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MANEJO FLORESTAL José Roberto S. Scolforo UFLA - Universidade Federal de Lavras FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão LAVRAS(MG)..J997 Ficha Catalográfica preparada pela Seção de Classificação e Catalogação da Biblioteca Central da UFLA Scolforo, José Roberto Soares Manejo florestal / José Roberto Soares Scolforo. - Lavras : UFLA/FAEPE, 1997. 438 p . : il. Bibliografia. 1. Floresta - Manejo. 2. Ciência florestal. 3. Silvicultura. 4. Floresta nativa. 5. Floresta plantada. 6. Essência florestal. 7. Manejo sustentado. I. Universidade Çederal de Lavras. II. Titulo. CDD-634.92 TEXTO REVISADO PELO AUTOR © 1997 FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO TODO OU PARTE, POR QUALQUER MEIO, SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DA FAEPE. Curso de Especialização - Pós-Graduação Tato Sertsu" por Tutoria à Distância PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO FLORESTAL Convênio: UFLA - Universidade Federa! de Lavras FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão Reitor da UFLA: FABIANO RIBEIRO DO VALE Presidente do Conselho Deliberativo da FAEPE: DOUGLAS ANTÔNIO DE CARVALHO Chefe do Departamento de Engenharia Florestal: ANTÔNIO DONIZETE DE OLIVEIRA Coordenador do Curso: JOSÉ ROBERTO SOARES SCOLFORO Digitação e Editoração Eletrônica: CENTRO DE EDITORAÇÃO ELETRÔNICA - FAEPE Impressão: GRÁFICA UNIVERSITÁRIA - UFLA ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 1 2. MANEJO DE FLORESTAS NATIVAS Revisão sobre Manejo Florestal 3 2.1. MANEJO FLORESTAL NÂ ÁSIA 6 2.2. MANEJO FLORESTAL NA ÁFRICA 14 2.3. MANEJO FLORESTAL NA AMÉRICA 18 2.4. MANEJO FLORESTAL NO BRASIL . . 28 2.4.1. Experiências de Manejo Florestal realizadas'' no Brasil 32 3. MANEJO DE FLORESTAS NATIVAS Pontos Críticos no Manejo Florestal 51 3.1. CRESCIMENTO DAS ESPÉCIES SOB REGIME DE MANEJO 52 3.2. EFICIÊNCIA DO PROCESSO TECNOLÓGICO NO BENEFICIAMENTO DA MADEIRA E NO ASPECTO SILVICULTURAL 57 3.3. EFEITOS DA EXPLORAÇÃO E DO TRANSPORTE NA REGENERAÇÃO NATURAL E ESTRUTURA REMANESCENTE 72 3.4. A ECONOMICIDADE DO PROCESSO QUE ENVOLVE A ATIVIDADE DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTADO 76 3.4.1. O Uso da Floresta comparado a Outros Usos da Terra na Região de Taiiândia-PA 76 iii UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 3.4.2. Custos e Lucros na Exploração de Madeira em Paragominas-PA 79 3.4.3. Análise de Investimento: Comparação entre o Manejo Florestal, Pecuária e Agricultura na Região de Paragominas-PA 82 3.4.4. Custos e Benefícios da Atividade de Manejo Florestal 98 3.4.5. O Manejo Florestal Sustentado visto como um Investimento 100 3.4.6. A Comercialização Clandestina de Madeira . 101 3.4.7. Viabilidade Econômica do Manejo Florestal Sustentado 102 3.5. SUSCEPTIBIUDADE DAS ESPÉCIES FLORESTAIS ÀS PRÁTICAS DE EXPLORAÇÃO 113 4. SISTEMAS SILVICULTURAIS 117 4.1. MÉTODO DE SUBSTITUIÇÃO 122 4.1.1. Sistema Agro Florestal 123 ^ 4.1.1.1. Sistemas Silvipastoris 126 4.1.1.2. Sistemas Agrossilvipastoris 127 4.2. MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO DO POVOAMENTO OU CONVERSÃO 128 4.2.1. Corte de Melhoramento 130 4.2.2. Método de Enriquecimento 131 4.2.2.1. Métodos de Enriquecimento de Anderson 135 4.2.2.2. Método de Enriquecimento Mexicano 136 4.2.2.3. Método de Enriquecimento Caimital (Venezuela) 136 índice 4.2.3. Método de Transformação por Via da Sucessão Dirigida 137 4.2.3.1. Sistema de Corte Raso 137 4.2.3.2. Sistema de Seleção ou Sistema de Corte Seletivo 145 4.2.3.3. Sistema de Floresta de Cobertura (Shelterwood system) 151 4.2.3.4. Sistema de Talhadia 173 4.2.3.5. Sistema Celos de Manejo 185 5. MODELAGEM DA PRODUÇÃO, IDADE DAS FLORESTAS NATIVAS, DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ESPÉCIES E A ANÁLISE ESTRUTURAL 189 5.1. MODELO DE PRODUÇÃO BASEADO NA RAZÃO DE MOVIMENTAÇÃO DOS DIÂMETROS 190 5.1.1. Equações para Gerar o Modelo de Prognose 197 5.1.2. Modelo de Produção 205 5.2. O MODELO DE PRODUÇÃO ATRAVÉS DA MATRIZ DE TRANSIÇÃO 210 5.2.1. Matriz de Transição e a Prognose 211 5.2.2. Aplicação do Procedimento 213 5.2.3. Estado Estável ou de Equilíbrio da Floresta . 216 5.2.4. Estados Absorventes 217 5.3. IDADE DA FLORESTA NATIVA 218 5.4. DEFINIÇÃO DO PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ESPÉCIES DE UMA FLORESTA NATIVA 225 5.5. A ANÁUSE DA VEGETAÇÃO 230 5.5.1. Estrutura Horizontal 231 5.5.2. Estrutura Vertical 236 UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 5.5.3. Regeneração Natural 239 5.5.4. índice de Valor de Importância Ampliado e Econômico (MEAi) 242 5.5.5. índice para Avaliar a Similaridade entre Tipos Fisionômicos 244 6. OPÇÕES PARA O MANEJO SUSTENTADO DA FLORESTA NATIVA 247 6.1. O MANEJO EM FLORESTA NATIVA 248 6.2. O MANEJO DA VEGETAÇÃO NATIVA ATRAVÉS DE CORTES SELETIVOS 264 6.21 Geração do Plano de Manejo Propriamente Dito 279 7. ESTUDO DA REGENERAÇÃO NATURAL VISANDO A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E O MANEJO FLORESTAL 299 7.1. INTRODUÇÃO 299 7.2. O MANEJO FLORESTAL E A REGENERAÇÃO NATURAL 3 0 1 7.3. METODOLOGIA PARA ESTUDO DA REGENERAÇÃO NATURAL 304 7.3.1. Parâmetros Fitossociológicos da Regeneração Natural 304 7.3.2. Exemplos de Estimativas de Parâmetros . . . 308 8. O MANEJO DE FLORESTAS PLANTADAS 313 8.1. O SETOR FLORESTAL NO SUL 316 8.2. PRODUTOS FLORESTAIS - TORAS/TORETES . . 317 8.3. O MANEJO FLORESTAL 320 8.3.1. Ferramentas do Manejo Florestal 320 índice 8.3.2. Regimes de Manejo de Rnus 324 8.3.3. Considerações Finais 327 8.3.4. Comparação entre os Regimes 333 8.4. O MANEJO DE FLORESTAS DE Eucalyptus . . . . 336 8.4.1. Implicações dos Desbastes em Eucalyptus . 340 8.4.2. Manejo em Sítios pouco Produtivos 344 8.4.3. Desbastes com Remanescentes 345 8.5. O USO DE MODELOS DE PRODUÇÃO COMO ELEMENTO DE TOMADA DE DECISÃO 346 8.5.1. Prognose e Avaliação Econômica da Produção de Madeira de Rnus caríbaea var. hondurensis em Sistema de Corte Raso . . . 347 9. ESPAÇAMENTO : . . . . - 381 9.1. FATORES DETERMINANTES DO ESPAÇAMENTO DE PLANTIO 382 9.1.1. Qualidade do Sítio 383 9.1.2. Espécie 384 9.1.3. Objetivos de Manejo e Condições de Mercado 385 9.1.4. Método de Colheita 387 9.2. OS EFEITOS DO ESPAÇAMENTO 387 9.2.1. Número de Tratos Culturais 388 9.2.2. Taxa de Mortalidade e Dominância 388 9.2.3. Volume / Sortimento de Madeira 389 9.2.4. Idade de Estagnação / Ciclo do Corte . . . . 394 9.2.5. Qualidade da Madeira 396 9.2.6. Desenvolvimento Radicial e da Copa 398 9.2.7. Custos de Produção 399 UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 9.3. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL 401 9.3.1. Espaçamento Regular 401 9.3.2. Espaçamento Semi Regular 403 9.3.3. Espaçamento Irregular 403 9.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS 404 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 407 ANEXOS 427 viii 1 INTRODUÇÃO De maneira geral, o Manejo Florestal está centrado no conceito da utilização de forma sensata e sustentada dos recursos florestais, de modo que as gerações futuras possam usufruir pelo menos os mesmos benefícios da geração presente. Esta terminologia, pode ser abordada segundo dois enfoques. Manejo Florestal é visto como uma prática em que o objetivo maior é aumentar a qualidade do produto final, sua dimensão e se possível a sua quantidade, observando em todas as fases a viabilidade sócio-econômica e ambiental do processo produtivo. Um segundo enfoque, considera Manejo Florestal como um processo de tomada de decisão. Neste contexto o profissional florestal necessita ter uma visão global de planejamento florestal, utilizando-se para tal, modelos matemáticos que possibilitem a previsão da produção, assim como gerenciar toda esta gama de informações através de planos de manejos em que a otimização seja a tônica do processo.Naturalmente que, seja em florestas homogêneas, seja em vegetação nativa o manejador florestal deve balizar suas decisões em informações biológicas, econômicas, sociais, ambientais e de mercado, de 1 UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 2 MANEJO DE FLORESTAS NATIVAS REVISÃO SOBRE MANEJO FLORESTAL José Roberto S. Scolforo Para se ter uma melhor idéia da distribuição das florestas no mundo, apresenta-se na Tabela 2.1, em linhas gerais, uma proporção das florestas tropicais por continente, bem como de todos os tipos florestais juntos. Pode-se verificar que o continente americano apresenta o maior percentual de florestas tropicais do planeta, assim como dos demais tipos florestais. Pela Figura 2.1, constata-se que, do total de 3,6047 bilhões de hectares existentes em 1980, 53% correspondiam às florestas tropicais, o que prova a sua importância. Devido a sua fragilidade e por estarem situadas em regiões onde o aspecto sócio-econômico é ainda mais frágil, essas florestas vêm despertando cada dia mais preocupações nos países desenvolvidos. Professor do Departamento de Ciências Florestais - UFLA 3 modo a propiciar que a sustentabifidade desta prática, perpetue a atividade florestal no local onde o empreendimento estiver sendo executado. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal TABELA 2.1. Extensão das Florestas Mundiais e Tropicais ao Final de 1980 Países Tropicais Todos os Países Continente - — • —• /Região N° Países Área de Terra Área Florestal N° Países Área de Terra Área Florestal Milhão ha Milhão ha % Milhão ha Milhão ha % África 46 2.237,3 701,2 31,3 56 2.964,6 709,3 23,9 América 39 1.651,6 889,8 53,9 49 3.892,7 1.435,8 36,9 Ásia 22 900,2 303,4 33,7 42 2.677,3 491,8 18,4 Europa - - - • 32 2.700,0 876,5 32,5 Pacífico 16 54,2 42,6 78,6 24 842,9 91,3 10,8 Mundo 123 4.843,3 1.937,0 40,0 203 13.077,5 3.604,7 27,6 Fonte: (Troensegaard, 1990) em Technical Wbrkshop to Explore Options for Global Forestry Management, 1991 Troensegaard, J. (1990) Present Patterns and Rates of Forest Loss In Tropical Forestry response Options to Global Climate Change, Conference Proceedings São Paulo, Jan. 1990, p.71-84 Extraído de STCP - Desenvolvimento Sustentado do Setor Florestal / Curitiba - PR Março/92 4 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal F o n t e : ( The World's Tropical Forests. Washington. 1980 - Modi f icado ), em Tropical Forest Report, 1991. In. STCP - Desenvolvimento Sustentado do Setor Flor estai - Cur i t iba- Morço/92 FIGURA 2.1. Distribuição das Florestas Tropicais no Mundo UFLA/FAEPE - Manejo FbKStal 6 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 7 Apresenta-se a seguir uma breve descrição, das práticas de manejo florestal nas florestas tropicais do planeta. 2.1. MANEJO FLORESTAL NA ÁSIA Foi nesse continente, mais precisamente na índia, que em 1906 surgiram os primeiros tratamentos silviculfurais aplicados ao manejo florestal. A partir de então uma série de concepções vêm sendo desenvolvidas, buscando basicamente a sua adequação às diferentes regiões ecológicas e tipos florestais diferenciados. Todos os métodos desenvolvidos baseiam-se em dois conceitos: - Sistema Monocíclico - Sistema Policíclico O Sistema monocíclico produz povoamentos uniformes, sendo comumente empregados nas florestas de coníferas do sul da Ásia. Neste sistema, em uma só operação é abatido a totalidade do estoque comercial. O objetivo é a formação de florestas altas, equiâneas, destinadas à explorações e operações de regeneração, dentro de rotações previamente estabelecidas. São exemplos típicos, o sistema malaio uniforme (SMU) e o sistema tropical de cobertura. Já o Sistema policíclico objetiva uma produção contínua de madeira de espécies comerciais, propiciando um razoável equilíbrio ecológico e garantindo uma regeneração natural adequada, além de manter mais ou menos inalterada a composição florística e a estrutura original da floresta. Este sistema caracteriza-se ainda por possibilitar corte seletivo com ou sem aplicação de melhoramentos ao povoamento residual. O objetivo é a obtenção de uma floresta alta, multiânea manejada, composta predominantemente por espécies comerciais. São exemplos típicos deste sistema o método filipino de corte seletivo e o método indonésio de corte seletivo. Embora o sistema policíclico esteja mais próximo do processo natural, ele tem como principal desvantagem os danos que ciclicamente vão se repetir na floresta residual. Apresenta-se a seguir um breve histórico dos trabalhos de manejo florestal sustentado no Continente Asiático. Os países do Sudeste Asiático são responsáveis por 80% do mercado de produtos provenientes de florestas tropicais. Nas Tabelas 2.2 e 2.3 são apresentadas a nível informativo a distribuição de área e taxas de desmatamento dos países do Sudeste Asiático e Brasil, e a produção de toras e madeira serrada no Sudeste Asiático. Pode-se observar na Tabela 2.2 que Malásia e Indonésia são os países asiáticos onde a taxa de desmatamento anual é maior. Este fato ocorre principalmente pelo interesse em plantio de seringueira, óleo de palma e agricultura. Em países como o Camboja, Laos e Vietnã há substituição da floresta pela cultura do arroz. Da Tabela 2.3 observa-se que Indonésia e Malásia juntas são responsáveis por 88% da produção de toras para serraria e laminação. Vale no entanto ressaltar que na maioria dos países asiáticos, 75% da madeira em média são consumidos como lenha e carvão, chegando a 92% e 91% na Tailândia e Laos, respectivamente. Diogo Guido Realce Diogo Guido Realce UFLA/FAEPE - Manejo Florestal TABELA 2.2. Distribuição de área e taxas de desmatamento dos países do Sudeste Asiático e Brasil (excluindo-se Brunei e Singapura) Pais Área Total (1.000 ha.) Área Florestal (1.000 ha.) % da Área Florestada Taxa de Desmatamento Anual (1.000 ha.) Taxa Anual de Desmatamento (% da Área do País) Mianmá 65.655 32.399 47,9 105 0,3 (85-89) Indonésia 181.157 113.433 62,6 1.100 0,6 (83-89) Camboja 16.152 13.372 82,8 - Laos 23.080 12.700 55,0 129 1,0 (80-90) Vietnã 32.549 9.850 30,3 300 3,0 (80-90) Malásia 32.855 19.330 58,8 396 1,9 (80-90) Tailândia 51.089 14.100 27,6 385 2,3 (90-91) Filipinas 29.817 10.350 34,7 316 3,1 (80-89) Total 432.235 225.534 52,17 2.731 1.2 Brasil ^ 845.651 493.030 58,3 - - Amazônia Brasileira 337.000 306.00 91,0 1.700** 0,5 (78-88) (*) Não existem dados disponíveis " { " ) Os dados divergem bastante. 1.400 (FAO 1985); 3.000 (INPE 1987); 1.700 (INPE 1988) Fonte: FAO (1991) Fonte: Silvicultura set/out. 1994. 8 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal TABELA 2.3. Produção de toras e madeira serrada no sudeste asiático (1992) País Produção de Toras (1.000 m3) Produção de Madeira Serrada e Dormentes (1.000 m 3) 1980 1990 Cresc. (%) 1980 1990 Cresc. (%) Mianmá 2.782 4.150 4,1 200 466 - Indonésia 28.109 27.464 -0,2 4.815 9.145 6,6 Camboja - 110 - - 4.3 - Laos 130 213 5,0 41 16 -9,0 Vietnã 1.626 3.246 7,2 473 600 2,4 Malásia 27.928 41.011 3,9 6.235 8.275 3.0 Tailândia 2.554 492 -15 1.543 1.356 -13 Filipinas 1.529 841 -5,8 759 488 -4,3 Total 64.656 77.527 1,8 14.066 20.389 3,7 Fonte: FAO, 1992 Fonte: Silvicultura set/out 1994 i v • Malásia A Malásia é dividida em duas partes. A Peninsular, onde vivem 15,3 milhões de habitantes e onde é implementado um sistema de manejo seletivo de alta qualidade, nas florestas tropicais. Na região este sistema ampara-se num forte controledo governo, num detalhado sistema de inventário, num sistema de exploração menos impactante à floresta residual e no monitoramento da floresta remanescente. A segunda parte é a Malásia Insular, formada pelos estados de Sarawak e Sabah, onde a exploração madeireira é a principal atividade econômica. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal Conforme Masson (1983), a Malásia possuiu 459 mil hectares de florestas sujeitas ao regime de manejo. Os sistemas aplicados variam de local ou de região para região, além das variações temporais. A prática silvicultural conhecida como corte de melhoramento era aplicada para eliminar, basicamente, a Eugeissona tristis do sub-bosque, de modo a beneficiar a Pallaquim guta, fonte de látex. Outras espécies como Dryobalanops aromatica eram beneficiadas por esta prática. O mais conhecido sistema de manejo florestal na Malásia é o sistema malaio uniforme, aplicado em florestas de dipterocarpus, e o seu sucesso baseou-se num adequado estoque de mudas das espécies de valor econômico; se tal fato não ocorrer, o sistema está fadado ao insucesso. Talvez os mais sérios problemas encontrados sejam o excesso de danos causados ao povoamento residual, se usados sistemas de corte e colheita inapropriados; a economicidade do processo, devido à obtenção de colheitas em intervalos de tempo, relativamente longos; além da necessidade de grandes extensões de áreas florestais para viabilizá-los. Outro sistema utilizado na Malásia é o sistema de manejo seletivo, que consiste de um rápido inventário pré-corte para definir o regime de corte e a marcação das árvores para exploração, procurando-se determinar os tratamentos silviculturais. Se o ciclo de corte for de 25 a 30 anos, o limite máximo é de 45 a 50 cm, deixando pelo menos 32 árvores por ha, de boa forma, com diâmetro entre 30 e 45 cm, segundo Tang (1987). Conforme Abdul Rashid (1983), citado por Silva (1989), em Trengganu, na Malásia Peninsular, a produção obtida sob este regime varia de 11,8 a 127,6 m 3 /ha; com número de árvores de 6,2 a 46fha e o diâmetro mínimo de corte de 45 a 65 cm. O incremento em diâmetro das espécies comerciais sujeitas a 10 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 11 este sistema está entre 0,8 a 1 cm/ano e o incremento bruto em volume, entre 2,0 e 2,5 m3/ano, para as mesmas espécies. Deve-se considerar que a base de todos os procedimentos citados envolve a regeneração natural e que, segundo VUi (1985), o questionamento hoje na Malásia refere-se à viabilidade econômica das florestas manejadas. No entanto, um ambicioso programa para agregar cada vez mais valor ao produto orientado da floresta vem sendo fortemente apoiado pelo governo, no sentido cfe tornar este país um referencial no aproveitamento dos produtos oriundos da floresta. A seguir considera-se especificamente sobre o manejo realizados em Sarawak e Sabah. a) Sarawak Para florestas de dipterocarpus, Hutchinson (1981) sugere a adoção de desbastes de liberação. No entanto, Lee (1982) considera que é precipitado concluir ser este método apropriado em Sarawak, haja visto a falta de definição de estoque, taxas de crescimento, além de haver muitas suposições nas conclusões obtidas de que este método é apropriado para a região em questão. Esses tratamentos de desbaste de liberação têm sido considerados por Jonkers (1988) como superiores ao sistema malaio uniforme modificado, sugerido por Lee e Lai(1977), haja visto os menores custos envolvidos. O mesmo autor considera ainda que o sistema malaio uniforme muda radicalmente a estrutura da floresta, sendo portanto ecologicamente indesejável, além de propiciar um maior aparecimento de espécies pioneiras PJ^-A/FAEPE - Manejo Florestal e do cipós. Assim, parece necessário que mais observações sejam implementadas para haver