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TEORIA E PRÁTICA EDUCACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SURDEZ Turmas: Atendimento Educacional Especializado- Educação Especial e Inclusão Professora: Vanessa Lubke. e-mail: vanessa_lubke@hotmail.com Datas: 04/09/2018 - 11/09/2018 - 18/09/2018 Aluno (a):___________________________________________________________ 2 Ementa: Reflexão da realidade e da história na educação de Surdos e da Surdez no Brasil. Conhecimento acerca da língua de sinais como língua natural da comunidade Surda. Identificar os fundamentos legais na e da educação de surdos. Fazer análise crítica acerca da responsabilidade e do papel da Educação de Surdos na realidade sócio-cultural-indenitária brasileira. Estimular a reflexão na discussão das relações existentes entre educação de Surdos, cultura, identidade e língua de sinais brasileira. Práticas de Ensino em Deficiência Auditiva: Apresentar a Língua Brasileira de Sinais na perspectiva da educação inclusiva. As disciplinas escolares e a relação do processo de ensino e aprendizagem entre o surdo e o ouvinte. EDUCAÇÃO DE SURDOS 1- Breve histórico sobre a educação de surdos Na Antiguidade, a educação dos Surdos variava de acordo com a concepção que se tinha deles. Para os gregos e romanos, em linhas gerais, o Surdo não era considerado humano, pois a fala era resultado do pensamento. Logo, quem não pensava não era humano. Os surdos não tinham direito a testamentos, à escolarização e a frequentar os mesmos lugares que os ouvintes. Até o século XII, os Surdos eram privados até mesmo de se casarem. Certa vez, Aristóteles afirmou que considerava o ouvido o órgão mais importante para a educação, o que contribuiu para que o Surdo fosse visto como incapacitados para receber qualquer instrução naquela época. 3 Na Idade Média, a Igreja Católica teve papel fundamental na discriminação no que se refere às pessoas com deficiência, já que para ela o homem foi criado a “imagem e semelhança de Deus”. Portanto, os que não se encaixavam neste padrão eram postos à margem, não sendo considerados humanos. Nesta época, a sociedade era dividida em feudos. Nos castelos, os nobres, para não dividir suas heranças com outras famílias, acabavam casando-se entre si, o que gerava grande número de Surdos entre eles. Por não terem uma língua que se fizesse inteligível, os Surdos não iam se confessar. Suas almas passaram a ser consideradas mortais, pois eles não podiam falar os sacramentos. Foi então que ocorreu a primeira tentativa de educá-los, inicialmente de maneira preceptorial. Os monges que estavam em clausura, e haviam feito o Voto do Silêncio para não passar conhecimentos adquiridos pelo contato com os livros sagrados, haviam criado uma linguagem gestual para que não ficassem totalmente incomunicáveis. Esses monges foram convidados pela Igreja Católica a se tornarem preceptores dos Surdos. A Igreja tinha grande influência na vida de toda sociedade nessa época e possuindo uma língua os surdos poderiam participar dos ritos, dizer os sacramentos e consequentemente, manter suas almas imortais. Segundo Goldfeld (1997), na antiguidade os surdos foram percebidos de diversas formas: com piedade e compaixão, como pessoas castigadas pelos deuses ou como pessoas enfeitiçadas. Por isso mesmo, foram abandonadas ou sacrificadas. A surdez e a consequente mudez eram confundidas com a inferioridade de inteligência, e até o século XV foram vistas como pessoas primitivas que não poderiam ser educadas. No ocidente, os primeiros educadores de Surdos de que se tem notícia, começaram a surgir a partir do século XVI. Um deles foi o médico, matemático e astrólogo italiano Gerolamo Cardano (1501 – 1576), cujo primeiro filho era Surdo. Cardano afirmava que a surdez não impedia os Surdos de receberem instrução. Ele fez tal afirmação depois de pesquisar que a escrita representava os sons da fala ou as ideias do pensamento. Outro foi Pedro Ponce de Leon (1510 – 1584), monge beneditino que viveu em um monastério na Espanha, em 1570, e usava sinais