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UNIDADE IV DA PERSONALIDADE

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UNIDADE V – OS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
1. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VALOR FUNDANTE DO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
 Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald ressaltam ser imprescindível a abordagem do 
princípio da dignidade da pessoa humana no intróito dos direitos da personalidade, haja vista 
que, nos direitos da personalidade estão compreendidos os direitos essenciais à pessoa 
humana, a fim de resguardar a sua própria dignidade. Dessa forma os direitos da 
personalidade derivam da própria dignidade da pessoa humana para tutelar os valores mais 
significativos do indivíduo, seja perante outras pessoas, seja em relação ao Poder Público. 
 Sendo o valor fundante do ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da dignidade da 
pessoa humana, posiciona o indivíduo no centro do sistema jurídico, no sentido de que as 
normas devem ser feitas para a pessoa e para a sua realização existencial, além do que devem 
garantir o mínimo de direitos fundamentais1 para lhe proporcionar uma vida digna (Farias e 
Rosenvald, 2016, p.164). Daí poder afirmar que o Estado existe em função da pessoa, e não o 
contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal. 
 Essa concepção antropocêntrica do sistema jurídico brasileiro – centrado na dignidade 
da pessoa humana – resultou, simultaneamente, em limite e tarefa dos poderes estatais. 
Conforme Sarlet (2007, p.231), a dignidade estabelece limites com o intuito de evitar a 
instrumentalização do indivíduo, gerando direitos fundamentais negativos contra atos que 
possam violá- la ou expô- la a graves ameaças. Já o dever prestacional, reclama do Estado 
ações fáticas e jurídicas que promovam e protejam a dignidade da pessoa humana. 
 No que concerne ao conteúdo da dignidade da pessoa humana pode-se afirmar que: 
 
1
 É importante distinguir Direitos Humanos de Direitos Fundamentais: DIREITOS HUMANOS: são princíp ios 
universais de proteção à dignidade, a liberdade e a igualdade inerente a todos os seres humanos, previstos na 
ordem jurídica internacional. São, portanto, princípios, anteriores ao Estado (Lopes, 2001, p.41-42). 
DIREITOS FUNDAMENTAIS: Surg iram pela ineficácia das declarações e pela necessidade de positivar no 
ordenamento jurídico os direitos humanos. Podem ser definidos como a positivação dos direitos humano s em 
determinado ordenamento juríd ico, cujo objetivo principal é assegurar a dignidade humana daqueles que 
convivem em determinada sociedade (Lopes, 2001, p.76). São normas principio lógicas defensoras da dignidade 
humana que fundamentam e leg itimam o sistema juríd ico de cada Estado. Enfim, é o mín imo necessário para 
uma existência digna. 
1) Veda que o homem seja submetido a condições humilhantes, degradantes. Veda que o 
homem seja objetivado, instrumentalizado; 
2) Permite ao ser humano a liberdade para autodeterminar-se, ou seja, dirigir a sua vida 
conforme os seus próprios valores; 
3) É o núcleo básico de muitos princípios, de modo que a partir da dignidade emergem 
vários outros princípios. 
 
 À guisa do exposto, pode-se dizer que, os direitos da personalidade assim como as 
demais fontes do ordenamento jurídico brasileiro, ao concretizar e efetivar o princípio da 
dignidade da pessoa humana, estarão diretamente assegurando um mínimo ético e um mínimo 
existencial a uma vida humana digna. 
 
2. OS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 Os direitos da personalidade são direitos inerentes aos valores existenciais da pessoa 
humana e a ela ligados de maneira perpétua e permanente. Constituem verdadeiros direitos 
subjetivos atinentes à própria condição humana. Não são mensuráveis economicamente, pois 
estão voltados à própria condição existencial da pessoa, tais como, à vida, à liberdade, o 
nome, o próprio corpo, à imagem e à honra (Farias e Rosenvald, 2016, p.177; Gonçalves, 
2016, p.184). 
 Derivados do princípio da dignidade da pessoa humana, os direitos da personalidade, 
tutelam os valores mais significativos do indivíduo, seja perante outras pessoas, seja em 
relação ao Poder Público. Com as cores constitucionais, os direitos da personalidade passam a 
expressar o mínimo necessário e imprescindível a uma vida com dignidade (Farias e 
Rosenval, 2016, p.177). 
 Os direitos da personalidade despontaram no cenário mundial por meio do ideal de 
fraternidade universal pregada pelo Cristianismo, fixando as suas raízes no direito natural. 
 No medievo, a Magna Carta inglesa, de 1215, ao tutelar o direito à liberdade, 
reconheceu implicitamente os direitos da personalidade. Mais adiante, a Declaração dos 
Direitos do Homem de 1789, valorizou a tutela da personalidade humana e a defesa dos 
direitos individuais. No entanto, foram as atrocidades nazistas da Segunda Guerra Mundial e 
as suas conseqüências deletérias à dignidade humana, que tornaram premente a necessidade 
de assegurar uma proteção especial aos direitos da personalidade. Esse reconhecimento se fez 
através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 (Farias e Risenvald, 2016, 
p.175). 
 No Brasil os direitos da personalidade encontram-se tutelados pela CF/88 (ar.5º, inc.X) 
e pelo Código Civil de 2002 nos seus artigos 11 a 21. 
 
3. AS FONTES E AS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
3.1. As fontes dos direitos da personalidade 
 A doutrina diverge quanto os fundamentos dos direitos da personalidade. Segundo 
Farias e Rosenvald (2016, p.178) essa discordância está centrada sob duas teorias: a 
jusnaturalista e a positivista. 
 a) jusnaturalista: os direitos da personalidade decorrem dos direitos naturais, uma vez 
constituírem atributos inerentes à própria condição humana, o que implica não ser necessário 
o seu reconhecimento no ordenamento jurídico para serem tutelados. Situam-se, pois, em um 
plano suprajurídico. Essa teoria é aceita de forma absoluta pela doutrina estrangeira e 
brasileira. 
 b) positivista: representando uma posição minoritária, os positivistas defendem a idéia 
de que, os direitos da personalidade decorrem da sua positivação pelo ordenamento jurídico. 
Ou seja, é a ordem jurídica que reconhece os direitos da personalidade, viabilizando o seu 
exercício. 
 Não obstante ser aceita pela doutrina majoritária, há algumas críticas à posição 
jusnaturalista. Assim: como explicar a aplicação de penas corporais em países mulçumanos, 
com contundente violação aos direitos da personalidade, tais como a integridade física, a 
liberdade e a vida? Nos países africanos, com as suas cirurgias mutiladoras nos órgãos sexuais 
femininos? E nos países em que admitem a pena de morte? Se decorrem do direito natural – 
portanto inatos ao ser humano – por que são frontalmente violados? A ausência dessas 
respostas só faz aumentar a defesa da tese de que, os direitos da personalidade, devem 
encontrar o seu fundamento na norma positiva, de modo a garantir a sua adequada tutela. 
 
 
3.2. As características dos direitos da personalidade 
 As características dos direitos da personalidade estão expressas no art.11 do CC. São 
elas: 
 a) Intransmissibilidade e irrenunciabilidade: essas características acarretam a 
indisponibilidade dos direitos da personalidade. Não podem os seus titulares deles dispor, 
transmitindo-os a terceiros, renunciando o seu uso ou abandonando-os, pois nascem e se 
extinguem com eles, dos quais são inseparáveis (Gonçalves, 2016, p.187). Porém, o próprio 
art.11 do CC estabelece o caráter relativo da indisponibilidade dos direitos da personalidade,ao expressar que tais direitos podem ser disponíveis somente nos casos previstos em lei. 
Assim, é possível haver cessão do direito de imagem mediante retribuição pecuniária ou 
gratuita, durante determinado lapso temporal2. É nessa linha de raciocínio que há cessão de 
direitos autorias e a doação de órgãos humanos duplos ou regeneráveis – para fins altruísticos 
e terapêuticos. Pode-se afirmar que a disponibilidade dos direitos da personalidade só pode 
ocorrer conforme previsão legal, além de não ser permanente, nem genérica e nem tampouco 
violar a dignidade humana. 
 b) Absolutismo: o caráter absoluto dos direitos da personalidade se refere a 
oponibilidade erga omnes – ou seja, possuem eficácia contra todos – impondo a todos o dever 
de respeitá-los (Farias e Rosenvald, 2016 p.181). Não são absolutos quando colidem um com 
outro, pois nesse caso serão relativos e irá prevalecer aquele que mais sopesou. 
 c) Não limitação: é ilimitado o número de direitos da personalidade, malgrado o CC, nos 
arts. 11 a 21 tenha referido expressamente apenas alguns. Tal rol é meramente 
exemplificativo, pois é impossível imaginar um numerus clausus nesse campo. Pode-se citar 
outros, tais como: direitos a alimentos, ao planejamento familiar, ao leite materno, ao meio 
ambiente ecológico, à velhice digna, ao culto religioso, etc (Gonçalves, 2016, p.188). 
 d) Imprescritibilidade: inexiste prazo extintivo para que seja exercido um direito da 
personalidade. São imprescritíveis quanto a tutela inibitória, mas sujeitam-se a prescrição 
quanto a tutela ressarcitória. Ou seja, a prescretibilidade da ação de pretensão indenizatória 
decorrente de um eventual dano à personalidade, essa sim prescreve. Nesse caso o que se 
prescreve é o direito de pretensão, ou seja, não se pode mais exigir que o Estado de forma 
 
