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Cessação do Tabagismo

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1694 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • 
Outras cirurgias: Glossectomia mediana a laser ou linguo­
plastia representam variações de procedimento que aumenta o es­
paço retrolingual por meio da extirpação de segmento da região 
mediana e posterior da língua. O procedimento é habitualmente 
feito com o paciente traqueostomizado, e o sucesso terapêutico re­
ferido na literatura é, a nosso ver, pouco expressivo, considerado­
se a extensão dos procedimentos envolvidos. 
Como mensagem final, salientamos que os procedimentos 
cirúrgicos são tratamento alternativos para a apnéia obstrutiva em 
adultos, quando a abordagem clínica, utilizando métodos mecâ­
nicos (CPAP e AIO), falhou. O grande desafio, no presente, está 
na dificuldade de predizer quais pacientes se beneficiariam com es­
sas cirurgias. Por outro lado, existem complicações agudas e tar­
dias, acima descritas, que devem ser criteriosamente consideradas 
quando se cogitar esta indicação terapêutica. 
532	 Cessação do Tabagismo
Sérgio Ricardo R.A. Santos
Ângela Giuliana Zavatieri
Juliana Moysés
Júlio César A. de Oliveira
José Roberto Jardim
Epidemiologia
Segundo valores encontrados pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) em 2001, por meio 
de estudo realizado entre fumantes (randomizado, com entrevistas 
domiciliares, em 107 cidades com mais de 200 mil habitantes, na 
faixa etária compreendida entre 12 e 65 anos) observou­se que a 
prevalência de uso diário de tabaco na amostra total foi 17% e na­
queles com 35 anos ou mais foi 24% (28% para o sexo masculino e 
20% para o sexo feminino). Nove por cento dos avaliados preenche­
ram os critérios para estimar dependência, segundo o que determi­
na o NHSDA (National Household Surveys on Drug Abuse). 
Conceitos	de	droga	e	dependência
Droga é qualquer substância química, natural ou sintetiza­
da, capaz de produzir efeitos sobre o funcionamento do corpo, re­
sultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Estão 
excluídos deste grupo os alimentos ou outros elementos necessá­
rios à vida normal. 
Hoje já está bem claro que a nicotina do cigarro causa de­
pendência. Dependência a alguma substância é definida como um 
padrão de má adaptação ao uso da substância, levando a intenso 
prejuízo ou sofrimento, que se tornam aparentes pela ocorrência 
dos seguintes critérios durante o mesmo período de 12 meses: to­
lerabilidade, síndrome da abstinência e desejo persistente. É pos­
sível avaliar o grau de dependência à nicotina. A escala mais co­
nhecida é a de Fargeström, que se baseia no número de pontos 
obtidos em seis perguntas:
1. Quanto tempo após acordar você fuma o seu primei­
ro cigarro?
 Dentro de cinco minutos 3 pontos
 Entre 6 e 30 minutos 2 pontos
 Entre 31 e 60 minutos 1 ponto
 Após 60 minutos 0 ponto
2. Você acha difícil não fumar em lugares proibidos, como 
igrejas, bibliotecas, cinemas, ônibus, etc? 
 Sim 1 ponto
 Não 0 ponto
3. Qual o cigarro do dia que te traz , mais satisfação?
 O primeiro da manhã 1 ponto
 Outros 0 ponto
4. Quantos cigarros você fuma por dia?
 Menos de 10 0 ponto
 De 11 a 20 1 ponto
 De 21 a 30 2 pontos
 Mais que 30 3 pontos
5. Você fuma mais freqüentemente pela manhã?
 Sim 1 ponto
 Não 0 ponto
6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar de cama 
a maior parte do tempo?
 Sim 1 ponto
 Não 0 ponto 
Conclusão sobre o grau de dependência: muito baixo (0 a 2 
pontos), baixo (3 ou 4 pontos), médio (5 pontos), elevado (6 ou 
7 pontos) e muito elevado (8 a 10 pontos). 
