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1 
 
 
SDE0052 – PSICOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO. 
 
SAÚDE E DOENÇA 
 A bisavó de Kathleen emigrou da Irlanda para os Estados Unidos em 1899. Esperando uma vida melhor, 
ela e seu marido fugiram da dura pobreza de sua terra natal e deram início a uma nova família. As coisas 
melhoraram em seu país adotivo, mas a vida ainda era dura. Médicos eram caros (e poucos), e ela sempre 
tinha de se proteger contra água poluída, comida contaminada ou infecções como febre tifoide, difteria ou 
alguma das tantas doenças que, prevaleciam naquela época. Apesar da vigilância, a sobrevivência para ela, 
seu marido e seu bebê recém-nascido (a avó de Kathleen) permanecia incerta. A expectativa de vida era de 
menos de 50 anos, e um em cada seis bebês morria antes de seu primeiro aniversário. 
 Um século depois, Kathleen sorri enquanto olha a fotografia desbotada de sua bisavó, tirada em um 
momento de alegria quando brincava com sua filha. Ela sabe que sua ancestral viveu uma vida longa e 
produtiva, morrendo aos 75 anos de idade de uma homeopatia que parece ser de família. Também devido a 
seus pais, ela sabe que tem a mesma perspectiva otimista e o mesmo sabor pela vida que fortalecia sua 
bisavó contra as dificuldades. "Como as coisas são diferentes agora", pensa Kathleen, "mas quanta coisa dela 
eu carrego em mim". 
As coisas são muito diferentes. Por um lado, os avanços na higiene, as medidas de saúde pública e a 
microbiologia praticamente erradicaram as doenças infecciosas que os ancestrais de Kathleen mais temiam. 
Por outro lado, as mulheres que nascem hoje nos Estados Unidos apresentam uma expectativa de vida de 
quase 80 anos, e os homens, apesar de apresentarem uma mais curta, frequentemente atingem a idade de 72 
anos. Juntamente com esse presente do tempo, a maioria das pessoas está mais consciente de que a saúde 
representa muito mais do que estar livre de doenças. 
Como Kathleen, temos sorte de viver em uma época em que a maioria dos cidadãos do mundo tem a 
promessa de uma vida mais longa e melhor, com muito menos deficiências e doenças do que em qualquer 
outra época. Entretanto, esses benefícios à saúde não são desfrutados universalmente. 
 
O que é saúde? 
 A palavra saúde vem de uma antiga palavra da língua alemã que é representada, em inglês, pelas 
palavras hale e whole,
1
 as quais referem-se a um estado de "integridade do corpo". Os linguistas observam 
que essas palavras derivam dos campos de batalha medievais, em que a perda de haleness, ou saúde, 
normalmente resultava de um grave ferimento. 
 Atualmente, somos mais propensos a pensar na saúde como a ausência de doenças, em vez da ausência 
de ferimento debilitante obtido no campo de batalha. Como tal definição concentra-se apenas na ausência de 
um estado negativo, ela é incompleta. Embora seja verdade que as pessoas saudáveis estão livres de doenças, 
a maioria de nós concordaria que a saúde envolve muito mais. É bastante possível, e até comum, que uma 
pessoa esteja livre de doenças, mas ainda não desfrute de uma vida vigorosa e satisfatória. A saúde não se 
limita ao nosso bem-estar físico. 
 
SAÚDE E DOENÇA: LIÇÕES DO PASSADO 
 Mesmo que todas as civilizações tenham sido afetadas por doenças, cada uma delas compreendia e 
tratava a doença de formas diferentes. Em uma certa época, nossos ancestrais pensavam que a doença era 
causada por demônios. Em outra, eles diziam que era uma forma de punição pela fraqueza moral. 
Atualmente, lutamos com questões como: "será que a doença pode ser causada por uma personalidade 
doentia?". 
 Os esforços de nossos ancestrais para curar doenças podem ser traçados até 20 mil anos atrás. Uma 
pintura feita em uma caverna no sul da França, por exemplo, que se acredita ter 17 mil anos de idade, mostra 
o xamã da idade do gelo vestindo a máscara animal de um antigo curandeiro. Em religiões que se baseiam 
em uma crença em espíritos bons e maus, somente um xamã (sacerdote ou pajé) pode influenciar esses 
espíritos. 
 Para homens e mulheres pré-industriais, que enfrentavam as forças frequentemente hostis de seu 
ambiente, a sobrevivência baseava-se na vigilância constante contra essas misteriosas forças do mal. Quando 
 