2
 Enunciado 4, da Jornada de Direito Civil: “o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação 
voluntária, desde que não permanente e nem geral”. 
coercitiva obrigue aquele que causou danos a personalidade de uma pessoa venha a indenizá-
la. Esta ação indenizatória, conforme o art.206, §3º. V, CC, prescreve em três anos3. Ex: se 
alguém indevidamente, utiliza-se da imagem de outrem, a pretensão de impedir que a pessoa 
continue se valendo daquela imagem não sofre limitação temporal, podendo ser exercida a 
qualquer tempo. Porém, uma vez ocorrendo dano a imagem de outrem, prescrever-se-á em 
três anos a pretensão de reparação pecuniária ao dano sofrido (Farias e Rosenvald, 2016, 
p.181). 
 e) Extrapatrimonialidade: consiste na insuscetibilidade de apreciação econômica dos 
direitos da personalidade, ainda que a eventual lesão possa produzir conseqüências 
monetárias. É certo que a honra, a privacidade e demais bens jurídicos personalíssimos não 
comportam avaliação pecuniária. Entretanto, uma vez ocorrendo uma violação a estes bens, 
independente de causar prejuízo material, surge a possibilidade de reparação – indenização 
por danos morais. 
 f) Impenhorabilidade: não podem ser objeto de penhora, ou seja, não podem ser dados 
como garantia de um débito. Ex: não se pode dar como garantia de pagamento de uma dívida 
um rim, pois não se pode penhorar a integridade física. 
 g) Não sujeição a desapropriação: os direitos da personalidade não podem ser retirados 
da pessoa humana contra a sua vontade, nem o seu exercício sofrer limitação voluntária. 
 h) Vitalicidade: os direitos da personalidade são inatos, adquiridos no instante da 
concepção e acompanham a pessoa até sua morte, por isso são vitalícios. Assim uma ofensa 
dirigida diretamente a uma pessoa morta não produz quaisquer efeitos jurídicos, uma vez que 
este não tem mais personalidade jurídica. No entanto, ao atingir diretamente o morto, o dano 
pode reverberar sobre os seus familiares vivos indiretamente. Trata-se do dano reflexo ou 
ricochete, o qual uma vez presente permite a aplicabilidade do parágrafo único do art.12 do 
CC, de modo que os parentes do de cujus que tiverem sido atingidos indiretamente pelas 
ofensas ao morto, possam pleitear em nome próprio uma reparação por danos morais. Dessa 
forma, é um direito da personalidade do parente do de cujus, requerer em nome próprio, a 
preservação da memória do parente morto (Farias e Rosenvald, 2016, p.212). 
 Vide o julgado: 
 
3
 A jurisprudência do STJ vem decidindo que, é imprescritível a ação de indenização à reparação de danos 
causados pela tortura ou prisão durante a ditadura militar. (STJ, Ac.unân.1ª.,T.,AgRg970.753/MG, 
rel.Min.Denise Arruda, j.21.10.08, DJU 12.11.08). 
Ementa: RECURSO DOS RECLAMANTES. DANO MORAL 
REFLEXO. ACIDENTE DE TRABALHO. MORTE DO IRMÃO. É 
certo que nos casos de núcleo familiar próximo (genitores, cônjuge e 
filhos), o dano moral decorrente do óbito é presumido, sendo 
dispensada a efetiva comprovação. Entretanto, no caso de parentes 
mais distantes (irmãos, tios, primos, etc), não é aplicável tal 
presunção, sendo necessária a comprovação de vínculos afetivos 
capazes de gerar abalo moral alegado, ainda que indiretamente, visto 
que o sofrimento em si não é aferível, o que não ocorreu no caso em 
comento. Sentença mantida. RECURSO DAS RECLAMADAS. 
DANO MORAL. VALOR DA INDENIZAÇÃO. À míngua de 
parâmetros legais estabelecidos quanto à quantificação indenizatória, 
os danos extra patrimoniais devem ser indenizados de acordo com a 
condição econômica das partes, a gravidade dos efeitos do acidente e 
em observância ao princípio da razoabilidade. No caso concreto, 
afigura-se adequado o valor fixado pela Juíza de origem. Recursos não 
providos. (RO, nº 00201166020175040821, TRT, 4ª Região, 1ª 
Turma, Des. ROSANE SERAFINI CASA NOVA, julgado 18 de maio 
de 2018). 
 
 Assim determina o Enunciado 400 da V Jornada de Direito Civil, do Conselho da 
Justiça Federal que "Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por 
direito próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra a lesão perpetrada 
post mortem", confluindo as noções do pleito do companheiro e a casuística de legitimação 
ordinária. Vale ressaltar que não se deve confundir a legitimidade dos lesados indiretos, no 
dano ricochete, com a situação descrita no art.943 do CC. Neste, se o ofendido morreu sem 
promover a ação reparatória, os seus parentes vivos podem fazê- lo, dentro do prazo 
prescricional, uma vez que receberam, por transmissão hereditária, o direito à reparação. Já, 
na primeira hipótese, os parentes são as próprias vítimas, reclamando em seus próprios 
nomes. 
 
 
4. A TUTELA PREVENTIVA E REPRESSIVA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 Com o fito de proteger os direitos da personalidade o ordenamento jurídico prevê a 
tutela preventiva e repressiva no art.5º, X da CF/88, nos arts.536 e 537 do CPC, no art.84 do 
CDC e no art.12 do CC. Como tutela preventiva pode-se citar o exemplo o mandando de 
distancionamento, determinando ao agente que não se aproxime mais do que uma 
determinada distância da vítima. 
 No entanto, a tutela repressiva resulta da violação aos direitos da personalidade, que ao 
ensejar danos morais dará a vítima o direito subjetivo a uma indenização. Tais danos, também 
denominados de danos extrapatrimonais – são considerados danos in re ipsa, isto é, ínsito do 
próprio fato, caracterizado pela simples violação da personalidade e da dignidade do titular, 
não necessitando dessa forma aferir a intensidade da dor e do sofrimento, pois a simples 
violação a esses direitos configura o direito subjetivo de pleitear umaindenização. 
 Vide julgado: 
DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. DESNECESSIDADE DE 
DEMONSTRAÇÃO DA SUA OCORRÊNCIA. I - O dano moral 
prescinde de prova da sua ocorrência, em virtude de consistir em 
ofensa a valores humanos, os quais se identificam por sua 
imaterialidade, sendo imprescindível apenas a demonstração do ato 
ilícito do qual ele tenha sido resultado. II - É certo que o inciso X do 
artigo 5º da Constituição elege como bens invioláveis, sujeitos à 
indenização reparatória, a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas. Encontra-se aí subentendida no entanto a 
preservação da dignidade da pessoa humana, em virtude de ela ter sido 
erigida em um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, a 
teor do artigo 1º, inciso III, da Constituição. III - Comprovado que o 
nome do recorrente constara de "lista negra" elaborada pela recorrida, 
em que pese não ter havido sua divulgação, em razão da qual ele 
tivesse sido preterido em nova colocação, pois essa hipótese só teria 
relevância para a caracterização de dano material, por sinal, não 
pleiteado, acha-se caracterizado o ilícito patronal e por consequência 
materializado o dano moral, consubstanciado na ofensa à sua 
intimidade profissional. IV - Vale registrar, de resto, não ter sido 
reiterada nas contra-razões do recurso de revista a impugnação 
veiculada, no recurso ordinário, ao valor arbitrado pelo Juízo de 
primeiro grau, de sorte que não há lugar para pronunciamento do TST. 
Recurso provido. (RR, TST, 4ª Turma. Rel: Min. Antônio José de 
Barros Levenhagen, publicado em 15/02/2008). 
 
5. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 A finalidade precípua dos direitos da personalidade é proteger de forma integral a pessoa 
humana e consequentemente tutelar a sua dignidade. Para tal devem abranger os aspectos 
biopsicossociais pertencentes ao ser. 
 Por visar tutelar de forma holística o ser humano, não há como estabelecer um rol 
taxativo dos direitos da personalidade, visto que o homem enquanto produto da sociedade 
evolui conjuntamente com ela, incorporando novos valores à sua personalidade, os quais 
assim como os outros direitos já existentes, merecem toda proteção do ordenamento jurídico. 
 Nessa linha de idéias, se pode afirmar que, os direitos da personalidade, são expressões 
da cláusula geral4 de tutela da pessoa humana, contida no art.1º, inc.III da CF/88 (enunciado 
274 da Jornada de Direito Civil). Logo os direitos da personalidade decorrem de uma cláusula 
geral de proteção da personalidade, a qual encontra-se inserida no princípio da dignidade da 
pessoa humana, o que por si impossibilita que tais direitos sejam esgotados e limitados (Farias 
e Rosenvald, 2016, p.213). 
 Como fruto da dignidade da pessoa humana e ao serem incluídos como direitos e 
garantias fundamentais, os direitos da personalidade se submetem a técnica da ponderação de 
interesses e na regra do tudo ou nada. Nessa linha, arremata o Enunciado 274 do CJF: “ em 
razão de colisão entre eles (direitos da personalidade) como nenhum pode sobrelevar os 
demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”. 
 Mesmo considerando que os direitos da personalidade decorrem de uma cláusula geral – 
a qual por sua vez encontra-se inserida no princípio da dignidade da pessoa humana – é 
possível classificá- los levando em consideração alguns critérios, sem contudo, remover o seu 
 
4
 Segundo Farias e Rosenvald (2013, p.55), cláusulas gerais são normas intencionalmente editadas de forma 
aberta pelo leg islador. Possuem conteúdo vago e impreciso, com mult iplicidade semântica. A amplitude das 
cláusulas gerais permite que os valores sedimentados na sociedade possam penetrar no Direito Privado, de forma 
que o ordenamento jurídico mantenha a sua eficácia social e possa solucionar problemas inexistentes ao tempo 
da edição do CC. 
caráter ilimitado. Assim, confirme Farias e Rosenvald (2016, p.213), os direitos da 
personalidade são classificados segundo a: 
 a) integridade física: direito à vida, direito ao corpo, direito à saúde ou a inteireza 
corporal, direito ao cadáver e outros; 
 b) integridade moral ou psíquica: direito à imagem, direito à privacidade, ao nome, etc ; 
 c) integridade intelectual: direito a propriedade industrial, direito à autoria científica ou 
literária, à liberdade religiosa e de expressão, dentre outras manifestações do intelecto. 
 
