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SUPERCONDUTORES Douglas Lamas Lindomar Schvambach Naymary Kerllen Ribeiro Gonçalves Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Engenharia de Energia, Disciplina de Fundamentos de Materiais, Professora Marielli de Souza Schlickmann. Um século após a descoberta deste fascinante fenômeno, a supercondutividade continua sendo um campo de pesquisa atual e vem contribuindo de modo significativo para o desenvolvimento científico e tecnológico. Apesar de muitos desafios terem sido superados ao longo destes anos, dois permanecem notavelmente destacados: a) o desenvolvimento de uma teoria microscópica que seja capaz de explicar à supercondutividade em qualquer intervalo de temperatura e b) a obtenção de um material que seja supercondutor a temperatura ambiente ou em temperatura maior que a ambiente. Depois de 5 prêmios Nobel em Física terem sido concedidos a pesquisadores desta área, é possível conjeturar que mais serão entregues aos que superarem os desafios destacados acima. Apresentamos uma sucinta discussão concernente aos principais acontecimentos relacionados à supercondutividade: sua descoberta, os materiais, as teorias propostas, os protagonistas e os avanços tecnológicos. Destacamos a explicação de propriedades elétricas que podem simplificar o entendimento do supercondutor, como por exemplo, a resistência elétrica, efeito joule, e efeito Meissner. Junto com uma breve explicação sobre a diferença dos elétrons no estado normal e no estado do supercondutor, assim como, as vibrações na rede, que podem causar que a temperatura do supercondutor mude constantemente. Ainda, há uma explicação sobre a teoria BCS que pode se dizer como a teoria dos supercondutores de baixa temperatura crítica, assim como sua falta de explicação em algumas ligas como os cupratos que tem uma temperatura crítica maior que a teoria diz que existia. Por conseguinte, uma breve explicação sobre os tipos de supercondutores, tipos (1,2), e demonstrações e explicações sobre diversos componentes feitos a partir dos supercondutores, como por exemplo, trens a base de levitação magnética. Palavras Chaves: Supercondutividade, elétrons, condutor, resistência, supercondutores, aplicações, efeito Joule, efeito Meissner. 1. Introdução Um material livre de resistência elétrica e eletromagnética poderia ser o sonho de qualquer engenheiro, seja de projetos de grandes dimensões ou de projetistas de pequenas placas de circuitos e componentes eletrônicos. Quem trabalha na área sabe muito bem dos empecilhos causados por estes problemas. Perda de eficiência, rendimento, desgastes prematuros dos componentes, lentidão e ociosidade no sistema são alguns exemplos do transtorno que tal fator pode causar. Este artigo aborda um tema que pode acabar de vez com estes problemas, a supercondutividade. Um estado que as matérias, já conhecidas e enquadradas na tabela periódica, podem assumir quando submetidas a uma determinada condição de resfriamento. A seguir será possível entender melhor, quando fora descoberto esse fenômeno, quem o descobriu, o contesto histórico, bem como quais os métodos utilizados para que se alcance este estado da matéria, além de suas principais aplicações atualmente. 2. Descoberta O fenômeno da supercondutividade fora descoberto em 1911, em Leiden, na Holanda, pelo físico holandês Heike Kamerlimgh-Onnes, quando observou que a resistência elétrica do mercúrio desaparecia ao ser resfriado a 4K, o que corresponde a – 269,15 °C, dessa forma, ele acabava de tornar o mercúrio um material supercondutor. [1] No Brasil as pesquisas sobre o tema iniciaram bem mais tarde, segundo uma pesquisa do Prof. Oscar F. de Lima, o primeiro trabalho científico original em supercondutividade publicado por um brasileiro data de 1957. Tratava-se de uma pesquisa teórica sobre o calor