1 N. de T.: Em inglês, hale significa saúde, vigor, e whole significa completo, integral. 
 
 2 
uma pessoa ficava doente, não havia uma razão física óbvia para tal fato; pelo contrário, a condição do 
indivíduo acometido era erroneamente atribuída a uma fraqueza frente a uma força mais forte, feitiçaria ou 
possessão por um espírito do mal (Amundsen, 1996). 
 Aproximadamente 4 mil anos atrás, algumas pessoas notaram que a higiene também desempenhava um 
papel na saúde e na doença e fizeram tentativas de melhorar a higiene pública. Os antigos egípcios, por 
exemplo, realizavam rituais de limpeza para impedir que vermes causadores de doenças infestassem o corpo. 
Na Mesopotâmia (parte da qual localizava-se onde hoje é o Iraque), fabricava-se sabão, projetavam-se 
instalações sanitárias e construíam-se sistemas para o tratamento de esgotos públicos (Stone, Cohen e Adler, 
1979). 
Um dos mais influentes pensadores da Renascença foi o filósofo e matemático francês René Descartes 
(1596 - 1650), cuja primeira inovação foi o conceito do corpo humano como uma máquina. Ele descreveu 
todos os reflexos básicos do corpo, construindo, nesse processo, elaborados modelos mecânicos para 
demonstrar seus princípios. Ele acreditava que a doença ocorria quando a máquina estragava; a tarefa do 
médico era consertar a máquina. Descartes é conhecido por sua crença de que a mente e o corpo são 
processos separados e autônomos, que interagem de forma mínima e que cada um deles está sujeito a 
diferentes leis de causalidade. Esse ponto de vista, chamado de dualismo mente-corpo (ou dualismo 
cartesiano), baseia-se na doutrina de que os seres humanos possuem duas naturezas, a mental e a física. 
Descartes e outros grandes pensadores da Renascença, em um esforço para romper com o misticismo e as 
superstições do passado, rejeitava vigorosamente a noção de que a mente influencia o corpo. O estudo (não-
científico) da mente era relegado à religião e à filosofia, enquanto o estudo (científico) do corpo era 
reservado à medicina. Esse ponto de vista abriu caminho para uma nova era de pesquisas médicas, 
fundamentadas na confiança na ciência e no pensamento racional. 
A ciência e a medicina mudaram rapidamente durante os séculos XVII e XVIII, motivadas por 
numerosos avanços na tecnologia. Talvez a mais importante invenção na medicina durante esse período 
tenha sido o microscópio. Embora o uso de uma lente para aumento já fosse conhecido em épocas antigas, 
foi um mercador de tecidos dinamarquês chamado Anton van Leeuwenhoek (1632 - 1723) quem construiu o 
primeiro microscópio prático. Com um poder de aumento de 270 vezes, esse microscópio permaneceu 
inigualável até o século XIX. Usando esse microscópio, ele foi o primeiro a observar células sanguíneas e a 
estrutura básica dos músculos. O cientista inglês Robert Hooke (1635 - 1703), contemporâneo de 
Leeuwenhoek, construiu seu próprio microscópio e observou que os tecidos das plantas continham muitas 
cavidades pequenas separadas por paredes. Hooke chamou essas cavidades de "células" ou "pequenas 
câmaras" e suas observações tornaram-se o fundamento da teoria do século XIX de que a célula era a 
unidade básica de todos os organismos vivos. 
 
