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BIOQUÍMICA DOCUMENTOS DE APOIO SÉRIE A - BIOMOLÉCULAS 1. HIDRATOS DE CARBONO LEIRIA | 2012 Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 2/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono Hidratos de Carbono – Estrutura química A família de moléculas designada de hidratos de carbono é formada por moléculas compostas por carbono (C), hidrogénio (H) e oxigénio (O) numa relação (CH2O)n. A família dos hidratos de carbono inclui desde o conjunto de acuçares simples (como a glucose, a galactose e a frutose), ao amido, à celulose, entre outros compostos encontrados nos organismos vivos (Figura 1). Figura 1. O açucar de mesa, a sacarose (na colher) e o algodão (em baixo) são hidratos de carbono. Na sua forma mais simples, os hidratos de carbono existem como monossacarídeos, tambem designados de acuçares simples. As moleculas de acuçares simples podem combinar-se entre si de modo a formar carbohidratos mais complexos. A combinação de dois acuçares simples compõe um dissacarídeo, enquanto que as moléculas de hidratos de carbono resultantes da condensação de três (trissacarídeos) a dez monossacarideos, designam-se de oligossacarídeos. Hidratos de carbono com mais de dez monossacarídeos designam-se de polissacarídeos. 1. Açucares Os açucares, quando em estado sólido, apresentam um aspecto branco cristalino, e apresentam ainda as propriedades de serem solúveis na água e de produzirem um sabor adocicado. 1.1 Monossacáridos ou açúcares simples Os monossacáridos são classificados de acordo com o seu número de carbonos na cadeia carbonada, que pode variar de 3 a 7 carbonos. A tabela 1 lista alguns monossacáridos, com diferente número de carbonos. Tabela 1. Exemplos de monossacáridos (açúcares simples) com um diferente número de carbonos. Número de carbonos Designação Exemplos 3 Triose Gliceraldeído e dihidroxiacetona 4 Tetrose Eritrose e treose 5 Pentose Arabinose#, ribose, ribulose, xilose, xilulose, lixose 6 Hexose Alose*, altrose, frutose, galactose, glucose, idose, manose, sorbose**, talose§, tagatose+ (ou natrulose) 7 Heptose Sedoheptulose, manoheptulose #Devido à biossíntese, a maioria dos sacarideos de ocorrência natural tem a conformação "D-", sendo estruturalmente análogos ao D-gliceraldeído. No entanto, a L-arabinose é mais abundante que a D-arabinose na natureza, e pode ser encontrada na composição de alguns biopolímeros, tais como a hemicelulose ou a pectina. *Açúcar bastante raro, isolado das folhas do arbusto africano Protea rubropilosa. **A configuração natural da sorbose é a L-sorbose, muito usada como adoçante em substituição da sacarose. §Monossacárido de ocorrência não natural. +Adoçante com textura similar à da sacarose, porém com apenas 38% das calorias. Por não poder ser digerida, passa diretamente pelo organismo sem ser absorvida. Muitos das estruturas sacarídeas diferem apenas na orientação dos seus grupos hidroxilo (-OH). No entanto, as pequenas diferenças estruturais apresentadas pelos diferentes monossacarídeos repercutem-se em grandes diferenças em termos de propriedades bioquímicas e organolépticas (ex: sabor), bem como em termos de propriedades físicas (como o ponto de fusão). Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 3/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono Monossacarídeos que apresentem um grupo carbonilo (C=O) num carbono terminal, tem a designação de açúcares aldeídos ou aldoses. Monossacarídeos que apresentem um grupo carbonilo (C=O) num carbono intermédio, tomam a designação de açúcares cetonas ou cetoses. Tetroses (C4H8O4) (Exemplos de monossacáridos com 4 carbonos na cadeia carbonada, em projecção de Ficher) D-Eritrose D-Treose Pentoses (C5H10O5) (Exemplos de monossacáridos com 5 carbonos na cadeia carbonada, em projecção de Ficher) D-Ribose D-Arabinose D-Xilose D-Lixose A ribose é um dos componentes dos ribonucleótidos que compõem o ácido ribonucleico (RNA), e apresenta-se em solução sob forma