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texto_da_UFRJ_sobre_as_causas_e_consequencias_da_depressao_economica_de_1929

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P á g i n a | 1 
 
A ECONOMIA POLÍTICA DA GRANDE DEPRESSÃO DA DÉCADA DE 1930 
NOS EUA:VISÕES DA CRISE E POLÍTICA ECONÔMICA, SEMELHANÇAS E 
DIFERENÇAS COM A CRISE ATUAL 
 
Luiz Carlos Delorme Prado(*) 
lcdprado@gmail.com 
 
1- Introdução 
Uma frase conhecida, escrita por J.M.Keynes, observava que as idéias dos 
economistas e dos filósofos políticos, certas ou erradas, são mais poderosas do que 
normalmente se considera1. Uma outra forma de apresentar a mesma proposição, de 
forma mais amena, é afirmar que as idéias dos economistas têm o potencial de gerar 
poder político. Isto é, idéias na forma de teorias econômicas (e de políticas propostas a 
partir delas) são justificativas para que burocratas, políticos e outros membros do 
aparato do Estado tomem decisões e realizem escolhas entre estratégias econômicas e 
políticas que considerem viáveis ou convenientes. 
Mas simplesmente afirmar que as idéias são importantes é muito pouco: elas não são 
variáveis puramente exógenas2. As razões porque determinadas idéias são escolhidas e 
outras abandonadas devem ser buscadas não apenas na história das idéias, mas também 
na dinâmica dos interesses econômicos ou políticos, ou seja, na história de uma dada 
sociedade.3 Mas as idéias econômicas são formuladas e difundidas a partir de caminhos 
peculiares a esse campo de conhecimento4. A economia, sendo uma ciência social, tem 
como uma das principais formas de testar empiricamente suas proposições a análise de 
fenômenos históricos. Estes são, portanto, um objeto de estudo para a disciplina de 
história econômica, mas são, também, um laboratório para testar o poder de explicação 
de um modelo teórico. 
Nesse sentido, a Grande Depressão da década de 1930 tem sido um campo fértil5. 
Esse fenômeno foi estudado por todas as correntes econômicas. Suas interpretações 
foram armas em alguns dos mais ferrenhos embates acadêmicos do século XX. Em 
 
(*)
 – Professor do Instituto de Economia da UFRJ. 
1
 - Keynes, 1936, p.383. 
2
 - Ver para uma discussão do tema, Hall, 1989, cap.14. 
3
 - “Idéias legitimam o poder, são sua essência, pois dão-lhe o caráter de justiça ou de inevitabilidade 
que permitem que seja exercido em atos rotineiros, com a assepsia da normalidade.” Prado, 2006, p.254 
4
 - Ver sobre a difusão das idéias econômicas o livro editado por Colander & Coats, 1993. 
5
 - Usei a expressão a Grande Depressão da Década de 1930, porque há historicamente outras depressões, 
como a Grande Depressão do Século XIX, iniciada em 1873. No entanto, daqui para frente quando usar a 
expressão Grande Depressão, com letras maiúsculas, estarei sempre tratando do fenômeno do século XX. 
P á g i n a | 2 
 
especial, esse foi um dos cenários em que as duas principais correntes do pensamento 
econômico ocidental se enfrentaram. 
Por um lado, os defensores da idéia de mercado auto-regulado, em especial os 
monetaristas, viam a crise necessariamente como resultado de erros de política 
econômica. Afinal, para eles, sem a ação humana, as forças de mercado poderiam 
conviver com ciclos econômicos, onde recessões seriam naturalmente revertidas por 
mecanismos automáticos, mas não produziriam depressões persistentes com a da década 
de 1930. 
Por outro lado, aqueles que consideravam que a dinâmica da economia de mercado 
não é incompatível com diversos tipos de equilíbrio, inclusive muito distantes das 
situações de pleno emprego, como os keynesianos, entendiam que a crise poderia ter 
causas não monetárias, como flutuações autônomas no consumo, com efeitos sobre a 
demanda agregada nos EUA. Mas, esses economistas explicavam a extensão e duração 
da crise pela incompreensão de sua natureza pelos economistas ortodoxos e, portanto, os 
policy makers, orientados por essas idéias equivocadas, eram incapazes de usar políticas 
econômicas corretas para combatê-las. 
Este trabalho pretende revisitar esta crise recuperando as interpretações sobre sua 
natureza realizadas à época dos eventos e aquelas formuladas pelas diversas correntes 
econômicas nos anos do pós-guerra. Mas o trabalho tem também o objetivo de mostrar 
as transformações no papel do Estado e na política econômica como resultado das 
interpretações sobre a Grande Depressão. Finalmente, este trabalho pretende apontar 
algumas semelhanças e diferenças entre a crise atual e aquela de 1930. 
 Este é um trabalho de história das idéias econômicas. Mas, as interpretações 
econômicas e políticas, assim como os aspectos de teoria das relações internacionais 
não serão tratados como áreas de conhecimento separadas, mas como elementos 
fundamentais para compreensão dos debates sobre as causas da crise e sobre as políticas 
públicas necessárias para enfrentá-las. 
 
2- Bolhas, Crashes, Pânicos e Crises Econômicas 
Nas referências sobre crise econômica no período entre-guerras não é incomum 
certo grau de confusão entre eventos de duração relativamente limitada, tal como a 
P á g i n a | 3 
 
bolha ou mania na bolsa de valores de Nova York e seu estouro (ou crash) em outubro 
de 1929 e a Grande Depressão. Esta, diferente daquele evento, que foi limitado no 
tempo e espaço, é um fenômeno extenso no espaço e prolongado no tempo. Chamamos 
de Grande Depressão, não o crash de 1929, mas a deflação do preço das mercadorias e 
ativos, causada pela dramática redução do nível de atividade econômica, que afetou a 
economia norte-americana, mas também, embora de maneira desigual, a economia da 
maioria dos países do mundo, durando cerca de uma década, ou seja, até o advento da 
Segunda Guerra Mundial.6 
No estudo de crises econômicas é fundamental a identificação adequada de 
processos com efeitos parecidos, mas produzidos por mecanismos muito distintos, para 
evitar erros conceituais relativamente simples.7 Para isso serão definidos os seguintes 
conceitos: (i) Estouro de bolha ou crash; (ii) Pânico ; (iii) Flutuações ou ciclos 
econômicos; (iv) crises financeiras; (v) crises econômicas; (vi) recessão e (vi) 
depressão. 
O estouro de uma bolha (um crash) é o colapso dos preços de ativos, tais como 
ações ou títulos negociados em bolsas de valores ou a quebra de um grande banco ou de 
um grupo de empresas em um setor da economia.8 Pânicos são corridas sem causa 
aparente que envolve fuga de ativos considerados mais arriscados para ativos mais 
seguros e/ou a retirada de depósitos bancários, e outros mecanismos de busca de 
refúgios seguros para a aplicação de ativos e uma súbita elevação da preferência pela 
liquidez.9 Uma crise financeira pode ser produzida por qualquer um desses fenômenos 
 
6
 - A grande exceção foi a economia da União Soviética que, desvinculada da economia mundial, não 
passou pelas dramáticas quedas de nível de atividade, ao contrário, viu-se em um período de forte 
crescimento econômico como resultado dos planos qüinqüenais. Alguns países periféricos, como o Brasil, 
foram capazes de sair da crise relativamente rápido, mesmo sendo afetados nas suas receitas de 
exportação. Na Europa os efeitos da crise foram distintos, sendo que alguns, como a França, que 
insistiram em manter o padrão ouro, a depressão durou por mais tempo e outros, como a Alemanha, 
foram capazes de entrar em uma trajetória de recuperação já a partir de 1934. Para uma visão ampla sobre 
a Grande Depressão na Europa ver Clavin, 2000. A interpretação clássica sobre os efeitos no Brasil da 
Grande Depressão é de Furtado, 1959. Para um estudo sobre a economia brasileira na década de 1930 ver 
Leopoldi, 2003. Ver também o livro editado pela professora Thorp, 1984, com vários estudos sobre os 
efeitos da Grande Depressão nos países latino-americanos. 
7
 - Na definição desses conceitos a obra de referência é o livro de C.P.Kindleberber,1989. Esta obra que 
vai aprofundar sua teoria sobre crises financeiras, propostas em trabalho anterior (ver Kindleberger 
1987), entra em grande detalhe na identificação de cada um desses mecanismos. 
8
 - Entre exemplos desses fenômenos temos a crise do Encilhamento no Brasil, o crash da NYSE de 
outubro de 1929. Um exemplo recente é o crash do NYSE em 19 de outubro de 1987, quando o índice 
Dow Jones da Bolsa de Valores de Nova York caiu 508 pontos ou seja 23%. 
9
 - Este é um fenômeno comum em situações de boatos de quebra de bancos, ou no temor da mudança de 
uma política econômica, como no caso da corrida pela liquidação dos depósitos em dólar nos bancos 
P á g i n a | 4 
 