Motivação	para	parar	de	fumar
A motivação pode ser definida como a probabilidade de que 
uma pessoa inicie, continue e adote estratégia de mudança especí­
fica. É, portanto, um estado de prontidão ou avidez para a modifi­
cação de comportamentos. Sem a motivação torna­se impraticável 
a aplicação de estratégias cognitivas para mudanças comportamen­
tais, essenciais ao sucesso do tratamento do tabagismo. 
De acordo com o Modelo Transteórico Comportamental de 
Prochaska e Di Clemente, a motivação passa por estágios , que são: 
pré­contemplação (ou pré­ponderação), contemplação (ou ponde­
ração), preparação (ou determinação), ação e manutenção. 
O ponto de partida para o processo de mudança é o estágio 
de pré­contemplação. Neste estágio o ato de fumar não é conside­
rado problema. O fumante não considera a possibilidade de mu­
dança de seu comportamento. É desnecessário dizer que os pré­
contemplativos raramente se apresentam para tratamento. Nesse 
momento a abordagem do profissional é de informação e feedba­
ck para que o fumante tome consciência de seu problema e possa 
pensar na possibilidade de mudança. 
Uma vez que alguma consciência do problema tenha surgi­
do, o fumante entra em período caracterizado pela ambivalência, 
chamado de contemplação: ele tanto considera a mudança como a 
rejeita. Se deixado livre para falar sobre a área­problema, o ponde­
rador ficará dividido entre motivos de preocupação e justificativas 
para a despreocupação. A tarefa do profissional é ajudar a inclinar a 
balança para a mudança positiva, utilizando os próprios argumen­
tos do paciente para a mudança do comportamento. 
• PNEUMOLOGIA • 1695
O estágio de preparação ou determinação aparece quando a 
balança do fumante inclina para as afirmações da pessoa: o fumante 
afirma que precisa fazer algo em relação ao cigarro; sabe que o pro­
blema existe e algo tem que mudar. Ele começa a assumir atitudes 
como diminuir o número de cigarros consumidos diariamente. Es­
te estágio funciona como uma janela de oportunidade, que se abre 
por um tempo; caso o fumante entre em ação, ele prosseguirá para a 
cessação do tabagismo. A tarefa do profissional será a de aproveitar a 
oportunidade que se abre, reforçando comportamentos em busca de 
uma estratégia de mudança que seja aceitável pelo paciente. 
No estágio de ação o fumante adota atitudes específicas para 
chegar à mudança. O objetivo durante este estágio é produzir mu­
dança em uma área­problema. O fumante deixa o cigarro e muda 
algumas condições ambientais. A maioria das pessoas que deixam 
de fumar o fazem neste estágio, muitas vezes por conta própria e 
sem tratamento. A abordagem do profissional é manter o fumante 
atento e disposto para a mudança. 
Fazer mudança, no entanto, não garante que ela será man­
tida. Durante o próximo estágio, que é o da manutenção, o desa­
fio é manter a mudança obtida pela ação anterior e evitar a recaída. 
Nesta fase de manutenção, os lapsos e as recaídas não são desejados 
mas possíveis de acontecer, especialmente quando a pessoa busca a 
mudança de qualquer padrão de longa duração. Caso haja a recaída, 
a tarefa do indivíduo é retomar os estágios, caminhando novamen­
te para a ação de parar e não imobilizar­se nisso. A abordagem do 
profissional nesse caso é manter a ação e os esforços relembrando 
ao paciente os motivos que o levaram a parar de fumar. 
Finalmente, se houver recaída dentro da fase de manutenção, 
a abordagem do profissional é ajudar a evitar o desânimo, a conti­
nuar a contemplar a mudança, a renovar a determinação e a reto­
mar a ação e manutenção de esforços.
Estratégias	cognitivo-comportamentais
Se a motivação é uma probabilidade de mudança de com­
portamento, é razoável que se busquem técnicas que visem a mu­
dança destes comportamentos indesejáveis. Vamos descrever oi­
to estratégias que promovem bons resultados, quando aplicadas 
em conjunto: 
1. Oferecer orientação: é um dos elementos que estimula a 
mudança; orientação oportuna e moderada ajuda a pes­
soa a se posicionar melhor. 