Descobertas do século XIX 
 
Uma vez que as células individuais tornaram-se visíveis, o cenário estava pronto para Rudolf Virchow 
(1891 - 1902) esboçar a teoria celular da doença - a ideia de que a doença resulta do funcionamento incorreto 
ou da morte das células corporais. Como ocorre frequentemente na ciência, problemas práticos levam ao 
entendimentomais profundo da doença. Em uma interessante série de experimentos, o cientista francês 
Louis Pasteur (1822 - 1895) isolou a bactéria responsável pela doença do bicho-da-seda, que ameaçava a 
indústria da seda na França. E, após provar que um microrganismo causava a raiva, ele desenvolveu a 
primeira vacina eficaz contra ela. Porém, a contribuição mais importante de Pasteur para a medicina veio em 
1862, quando ele sacudiu o mundo médico com diversos experimentos meticulosos que mostravam que a 
vida apenas pode existir a partir da vida já existente. 
Pasteur abriu caminho para o desenvolvimento posterior de procedimentos cirúrgicos assépticos (livre 
de germes). Ainda mais importante, o desafio de Pasteur contra uma crença com 2 mil anos de idade é uma 
poderosa demonstração da importância de manter a mente aberta na investigação científica. As descobertas 
de Pasteur também ajudaram a moldar a teoria dos germes da doença - que afirma que bactérias, vírus e 
outros microrganismos que invadem as células do corpo fazem com que elas funcionem de maneira 
imprópria. A teoria dos germes, que é um aperfeiçoamento da teoria celular, forma a base teórica da 
medicina moderna. Após Pasteur, o conhecimento e os procedimentos médicos desenvolveram-se 
rapidamente. Em 1846, William Morton (1819 -1868), um dentista norte-americano, introduziu o gás éter 
como anestésico. Esse grande avanço possibilitou a operação em pacientes, os quais não experimentavam 
dor e permaneciam completamente relaxados. 
Cinquenta anos mais tarde, o médico alemão Wilhelm Roentgen (1845 -1943) descobriu o raio X e, 
pela primeira vez, os médicos puderam observar os órgãos internos de forma direta. Antes do final do século, 
os pesquisadores haviam identificado os microrganismos que causavam uma variedade de doenças, incluindo 
malária, pneumonia, difteria, lepra, 
 3 
O século XX: o início de uma nova era 
 
O modelo biomédico 
 
À medida que o campo da medicina continuava a avançar, durante a primeira parte do século XX, 
apoiava-se cada vez mais na fisiologia e na anatomia, em vez do estudo de pensamentos e emoções, na busca 
por uma compreensão mais profunda da saúde e da doença. Assim, nascia o modelo biomédico de saúde, 
sustentando que a doença sempre tem causas biológicas. Motivado pelo ímpeto das teorias celular e dos 
germes, esse modelo tornou-se aceito de forma ampla durante o século XIX, e continua a representar a visão 
dominante na medicina hoje em dia. 
O modelo biomédico apresenta três características distintas. Em primeiro lugar, pressupõe que a 
doença é o resultado de um patógeno - um vírus, uma bactéria ou algum outro microrganismo que invade o 
corpo. O modelo não faz menção às variáveis psicológicas, sociais ou comportamentais na doença. Nesse 
sentido, o modelo biomédico é reducionista, considerando que fenômenos complexos (como a saúde e a 
doença) são essencialmente derivados de um único fator primário. Em segundo, esse modelo tem como base 
a doutrina cartesiana do dualismo mente-corpo que, como vimos, considera-os entidades separadas e 
autônomas que não interagem. Finalmente, de acordo com esse padrão, a saúde nada mais é do que a 
ausência de doenças. Dessa forma, aqueles que trabalham apoiados nessa perspectiva concentram-se em 
investigar as causas das doenças físicas em vez daqueles fatores que promovem a vitalidade física, 
psicológica e social. 
O que ajudou a moldar o campo da saúde foi a necessidade de ir além do modelo biomédico, valendo-
se de um modelo mais abrangente de saúde e doença. Uma limitação da medicina tradicional é sua 
dificuldade para explicar por que o mesmo conjunto de fatores de risco algumas vezes desencadeia uma 
doença e em outras não. Como, por exemplo, Frank - um homem de meia-idade, obeso, fumante e 
sedentário, com um histórico familiar de doença cardíaca - tem um ataque cardíaco fatal, enquanto Malcolm 
- que apresenta praticamente os mesmos fatores de risco - permanece livre de doenças cardíacas? A 
dificuldade encontrada pela biomedicina para prever novos casos de doenças cardíacas levou os 
pesquisadores a descobrir que fatores psicológicos - como a maneira de uma pessoa reagir ao estresse - 
combinam-se com fatores de risco físicos para determinar o risco à saúde do indivíduo. 
Um problema intimamente relacionado ao modelo biomédico é explicar por que uma forma de 
tratamento (como o uso de certa medicação) pode curar determinada doença em uma pessoa, mas não em 
outra. Os psicólogos da saúde têm aprendido que o fato de uma droga específica ou alguma forma de 
tratamento ser eficaz é substancialmente influenciado por fatores psicológicos e sociais. 
Um desses fatores é o poder de cura do efeito placebo, ou a fé do paciente e do profissional no valor 
terapêutico de um certo tratamento. Placebo, em latim, significa "vou satisfazer". Na medicina, um placebo é 
uma substância inativa ou um tratamento que é apresentado de tal forma que faz com que o paciente espere 
que a substância ou tratamento funcione de verdade. Todos os tratamentos dependem mais ou menos dessa fé 
e é por isso que determinada terapia pode ser capaz de curar certa doença mobilizando os próprios poderes 
de cura do paciente (Relman, 1998). Qualquer procedimento médico, das drogas à cirurgia, pode ter efeito 
placebo ou, além disso, um efeito nocebo, em que a pessoa conecta uma expectativa negativa, ao invés de 
positiva, ao tratamento. O próprio relacionamento entre médico e paciente já é um bom exemplo. Pesquisas 
verificaram, por exemplo, que a quantidade diária de insulina necessária para estabilizar pacientes de diabete 
flutua dependendo da harmonia do paciente com seu médico. 
Devido à credibilidade da ciência médica, tratamentos com base nas mais recentes tecnologias são 
especialmente suscetíveis ao efeito placebo. A terapia com placebos tem-se mostrado eficaz para uma 
variedade de doenças, incluindo alergias, asma, câncer, depressão, diabete, epilepsia, insônia, enxaquecas, 
esclerose múltipla, úlceras e verrugas. 
 