uma comparação mais efetiva dos dois proctuiimentos. No entanto, a adoção do desbaste de liberação é prática correnie no serviço florestal de Sarawak. b) Sabah Conforme Higuchi (1987), a partir de 1975 o sistema malaio uniforme foi akmdonado. Em seu lugar passou a ser utilizado o sistema de CAP míninM, que compreende o corte de cipós, efetuado dois anos antes da operarão de abate, com o objetivo de reduzir os danos desta operação; uma operação combinada do inventário de regeneração natural, pelo método de amostragem linear, com envenenamento para eliminar a competição; e uma operação que envolve o inventário da regeneração natural <? u m tratamento de liberação. • Indonésia •\ exploração das florestas neste país vem migrando de região para região em virtude do programa de ocupação das áreas do país. Assim na decaia de 60, 89% da madeira era proveniente de Java, Sumatra e Madeira Na década de 70, 65% da madeira explorada vinha de r^alimantã e hoje esí* produção vem de Irian Jaya. Vale ressaltar que embora seja membro < j a OPEP, 83% da madeira colhida na Indonésia é utilizada para carvão # lenha. Este país apresenta em contraposição a este fato um ambicio;so programa de reftorestamento, com praticamente 9 milhões de ha já implantados sendo 1/4 deste total destinado a produção. Dentre as espécies j e maior destaque no programa de reflorestamento pode-se citar a 12 Manejo de Florestas .Vztivas Re\'isão sobre Manejo Fk-^estal 13 Tectona grandis (+ W0.000 ha), Dalbergia latifolia, Acácia mangium, Swetenia macrophyln, £ urophyla e E deglupta. , O sistema de manejo adotado nas florestas tropicais é o seletivo, considerando um diâmetro mínimo de 50 cm para exploração das árvores de valor comercial, devendo ser deixado pelo menos 25 delas com mais de 35 cm de diâmetro por hectare. O incremento em diâmetro das 25 árvores/ha da floresta residual é considerado de 1 cm/ano; assim, ao fir.al de um ciclo de 35 anos el;is podem apresentar, em média, 70 cm de diâmetro. Deve-se considerar que esta realidade é restrita à floresta com grande número de árvores dc espécies de valor comercial. • Filipinas Dois são os sistemas predominantes neste país. O sistema de ^orte seletivo, estabelecendo que 70% do número de árvores das classes de 15 a 65 cm devem ser deixadas na floresta residual, assim como 40% das ár.ores na classe de 70 cm; nas classes acima de 75 cm todas as árvores são removidas. O ciclo de corte esperado varia de 30 a 40 anos, dependenco da taxa de crescimento, o maior questionamento ao método é que não há assistência silvicultural posterior à exploração. O segundo sistema silvicultural, segundo Reyes (1978-a::. é o método muda-árvore, com plantio suplementar quando neces-sário. É necessário que sejam deixadas no povoamento residual de 16 s 20 árvores/ha para suprir a regeneração natural. Enquanto o primeiro sistema é aplicado à floresta de dipterocarpus, o segundo é aplicado para pinus e floresta de mangrove. ÜFLA/FAEPE - Manejo Florestal 14 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 15 silviculturais que propiciem rotações economicamente viáveis em menor tempo e ecologicamente aceitáveis, não poderiam ser exercitadas. • Nigéria Conforme Baur (1964) as práticas de manejo intensivo neste país datam de 1944, com a introdução do sistema tropical de cobertura, que visava a produção de povoamentos mais ou menos uniformes. Esta prática caracterizava-se por compreender uma série de tratamentos antes e após a exploração, com o intuito de induzir a regeneração das espécies de valor comercial. De acordo com Lowe (1984), durante a década de 50, 200.000 hectares de floresta foram manejadas nas regiões oeste e centro-oeste da Nigéria. Os povoamentos tinham em média 200 m 3/ha, sendo removidas 5 árvores em média/ha, com um diâmetro mínimo, que para algumasespécies chegava a 80 cm, produzindo em média 20 m 3/ha. Este método foi questionado a partir da década de 60, devido, dentre outras razões, ao alto custo envolvido nas atividades antes e após as explorações, como a limpeza de cipós, por exemplo. A partir de então houve um fortalecimento da atividade de reflorestamento e principalmente da atividade agroflorestal. No entanto, o abandono do sistema pode ser creditado também a outros fatores como a independência política da Nigéria, o que propiciou uma redistribuição dos técnicos, até então concentrados na região oeste e centro-oeste, para o restante do país. Este fato acabou interferindo na capacidade do serviço florestal. Também a pressão pelo uso da terra, além de aumentar a taxa de exploração, • índia É neste país que se encontra a maior parte das florestas tropicais manejadas. O sistema de corte seletivo é aplicado em picea e abies e o sistema de cobertura em folhosas, cedros e pinus. A produtividade média estimada destas florestas é de 1,0 m3/ha/ano para folhosas e 2,9 m3/ha/ano para coníferas. 2.2. MANEJO FLORESTAL NA ÁFRICA É apresentado a seguir um breve histórico dos trabalhos de manejo florestal sustentado nos países africanos. • Uganda Os problemas políticos afetaram, neste país, dentre outras coisas, o programa de manejo de florestas nativas, que de certa forma vem sendo reabilitado nos últimos anos. Pode-se considerar que até 1952 a prática de manejo baseava-se simplesmente no enriquecimento ou em plantios intensivos definidos como compensatórios; a partir de então, o sistema policíclico começou a ser utilizado no país. No entanto, Dawkins (1958), citado por Silva (1989), enfatiza que o sistema policíclico deveria ser substituído pelo sistema monocíclico e enumera uma série de razões, a saber, os danos causados no corte podem alterar o ciclo, assim como o prognóstico da produção; não existe evidência de que plantas jovens suprimidas de qualquer espécie respondam à liberação; devido à baixa produção obtida em um sistema policíclico (0,5 m3/ha/ano), ciclos de corte menores podem levar a colheitas antieconômicas. Assim, a base do sistema policíclico, que é aumentar a produtividade da floresta através de práticas UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 16 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 'Classe I e Classe II: árvores selecionadas para aproveitamento futuro 17 incrementou o uso de práticas artificiais, principalmente do sistema "taungya". A principal crítica ao sistema de cobertura, no entanto, está relacionada à dificuldade de sua implementação, de modo que possa privilegiar a regeneração natural e a dificuldade de checar onde o trabalho tem sido bem feito. • Costa do Marfim Conforme Catinot (1965), impressionado com os resultados do método de cobertura na Nigéria, o serviço florestal da Costa do Marfim decidiu, na década de 50, investir na técnica denominada de melhoramento dos povoamentos nativos, em detrimento do método de plantio em linha, até então utilizado. A forma de atuação obedeceu a duas etapas: uma primeira, em que foram consideradas as florestas secundárias, e, posteriormente, uma segunda fase com a conversão das florestas primárias em florestas de ciclo longo. Nestes casos, o que se fez foi um inventário detalhado para se ter a possibilidade de estabelecer tabelas de produção das espécies comerciais, corte de cipós e eliminação das espécies indesejáveis. Este procedimento, corte de limpeza e eliminação foram feitos durante dez anos erfi intervalo de três anos. A resposta a estes tratamentos foram desalentadoras durante a década de 1960. Novas tentativas a partir de 1976 voltaram a trazer alento aos manejadores florestais na Costa do Marfim, através de estudos de dinâmica da população, após as intervenções silviculturais. Os resultados obtidos indicaram um aumento de 50 a 100% no desenvolvimento em diâmetro, principalmente nas plantas de médio porte de interesse comercial, após realização de desbaste nas plantas de interesse não-comercial. A prática de desbaste implementado tem como objetivo privilegiar as espécies comerciais em relação às espécies não-comerciais, já que cortes não seguidos de tratamentos silviculturais têm pouco impacto no crescimento das espécies comerciais. • Gana Este pais possui, conforme a FAO (1989), 16.788 km 2 de área florestal permanente com floresta úmida e 6.810 km 2 de cobertura com savanas. O sistema de seleção empregado em Gana consiste no mapeamento contendo as espécies comerciais com mais de 2,1 m de circunferência. O povoamento é subdividido em compartimentos de 128 ha cada e a interferência é feita somente em povoamentos onde existam pelo menos 9 árvores não-maduras de espécies comerciais, por hectare. São feitas limpezas para liberar as espécies definidas como de interesse econômico, que tenham circunferência entre 0,3 e 1,5 m (10 a 48 cm de DAP), da competição dos cipós e das árvores menos valiosas. Também são feitas limpezas pesadas para privilegiar as espécies da classe I*, em um raio de 4 metros em tomo destas, além de cortadas e/ou envenenadas todas as árvores que sombream as da classe I. Para ajudar as árvores da classe II* são feitas limpezas menos pesadas que as anteriores. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 18 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 19 Estas limpezas são posteriores ao corte e mais tarde, associadas com o mapa que contém as espécies comerciais, são denominadas de atividades combinadas. Tal procedimento foi implementado em 312 k m 2 por ano, no período compreendido entre 1958 e 1971, até que surgiram dúvidas à sua eficácia. O ciclo de corte era de 25 anos. A partir desta data substituiu-se o método original por cortes de recuperação em que o CAP foi de 3,36 m e o ciclo de corte foi reduzido para 15 anos. Ainda não há resposta a estas mudanças no sistema de intervenção efetuado em Gana. 2.3. MANEJO FLORESTAL NA AMÉRICA A seguir apresenta-se um breve histórico de manejo florestal na América. • Suriname Proveniente de esforço conjunto entre a Universidade de Agricultura de Wageningen - Holanda - e a "Anton de Kom University of Suriname", o Suriname tem desenvolvido um sistema de produção de madeira em base sustentável, conforme Boxman et al (1985). Este sistema compreendeu dois aspectos independentes: um deles foi o denominado Sistema de Exploração CELOS, que teve como base melhorar e desenvolver técnicas para reduzir os danos à floresta residual e os custos da exploração. O segundo aspecto foi o Sistema Silvicultural CELOS, que procurou aumentar a produção das espécies comerciais dentro do povoamento, de modo a ter um ciclo de corte de 20 a 25 anos. Os resultados das pesquisas indicaram que este último é factível econômica e ecologicamente. O Suriname tem 16.382.000 hectares, com 90% de sua área coberta pela floresta tropical. Desde 1950, tentativas de desenvolvimento das florestas do Suriname tem sido testadas, incluindo regeneração artificial, inclusive com o plantio de 9.000 hectares de Pinus caribaea sob a floresta tropical úmida. Com o insucesso desta prática foi então desenvolvido, pelas duas universidades já mencionadas, um sistema policíclico para produção sustentada em florestas tropicais. Conforme Boxman et al (1985), De Graaf (1986) e De Graaf e Poels (1990), os sistemas desenvolvidos podem ser caracterizados como: - Sistema de Exploração CELOS (CHS): a diferença deste sistema para os demais está na meticulosa organização do trabalho, no uso de técnicas especiais de exploração e na ênfase no inventário como essencial ao plano. Foi constatado que considerável redução dos danos pode ser obtida a partirdesse sistema que tem como características básicas: inventário, que propicia reconhecimento do terreno e enumeração das espécies comerciais um ano antes do corte; planejamento, que inclui a demarcação das unidades de corte e a delimitação dos tratamentos silviculturais; determinação do corte, propiciando selecionar as árvores a serem cortadas de acordo com as necessidades de colheita, além das considerações silviculturais e ecológicas; preparação para o corte, que consiste na abertura de estradas e trilhas na floresta para serem usadas nos sucessivos ciclos, controlando os possíveis danos; organização do corte com definição de seu direcionamento além da sistematização do mesmo; uso de guincho, para reduzir movimentação de tratores para remoção das toras, com cabos que permitam a máquina arrastar a tora; uso de tratores de roda em grandes distâncias nas trilhas já abertas, UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 20 Manejo de Florestas Nativas Re\'isão sobre Manejo Florestal TABELA 2.4. Distribuição do Volume (m3/ha) de todas as espécies e de um grupo de 30 espécies comerciais em 16 parcelas de 1 ha antes e após o tratamento silvicultural Classe de Diâmetro 5-15 15-30 30-45 45-60 60-75 75-90 90-105 Total Todas espécies em 1975 17 59 69 60 63 31 9 308 Todas espécies em 1979 15 44 31 15 6 1 1 113 Espécies comerciais em 1976 0 4,1 9,1 6,1 2 0.4 0,5 22,2 Espécies comerciais em 1982 0 4,5 15 10,4 3,1 1.1 0 32,1 Um terceiro refinamento ainda é implementado com o objetivo principal de remover cipós para preparar o novo corte em torno dos 20-25 anos, reduzindo assim os danos da exploração e eliminando pequenas árvores de espécies indesejáveis que poderiam sufocar as pequenas plantas de interesse comercial. Este refinamento é implementado poucos anos antes do corte. • Peru As informações básicas sobre a situação florestal no Peru estão em conformidade com a FAO (1981). Dos 126 milhões de hectares que, aproximadamente, compõem o território peruano, 28 milhões são ocupados 21 para propiciar menos danos ao solo; registro das toras e árvores cortadas para se ter um cadastro dos dados; rotação de trabalhadores para promover maior responsabilidade por ocasião da operação de corte. - Já o Sistema Silvicultural CELOS (CSS) é implementado após a exploração, visando aumentar o desenvolvimento das espécies remanescentes de interesse comercial. O primeiro refinamento é feito para que haja um aumento da representação das espécies comerciais em relação às não-comerciais e é implementado um a dois anos após o corte. Recentemente não é mais feito em toda a área, mas somente num raio de 10 metros daquela planta que se quer liberar da concorrência, eliminando-se as não-comerciais com mais de 20 cm de diâmetro e os cipós. Esta vegetação cortada vai incorporar mais rapidamente nutrientes ao solo e, normalmente, há um acréscimo em diâmetro de 4 para 10 mm e um aumento da taxa de mortalidade de 1,5 para 2% ao ano a partir da aplicação do método. Neste refinamento ocorre redução da área basal de 31 para 16 m 2/ha, podendo chegar a 12 m 2/ha. Aproximadamente 8 a 10 anos após o primeiro refinamento é feito um segundo, já que a taxa de crescimento começa a declinar. Este refinamento é similar ao primeiro, só que elimirjando plantas não-comerciais acima de 10 cm de diâmetro. Após este refinamento as comerciais predominam, conforme pode-se ver na Tabela 2.4. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 22 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 23 por floresta nativa e foram declarados pelo governo como reservas florestais para produção sustentada de madeira. O sistema de utilização destas florestas é por meio de contratos que são assinados com o Estado por um período que pode variar de dois a dez anos, sujeito à renovação e em áreas não superiores a 100.000 hectares. A segunda alternativa consiste na permissão dada pelo Estado para exploração de área florestal, para agricultura, florestas comunitárias e plantações. A duração da permissão varia de acordo com o volume cortado e com a área. Com relação ao sistema de exploração da floresta, pode-se salientar que o mesmo caracteriza-se pelo extrativismo, com a colheita de 1 a 2 m3/ha/ano, principalmente de Cedrela odorata, Aniba sp e Calophyllum brasiliensis. Quanto à pesquisa e manejo florestal, Silva (1989) cita que um sistema foi estabelecido, com base nas características da floresta tropical úmida, para regeneração em aberturas criadas sob a floresta. As faixas de exploração estão distantes de 30 a 40 m, com comprimento e largura variável, dependendo da topografia e logística. Novas faixas de exploração espaçadas de 100 m estão sendo testadas. O ciclo de corte previsto em bases sustentáveis é de 30 a 35 anos. A extração de madeira é feita com animais (bois e búfalos) e o sistema leva a menores custos e impactos na floresta residual. No entanto, só é factível de acordo com o porte das árvores e as dimensões reduzidas da área sujeita à exploração. • Trinidade Segundo Palmer (1987), citado por Silva (1989), o sistema silvicultural desenvolvido na "Arena Forest Reserve" em Trinidade, chamado de Sistema Arena de Cobertura, é considerado um exemplo de sucesso de manejo silvicultural de floresta tropical úmida. Foi desenvolvido em área utilizada em 1890 para agricultura e abandonada íposteriormente por causa da não-possibilidade de sustentação desta prática, já que estava assentada em solo de baixa produtividade. Subseqüentemente, esta área, após ser abandonada, teve sua regeneração natural explorada, o que propiciou um novo e menor crescimento interlaçado com cipós e capim navalha. Os trabalhos silviculturais foram iniciados em1927, consistindo de limpezas e plantio de espécies comerciais. Após uma série de plantios e outras operações verificou-se que a regeneração natural foi mais abundante do que esperado e o plantio foi suprimido em 1945. Os tratamentos silviculturais foram sistematizados a partir de 1952, com operações de corte de cipós e desbastes, cuja madeira era carreada para produção de carvão. Com a utilização do petróleo a partir da metade da década de 50, o programa começou a sofrer alguns problemas operacionais, já que o produto advindo do desbaste não mais tinha um mercado definido. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal • Colômbia Delgado e Valejo (1977) apresentaram um histórico das florestas na Colômbia entre 1900 e 1968, em que mostram a predominância de quatro aspectos: - a exploração seletiva de espécies comerciais; - a escassa participação das comunidades locais nos benefícios auferidos pela atividade florestal; - a falta de um efetivo controle do Estado na exploração das florestas, assim como no controle da regeneração e; - a falta de interesse na conservação da floresta. Em que pese a criação do Instituto Nacional do Desenvolvimento Florestal - Indereno, em 1968, é urgente o estabelecimento de uma estratégia que permita mudanças no modelo de utilização presente dos recursos florestais. Estima-se que existam 5,3 milhões de hectares de florestas tropicais úmidas, as quais podem propiciar 138,4 milhões de m 3 de madeira de interesse comercial para a indústria, com base no modelo atual. No entanto, este volume pode chegar a 428 milhões de m 3 , se mudanças no sistema de exploração forem implementadas e se espécies menos conhecidas forem também utilizadas. Com relação à atividade de pesquisa em regeneração natural, atenção especial tem sido dada à floresta "cativai" a qual apresenta 24 Manejo de Florestas Nativas Re\'isão sobre Manejo Florestal 25 alta capacidade para regeneração natural e alta produtividade debiomassa. É menos heterogênea e apresenta como espécies dominante a Prioria copaifera (cativo), as quais necessitam de 55 a 60 anos para atingirem a dimensão de 60 cm de diâmetro. • Venezuela Neste país a área florestal reservada para produção é de 12,8 milhões de hectares ou 14,8% da área do país (Silva, 1989). Três são os modelos de utilização da floresta: permissões anuais é o predominante, caracteriza-se por ser aplicado em áreas de até 5.000 hectares e para um pequeno volume de madeira, não existindo obrigações após a exploração. Normalmente são aplicados àquelas terras que são desmatadas para serem utilizadas para agricultura. O segundo modelo é pouco usado hoje em dia e denomina-se "leilões". Neste caso a área florestal contém um número de espécies comerciais e são vendidas pela melhor oferta. A administração e manejo estão sob tutela do Estado. O terceiro modelo são as florestas de concessão, cujos contratos estabelecem-se por longo tempo (acima de cinqüenta anos) entre o governo e companhias que têm condições de implementar manejo destas florestas. Neste caso, os planos de manejo podem ser elaborados por engenheiros florestais e supervisionados por engenheiros florestais da administração pública. De acordo com uma pesquisa de opiniões, este modelo é o mais promissor com respeito ao manejo, conservação e avaliação dos recursos florestais, gerando também benefícios sócio-econômicos para a população local. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 26 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 27 • México Tropical, América Central e Ilhas do Caribe Aproximadamente 24% do México, América Central e Ilhas do Caribe estão cobertos por florestas, conforme Wadsworth (1993). Deste total, menos de 1/3 permanece inalterado. Aproximadamente 11% das florestas são fontes potenciais de madeira comercial. No entanto, apenas 2% são manejados objetivando sustentar uma produção de madeira comercial. A cada ano a área das florestas inalteradas é reduzida em 2,2%. Wadsworth (1993) considera que qualquer proposta de manejo deve respeitar a diferença que existe entre duas modalidades de floresta. A floresta primária, que segundo a FAO (1981) são aquelas que não têm sido objeto de exploração significativa nos últimos 80 anos. A outra modalidade é constituída por aquelas que têm sido objeto de corte parcial ou que tenham surgido naturalmente após um desmatamento, sendo denominadas de florestas secundárias. Com relação a esta última, elas podem ser muito diferentes inicialmente, mas ao longo do tempo sua progressão natural tenderá a reduzir diferenças em relação à floresta primária, até que os tratamentos silviculturais sejam os mesmos. De acordo com o mesmo autor, as florestas primárias requerem somente um manejo que salvaguarde sua conservação. O uso deve limitar-se a investigação não-intervencionista, a visitas educativas, ao ecoturismo, dentre outras. Já a produção de madeira comercial, a partir das florestas tropicais, tem sido frustrada porque poucas espécies são comercialmente aproveitáveis; a maioria destas têm sido removidas até dos bosques secundários. Rendimentos de 1-3 m3/ha/ano (Baur, 1964) têm levado à conclusão de que a madeira tropical, produzida de maneira econômica, virá somente de plantações (Wadsworth, 1965). Com relação às florestas secundárias, a experiência tem mostrado que elas em geral têm excesso de árvores, o que impede o crescimento rápido de árvores individuais, conforme Wadsworth (1947), citado por Wadsworth (1993). Em uma floresta secundária avançada em Porto Rico, 82% das árvores encontravam-se na posição do dossel intermediário e suprimido. Estas árvores do futuro cresciam a um quinto da velocidade das árvores dominantes. Hutchinson (1993), citado por Wadsworth (1993), tem mostrado que a redução no total de árvores pode aumentar o crescimento das restantes. Aquelas de espécies de madeira comercial na Costa Rica, quando recebiam uma maior iluminação, em conseqüência da remoção das árvores não-comerciais, duplicavam seu crescimento em área seccional após 17 meses do tratamento, o que perdurou nos 52 meses subsequentes. Em Porto Rico, a experiência tem demonstrado que as espécies arbóreas de florestas secundárias variam grandemente em termos do seu potencial comercial. Utilizando-se de duzentas e duas parcelas de 1 hectare cada, pôde-se constatar que 15% da área basal utilizável do povoamento era de espécies exploradas para construção de móveis, 32% consistia de espécies apropriadas somente para serraria e 35% da área basal era de espécies aproveitáveis somente para lenha. As diferenças de valores entre madeira para diferentes usos pode atingir cinqüenta vezes, o que sem dúvida vai estimular práticas de manejo mais seletivas. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 28 Manejo de Florestas Nativas Re\'isão sobre Manejo Florestal Uma técnica que pode viabilizar o decréscimo da taxa de desmatamento é a prática de manejo florestal sustentado. Embora no Brasil as experiências sejam incipientes, pode-se destacar, entre outros, os trabalhos realizados por Cruz (1991), Thibau et al. (1982), Jesus, Menandro e Thibau (1984a,b), Jesus. Souza e Garcia (1992), Jesus e Menandro (1984, 1984), Higuchi e Vieira (1990). Souza (1989), Lamprecht (1990), Silva (1989, 1990,1991,1993); Veríssimo etal. (1992), Barreto, Uhl e Yared (1993), Uhl et al. (1990), Almeida e Uhl (1993), Uhl et al. (1992), Yared e Souza (1993), Souza et al. (1993), Vale et al. (1994), Scolforo, Mello e Lima (1994), Tabai (1994), Volpato (1994) e Scolforo (1995), Scolforo et al. (1996). Nestas experiências, têm predominado os estudos da regeneração da floresta residual após intervenção; dos diferentes níveis de intervenção; dos danos causados à população residual no momento da exploração e transporte, dentre outros. 29 Também de acordo com Wadsworth (1993), a experiência tem demonstrado que a eliminação de árvores com menor potencial pode melhorar significativamente a qualidade do povoamento residual. Um tratamento aplicado a 3.000 ha de floresta secundária em Porto Rico aumentou em 43% a proporção de área basal correspondente às espécies comerciais desejadas do povoamento. Esta eliminação, para ser eficiente, deve concentrar-se não na eliminação de árvores menos promissoras, mas sim na liberação das mais promissoras. As principais competidoras, das espécies comerciais promissoras, são as que ultrapassam o comprimento lateral de suas copas. Além destas, aquelas situadas nos estratos intermediário e inferior, independente de seu DAP e proximidade, pelo menos em florestas úmidas são competidoras em potencial. 2.4. MANEJO FLORESTAL NO BRASIL Antes de analisar as experiências de manejo florestal no Brasil, apresentam-se a seguir a distribuição e a área original das florestas tropicais na Amazônia Legal Brasileira. Entre os tipos florestais apresentados na Figura 2.2, o de maior significado é a Floresta Ombrófila Densa, seguido da Floresta Ombrófila Aberta. í Com relação a Tabela 2.5, pode-se verificar que 87% da área total da Amazônia Brasileira era tomada por florestas. Já a Tabela 2.6 mostra que em Roraima, Amazonas e Amapá, praticamente não ocorreram desmatamentos em escala significativa, enquanto que Estados como o Maranhão já desmataram 70% da sua cobertura florestal existente originalmente. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal FIGURA 2.2. Distribuição das Florestas Tropicais na Amazônia Legal Brasileira 30 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal TABELA 2.5. Área Florestal Original da Amazônia Legal Brasileira ÁREA TOTAL (1) ÁREA FLORESTAL ORIGINAL (2) ESTADO (Milhão ha) (Milhão ha) % em Relação ao Total Maranhão26,0 15.5 60 Tocantis 26,9 5,8 21 Rondônia 23,8 22.4 94 Mato Grosso 80,2 58.5 73 Pará 124,6 121.8 98 Acre 15,4 15,4 100 Roraima 22,5 18,8 83 Amazonas 156,7 156,1 100 Amapá 14,2 13.2 93 TOTAL 490,3 427,5 87 (1) Área constante da Amazônia Legal (2) Fonte: FEARNSIDE 1991/1990, CIMA 1991. TABELA 2.6. Área Desmatada e Área Remanescente da Amazônia Legal Brasileira Estados Área Área Desmatada Área Remanescente Estados Florestal Original Milhão ha Milhão ha (%) Milhão ha (%) Maranhão 15,5 10,9 70 4,6 30 Tocantis 5,8 2,3 40 3,5 60 Rondônia 22,4 3,4 15 19,0 85 Mato Grosso 58,5 8,4 14 50,3 86 Pará 121,8 14,3 12 107,2 88 Acre 15,4 1,0 6 14,5 94 Roraima 18,8 0,4 2 18,4 98 Amazonas 156,1 2.1 1 154,5 99 Amapá 13,2 0,2 1 13,0 99 TOTAL 427.5 43,0 10 385,0 90 Fonte: FEARNSIDE 1991/1990, CIMA 1991 31 UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 32 Manejo de Florestas Nativas Re\'isão sobre Manejo Florestal 33 Além desse trabalho, outras atividades experimentais vêm sendo desenvolvidas na área. Uma destas, implementada pela EMBRAPA, está situada numa área onde o volume médio de todas as plantas com mais de 45 cm de diâmetro varia de 150 a 180 m3/ha, podendo chegar a 200 m 3/ha. As espécies mais comuns que formam o extrato emergente da floresta são a Bertholietia excelsa, Couratari spp, Dinisia excelsa, Hymenaea courbaril, Manilkara huberí, Parkia spp, Pithecellobium spp e Tabebuia serratifolia. O sub-bosque é em geral aberto, com alta ocorrência da Duguetia echinophora, Rinorea fiavescens e R. adianensis. As atividades principais da pesquisa foram: - 1975: inventário pré-exploratório com 100% de intensidade; ensaio de anelagem em 20 espécies com 10 cm < DAP < 50 cm, sendo consideradas 20 árv./ha; corte de cipós; primeira amostragem de regeneração. - 1979: exploração da área com remoção de 16 plantas/ha e volume de 75 m 3/ha. - 1981: parcelas permanentes foram estabelecidas, além da segunda amostragem de regeneração. - 1982: remedição nas parcelas permanentes instaladas no ano anterior. - 1983: remedição nas parcelas permanentes. - 1985: terceira amostragem de regeneração, além de nova remedição nas parcelas permanentes. - 1987: remedição nas parcelas permanentes. A seguir apresenta-se um breve histórico das experiências de manejo florestal no Brasil. 