ciclizada, ou em anel. A desoxirribose, quando comparada com a ribose, não apresenta um grupo hidroxilo no carbono 2, e é a pentose que compõe os desoxirribonucleótidos do ácido desoxirribonucleico (DNA). Uma vez nos ácidos nucleicos, os nucleótidos não apresentam o grupo hidroxilo associado ao carbono 1, mas sim uma ligação covalente ao anel da base azotada (A; G, C ou T no DNA e A, G, C ou T no RNA). Ribose Desoxirribose Hexoses (C6H12O6) As hexoses apresentadas de seguida, D-alose, D-altrose, D-glucose e D-manose, D- idose, D-gulose, D-talose e D-galactose, são todas representadas pela fórmula molecular C6H12O6. É ao químico alemão Emil Fisher (1852-1919), prémio Nobel em 1902, a quem se atribui a identificação em 1894 dos isómeros das aldohexoses apresentadas. Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 4/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono D-Alose D-Altrose D-Glucose D-Mannose D-Gulose D-Idose D-Galactose D-Talose Hexoses (monossacáridos com 6 carbonos na cadeia carbonada, em projecção de Ficher) As estruturas que apresentam grupo hidroxilo em configurações opostas, em apenas um dos carbonos da cadeia carbonada, tal como a glucose e a manose, são designadas de epímeros. A D-glucose, também designada de dextrose, é o açúcar simples mais distribuído por todo o mundo vegetal e animal. A D-glucose é também o açúcar presente no sangue, pelo que se designa vulgarmente de “açúcar do sangue”. A forma em cadeia da glucose permite visualizar a sua constituição em grupos funcionais, onde se identificam facilmente os múltiplos grupo hidroxilo (-OH), bem como, o grupo aldeído (R-HC=O). A frutose, também designada de levulose, é conhecida como o “açúcar da fruta” (também apresentada na figura sob a forma de anel, e em cadeia). A frutose e a glucose são também os principais carbohidratos, ou glícidos, do mel. D-Tagatose D-Fructose Fructose α-D-Galactose α-D-Mannose (cetose) (cetose) (furanose) Heptoses (C7H14O7) A sedoheptulose é uma heptose com uma estrutura essencialmente igual à frutose, mas com um carbono extra na cadeia carbonada. As cenouras são ricas em sedoheptulose, enquanto o abacate é rico em manoheptulose. Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 5/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono D-Sedoheptulose D-Mannoheptulose Formas em cadeia e em anel dos açúcares Alguns açúcares simples podem existir na natureza sob as conformações em cadeia ou em anel, tal como já apresentado acima, para algumas pentoses e hexoses. No entanto, em solução aquosa, a forma em anel é a mais predominante. No caso da glucose, a molécula sofre ciclização quando o átomo de oxigénio associado ao carbono 5 reage com o carbono do grupo carbonilo (C=O), posicionado no carbono 1 da cadeia carbonada, transferindo o seu hidrogénio para o átomo de oxigénio do grupo carbonilo (C=O), com formação de um grupo hidroxilo (-OH). Este rearranjo da molécula produz α-D-glucose quando o grupo hidroxilo do carbono 1, se posiciona no lado oposto ao grupo CH2OH do carbono 6, e produz β-D-glucose quando o grupo hidroxilo do carbono 1, se posiciona no mesmo lado do grupo CH2OH do carbono 6. Os isómeros alfa (α) e beta (β), que diferem apenas na configuração dos grupos em redor do carbono 1, designam-se de anómeros. Os monossacáridos que formam um anel de 5 lados (ex: a ribose) designam-se de furanoses (dada a semelhança com o composto heterocíclico furano), ao passo que, os monossacídeos que formam um anel de seis lados (ex: a glucose) apelidam-se de piranoses (dada a semelhança com o composto heterocíclico pirano).D-Glucose (aldose) α-D-Glucose β-D-Glucose Furano Pirano Estereoquímica Sacarídeos com grupos funcionais idênticos, mas com configurações espaciais diferentes, apresentam também propriedades químicas e biológicas distintas. A estereoquímica é o ramo da química que estuda o arranjo dos átomos no espaço tridimensional. Estereoisómeros são compostos que Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 