeito? Adotando-se a concepção da língua como lu- gar de interação e do sujeito social, históri- co e ideológico, a compreensão torna-se uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos. Concepção de texto e de sentido Superfície textual + Mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) + Reconstrução no evento comunicativo Concepção de texto e de sentido O sentido de um texto é, portanto, construí- do na interação texto-sujeitos (ou texto-co- -enunciadores) e não algo que preexista a essa interação. Concepção de texto e de sentido Peças do jogo 1. o produtor/planejador: viabiliza seu “pro- jeto de dizer”, recorrendo a uma série de es- tratégias de organização textual e orientan- do o interlocutor, por meio de sinalizações textuais (indícios, marcas, pistas) para a construção dos (possíveis) sentidos; Peças do jogo 2. o texto: organizado estrategicamente de dada forma, em decorrência das escolhas fei- tas pelo produtor entre as diversas possibili- dades de formulação que a língua lhe oferece, de tal sorte que ele estabelece limites quan- to às leituras possíveis; Peças do jogo 3. o leitor/ouvinte, que, a partir do modo como o texto se encontra linguisticamente construído, das sinalizações que lhe ofe- rece, bem como pela mobilização do con- texto relevante à interpretação, vai proce- der à construção dos sentidos. Contexto: + co-texto (entorno verbal) + a situação de interação imediata + o entorno sociopolítico-cultural + o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, compreende os demais. Englo- ba todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória e que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal. Texto e contexto + conhecimento linguístico + conhecimento enciclopédico + conhecimento da situação comunicativa e de suas “regras” (situcionalidade) + conhecimento superestrutural (tipos textuais) Texto e contexto + conhecimento estilístico (registros, varieda- des de língua e sua adequação às situações co- municativas) + conhecimento sobre os variados gêneros ade- quados às diversas práticas sociais, bem como o conhecimento de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade). Texto e contexto A mobilização desses conhecimentos no proces- samento textual realiza-se por meio de estra- tégias de diversas ordens: - cognitivas, como as inferências, a focalização, a busca da relevância; Texto e contexto - sociointeracionais: preservação das faces, polidez, atenuação, atribuição de causas a (possíveis) mal-entendidos etc.; - textuais: conjunto de decisões sobre a tex- tualização, feitas pelo produtor do texto, tendo em vista seu “projeto de dizer” (pistas, marcas, sinalizações). Texto e contexto Os mal-entendidos surgem, em grade parte, de pressuposições errôneas sobre o domínio de certos conhecimentos por parte do(s) interlocutor(es). Texto e contexto Na língua como instituição social, nos organiza- mos enquanto pacto, sempre levando emconta o estatuto desse pacto/língua que nos precede e sobre o qual não temos escolha. Língua, instituição social Antes de pensarmos no que caracteriza o jor- nalismo (periodicidade, universalidade, atuali- dade, difusão, etc.), devemos pensar nele como um fato de língua. Devemos pensar no papel e na função na instituição social do jornalismo. Jornalismo, um fato de língua O papel/função primordial do jornalismo como fato de língua é o mesmo da língua/instituição social: organizar discursivamente, o que é a prá- tica jornalística por excelência. Jornalismo, um fato de língua Aula de português Carlos Drummond de Andrade 1) A linguagem 2) na ponta da língua, 3) tão fácil de falar 4) e de entender. 5) A linguagem 6) na superfície estrelada de letras, 7) sabe lá o que ela quer dizer? 8) Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, 9) e vai desmatando 10) o Amazonas de minha ignorância. 11) Figuras de gramática, esquipáticas, 12) atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. 13) Já esqueci a língua em que comia, 14) em que pedia para ir lá fora, 15) em que levava e dava pontapé, 16) a língua, breve língua entrecortada 17) do namoro com a prima. 18) O português são dois; o outro, mistério. Verso 8 - Carlos Góis é autor de uma gramática da língua portuguesa. Verso 11 - “Esquipáticas” - fora do geral, habitual ou comum; extravagante, esquisito, estapafúrdio. Língua(s) portuguesa(s) Eles varavam as ruas juntos absorvendo tudo com aquele jeito que tinham no começo, e que mais tarde se tornaria muito muito mais melancólico, perceptivo e vazio. Mas nessa época eles dançavam pe- las ruas como peões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pes- soas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como cons- telações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah!”. On the road Jack Kerouac Variações de tempo: diacrônica Variações geográficas: diatópica (dialeto) Variações entre camadas sociais: diastrática Variação entre gerações: diafásica Variação de um mesmo indivíduo: registro ou idioleto Variações linguísticas A língua portuguesa é um conjunto de variantes. Um mesmo falante pode valer-se de diversas variantes linguísticas, dependendo da situação. Essas variações são denominadas de registro, ou níveis de linguagem. Trata-se de adequação. Variações linguísticas Pode-se dizer que todo ato de fala tem um estilo próprio. Estilo: conjunto de características formais ofere- cidas por um texto como resultado da adequação do instrumento linguístico às finalidades especí- ficas do ato em que foi produzido. Variações linguísticas