ou pelos dois que podem surgir em qualquer ordem, ela caracteriza-se pela elevação 
súbita da percepção de risco pelos bancos e outras instituições financeiras, com efeitos 
sobre a oferta de crédito, solvência dos bancos e liquidez da economia.10 
Crises financeiras normalmente são acompanhadas por redução do nível de 
atividade econômica e, em muitos casos, por crises econômicas, como recessões. Esta 
é uma crise econômica de duração relativamente curta, que pode ser localizada em 
certos setores da economia, que pode ou não ser acompanhada por queda do preço dos 
ativos e mercadorias. Depressões econômicas são fenômenos mais raros, implicam em 
simultânea e duradoura redução de preços de ativos e mercadorias, normalmente 
provocada por forte queda do nível de atividade econômica, que são acompanhadas por 
falências e fechamento de negócios em vários setores da economia, forte aumento da 
taxa de desemprego, redução de atividades de comércio exterior e instabilidade social e 
política. Crises econômicas são fenômenos de redução da demanda e súbito aumento 
da percepção de risco, afetando empresas do setor real da economia, com efeitos sobre a 
solvência das atividades econômicas e queda na taxa de lucro e nos níveis de 
investimentos, podendo se manifestar como recessões ou depressões. 
Flutuações econômicas, ou ciclos econômicos, são alterações na dinâmica das 
atividades econômicas, que se manifestam por aceleração ou redução da taxa de 
crescimento econômico, investimento, nível de emprego, taxa de lucro ou nível dos 
preços. Mas essas oscilações do ciclo econômico não levam necessariamente a 
depressões, nem mesmo a recessões, mas são caracterizadas por diferentes ritmos da 
atividade econômica, associadas a diferentes fatores, tais como, acumulação de estoque, 
nível da capacidade instalada, características técnicas de investimentos e/ou mudanças 
tecnológicas.11 
Para se estudar crises econômicas é necessário deixar claro a unidade de análise. O 
estouro de uma bolha é um evento, parte de uma conjuntura econômica. Por sua vez, é 
necessário distinguir uma mudança conjuntural, associada a flutuações nos ciclos 
 
argentinos nas vésperas do fim da conversibilidade. Para uma interessante descrição de um pânico 
bancário em um período recente ver Souza, 2007, PP.260-264. 
10
 - Ver Kindleberger, 1989 p.126. 
11
 - Para uma teoria dos ciclos econômicos ver Schumpeter, 1934 ver, também, the Lowell Lecture, 
(Schumpeter1941), aula IV uma interessante apresentação do autor para um público não especializado. A 
principal obra de Schumpeter sobre Ciclos Econômicos (Schumpeter 1939) é excessivamente extensa, 
tem mais de 1000 páginas, e nem sempre é muito clara. Um trabalho interessante é o livro clássico sobre 
ciclos econômicos de Wesley, 1927. Para uma história do debate sobre ciclos econômicos na década de 
1930, ver Boianovsky & Trautwein, 2006. 
P á g i n a | 5 
 
econômicos de curto ou médio prazo, de mudanças de tendências, que são 
transformações estruturais12. Crise é definida por Braudel como “uma ruptura, uma 
descontinuidade, um instante...”.13 Usa-se o termo crise para tratar simultaneamente de 
fenômenos que impactam a conjuntura e que provocam mudanças estruturais. Estas 
últimas implicam em mudanças nas tendências de longo prazo e, portanto, levam a 
alterações que transcendem a esfera econômica, envolvendo aspectos políticos, 
culturais, jurídicos etc. 
 Por sua vez, depressões econômicas são fenômenos conjunturais que podem (ou 
não) levar a mudanças estruturais. Por exemplo, a Grande Depressão do século XIX, 
que iniciou-se em 1873, não levou mudança estrutural na economia mundial, como a 
provocada pela Grande Depressão da década de 1930. No primeiro caso, manteve-se o 
sistema monetário internacional e, nas relações políticas e econômicas internacionais, a 
Grã-Bretanha continuou com seu papel hegemônico, apesar do desafio do surgimento da 
Alemanha unificada, como a maior potencia continental. No entanto, no segundo caso, 
tanto o Sistema Monetário, como a potencia hegemônica e outros elementos 
econômicos e políticos fundamentais (como o papel do Estado), alteraram-se devidos os 
acontecimentos ocorridos entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. 
 Este trabalho estudará as interpretações da crise econômica que afetou a 
economia norte-americana e mundial na década de 1930 e que levou a mudanças de 
longo prazo na ordem econômica internacional. Ou seja, a Grande Depressão foi uma 
crise que transcendeu a conjuntura, levando a mudanças estruturais. Estas 
interpretações foram, também, justificativas para as decisões econômicas e políticas que 
levaram as essas mudanças. Portanto, discutir as visões das diversas correntes 
econômicas sobre a Grande Depressão, implica, também, em mostrar como essas 
 
12
 - Qualquer definição de tempo histórico passa necessariamente pela contribuição de Braudel. Na obra 
“O Mediterrâneo”, Braudel distingue três unidades temporais de análise: A long durée, com mudanças 
lentas, imperceptíveis durante a vida do homem; a conjuntura, com mudanças que se processam em anos 
ou em poucas décadas; e os acontecimentos, que tratam dos fatos cotidianos, relatados na forma narrativa 
dos historiadores tradicionais. Para ele “acontecimentos são poeira: atravessam a história com breves 
clarões; mal nascem regressam logo à escuridão e muitas vezes ao esquecimento.” Braudel, 1966,vol.II, 
p.273. Ou seja, na sua unicidade acontecimentos não ensejam nenhuma explicação. Mas, os 
acontecimentos são engendrados pelas estruturas e conjunturas, podem ser rupturas do equilíbrio ou 
restabelecimento desses. Nesse sentido, os acontecimentos podem ser estudados para entender as 
mudanças nas dimensões mais permanentes das conjunturas e das estruturas. Ver Le Goff,1998, p.113. 
Observe-se que, nesse artigo, não faço uma aplicação literal dos tempos históricos braudelianos, faço, no 
entanto, distinção entre estrutura (com mudanças mais lentas, com instituições e mecanismos próprios de 
funcionamento), conjuntura (mudanças dentro de uma estrutura) e eventos, acontecimentos que ocorrem 
nas estruturas econômicas. 
13
 - Ver Braudel, 2002, p.130. 
P á g i n a | 6 
 
abordagens influenciaram ou foram influenciadas pelas novas idéias econômicas, na 
forma de teorias ou políticas econômicas. 
3- Do Boom à Crise 
A economia mundial na década de 1920 foi caracterizada por grande instabilidade 
financeira e pelas frustradas tentativas de se reintroduzir o Padrão Ouro. Esse sistema 
monetário foi abandonado durante os primeiros meses de Guerra pelas nações 
beligerantes. Isto decorreu da necessidade desses países de empreender políticas 
monetárias expansionistas para fazer face aos compromissos de guerra, levando 
inclusive a pressões inflacionárias desconhecidas na Europa desde as Guerras 
Napoleônicas.14 
Terminada a Guerra o processo de reconstrução das economias européias foi 
demorado e marcado porcrises inflacionárias e reformas monetárias. Cinco países 
passaram por violentas hiperinflações na década de 1920 para afinal estabilizar suas 
economias sob uma nova moeda15. Outros países, tais como a França, Bélgica e 
Inglaterra passaram por surtos inflacionários menores, mas nem por isso desprezíveis. 
Quase a totalidade dos países envolvidos no conflito foram obrigados a reduzir o 
conteúdo de ouro em suas moedas com referência ao período anterior ao conflito. As 
exceções foram os EUA, que retornou ao Padrão Ouro em junho de 1919 e a Inglaterra, 
que retornou à ao Padrão Ouro em abril de 1925. No, entanto, enquanto no primeiro 
caso, os EUA assumiram no pós-guerra a posição de maior credor mundial e entraram 
em um período de prosperidade sem precedentes, a Inglaterra enfrentou grandes 
dificuldades financeiras, com uma decisão de manter uma taxa de câmbio 
sobrevalorizada, por razões mais políticas do que econômicas.16 
A década de vinte caracterizou-se por rápido aumento da produtividade das plantas 
industriais norte-americanas. Este foi um resultado da aplicação do conhecimento 
científico acumulado nas décadas anteriores e do desenvolvimento de novas 
 
14
 - Para uma descrição dos problemas monetários desse período ver, Drumond, 1987, PP.29-30; Ver 
Alcroff , 1987 para um detalhado estudo de História Econômica do período 1919-29. 
15
 - Esses países foram Alemanha, Austria, Hungria, Polônia e Rússia. Os preços desses países 
aumentaram, segundo dados de Alcronft, (1978, p.138), sobre o preço base do ano anterior a Guerra os 
preços foram multiplicados por 1 trilhão, 14.000, 23.000, 2,5 milhões e 4 bilhões. 
16
 - Ver Drumond, 1987, p.30. A Grã-Bretanha retornou ao padrão ouro com a paridade da Libra do 
período pré-guerra em Abril de 1925, com conseqüências funestas para sua economia. Tal fato foi 
criticado em famoso panfleto de Keynes (1925). Ver sobre os problemas de estabilização da Libra e do 
Franco o interessante trabalho de Bordo & Hautcoeur, 2003. 
P á g i n a | 7 
 
tecnologias para as instalações e equipamentos fabris. Essa onda de inovações aumentou 
a eficiência das fábricas instaladas e dos equipamentos empregados, mas o tamanho das 
fábricas e do estoque físico de equipamentos permaneceu o mesmo. As principais 
características do período foram a mecanização e padronização, que associada à 
eletrificação industrial, viabilizaram a produção em massa.17 Nesse período houve 
simultaneamente um rápido aumento da produtividade, ampliando a oferta de produtos 
industriais com redução dos preços, e um rápido aumento da demanda, em decorrência 
do crescimento da renda e dos novos mecanismos de crédito. 
 O aumento da demanda por produtos como automóveis, rádios, raion estimulou a 
demanda por gasolina, tintas, solventes, produtos químicos, produtos metalúrgicos etc.18 
O dinamismo da economia na década de 1920 teve como seu grande símbolo a 
construção dos arranhas-céus em Nova York, como o Empire State, por muitas décadas 
o prédio mais alto do mundo, e o Rockfeller Center, mas também pelo vigor da vida 
cultural em grandes cidades como Nova York e Chicago, que não foi substancialmente 
perturbada por uma Lei Seca que não impedia o fácil acesso à bebidas aos que 
desejassem.19 
A principal indústria do período foi a automobilística. Antes da Guerra, em 1913, 
os EUA produziam 485.000 veículos, mais do que o resto do mundo somado. Em 1925 
a produção alcançou 3.7 milhões de automóveis, empregando direta e indiretamente 4,3 
milhões de trabalhadores, com faturamento total no país e valor de exportação superior 
a qualquer outra industria manufatureira. Em 1928, quando a produção alcançou seu 
apogeu na década, foram produzidos nos EUA cerca de 4, 4 milhões de veículos.20 
Nesse período, os setores mais dinâmicos da economia norte-americana já eram 
liderados por empresas de grande porte, operando nacionalmente, muitas delas com 
gestão profissional, sob controle de uma burocracia chefiada por executivos 
contratados.21 A regulação ou coordenação de autoridades ou órgãos públicos era 
suave. Antes de 1930, havia um grau de liberdade de atuação empresarial, protegida da 
 