2. Remover barreiras: algumas barreiras práticas e específicas, 
como locomoção ao lugar do tratamento, cuidados com 
filhos e timidez podem interferir no sucesso do tratamen­
to; a tarefa do profissional é ajudar o paciente a estudar 
medidas viáveis parasuperar as barreiras. 
3. Proporcionar escolhas: poucas pessoas gostam que lhes digam 
o que fazer, ou que sejam forçadas a tomar atitudes; a motiva­
ção do paciente pode melhorar se ele reconhecer a liberdade 
de escolha em relação aos objetivos do tratamento. 
4. Diminuir o aspecto desejável do comportamento: no está­
gio da ponderação deve­se mostrar fatores favoráveis para 
a balança tender mais para o lado positivo, diminuindo e 
enfraquecendo os fatores negativos ao tratamento. 
5. Praticar a empatia: a postura de acolhimento demonstra­
da pelo profissional demonstra compreensão e promove 
ajuda efetiva ao paciente. 
6. Proporcionar feedback: o conhecimento claro sobre sua si­
tuação atual é elemento essencial para a motivação. 
7. Estabelecer objetivos: ajudar as pessoas a estabelecer me­
tas definidas, desde que alcançáveis e realistas, auxiliando 
no processo de mudança. 
8. Ajudar ativamente: o profissional, ativa e afirmativamen­
te interessado, pode exercer grande influência sobre a to­
mada de decisão. 
Iniciativas	práticas	para	o	atendimento	em	
consultório
Muitas condutas podem ser adotadas. Por exemplo, na sala 
de espera de um consultório exiba cartazes de “Proibido fumar”, 
retire cinzeiros, combine com toda a equipe de saúde a proibição 
de fumar no ambiente médico e crie oportunidades para que seu 
paciente peça ajuda para largar o cigarro (incluindo folhetos sobre 
o abandono do tabagismo entre os materiais de leitura da sala de 
espera ou exibindo filmes educativos em vídeo). 
Durante a anamnese incorpore informações sobre tabagis­
mo, como número diário de cigarros, número de anos fumando, 
tentativas anteriores de abandono (com tempo de abstinência, pro­
blemas enfrentados), pergunte sobre os sintomas relacionados ao 
tabagismo (como tosse, produção de catarro, dificuldade respira­
tória, infecções respiratórias recorrentes) e reveja histórico familiar 
relacionado ao fumo (tais como coronariopatias, doença pulmonar 
obstrutiva crônica, câncer, etc). Perguntas rotineiras sobre o con­
sumo tabágico: “Você fuma?” ou “Você continua fumando?”; “Há 
quanto tempo?” ou “Com que idade começou?”; “Quantos cigarros 
por dia você fuma em média?”; “Você está interessado em parar de 
fumar?”; “Você já tentou parar de fumar antes?” (caso afirmativo: 
“O que aconteceu?”). O profissional deve sempre adequar reco­
mendações às características do paciente, estimulando­o a parar de 
fumar com boas razões, como as exemplificadas a seguir: 
­ Adolescentes: mau hálito, vestes e cabelos impregnados 
pelo odor do fumo, dores de garganta, tosse, infecções 
respiratórias freqüentes, falta de ar, mau desempenho nas 
atividades esportivas, despesas com cigarro e perda da ine­
pendência (“ser controlado pelo cigarro”). 
­ Mulheres grávidas: risco aumentado de aborto espontâneo, 
morte fetal, imaturidade pulmonar do feto e baixo peso ao 
nascimento, entre outras. 
­ Pais fumantes: bronquite, alergias e infecções respirató­
rias mais freqüentes entre crianças de pais fumantes e mau 
exemplo para os filhos. 
­ Adultos assintomáticos: risco aumentado de doença car­
díaca, DPOC, câncer de pulmão, redução da expectativa de 
vida, despesas com manutenção do consumo de cigarros, 
despesas com doenças tabaco­relacionadas, respiração pre­
judicada, hábito socialmente inadequado por causar doen­
ças naqueles que não fumam, além do envelhecimento pre­
coce, com aparecimento de rugas e escurecimento de dentes 
e pontas dos dedos. 