6/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono apresentam o mesmo número e tipo de átomos, ligados na mesma ordem, mas que apresentam diferentes arranjos espaciais. Os compostos estereoisómeros que mesmo sendo distintos, constituem a imagem-espelho um do outro, tal como as mãos esquerda e direita, tomam a designação de enanciómeros. As seguintes estruturas moleculares ilustram as diferenças entre os enanciómeros β- D-glucose e β-L-glucose. A estrutura da molécula de glucose é muitas vezes representada na sua configuração em cadeira, dado que é esta a configuração mais provável e mais favorável em termos de ângulos de ligações da molécula, ao contrário da configuração em barco da glucose, que é considerada mais instável. β-D-Glucose β-L-Glucose β-D-Glucose (configuração em cadeira) β-D-Glucose β-L-Glucose β-D-Glucose (configuração em barco) Açucares álcool, açúcares amino e ácidos urónicos. Os açúcares podem ser modificados por processos naturais, ou de laboratório, em compostos que retêm a configuração básica de sacarídeos, mas têm diferentes grupos funcionais. Os açúcares álcool, também conhecidos como polióis, álcoois poli-hídricos, ou outros poliálcoois, são as formas hidrogenadas das aldoses ou cetoses. Por exemplo, o glucitol, também conhecido como o sorbitol, tem a mesma estrutura que a forma linear da glucose, mas o grupo aldeído (-COH) posicionado no carbono 1, é substituído por um grupo -CH2OH, que contem um grupo álcool (hidroxilo, -OH). Outros álcoois de açúcar comuns incluem os monossacarídeos eritritol e o xilitol e os dissacarídeos lactitol e maltitol. Os açúcares álcool têm cerca de metade das calorias dos açúcares e são frequentemente utilizados como produtos de baixas calorias ou "sem açúcar". O Xilitol, possui dois grupos hidroxilo (-OH) orientados como na xilose, é um ingrediente comum usados em doces e gomas "sem açúcar", porque é aproximadamente tão doce como a sacarose, mas contém cerca de menos 40% de energia alimentar. Embora este álcool de açúcar pareça ser seguro para os seres humanos, o xilitol, em doses relativamente pequenas pode causar convulsões, insuficiência hepática, tendo-se mesmo verificado situações mesmo letais em cães. Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 7/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono Nos açúcares aminados ou aminosacarídeos um grupo hidroxilo encontra-se substituído por um grupo amino (-NH2). A glucosamina é um amino açúcar utilizado para tratar danos na cartilagem e reduzir a dor e progressão da artrite. Os ácidos urónicos, em contrapartida, apresentam um grupo ácido, conferido pelo grupo carboxílico (-COOH) associado ao átomo de carbono que não faz parte do anel. Os nomes dos ácidos urónicos obedecem à mesma raiz etiológica usada na designação dos monossacarídeos, mas o sufixo –ose do açúcar é retirado e substituído por ácido -urónico. Por exemplo, o ácido galacturónico tem a mesma configuração como galactose, e a estrutura de ácido glucurónico corresponde à glucose. Glucitol ou Sorbitol (um açúcar álcool) Glucosamina (um açúcar amina) Ácido glucorónico (um ácido urónico) 1.2 Dissacáridos Os dissacarídeos são compostos por dois açúcares simples. A tabela 2 apresenta vários dissacarídeos presentes na natureza. Tabela 2: Dissacarídeos, descrição e composição. Dissacarídeos Descrição Monossacarídeos componentes Sacarose Açúcar de comum de mesa glucose α-1,2 fructose Maltose Produto da hidrólise do amido glucose α-1,4 glucose Celobiose Produto da hidrólise da celulose glucose β-1,4 glucose Isomaltose Obtida a partir da maltose glucose α-1,6 glucose Trealose Encontrado em fungos glucose α-1,1 glucose Lactose Principal açúcar do leite galactose β-1,4 glucose Melibiose Encontrado em legumes galactose α-1,6 glucose sacarose lactose (glucose α-1,2 fructose) galactose β-1,4 glucose Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 8/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono maltose isomaltose (glucose α-1,4 glucose) (glucose α-1,6 glucose) A sacarose, também designada de sucrose, compõe o açúcar comum de mesa, e é obtida a partir de cana-de-açúcar ou de beterraba. Por seu turno, a lactose apresenta uma estrutura molecular composta por um monómero de galactose e outro de glicose. A lactose está associada ao desenvolvimento de intolerância à lactose, patologia que descreve o desconforto intestinal causado por ausência, défice ou falha na atividade da enzima lactase. A enzima lactase está presente no lúmen intestinal e é necessária para catalisar o desdobramento dos monossacarídeos provenientes da lactose do leite. A não degradação da lactose, conduz à presença de altas concentrações deste dissacarídeo, que fermenta no cólon intestinal e causa dor e distensão abdominal, gases e diarreia. Os indivíduos que apresentam intolerância normal à lactose, apresentam sintomas quando ingerem leite, mas não apresentam sintomas quando ingerem iogurte. Esta diferença é devida à baixa concentração de lactose nos iogurtes, uma vez que aquando da produção do iogurte, a lactose é sujeita a fermentação láctea, pelas bactérias (Lactobacillus acidophilus) que transformam o leite em iogurte. A maltose é composta por dois monómeros de α-D-glucose, com formação da ligação O-glicosídica entre o carbono 1 de um dos monómeros de α-glucose e o carbono 4 de um segundo monómero de glucose (ligação O-glicosídica glucose α-1,4 glucose). A trealose é também composta por dois monómeros α-D-glicose, mas que se encontram covalentemente ligados, via átomo de oxigénio, do carbono 1 de um dos monómeros ao carbono 1 do monómero seguinte. A celobiose é um dissacarídeo composto por duas moléculas de β-D-glucose que apresenta uma ligação O-glicosídica β-1,4 como na celulose. A celobiose não tem sabor, enquanto maltose e trealose são cerca de um terço mais doces do que a sacarose. 1.3 Trissacarídeos A rafinose, também designada de melitose, é um trissacarídeo amplamente encontrado em legumes e vegetais crucíferos (ricos em vitaminas e minerais), incluindo o feijão, ervilha, repolho, couve-de- bruxelas e brócolos. A rafinose é composta por galactose ligada a sacarose, via ligação glicosídica α- 1,6, sendo que a sacarose é por só si, um dissacarídeo de glicose e frutose (glucose α-1,4 frutose). Rafinose + 2 H2O → galactose + (sacarose) → galactose + glicose + frutose Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 9/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono Rafinose (trissacarídeo de galactose, glucose e frutose) Os seres humanos não conseguem digerir, via sistema digestivo, sacarídeos com ligações glicosídicas α-1,6, pelo que os sacarídeos são fermentados no intestino grosso por bactérias produtoras de gases. Como tal, comprimidos com a enzima alfa- galactosidase são frequentemente utilizados como auxiliares digestivos para evitar flatulência e distensão abdominal. 2. Polissacarídeos Os polissacarídeos são polímeros compostos por monómeros de açúcar. Ao contrário dos açúcares simples, muitos polissacáridos, são insolúveis em água. É o caso da “fibra alimentar” que inclui polissacarídeos e oligossacarídeos resistentes à digestão e absorçãono intestino delgado humano, mas que são completa ou parcialmente fermentados pelos microrganismos do intestino grosso. Os polissacarídeos descritos de seguida desempenham papéis importantes na nutrição, biologia, ou na manipulação alimentar, cosmética e farmacológica. 2.1 Amido O amido é o principal hidrato de carbono armazenado nas plantas. O amido é composto por uma mistura de duas substâncias: a amilose, um polissacarídeo, essencialmente linear, e amilopectina, um polissacarídeo altamente ramificado. Ambas as formas de amido são polímeros de α-D-glucose. Amidos naturais contêm 10-20% de amilose e 80-90% de amilopectina. A amilose forma uma dispersão coloidal em água quente (que ajuda a engrossar molhos), enquanto que a amilopectina é completamente insolúvel. 