17
 - Ver Lorant, 1967, p.243. 
18
 - O artigo de Lorant, 1967 descreve as diversas inovações técnicas nos EUA, em bens intermediários, 
na década de 1920. Entre elas as técnicas de craqueamento de derivados de petróleo, as novas tecnologias 
na fabricação de papel, vidro e outros produtos. 
19
 - Para uma descrição da vida cultural e política dos EUA ver Brogan, 1985, cap.21. 
20
 - Dados de Foreman-Peck, 1982, p.867 e tabela 1, p.868. Em 1929 havia 26,7 milhões de veículos 
registrados nos EUA, que, na época, tinha 122 milhões de habitantes. Ver Brogan 1985, p.509 e USA - 
Census Bureau, Historical Statistics, 2009. 
21
 - Ver Chandler, Jr & Galambos, 1970, p.207. 
P á g i n a | 8 
 
interferência do Estado, sem qualquer paralelo com o ambiente empresarial, muito mais 
regulado, do mundo posterior a Grande Depressão.22 
A Primeira Guerra Mundial foi benéfica para a economia norte-americana. Eles 
estavam separados por um oceano do local do conflito, e tornaram-se grandes 
fornecedores de produtos essenciais à subsistência e ao esforço de guerra de seus 
aliados. Mas a sociedade norte-americana continuou, essencialmente isolacionista: o 
país pouco contribuiu para a reconstrução e estabilização européia. Ao final do conflito 
os EUA tornaram-se a mais importante e a maior economia do mundo. O país entrou na 
Guerra como devedor líquido de 3 bilhões de dólares e saiu como credor líquido de 6 
bilhões de dólares, fora os créditos de guerra com os aliados. 
Esse país retornou ao padrão ouro, logo depois da Guerra, com a mesma paridade de 
antes do conflito, mas com sua posição financeira fortalecida. Sua participação nas 
reservas mundiais desse metal aumentou de menos de ¼ em 1913, para cerca de 40% 
em 1921.23 
Os antigos credores, as ex-potencias exportadoras de capital européias, passaram a 
depender dos EUA para seu próprio financiamento. Inglaterra e França, grandes fontes 
de financiamento internacional até a Primeira Guerra Mundial, ficaram dependentes de 
empréstimos de longo prazo dos EUA, para continuar com operações de empréstimos 
de curto prazo para outros países. Desde o século XIX, os EUA tinham uma tradição de 
praticar elevadas tarifas alfandegárias. Sua nova posição econômica não alterou suas 
políticas comerciais. A manutenção do protecionismo pelos EUA não contribuía para 
reduzir os problemas de balança de pagamento de seus parceiros na Europa. E, ainda, a 
ausência de qualquer coordenação, ou mesmo um mínimo de consistência nas políticas 
cambiais européias fazia a situação financeira do continente ainda mais difícil. Ou seja, 
a combinação da libra sobrevalorizada, do franco desvalorizado e do nacionalismo 
econômico e o protecionismo norte-americano fez com que o boom da economia 
européia, a partir de 1925, fosse frágil e de curta duração. Nas palavras de Kindleberger: 
“Depois da recuperação, a partir de 1925, veio o boom. Não era generalizado, 
ininterrupto ou amplo. E, ainda, mostrava sinais crescentes de tensão: na acumulação 
 
22
 - O ambiente de maior liberdade para a atuação das empresas deve ser entendido de forma comparativa. 
Ou seja, não se vivia em um mundo de absoluto laissez-faire. Havia interferência do governo em certas 
áreas e existiam leis de defesa da concorrência, que permitiam algum controle das empresas com grande 
poder de mercado. Ver Chandler, Jr. & Galambos, 1970, p.206. 
23
 - Ver Mitchell, 1975, p.6. 
P á g i n a | 9 
 
de estoques de produtos primários; no aumento do preçodos títulos à níveis 
estonteantes; e na exacerbação das dificuldades financeiras e políticas. Mas era um 
boom.” 24 
A crise econômica interrompeu esse novo ciclo de crescimento na Europa. Os 
primeiros efeitos deram-se a partir da recessão norte-americana de 1929, mas com a 
depressão, em 1930, a Europa sofreu forte desaceleração econômica. Em 1931 o 
continente passou por uma das maiores crises bancárias de sua conturbada história 
financeira, para, afinal, enterrar definitivamente a ilusão de que o Padrão Ouro poderia 
subsistir. 
Se a produção industrial é um indicador confiável para o início da depressão, essa 
surgiu, na maioria dos países, aproximadamente na mesma época. O pico da produção 
no período entre guerras deu-se em 1929 para maioria dos países, cujos dados são 
disponíveis por estatísticas preparadas pela Liga das Nações.25 Entre aqueles em que a 
produção alcançou seu pico nesse ano, incluem-se as principais economias 
industrializadas, entre elas os EUA, Canadá, Alemanha, Japão e Reino Unido. As 
exceções foram França e Suécia que tiveram o pico da produção em 1930. A queda do 
nível de atividade na indústria foi particularmente severa nos EUA, que sofreu uma 
redução da produção muito maior que a média mundial e dos países europeus.26 
A produção industrial continuou caindo rapidamente, e a taxas ainda maiores, em 
1931 e 1932. Embora em todo o mundo a crise se aprofundasse, há variações 
importantes da redução da produção entre os países. Novamente, para a maioria dos 
países, o nível mínimo de produção foi em 1932. Este foi o caso dos EUA, Alemanha e 
Reino Unido. As principais exceções foram o Japão, que chegou ao piso em 1931 e a 
França, cujo o piso foi em 1935.27 
Tal como a queda, a retomada do crescimento deu-se, para a maioria dos países, 
aproximadamente na mesma época. No entanto, o tamanho da redução da produção e a 
velocidade de recuperação econômica diferiu substancialmente entre os países. Por isso, 
houve significativa diferença entre os anos em que os países voltaram a registrar nível 
de atividade no patamar anterior a crise. 
 
24
 - Kindleberger, 1987, p.42. 
25
 - Minhas fontes são League of Nations, Statistical Yearbook, 1938-39 e, ainda, o bem documentado 
artigo de Romer, 1993, pp.20-23. Para dados dos EUA uso também USA – Census Bureau ,Historical 
Statistics, 1975. 
26
 - Ver tabela I, em Anexo. 
27
 - Dados de Romer, 1993 e da League of Nations, Statistical Yearbook, 1938-39. 
P á g i n a | 10 
 
 O Japão foi um dos primeiros países a recuperar o nível de produção para o 
patamar anterior a depressão. Esse país, já em 1933, voltara a alcançar a mesma patamar 
produção de 1929. Para Dinamarca, Finlândia e Suécia o ano de total recuperação foi 
1934; o Reino Unido alcançou esse nível em 1935; a Alemanha em 1936; e em 1937 foi 
a vez de Itália, Canadá e Austria. Pelos dados da Liga das Nações, os EUA, Bélgica, 
França e Holanda, tiveram que esperar ainda mais para a total recuperação da produção 
industrial.28 
 Esses números mostram que não é possível, baseado exclusivamente nos dados de 
nível de atividade, concluir que a crise econômica originou-se nos 
EUA. Esses dados sugerem que esse país seguiu um curso muito similar a outras 
economias industrializadas. Mas tais informações também indicam que a queda do nível 
de atividade foi maior nesse país. Ou seja, nos EUA a crise foi mais profunda e a data 
final de recuperação foi uma das mais tardias. Por outro lado, há indícios de uma rápida 
recuperação da produção industrial em 1933 pelos EUA, mas que não manteve o vigor 
em 1934, retornando a acelerar em 1935 e 1936, para voltar a enfrentar uma retração em 
1937. 
Embora, não possa se tirar conclusões definitivas exclusivamente de dados de 
produção industrial, fica claro que a crise econômica nos EUA e no resto do mundo está 
fortemente correlacionada. Mas, não há dúvida que os primeiros indícios de uma crise 
surgiram nos EUA, não apenas pela desaceleração da atividade produtiva, mas também, 
pelo estouro da bolha no mercado de ações. 
O debate sobre a origem da Grande Depressão foi muitas vezes influenciado pelo 
evento mais visível, que foi o crash na bolsa em 1929. Mas, a rápida deflação do preço 
das ações, isoladamente, não explica a profundidade, nem a extensão da crise. Portanto, 
essa primeira discussão terá necessariamente que mostrar a ligação entre este primeiro 
evento, o estouro da bolha, com o sucessivo comportamento de pânico, e a rápida 
redução do nível de atividade econômica, a crise bancária de 1931 e finalmente a 
extensão geográfica e a duração da depressão. 
 