rudimentares para se comunicar, pois lá havia o voto do silêncio. Ponce de Leon foi o tutor de muitos Surdos e foi dado a ele o mérito de provar que a pessoa Surda era capaz, contrariando a afirmação anterior de Aristóteles. Em 1620, o padre espanhol Juan Pablo Bonet (1579-1633), filósofo e soldado a serviço secreto do rei, considerado um dos primeiros preceptores de surdos. Bonet foi quem primeiro idealizou e desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu livro, destaca como ideia principal que seria mais fácil para o Surdo aprender a ler se cada sim da fala fosse substituído por uma forma visível. Johann Conrad Amman (1669-1724) foi médico educador de Surdos suíço que aperfeiçoou os procedimentos de leitura labial por maio de espelhos e tato, percebendo as vibrações da laringe, método usado até hoje em terapias fonoaudiológicas. Para Amman, o foco do seu trabalho era o oralismo, pois acreditava que os Surdos eram pouco diferentes dos animais, devido à incapacidade de falar. Era contra o uso da Língua de Sinais, acreditando que seu uso atrofiaria a mente, impossibilitando o Surdo de, no futuro, desenvolver a fala por meio do pensamento. No século XVII, era percebido o grande interesse que os estudiosos tinham pela educação dos Surdos, principalmente porque tinham descoberto que esse tipo de educação possibilitava ganhos financeiros, pois as famílias abastadas que tinham 4 descendentes Surdos pagavam grandes fortunas para que seus filhos aprendessem a falar e a escrever. Charles-Michel de L´Epée (1712-1789) foi um educador filantrópico francês que ficou conhecido como “Pai dos Surdos” e também um dos primeiros que defendeu o uso da Língua de Sinais. “Reconheceu que a língua existia, desenvolvia-se e servia de base comunicativa essencial entre os Surdos.” L´Epée teve a disponibilidade de aprender a Língua de Sinais para poder se comunicar com os Surdos. Criou a primeira escola pública para Surdos em Paris, o Instituto Nacional para Surdos- Mudos, em 1760. L´Epée fazia demonstrações de seus alunos em praça pública, assim arrecadava dinheiro para continuar seu trabalho. Essas apresentações consistiam em perguntas feitas por escrito aos Surdos, confirmando que seu método era eficaz. L´Epée tinha grande interesse na educação religiosa dos Surdos e sabia que para isso era importante que fosse desenvolvida uma forma de comunicação que fizesse os conhecimentos sagrados possíveis. O século XVIII é considerado por muitos o período mais próspero da educação dos Surdos. Neste século, houve a fundação de várias escolas para Surdos. Além disso, qualitativamente, a educação do Surdo também evoluiu, já que, através da Língua de Sinais, eles podiam aprender e dominar assuntos e exercer profissões. Outro defensor do oralismo foi Alexander Graham Bell (1847-1922), cientista e inventor do telefone. Ele era filho de Surda e casado com Mabel, que perdera a audição quando jovem. Criou o telefone em 1876 tentando criar acessórios para Surdos. Durante os 80 anos de proibição do uso de Sinais, os insucessos foram notados em todo o mundo. Os Surdos passavam por oito anos de escolaridade com poucas aquisições e saíram das escolas como sapateiros e costureiros. Os Surdos que não se adaptavam ao oralismo eram considerados retardados. Não era respeitada a dificuldade de alguns Surdos por causa de sua perda de audição severa ou profunda. As pessoas somente estavam interessadas em fazer com queo Surdo fosse “normalizado” e que desenvolvesse a fala para que assim ninguém precisasse mudar ou sair da sua situação confortável. Quem deveria mudar era o Surdo. O que não se entendia é que, para a grande maioria deles, não era organicamente possível. Na primeira avaliação sistemática do método oral, Binet e Simon (dois psicólogos criadores do teste de quociente de inteligência) concluíram que os Surdos não conseguiam realizar uma conversação, só podiam ser entendidos e entender aqueles a quem estavam acostumados. O uso dos Sinais só voltou a ser aceito como manifestação linguística a parir e 1970, com a nova metodologia criada, a Comunicação Total, que preconizava o uso de linguagem oral e sinalizada ao mesmo tempo. 