5.1. Direito à integridade física 
 A tutela jurídica ao corpo humano sofreu forte influência dos ideais cristãos, os quais 
defendiam o dogma – até hoje defendem – de ser a corporeidade humana dádiva divina e, 
portanto, insusceptível de intervenção pelo próprio titular. No entanto, na contemporaneidade, 
a autonomia privada alterou esse entendimento, de modo a admitir-se um verdadeiro direito 
ao corpo humano. Porém, para evitar os abusos a essa disposição o Estado por meio do 
Código Civil impôs limites a disposição afim de proteger a integridade física. 
 É nesse contexto em se pode afirmar que, o direito à integridade física, consiste na 
proteção jurídica ao corpo humano, incluindo nesta a tutela ao corpo vivo e ao corpo morto, 
além dos tecidos, órgãos e partes suscetíveis de separação e individualização. Dessa forma o 
art.13 tutela o corpo vivo, o art.15 o consentimento informado do paciente e o art.14 tutela o 
corpo morto. (Farias e Rosenvald, 2016, p.217 e 218). 
 Como parte do direito à integridade tem-se o direito a vida digna, que por sua vez 
funciona como o pressuposto a todos os outros direitos da personalidade. 
 Impõe-se chamar atenção para o DANO ESTÉTICO. Este corresponde a qualquer 
modificação duradoura ou permanente na aparência externa da pessoa que lhe acarrete um 
“enfeamento” e lhe causa humilhações e desgostos (LOPEZ, 2004, p.46). Porém, Farias e 
Rosenvald (2016, p.217) ressaltam que o dano estético decorre da violação à integridade 
física, independentemente de seqüelas graves. Vale ressaltar que, da afronta à aparência 
externa, pode advir também violação à honra da vítima, o que cumular-se-á ao dano estético o 
dano moral, como bem expressa a súmula 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações 
de dano estético e dano moral. É esse o entendimento dominante nos Tribunais. Vide decisão: 
 
STJ 
Processo: AgRg no REsp 1302727 RS 2011/0132655-0 
Relator(a): Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA 
Julgamento: 02/05/2013 
Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA 
Publicação: REPDJe 22/05/2013 
 
Ementa 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO 
ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR 
DANO MORAL E ESTÉTICO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 
SÚMULA N. 387/STJ. 
1. É lícita a cumulação das indenizações por dano moral e por dano 
estético decorrentes de um mesmo fato, desde que passíveis de 
identificação autônoma, a teor do que dispõe a Súmula n. 387/STJ. 
2. Agravo regimental desprovido. 
 
 Os direitos da personalidade no tocante à proteção à integridade física estão assim 
disciplinados no Código Civil: art.13, tutela jurídica ao corpo vivo; art.14, ao corpo morto; e 
art.15, tutela ao livre consentimento informado do paciente. 
 
4.1.1. A proibição de prática pelo titular de ato de disposição que implique diminuição 
permanente da integridade física 
 
 O art.13 do Código Reale, expressa verdadeira proteção ao corpo vivo, reconhecendo a 
possibilidade do titular, dele dispor, desde que não cause diminuição permanente da 
integridade física e não gere ofensa aos bons costumes. Esse exercício restrito da autonomia 
privada é oque se pode chamar “admissão da disponibilidade limitada dos direitos da 
personalidade. (Farias e Rosenvald, 2016, p.218 a 223). 
 Logo a intervenção na integridade física de uma pessoa – por força do art.13 do CC – só 
pode ocorrer segundo alguns critérios: 
 a) Que a intervenção não ofenda aos bons costumes: mas afinal como definir bons 
costumes, uma vez ser uma expressão vaga e imprecisa? O que venha ser bons costumes para 
uma determinada sociedade talvez não seja para outra. Logo, tal critério, não serve como 
elemento moderador do próprio corpo, haja vista incorrer no risco de considerar ilícito 
qualquer atitude que se desvie um pouco dos padrões habitualmente aceitos (Farias e 
Rosenvald, 2016, p.218); 
 b) Que a intervenção não gere diminuição permanente à integridade física da pessoa, 
salvo quando houver exigência médica: será realmente que as intervenções na integridade 
física de forma permanente só podem ocorrer mediante exigência médica, cujo escopo maior 
é proporcionar a saúde da pessoa? Então como explicar os golpes certeiros e mutilantes da 
prática do MMA? Os seus praticantes sofrem diminuição permanente na sua integridade física 
sem qualquer exigência médica! Noutro exemplo, a pessoa que se submete a uma cirurgia 
plástica estética, retirando uma costela para fins exclusivamente de embelezamento; ou 
mesmo outras, que amputam o dedo mínimo do pé para poderem usar salto alto sem 
desconforto! 
 c) Que a intervenção na integridade física não atente contra sua dignidade : o princípio 
da dignidade da pessoa humana serve como parâmetro do art.13 do CC, obstando a prática de 
qualquer ato – que cause ou não restrição permanente – que atente à dignidade da pessoa 
humana. Impede-se assim, que uma empresa possa inserir chip’s em seus funcionários para 
controlar os seus passos durante a jornada de trabalho. 
 
4.1.2. A questão dos transplantes e a proteção da integridade física 
 
 Essa temática encontra-se disciplinada no art.199, §9º da CF/88, nos arts.13 e 14 do 
CC e pela Lei n.9.434/97, a qual foi alterada pela Lei n.10.211/2001 Estes dispositivos 
tutelam as partes do corpo humano, haja vista serem integrantes dos direitos da personalidade, 
vedando-se, pois, a disposição dos mesmos a título oneroso, como se infere dos artigos 
abaixo: 
 
Constituição Federal. 
Art.199 [...]; 
§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a 
remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de 
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento 
e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo t ipo de 
comercialização. 
 
Lei n.9.434/97. 
Art. 1º A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo 
humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e 
tratamento, é permitida na forma desta Lei. 
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos 
entre os tecidos a que se refere este artigo o sangue, o esperma e o 
óvulo. 
 
Código Civil. 
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do 
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade 
física, ou contrariar os bons costumes. 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de 
transplante, na forma estabelecida em lei especial. 
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição 
gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. 
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a 
qualquer tempo. 
 
 
 
 Infere-se dos artigos supracitados, que a disposição de partes do corpo humano, vivo ou 
morto, só pode ocorrer sob duas condições: 
 a) a título gratuito; 
 b) para fins terapêuticos, altruísticos ou científicos. 
 Destarte, há considerações importantes e diferenciadas que merecem ser explicadas 
entre o doador vivo e o doador post mortem. Com relação a pessoa morta merece destaque os 
seguinte artigo da Lei n.10.211/2001: 
 Art.4º. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de 
pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, 
dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, 
obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau 
inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas 
presentes à verificação da morte; 
 
 
 Vale ressaltar que o art.14 do CC encontra-se em colisão com o art.4º da Lei 
n.10.211/2001. Este último veda a doação presumida de órgão e tecidos post mortem – a 
pessoa em vida, expressa em documento escrito, a autorização para doar os seus órgãos 
quando morrer – passando a exigir para a retirada de órgãos de pessoas falecidas a autorização 
do cônjuge – ou companheiro – ou do parente mais próximo. Em contrapartida, o art.14 do 
CC, legitima o próprio titular do corpo a dispor dos seus órgãos após a morte, 
independentemente da anuência do familiar. 
 Visando harmonizar os citados dispositivos legais, o Enunciado 277 da Jornada de 
Direito Civil, dispõe que, havendo manifestação de vontade do titular, ainda vivo, no sentido 
de ser, ou não doador de órgãos, há de ser respeitada. Apenas na hipótese do titular não ter 
declarado a sua vontade é que os familiares deliberarão após o seu óbito. 5 (Farias e Rosenval, 
2016, p.226). 
 Importa esclarecer, a possibilidade de revogação a qualquer momento da vontade de 
dispor do corpo após a morte, como alude o parágrafo único do art.14 do CC. 
 No tocante a remoção de órgãos de doador post mortem, veda-se a escolha do 
beneficiário, definindo assim, o caráter altruístico ao ato, impondo obediência à fila de espera. 
Logo, comprovada a morte encefálica e havendo consentimento da família da pessoa falecida, 
através de documento escrito, poderá ser providenciada a retirada dos órgãos da pessoa morta, 
comunicando-se de imediato a Central de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos 
(CNCDOs), para que se possa atender àqueles inscritos na lista, de acordo com a ordem de 
prioridade e urgência de cada caso (Farias e Rosenvald, 2016, p.225). 
 Já com relação a doação de órgãos feita por pessoa vivas, o art.9º da Lei 10. 211/2001, 
estabelece: 
 
5
 277 – Art.14. O art. 14 do Código Civ il, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com 
objetivo científico ou altru ístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de 
órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou 
restrita à hipótese de silêncio do potencial doador. 
Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente 
de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins 
terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes 
consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste 
artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, 
dispensada esta em relação à medula óssea. 
 O referido ato de disposição do corpo somente é permitido, se não importar risco para a 
vida ou saúde do titular. Por isso, somente órgãos renováveis ou duplos podem ser objeto de 
doação em viva. 
 Com relação a autorização de órgãos entre cônjuges e parentes até o quarto grau deve 
ser feita de forma expressa e ratificada por duas testemunhas, não obstante poder ser 
revogada. Em se tratando de doador incapaz, a autorização é feita mediante ordem judicial, 
ouvido o Ministério Público de modo a preservar os interesses do incapaz (Farias eRosenvald, 2016, p.224). Porém, em se tratando de pessoa diversa desse rol, a autorização 
deve ser expedida por via judicial, com exceção da doação de medula óssea. 
 