28
 - Os dados da Liga das Nações não são mantidos na mesma base depois de 1937, não permitindo 
comparação adequada. Usando os dados do Federal Reserve Board, os EUA retornaram ao nível de 
produção industrial de 1929 em 1937, mas a produção reduziu-se com a crise econômica desse ano, sendo 
que a produção de 1938 caiu para o nível de 1935. Por outro lado, outras fontes mostram que o PIB dos 
EUA voltam ao nível de 1929 em 1937, mas a renda per capita daquele ano só será novamente alcançada 
durante a Segunda Guerra Mundial. Ver dados de USA-Census Bureau, Historical Statistics, 1975. 
P á g i n a | 11 
 
4- Do Crash a Depressão: A visão dos Contemporâneos 
Um erro comum em história econômica é imaginar que os contemporâneos 
pudessem tomar decisões baseados em uma perspectiva dos acontecimentos que só as 
gerações futuras poderiam ter. No ano de 1929, apesar da atividade econômica ter 
iniciado sua desaceleração em junho, não havia qualquer indicação que uma grande 
crise econômica estava para ser gestada.29 Ou seja, embora possa ser plausível que os 
índices da produção industrial possa ter afetado algumas decisões de compra, ninguém 
poderia na época saber e/ou prever o início de um processo duradouro de redução dos 
níveis de atividade econômica. Portanto, a súbita inversão do preço das ações no outono 
de 2009 não podem ser buscada em qualquer percepção dos contemporâneos de que a 
prosperidade da década de 1920 estava terminada. 
 Como argumentou Gailbraith, em seu famoso estudo sobre o crash, “é da natureza 
de um boom especulativo que qualquer coisa pode derrubá-lo”. 30 Mas a Grande 
Depressão não se explica pelo estouro da bolha entre 21 e 24 de outubro de 1929. Esses 
eventos certamente levariam a uma crise financeira e uma recessão, mas não era por si 
só suficientes para provocar uma depressão, como a que devastou a economia dos EUA 
e do resto do mundo, transformando-se em uma crise política que foi uma das causas 
remotas da Segunda Guerra Mundial. 
Nenhum dos serviços de projeção econômica, comuns à época, tais como os de 
Harvard e Yale, que usavam as teorias de ciclo para fazer indicadores do ambiente dos 
negócios, foram capazes de antecipar a crise, ou mesmo avaliar a gravidade da situação 
econômica até que essa ficasse óbvia ao final de 1930.31 Quando o tamanho e a extensão 
da crise foi percebida, surgiu a discussão sobre sua natureza e sobre que medidas 
deveriam ser tomadas para enfrentá-la. 
De início a influencia de idéias que viriam ser mais tarde formalizadas por Keynes 
em 1936, eram praticamente inexistentes. Nesse debate havia uma correlação entre a 
explicação da origem da crise e a possibilidade de políticas ativas para reduzir ou 
 
29
 - De fato a produção industrial chegou ao pico em junho e iniciou um lento processo de desaceleração, 
sendo que é possível que em agosto já houvesse sinais que a economia poderia estar entrando em 
recessão. Dados de Galbraith, 1988, p.88. 
30
 - Galbraith, 1988,p.90. 
31
 - Estudos recentes mostram que, mesmo com as técnicas contemporâneas,considerando-se as 
principais teorias sobre a Grande Depressão, dificilmente a crise poderia ser antecipada. Ver 
Dominguez,Fair & Shapiro, 1988. Para uma história dos serviços de Forecasting do período, ver Rötheli, 
2007. 
P á g i n a | 12 
 
reverter seus efeitos. Entre os contemporâneos duas interpretações polarizaram o debate 
nos EUA, esses dois grupos podem ser chamados de (i) céticos da estabilização e (ii) 
defensores da estabilização. : 
Para os céticos da estabilização a crise era um processo inevitável, característico da 
dinâmica econômica, sendo provocada por choques reais, ou seja, pelos mecanismos 
que criavam os ciclos econômicos, fenômenos conhecidos e estudados na literatura 
econômica da época. Esta interpretação, por sua vez, podia ser dividida em duas 
correntes: (a) liquidacionista - a que considerava que a crise tendo seguido seu curso 
iria necessariamente ceder, purgando o ambiente econômico de suas empresas mais 
ineficientes, tese que foi posteriormente chamada de liquidacionista32; (b)- crise de 
realização - e a que considerava que essa era produto dos ciclos econômicos típicos da 
dinâmica de uma economia capitalista, ou seja, era um problema de realização.33; 
Para os defensores da estabilização a crise era causada por erros de política 
econômica e, portanto, poderia ser corrigida por ação das autoridades, ou era provocada 
pelo comportamento de empresários gananciosos e de um governo que não controlava 
ações de trustes e cartéis, o que também poderia ser corrigido por regulação. 
Entre economistas acadêmicos, o debate dava-se em duas partes: primeiro, a 
discussão sobre a origem da depressão; segundo; a discussão sobre os remédios para 
combatê-la. Uma amostra interessante dos debates acadêmicos do período foi registrada 
pela American Economic Association em uma sessão realizada no Encontro de 1931 
sobre o tema da depressão econômica de 1930.34 A discussão foi organizada a partir da 
apresentação de dois artigos de eminentes economistas: Joseph Schumpeter, na ocasião 
 
32
 - A Tese liquidacionista argumentava que era inerente ao ciclo econômico purgar o sistema das 
empresas mais ineficientes e projetos menos rentáveis. Ou seja, a quebra de empresas era a contrapartida 
para um período de crescimento na fase ascendente do ciclo. Para um estudo detalhado sobre esta tese 
ver, De Long, 1990. 
33
 - Esta era uma tese defendida por marxistas e outros autores de esquerda. No caso dos EUA a 
influencia dessa corrente era pequena e quase inexistente nos meios acadêmicos. Por outro lado, J. A 
Hobson, que não era marxista, mas cujas idéias foram importantes para autores marxistas, influenciou o 
debate através de autores institucionalistas como John R.Commons. O autor britânico, no entanto, embora 
partidário da tese de que a economia capitalista tinha problemas de realização e produzia desemprego, 
considerava a possibilidade de políticas de redistribuição de renda tivessem um efeito anti-cíclico. Para 
uma interpretação de Commons sobre a Teoria de Desemprego de Hobson ver Commons, 1923. Os 
marxistas era praticamente inexistentes nas grandes universidades norte-americanas. O mais importante 
acadêmico, economista marxista, norte-americano, Paul Sweezy, só passou a considerar-se marxista em 
1932. Mas segundo ele, precisou a maior parte da década de trinta para adquirir, como autodidata, uma 
razoável formação marxista.Ver Sweezy, 1996. 
34
 - Este debate encontra-se nos Papers and Proceedings of the Forty-Third Annual Meeting of the 
American Economic Association. A referência completa está na bibliografia com o nome dos primeiros 
autores, ver Adams, Arthur et alii, 1931; Schumpeter, 1931 e Snyder, 1931. 
P á g i n a | 13 
 
professor da Universidade de Bonn, Alemanha, e Carl Snyder, famoso estatístico e 
economista conservador que trabalhava no Federal Reserve Bank de Nova York.35 Esses 
artigos seriam comentados por economistas renomados, membros da Economic 
Association. 
 O artigo de Schumpeter parte da argumentação de que todo fenômeno individual 
tem causas múltiplas e, portanto, escolher um fator, só tem sentido se o argumento for 
de que a importância de tal ponto é tal, que outras causas podem ser negligenciadas em 
uma primeira aproximação. Nessa linha o autor discute se a crise pode ser atribuida a 
causas externas, ou seja “a uma seqüência de eventos desafortunados, sem os quais 
haveria uma contínua prosperidade, ou ao menos, seria mantido o fluxo normal da vida 
econômica”.36 O economista austríaco rejeita esta hipótese. 
 Schumpeter atribui a crise aos seguintes fatores. Em primeiro lugar, as mudanças 
tecnológicas no pós-guerra teriam criado perturbações que por si só eram suficientes 
para provocar adaptações ou recessões. Para ele tais mudanças têm efeitos com 
intensidades distintas até que o progresso técnico leve as alterações nos métodos de 
produção e tenham tempo suficiente de produzir resultados, ou seja, até que os novos 
planos fabris tenham sido executados e as mercadorias produzidas dessa forma cheguem 
ao consumidor. Para o autor, cada uma dessas ondas de inovação afetam, de diferentes 
formas, os negócios e interferem umas com as outras. Três tipos de ondas são 
reconhecidas (as ondas longas; o ciclo Juglar; e os ciclos de curto prazo, isto é, com 40 
meses), Schumpeter argumenta que em 1930 esses ciclos coincidiram em uma fase 
depressiva. 
 Para ele, no entanto, se essa fosse a única razão os efeitos poderiam ser de uma 
recessão ou redução das taxas de crescimento. Mas a profundidade da crise teria que ser 
explicada pela confluência de outros fatores. Esses seriam a crise no setor agrário, cuja 
dinâmica era independente da crise no setor manufatureiro, mas igualmente grave e 
generalizada. Finalmente, fatores monetários contribuíram para a depressão. Entre eles 
o retorno ao padrão ouro e o pagamento de reparações de guerra pela Alemanha, que 
contribuíram para que fossem tomadas medidas deflacionárias. 
 