 Medicina psicossomática 
O modelo biomédico, por intermédio de seu foco nos patógenos, avançou o tratamento de saúde de 
maneira significativa. Entretanto, foi incapaz de explicar transtornos que não apresentavam causa física 
observável, como aquelas descobertas por Sigmund Freud (1856 - 1939), que inicialmente obteve formação 
como médico. As pacientes de Freud exibiam sintomas como perda da fala, surdez e até paralisia. Um caso 
particularmente intrigante envolveu uma paciente que relatou perda completa das sensações em sua mão 
direita. Freud acreditava que esse mal, que ele chamou de "anestesia de luva", era causado por conflitos 
emocionais inconscientes "convertidos" em forma física. Freud rotulou essas doenças de transtornos de 
conversão, e a comunidade médica viu-se forçada a aceitar uma nova categoria de doença. 
A ideia de que determinadas doenças poderiam ser causadas pelos conflitos psicológicos do indivíduo 
foi desenvolvida durante a década de 1940 pelo trabalho do psicanalista Franz Alexander. Quando os 
 4 
médicos não conseguiam encontrar agentes infecciosos ou outras causas diretas para artrite reumática, 
Alexander ficava intrigado pela possibilidade de que fatores psicológicos pudessem estar envolvidos. 
Segundo o seu modelo do conflito nuclear, a presença de determinados conflitos inconscientes pode levar à 
presença de queixas físicas (Alexander, 1950). Ou seja, cada doença física é o resultado de um conflito 
psicológico fundamental ou nuclear. Por exemplo, acreditava-se que indivíduos com "personalidade 
reumática", que tendem a reprimir a raiva e são incapazes de expressar as emoções, seriam propensos a 
desenvolver artrite. Descrevendo com cuidado um grande número de transtornos físicos que eram 
presumivelmente causados por conflitos psicológicos, Alexander ajudou a estabelecer a medicina 
psicossomática, um movimentoreformista dentro da medicina, denominado em decorrência das raízes psico, 
que significa mente, e soma, que significa corpo. Por definição, a medicina psicossomática diz respeito ao 
diagnóstico e ao tratamento de doenças físicas supostamente causadas por processos deficientes na mente. 
Esse novo campo floresceu e, logo, o periódico Psychosomatic Medicine publicou explicações psicanalíticas 
para uma variedade de problemas de saúde, incluindo hipertensão, enxaquecas, úlceras, hipertireoidismo e 
asma brônquica. 
A medicina psicossomática era intrigante e parecia explicar o inexplicável. Entretanto, tinha diversas 
fraquezas, que fizeram com que fosse desfavorecida. A mais significativa delas é o fato de que se 
fundamentava na teoria freudiana. À medida que a ênfase de Freud em motivações inconscientes e 
irracionais na formação da personalidade perdeu popularidade, o campo da medicina psicossomática 
começou a declinar. Além disso, a medicina psicossomática foi questionada pela categorização 
aparentemente arbitrária de algumas doenças como sendo de natureza completamente física e outra 
completamente psicológica. Outra crítica à medicina psicossomática era metodológica: ou seja, a pesquisa 
era fundamentada principalmente em estudos de caso de pacientes individuais, que está entre os métodos 
mais antigos, mas menos confiáveis. Qualquer caso individual pode ser atípico e, portanto, enganoso, como a 
base para uma teoria geral. Acrítica final é que a medicina psicossomática, como o modelo biomédico, 
apoiava-se no reducionismo - nesse caso, a ideia obsoleta de que um único problema psicológico ou defeito 
de personalidade seria suficiente para desencadear a doença. Atualmente sabemos que a doença, assim como 
a boa saúde, baseiam-se na interação combinada de fatores múltiplos, incluindo a hereditariedade, o 
ambiente e a formação psicológica individual. 
Embora a psicanálise de Freud e a medicina psicossomática estivessem comprometidas de forma 
crítica, elas formaram as bases para a nova apreciação das conexões entre a medicina e a psicologia. Elas 
deram início à tendência contemporânea de ver a doença e a saúde como algo multifatorial. Isso significa que 
muitas doenças são causadas pela interação entre diversos fatores, em vez de uma única bactéria ou agente 
viral invasor. Entre estes, estão fatores do hospedeiro (como vulnerabilidade ou resiliência genética), fatores 
ambientais (como exposição a poluentes ou químicos perigosos), fatores comportamentais (como dieta, 
exercícios, hábito de fumar) e fatores psicológicos (como otimismo e "tenacidade" geral). 
 