4.1.3. A proteção da integridade física e a cirurgia de transgenitalização 
 No dia 18 de junho de 2018 a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a 
transexualidade da lista das doenças caracterizadas como “Transtorno de Gênero” e passou a 
classifica-la nos grupos relacionadas a saúde sexual. Dessa forma deixa de ser uma doença 
mental, para ser classificada como uma incongruência de gênero (HA60 e HA61), ou seja, 
incongruência (a não concordância) acentuada e persistente entre o gênero experimentado 
pelo indivíduo e àquele atribuído em seu nascimento. 
 Nesse quadro, a cirurgia de transgenitalização – também chamada de redefinição de 
estado sexual ou mudança de sexo – pode se apresentar necessário para resguardar não só os 
demais direitos da personalidade, no tocante a integridade psíquica, como também tutelar a 
dignidade dessa pessoa, a qual vive sob uma constante desmoralização de uma sociedade 
ignorante e preconceituosa. 
 Foi, portanto, dentro de uma visão constitucionalista, arraigada aos valores embutidos 
no princípio da dignidade da pessoa humana, que a IV Jornada de Direito Civil estipulou: 
O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo 
por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em 
conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho 
Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo 
no Registro Civil. 
 
 Sob à luz da definição de transexualismo expressa pela OMS e não sob esse Enunciado 
da Jornada de Direito Civil, que o Conselho Federal de Medicina (CFM), editou a Resolução 
n.1.955/2010, permitindo, independentemente de autorização judicial, a realização de cirurgia 
de mudança de sexo, em caso de transexualismo comprovado, fixando rígidos critérios: o 
paciente deve dezoitos anos, não deve possuir características físicas inapropriadas para a 
cirurgia e deve ter diagnóstico médico de transgenitalismo, indicando o cabimento da cirurgia, 
após avaliação realizada por equipe multidisciplinar constituída por psiquiatra, cirurgião, 
endocrinologista, psicólogo e assistente social durante o período mínimo de dois anos (Farias 
e Rosenvald, 2016, p.228). 
 Vale ressaltar que a Portaria n. 859 do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial 
da União no dia 31 de julho de 2013, reduziu a idade de 21 para 18 para a cirurgia de 
transgenitalização, dessa forma a Resolução do CFM deve seguir essa determinação. 
 É dessa forma que sopesando os bens e os interesses do transexual, em relação as 
vantagens ou desvantagens trazidas pela intervenção cirúrgica, na modificação de seu sexo 
morfológico, que se defere favoravelmente a essa terapia cirúrgica, a qual deve ser realizada 
independentemente de autorização judicial, visto que, o transexual tem direito – 
constitucionalmente garantido – à integridade física e psíquica. 
 O Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu ser possível a alteração de nome e gênero 
no assento de registro civil mesmo sem a realização de procedimento cirúrgico de 
redesignação de sexo. A decisão ocorreu no julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) 4275, no ultimo dia 01 de março de 2018. O princípio do respeito 
à dignidade humana foi o mais invocado pelos ministros para decidir pela autorização.6 
 É válido informar que STJ já vinha aceitando a tese da alteração do nome e do sexo 
registral sem a cirurgia da transgenitalização, como se pode observar do julgado abaixo: 
RECURSO ESPECIAL Nº 678.933 - RS (2004/0098083-5) 
RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO 
 
6
 Voto da Ministra Carmem Lúcia: “O Estado há que registrar o que a pessoa é, e não o que acha que cada um 
de nós deveria ser, segundo a sua conveniência”. 
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO 
GRANDE DO SUL 
RECORRIDO: PAULO CESAR DE OLIVEIRA CRISTY 
ADVOGADO: NESY MARINA RAMOS E OUTRO 
 
EMENTA 
Mudança de sexo. Averbação no registro civil. 
1. O recorrido quis seguir o seu destino, e agente de sua vontade livre 
procurou alterar no seu registro civil a sua opção, cercada do 
necessário acompanhamento médico e de intervenção que lhe 
provocou a alteração da natureza gerada. Há uma modificação de fato 
que se não pode comparar com qualquer outra circunstância que não 
tenha a mesma origem. O reconhecimento se deu pela necessidade de 
ferimento do corpo, a tanto, como se sabe, equivale o ato cirúrgico, 
para que seu caminho ficasse adequado ao seu pensar e permitisse que 
seu rumo fosse aquele que seu ato voluntário revelou para o mundo no 
convívio social. Esconder a vontade de quem a manifestou livremente 
é que seria preconceito, discriminação, opróbrio, desonra, indignidade 
com aquele que escolheu o seu caminhar no trânsito fugaz da vida e 
na permanente luz do espírito. 
2. Recurso especial conhecido e provido. 
 
 Nas palavras do Desembargador Luiz Gonzaga Pilla Hotmeister, proferidas no acórdão 
do recurso de Apelação 593.110.547, “é preciso, inicialmente dizer, que homem e mulher 
pertencem a raça humana. Ninguém é superior. Sexo é uma contigência.[...]. O direito a 
identidade pessoal é um dos direitos fundamentais da pessoa humana; é o direito que tem todo 
o sujeito de ser ele mesmo”. 
 
 
4.1.4. O princípio da autonomia do paciente 
 
 A autonomia do paciente encontra resguardo civilista, no art.15 do CC, pelo qual 
ninguém pode ser compelido a submeter-se a tratamento médico ou intervenção cirúrgica que 
ponha em risco a sua própria vida. É obvio que, se o paciente se encontra em situação de 
emergência, onde na qual se exige uma intervenção médica imediata para salvar- lhe a vida, é 
licito a este profissional intervir, sob pena de responder civilmente, como expressa o art.951 
do CC. 
 Destarte, a autonomia do paciente se perfaz pelo consentimento informado. Este, 
segundo Möller (2012, p.56), pode ser definido como sendo uma decisão expressa de uma 
pessoa autônoma e capaz que, após tomar conhecimento da natureza, das consequências e dos 
riscos do tratamento ou da experimentação que lhe é proposto, concede voluntariamente a sua 
prática. 
 Com base nesse raciocínio, Beauchamp e Childress (2002, p.167) afirmam que para o 
consentimento informado ser realmente válido, é necessário que contenha os seguintes 
elementos: capacidade do paciente de receber e de entender o diagnóstico e o tratamento que 
lhes são propostos; exposição completa pelo médico em linguagem clara e adequada à 
capacidade de compreensão do paciente sobre o seu diagnóstico e tratamento; e aceitação 
voluntária do paciente para a intervenção médica. Os autores posteriormente ressaltam, que 
aqueles pacientes que estiverem sob o estado de inconsciência e/o u impossibilitados de 
exercerem pessoalmente a sua autonomia, prestarão o consentimento informado por meio do 
hospital, de um médico ou através de um membro da família. 
 Dessa forma, o princípio da autonomia efetiva-se, via consentimento livre e esclarecido 
do paciente, o qual ao receber as informações médicas necessárias sobre a sua doença e seu 
tratamento, decide voluntariamente e sem qualquer coerção, acatar ou não acatar as medidas 
terapêuticas propostas. 
 É com base nesse entendimento, que se questiona, se a não aceitação de transfusão 
sanguínea pelo paciente testemunha de Jeová, configuraria o livre exercício da autonomia, 
assim descrito no art.15do CC. Tal questão é extremamente intrincada, por envolver direitos 
personalíssimos de fundamento constitucional: o direito à vida digna, o direito à integridade 
física e o direito à liberdade de crença (Farias e Rosenvald, 2016, p.233). 
 No entanto, para se encontrar uma possível solução jurídica a esse questionamento, se 
faz necessário analisá- lo sob dois prismas: a) o paciente testemunha de Jeová, que não se 
encontra em risco iminente de vida, mas que, no entanto, precisa receber hemoderivados 
como parte do tratamento da sua doença; b) o paciente testemunha de Jeová absolutamente 
capaz e o paciente absolutamente incapaz – menor de 16 anos – que se encontra em risco 
iminente de vida e que precisam de transfusão sanguínea para sobreviverem. 
 a) O paciente testemunha de Jeová, que não se encontra em risco iminente de vida, mas 
que, no entanto, precisa receber hemoderivados como parte do tratamento da sua doença. 
 É sopesando o direito à vida digna, o direito à integridade física e o direito à liberdade 
de crença, que a doutrina majoritária vem decidindo pelo exercício do direito à liberdade de 
crença do paciente testemunha de Jeová, sem risco de vida iminente, a recusar-se a transfusão 
sanguínea, haja vista que, a prevalência do direito à liberdade religiosa além de propiciar a 
preservação da sua integridade física, pelo exercício da sua autonomia, lhe confere também 
uma vida digna; pois de nada adiantaria transfundir uma pessoa e tornar a sua vida indigna, 
retirando a beleza de viver em paz consigo, com o mundo e com as suas convicções. Além do 
que, hoje em dia, há terapêuticas alternativas que estimulam a medula óssea a produzir 
hemácias e plaquetas, como por exemplo, Granulokine (filgrastim), Eprex (alfaepoetina) e 
Neumega (Oprelvecina). 
 b) O paciente testemunha de Jeová absolutamente capaz e o paciente absolutamente 
incapaz – menor de 16 anos – que se encontra em risco iminente de vida e que precisam de 
transfusão sanguínea para sobreviver. 
 Faltando maturidade suficiente para escolher uma opção religiosa, com todas as suas 
consequências, bem como em casos de emergência, deverá ocorrer a intervenção médica, 
pois, nesse caso, sobrepuja a manutenção da vida do paciente. Além do que, a Resolução n. 
1.021/80 do CFM e os arts. 46 e 56 do Código de Ética Médica autorizam os médicos a 
praticar a transfusão de sangue em seus pacientes, independentemente de consentimento se 
houver perigo de vida. 
 