2.4.1. Experiências de Manejo Florestal realizadas no Brasil • Floresta Nacional de Tapajós Foram instalados blocos de 100 ha para que neles a iniciativa privada pudesse implementar a prática de manejo sustentado. Dos 1000 ha inicialmente estabelecidos 10% foram viabilizados pela empresa CEMEX. Dos dados do inventário florestal, estimou-se a ocorrência de 20,6 árvores por hectare, com DAP superior ou igual a 55 cm. O volume estimado para estas árvores foi de 119,7 m 3/ha sendo que 44,2 m 3/ha foram considerados aptos para comercialização. Devido à diferenças de método de cálculo deste volume, concluiu-se que o volume possível de exploração, descontados os defeitos nas toras, foi de 27,7 m 3/ha. Os tratamentos previstos inicialmente não puderam ser concretizados por problemas orçamentários. No entanto, o monitoramento da regeneração natural e do crescimento das espécies florestais está sendo implementado, já tendo sido feitas três avaliações em parcelas de 1 ha de área cada, cujos dados ainda não estão disponíveis por não ter sido possível sua análise. No entanto, através de observações visuais, pode-se constatar que treze anos após a intervenção não há clareiras ou qualquer vestígio aparente que mostre a degradação da floresta submetida à exploração, o que constitui aparentemente um bom desenvolvimento. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 34 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 35 O objetivo da pesquisa foi verificar o comportamento da produção sustentada na Flona de Tapajós a partir da regeneração natural. Como resultados verificou-se que o incremento médio anual em diâmetro foi de 0,5 cm/ano para as espécies comerciais e de 1 cm/ano para as pioneiras; houve um aumento na ocorrência de cipós, o que indica a necessidade de tratamentos de refinamento; aumento do estoque de regeneração das espécies comerciais e das com potencial Muro; após o quarto ano houve indicativo da redução do benefício propiciado pela liberação e, ainda, o aumento da mortalidade que estabilizou após o décimo ano. • Manejo Florestal na Região de Manaus - Projeto BIONTE O BIONTE é um projeto iniciado em 1980 (sob os auspícios do Convênio CNPQ-INPA/BID/FINEP). Uma nova «ase foi financiada pelo Convênio MCT-INPA/ODA, aprovado em junho/92 e com encerramento previsto para dezembro/96. O projeto está sendo executado na Estação ZF-2 do INPA, localizada aproximadamente 90 km ao norte de Manaus, Estado do Amazonas, em uma amostra representativa da floresta amazônica densa de terra-firme. A primeira colheita florestal, usando diferentes intensidades de corte, ocorreu em 1987 e sob a chancela do BIONTE um dos tratamentos de 1987 foi repetido em 1993. Objetivos Gerais Florestal: definir um sistema de colheita seletiva de madeira que seja técnica e economicamente viável e que não comprometa o funcionamento do ecossistema. Ecológico: estudar parâmetros de sustentabilidade do ecossistema sob manejo florestal, além de biomassa e volume de madeira, tais como: estoque de íiutrientes, ciclagem de nutrientes, classes de perturbação, química, física e biologia do solo e hidrologia do sistema. O Experimento • Pressuposto do BIONTE: a co-existência da exuberante floresta amazônica e a baixa fertilidade dos solos, está associada, entre outras interações obrigatórias, às estratégias de conservação e de ciclagem de nutrientes dentro do próprio sistema. • Hipótese Científica: do ponto de vista ecológico, a sustentabilidade do manejo florestal é determinada pelo efeito das operações de corte seletivo sobre a sucessão vegetal, a ciclagem de nutrientes e água e as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos. • Delineamento Estatístico: split-plot (com e sem tratos silviculturais). Tratamentos: (i) parcelas exploradas em 1987, 4 ha, 3 repetições; (ii) parcelas exploradas em 1993, 4 ha, 3 repetições; (iii) parcelas testemunhas, 4 ha, 3 repetições. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 'Altura comercial: Altura até a base da copa ou até as primeiras inserções significativas dos galhos 36 Manejo de Florestas Nativas Re\>isão sobre Manejo Florestal 37 *Pt = exp (0,097595+ 2,069532 In (d) + 0,811727 In (h)) onde: Pt = peso verde do tronco (ton) R 2 = 0,9843 EPR= ± 0,9843 In ton b) Avaliação do peso de partes de uma árvore De forma preliminar para este estudo foram avaliadas 319 árvores que geraram um peso seco médio, em valores percentuais, como segue: Tronco 61% í Galhos grossos 23,40% Copa 39% { Galhos finos 13,65% l Folhas 1,95% c) Avaliação de água nas árvores Da massa verde total de uma árvore em pé, aproximadamente 40% é de água. d) Estimativa da quantidade de carbono na floresta * No tronco 48% da massa seca * Liteira 39% da massa seca * Plântulas 47% da massa seca * Mudas 49% da massa seca * Galhos finos 47% da massa seca Coleta de Dados: as observações são feitas dentro de parcelas permanentes de um hectare cada, preservando, no entanto, as peculiaridades metodológicas de cada componente de pesquisa. O tratamento de corte foi a remoção de 50% da área basal de espécies listadas e os sub-tratamentos serão constituídos de tratos silviculturais (desbastes, limpezas, corte de cipós, anelamento de espécies que competem com as listadas, etc). Resultados Alcançados: Serão apresentados algunsdos resultados alcançados os quais são válidos para as florestas densas sobre latossolo amarelo, ocorrentes em terra firme, na região de Manaus. a) Ao ser realizado um inventário florestal para fins de manejo, pode-se utilizar para a obtenção de estimativas de biomassa florestal total e do tronco as seguintes funções: * Pto = exp (2,062632 + 2,344377 In (d) + 0,371549 In (h)) onde: In = logarítimo neperiano R 2 = 0,8608 Pto = peso verde total da árvore (ton) EPR = ± 0,2912 Inlon d = diâmetro a 1,30 m (m) h = altura comercial (m)* UFLA/FAEPE - Manejo Florestal e) Tratamentos silviculturais após corte São recomendados a partir do quarto ano após intervenção na floresta. O motivo desta prescrição é devido ao balanço negativo ocorrente no volume comercial total, dado as perdas provocadas pela exploração serem maiores que o crescimento ocorrentes nas árvores remanescentes na floresta. A taxa de recrutamento (novas plantas ingressas na primeira classe de medição), nessas condições, supera a taxa de mortalidade. f) Crescimento das árvores De forma preliminar pode-se considerar que: As árvores com maiores dap's tendem a crescer mais do que as de menores dap's. O incremento periódico anual - IPA, pode alcançar 4-5 m 3/ha/ano, a partir do 4 o ano após a intervenção. Desta estimativa, 2/3 são de espécies não comerciais e 1/3 de comerciais. O incremento médio anual - ICA do diâmetro (dap) das espécies comerciais pode alcançar 0,3 a 0,4 cm/ano após a intervenção. g) Estudo de custos nas operações com a moto-serra O ciclo de trabalho completo (envolvendo todas as operações do corte), para as condições em que o estudo foi realizado, foi em média de aproximadamente 13 minutos para cada árvore abatida. A produtividade 38 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 39 média para o abate e destopamento (seccionamento na ponta fina comercial da árvore) foi de 12,74 m3/hora de trabalho. O custo operacional total da moto-serra calculado foi de R$ 0,90/m3. h) Germinação de sementes Foi observado que houve um aumento no número de sementes germinadas de 10/m 2 em áreas sem perturbação para 70/m 2 nas áreas de maior distúrbio. Em todas as classes de distúrbio, o banco de sementes (presentes no solo no momento da exploração) foi o maior responsável pela composição da regeneração natural, verificada pela germinação de sementes nesta área. Em áreas de maior perturbação este número chegou a ser até quatro vezes superior ao promovido pela chuva de sementes. • Manejo Florestal sustentado na Floresta de Linhares-ES Esta reserva, com aproximadamente 20.000 ha de mata atlântica, pertence à Companhia Vale do Rio Doce e, dentre outros, foi instalado, em 1980, um experimento numa área de 22,5 ha, cujo objetivo principal era investigar as respostas do ecossistema florestal (floresta densa de tabuleiro sem nenhuma interferência) aos diversos tipos de interferência, além de desenvolver metodologia para exploração comercial em bases sustentadas. Os tratamentos testados foram: testemunha; redução de 15% da área basal a partir dos maiores indivíduos e seletivamente; redução de 30% da área basal a partir dos maiores indivíduos e seletivamente; redução de 45% da área basal a partir dos maiores indivíduos e seletivamente; retirada UFLA/FAEPE - Manejo Florestal • Experiência da Companhia Vale do Rio Doce na Região Amazônica Embora instalados em locais e épocas diferentes, as experiências da Companhia Vale do Rio Doce na região Norte do Brasil sempre foram estabelecidas dentro da mesma filosofia, incluindo, normalmente, tratamentos com os ilustrados a seguir: - testemunha; - corte raso, à exceção de alguma espécie protegida por lei, como a castanha-do-Pará; - eliminação de cipós; - remoção total ou parcial das árvores com diâmetro acima de determinado diâmetro que pode ser 45, 60 ou 80 cm e, por vezes, a eliminação de todas as plantas abaixo de determinado diâmetro, normalmente 10 cm. 40 Manejo de Florestas Nativas Re\nsão sobre Manejo Florestal Dentre os experimentos de manejo estabelecidos, pode-se citar aqueles implantados: a) no município de Marabá, no Estado do Pará, instalado em 1984 e cuja produção de madeira é mostrada na Tabela 2.7. TABELA 2.7. Produção de madeira na floresta de Marabá-PA para diferentes tratamentos Tratamentos Madeira Serrada m3/ha Lenha st/ha Madeira Inaproveitável m3/ha . corte raso menos castanha do Pará 36 466 155 . remoção das árvores com DAP = > 45 cm 30 245 116 . remoção das árvores com DAP = > 60 cm 27 191 68 Obs.: o tratamento 1 foi a testemunha b) no município de Oriximiná, no Estado do Pará, em floresta primitiva do médio Amazonas; neste caso as produções decorrentes dos cinco tratamentos instalados na área são apresentados na Tabela 2.8. 