35
 - Snyder foi presidente da American Statistical Association. Escreveu em 1940 uma obra de grande 
erudição, intitulada Capitalism the creator, (ver Snyder, 1972) que é considerado um manifesto liberal, 
precursor do liberalismo militante de economistas contemporâneos, como Friedman. Nesse trabalho ele 
enfatiza a incapacidade do Federal Reserve de agir para evitar a expansão descontrolada do crédito e 
estabilizar o estoque de moeda, como uma das principais causas da crise de 1929. 
36
 - Schumpeter, 1931, p.179. 
P á g i n a | 14 
 
 Finalmente, Schumpeter aceita duas afirmações comum à época, embora atribua a 
elas menos importância que seus contemporâneos, ou seja, a pouca flexibilidade dos 
salários e as taxas de juros de longo prazo relativamente elevadas. O autor argumenta 
que o nível dos salários não é causa da depressão, mas essa pode ter sido agravada por 
esse fato. Ele enfatiza que o nível de desemprego não pode ser atribuído aos salários 
elevados, mas que nas circunstâncias vigentes esses não eram compatíveis com pleno 
emprego. O autor também sustenta que a queda da taxa de juros de curto prazo não foi 
acompanhada por uma queda suficientemente elevada na taxa de juros de longo prazo. 
Contudo, ele não atribui importância exagerada a isto, pois argumenta que nas 
condições atuais, muitas empresas não tomariam empréstimo mesmo que a taxa de juros 
fosse próxima a zero. 
Em síntese, Schumpeter sustenta que 90% da crise pode ser explicada por: (i) – as 
perturbações geradas pelo rápido progresso técnico no pós-guerra, aliadas a conjunção 
de um ciclo depressivo de longo, médio e curto prazo; (ii) – a gravidade e amplitude da 
crise no setor agrário; (iii)- as políticas monetárias deflacionárias do retornoao padrão 
ouro na Europa e das indenizações de Guerra alemã; (iv)- a pouca flexibilidade, com 
referência a preço, dos fatores de produção, sejam os salários, sejamos juros de longo 
prazo. 
Portanto, para Schumpeter esta é uma crise mundial, com causas que não podem ser 
atribuídas exclusivamente a problemas da economia norte-americana. Na visão do 
economista austríaco, erros de política econômica agravaram a crise, mas não a 
provocaram. Ele não considerava que essa poderia ter sido evitada, nem julgava que 
havia políticas econômicas capazes de superá-la. Ações poderiam ser feitas para 
minorar seus efeitos, mas a crise seguiria seu curso, produziria efeitos, até que um novo 
ciclo de crescimento viria inverter o processo. Portanto, como outros economistas da 
escola austríaca, para efeito prático, Schumpeter era um liquidacionista, ou seja, um 
cético da possibilidade das políticas econômicas estabilizarem a economia. 
 O segundo artigo, do estatístico e economista Carl Snyder, segue uma 
interpretação muito diferente da de Schumpeter. Ele chama atenção para o caráter 
mundial da crise, mas, em sua interpretação, a depressão originou-se nos EUA e 
contaminou a economia mundial através dos mecanismos financeiros e monetários. Seu 
argumento é que a prosperidade da década de vinte era um fenômeno norte-americano, 
sendo que o crescimento da Europa era muito recente para caracterizar um fim de um 
P á g i n a | 15 
 
ciclo de expansão. Portanto, a crise norte-americana alcançou o mundo que, ainda, 
enfrentava uma situação econômica precária. Como muitos países eram dependentes 
dos EUA, em função de suas elevadas compras de matérias primas e dos empréstimos 
de bancos norte-americanos, o efeito da depressão americana foi imediato no resto do 
mundo. 
 Para Snyder havia causas monetárias para o boom da década de 20 e para o fim 
da prosperidade em 1929. O grande aumento do estoque de ouro nos EUA ao fim da 
Guerra teria permitido expansão da oferta monetária e preços em alta, particularmente 
depois de 1921. Em 1927-28 os EUA enviaram enorme quantidade de ouro para o 
exterior, particularmente para a França. Tal fato não era preocupante, uma vez que 
havia grande redundância na oferta doméstica de ouro. Ao contrário, isto traria 
benefícios pois permitia que outros países, com a Grã-Bretanha, França e Alemanha 
voltassem a sustentar suas moedas, de forma mais confortável, com maior reserva de 
ouro. Tal fato contribuiria para a expansão da economia desses países. 
 No entanto, em decorrência do boom da Bolsa de Valores, os EUA aumentaram 
a taxa de juros, para tentar conter a euforia nesse mercado. Tal reação reverteu a 
direção do fluxo de ouro e os EUA voltaram a receber elevada quantidade desse metal. 
Quando a taxa de juros doméstica chegou a nível extremamente elevado, os bancos das 
outras partes do mundo também tiveram que elevar suas taxas de juros, com efeitos 
deflacionários sobre suas economias. Somando-se a isso, as taxas de juros elevadas 
também interromperam as linhas de crédito dos bancos norte-americanos para o 
exterior. Além disso, a França, tal como os EUA, desde o início de 1929 acumulou 
quantidades muito elevadas de ouro, levando as outras nações européias à ficarem 
pressionadas entre os movimentos de ouro para os EUA e para a França, perdendo 
grande quantidade desse metal. Tal fato obrigou a esses países praticarem também taxas 
de juros muito elevadas. 
 Snyder discutiu, em detalhe, a depressão no setor agrícola, que tinha provocado 
elevada queda no preço das commodities. Mas argumentava que o aumento excessivo 
dos estoques deu-se depois da crise industrial e não antes. Ou seja, embora tenha havido 
uma grande queda de preço desde 1928, essa não foi diferente de outros períodos de 
queda, e nem a produção agrícola vinha crescendo a taxas mais elevadas que em outros 
períodos. Portanto, teria sido a depressão geral que provocou o aprofundamento da 
depressão agrícola e não ao contrário. 
P á g i n a | 16 
 
 Finalmente, quando as taxas de juros nos EUA provocaram o efeito 
deflacionista sobre os negócios e interromperam a alta da bolsa, essa redução das 
atividades econômicas levou a uma crise internacional, que já vinha se gestando em 
conseqüência da política monetária que provocava elevada influxo de ouro para os EUA 
e o fim dos empréstimos internacionais. 
 Em síntese, ao contrário da interpretação de Schumpeter a crise não era 
decorrência de uma conjunção de ciclos econômicos e/ou questões tecnológica, mas 
tinha causa monetária, e podia ter sido evitado, se políticas corretas tivessem sido 
praticadas. Nesse sentido, Snyder era um partidário da visão de que a política 
econômica poderia contribuir para estabilizar a economia. Observe-se, contudo, que sua 
visão da natureza da crise é mais próxima da explicação que viria a ser dada na obra 
famosa de Friedman & Schwartz, 1963, do que nas teses keynesianas. 
 No debate da American Economic Association quatro comentários, de 
importantes economistas da época, merecem ser registrados, os realizados por Arthur 
B.Adams, Carter Goodrich, Willard L.Thorp e Alvin H.Hansen. 
 Arthur B. Adams era dean da Universidade de Oklahoma e especialista em 
ciclos econômicos, autor de um livro conhecido sobre o tema37. Esse economista 
entendia que a crise era causada pelo crescimento do produto a um ritmo superior ao do 
poder de compra dos trabalhadores. Para ele o aumento do volume físico da produção 
de todos os bens deu-se com grande redução do custo dos fatores por unidade de 
produção, devido a substituição de trabalho por máquinas e a produção em massa.38 O 
preço dos produtos não caiu, no entanto, na mesma proporção da redução do custo de 
produção. Ou seja, as margens de lucro subiram, o que alimentou o rápido aumento do 
preço das ações. Esse processo teria levado a uma concentração de renda na mão dos 
empresários, sendo que a participação dos trabalhadores na renda estaria decrescendo. O 
resultado desse processo é que a capacidade de compra dos trabalhadores não 
acompanhou o aumento da oferta de produtos, gerando uma crise de consumo. Adams 
considerava que tal processo era possível em vista da concentração do capital e do poder 
dos cartéis, monopólios e associação comercial. 
Esta tese da distribuição da renda dos fatores, defendida por Adam, teve grande 
popularidade no período, embora a literatura recente sobre a Grande Depressão tenha 
 
37
 - Ver Adams, 1925, ver também sobre sua interpretação da depressão Adams, 1931. 
38
 - Ver, Adams et alli, 1931, p.183. 
P á g i n a | 17 
 
mostrado que a análise da distribuição funcional da renda feita à época possuía muitos 
erros e as suas suposições não se sustentavam em vista dos dados disponíveis.39 No 
entanto, como na disputa política nos EUA o governo republicano de Hoover era visto 
como defensor da grande empresa, os democratas de Roosevelt, tinham na tese de que 
as grandes empresas e os seus dirigentes, que agiam contra a concorrência, eram os 
principais culpados da crise, uma posição politicamente conveniente40. 
A visão de Adams, melhor explicada em artigo publicado no Jornal of Business, 
era cética quanto a possibilidade de combater a crise com mais intervenção do governo. 
No entanto, Adams defendia obras públicas, que tinham efeito de criar emprego, e na 
ação mais dura contra os cartéis e os trustes através da legislação antitruste.41 Portanto, 
Adams era partidário da tese de que a crise tinha entre suas principais causas a ação de 
empresários gananciosos que, no entanto, puderam aumentar seus ganhos pela 
relutância em aplicar de forma mais dura a legislação de defesa da concorrência.42 
Carter Goodrich era professor da Universidade de Colúmbia e foi um dos 31 
economistas renomadosque subscreveu um manifesto de 1931 a favor do aumento do 
gasto do governo em obras públicas e da expansão do crédito. Ele sustentou que a queda 
de salários como forma de combater a crise era inadequada, discordando da posição de 
Schumpeter de que os preços dos fatores não eram o suficiente flexíveis. Ao contrário, 
afirmou que o aumento do poder dos movimentos sindicais para forçar manutenção dos 
salários teria efeito positivo. Goodrich, portanto, estava claramente a favor das idéias 
que seriam posteriormente implementadas por Roosevelt no New Deal. No entanto, não 
há indicações de que essas idéias tivessem naquele momento qualquer relação com a 
interpretação de Keynes sobre a crise, ou seja, sua tese era mais próxima da visão de 
Adams da insuficiência de renda devido a distribuição da renda dos fatores. 
Outro participante do debate, Willlard L. Thorp, era à época jovem professor no 
Amherst College. Posteriormente, no entanto, fez brilhante carreira na área pública, 
tendo sido servido vários governos democratas: trabalhou na formulação de programas 
do New Deal; foi Secretário adjunto de Estado para Assuntos Econômicos no governo 
 