 
 
 
 
 TJ-RS - Apelação Cível: AC 70020868162 RS 
Processo: AC 70020868162 RS 
Relator(a): Umberto Guaspari Sudbrack 
Julgamento: 22/08/2007 
Órgão Julgador: Quinta Câmara Cível 
Publicação: Diário da Justiça do dia 29/08/2007 
APELAÇÃO CÍVEL. TRANSFUSÃO DE SANGUE. 
TESTEMUNHA DE JEOVÁ. RECUSA DE TRATAMENTO. 
INTERESSE EM AGIR. 
Carece de interesse processual o hospital ao ajuizar demanda no 
intuito de obter provimento jurisdicional que determine à paciente que 
se submeta à transfusão de sangue. Não há necessidade de intervenção 
judicial, pois o profissional de saúde tem o dever de, havendo 
iminente perigo de vida, empreender todas as diligências necessárias 
ao tratamento da paciente, independentemente do consentimento dela 
ou de seus familiares. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 
70020868162, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 22/08/2007). 
 
TJ-RJ 
Processo: Agravo de Instrumento 2004.002.13229. 
DES. CARLOS EDUARDO PASSOS - Julgamento: 05/10/2004 - 
DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. 
Testemunha de Jeová. Recusa à transfusão de sangue. Risco de vida. 
Prevalência da proteção a esta sobre a saúde e a convicção religiosa, 
mormente porque não foi a agravante, senão seus familiares, que 
manifestaram a recusa ao tratamento. Asseveração dos responsáveis 
pelo tratamento da agravante, de inexistir terapia alternativa e haver 
risco de vida em caso de sua não realização. Recurso desprovido. 
 
 Não obstante a pessoa ter o direito de autodeterminar-se, de conduzir a sua própria vida 
conforme as suas convicções, o juiz ÉDER JORGE, da 2ª Vara Cível do TJGO, em 22 de 
novembro de 2017 concedeu a interdição parcial de um jovem que se negava a submeter a 
hemodiálise, concedendo a sua mãe a curadoria para decidir sobre questões médicas 
referentes a seu tratamento, como se pode observar da sentença abaixo: 
[..] Isto posto, julgo PROCEDENTE o pedido, decidindo com 
observância ao disposto no artigo 1.767, I do Código Civil, pronuncio 
a INTERDIÇÃO PARCIAL E PROVISÓRIA de J. H. P. C. F., nos 
autos qualificado, pelo prazo de 01 (um) ano, unicamente no que se 
refere à sua autonomia para submeter-se a tratamento médico, 
especialmente as sessões de hemodiálise, passando essa decisão e 
providência à Curadora, podendo ser renovada por igual período, 
mediante novo requerimento. Nomeio- lhe, pois, curadora, sua mãe a 
Sra. E. M. A. B. que no exercício do encargo deverá zelar pelas 
questões relacionadas à saúde do Interdito, ficando autorizada a adotar 
todas as providências necessárias para o cumprimento das prescrições 
médicas e cuidado da saúde do Requerido, incluindo internações, em 
UTI ou não, sessões de hemodiálise, se for o caso, vedada a utilização 
de qualquer forma de coerção física em relação ao Interdito, inclusive 
sedação[...]. 
 Percebe-se pois, que a decisão do magistrado viola frontalmente o art.15 do CC que 
assegura a autonomia do paciente, além de contrariar o art. 84, §1º do Estatuto da Pessoa com 
Deficiência, o qual estabelece que: 
 Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos 
direitos de natureza patrimonial e negocial. 
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à 
sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao 
trabalho e ao voto. 
 Observa-se, pois, que essa determinação judicial além de ter priorizado tão somente o 
direito à saúde sob o aspecto físico, desconsiderou a saúde psíquica do paciente, violou a sua 
autonomia e consequentemente a sua dignidade. Urge aos operadores do direito priorizarem 
sob todos os sentidos a vida digna da pessoa. 
 
 
4.1.5. A tutela jurídica da integridade física e as experiências cientificas em pessoas humanas 
 
 A pessoa humana pode ser objeto de experimentações científicas? Entende-se que as 
experiências científicas somente são possíveis pressupondo o consentimento livre e 
informado, com finalidade terapêutica e caráter gratuito, além de não produzir qua lquer 
potencialidade de prejuízo à pessoa, respeitando os princípios da beneficência 7 e não-
maleficência8 (Farias e Rosenvald, 2016, p.240). 
 A Resolução n.196/96, do Conselho Nacional da Saúde, fixa diretrizes e normas 
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. A Resolução mencionada 
encontra-se em consonância com os seguintes documentos normativos: Código de 
Nuremberg, Declaração dos Direitos do Homem, Declaração de Helsinque, Acordos 
Internacionais sobre Direitos Civis e Políticos, Diretrizes Éticas Internacionais para pesquisas 
biomédicas envolvendo seres humanos, Constituição da República Brasileira de 1988, Código 
Civil, Código Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente, dentre outros. 
 
 
4.2. Integridade moral ou psíquica 
 
 O direito à integridade moral concerne a proteção conferida aos atributos psicológicos 
relacionados à pessoa, tais como: a imagem, a honra, a liberdade, a vida privada e o nome. 
São, pois, emanações incorpóreas,distintas das projeções físicas do indivíduo (Farias e 
Rosenvald, 2016, p.246). 
 
4.2.1. O direito a imagem 
 Hodiernamente, a sociedade vive em uma era midiática. Neste novo cenário, a internet 
bem como, os demais equipamentos eletrônicos e digitais, propagam de forma imediata e 
simultânea a comunicação entre as pessoas, o que de certa forma aumenta consideravelmente 
o risco de se violar o direito à imagem. 
 O direito à imagem consiste em proteger a pessoa em relação à sua forma plástica e aos 
seus respectivos componentes identificadores (rosto, olhos, busto, voz, características 
fisionômicas, etc) que a individualizam na coletividade (Farias e Rosenvald, 2016, p.247-
248). 
 
 
7
 O princípio da beneficência consiste na obrigação moral de agir em benefício dos outros, promovendo-lhes os 
seus reais e legítimos interesses. (Beauchamp e Childress, 2002, p.282). 
8
 O princípio da não maleficência determina para o médico, o dever de não submeter o paciente a um dano, 
como, também, não expô-lo a um risco desnecessário (Santoro, 2011, p.104). 
 É nesse contexto em que se pode afirmar que o conceito de imagem, é composto por 
diferentes aspectos: a) a imagem-retrato; b) a imagem atributo; c) imagem-voz. 
 a) imagem-retrato: refere-se as características fisionômicas do titular, a representação de 
uma pessoa pelo seu aspecto visual, enfim, é o seu pôster, a sua fotografia, esta incluindo 
tanto a forma estática (retratos, pinturas) como a forma dinâmica (filmagem); 
 b) imagem-atributo: é corolário da vida em sociedade. Consiste no conjunto de 
características sociais de uma pessoa capaz de identificá- la na sociedade. São os seus 
qualificativos sociais, os seus comportamentos reiterados que permitem identificá- la. Ex: 
Qual o juiz federal que está conduzindo a Lava Jato?. Além da pessoa natural, a pessoa 
jurídica é também detentora do direito à imagem-atributo, tutelando-se, pois, o conjunto de 
características que a particularizam socialmente; 
 c) imagem-voz: concerne a identificação da pessoa através de seu timbre de sonoro. 
 O direito à imagem não obstante ser um direito fundamental, expresso no art.5º, incs.V e 
X da CF/88, é um direito da personalidade tutelado no art.20 do CC. Porém, a hermenêutica 
literal deste dispositivo não é aceita de forma unânime, haja vista que o direito à imagem é 
autônomo e independente, não estando sua tutela subordinado à honra ou privacidade e, 
sequer à exploração econômica. 
 Resultaria em ineficácia total dessa norma e consequentemente uma injustiça, alguém 
ter a sua imagem vinculada, sem a sua autorização, mas sem exploração comercial e sem 
atingir a honra e não caracterizar essa conduta como um ato ilícito. 
 Disto posto, o art.20 do CC deve ser interpretado sob à luz da CF/88 (art.5º, V e X) de 
modo a reconhecer a autonomia e a proteção da imagem, a simples utilização indevida da 
imagem de uma pessoa, mesmo sem afronta à sua honra e sem exploração comercial, 
impondo àquele que a violou o dever de indenizar. 
 É essa hermenêutica que vem fundamentando as decisões dos Tribunais Superiores, 
como se pode inferir do seguinte Recurso Especial: 
 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. DANO À 
IMAGEM. DIREITO À INFORMAÇÃO. VALORES SOPESADOS. 
OFENSA AO DIREITO À IMAGEM. REPARAÇÃO DO DANO 
DEVIDA. REDUÇÃO DO QUANTUM REPARATÓRIO. VALOR 
EXORBITANTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 
 