41 dos indivíduos com DAP entre 10 e 80 cm. Em seguida, redução de 15% da área basal remanescente, a partir dos maiores indivíduos e seletivamente; remoção dos indivíduos com DAP > 80 cm e redução de 20% da área basal remanescente, a partir dos maiores indivíduos e seletivamente; corte raso; remoção dos indivíduos com DAP > 50 cm e redução de 25% da área basal, a partir dos maiores indivíduos e seletivamente. Em todos os tratamentos foi efetuado um inventário nas plantas com mais de 5 cm de diâmetro, além de ser efetuada a limpeza de cipós. Avaliações quantificando o que foi removido e a floresta residual também foram considerados. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal QUADRO 2.8.Produçâo de madeira na floresta de Oriximiná. no Pará Tratamentos Madeira Serrada Lenha m3/ha st/ha corte raso 42 5 1 0 . remover árvore com DAP = > 45 cm deixando 2 como porta sementes 35 257 . remover árvore com DAP = > 60 cm e < 20cm deixando 2 como porta sementes 27 295 . remover árvore com DAP = > 60 cm e < 20cm 15 268 Obs.: tratamento 1 foi testemunha c) manejo florestal em Buriticupu, no Estado do Maranhão, em floresta mesofídica perenifólia do rio Pindaré, situada em 9.400 ha de reserva da Companhia Vale do Ro Doce, com produção estimada, por hectare, 15 a 20 m 3 para serraria e 250 estéres (st) de lenha, a partir dos dados do inventário. Após instalados os tratamentos obteve-se as produções mostradas na Tabela 2.9. TABELA 2.9. Produção de madeira na floresta de Buritícupu-MA, para diferentes . tratamentos Tratamentos Madeira Serrada Lenha m /ha st/ha .corte raso 1 9 ^ . remover todas árvores com DAP = > 45cm 15 248 . remover todas árvore com DAP> 10cm e < 60cm deixando apenas elementos de boa forma no povoamento residual , ^5 61 Obs.: o diâmetro considerado para lenha foi < = 35cm e para serraria = > 35cm Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal d) no município de Serra Azul, no Estado do Pará, instalado em mata secundária, com idade em torno de 15 anos. A produção de madeira é mostrada na Tabela 2.10, para os diferentes tratamentos. TABELA 2.10. Produção de madeira na floresta de Serra Azul - PA para diferentes tratamentos f Tratamentos Madeira Serrada m3/ha Lenha st/ha . . corte raso 00 180,06 . corte seletivo na espécie e fenótipo independente das classes diamétricas 00 165.62 . Remoção de plantas com DAP < = 10cm deixando no povoamento 100 arv/ha com potencial comercial 00 191,08 Obs.: o tratamento 1 foi a testemunha • Manejo Florestal em Paragominas Esta região é hoje uma das que mais sofre pressões de desmatamento no Estado do Pará, com a existência de 137 serrarias no município, que exploram em torno de 33.000 hectares/ano. Com o objetivo de fornecer subsídios técnicos aos madeireiros, o Instituto do Homem e Meio Ambiente - Imazon vem desenvolvendouma série de estudos sobre manejo florestal, em que a preocupação maior é sistematizar as etapas envolvidas no manejo florestal, com avaliação de custos de cada etapa. 43 UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 44 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal TABELA 2.11. Produção de três áreas florestais sujeitas a regime de manejo florestal em Paragominas - PA Características gerais das áreas sujeitas a manejo Estatísticas pi árvores cortadas 1 Áreas 2 3 Média das três áreas . tamanho da área (ha) 115 37 16 56 . n" de plantas cortadas/ha 3 7 9 6,4 . volume cortado m3/ha 18 35 62 38 . n° de espécies cortadas 57 35 43 45 . média dos diâmetros(cm) 75 73 73 74 . desvio padrão dos diâmetros 20 18 20 - . comprimento da copa (m) 18,4 16,5 20,5 18 . desvio padrão da copa 5 3,9 4,3 - . volume médio por áwore (m3) 6,1 5,2 6,4 5,9 . desvio padrão dos volumes 3,9 3,5 4,7 - . diâmetro máximo 161 170 150 160 . diâmetro mínimo 40 39 40 40 Na Tabela 2.12 são apresentados dados referentes aos danos causados pela exploração nas três áreas florestais estudadas. 45 Os estudos envolvem três diferentes áreas florestais na região, cujos resultados obtidos, após a remoção das espécies florestais, são apresentados na Tabela 2.11. Após três anos de avaliações, tem-se constatado que o crescimento em diâmetro, nas áreas manejadas, é em média de 0,8 cm/ano; e em florestas não-manejadas de 0,3 cm/ano. Nessa pesquisa, diferentemente daquelas implementadas por outros autores, busca-se sintetizar o que é feito pelos madeireiros que atuam na região, seguir as recomendações dos pesquisadores de manejo florestal ao invés de estabelecer tratamentos que impliquem em diferentes reduções de área basal. Definindo assim: • Impactos do corte e remoção das árvores no estoque remanescente e na regeneração natural; • métodos de marcação, assim como orientação na queda das árvores, que minimizem os danos à floresta residual; • práticas que minimizem os impactos causados pela remoção das árvores cortadas na floresta remanescente, através da definição de distâncias mínimas de transportes e de usos de cabos que propiciem menor movimentação de máquinas na área florestal; • época para corte de cipós; • avaliação econômica das práticas de manejo; • impacto da abertura de clareira na regeneração das espécies existentes. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal TABELA 2.12. Danos causados na extração de madeira em três áreas de exploração em Paragominas-PA Características mensuradas 1 Áreas 2 3 Média das três áreas 1. número de árvores colhidas/ha 2.9 6.9 9,3 6,4 2. danos causados pela exploração: . nas árv. com DAP > = lOcm (n/ha) 121 130 193 148 . na área basal de árv. c/DAP > = 10cm(m2/ha) 5 6,6 7,6 6,4 . no volume das árv. c/DAP > = 10 cm (m3/ha) 47 63 77 62 . no espaço de abertura do dossel pela atividade de exploração (m2/ha) 2500 4.500 4.400 3.800 3. índices de danos: 41 . arv. danificada / arv. extraídas 2,6 19 20 27 . m danificado / m J extraído 37 1.8 1,2 1,9 . m de estrada aberta / arv. extraída 2 186 38 43 39 . m estrada e pátio aberto / arv. extraída 2 _i 862 219 249 218 . m de dossel aberto / arv. extraída 652 473 662 Fonte: Veríssimo et al, 1993 • Manejo Florestal sustentado em áreas de Várzea Rivular Segundo Cruz (1991), embora as florestas de várzea da Amazônia tenham menos potencial madeireiro do que as de terra firme, elas são responsáveis por boa parte do abastecimento da matéria bruta das indústrias da região de Manaus, devido ao baixo custo de transporte e ao mercado já tradicional das espécies mais conhecidas. Ainda segundo este autor, "a exploração madeireira em florestas de várzea é caracterizada pelo empirismo e rudimentarismo dos métodos empregados, pelo reduzido compromisso das indústrias madeireiras com o manejo florestal sustentado, pela insuficiência ou inexistência de conhecimentos científicos sobre 46 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 47 auto-ecologia e silvicultura das espécies e pela própria exploração seletiva, que é exigência do mercado de madeiras". Essa seletividade de espécies propicia o exaurimento das florestas de várzea quando a interferência é mais intensa, caso típico da sumaúma (Ceiba pentandra), haja visto a ausência de indivíduos nas classes diamétricas inferiores àquelas exploradas (Cruz, 1991). Segundo Schubart (1983), citado por Cruz (1991), estas florestas inundadas ocupam de 5 a 10% da área da Amazônia. • Manejo Florestal na Madeireira Mil Esta empresa está situada na região de Itacoatiara no Estado do Amazonas e embora seja um empreendimento novo, é um dos que mais se aproxima da verdadeira prática do manejo florestal sustentado, considerando de forma adequada os cinco componentes básicos do manejo, quais sejam: 1. Conhecimento e acesso ao mercado. 2. Inventário 100% para planejamento das atividades. 3. Sistemas silviculturais seletivos baseados em aproveitamento de grande número de espécies. 4. Exploração e transporte florestal. 