­ Adultos sintomáticos: infecções das vias aéreas inferiores e 
superiores, tosse, dor de garganta, doenças nas gengivas, 
dispnéia, úlcera do trato digestivo, angina, claudicação, os­
teoporose, esofagite, impotência sexual e redução do de­
sempenho das atividades físicas. 
­ Fumantes recentes: mais fácil parar agora e menos risco 
de adoecer. 
­ Qualquer fumante: garantia de que outros não sejam afe­
tados pelos males da sua fumaça, economia de dinheiro, 
melhora da resistência física para exercícios, melhora da 
qualidade de vida, e sensação de bem estar e certeza de 
ter conquistado algo importante para si. 
Transforme o exame físico em intervenção: dê mais ênfase 
ao exame cardiovascular e dos pulmões, mensure a pressão arterial, 
1696 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • 
proporcionando alívio dos efeitos da abstinência e “quebrando” o 
ciclo vicioso da ação nicotínica. Com relação à prescrição, a dose 
inicial é de 150 mg/dia durante 3 dias, seguida de dose plena de 
300 mg/ dia em duas tomadas por via oral, com intervalo mínimo 
de 8 horas. atenção: a dose não deve ser tomada após as 19 horas, 
pois facilita o aparecimento de insônia. Por tratar­se de medicação 
bem tolerada, é fácil de utilizar e não requer ajustes de dose pa­
ra cada paciente. Recomenda­se que os pacientes devam ser trata­
dos com bupropiona durante até 12 semanas. Deve­se marcar data 
para suspender o fumo durante as primeiras duas semanas (usual­
mente na segunda semana de tratamento). Se até a sétima semana 
não houver progresso no abandono do fumo, a bupropiona de­
verá ser suspensa. À semelhança de outros antidepressivos, há pe­
queno risco de provocar convulsões. Portanto, está contra­indicada 
em pacientes com epilepsia, doenças do sistema nervoso central, 
anorexia ou bulimia e sob uso de drogas que baixem o limiar pa­
ra convulsões. Além destas, outras situações de risco devem ser ve­
rificadas antes do inicio do uso da bupropiona: 
­ história de traumatismo craniano ou convulsões, inclusive 
convulsão febril infantil;
­ tumores do sistema nervoso central;
­ uso abusivo de álcool;
­ uso de antipsicóticos, antidepressivos, teofilina e corticos­
teróides sistêmicos, entre outros. 
Os efeitos adversos mais comuns são sensação de boca seca 
e insônia, que podem ser controlados facilmente. É difícil separar 
os efeitos colaterais da bupropiona dos sintomas de abstinência da 
nicotina, pois ambos podem levar à agitação, ansiedade, irritabilida­
de e insônia. As complicações encontradas durante o uso da bupro­
piona são risco de convulsões e reações de hipersensibilidade, que 
ocorrem em cerca de 0,1% dos pacientes em ensaios clínicos. Em 
fumantes com insuficiência hepática ou renal recomenda­se que a 
dose de bupropiona deve ser mais baixa que a usual. Sua utilização 
não é recomendada durante a gravidez, pois ainda não foi estabele­
cida a segurança do uso durante o período de gestação. 
Considerada como método seguro no tratamento da depen­
dência à nicotina, a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) no 
Brasil está disponível por via transdérmica ou oral. As proprieda­
des farmacocinéticas dos métodos de reposição de nicotina dife­
rem entre si, porém nenhum libera nicotina para a circulação rapi­
damente como o cigarro. 
A goma de mascar de nicotina é encontrada em tabletes de 
2 e 4 mg, e consiste em complexo de resina e nicotina tamponado 
em pH alcalino, para que haja aumento de sua absorção pela mu­
cosa oral. Deve ser mascada fortemente por 20 a 30 minutos para 
que se obtenha 90% de liberação de nicotina, e o seu pico de con­
centração é atingido em torno de 90 minutos. A biodisponibilida­
de da nicotina, a partir de tablete de goma de mascar de 2 mg é de, 
aproximadamente, 1 mg, e no de 4 mg por volta de 1,5 a 2 mg. 