1. A ofensa ao direito à imagem materializa-se com a mera utilização 
da imagem sem autorização, ainda que não tenha caráter vexatório ou 
que não viole a honra ou a intimidade da pessoa, e desde que o 
conteúdo exibido seja capaz de individualizar o ofendido. 
2. Na hipótese, não obstante o direito de informação da empresa de 
comunicação e o perceptível caráter de interesse público do quadro 
retratado no programa televisivo, está clara a ofensa ao direito à 
imagem do recorrido, pela utilização econômica desta, sem a proteção 
dos recursos de editoração de voz e de imagem para ocultar a pessoa, 
evitando-se a perfeita identificação do entrevistado, à revelia de 
autorização expressa deste, o que constitui ato ilícito indenizável. 
3. A obrigação de reparação decorre do próprio uso indevido do 
direito personalíssimo, não sendo devido exigir-se a prova da 
existência de prejuízo ou dano. O dano é a própria utilização indevida 
da imagem. 
4. Mesmo sem perder de vista a notória capacidade econômico-
financeira da causadora do dano moral, a compensação devida, na 
espécie, deve ser arbitrada com moderação, observando-se a 
razoabilidade e a proporcionalidade, de modo a não ensejar 
enriquecimento sem causa para o ofendido. Cabe a reavaliação do 
montante arbitrado nesta ação de reparação de dano moral pelo uso 
indevido de imagem, porque caracterizada a exorbitância da 
importância fixada pelas instâncias ordinárias. As circunstâncias do 
caso não justificam a fixação do quantum reparatório em patamar 
especialmente elevado, pois o quadro veiculado nem sequer dizia 
respeito diretamente ao recorrido, não tratava de retratar os serviços 
técnicos por este desenvolvidos, sendo o promovente da ação apenas 
um dos profissionais consultados aleatoriamente pela suposta 
consumidora. 
5. Nesse contexto, reduz-se o valor da compensação. 
6. Recurso especial parcialmente provido. (Ac.4ªT., REsp. 794586 RJ 
2005/0183443-0, rel. Min. Raul Araújo, DJe 21/03/2012). 
 
 
 
 
 
"Havendo violação aos direitos da personalidade, como utilização 
indevida de fotografia da vítima, ainda ensanguentada e em meio às 
ferragens de acidente automobilístico, é possível reclamar perdas e 
danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, conforme 
art.12 do Código Civil/2002. 4. Relativamente ao direito à imagem, a 
obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido do direito 
personalíssimo, não havendo de cogitar-se da prova existência de 
prejuízo ou dano. O dano é a própria utilização indevida da imagem, 
não sendo necessária a demonstração do prejuízo material ou moral.( 
REsp i.005.278, rei. Min. Luis F. Salomão, j. 4.11.10. 4ª T). 
Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FILMAGENS DE 
CÂMERAS INTERNAS. VAZAMENTO NA REDE DE INTERNET 
E WHATSAPP. FALHA NO DEVER DE GUARDA DOS 
EQUIPAMENTOS. VIOLAÇÃO AO DIREITO DE IMAGEM DA 
PARTE. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. SITUAÇÃO QUE 
ULTRAPASSA A ESFERA DO MERO DISSABOR E 
ABORRECIMENTO. OFENSA A DIREITOS PERSONALÍSSIMOS 
E SUBJETIVOS. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. 
QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 4.000,00, QUE 
NÃO COMPORTA REDUÇÃO. ADEQUAÇÃO E 
PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO 
IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007768997, Primeira Turma 
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: José Ricardo de Bem 
Sanhudo, Julgado em 31/07/2018) 
 
 
 Inerente ao direito à imagem, o direito de arena encontra-se também protegido. O 
direito de arena é o direito à imagem do atleta, subordinando-a a autorização do seu clube e 
desde que lhe seja repassado um percentual mínimo dos lucros do evento (Farias e Rosenvald, 
2016, p.251). Assim, nas competições esportivas, a imagem do atleta pode ser utilizada 
mesmo sem a sua anuência expressa, pois é inerente ao exercício da profissão, mas, que, no 
entanto, estará vinculada à autorização do seu clube, bem como, na repartição dos lucros do 
evento. 
 A proteção do direito à imagem se aperfeiçoa através de tutela preventiva (inibitória), 
com o escopo de impedir que o dano ocorra ou se alastre. Não afasta, de qualquer modo, a 
possibilidade de tutelarepressiva, através de ação de indenização por danos morais, situação 
na qual o dano já se concretizou. Assim, violada a imagem tem-se direito a reparação do dano 
moral, uma vez que esse é in re ipsa, ou seja, ínsita no próprio fato, não necessitando assim 
comprovar prejuízos materiais. 
 Vale ressaltar que o Enunciado 5 da I Jornada de Direito9, reconhece como legítimos em 
pleitear indenização por danos morais em reflexo – violação a imagem do morto – o cônjuge, 
o companheiro e o parente em linha reta ou colateral até o 4º grau (paragrafo único do art.12). 
 Hodiernamente, alguns casais adotam a prática de trocar nudes entre si. Porém, o fato de 
uma pessoa consentir em ser fotografada nua ou semi-nua e enviar a sua foto para 
determinada pessoa, não significa que ela está consentindo na publicação dessa foto na mídia, 
como muitas vezes ocorre entre ex-casais, que acometidos pelo desprezo do término do 
relacionamento, expõe a imagem do ex-companheiro(a) nas mídias sociais, ensejando a vítima 
o direito a reparação por danos morais por violação a seu direito de imagem. Tal prática 
passou a ser determinada pela doutrina por vingança pornográfica ou revenge porn. Vide o 
julgado: 
Ementa: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TÉRMINO DE 
RELACIONAMENTO AMOROSO. PORNOGRAFIA DE 
VINGANÇA OU REVENGE PORN. PUBLICIZAÇÃO DE FOTOS 
ÍNTIMAS DA DEMANDANTE NA INTERNET PELO EX-
NAMORADO. PROVA SUFICIENTE PARA LIGAR A 
DIVULGAÇÃO AO DEMANDADO. DANOS MORAIS 
EVIDENTES. FATO GRAVÍSSIMO. PRECEDENTES DA 10ª 
CÂMARA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA CONFIRMADA. 
VALOR DA INDENIZAÇÃO MANTIDO PARA EVITAR 
REFORMATIO IN PEJUS. 1. No caso concreto, a prova produzida 
em contraditório demonstra, com clareza, a tomada de fotografias 
íntimas na constância do namoro havido entre a demandante e o 
demandado, a permanência delas em poder deste último após o 
término e o respectivo compartilhamento entre pessoas próximas do 
 
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 Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no 
art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as 
disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens 
personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se 
conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras 
instituídas no art. 12. 
ex-casal - tanto no aspecto afetivo quanto no aspecto profissional. 
Caracterizado o ilícito e a culpa, consideradas as circunstâncias, a 
prova e as presunções aplicáveis, os danos morais também são 
presumíveis diante da gravidade do fato, que revela importante 
violação à imagem e à honra - tanto subjetiva quanto objetiva - da 
demandante. Referida divulgação de fotografias íntimas da 
demandante pelo ex-namorado no pós-relacionamento, classificada 
como pornografia de vingança ou revenge porn, é fato gravíssimo que 
atinge as mulheres em sua imensa maioria. Trata-se de tema 
extremamente sensível à discriminação de gênero e à subjugação que 
a mulher historicamente sofre da sociedade em geral, por conta dos 
padrões de comportamento que esta lhe impõe. 2. O valor fixado em 
sentença, R$ 20.000,00, deve ser mantido justamente para evitar 
reformatio in pejus, haja vista os precedentes desta 10ª Câmara e a 
ausência de recurso da demandante. RECURSO DESPROVIDO. 
(Apelação Cível Nº 70073274854, Décima Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 
30/11/2017). 
 
4.2.1.1. Relativização do direito à imagem 
 Por força do art.20 do CC, o titular pode dispôs do seu direito à imagem, consentindo 
expressa ou tacitamente a utilização por terceiros. O consentimento será expresso – de forma 
escrita ou verbal – quando o titular manifesta, de forma inequívoca, a vontade de dispor, 
gratuita ou onerosamente, a sua imagem por terceiros. Já o consentimento de forma tácita, 
decorre do comportamento do titular, que na ocasião demonstra aceitar a cessão da imagem. 
Ex: nas transmissões carnavalescas, quando as pessoas sorriem para as câmaras (Farias e 
Rosenvald, 2016, p.253). 
 Não obstante, ser possível dispor do direito de imagem, mediante autorização do seu 
titular, a cessão não poderá ser genérica, abrangente e nem tampouco perpétua, 
indeterminada. Assim, se uma pessoa consente tirar fotos da sua imagem nua para uma galeria 
de artes e essas mesmas fotos forem expostas em outros locais, com finalidades diversas do 
acordado, o titular terá direito à indenização pelo uso indevido da sua imagem. Nesta mesma 
seara de idéias, um artista que consente em posar para uma revista de cinema e sua foto é 
aproveitada em uma propaganda comercial de um produto medicinal, haverá dano reparável, 
uma vez que o consentimento foi desvirtuado por obter uma exploração econômica da 
imagem. 
 