Medicina comportamental 
 Durante a primeira metade do século XX, o Behaviorismo, liderado por John Watson (1878 – 1958), 
Edward Thorndike (1874 – 1945) e B. F. Skinner (1904 –1990), dominou a psicologia norte-americana. Na 
sua disciplina introdutória, os behavioristas definem a psicologia como o estudo científico do 
comportamento observável. Eles afirmam, além disso, que apenas dois tipos de aprendizagem explicam a 
maioria dos comportamentos: o condicionamento clássico (também chamado condicionamento pavloviano) 
ou o aprendizado que ocorre quando aprendemos a associar dois estímulos ambientais que ocorrem 
simultaneamente; e o condicionamento operante, por meio do qual o comportamento é fortalecido quando 
seguido por uma consequência desejável (reforço) ou enfraquecido quando seguido por uma consequência 
indesejável (punição). No início da década de 1970, os profissionais conceberam a ideia de um campo de 
medicina comportamental como resposta direta ao Behaviorismo. Assim, o novo campo começou a explorar 
o papel do condicionamento clássico e operante na saúde e na doença. Um de seus primeiros sucessos foi a 
pesquisa de Neal Miller (1909–), que utilizou técnicas de condicionamento operante para ensinar cobaias (e 
posteriormente seres humanos) a adquirirem controle sobre certas funções corporais. Miller demonstrou, por 
exemplo, que as pessoas podem adquirir algum nível de controle sobre sua pressão sanguínea e relaxar a 
frequência cardíaca quando estiverem cientes desses estados. A técnica de Miller, chamada de biofeedback. 
Embora a fonte da medicina comportamental tenha sido o movimento behaviorista na psicologia, uma 
característica distinta desse campo é sua natureza interdisciplinar. A medicina comportamental atrai 
membros de campos tão diversos quanto a antropologia, a sociologia, a biologia molecular, a genética, a 
bioquímica e a psicologia, além de profissões ligadas à área da saúde, como enfermagem, medicina e 
odontologia. 
 