Como tratamento isolado devem ser mascadas 10 a 15 unidades 
por dia. A goma presta­se também como medicação emergencial, 
adicional a outras formas de tratamento, para alívio de momentos 
de grande compulsão. O risco de dependência crônica de goma 
de mascar de nicotina parece ser mínimo, provavelmente pelo fato 
de não produzir a mesma satisfação que o cigarro. As reações ad­
versas mais comuns com o uso da goma de mascar são problemas 
dentais, fadiga muscular do maxilar, goma aderida à dentadura, ir­
ritação da boca ou garganta, úlceras orais, hipersalivaçãoe sinto­
mas gastrointestinais gerais. 
A utilização da goma de mascar requer orientação especial: 
deve ser mascada até o surgimento de gosto característico, indican­
do a liberação de nicotina, que será absorvida pela mucosa bucal. A 
goma deve, então, ser colocada no sulco gengival por alguns minu­
explique a relação entre tabagismo e esses sistemas, relacione sin­
tomas detectados ao tabagismo e discuta os benefícios físicos de 
parar de fumar. Utilize exames laboratoriais para individualizar a 
mensagem, por exemplo: meça o pico do fluxo expiratório, meça 
a saturação de oxigênio e realize uma espirometria. Incorpore o 
abandono do tabagismo ao plano de tratamento: quando um pa­
ciente tem diagnóstico de doenças relacionadas ao tabaco ou sua 
doença é exacerbada pelo fumo, enfatize a importância do aban­
dono do tabagismo para o tratamento da doença. 
Aproveite os retornos para reforçar a importância em parar de 
fumar e para controlar o progresso do paciente que está largando o 
cigarro. Quando o paciente está deixando de fumar, oriente­o em 
relação à síndrome de abstinência. Nas primeiras 24 horas podem 
ocorrer: desejo intenso por cigarros, irritabilidade, dificuldade de 
concentração, inquietação, insônia, termores, cefaléia, tontura e 
distúrbios gastrointestinais. Os pacientes precisam saber também 
que os sintomas físicos da abstinência são passageiros, durando de 
uma a duas semanas. Afirme que eles terão apoio médico durante 
esse período difícil. 
Tratamento	farmacológico
Os medicamentos de eficácia comprovada na cessação do ta­
bagismo são divididos em duas categorias: medicamentos nicotí­
nicos e não­nicotínicos. 
Os medicamentos nicotínicos, também denominados Tera­
pia de Reposição de Nicotina (TRN), apresentam­se sob a forma 
de adesivos transdérmicos, gomas de mascar, spray nasal ou para 
inalação. Apenas as duas primeiras apresentações encontram­se dis­
poníveis no mercado brasileiro e correspondem a uma forma len­
ta de liberação da nicotina. Os medicamentos não­nicotínicos são 
os antidepressivos bupropiona e nortriptilina, e o anti­hipertensi­
vo clonidina. 
A TRN e a bupropiona são considerados medicamentos de 
primeira linha, ao passo que a nortriptilina e a clonidina são classifi­
cados como de segunda linha no tratamento. Segundo o Consen­
so de Abordagem e Tratamento do Fumante do INCA de 2001, 
os medicamentos de segunda linha só devem ser utilizados após 
insucesso das medicações de primeira linha. 
Abaixo, observamos que existem critérios para utilização da 
farmacoterapia, conforme estabelecido no consenso já referido. 
Portanto, devem receber tratamento medicamentoso: 
­ fumantes imoderados, ou seja, que fumam 20 ou mais ci­
garros por dia; 
­ fumantes que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos 
após acordar e fumam, no mínimo, 10 cigarros por dia; 
­ fumantes com escore do teste de Fargerström igual ou maior 
que 5, ou avaliação individual, a critério do profissional; 
­ fumantes que já tentaram parar de fumar anteriormente ape­
nas com a abordagem cognitivo­comportamental. 