específico dos supercondutores por Newton Bernardes, ligado ao ITA de São José dos Campos, São Paulo. O artigo fora publicado na então reconhecida revista Physical Review. Bernardes realizava estudos de pós- graduação na universidade de Illinois, nos EUA, e trabalhava sob a orientação de John Bardeen. Mais tarde um pouco, na década de 60, destacou-se o trabalho de Eugênio Lerner, que obteve seu Ph.D. nos EUA realizando pesquisas experimentais em supercondutores. No início da década de 70 Eugênio fundou o Laboratório de Baixas Temperaturas no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também nesse período grupos de pesquisa sobre o tema foram formados nos Institutos de Física da Unicamp e da USP. A contribuição brasileira inicial ao tema foi bastante tímida, porém com a descoberta da supercondutividade de alta temperatura crítica, em meados da década de 80, entusiasmando assim a formação de muitos grupos de pesquisas em diversas instituições de pesquisas do país. Desse modo aumentando a contribuição brasileira na área e conquistando respeitabilidade internacional no que diz respeito a supercondutividade. [2]. 3. Conceito de supercondutividade Materiais que não expõem resistência elétrica alguma são o sonho de qualquer projetista de instalações elétricas ou dispositivos e circuitos eletrônicos. Sem resistência, a corrente pode fluir sem gerar calor ou dissipar energia e com isso problemas que hoje afligem qualquer projetista de chips ou de circuitos deixam de existir. O "milagre" da ausência da resistência elétrica existe e chama-se supercondutividade. Materiais que perdem a resistência estão sendo pesquisados e podem revolucionar a ciência eletrônica nos próximos anos. A resistência elétrica é definida como a capacidade que um corpo tem de opor-se à passagem da corrente elétrica. A unidade de medida da resistência no Sistema Internacional (SI) é o Ohm (Ω), em homenagem ao físico alemão George Simon Ohm, e representa a razão volt/Ampére. Quando um condutor é submetido a uma diferença de potencial, (DDP) ele passa a ser percorrido por uma corrente elétrica, que é constituída pelo fluxo de elétrons livres no interior do condutor. Quando esses elétrons livres entram em movimento, começam a colidir entre si e com os átomos do condutor. Quanto maior o número de colisões, maior a dificuldade encontrada pela corrente elétrica em passar o condutor. Essa dificuldade de movimento das cargas é que caracteriza a resistência elétrica. A resistência elétrica varia conforme o comprimento, a largura e a natureza do material do condutor, além da temperatura a que ele é submetido. Todos esses fatores são relacionados por uma equação conhecida como Segunda Lei de Ohm: 𝑹 = 𝝆𝒍 𝑨 . Sendo que: R – é a resistência elétrica do material; ρ – é a resistividade e possui valores diferentes para cada tipo de material; l – é o comprimento do condutor; A – é área de seção transversal do condutor. De acordo com a equação, vemos que a resistência é diretamente proporcional ao comprimento l do condutor, ou seja, quanto maior o comprimento, maior será a resistência. Ela também é inversamente proporcional à área do condutor, sendo que, quanto maior a área, maior é a facilidade para a passagem dos elétrons e, portanto, menor a resistência do material. A resistência elétrica também pode sofrer variação conforme a variação da tensão e da corrente elétrica de um condutor. Isso ocorre porque, quanto maior a intensidade da corrente elétrica (i),menor a dificuldade que os portadores de carga enfrentam para se movimentar, ou seja, menor a resistência. A diferença de potencial V entre as extremidades de um condutor é proporcional à corrente que o atravessa. A resistência é a constante de proporcionalidade entre eles e pode ser definida a partir da Primeira Lei de Ohm como: 𝑹 = 𝑽 𝒊 . Essa Lei só é válida para materiais que possuem resistência elétrica constante, conhecidos como resistores ôhmicos. Com tudo, essa resistência de determinados materiais pode ser alterada através da descoberta de Heike, sendo que ao resfriarmos o material desejado, a temperaturas muito baixas, essa resistência pode desaparecer. Fazendo desse modo com que o material se torne um supercondutor. Evitando assim as percas de energia pelo chamado efeito joule. [5]. 