Modelo biopsicossocial 
 5 
 
Reconhecendo como inadequada e limitada à definição anterior de saúde, a Organização das Nações 
Unidas estabeleceu a Organização Mundial da Saúde. Em seu documento de criação, a OMS definiu saúde 
como "um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não simplesmente como a ausência de 
doenças ou enfermidades". Essa definição afirma que saúde é um estado positivo e multidimensional que 
envolve três contextos: físico, psicológico e o social. 
Segundo nos conta a história, procurar um fator causal produz uma imagem incompleta da saúde e da 
doença de uma pessoa, portanto, os profissionais da saúde trabalham a partir da perspectiva biopsicossocial. 
Essa perspectiva reconhece que forças biológicas, psicológicas e sociais agem em conjunto para determinar 
a saúde e a vulnerabilidade do indivíduo à doença; ou seja, a saúde e a doença devem ser explicadas em 
relação a contextos múltiplos. 
 
O contexto biológico 
Todos os comportamentos, incluindo estados de saúde e doença, ocorrem no contexto biológico. Cada 
pensamento, estado de espírito e ânsia é um evento biológico possibilitado pela estrutura anatômica e pela 
função biológica característica do corpo de uma pessoa. A psicologia da saúde chama a atenção para aqueles 
aspectos de nosso corpo que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação genética e nossos sistemas 
nervoso, imunológico e endócrino. 
Os genes proporcionam o projeto de nossa biologia e predispõem nossos comportamentos - saudável e 
doentio, normal e anormal. Por exemplo, sabe-se há muito tempo que a tendência de abusar do consumo de 
álcool é hereditária. Uma razão para isso é que a dependência ao álcool é pelo menos em parte, genética, 
embora não pareça estar ligada a um único gene específico. Em vez disso, certas pessoas podem herdar uma 
grande sensibilidade aos efeitos físicos do álcool, experimentando a intoxicação como algo prazeroso e uma 
ressaca como algo de pouca importância. Essas pessoas têm mais probabilidade de beber, especialmente em 
certos contextos psicológicos e sociais. 
Um elemento fundamental do contexto biológico é a história evolutiva de nossa espécie. Nossos traços 
e comportamentos humanos característicos existem na forma como são porque ajudaram nossos ancestrais 
distantes a sobreviver em tempo suficiente para se reproduzirem e enviarem seus genes para o futuro. Por 
exemplo, a seleção natural favoreceu a tendência das pessoas de sentirem fome na presença de um aroma 
agradável. Essa sensibilidade para pistas relacionadas com a comida faz sentido evolucionário, pois comer é 
necessário para a sobrevivência - particularmente no passado, quando os suprimentos de comida eram 
imprevisíveis e era vantajoso ter um apetite saudável quando havia alimento disponível. 
Ao mesmo tempo, a biologia e o comportamento interagem de forma constante. Por exemplo, alguns 
indivíduos são mais vulneráveis a doenças relacionadas com o estresse porque reagem com raiva a 
perturbações cotidianas e a outras influências ambientais. Entre os homens, quantidades maiores do 
hormônio testosterona apresentam uma correlação positiva com esse tipo de reação agressiva. Essa relação, 
contudo, é recíproca: ataques de raiva também podem levar a níveis elevados de testosterona. Uma das 
tarefas da psicologiada saúde é explicar como (e por que) essa influência mútua entre biologia e 
comportamento ocorre. 
A saúde física, é claro, implica ter um corpo vigoroso e livre de doenças, com um bom desempenho 
cardiovascular, sentidos aguçados, sistema imunológico vital e a capacidade de resistir a ferimentos físicos. 
Ela também envolve hábitos relacionados com o estilo de vida que aumentem a saúde física. Entre estes, 
estão seguir uma dieta nutritiva, fazer exercícios regularmente e dormir bem; evitar o uso de tabaco e outras 
drogas; praticar sexo seguro e minimizar a exposição a produtos químicos tóxicos. 
 