Devemos lembrar que não deve haver contra­indicações clí­
nicas para o uso da farmacoterapia indicada. De modo geral, a mo­
noterapia é suficiente. A escolha entre uma das formas de reposição 
de nicotina (adesivo ou goma de mascar) e bupropiona, depende­
rá da avaliação individual do paciente pelo profissional. Entre os 
medicamentos de primeira linha, não existe critério especifico para 
escolha, devendo­se levar em consideração a opinião e preferência 
do paciente, desde que não existam contra­indicações. Esta estra­
tégia tende a aumentar a adesão ao tratamento. 
A bupropiona é medicamento não­nicotínico, antidepressivo 
monocíclico, que inibe a recaptação da dopamina e da noradrena­
lina no cérebro. A droga aumentaria a quantidade de dopamina ce­
rebral e teria também interação direta com receptores de nicotina, 
• PNEUMOLOGIA • 1697
tos até adquirir a consistência endurecida, quando deverá ser reini­
ciado o processo de mascar. Este ciclo deve ser repetido em média 
por 30 minutos. Deve­se evitar líquidos durante e antes de mascar 
a goma, pois isso diminui a absorção da nicotina. 
A via transdérmica é, atualmente, a mais recomendada no mun­
do. Estão disponíveis, no Brasil, dosagens dos adesivos de 7,14 e 21 
mg de nicotina ativa. Os adesivos transdérmicos são eficazes em libe­
rar doses fixas de nicotina, alcançando, em média, 50% do nível sé­
rico obtido pela inalação da fumaça do cigarro. A nicotina é libera­
da continuamente, sendo absorvida pela pele, porém, sua absorção 
corresponde a 75% do total contido nos adesivos. A concentração 
de nicotina no plasma se mantém por cerca de 16 horas, declinando 
gradativamente e desaparecendo após 28 horas, enquanto o nível de 
cotinina (metabólito da nicotina) se mantém estável por 36 horas. Os 
efeitos adversos mais comuns são as várias formas de irritação cutânea 
(eritema, prurido, edema, vesículas). Estes efeitos colaterais podem 
ser evitados alternando o local de aplicação do adesivo. 
Deve­se evitar o consumo de cigarros durante a utilização 
de TRN, pois poderá ocorrer superdosagem de nicotina. Deve­se 
contra­indicar TRN para pacientes com passado recente de infar­
to do miocárdio, arritmias cardíacas e acidente vascular encefálico, 
embora em certas circunstâncias, tais contra­indicações possam ser 
reavaliadas de acordo com os riscos e benefícios de seu uso. 
Após a revisão semanal do paciente, o terapeuta decidirá pe­
lo incremento, manutenção ou diminuição da dose diária de re­
posição de nicotina, na dependência da intensidade dos sintomas 
de abstinência. 
A nortriptilina, um antidepressivo tricíclico, possui mecanis­
mo de ação semelhante à bupropiona, ao inibir a recaptação de no­
radrenalina e dopamina no sistema nervoso central. O tratamento 
a longo prazo com esta droga reduz a ansiedade e auxilia na cessa­
ção do tabagismo. Existem poucos trabalhos científicos de acom­
panhamento de pacientes a longo prazo com o uso desta medica­
ção na cessação do tabagismo, mas estudos a curto prazo mostram 
que ela é eficaz no auxílio à interrupção. A dose recomendada é 
de 75 a 100 mg/dia por 8 a 12 semanas. Deve ser iniciada com 
25 a 50 mg/dia e aumentada, gradualmente, se necessário. Possui 
poucos efeitos colaterais. 
Outra medicação disponível é a clonidina, anti­hipertensivo 
que pode ser utilizado no tratamento do tabagismo, embora com 
resultados inferiores aos usuais. Está em franco desuso. A clonidina 
alivia os sintomas da síndrome de abstinência como ansiedade, ir­
ritabilidade, cansaço e compulsão. Pode ser utilizada na dose de 
até 0,75 mg/dia, durante 3 semanas. Efeitos colaterais como se­
dação e hipotensão arterial podem dificultar seu uso, e a suspensão 
abrupta pode produzir crises hipertensivas. 