3.2 Efeito Joule Vários aparelhos da nossa casa têm seu funcionamento baseado no uso de resistência elétrica por meio de pequenos dispositivos chamados resistores, que têm como função transformar energia elétrica em energia térmica. Alguns exemplos de aparelhos domésticos que utilizam os resistores são o chuveiro, o ferro de passar, o secador de cabelo, forno elétrico, churrasqueira elétrica, entre outros. Já vimos que a resistência elétrica está relacionada com o choque entre os átomos e elétrons em movimento no interior dos condutores. Esse choque provoca o aumento da temperatura no condutor, caracterizando um fenômeno chamado efeito Joule, que serve como base para o funcionamento dos resistores. No entanto esse efeito é observado em qualquer circuito elétrico que contenha o movimento de elétrons, corrente elétrica, tendo em vista que este efeito dentro de um circuito gera perdas de energia, com a possibilidade de eliminá-la, infinitas possibilidades de aplicação para este material surgem, como a redução significativa na secção dos condutores, maior aproveitamento de energia dos sistemas de geração, entre outras aplicações que serão explanadas com maiores detalhes mais afrente. [5]. 3.3 Efeito Meissner Junto com a perca da resistência os materiais que atingem o estado de supercondutor, estes materiais ganham uma vantagem no que diz respeito às suas propriedades magnéticas. Uma vez aferida o campo magnético em seus núcleos, observa se que estes são nulos. Este fato foi descoberto em 1933, pelos alemães Karl Walther Meissner e Robert Ochsenfeld. Após a descoberta do efeito Meissner, ficou claro que as propriedades magnéticas de um supercondutor não podiam ser compreendidas pela hipótese de um condutor normal com resistividade zero. A supercondutividade passou a ser interpretada como um novo estado da matéria, o estado supercondutor. Daí surgem os “estados normais” e o “estado de supercondutividade”. Em um condutor perfeito o fluxo magnético é constante, porém em um supercondutor seu núcleo magnético é nulo. O que faz com que ele expila todo e qualquer campo magnético externo. Este princípio hoje é utilizado nos trens de levitação magnética, em vario locais do mundo, incluindo o Brasil. [2]. 4. Teoria da Supercondutividade 4.1 Interação atrativa entre elétrons No estado normal de um sistema metálico elétrons comportam de forma independente. Os elétrons de valência são livres para se propagar no volume metálico e podem interagir com o potencial cristalino periódico na rede cristalina como na figura abaixo: Figura 1- Potencial cristalino periódico e a interação eletrostática. Este modelo incorpora a teoria quântica, o princípio da exclusão de pauli, que garante que a distribuição de partículas será de tal forma que cada estado quântico do sistema seja ocupado por um único elétron, como na figura abaixo: Figura 2 - Camadas eletrônicas. No sistema elétrico, há ocorrência de forças internas onde, gera reflexão à periodicidade do arranjo cristalino através de colisões, e forças externas são geradas por campos eletromagnéticos ou por gradientes térmicos, caso haja campos eletromagnéticos gera a corrente elétrica, que dissipam através de colisões e imperfeições da rede. [4]. 