39
 - Ver Keller, 1973. 
40
 - Para uma discussão do papel do movimento anti-monopolista entre os defensores do New Deal ver, 
Brinkley,1995 Capítulo 6. 
41
 - Ver Adams, 1931. 
42
 - Para um artigo da época defendendo a aplicação mais branda da legislação anti-truste ver Harriman, 
1932. 
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Truman, tendo sido um dos formuladores do Plano Marshall; e trabalhou inclusive com 
o presidente Kennedy da década de 1960.43 
Thorp fez detalhada discussão da relação entre o ambiente concorrencial e a 
crise. Criticou empresários, como Mr. Proctor, da Vermont Marble Company, que tinha 
defendido que as leis antitrustes deveriam ser relaxadas. Ele também entendia que nos 
setores em que a concorrência era menor, em vista da existência de empresas 
monopolistas ou associações profissionais fortes, eram os que conseguiam estabilizar 
preços a custa de desestabilizar o emprego dos trabalhadores. Para ele a concorrência 
forçaria os preços para baixo até ajustar com o poder de compra dos trabalhadores. 
Finalmente, defendia que, tal como argumentado pelo professor Snyder, a crise era 
mundial e, portanto, as soluções passavam pela negociação internacional. Em suas 
palavras: “A prosperidade delas (das outras nações nos ajudam; a depressão delas nos 
prejudica.”44 
O último dos participante desse debate, que vale a pena comentar, é um 
economista que viria a ser o grande divulgador da idéias de Keynes nos EUA o então 
professor da Universidade de Minessota, Alvin Harvey Hansen. Posteriormente, esse 
economista viria a se tornar Professor de Economia Política em Harvard, sendo o 
primeiro da velha geração a tornar-se keynesiano. Foi professor de Paul Samuelson e de 
James Tobin, sendo que seus muitos livros viriam a contribuir para a rápida difusão das 
idéias de Keynes nos EUA na década de 1940. 45 A participação de Hansen, no entanto, 
mostrava uma visão convencional, muito distante do que seriam seus trabalhos alguns 
anos depois. No debate, Hansen concordou com Snyder que a má distribuição de ouro 
no mundo era uma das principais razões para a crise mundial e concordava com 
Schumpeter quanto ao papel dos ciclos econômicos, os quais considerava ser não 
apenas um fenômeno real, ou seja, afetando o nível de atividade econômica, mas, 
monetário, ou seja, afetando os preços das mercadorias e de outros ativos.46 
Entre as visões da crise um nome destacado é o de Irving Fisher. Professor de 
Yale e um dos renomados economistas norte-americanos por ocasião da grande 
depressão é geralmente lembrado pela sua incapacidade de prever a crash na bolsa em 
 
43
 - Thorp morreu com 92 anos em maio de 1992. Ver, New York Times,1992. 
44
 - Adams et alli, p.197. 
45
 - Hansen explica em detalhe como virou Keynesiano em Hansen, 1996. Sua primeira obra importante 
keynesiana é Hansen, 1941. 
46
 - Ver Adams et alli, p.198-201. 
P á g i n a | 19 
 
1929 e por sua relutância de perceber a gravidade da crise. A visão otimista de Fisher, 
que era responsável por um dos mais prestigiosos serviços de previsão econômica, o 
Yale Forecast Service, ganhou notoriedade até os dias atuais pelas repetidas referências 
a suas declarações feitas em um dos mais vendidos livros sobre a grande depressão, o 
The Great Crash 1929, de Galbraith. Este autor relata que em 15 de outubro de 1929, ou 
seja, nove dias antes da quinta-feira negra (24/10/1929), que é o primeiro dia associado 
ao pânico de 1929, o professor Fisher declarou: “O preço das ações alcançaram o que 
parece ser um patamar permanentemente elevado.”47 No entanto, posteriormente, 
Fisher desenvolver uma teoria para explicar a crise e defendeu políticas ativas do 
governo para combatê-la. Ou seja, diferentemente de Schumpeter, Fisher entendeu que a 
depressão não seria rapidamente resolvida sem a participação do governo e foi favorável 
a uma política de estabilização. Sua visão foi apresentada em um artigo em que resume 
o que chama de Teoria do débito-deflação (Debt-Deflation Theory) das Grandes 
Depressões.48 
Fisher propõe que o estudo da teoria econômica inclui (a) o estudo de um 
equilíbrio ideal e (b) o estudo do desequilíbrio. Ele chama o primeiro de estática 
econômica e o segundo de dinâmica econômica. O estudo da dinâmica econômica pode 
tratar de fatos, o que chama história econômica, ou de tendências, que ele considera 
como ciência econômica. Embora a economia tenda para o equilíbrio, há segundo o 
autor, poderosas forças que podem gerar desequilíbrios. Para ele o desequilíbrio que 
gera as grandes depressões é provocado por dois fatores predominantes: o sobre-
endividamento e a deflação. 
O modelo apresentado por Fisher propõe que, uma vez que o equilíbrio é 
perturbado por um sobre-envididamento, a sua liquidação implicará em uma cadeia de 
acontecimentos de nove fatores que podem ser derivados dedutivamente. 
Resumidamente, o autor argumenta que a liquidação do débito obriga a pressão de 
venda que contrai os depósitos à vista em moeda, na medida que os empréstimos 
bancários vão sendo pagos. A contração dos depósitos e sua velocidade precipita as 
vendas sob pressão de baixa, em vista da queda do nível de preços. Se não houver uma 
 
47
 - Ver , Gailbraith, 1988, p.70 e 94. 
48
 - Ver, Fisher, 1933. Para uma visão atual da importância dessa abordagem ver Wolson, 1996. 
P á g i n a | 20 
 
interferência que leve a reflação49, ou seja, à manutenção do nível de preços, haverá 
ainda um processo de realimentação da pressão de baixa dos preços e da redução do 
valor dos negócios, com queda nos lucros. A redução do produto, do comércio e do 
emprego leva a falências, que produz pessimismo e queda de confiança, que por sua fez 
leva ao entesouramento, reduzindo ainda mais o nível de atividade da economia. 
Embora, ao final o processo acabe por se inverter, alega Fisher, que políticas 
públicas de reflação, ou seja, de manutenção do nível de atividade econômica, pode 
interromper o processo que leva a depressão econômica, com menor custo para a 
sociedade. A grande dificuldade do processo terminar naturalmente é que a própria 
ação dos devedores de apressar o pagamento das dívidas, e portanto, levar a rápida 
deflação, aumenta a dificuldade da liquidação do débito. Ou seja, Fisher, no seu modelo, 
faz uma distinção entre taxa de juros real e nominal. Para ele a queda dos preços leva a 
que a taxa de juros real aumente na medida que os devedores vão pagando seus débitos, 
ou seja, a dívida não reduz na mesma velocidade da sua liquidação. Portanto aessência 
de seu modelo é que os preços dos ativos e das mercadorias caem rapidamente, assim 
como caem todos os outros preços, exceto os das dívidas e da taxa de juros sobre as 
dívidas.50 
 Entre os economistas norte-americanos nos primeiros anos da década de 1930, a 
posição defendida pelo grupo dos grandes professores de Chicago, ou seja, Frank 
Knight, Henry C. Simons e Jacob Viner, merece especial atenção51. Diferente do seus 
colegas das grandes universidades britânicas, como Edwin Cannan e T.E Gregory, da 
London School of Economic, de alguns economistas de Cambridge, como D.H. 
Robertson e dos Austríacos, inclusive Lionel Robbins, os três grandes de Chicago 
defenderam o uso de política fiscal para combater os efeitos da grande depressão. A 
recusa de ter uma posição passiva ante os efeitos da grande depressão, sem qualquer 
mudança significativa de visão teórica, seria uma possível explicação para o fato dessa 
escola ter sido a menos influenciada posteriormente pelas idéias keynesianas.52 A 
 
49
 - A palavra “reflação” ou reinflação não existe em português, o conceito, no entanto, é o de agir na 
direção contrária da deflação, portando provocar uma inflação para manter os níveis de preços anteriores, 
nesse sentido, uso uma palavra “reflação”, como uma boa tradução de “reflation” em inglês. 
50
 - Ver sobre a aplicabilidade desse modelo para os dias atuais, Wolson, 1996. 
51
 - De Long, 1990, chama esses três economistas de “ Old Chicago Monetarists” 
52
 - Esta é a interpretação de Lawrence Miller, 1962. Milton Friedaman, segundo Ronnie Davis, 1968, 
p.476, também teria explicação semelhante. 
P á g i n a | 21 
 
posição desses economistas é bem apresentada pelo o texto de uma conferência de 
Viner proferido na Universidade de Minnesota em 1933.53 
 Viner argumenta que a depressão é causada pela queda mais rápida dos preços 
dos produtos vendidos do que do custo de produção. Isto porque os salários e outros 
custos de produção, como aluguel, não são absolutamente flexíveis, assim como a queda 
das vendas aumenta o custo de produção por unidade vendida. Esse processo 
prosseguiria até os custos caírem mais que os preços, e os empresários retomassem sua 
capacidade de investimento, voltando a expandir a produção e venda. No entanto, essa 
capacidade auto-regulatória estaria ausente na depressão de 1930, em vista, de fatores 
domésticos e internacionais. No plano doméstico a pressão do governo Hoover contra a 
redução dos salários e a característica de muitos negócios, tais como as ferrovias, de 
resistir a redução dos preços, em vista de sua posição de quase-monopólio, restringia a 
capacidade de auto-regulação da economia. No plano internacional, a rigidez dos 
orçamentos públicos, o crescimento do protecionismo, com cotas e tarifas astronômicas, 
os compromissos de dívidas públicas elevadas, contribuía para o declínio dos preços 
mundiais e eram altamente prejudiciais ao retorno a um ambiente mais estável para os 
negócios. 54 
 Viner defendia, nessa circunstância, uma política que ele chamada de “deflação 
equilibrada induzida”.55 Ou seja, o economista de Chicago defendia que o governo 
induzisse um equilíbrio em preços e custos através de políticas ativas. Viner mantinha a 
posição que o mercado se auto-ajustaria em seu devido tempo, mas dada as 
circunstâncias, ou seja, a erros cometidos nos EUA e na economia mundial, que 
prejudicava o bom funcionamento do mercado, era necessário recriar as condições para 
sua adequada operação, sob pena do processo de ajuste ser lento e com custo social 
muito elevado. O autor era cético de que isso poderia ser feito apenas com política 
monetária, uma vez que dado o clima dos negócios, os empresários não tomariam 
recursos nem a custos muito baixos. 
Viner defendia uma política de ações para estabilizar os preços, através da 
redução de impostos, de subsídios para determinadas atividades, como transportes, e 
através de aumento do gasto público. Mas ele não sustentava que isoladamente uma 
 