 
 Segue um julgado do TJ-SP: 
Ementa 
INDENIZAÇÃO - USO INDEVIDO DE IMAGEM 
Improcedência decretada - Agravos retidos - Um não conhecido por 
desobediência à regra expressa no art. 523, §1º do CPC, e o outro 
improvido - Utilização da imagem dos autores em panfleto distribuído 
durante a campanha eleitoral da segunda co-ré ao cargo de deputada 
estadual - Reprodução de material anterior que divulgava a 
importância acerca do aleitamento materno, com a inserção de foto da 
candidata - Ato praticado que extrapolou os limites da contratação 
anterior - Fins eleitorais, visando a sensibilização do eleitor, com o 
escopo de angariar votos - Uso indevido de imagem configurado - 
Não configuração de responsabilidade da primeira co-ré, eis que 
ausente prova de que tenha ela reproduzido o material utilizado 
indevidamente pela candidata -Indenização devida pela veiculação da 
imagem dos autores, sem a devida autorização por parte destes -Dano 
moral representado pela própria utilização indevida da imagem, ainda 
que sem fim lucrativo direto (pecuniário), serviu para o atendimento 
de interesses outros ligados à campanha eleitoral -Proteção 
constitucional do direito à imagem (art.5º, X da CF/88). Arbitramento 
no equivalente a 20 (vinte) salários mínimos para cada um dos co-
autores -Sentença reformada - Recurso parcialmente provido (TJ-SP, 
SP. 8ª Câmara de Direito Privado., APL: 994040746259 SP, rel. Des. 
Salles Rossi, j. 07/07/2010). 
 
 
 Concernente ainda ao art.20 do CC tem-se a função social da imagem, pois a vinculação 
da imagem de uma pessoa pode ser necessária à ordem pública ou à administração da justiça, 
bastando lembrar, para tanto, um programa jornalístico que veicula imagens de foragidos da 
justiça ou de procurados pela polícia. Em tais casos, há uma mitigação da proteção à imagem 
em nome do interesse coletivo, concretizando a chamada função social da imagem. Dessa 
forma, como linha de orientação, é possível asseverar que somente se justifica a utilização da 
imagem de terceiro quando se tratar de notícia ou fato de grande interesse coletivo e social, 
autorizando a relativização da imagem do titular (Farias e Rosenvald, 2016, p.257). 
Não constitui ato ilícito apto à produção de danos morais a matéria 
jornalística sobre pessoa notória a qual, além de encontrar apoio em 
matérias anteriormente publicadas por outros meios de comunicação, 
tenha cunho meramente investigativo, revestindo-se, ainda, de interesse 
público, sem nenhum sensacionalismo ou intromissão na privacidade do 
autor. (REsp 1.330.028, rei. Min. Ricardo Vil/as Bôas Cueva, j.6.11.2012. 3• T. (lnfo 508)). 
 Vale ressaltar que, o fato do titular encontrar-se em lugar público, também relativiza o 
direito à imagem, haja vista existir uma presunção da publicidade da sua imagem, em especial 
quando esta estiver sendo coberta jornalisticamente por algum fato de interesse social. Porém, 
mesmo no lugar público a imagem da pessoa não pode ser utilizada para a exploração 
econômica ou mesmo midiática (Farias e Rosenvald, 2016, p.255). 
 O Enunciado 279 do CJF afirma "proteção à imagem deve ser ponderada com outros 
interesses constitucionalmente tutelados, como a liberdade de imprensa. Deve-se considerar a 
notoriedade, veracidade e utilização da informação". 
 Nessa mesma vertente de idéias, há relativização do direito à imagem, quando o seu 
titular for uma pessoa pública, ou melhor, uma celebridade. Tal flexibilização do direito à 
imagem é justificável porque, a projeção da personalidade dessa celebridade extrapola os seus 
limites individuais, espalhando-se no interesse de toda a coletividade. No entanto, é possível 
que pessoas públicas, eventualmente, sofram violação à sua imagem, com a utilização fora 
dos padrões sociais admitidos. 
 Segue o julgado da atriz Maitê Proença pleiteando danos morais, pelo uso indevido da 
imagem: 
 
RECURSO ESPECIAL Nº 764.735 - RS (2005/0110506-4) 
RELATOR: MINISTRO HONILDO AMARAL DE MELLO 
CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP) 
RECORRENT E: RBS ZERO HORA EDITORA JORNALÍSTICA 
S/A 
ADVOGADOS: OSMAR MENDES PAIXAO CÔRTES E OUTRO 
(S) 
LUIZ CARLOS LOPES MADEIRA E OUTRO (S) 
RECORRIDO: MAITÊ PROENÇA GALLO E OUTRO 
ADVOGADO: EVANDRO LUÍS CASTELLO BRANCO 
PERTENCE E OUTRO (S) 
INTERES.: ABRIL S/A 
ADVOGADO: ANTÔNIO AUGUSTO ALCKMIN NOGUEIRA E 
OUTRO (S) 
 
RELATÓRIO 
O EXMO. SR. MINISTRO HONILDO AMARAL DE MELLO 
CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP) 
(Relator): Trata-se de Recurso Especial interposto por RBS ZERO 
HORA EDITORA JORNALÍSTICA S/A, em face de MAITÊ 
PROENÇA GALLO e OUTRO, em razão da condenação ao 
pagamento de indenização por danos morais e materiais por uso 
indevido da imagem da primeira recorrida. 
O Juízo de origem julgou procedente o pedido, fls. 443/449, e 
condenou a ré ao pagamento de indenização em dano moral e material 
por uso indevido de imagem, fixada em R$ 250.000,00 (duzentos e 
cinquenta mil reais) corrigidos da data da distribuição, acrescidos de 
juros a contar da citação. 
Interposta apelação pela Ré, fls. 486/494, e recurso adesivo pelas 
Autoras, fls. 568/571, o eg. Tribunal de Origem proveu, em parte, o 
recurso de apelação da Ré e, integralmente, o recurso adesivo em 
decisão com os seguintes fundamentos: 
AÇAO DE REPARAÇAO DE DANOS materiais e MORAIS. 
PUBLICAÇAO DE FOTOGRAFIAS EM NU ARTÍSTICO, SEM 
AUTORIZACAO DA MODELO E ATRIZ NACIONALMENTE 
CONHECIDA, EM JORNAL DE ABRANGÊNCIA REGIONAL. 
DEVER DE INDENIZAR E CRITÉRIO DE INDENIZAÇAO. 
JUROS E CORREÇAO MONETÁRIA A CONTAR DA DATA DO 
EVENTO DANOSO”. 
“É devida indenização por danos materiais e morais ocasionados à 
modelo e atriz nacionalmente conhecida pela publicação, sem sua 
autorização ou da empresa gestora de seus negócios, em edição 
dominical de jornal de abrangência regional, de fotografias suas, em 
nu artístico, publicadas originariamente, sob contrato, na Revista 
Playboy. 
Hipótese em que não se apresenta lógica ou fática a tese desenvolvida 
pela ré de que a necessária autorização para publicação das fotografias 
estaria implícita no contexto de entrevista concedida pela modelo e 
atriz à repórter da ré. 
Danos materiais e morais demonstrados que ensejam condenação, 
devendo esta, todavia, tomar como parâmetro elementos existentes 
nos autos, bem assim circunstâncias específicas e notórias do caso 
concreto. 
Em se tratando de responsabilidade extracontratual, os juros de mora 
fluem a partir da data do evento danoso, no caso, da publicação no 
periódico local. (Súmula 54 do STJ). Correção monetária fluente a 
partir dessa mesma data. 
Apelação a que se dá provimento, em parte. Recurso adesivo 
integralmente provido”. (fl. 616). 
Inconformada, RBS ZERO HORA EDITORA JORNALÍSTICA S/A 
interpôs recurso especial, fls. 624/639, com fulcro no art. 105 
Foram apresentadas, às fls. 670/677, contrarrazões das autoras. 
Após juízo de admissibilidade positivo (fl. 679/680), ascenderam os 
autos a este eg. Superior Tribunal de Justiça. 
Este é o breve relatório. 
 