4.2 Resistividade elétrica dos metais A condução elétrica os metais obedecem à lei de ohm. Nessa lei se há um campo elétrico aplicado a um metal, surgira, como resposta, uma corrente elétrica fluindo através dos materiais. As redes cristalinas não são regulares, os elétrons mais energéticos colidem incessantemente com as imperfeiçoes dos cristais ao serem submetidos ao um campo comportam-se como se tivesse uma velocidade à deriva e constante, essa é a origem da corrente elétrica, como na figura abaixo: Figura 3 - Propagação de um elétron de condução na presença de um campo elétrico. A condutividade elétrica se pode ser representada pela formula: σ = 𝑛𝑒²𝜏 𝑚𝑒 . No tempo de relaxamento, o elétron adquire energia do campo, então coma maior quantidade de tempo de relaxamento, maior a condutividade do metal e menor sua resistência elétrica. Os elétrons adquirem energia de campo na fase de relaxamento levando os elétrons a colidir com a imperfeiçoes na rede cristalina. Estas imperfeiçoes podem ser estáticas ou dinâmicas. Imperfeiçoes estáticas são defeitos na geometria da rede e dependem da pureza e da qualidade cristalina do condutor. Imperfeiçoes dinâmicas resultam das vibrações das redes cristalinas. As colisões dos elétrons com as vibrações da rede originam a contribuição ao tempo de relaxação que é dependente da temperatura. [4]. 4.3 Interação atrativa entre elétrons e pares de cooper. O par de cooper é formado por elétrons com momentos lineares iguais em módulo, porém sentido opostos. Os spins pareados também são opostos. Figura 4 - Elétrons com Spins opostos. Nesses, os elétrons não podem ser tratados como estado independente. Os elétrons mais energéticos da distribuição eletrônica do sistema metálico atraem-se mutuamente e organizam-se em pares de partículas, denominado par de cooper, normalmente, no inteiro do cristal metálico através de deformações da rede cristalina. Ocorrendo em condições de baixa desordem térmica em que as vibrações atômicas são minimizadas. Figura 5 - Pares de Cooper. As vibrações atômicas na rede cristalina é um processo quântico denominado de interação de elétrons fônons (oscilações elementares que correspondem a quantia de vibrações na rede). [4]. 4.4 Interação elétron-fônon As excitações denominadas fônons comportam-se como partículas cujo número não são fixos. Ademais pode se ter um número arbitrário de fônons no estado quântico não seguindo o princípio de exclusão de pauli assim sobre determinadas condições dois elétrons podem interagir por meio da troca de um fônon virtual, mesmo com a ocorrência da resistência elétrica. [4]. Figura 6 - A interação dos elétrons se dá pelo fônon. 4.5 Estado de Isótopo A importância da deformação dinâmica da rede cristalina na formação de par de cooper. Segundo esse efeito, a temperatura crítica dos supercondutores depende das massas dos átomos componentes do material, 𝑇𝑐 = 𝐴𝑀 −𝛼. [4]. 4.6 A correlação entre pares de cooper e a teoria BCS A ideia central dessa teoria é a formação de pares de elétrons, os pares de Cooper. Como vimos à associação de elétrons, apesar da repulsão elétrica entre eles,são possibilitados por vibrações da rede, os "fônons". A teoria BCS, analisando detalhadamente o acoplamento entre elétrons e fônons, mostra que os elétrons dos pares de Cooper têm energia ligeiramente inferior à energia dos elétrons individuais não pareados. Em termos técnicos, diz-se que existe um "gap" de energia separando os elétrons emparelhados dos elétrons normais, Quando um elétron, em um condutor normal, interage com os átomos da rede, dá-se uma troca de energia, como costuma acontecer em toda interação. Na interação, o elétron pode transferir energia para os átomos, como uma bola de sinuca se chocando com outra, e, no processo, os átomos são "excitados". Isto é, a energia da interação gera uma vibração nos átomos da rede. Isso provoca o aquecimento do material, resultando em uma resistência ao deslocamento dos elétrons livres. No entanto, se dois elétrons já estiverem ligados em um par de Cooper, essa interação com outros átomos da rede só será possível se a energia trocada for maior que a energia do "gap". Quando a temperatura é alta, há muita disponibilidade de energia térmica para isso, e os pares de Cooper nem conseguem se formar, ou, quando se formam, são logo aniquilados No entanto, baixando-se a temperatura, pode-se chegar a um valor no qual a energia disponível para trocas térmicas é menor que a energia do "gap". Quando isso acontece, alguns pares de Cooper não são aniquilados pela agitação térmica. [6]. 