2.1.1 Amilose As moléculas de amilose são tipicamente compostas por 200 a 20.000 unidades de glucose, organizadas numa estrutura em hélice, como resultado dos ângulos de ligação entre as unidades de glicose. Amilose (forma de amido, estruturada em polímero composto por unidades de α-D-glucose, ligadas por ligações O-glicosídicas α-1,4). 2.1.2 Amilopectina A amilopectina difere da amilose na sua estrutura altamente ramificada. As moléculas de amilopectina são compostas por cadeias curtas de cerca de 30 unidades de α-D-glucose ligadas covalentemente por ligações α-1,4, que apresentam ainda ramificações α-1,6, a cada cerca de 20-30 Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 10/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono unidades de glucose. As moléculas de amilopectina podem conter até dois milhões de unidades de glicose. Figura 2. Amilopectina (A. Representação da ligação entre os monómeros de α-D-glucose. B. Representação esquemática da estrutura ramificada da amilopetina). Muitos produtos comerciais apresentam “amido transformado” por hidrólise, na presença de determinadas enzimas e meio ácido. Uma reacção de hidrólise constitui uma reacção química, em que há quebra de ligações em meio aquoso, neste caso, com quebra de ligações das longas cadeias de amido (polissacarídeo) em cadeias mais pequenas ou mesmo em unidades de açúcar simples (a glucose). Aos produtos resultantes do processo de hidrólise, de acordo com o grau de hidrólise, atribui-se um valor de Glucose ou Dextrose-Equivalente (DE). Um valor de DE de 100 corresponde a amido completamente hidrolisado, ou seja, totalmente clivado a unidades de glucose (dextrose). Adicionalmente. Atribui-se a designação de “amido modificado”, ao amido modificado por processos mecânicos ou tratamentos químicos para estabilizar géis de amido com água quente. A designação de “amido resistente” é também usada e aplicada ao amido dietético que não é degradado no estômago e no intestino delgado, mas é fermentado pela microflora do intestino grosso. Tabela 3. Níveis relativos de paladar-doce de vários hidratos de carbono Hidrato de carbono “doçura” Hidrato de carbono “doçura” Frutose 173 Sorbitol 55 Acuçar invertido* 120 Manitol 50 Sacarose 100 Trealose 45 Xilitol 100 Galactose 32 Tagatose 92 Maltose 32 Glucose 74 Lactose 15 *O açúcar invertido resulta da quebra da sacarose aos seus monossacarídeos glucose e frutose. 2.2 Glicogénio A glicose é armazenada como glicogénio em tecidos animais, via o processo metabólico (anabólico) designado de glicogénese (síntese de glicogénio). No Homem, os tecidos capazes de sintetizar e armazenar glicogénio são o tecido hepático e o tecido muscular. Quando a glicose não é usada imediatamente para obtenção de energia, e já não pode ser armazenada sob a forma de glicogénio (no músculo ou no fígado), a glucose é metabolizada com vista à produção de gordura (triglicerídeos), gordura esta armazenada no tecido adiposo. O glicogénio é um polímero de α-D-Glucose idêntico à amilopectina. As diferenças residem apenas na organização estrutura do polímero, que apresenta, no caso do glicogénio, mais ramos e ramos mais curtos (com apenas cerca de 13 unidades de glucose). A. B. Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 11/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono As cadeias de glucose estão organizadas de forma globular, em redor de uma molécula central, uma proteína designada de glicogenina, que serve de molécula “iniciadora” da estrutura. Através do metabolismo (catabolismo) do glicogénio, é possível obter novamente glucose livre. Figura 3. Glicogénio (representação da organização estrutural da molécula de glicogénio, polímero composto por unidades de α-D-glucose, ligadas por ligações O-glicosídicas α-1,4, com ramificações α-1,6, a cada 13 unidades de glucose. 