 
4.2.2. O direito à privacidade 
 O direito à privacidade consiste, no direito de obstar que, a atividade de terceiro venha 
conhecer, descobrir ou divulgar as particularidades de uma pessoa. Ou seja, é o direito de 
preservar do público a esfera íntima de cada um (Farias e Rosenvald, 2016, p.261). 
 Vale ressaltar que o direito à privacidade é o gênero do qual pertencem as espécies 
intimidade e segredo. O primeiro visa resguardar dos sentidos alheios, as informações que 
dizem respeito apenas ao seu titular. Ex: orientação sexual e religiosa. Já o direito ao segredo, 
funda-se na não divulgação de fatos da vida de alguém. Ex: movimentação bancária de uma 
pessoa; correspondências. Assim como o direito à imagem, o direito ao segredo pode ser 
relativizado para cumprir a sua função social, ou seja, o segredo pode ser desvelado quando 
houver justa motivação de interesse social. No tocante ao direito à intimidade, esse não pode 
ser relativizado, uma vez que consiste no direito de estar só e de preservar-se a si mesmo 
(Farias e Rosenvald, 2016, p.262-263). 
 O direito à privacidade é um direito fundamental previsto no art.5º, incs. X, XI, XII e 
LX da CF/88. No âmbito civilista, encontra-se como um direito da personalidade, expresso no 
art.21 do CC. Merece destaque, que o próprio titular pode relativizar o seu direito à 
privacidade. Ex: exposição nas redes sociais de fatos íntimos ou secretos. 
 Com relação às celebridades, apesar da autoexposição que a sua profissão lhe expõe, lhe 
é assegurado constitucionalmente o direito à privacidade. Com base nesse raciocínio que 
muitas biografias não autorizadas foram retiradas das prateleiras das livrarias ou mesmo nem 
sequer produzidas. Diante desse cerceamento à liberdade de expressão que a Associação 
Nacional dos Editores de Livros (ANEL), impetrou junto ao STF a ADI que sustentava a 
inconstitucionalidade dos artigos 20 e 21 do Código Civil por conterem regras incompatíveis 
com a liberdade de expressão e de informação. 
 No dia 10 de junho de 2015, por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal 
julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou inexigível a 
autorização prévia para a publicação de biografias. Seguindo o voto da relatora, ministra 
Cármen Lúcia, a decisão dá interpretação conforme a Constituição da República aos artigos 
20 e 21 do Código Civil, em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de 
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente 
de censura ou licença de pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou 
audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas). 
 A ministra Cármen Lúcia destacou que a Constituição prevê, nos casos de violação da 
privacidade, da intimidade, da honra e da imagem, a reparação indenizatória, e proíbe “toda e 
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Assim, uma regra 
infraconstitucional (o Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação de obras 
literárias. “Não é proibindo, recolhendo obras ou impedindo sua circulação, calando-se a 
palavra e amordaçando a história que se conseguecumprir a Constituição”, afirmou. “A 
norma infraconstitucional não pode amesquinhar preceitos constitucionais, impondo restrições 
ao exercício de liberdades”. (Disponível em : 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=293336. 
Data:06/03/2016). 
 No entanto, se a publicação da biografia não autorizada contiver violações à honra, 
imagem ou vida privada do biografado, ou de terceiros, responsibilizar-se-á civil e 
penalmente o autor da biografia (Farias e Rosenvald, 2016, p.265). 
 No âmbito dos Direitos Reais, o direito à privacidade é tutelado quando se impõe limites 
ao direito de construir, impedindo em qualquer situação, que se abram janelas ou se façam 
eirados, terraços, ou varandas a menos de um metro e meio do terreno. 
 Na esfera trabalhista, se configuram violação ao direito à privacidade, as revistas íntimas 
do trabalhador sem nenhum critério de razoabilidade. É claro que em determinadas atividades 
laborativas, em que há riscos de subtração de produtos da empresa, a revista pessoal é 
permitida, desde que não afronte a dignidade do trabalhador. 
 Ainda na seara da privacidade trabalhista, é a possibilidade do empregador fiscalizar o 
email corporativo do empregado, uma vez que o mesmo tem unicamente o escopo trafegar 
mensagens de cunho estritamente profissional. Veja o acórdão: 
 
PROC. Nº TST-RR-613/2000-013-10-00.7 
A C Ó R D Ã O 
1ªTurma 
JOD/rla/jc 
PROVA ILÍCITA. "E-MAIL" CORPORATIVO. JUSTA CAUSA. 
DIVULGAÇÃO DE MATERIALPORNOGRÁFICO. 
1. Os sacrossantos direitos do cidadão à privacidade e ao sigilo de 
correspondência, constitucionalmente assegurados, concernem à 
comunicação estritamente pessoal, ainda que virtual ("e-mail" 
particular). Assim, apenas o e-mail pessoal ou particular do 
empregado, socorrendo-se de provedor próprio, desfruta da proteção 
constitucional e legal de inviolabilidade. 
2. Solução diversa impõe-se em se tratando do chamado "e-
mail"corporativo, instrumento de comunicação virtual mediante o qual 
o empregado louva-se de terminal de computador e de provedor da 
empresa, bem assim do próprio endereço eletrônico que lhe é 
disponibilizado igualmente pela empresa. Destina-se este a que nele 
trafeguem mensagens de cunho estritamente profissional. Em 
princípio, é de uso corporativo, salvo consentimento do empregador. 
Ostenta, pois, natureza jurídica equivalente à de uma ferramenta de 
trabalho proporcionada pelo empregador ao empregado para a 
consecução do serviço (TST, Ac.1ªT., RR 613/2000-013-10-00, rel. 
Min. João Oreste Dalazen, DJU 10.6.05). 
 
 
4.2.3. O direito da personalidade ao esquecimento e a liberdade de imprensa. 
 A vida do ser humano é o somatório do seu passado com o presente, que continuamente 
influenciarão no resultado do seu futuro. Ocorre que pode haver fatos do passado de uma 
pessoa que a marcaram negativamente perante à sociedade, ou mesmo lhe trouxe grande 
sofrimento e por tais deseja mantê-los enterrados, distantes da sua vida hodierna. 
 É nesse contexto em que se encontra o direito ao esquecimento; o direito que tem uma 
pessoa de impedir que dados e fatos pessoais de outrora sejam revividos, repristinados, no 
presente ou no futuro de forma descontextualizada, até porque existem a lguns fatos pretéritos 
que, se não matam fisicamente causam profunda corrosão na alma e no espírito (Farias e 
Rosenvald, 2016, p.196). 
 No entanto, há fatos que estão enraizados na vida e na história de uma sociedade, 
prendendo-se, muitas vezes, ao próprio processo de formação da identidade cultural de um 
povo. Estes não serão apagados e, tampouco, esquecidos. 
 Logo, é necessário analisar cada caso, ponderando o conflito existente (personalidade de 
um lado e liberdade de imprensa do outro), pois só assim se chegará numa melhor solução. 
Vide julgado: 
RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE 
DANOS. REPUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA DE 
CONTÉÚDO VEXATÓRIO. DIREITO AO ESQUECIMENTO. 
APLICABILIDADE. CONDIÇÃO DESABONATÓRIA. DANO 
EXTRAPATRIMONIAL CONFIGURADO. QUANTUM 
INDENIZATÓRIO MAJORADO. 
Hipótese na qual a parte autora busca a condenação da ré ao 
pagamento de danos sofridos em face da republicação de matéria 
jornalística de 10.12.1977, sob o título "Marido obrigava mulher a 
usar 'cinto de castidade'", com plena indicação do seu nome e de seu 
ex-esposo, recordando período de muito sofrimento e humilhação, que 
sempre buscou esquecer, tanto que nunca mais estabeleceu nova 
convivência. O direito ao esquecimento costuma ser invocado como o 
direito de não ser lembrado contra sua vontade, especificamente no 
tocante a fatos desabonadores. Caso em que restou demonstrado que a 
demandada agiu com abuso no seu direto constitucional de liberdade 
de informação e manifestação na medida em que ao republicar fatos 
passados reabriu antigas feridas e reacendeu comentários 
desabonatórios, expondo a autora a constrangimento severo e de 
grande humilhação. A exposição pública e desnecessária realizada 
pelo meio de comunicação enseja a compensação moral reclamada, 
uma vez que ultrapassou o espaço da informação, afetando, assim, a 
moral e o bem-estar social da demandante. QUANTUM 
INDENIZATÓRIO. Majoração do montante indenizatório fixado em 
primeiro grau para R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), considerando os 
parâmetros... balizados por esta Corte e atendendo, assim, à dupla 
finalidade dessa modalidade indenizatória: trazer compensação à 
vítima e inibição ao infrator. Valor que deverá ser corrigido 
monetariamente pelo IGP-M, a contar da data da sentença com fulcro 
na Súmula nº 362 do STJ, e juros de mora a contar da data do fato 
danoso, nos termos da Sumula 54 do STJ. APELAÇÃO DA 
AUTORA PROVIDA. APELAÇÃO DA RÉ PREJUDICADA. 
(Apelação Cível Nº 70063337810, Décima Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 
26/11/2015). 
 
4.2.4. Direito à honra 
 O direito à honra visar tutelar a pessoa contra falsas imputações de fatos desabonadores 
que possam macular a sua reputação diante da sociedade (Farias e Rosenvald, 2016, p.269). 
Mas afinal, o que honra? 
 A honra pode ser definida ao mesmo tempo, como sendo, o valor moral íntimo que cada 
um tem de si mesmo e o juízo de valor que uma sociedade constitui sobre determinada pessoa. 
Desse conceito pode-se afirmar que a honra subdivide-se em: honra subjetiva e honra 
objetiva. A primeira diz respeito, o juízo de valor que determinada pessoa tem de si mesma; é 
a sua autoestima; o que ela pensa de si própria. Já a honra objetiva, é o conceito externo de 
honra, se refere o que os outros pensam de uma pessoa; é a reputação da pessoa perante a 
sociedade (Farias e Rosenvald, 2016, p.269). 
 É, portanto, com base nos conceitos de honra objetiva e honra subjetiva que se pode 
afirmar, ser possível a reparação por danos morais quando uma delas ou mesmo as duas 
espécies de honra são violadas. 
 Súmula 370 do Superior Tribunal de Justiça: ao reconhecer a caracterização de dano 
moral pela apresentação antecipada de cheque pré-datado", afinal, a quebra do acordo relativo 
à data pode ocasionar a não compensação do cheque e, por conseguinte, atingir a honra. 
 Vale ressaltar que não caracteriza violação à honra, no entanto, a difusão de fato que diz 
respeito ao interesse público, como a apuração de fatos criminosos, quando verdadeiros. É o 
que se denomina exceção da verdade – exceptioveritatis – permitindo que se prove a 
veracidade dos fatos alegados. Logo, sendo falsos os fatos imputados à pessoa, fará jus à 
indenização por danos morais (Farias e Rosenvald, 2016, p.271). 
 Foi sob o fundamento da dignidade

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