4.7 Teoria dos Cupratos Supercondutores de Alta Temperatura Crítica Complexidade dos cupratos supercondutores tem dificultado o desenvolvimento de uma teoria microscópica suficiente abrangente que seja capaz tanto de descrever o estado normal quanto o estado supercondutor desses sistemas, a teoria do gás de elétrons não consegue explicar muitas propriedades dos cupratos supercondutores, como, por exemplo, a forte anisotropia planar, pois cupratos tem estrutura cristalina complexa, e outra questão é a forte interação mutua entre os elétrons moveis dos planos Cu-O2. [4]. 4.8 Tipos de Supercondutores Os supercondutores do tipo I “macios” são materiais constituídos de um único elemento: Hg, Al, Pb, etc. Elementos compostos são denominados supercondutores do tipo II “duros”: LaBaCuO, TIBaCuO, etc. Tipo I – Englobam a quase totalidade dos metais. Apresentam temperaturas críticas extremamente baixas. Entram no estado supercondutor abruptamente. Expelem o campo magnético aplicado, (efeito Meissner). Tipo II – Formados por ligas metálicas e outros compostos e pelos metais puros, Vanádio (V), Tecnécio (Tc) e Nióbio (Nb). Apresentam temperaturas críticas mais elevadas. Entram no estado supercondutor gradativamente. Permitem a penetração de parte do campo magnético. [4]. 5. Aplicações As aplicações da supercondutividade podem ser divididas em dois tipos, conforme o tamanho do dispositivo. As aplicações em grande escala consistem em fios, magnetos, motores, reservatórios de energia e outros. As aplicações em pequena escala dizem respeito a componentes eletrônicos, ativos e passivos, que desempenham variadas funções como detectores, geradores de micro-ondas, filtros, antenas entre outros. Do ponto de vista das propriedades supercondutoras, os três parâmetros mais importantes são a temperatura crítica 𝑇𝐶, a indução magnética superior 𝐵𝐶2 e a densidade de corrente crítica 𝑗𝑐. Em geral, os supercondutores usados tecnologicamente procuram-se maximizar estes parâmetros. [4]. 5.1 Fios supercondutores A descoberta das ligas e compostos de Nióbio, na década de 60, abriu caminho para a confecção de fios supercondutores com uso prático. Estes materiais apresentam elevados 𝐵𝐶2 e fortes forças de aprisionamento de vórtices, o que assegura grandes valores de densidade de corrente crítica. Considerando a liga de Nb-Ti, que possui temperatura crítica 𝑇𝐶 ≅ 10𝐾 e indução magnética superior 𝐵𝐶2 ≅ 14 𝑇, o processo de fabricação de fios é facilitado pela ductilidade do material. A estabilidade do fio é grandemente aumentada se este for confeccionado de forma multifilamentar, onde filamentos de Nb-Ti são imersos numa matriz de cobre, conforme a figura 7. O diâmetro dos fios multifilamentar podem variar de 1mm a 2mm, podendo conter de 1 a 100.000 filamentos e estes filamentos têm diâmetro da ordem de micrômetros. Certos fios podem transportar correntes de até 1.000 Amperes. Figura 7 – Foto de condutor multifilamentar. Uma das aplicações teoricamente mais diretas e simples de fios supercondutores é no transporte de energia elétrica do ponto onde esta é gerada até os centros consumidores. Em geral, a transmissão de energia com condutores normais gera perdas consideráveis, assim, os fios supercondutores simplificam as redes de transmissão produzindo diminuições notáveis nas perdas. A dificuldade no emprego da tecnologia supercondutora reside no custo e na complexidade das técnicas de resfriamento dos fios a baixas temperaturas. Porém, linhas de transmissão de curta extensão já vêm sendo operadas experimentalmente em alguns países. 