53
 - Ver , Viner, 1933. Este texto de grande importância tem uma cópia digitalizada disponível na internet, 
ver http://road.www.edu/road/glossers/402sp04/viner.pdf. 
54
 -, Viner, 1933, p.7-9. 
55
 - Em inglês, “Induced Balanced Deflation”. Ver Viner, p.13. 
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política monetária de expansão dos meios de pagamento, para inflacionar os preços, 
fosse eficiente. Para isso ele entendia que a manutenção do Padrão Ouro era 
incompatível com esse tipo de política. Embora não fosse um grande defensor do 
Padrão Ouro, Viner julgava difícil para os EUA sair desse padrão monetário de forma 
unilateral. Como achava improvável que fosse possível uma saída negociada dos EUA 
do padrão ouro, considerava que sua estratégia de deflação equilibrada induzida era 
mais eficaz que a de reflação. 
As opiniões de Viner levaram este economista a contribuir com o governo 
Roosevelt, chegando inclusive a ser assessor especial (special assistant) do secretário 
do tesouro Henry Morgenthau Jr. Em 1934. Nesse ocasião Viner foi responsável por 
trazer para trabalhar no Governo Federal alguns jovens economistas de Harvard, que 
foram chamados de “freshman brain trust”.56 
 A posição do Viner em Chicago não era isolada, ao contrário, era compartilhada 
pelos outros professores. Isso pode ser comprovado pelo memorando para o 
congressista Pettengill, em 1932, defendendo, uma inflação fiscal assinado por 12 
professores daquela instituição, entre eles, Frank Knight, Henri C.Simons e Jacob 
Viner.57 O que é notável em retrospectiva é que a visão do professor de Chicago pode 
ser vista como uma precursora de uma posição mais ativa na promoção de políticas 
“market friendly” atuais. Ou seja, Viner manteve-se consistentemente crítico da posição 
de Keynes de que os mercados não eram auto-ajustável e necessitavam de constante 
regulação do governo. Mas, para os economistas de Chicago o bom funcionamento do 
mercado deveria ser restaurado: era necessário uma intervenção do governo justamente 
porque medidas equivocadas tinham prejudicado seu funcionamento, e não porque este 
não era auto-regulado. 
 Pela exposição acima pode-se perceber que, mesmo antes que a influência de 
Keynes tenha se feito sentir, a defesa da intervenção para combater a crise econômica já 
vinha acumulando forças, o que permitiu à Roosevelt implementar o New Deal. 
Entretanto, exceto pelos institucionalistas e pelos quase inexistentes socialistas, as 
 
56
 - Não confundir com o “Brain Trust”, formado pelos professores de direito de Columbia: Raymond 
Moley, Rexford Tugwell e Adolf Berle. Entre os “freshman brain trust” de Viner estavam Lauchling 
Currie, mais tarde um famoso keynesiano, e Harry Dexter White, que veio a ser um dos principais 
negociadores de Bretton Woods em 1944. Esses economistas de Harvard, junto com Paul T. Ellsworth 
foram autores de um famoso memorando, datado de 1932, propondo políticas monetárias e fiscais 
expansionistas como única forma de enfrentar a grande depressão. Sobre o memorando de Harvard ver 
Laidler & Sandiland, 2002. 
57
 - Davis, 1968, p.478. 
P á g i n a | 23 
 
principais correntes econômicas nos EUA entendiam que o mercado, embora sujeito a 
ciclos econômicos, possuía mecanismos de auto-ajustamento58. Mesmo assim, os 
institucionalistas como força intelectual eram particularmente pragmáticos, muitos deles 
aceitavam a explicação de que a causa da crise era a assimetria na distribuição funcional 
da renda, e tendiam a fazer críticas mais morais do que teóricas ao funcionamento do 
mercado. Um dos melhores exemplos do espírito prático de alguns institucionalistas 
importantes é a intervenção de J.J.Spengler,um brilhante economista, com ampla 
cultura e retórica afiada, em um debate na famosa reunião de 1931 da American 
Economic Association, sobre o teoria econômica institucionalista. Nela afirmou que: 
“Que nenhum palestrante tenha delimitado ou definido teoria econômica 
instituicional parece-me prova de uma pragmatismo saudável da economia 
contemporânea. Dogmatismo em metodologia é fútil. Nenhum método pode ser 
celebrado, às expensas de todos os outros. Se os economistas querem 
macaquear os cientistas físicos, que macaqueiem também o pragmatismo dos 
cientistas físicos. A função do economista é definir seu problema e então 
resolve-lo, o melhor que puder, usando os métodos disponíveis ou qualquer 
outro método que o engenho humano é capaz de vislumbrar.”59 
 A principal crítica feita pela oposição no início da década de 1930 ao governo 
Hoover era sua inação. Gailbraith relata que a principal ação do presidente foi realizar 
encontros com homens de negócios e autoridades na Casa Branca, anunciando que a 
condições econômicas estavam em via de alterar-se, sem maiores medidas de impacto.60 
Essa aproximação de Hoover com os grandes empresários, em especial com os 
representantes financeiros de Wall Street, passou a ser um importante instrumento na 
política da oposição democrata. 
 Portanto, a política econômica ativa de Roosevelt, não era necessariamente o 
produto da influencia de seu Brain Trust, que era formado por professores de direito de 
Colúmbia, não particularmente versados em economia. Vários economistas importantes 
que trabalharam no governo Roosevelt defendiam políticas econômicas ativas, 
principalmente políticas fiscais. Mas essa não foi a única razão para a política 
econômica apoiada pelo presidente, mesmo se essas idéias não fossem baseadas em 
sólida doutrina econômica, seriam uma boa escolha na guerra da política partidária. Isso 
percebeu, com sua tradicional argücia, um velho keynesiano, John Kenneth Gaibraith, 
que afirmou: 
 
58
 - Para uma discussão da tradição dos economistas institucionalistas e de outras correntes radicais nos 
EUA ver Bronfenbrener, 1985. 
59
 - Homan et alli, 1931. 
60
 - Ver Galbrailth, 1988, p.139, 140. 
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“As Administrações de Coolidge e Hoover mantiveram aberta aliança com o grande 
interesse financeiro que Wall Street simbolizava. Com o advento do New Deal os 
pecados de Wall Street tornaram-se os pecados do inimigo político. O que era mal 
para Wall Street era mal para o partido republicano.61 
 
5- Keynes e a Grande Depressão. 
Durante os anos do governo Hoover a crise econômica foi ficando cada vez mais 
grave. Embora não fosse partidário de financiamento via déficit orçamentário, a queda 
de arrecadação fez com que a dívida pública crescesse substancialmente em sua 
administração.62 Nesse sentido, a principal diferença da nova administração, em 1933, 
não foi a menor preocupação com o equilíbrio orçamentário, mas o compromisso da 
implementação de uma agenda de reformas. O liberalismo reformista foi a marca do 
governo Roosevelt, que até hoje é visto como o arquétipo do governo Liberal nos 
Estados Unidos. 
Esse conceito, liberalismo, tem um sentido particular nos EUA. No resto do mundo 
essa idéia está associada aos defensores do Laissez Faire e, portanto, à direita no 
espectro político. Nesse país, Roosevelt e o chamados “New Dealers”, ou seja, os 
partidários do New Deal, conseguiram tomar a palavra liberal dos convervadores, 
substituído a expressão de progressistas (progressives), como alguns deles se 
intitulavam, por “reformistas liberais”. 63 Em um país em que idéias socialistas eram 
vistas com profunda desconfiança, onde idéias marxistas eram amplamente rejeitadas 
mesmo pelos movimentos sindicais, os liberais não associavam seu nome à rejeição do 
capitalismo, mas a idéia de que os indivíduos, as comunidades e o próprio sistema 
econômico deveria ser defendido contra a ação dos trustes e cartéis e, em geral, do 
poder do grande capital. O liberalismo também defendia a solidariedade entre os 
cidadãos, com algum grau de proteção quanto às intempéries da vida, afirmando ser um 
direito do cidadão um nível básico de subsistência e dignidade, que deveria ser provido 
pelo Estado. 
Embora keynesianismo nos EUA tenha sido associado ao uso de política fiscal 
anticíclica, esta política econômica antecede a influencia das interpretações keynesianas 
 
61
 - Galbraith, 1988, p.155. 
62
 - Mitchell, 1947, PP.34-37. 
63
 - Ver Brinkley, p.1996,p.8-11. Sobre como os New Dealers se apropriam do termo liberal, ver 
Rotunda,1968. 
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da crise. A influencia de Keynes, durante a maior parte da década de 1930 foi limitada 
nos EUA, sendo que o New Deal não foi formulado a partir de uma visão keynesiana de 
mundo. As medidas econômicas do primeiro governo Roosevelt foram motivadas por 
uma percepção da necessidade de reformas, sendo que a busca de alternativas 
econômicas é mais política do que resultado do debate teórico dos economistas 
acadêmicos. Portanto, as mudanças na política econômica, naquele momento, foram 
produtos do movimento reformista, de inspiração mais institucionalista, 
particularmente vebleniana, que keynesiana64. Tal fato pode ser apreendido dos 
testemunhos apresentados em um debate promovido pela American Economic 
Association em 1972, com acadêmicos e ex-funcionários públicos que participaram da 
formulação do New Deal e ocuparam postos importantes à época.65 
Allan Sweezy, que foi o autor de um dos artigos que serviram de base ao debate, 
apresentou o problema chamando atenção que antes de 1936 (ano de publicação da 
Teoria Geral) não poderia haver keynesianos no sentido acadêmico, ou seja, partidários 
do modelo teórico que só foi apresentado integralmente nessa ocasião. Isso não quer 
dizer que não haja elementos do keynesianismo que antecedam esse ano, no entanto, a 
importância dessas idéias variou em extensão e em ênfase.66 
Sweezy argumentou que a maioria dos economistas tendiam a analisar as razões que 
levaram a Grande Depressão, mas não apresentavam políticas para enfrentá-la. Não 
apenas a idéia de gasto tinha conotações pejorativas, como as depressões eram vistas 
como tendo funções teurapêuticas depois dos excessos e desajustamentos do boom. 
Havia também pouca compreensão para os mecanismos da inflação, e uma preocupação 
excessiva em não deflagrar um processo inflacionário descontrolado. 
 