5. Monitoramento e correção das práticas do manejo. A seguir apresenta-se uma síntese do plano de manejo sustentado desenvolvido: UFLA/FAEPE - Manejo Florestal a) Base: Sistema Celos b) Premissa: corte seletivo de 40 m 3/ha de 47 espécies com previsão de expansão para 65. Os compartimentos anuais tem aproximadamente 2.000 ha (produtivos), com ciclo de corte previsto de 25 anos. Produção de 80.000 m 3 de madeira por ano, gerando de 40 a 45 mil m 3 de madeira serrada. c) Principais Atividades Cronologia Atividades 4 anos antes corte - Definição das espécies comerciais - Inventário amostrai - conglomerado -0 ,1% amostragem - Estimativa de áreas produtivas e de preservação através de satélite ou fotografia aérea 3 anos antes corte - Medição topográfica da área - Elaboração e aprovação do Plano de Manejo - IBAMA 2 anos antes corte - Estudo topográfico dos compartimentos e estradas - Delimitação dos talhóes (10 ha) (250 m x 400 m) - Inventário 100% das espécies comerciais - Corte de cipós - Implantação das parcelas permanentes - Construção de estradas 1 ano antes corte - Análise final dados inventário - Planejamento das atividades de exploração * 0 - EXPLORAÇÃO E TRANSPORTE DE MADEIRA 1 ano após corte - Primeira medição das parcelas permanentes após a exploração cada 3 a 5 anos - Medição das parcelas permanentes - Tratamentos silviculturais 48 Manejo de Florestas Nativas Revisão sobre Manejo Florestal 49 d) Informações gerais sobre o projeto O projeto teve início em 1993, e tem como objetivo a industrialização de madeira procedente de florestas tropicais manejadas em sistema florestal sustentado. A área total do projeto é de 80.900 ha, sendo que 64,5% (52.200 ha) deste total foi destinado a produção, existem 5.500 ha desmatados e o restante é área de preservação. O número de espécies aproveitadas é de 47, existindo a perspectiva deste ser aumentado para 67. As principais espécies são: - Maçaranduba, Louro Gamela, Rosa, Preto, Itauba, Angelim Pedra, Vermelho, fójado, Cardeiro, Cupiuba, Piquia, Tauari, Amapá. Em termos médio as áreas inventariadas apresentam um volume total (diâmetro > 5 cm) igual a 500 m3/ha; volume de espécies comerciais (diâmetro > 5 cm) igual a 200 m 3/ha; volume das 47 espécies comerciais (diâmetro > 50 cm) igual a 85 m3/ha; e volume programado para ser cortado por ocasião da exploração igual a 430 m 3/ha. • Manejo sustentado do Cerrado para Uso Múltiplo O cerrado brasileiro ocupa uma área de 201,8 milhões de ha. Deste total 75,3 milhões foram desmatados,sendo que 20,0 milhões são improdutivos, 35,0 milhões estão ocupados com pastagens plantadas, 13,5 milhões com culturas anuais e 3,3 milhões com culturas perenes (incluindo o refiorestamento), dentre outros. Existem ainda 113,2 milhões de ha que são UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 50 3 MANEJO DE FLORESTAS NATIVAS PONTOS CRÍTICOS NO MANEJO FLORESTAL José Roberto S. Scolforo1 Após o breve histórico das experiências de manejo realizadas no mundo e em particular no Brasil, pode-se agora considerar que os problemas técnicos e econômicos do manejo florestal são decorrentes da: a) falta de informações consistentes do crescimento das espécies sob regime de manejo; b) falta de eficiência do processo tecnológico no beneficiamento da madeira; c) economicidade do manejo florestal sustentado; d) suscetibilidade das espécies florestais à exploração florestal; e) relação entre a ocupação da Amazônia Oriental e o manejo florestal sustentado; f) exploração e transporte: fatores determinantes para o manejo florestal; análise dos danos. 1 Professor do Departamento de Ciências Florestais - UFLA 51 utilizados, predominantemente, como pastagens nativas (83,5 milhões de ha), vegetação nativa manejada (16,5 milhões de ha) e 10,4 milhões de ha com reservas indígenas. Por último. 13,2 milhões de ha são considerados paisagens naturais preservadas. Estes fatos, juntamente, com a importância do setor florestal para o Estado de Minas Gerais, levaram um grupo de profissionais da UFLA a definirem em 1994 pela adoção do manejo da vegetação do cerrado como urna das linhas básicas do curso de Mestrado em Engenharia Florestal desta Instituição. O projeto tem como objetivo central gerar conhecimentos multidisciplinares sobre o ecossistema cerrado visando propor planos de manejo sustentado para uso múltiplo de seus recursos naturais como, madeira, cortiça, produtos medicinais, frutos, mel, fauna, dentre outros. Serão estudadas, ainda, as relações da vegetação do cerrado com a cultura de Eucalyptus spp culturas agrícolas e pastagens. O projeto é coordenado pelo Departamento de Ciências Florestais - UFLA contando com o suporte financeiro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico/Conselho Nacional de Pesquisas/ Ciências Ambientais - PADCT/CNPqOAMB e está sendo desenvolvido em cinco propriedades existentes nas regiões norte e noroeste de Minas Gerais, abrangendo tipologias de cerrado "senso stricto". De forma dispersa, nestas regiões, são realizados os estudos sobre propagação e melhoramento genético de espécies do cerrado e também os estudos de sócio-economia. O projeto Manejo Sustentado do Cerrado conta com parceria da Universidade Federal de Lavras - UFLA, Mannesmann Florestal e Instituto Estadual de Florestas - EEF. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal 52 Manejo de Florestas Nativas Pontos Críticos no Manejo Florestal 53 A seguir será feita uma abordagem detalhada de cada um dos itens anteriores, para demonstrar como eles são limitantes para a implementação do manejo florestal. 3.1. CRESCIMENTO DAS ESPÉCIES SOB REGIME DE MANEJO Neste caso, o maior interesse é definir como o manejo florestal interfere ou pode afetar a produção de madeira. A maior ou menor intensidade da regeneração natural depende das condições de sítio (fatores edáficos, climáticos e fisiográficos), da composição florística da floresta existente, do nível de interferência implementado na floresta e do sistema de exploração e transporte utilizado. Estes fatores definirão uma maior ou menor intensidade luminosa e aumentarão o risco de queimadas (ocorre uma diminuição da umidade relativa nas áreas que sofreram intervenção), os quais, isoladamente ou em conjunto, influenciarão na regeneração natural e no crescimento das árvores. Em que pese os vários ensaios definidos para a região Amazônica, visando o desenvolvimento sustentado, pode-se considerar que as informações de crescimento sobre as várias espécies de interesse comercial, de potencial futuro, e mesmo aquelas definidas como sem valor, são insuficientes para que decisões práticas e concretas sobre a atividade de manejo sejam implementadas. Fica difícil estabelecer um processo de convencimento do madeireiro na medida que, tanto a experiência como o conhecimento do comportamento destas espécies quando sujeitas ou não à intervenção, são incipientes. As informações disponíveis na literatura mundial, De Graaf (1986), Jonkers (1988) e Silva (1989), enfatizam que a taxa média de mortalidade/ano está em tomo de 1,5% e o crescimento em diâmetro na floresta não-manejada, entre 0,1 e 0,4 cm/ano. Já quando é implementado o manejo, há um acréscimo na mortalidade para 2% ao ano, assim como na taxa de crescimento das árvores remanescentes que está entre 0,6 e 1,0 cm/ano (De Graaf, 1986 e Jonkers, 1988). Segundo Silva (1989) este acréscimo para as árvores da Floresta Nacional de Tapajós varia com a espécie e com o grau de tolerância da mesma. Foram a Cecropia sciadophylla e Cecropia pecicoma que apresentaram os maiores crescimentos para o período avaliado (2,1 e 1,4 cm por ano, respectivamente). A maioria das espécies pioneiras cresceu 1 cm/ano. Já com relação às espécies clímax, a Duguetia echinophora, a Paussandra denslfíora e a Rinorea flavenscens apresentaram baixo incremento anual, ou seja, 0,1 cm/ano. Algumas clímax pertencentes ao dossel superior e de valor comercial, como a Carapa guianensis e Wola melinanii apresentaram incrementos relativamente altos em torno de 1,4 cm/ano. O mesmo autor considera ainda que a variação no crescimento em diâmetro é muito alta em todos os grupos de espécies, com coeficientes de variação freqüentemente superior a 100%, mostrando que a diversidade de condições ambientais influencia o crescimento. Salientou ainda que, embora a intervenção na floresta tivesse sido bastante alta, a sua influência marcante no desenvolvimento em diâmetro cessou três a quatro anos após a exploração. UFLA/FAEPE - Manejo Florestal Ainda segundo o mesmo autor, a média do crescimento em diâmetro para 297 espécies com DAP > 5 cm foi de 0,5 cm/ano no período avaliado e que, para um grupo de vinte e nove espécies de interesse comercial, este mesmo valor foi encontrado. A seguir, na Figura 3.1 é mostrado o incremento periódico anual em diâmetro (IPA), face a diferentes intensidades de fuz. I ' - 3 C l â l l f l w oilaacruo 1 : e x p r e s s a i n c r e m e n t o em d i â m e t r o das á r v o r e s recebendo i l u m i n a ç ã o t o t a l s u p e r i o r . 2 : e x p r e s s a o i n c r e m e n t o em d i â m e t r o das á r v o r e s p a r c i a l m e n t e cob t a s por copas das á r v o r e s v i z i n h a s . 3: e: :prcssa o i n c r e m e n t o em d i â m e t r o das á r v o r e s completamente b r e a das ou recebendo apenas luz d i f u s a . FIGURA 3.1. Crescimento em diâmetro em função da intensidade de luz 54 Manejo de Florestas Nativas Pontos Críticos no Manejo Florestal Com relação à mortalidade, pode-se verificar um acréscimo logo após a intervenção, e uma estabilização após dez anos decorridos da exploração. As taxas variam de acordo com o grupo ecológico considerado, conforme mostrado na Tabela 3.1. TABELA 3.1. Taxas de mortalidade das espécies pioneiras comparadas com outras categorias (%/ano) Grupo jde espécies Período Grupo jde espécies 1981-83 1983-87 1981-S7 Espécies pioneiras 3,9 6,1 4,7 Todas as espécies 2,1 3,8 2,8 Espécies comerciais 1,6 2,6 1,8 Espécies potenciais 1,3 2,8 2,2 Espécies não comerciais 2,4 4,2 3,1 Fonte: Silva, 1993 Se refinamentos são implementados, De Graaf (1986) e Jonkers (1988) afirmam que no