2.3 Dextrano O dextrano é um polissacárido com composição semelhante à amilopectina, mas onde as cadeias principais são formadas por ligações O-glicosídicas α-1,6, com ramificações secundárias α-1,3 e α-1,4. O dextrano é um produto das bactérias orais, que aderem aos dentes, e criam a película comummente designada de “placa”. O dextrano é também utilizado comercialmente em produtos de confeitaria, em lacas, e como aditivo alimentar. Figura 4. Dextrano (representação do dextrano e suas unidades monoméricas) 2.4 Inulina Algumas plantas armazenam hidratos de carbono sob a forma de inulina, para além do amido. As inulinas estão presentes em muitos vegetais e frutas, incluindo a cebola, alho-francês, alho, banana, aspargo, chicória e alcachofra. As inulinas, também designadas de frutanos, são polímeros de frutose, que apresentam tipicamente uma glicose terminal. A oligofrutose apresenta a mesma estrutura que a inulina, mas com cadeias compostas por apenas 10 ou menos unidades/monómeros de frutose. A oligofrutose possui aproximadamente 30 a 50 por cento da doçura do açúcar de mesa. A inulina é menos solúvel do que a oligofrutose e tem uma textura suave e cremosa que confere uma sensação na boca semelhante à gordura. A inulina e a oligofrutose não são digeríveis pelas enzimas do intestino humano, mas são totalmente fermentadas pela microflora do cólon. A inulina e a oligofrutose são usadas para substituir a gordura ou açúcar e reduzir as calorias de alimentos como Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 12/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono gelados, produtos lácteos, produtos de pastelaria e panificação. A inulina é ainda utilizada como substancia exógena (dado que é uma fibra não digerível) na avaliação da taxa de filtração glomerular, em exames de análises clínicas de avaliação da função renal. Figura 5. Inulina (representação da inulina e suas unidades monoméricas) 2.5 Celulose A celulose é um polímero de β-D-glicose, que ao contrário do amido, orienta os seus grupos - CH2OH de forma alternada acima e abaixo do plano da molécula de celulose, produzindo assim cadeias longas e não ramificadas. A ausência de cadeias laterais de moléculas de celulose permite acomodar melhor as cadeias de forma paralela e formar estruturas rígidas. A celulose é o principal material (polissacarídeo) das plantas. Enquanto a madeira é composta por uma grande fracção de celulose, o algodão é celulose quase pura. Embora o Homem não consiga hidrolisar a celulose, a celulose consegue ser hidrolisada às suas subunidades de glucose constituintes, por microorganismos que habitam o tracto digestivo de térmitas e ruminantes. Figura 6. Celulose (representação das ligações entre os monómeros de β-D-glucose) A goma de celulose ou carboximetilcelulose (CMC) é um derivado químico da celulose, onde alguns dos grupos hidroxilo (-OH) são substituídos por grupos carboximetilo (-CH2COOH). A goma de celulose é não-tóxica e torna-se muito viscosa, quando combinada com água. A goma de celulose é usada comoespessante de alimentos e como um estabilizador de emulsões, em produtos como é o caso dos gelados. A goma de celulose é também utilizada em lubrificantes, pílulas de dieta, tintas de água, detergentes e revestimentos de papel. O termo "hemicelulose" é aplicado na descrição dos componentes polisacarídicos das paredes celulares de plantas, distintos da celulose, ou de polissacarídeos da parede celular das plantas, extraídos por soluções alcalinas diluídas. As hemiceluloses compreendem cerca de um terço dos Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 13/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono hidratos de carbono presentes nos tecidos das plantas lenhosas. A estrutura química das hemiceluloses é composta por longas cadeias de uma variedade de pentoses, hexoses, e os seus ácidos urônicos correspondentes. As hemiceluloses podem ser encontradas na fruta, caules e casca de cereais. E, embora as hemiceluloses também não sejam digeríveis, podem ser fermentadas por leveduras e bactérias. 