2- História da educação de surdos no Brasil 5 No Brasil, a educação dos surdos seguiu os passos que mundialmente se apresentavam para esta questão. Inicialmente a preocupação se dava em trabalhar aspectos da fala, os esforços surgiram no sentido de fazer o surdo falar. No início não foi percebida preocupação com a aquisição dos saberes desses indivíduos. No Brasil, a educação dos surdos teve inicio durante o Segundo Império, com a chegada do educador francês Hernest Huet, ex-aluno surdo do Instituto de Paris, que trouxe o alfabeto manual francês e a Língua Francesa de Sinais. Deu-se origem à Língua Brasileira de Sinais, com grande influência da Língua Francesa. Huet apresentou documentos importantes para educar os Surdos, mas ainda não havia escolas especiais. Solicitou, então, ao Imperador Dom Pedro II, um prédio para fundar, em 26 de setembro de 1857, o Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES. (O dia do Surdo é comemorado nesta data 26 de setembro). (Dom Pedro II tinha grande interesse na educação dos Surdos, pois tinha um neto Surdo, filho da princesa Isabel. O Instituto inicialmente utilizava a Língua dos Sinais, mas em 1911 passou a adotar o oralismo puro, seguindo a determinação do Congresso Internacional de Surdos-Mudos de Milão. Dr. Menezes Vieira, que trabalhou no Instituto, defendia este método afirmando que nas relações sociais o indivíduo Surdo usaria a linguagem oral e não a escrita, sendo esta secundária para ele. Além disso, ele tinha como convicção ser um desperdício alfabetizar Surdos num país de analfabetos. Para ele, “a fala seria o único meio de restituir o surdo na sociedade”. Entre os anos 1930 e 1947, o Instituto esteve sob a gestão do Dr. Armando Paiva Lacerda onde mais uma vez destaca-se que o método oral seria a única maneira de o Surdo ser incluído na sociedade. Na gestão do Dr. Armando Paiva Lacerda, foi instituído também que os alunos do Instituto passassem por aplicações de testes para verificar a inteligência e a aptidão para a oralização. Após estes testes, os alunos eram separados de acordo com suas capacidades. O objetivo era que as salas de aula fossem cada vez mais homogêneas. Na década de 1970, a visita de Ivete Vasconcelos educadora de surdos da Universidade Gallaudet, chegou ao Brasil a filosofia da Comunicação Total e, na década seguinte, a partir das pesquisas da professora linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais e da professora Eulalia Fernandes, sobre a educação dos surdos, o Bilinguismo passou a ser difundido. Outros institutos fizeram parte da história da educação dos Surdos no Brasil, como o Instituto Santa Terezinha, fundado em 1929, inicialmente em Campinas e transferido para São Paulo em 1933. Até o ano de 1970, funcionou como internato para meninas surdas, passando depois desta data a aceitar meninos Surdos e trabalhar com o conceito de integração no ensino regular. Atende atualmente até o Ensino Fundamental e é de natureza particular. Outra instituição é a Escola Municipal de Educação Especial Helen Keller, fundada em 1951 pelo então prefeito de São Paulo, Dr. Armando de Arruda Pereira. Outra instituição de suma importância é o Instituto Educacional São Paulo – IESP. Fundado em 1954, foi doado em 1969 para a PUC/SP e atualmente é referencia em pesquisa e estudos na área da deficiência auditiva. Em nossa experiência, temos percebido que o trabalho terapêutico com os Surdos e sua capacidade de desenvolver a linguagem oral é possível. O que gostaríamos de destacar é a palavra OPORTUNIDADE. Temos de oferecer oportunidades para que os Surdos se desenvolvam linguisticamente, pedagogicamente e como cidadãos. Muitas outras escolas especiais foram importantes para a educação dos Surdos no Brasil e no mundo. Hoje, temos de ter a consciência de nosso papel como educadores, terapeutas e familiares das pessoas com surdez, de que temos de nos unir e nos empenhar para fazer com que essa barreira