O contexto psicológico 
A mensagem central da psicologia da saúde é que a saúde e a doença estão sujeitas as influências 
psicológicas. Por exemplo, um fator fundamental para determinar o quanto uma pessoa consegue lidar com 
uma experiência de vida estressante é a forma como o evento é avaliado e interpretado. Eventos avaliados 
como avassaladores, invasivos e fora do nosso controle nos custam mais do ponto de vista físico e 
psicológico do que os que são avaliados como desafios menores, temporários e superáveis. De fato, algumas 
evidências sugerem que, independentemente de um evento ser realmente experimentado ou simplesmente 
imaginado, a resposta do corpo ao estresse é de modo aproximado, a mesma. Os psicólogos da saúde pensam 
que certas pessoas podem ser cronicamente depressivas e mais suscetíveis a certos problemas de saúde 
porque revivem eventos difíceis muitas vezes em suas mentes, o que pode ser funcionalmente equivalente a 
passar repetidas vezes pelo evento real. Assim, pensamento, percepção, motivação, emoção, aprendizagem, 
atenção, memória, têm implicações para a saúde. 
Os fatores psicológicos também desempenham um importante papel no tratamento de condições 
crônicas. Considere o tratamento do câncer - que já foi uma doença que levava inevitavelmente à morte. 
 6 
Embora a morte não seja mais inevitável, tratamentos como a quimioterapia forçam os pacientes a passar 
por reações às vezes insuportáveis causadas pelas poderosas drogas administradas, incluindo náuseas e 
vômitos extremos. Os efeitos colaterais podem ser tão debilitantes que alguns pacientes recusam-se a 
continuar com o tratamento que tem o potencial de salvar sua vida. A eficácia da medicação é bastante 
influenciada pela atitude do paciente para com o tratamento. Um indivíduo que acredita que a droga irá 
apenas causar-lhe desconforto é capaz de experimentar uma tensão considerável, que pode piorar sua reação 
física ao tratamento, desencadeando um ciclo vicioso, no qual a crescente ansiedade antes do tratamento é 
seguida por reações físicas progressivamente piores à medida que o regime de tratamento continua. As 
intervenções psicológicas ajudam os pacientes a administrar sua tensão, diminuindo, assim, as reações 
negativas ao tratamento. Aqueles pacientes mais tranqüilos em geral são mais capazes e mais motivados para 
seguir as instruções de seus médicos. 
As intervenções psicológicas também auxiliam os pacientes a administrar o estresse da vida cotidiana, 
que parece exercer um efeito cumulativo sobre o sistema imunológico. Eventos negativos na vida, como a 
perda de um ente querido, o divórcio, a perda do emprego ou uma mudança, podem estar ligados à 
diminuição do funcionamento imunológico e a maior suscetibilidade a doenças. Ensinando aos pacientes 
formas eficazes de administrar tensões inevitáveis, os psicólogos da saúde podem ajudar o sistema 
imunológico do paciente a combater as doenças. 
A saúde psicológica significa ser capaz de pensar de forma clara, ter uma boa autoestima e um senso 
geral de bem-estar. Ela inclui a criatividade, as habilidades de resolução de problemas (como buscar 
informações sobre questões relacionadas com a saúde) e a estabilidade emocional. Ela também é 
caracterizada pela auto aceitação, abertura a novas ideias e uma "tenacidade" geral na personalidade. A auto 
aceitação é caminho decisivo para uma boa autoestima. É o passo certeiro que definirá uma postura positiva 
consigo mesmo, estando satisfeito e respeitando suas possibilidades e limitações. 
 