2.6 Quitina A quitina é um polímero não ramificado de N-acetil-D-glucosamina. É encontrada em fungos e é o componente principal dos exoesqueletos de artrópodes e de animais inferiores, como por exemplo, insectos, caranguejos, e camarão. A quitina pode ser considerada como um derivado de celulose, em que os grupos hidroxilo (-OH) do segundo carbono de cada unidade de glucose foram substituídos por grupos acetamido (-NH (C = O) CH3). Figura 7. Quitina (representação das ligações entre os monómeros de Ν−acetil-D-glucosamina) 2.7 Beta-glucanos Os beta-glucanos lineares consistem em polissacarídeos não ramificados de β-D-glucose como a celulose, mas com uma ligação β-1,3 para cada três ou quatro ligações β-1,4. Os beta-glucanos formam longas moléculas cilíndricas contendo até cerca de 250.000 unidades de glucose. Os beta- glucanos existem no farelo de cereais tais como a cevada e a aveia, e são reconhecidos como sendo benéficos para reduzir a doença cardíaca, pela diminuição do colesterol e redução da resposta glicémica. São ainda usados comercialmente para modificar a textura de alimentos e como substitutos da gordura. Figura 8. Beta-glucanos (representação das ligações entre os monómeros de glucose β-1,3 e β-1,4). 2.8 Glucosaminoglicanos Os glicosaminoglicanos são encontrados no fluido de lubrificação das articulações, como componentes da cartilagem, fluido sinovial, humor vítreo, osso e válvulas cardíacas. Os glicosaminoglicanos são polissacarídeos longos não ramificados, que contêm unidades de repetição de dissacárido, com um dos dois seguintes açúcares amino - N-acetilgalactosamina ou N- acetilglucosamina, e ainda um ácido urónico tal como o glucuronato (que deriva da glucose, mas que contem um grupo carboxilo). Os glicosaminoglicanos apresentam-se carregados negativamente, e Unidade curricular de Bioquímica | 1.º ano | 1.º semestre 14/14 Série A: Biomoléculas – 1. Hidratos de carbono são moléculas que produzem soluções de elevada viscosidade, pelo que são por vezes designados de mucopolissacarídeos. Os glicosaminoglicanos fisiologicamente mais importantes são o ácido hialurónico, o sulfato de dermatano, o sulfato de condroitina, a heparina, o sulfato de heparano, e o sulfato de queratano. A heparina é uma complexa mistura de polissacáridos lineares que possuem propriedades anticoagulantes e variam no grau de sulfatação das unidades de sacárido. Sulfato de condroitina Heparina 2.9 Agar O Agar (agar agar) é extraído de algas e é usado em muitos alimentos como agente gelificante. O agar é um polímero de agarobiose, um dissacárido constituído por D-galactose e 3,6-anidro-L- galactose. O agar altamente refinado é usado como um meio para a cultura de bactérias, tecidos celulares, e para a identificação de DNA. O agar é ainda utilizado como ingrediente em sobremesas no Japão e outros países asiáticos. Os géis produzidos com agar têm uma textura ainda mais estaladiça do que as sobremesas feitas com gelatina animal. A carragenina é um termo genérico para vários polissacáridos extraídos também de algas marinhas. Figura 9. Agarobiose (unidade dissacárida de repetição no agar) 2.10 Alginatos e ácidos algínicos O alginato é um polissacarídeo extraído de algas, tais como a alga gigante (Macrocystis pyrifera). Os componentes químicos de alginato são sequências aleatórias de cadeias de ácido β-manurónico e α- D-L-gulurónico. Os alginatos são insolúveis em água, mas facilmente absorvem água. Eles são úteis como agentes de gelificação e espessantes. Assim, os alginatos são utilizados no fabrico de têxteis, papel, cosméticos, filmes e biomateriais de regeneração tecidular. O sal de sódio do ácido algínico, o alginato de sódio, é utilizado na indústria de alimentos, para aumentar a viscosidade e como um emulsionante. Os alginatos são encontrados em produtos alimentares, tais como gelados, compostos adelgaçantes, dado que funcionam como supressores do apetite. Em, medicina dentária, os alginatos são também usados no fabrico de moldes dentários. Figura 10. Ácido algínico
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