comunicativa possa, cada vez mais, se 6 estreitar e possamos viver num mundo com as mesmas oportunidades para todos, independente de suas características. O quadro a seguir apresenta as três abordagens que conforme Lima (2006) influenciaram significativamente a educação de surdos: Abordagem oralista: É um processo pelo qual se pretende capacitar o surdo na compreensão e na produção de linguagem oral e que parte do principio de que o individuo surdo, mesmo não possuindo nível de audição para receber os sons da fala, pode-se constituir um interlocutor por meio da linguagem oral. Essa abordagem ainda continua sendo usada em alguns educandários no mundo todo. Ela tem por objetivo fazer com que o aluno surdo assimile a linguagem oral, tornando o surdo um “falante”, buscando superar as diferenças que os separam dos ouvintes. Nessa abordagem o professor atua como um terapeuta. Abordagem da comunicação total Nesta abordagem admite-se a utilização de uma língua gestual, porém vista somente como um passo de transição para a língua oral. Abordagem bilíngue A abordagem bilíngue surge como uma metodologia de ensino que tem sido utilizada por escolas que se propõem tornar acessíveis ao surdo duas línguas, no espaço escolar: a língua de sinais (L1) e a língua portuguesa (L2), em sua modalidade oral/ e escrita. Fonte: Adaptado de Lima (2006) 3- Legislação: Na busca da garantia dos direitos dos surdos, e na luta pelo reconhecimento dos diferentes aspectos culturais e sociais da comunidade surda, a legislação foi uma aliada na repercussão e legitimidade desses direitos. A comunidade surda tem se organizado no sentido de garantir legalmente estes direitos como espaço de construção e solidificação de sua identidade. Vários foram os decretos e leis importantes que, em determinadas épocas históricas, regulamentaram esses direitos: O Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei 10.436/02, que definiu formas institucionais para o uso e a difusão da Língua brasileira de Sinais (L1) e Língua Portuguesa (L2), visando o acesso das pessoas surdas a educação, bem como reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS. A Lei 10.436/02, no seu Art. 1º, parágrafo único, define a Língua Brasileira de Sinais, como a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico de natureza visual- motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. O Decreto 5.626, de 22/12/2005, trata da inclusão da LIBRAS como disciplina curricular nos cursos de fonoaudiologia, da formação do professor de LIBRAS e do instrutor de LIBRAS, da formação do tradutor e interprete de LIBRAS/ Língua Portuguesa, da garantia do direito a educação e saúde das pessoas surdas ou com deficiência auditiva e do papel do poder público e das empresas no apoio ao usoe difusão da LIBRAS. Lei Nº12.319 de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). 7 PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 040/2003. Tradução simultânea na Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – na programação da TV Assembleia e dá outras providências. 4- Quem são os surdos e quem são os ouvintes? Os surdos são pessoas que se reconhecem pela ótica cultural e não medicalizada, possuem uma organização política de vida em função de suas habilidades, neste caso 8 a principal é a habilidade visual, o que gera hábitos visuais e uma língua também visual. No entanto, a palavra – surdo – possui vários sentidos. O mais usado é aquele ligado à ideia de doença, de falta, de incapacidade, de deficiência. Nem todos os surdos se identificam como surdos há aqueles que ouvem pouco e/ou usam a oralidade identificando-se como deficientes auditivos, outros com o mesmo histórico preferem identificar-se como surdo, logo não se tem uma definição exata do termo. Neste curso quando nos referimos aos surdos, estamos nós referindo àqueles que utilizam a Libras assim como você utiliza a Língua Portuguesa. Os surdos para identificar aqueles que não são surdos costumam perguntar: _ Você é ouvinte?, assim o termo ouvinte é uma forma de reconhecer o não-surdo. 