64
 - Para uma visão da crítica de Veblen à sociedade norte-americana escrita por um importante marxista 
norte-americano ver Sweezy, 1958. 
65
 - Entre os participantes do debate, que comentaram artigo do professor Alan Sweezy, estavam Leon 
H.Keyserling, que foi advogado do Agricultural Adjustment Administration, em 1933, e Secretário e 
assessor legislativo do Senador Robert Wagner de Nova York, durante o período 1933 e 1937, tendo sido 
no pós-guerra o presidente do Council of Economic Advisors; Robert R.Nathan que foi na década de 
1930 funcionário do Departamento de Comércio, trabalhando como Simon Kuznetz, tendo participado do 
desenvolvimento das primeiras estatísticas de Contas Nacionais dos EUA, como Renda Nacional e PIB, 
posteriormente,m durante a Segunda Guerra Mundial, foi Presidente do War Production Board´s Planing 
Committee; Lauchlin B.Currie, canadense, naturalizado norte-americano, que trabalhou como funcionário 
do Federal Reserve, com White Dexter White, sendo um dos Freshman Brain Trust, foi assessor de 
Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial, posteriormente, foi perseguido pelo McCartismo , 
renunciou a cidadania norte-americana, e continuou participando do debate acadêmico até sua morte, apartir de seu país de adoção, Colômbia. 
66
 - Ver Sweezy 1973, p.116 
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 Segundo Sweezy , a partir de 1934, a principal influencia de idéias keynesianas foi 
o Federal Reserve, sob a direção de Marriner Ecles, que trouxe como assessor, vindo do 
Tesouro, Lauchlin Currie, um dos primeiros policy-makers que percebeu a relações 
entre assuntos fiscais e monetários. Mas, para Sweezy, foram necessários vários anos e, 
ainda, o choque que foi o recrudescimento da depressão em 1937, para que os 
argumentos de Keynes e Hansen fossem amplamente aceitos. 
No debate que se seguiu, Keyserling observou que os programas do New Deal eram 
mais influenciados pelas idéias políticas do Partido Democrata, desde o movimento 
Populista da década de 1890´s, do que por idéias keynesianas que eram desconhecidas. 
Para ele, foram as condições políticas e sociais da época que fizeram viável o New 
Deal. Finalmente, afirmou Keyserling: 
“Com todo o respeito a Keynes, eu não consigo perceber qualquer evidência 
razoável de que o New Deal teria sido muito diferente se ele nunca tivesse vivido e 
sem que uma corrente econômica tivesse tomado seu nome.”67 
O depoimento mais importante foi do Lauchlin Currie, que era o mais antigo, auto-
intitulado, keynesiano no governo.68 Ele relata que os new dealers eram cerca de 200 a 
300 pessoas, a maioria advogados e economistas, do segundo e terceiro escalão do 
governo. Esses funcionários eram pragmáticos e sensíveis às questões políticas, sendo 
que o aumento do gasto público no período era visto, no congresso e pela sociedade, 
mais como um mecanismo de azeitamento da máquina (na expressão da época: pump-
priming) do que um instrumento permanente de política econômica.69 Currie, também, 
atesta que o keynesianismo influenciou pouco as políticas públicas norte-americanas até 
às vésperas da Segunda Guerra Mundial. 
Portanto, são muitas as fontes que relatam as limitações da influência de Keynes 
para as políticas de combate aos efeitos da Grande Depressão nos EUA. Entretanto, 
Keynes tinha, sem nenhuma dúvida, uma audiência nesse país e suas idéias eram, ao 
menos, consideradas pelo público culto70. É possível mostrar isso, a partir da 
 
67
 - Ver Keyserling et allii, p.134. 
68
 - Currie afirmava que desde seus anos na London School of Economics, 1922-25, e depois em Harvard 
durante a depressão, tinha afinidade com as idéias de Keynes. Ver Keyserling et alli, p.139. 
69
 - Pumb-priming é um expressão que caiu em desuso, mas foi comum na década de 1930, refere-se ao 
aumento do gasto governamental durante as depressões para promover a expansão dos negócios. A 
palavra deriva de uma operação nas bombas hidráulicas antigas (pump), na qual um pequena válvula de 
sucção de couro deveria ser umedecida (ou primed) com água para funcionar adequadamente. 
70
 - Um exemplo da pouca influencia de Keynes na formulação do New Deal, pode ser percebida pelo fato 
de que um artigo de 50 páginas intitulado the “New Deal” in the United States”, escrito por J.Henry 
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repercussão das conferências que proferiu na New School em Nova York em 1931. Na 
ocasião a imprensa noticiou amplamente seus pontos e, em especial, o New York Times 
descreveu sua conferência, que teria sido assistida por 400 pessoas, e que propunha, 
para a saída da crise, três pontos: (i) restauração da confiança; (ii) obras públicas, sem 
financiamento em impostos e (iii) redução da taxa de juros de longo prazo. A notícia 
descreve uma resposta a uma pergunta da platéia, na forma irônica conhecida de 
Keynes: perguntado se uma guerra seria solução para a depressão, a resposta foi “não 
há nada que o presidente Hoover possa fazer, que um terremoto não possa fazer 
melhor...”.71 
Também não se pode desconsiderar o impacto de sua carta aberta ao Presidente 
Roosevelt, publicada no New York Times e seu breve encontro com o presidente. A 
carta publicada em 31 de dezembro de 1933 tem o inequívoco estilo incisivo, mas ao 
mesmo tempo elegante de Keynes. Há considerações nessa carta que mostra que Keynes 
não dá a ênfase às reformas, que era a prioridade de alguns dos principais New Dealers, 
que são nesse ponto, como foi mencionado por Keyserling, acima, mais influenciados 
pelo debate interno no Partido Democrata ou a visão de institucionalistas como Veblen, 
do que pela sofisticada análise das políticas anticíclicas keynesianas. Nesse trecho 
Keynes afirma que: 
“O senhor está comprometido com duas tarefas, recuperação e reforma – 
recuperação da queda do nível de atividade e a aprovação dessas reformas sociais 
e das atividades empresariais que há longo tempo deviam ter sido realizadas. Para 
a primeira, velocidade e presteza são essenciais. A segunda pode ser também 
urgente; mas precipitação pode ser prejudicial, e sabedoria para perseguir 
objetivos de longa duração são mais importantes do que resultados imediatos. Será 
através do aumento do prestígio de sua administração no processo de curto prazo 
de recuperação da economia, que o senhor terá o impulso necessário para realizar 
as reformas permanentes. Por outro lado, mesmo reformas sábias e necessárias 
podem, sob certo ponto de vista, impedir e complicar a recuperação. Por que essas 
ações irão afetar a confiança do mundo dos negócios e enfraquecer as suas 
motivações para agir, antes que o senhor tenha tempo para apresentar outros 
motivos que cumpram o mesmo papel.”72 
 A revolução keynesiana tem duas dimensões que não devem ser confundidas: (i) 
a crítica à visão “clássica”, que fundava-se na Lei de Say, que afirmava, que a produção 
gera sua própria demanda, sendo que o único limite ao atendimento das necessidades 
 
Richardson, no Economic Journal, uma revista em que o economista britânico era o editor, não tinha uma 
única referência a ele, ou citação de algum trabalho de sua autoria. 
71
 - Essas conferências estão descritas em detalhe em Kent 2004. A transcrição da notícia do New York 
Times está na página 202. 
72
 - Keynes, 1933. 
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humanas é disponibilidade de recursos para um determinado nível de produção, ou seja, 
que o sistema econômico é auto-regulado e tende ao pleno emprego de máquinas e 
pessoas; (ii) - A crítica à visão de que não há instrumentos na economia para combater 
as crises econômicas, a não ser uma política de garantir que o bom funcionamento das 
forças de mercado e a flexibilidade dos preços dos fatores de produção. Ou seja, a 
crítica da idéia que, como o mercado é auto-regulado e tende ao equilíbrio, qualquer 
interferência do Estado é, no mínimo, inócua e, muito provavelmente, nociva. 
À primeira crítica corresponde uma formulação de um novo princípio, o da demanda 
efetiva, que explica os mecanismos de determinação do produto e do emprego, onde 
Keynes afirma que “a demanda efetiva, invés de ter um único valor de equilíbrio, tem 
um número infinito de valores de equilíbrio, todos igualmente admissíveis.”73 
 À segunda crítica corresponde a idéia de que é possível fazer política econômica e 
alterar o comportamento dos agentes econômicos, nos estritos limites de uma economia 
de mercado, ou seja, de que é possível administrar os níveis de atividade na economia, 
sem que seja necessário, controlar os meios de produção. 
Nas palavras de Keynes: 
“Em certos aspectos a teoria apresentada é moderadamente conservadora em suas 
implicações. Se, no entanto, ela indica a importância vital de estabelecer certos 
controles centrais em matérias as quais são atualmente deixadas nas mãos da 
iniciativa individual, há um vasto campo de atividades que não são afetadas.” (....) 
“Não é a propriedade dos instrumentos

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