5. 2 Solenoide Supercondutor Fios supercondutores enrolados na forma de solenoides geram campos magnéticos elevados. Pequenos eletroímãs supercondutores, capazes de produzir campos magnéticos cuja magnitude pode alcançar mais de 20 T, são usados em laboratórios e disponíveis comercialmente há anos. O esquema na figura 8 é um solenoide supercondutor imerso em hélio líquido. Figura 8 - Solenoide supercondutor imerso em He líquido. Os eletroímãs supercondutores mais populares são aqueles usados nos sistemas de imagem por ressonância nuclear magnética (RNM). Campos magnéticos com valores entre 0,5 e 2 T são empregados nesta técnica. 5.2 Levitação Magnética Uma das mais charmosas aplicações da supercondutividade são os veículos levitados magneticamente. Um exemplo conhecido é o trem MAGLEV (Magnetic levitation) que opera há alguns anos no Japão. O princípio de operação do MAGLEV é baseado na repulsão entre solenoides supercondutores, localizados dentro do trem, e campos magnéticos gerados por correntes de Foucault induzidas no trilho, que é constituído de metal normal. O movimento do trem produz um fluxo magnético variável sobre o trilho, induzindo as correntes de Foucault. Eletroímãs supercondutores também são usados no sistema de guia, estabilidade e propulsão do trem. A levitação eletrodinâmica produzida pelos solenoides supercondutores elimina o atrito das rodas do trem com os trilhos, que é o principal fator limitante de velocidade. Assim, um trem MAGLEV pode alcançar velocidades superiores a 500km/h. [4]. Na figura 9 a seguir pode – se observar com maiores detalhes o esquema de um trem de levitação magnética, que utiliza o principio de Meissner para sua operação. Figura 9 - Esquema de funcionamento de um trem Maglev. No Brasil, temos O Maglev Cobra que é um veículo de levitação magnética em desenvolvimento no Laboratório de Aplicações de Supercondutores - LASUP, em parceria com outras instituições. Visando revolucionar o transporte coletivo com alta tecnologia, energia eficiente, não poluente e de custo acessível para os grandes centros urbanos. [2]. 5.3 Aplicações em pequena escala O dispositivo SQUID (Superconducting Quantum InterferenceDevice) é formado basicamente por um pequeno anel supercondutor contendo uma ou duas junções de Josephson, formada por dois eletrodos supercondutores separados por uma fina camada de material isolante onde pares de Cooper podem passar por tunelamento de um supercondutor para o outro, ligado a um circuito elétrico. Se o anel supercondutor tiver 1cm2 de área, terá uma densidade de fluxo magnético correspondente a 2,0x10-10 T, aproximadamente. Esta magnitude é 5 ordens de grandeza menor que a do campo magnético terrestre. [4]. Assim, os SQUIDS são usados em magnetômetros muito sensíveis, empregados em laboratórios de pesquisa, em equipamentos de prospecção geológica, em metrologia e em equipamentos para diagnóstico médico. A técnica médica mais disseminada que usa SQUID é a magnetoencelografia mostrada na figura 10, que detecta os fracos campos magnéticos gerados por correntes elétricas produzidas em eventos no cérebro. [4]. Atividades patológicas do coração também podem ser detectadas através de equipamentos cardiomagnéticos, equipados com sensores SQUID. Figura 10 - Esquema do SQUID. 