5- Cultura e identidade Sobre Cultura Surda podemos dizer com as palavras de Sá (p.01, 2006) que ““Cultura”, neste texto, é definida como um campo de forças subjetivas que dá sentido(s) ao grupo”. No século XXI, mais do que nunca, tem-se dado extremo valor à estética do corpo e da linguagem, mesmo que ocultamente tem se mantido o paradigma da alta e da baixa cultura. O discurso que ecoa é que surdos são pessoas deficientes, que precisam entrar na linha da normalização, precisam urgentemente ser iguais a maioria, precisam falar, ver, ouvir, andar fazer parte de uma cultura dita padrão para então serem considerados incluídos na sociedade. O embate acontece exatamente porque existe um campo de forças subjetivas que dá sentido(s) ao grupo, ou seja, existe a Cultura Surda e é a língua de sinais a marca subjetiva que dá sentido(s) a esta cultura. Os surdos são organizados social e politicamente, possuem um estilo de viver que é próprio de quem usa a visão como meio principal de obter conhecimento. A cultura surda é também híbrida e mestiça, pois não se encontra isolada no mundo, está sempre em contato direto com outras culturas e evolui da mesma forma que o pensamento humano. Para compreender por que existe uma cultura surda é fundamental entrar em contato com esta cultura deixando de lado pré-conceitos que se costuma fazer antes de conhecer, seja aberto ao novo e torne-se um ser plural. 10 COISAS ERRADAS QUE AS PESSOAS PENSAM SOBRE OS SURDOS! 1- Todo surdo usa língua de sinais 2- Para comunicar-se com um surdo basta apenas falar alto e devagar 3- Surdo que usa aparelho auditivo ou implante coclear está curado 9 4- Surdez é coisa de velho 5- Surdos fazem parte da cultura surda, só andam e se relacionam com outros surdos 6- Surdos só estudam em escolas especiais 7- Acessibilidade para surdo é interprete de língua de sinais 8- Todo surdo sabe ler lábios 9- Ao conversar com um surdo e ele não entender a conversa é só dizer... “não é nada” 10- Filhos de pais surdos nascem surdos também 6- O que é LIBRAS? A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS define a Língua Brasileira de Sinais – Libras como a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com esta comunidade. Como língua, está composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerado instrumento linguístico de poder e força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis numa língua e demanda prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. (...) É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. Segundo Sánchez (1990:17) a comunicação humana “é essencialmente diferente e superior a toda outra forma de comunicação conhecida. Todos os seres humanos nascem com os mecanismos da linguagem específicos da espécie, e todos os desenvolvem normalmente, independentes de qualquer fator racial, social ou cultural”. Uma demonstração desta afirmação se evidencia nas línguas oral-auditiva (usadas pelos ouvintes) e nas línguas viso-espacial (usadas pelos surdos). As duas modalidades de línguas são sistemas abstratos com regras gramaticais. Entretanto, da mesma forma que as línguas orais-auditivas não são iguais, variando de lugar para lugar, de comunidade para comunidade a língua. 10 ALFABETO MANUAL Para as pessoas começarem a aprender a língua de sinais, a primeira coisa que ensinamos é o Alfabeto Manual ou Datilologia em LIBRAS. Ele é produzido por diferentes formatos das mãos que representam as letras do alfabeto escrito e é utilizado para “escrever” no ar, ou melhor, soletrar no espaço neutro, o nome de pessoas, lugares e outras palavras que ainda não possuem sinal. Quando diz “escrita de sinais”, muitas pessoas pensam que essa escrita são aqueles formatos das mãos do alfabeto escrito e sinais desenhados no papel. Muito pelo contrário, veja abaixo, a datilologia traduzida para Sign Writing, o sistema de escrita de sinais. 