O contexto social 
Ao colocarem o comportamento saudável em seu contexto social, os psicólogos da saúde estão 
preocupados com a maneira como pensamos, influenciamos e nos relacionamos conosco e com o ambiente. 
O seu gênero, por exemplo, implica determinado papel social que dá a você um senso de ser mulher ou 
homem. Além disso, você é membro de determinada família, comunidade e nação; você também tem certa 
identidade racial, cultural e étnica, e vive dentro de uma classe socioeconômica específica. Cada um desses 
elementos do seu contexto social único influencia suas crenças e comportamentos - incluindo aqueles 
relacionados com a saúde. 
Considere o contexto social em que uma doença crônica, como o câncer, ocorre. Um cônjuge, outra 
pessoa afetivamente significativa ou um amigo íntimo, proporcionam importante apoio social para muitos 
pacientes de câncer. Mulheres e homens que se sentem socialmente conectados a uma rede de amigos 
afetuosos têm menor probabilidade de morrer de qualquer forma de câncer do que seus correlatos que sejam 
isolados socialmente. O fato de sentir-se amparado por outras pessoas serve como proteção, que mitiga o 
resultado de hormônios que causam estresse e mantém as defesas do corpo fortes durante situações 
traumáticas. Pode também promover melhores hábitos de saúde, check-ups regulares e exames para sintomas 
preocupantes - tudo isso tende a melhorar as chances de sobrevivência de uma vítima do câncer. 
Apesar da validade dessas influências sociais, lembre-se de que seria enganoso concentrar-se 
exclusivamente neste, ou em qualquer outro contexto, de forma isolada. O comportamento saudável não é a 
conseqüência automática de determinado contexto social. Por exemplo, embora, como grupo, os pacientes de 
câncer que são casados tenham tendência a sobreviver por mais tempo do que pessoas que não são casadas, 
casamentos infelizes e destrutivos não oferecem benefício algum nesse sentido e podem estar ligados a 
resultados ainda piores para a saúde. 
A saúde social envolve ter boas habilidades interpessoais, relacionamentos significativos com amigos 
e família, e apoio social em épocas de crise. Ela também está relacionada com fatores socioculturais em 
saúde, como o status socioeconômico, a educação, a etnicidade, a cultura e o gênero. 
Cada domínio da saúde é influenciado pelos outros dois domínios. Por exemplo, uma pessoa 
emocionalmente estável, que tem boas habilidades de resolução de problemas (saúde psicológica), 
provavelmente terá mais facilidade para manter relacionamentos sociais saudáveis (saúde social) do que uma 
pessoa depressiva que tem dificuldade para se concentrar no problema em questão. Da mesma forma, a saúde 
física fraca apresenta desafios especiais, tanto para a autoestima da pessoa (saúde psicológica) quanto para 
relacionamentos com sua família e seus amigos (saúde social). 
 
"Sistemas" biopsicossociais 
Conforme indicam esses exemplos, a perspectiva biopsicossocial enfatiza as influências mútuas entre 
os contextos biológicos, psicológicos e sociais da saúde. Ela também está fundamentada na teoria sistêmica 
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do comportamento. Segundo essa teoria, a saúde - de fato, toda a natureza - é melhor compreendida como 
uma hierarquia de sistemas, na qual cada um deles é simultaneamente composto por subsistemas e por uma 
parte de sistemas maiores e mais abrangentes. Assim, cada um de nós é um sistema - um corpo formado por 
sistemas em interação, como o sistema endócrino, o cardiovascular, o nervoso e o imunológico. Esses 
sistemas biológicos são, por sua vez, compostos de partes menores, que consistem de tecidos, fibras 
nervosas, fluidos, células e material genético. Na direção contrária, somos parte de muitos sistemas maiores, 
incluindo nossa família,nosso bairro, nossa sociedade e nossa cultura. 
Aplicada à saúde, essa abordagem enfatiza uma questão fundamental: o sistema, em determinado 
nível, é afetado por sistemas em outros níveis e também os afeta. Por exemplo, o sistema imunológico 
enfraquecido afeta órgãos específicos no corpo de uma pessoa, o que, por sua vez, afeta a sua saúde 
biológica geral, afetando, por sua vez, os relacionamentos dessa pessoa com sua família e seus amigos. 
Conceituar a saúde e a doença conforme a abordagem sistêmica permite que compreendamos o indivíduo de 
forma integral. 
 
Resumo do texto: 
 
STRAUB, Richard O. Introdução à Psicologia da saúde. In: Psicologia da saúde . Tradução Ronaldo Cataldo 
Costa. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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