5.5 Componentes para micro-ondas O princípio básico de funcionamento de detectores e geradores de micro-ondas capazes de operar em largos intervalos de frequências está no fator de conversão de 484 MHz/ microvolt, característico das junções de Josephson. [4]. Por outro lado, como a resistência superficial de supercondutores submetidos a correntes alternadas de grande frequência é muito menor que nos melhores condutores normais, filmes finos supercondutores são usados em componentes passivos para micro- ondas, tais como ressonadores, filtros, antenas, conformadores de pulso, entre outros. Figura 11 - Antena dipolar para microondas. Figura 12 - Esquema de filmes finos supercondutores. 13 Conclusões A supercondutividade tem fascinado gerações de cientistas e engenheiros. A manifestação de efeitos eletromagnéticos e quânticos em escala macroscópica, que está na essência do fenômeno, tem desafiado ao longo de décadas a imaginação e engenhosidade dos especialistas na área, muito dos quais contribuíram com grandes avanços, rendendo prêmios Nobel de Física. Após mais de cem anos da descoberta da supercondutividade, a área continua ativa e espera por superação. Dentre eles estão à descoberta e caracterização de novos materiais de alta temperatura crítica e a proposição de teorias que descrevam adequadamente o estado supercondutor que nele se estabelece. Portanto, esperamos que o Brasil tenha um papel ativo nesses novos desafios da supercondutividade. 14 Referências [1] BRAGA, Newton C. Supercondutores. Disponível em: <http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/como-funciona/1077-art157>. Acesso em: 12 jun. 2018. [2] COSTA, Marconi B.s.; PAVÃO, Antonio C. Supercondutividade: um século de desafios e superação. [3] COSTA, Cristiano Monteiro da; SANTOS, Wilma Machado Soares; LUIZA, Adir Moysés. SUPERCONDUTORES: APLICAÇÕES DAS JUNÇÕES JOSEPHSON NA ELETRÔNICA: IX encontro nacional de pesquisa em ensino de física. Rio de Janeiro: Instituto de Física, 2004. [4] OSTERMANN, Fernanda; PUREUR, Paulo. Temas atuais de física: Supercondutividade. São Paulo: Livraria da Física, 2005. [5] TEIXEIRA, Mariane Mendes. "O que é resistência elétrica?"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-resistencia-eletrica.htm>. Acesso em 12 de junho de 2018. [6] BASSALO, Prof. J. M. SEARA DA CIÊNCIA: A SUPERCONDUTIVIDADE. Disponível em: <http://www.seara.ufc.br/especiais/fisica/supercondutividade/supercondutividade4.htm>. Acesso em: 10 jun. 2018. Referências das figuras [1] Figuras 1, 2, 3, 4; OSTERMANN, Fernanda; PUREUR, Paulo. Temas atuais de física: Supercondutividade. São Paulo: Livraria da Física, 2005. [2] Figura 5; COSTA, Marconi B.s.; PAVÃO, Antonio C. Supercondutividade: um século de desafios e superação. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172012000200017>. Acesso em: 12 jun. 2018. [3] Figura 10; Rose-Innes e Rhoderick, 1988. [4] Figura 7; TIRELLI, Marcelo A.; BORMIO-NUNES, Cristina. Fios Supercondutores de Nb- Ti com centro de aprisionamento artificial de Cobre: Obtenção e Caracterização microestrutural. Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 14., 2000. São Pedro, Sp, p. 19901-19911. set. 2000. 15 [5] Figura 8; BOLDT, Dr. Klaus. Espectrômetro. Disponível em: <https://www.chemie.unihamburg.de/nmr/insensitive/tutorial/en.lproj/spectrometer.html>. Acesso em: 12 jun. 2018. [6] Figura 9; COYNE, Kristen. Supercondutividade. Disponível em: <https://nationalmaglab.org/education/tutorials/magnetacademy/superconductivity101/maglev.ht ml>. Acesso em: 12 jun. 2018. [7] Figura 10; ARIAS, Arnaldo González. Biomagnetismo cerebral. Disponível em: <http://www.geocities.ws/cytparatodos/vidaytierra/biomagnet-cerebral/index.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018. [8] Figura 11; DAHM, Prof. Dr. Thomas. Ressonadores de microondas supercondutores. Disponível em: <https://www.physik.uni-bielefeld.de/~dahm/project6.html>. Acesso em: 12 jun. 2018. [9] Figura 12; HOSTPLAN. Regra de Hund. Disponível em: <http://www.hostplan.com.br/servicos/componentes/quimica/estudo-eletrosfera.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018.
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