11 7- Educação Inclusiva Nas duas últimas décadas a educação dos alunos surdos mereceu lugar de destaque nas pesquisas acadêmicas no campo da educação e da linguística. O insucesso na aquisição dos conteúdos escolares por parte alunos surdos é frequentemente debatido por professores e pesquisadores. A falta da linguagem configura-se como um dos grandes problemas para o desenvolvimento da criança surda. Luria (2003) afirma que linguagem é à base do pensamento. A criança nasce imersa em uma cultura, e, por meio da linguagem se relaciona socialmente com as pessoas do seu ambiente. Ressalta-se a importância da língua de sinais como língua natural dos surdos, pois não exige nenhum ambiente artificial, ou estratégias específicas para ser adquirida pelas crianças. Infelizmente, a realidade brasileira, ainda é precária, a língua de sinais é aprendida tardiamente. Segundo, Goldfeld (1997 p. 42) “a pior realidade é que grande parte dos surdos brasileiros e seus familiares nem sequer conhecem a língua de sinais. Muitas crianças, adolescentes e até adultos surdos não participam da comunidade surda, não utilizam a língua de sinais e também não dominam a língua oral”. A escola tem sido o espaço para a aquisição da língua de sinais, além do seu papel de ensinar a segunda língua para o aluno surdo, acumula também a função de garantir o ensino da primeira língua. Skliar (1997) critica o modelo pedagógico adotado na educação dos alunos surdos baseado na correção da falta de audição, na cura da surdez, e propõe um modelo pedagógico no qual a língua de sinais torna-se fundamental para a formação do pensamento e da identidade do aluno surdo. A concepção atual que se tem da surdez é que se trata de uma diferença linguística em que, no processo ensino e aprendizagem, não se leva em consideração o grau da perda auditiva do aluno. O uso da língua de sinais na comunicação garante condições de acessibilidade ao conhecimento. A inclusão surge no panoramaeducacional sob uma nova perspectiva de rever as concepções de educação, de ensinar e de aprender. Sendo assim percebemos a necessidade de criar meios para trabalhar nesse sentido. A inserção de estudantes surdos no ensino regular passa por uma discussão muito além do que é visto, pois apenas incluir os alunos surdos em salas regulares sem dar subsídios para ele se desenvolver não proporcionará resultados positivos. Como afirma Werneck (1997), o principio de normalização é o que rege a integração e a inclusão, tal principio oferece a esses estudantes recursos institucionais, além de profissionais capacitados a desenvolverem os surdos enquanto pessoa, estudante e cidadão. 12 Para que haja a inclusão desses alunos é imprescindível à presença do intérprete de LIBRAS, pois a presença do intérprete em sala de aula facilita o acesso à informação veiculada durante a aula, proporcionando maior clareza e compreensão sobre os conteúdos ministrados. Nesse sentido a queixa dos surdos tem sido a carência de intérpretes e a falta de qualificação destes para atuarem com eles no âmbito escolar, uma vez que estes profissionais devem ter domínio da língua de sinais e estarem familiarizados com os conteúdos a serem trabalhados. 13 Livros que podem contribuir para ampliar seus conhecimentos a respeito da pessoa surda: 14 Aplicativos e sinalário de LIBRAS: 15 Referências Bibliográficas SACKS, O. W. Vendo Vozes: Uma jornada pelo Mundo dos Surdos. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990. SOARES, M. A. L. A Educação dos Surdos no Brasil. Bragança Paulista: Editora Autores Associados, 1999. BRASIL. Decreto nº 5.626 que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o Art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2005. BRASIL. DECRETO Nº 6.571, DE 17 DE SETEMBRO DE 2008. Dispõe sobre o atendimento educacional especializado.Brasília: Diário Oficial da União, 2008. SANDER, M. E. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: ÁREA DA SURDEZ. In: MORI, N. N. R.; JACOBSEN, C. C. Atendimento educacional especializado no contexto da educação básica. Maringá: EDUEM, 2012, p. 71-82. ______. LDB – Lei nº. 9.394. Brasília, DF: MEC, 1996. ______. Lei nº. 10.436. Brasília, DF: MEC, 2002.
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