A vareniclina é nova droga disponibilizada para o tratamento 
do tabagismo, sendo desenhada especificamente para ativar parcial­
mente o receptor da nicotina e reduzir a intensidade do desejo pela 
substância e, conseqüentemente, pelo cigarro. Há menos sintomas 
relacionados à abstinência e, caso o paciente fume durante o trata­
mento, a medicação tem potencial para reduzir ou retirar a sensa­
ção de satisfação associada ao fumar. Foi testada com tratamento 
de 1 mg duas vezes ao dia, duração de 12 semanas. Já foi aprova­
da pela ANVISA, porém, até o momento não foi disponibilizada 
ao mercado nacional (até o fechamento desta edição), porém, há 
previsão de liberação ainda no primeiro semestre de 2007.
Existem vários outros métodos propostos para a cessação do 
tabagismo, tais como hipnose, acupuntura, aromaterapia, piteiras e 
outros. Não existem, entretanto, evidências cientificas suficientes 
para comprovar a eficácia desses métodos. Dessa forma, deve­se re­
comendar que o tratamento farmacológico do tabagismo seja fun­
damentado no uso dos tratamentosdescritos nesta revisão. 
Plano	para	deixar	de	fumar
O Núcleo de apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo 
(PrevFumo) da Disciplina de Pneumologia da Umiversidade 
Federal de São Paulo (Unifesp) está localizado no Centro de 
Reabilitação Pulmonar do Lar Escola São Francisco (LESF) e o 
seu plano de cessação é baseado em programa cognitivo­compor­
tamental. O fumante passa por entrevista inicial na qual são avalia­
dos, entre outros, o grau de dependência à nicotina (Fagerström), 
o grau de motivação para mudanças comportamentais (Prochaska e 
DiClemente), a indicação de farmacoterapia e a existência de con­
tra­indicações relativas e absolutas ao uso de qualquer dos medica­
mentos para o tratamento. Com base nestes dados ele será encami­
nhado ao tratamento em grupo, no qual receberá a intervenção 
comportamental e as orientações para o uso do medicamento in­
dicado. O acompanhamento é feito por 8 semanas (encontros se­
manais no primeiro mês e quinzenais no segundo mês, totalizan­
do 6 reuniões), tempo suficiente para abordagem das questões 
que surgem durante todas as etapas da cessação. A opção da tera­
pia medicamentosa associada (quando indicada) é feita pela ava­
liação das preferências do paciente, da existência de contra­indi­
cações e dos aspectos que possam indicar maiores benefícios com 
alguma das medicações. 
Ao final do tratamento os fumantes que pararam de fumar 
são encaminhados aos encontros mensais de manutenção, nos quais 
receberão apoio com estratégias de prevenção da recaída. Estes 
encontros são mensais e prolongados até que o individuo comple­
te 1 ano de abstinência. Pacientes que sofrem recaída são reenca­
minhados ao tratamento. 
Os pacientes são orientados a obterem mais informações sobre 
tabagismo nos sites www.pacientes.com.br e www.prevfumo.med.br.
533	 Reabilitação do Pneumopata 
 Crônico
José Roberto Jardim
Andréa K. Carvalho
Nivia Nonato
Oliver Nascimento
A American Thoracic Society/European Respiratory Society (2006) definiu Reabilitação Pulmonar como: programa baseado em 
evidências, multiprofissional e integral para pacientes com doenças 
respiratórias crônicas com sintomas e redução nas atividades diá­
rias. A reabilitação é tratamento individualizado e delineado pa­
ra reduzir sintomas, melhorar a capacidade física, aumentar a par­
ticipação do paciente e reduzir os custos com cuidados de saúde 
por meio de estabilização e reversão das manifestações sistêmi­
cas da doença.
A reabilitação pulmonar tem como objetivo básico a melhora 
da qualidade de vida relacionado ao estado de saúde do paciente. 
Além disso, o programa visa: aumentar a capacidade ao exercício, 
aumentar a habilidade de auto­ajuda (independência) e diminuir os 
sintomas pulmonares, sobretudo a dispnéia (Tabela 1).
Uma das razões para o sucesso da reabilitação pulmonar ba­
seia­se no fato de que os pacientes crônicos possuem outros com­
ponentes tratáveis que não apenas o pulmonar. Alterações na mus­

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