Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1694 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • Outras cirurgias: Glossectomia mediana a laser ou linguo plastia representam variações de procedimento que aumenta o es paço retrolingual por meio da extirpação de segmento da região mediana e posterior da língua. O procedimento é habitualmente feito com o paciente traqueostomizado, e o sucesso terapêutico re ferido na literatura é, a nosso ver, pouco expressivo, considerado se a extensão dos procedimentos envolvidos. Como mensagem final, salientamos que os procedimentos cirúrgicos são tratamento alternativos para a apnéia obstrutiva em adultos, quando a abordagem clínica, utilizando métodos mecâ nicos (CPAP e AIO), falhou. O grande desafio, no presente, está na dificuldade de predizer quais pacientes se beneficiariam com es sas cirurgias. Por outro lado, existem complicações agudas e tar dias, acima descritas, que devem ser criteriosamente consideradas quando se cogitar esta indicação terapêutica. 532 Cessação do Tabagismo Sérgio Ricardo R.A. Santos Ângela Giuliana Zavatieri Juliana Moysés Júlio César A. de Oliveira José Roberto Jardim Epidemiologia Segundo valores encontrados pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) em 2001, por meio de estudo realizado entre fumantes (randomizado, com entrevistas domiciliares, em 107 cidades com mais de 200 mil habitantes, na faixa etária compreendida entre 12 e 65 anos) observouse que a prevalência de uso diário de tabaco na amostra total foi 17% e na queles com 35 anos ou mais foi 24% (28% para o sexo masculino e 20% para o sexo feminino). Nove por cento dos avaliados preenche ram os critérios para estimar dependência, segundo o que determi na o NHSDA (National Household Surveys on Drug Abuse). Conceitos de droga e dependência Droga é qualquer substância química, natural ou sintetiza da, capaz de produzir efeitos sobre o funcionamento do corpo, re sultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Estão excluídos deste grupo os alimentos ou outros elementos necessá rios à vida normal. Hoje já está bem claro que a nicotina do cigarro causa de pendência. Dependência a alguma substância é definida como um padrão de má adaptação ao uso da substância, levando a intenso prejuízo ou sofrimento, que se tornam aparentes pela ocorrência dos seguintes critérios durante o mesmo período de 12 meses: to lerabilidade, síndrome da abstinência e desejo persistente. É pos sível avaliar o grau de dependência à nicotina. A escala mais co nhecida é a de Fargeström, que se baseia no número de pontos obtidos em seis perguntas: 1. Quanto tempo após acordar você fuma o seu primei ro cigarro? Dentro de cinco minutos 3 pontos Entre 6 e 30 minutos 2 pontos Entre 31 e 60 minutos 1 ponto Após 60 minutos 0 ponto 2. Você acha difícil não fumar em lugares proibidos, como igrejas, bibliotecas, cinemas, ônibus, etc? Sim 1 ponto Não 0 ponto 3. Qual o cigarro do dia que te traz , mais satisfação? O primeiro da manhã 1 ponto Outros 0 ponto 4. Quantos cigarros você fuma por dia? Menos de 10 0 ponto De 11 a 20 1 ponto De 21 a 30 2 pontos Mais que 30 3 pontos 5. Você fuma mais freqüentemente pela manhã? Sim 1 ponto Não 0 ponto 6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar de cama a maior parte do tempo? Sim 1 ponto Não 0 ponto Conclusão sobre o grau de dependência: muito baixo (0 a 2 pontos), baixo (3 ou 4 pontos), médio (5 pontos), elevado (6 ou 7 pontos) e muito elevado (8 a 10 pontos). Motivação para parar de fumar A motivação pode ser definida como a probabilidade de que uma pessoa inicie, continue e adote estratégia de mudança especí fica. É, portanto, um estado de prontidão ou avidez para a modifi cação de comportamentos. Sem a motivação tornase impraticável a aplicação de estratégias cognitivas para mudanças comportamen tais, essenciais ao sucesso do tratamento do tabagismo. De acordo com o Modelo Transteórico Comportamental de Prochaska e Di Clemente, a motivação passa por estágios , que são: précontemplação (ou préponderação), contemplação (ou ponde ração), preparação (ou determinação), ação e manutenção. O ponto de partida para o processo de mudança é o estágio de précontemplação. Neste estágio o ato de fumar não é conside rado problema. O fumante não considera a possibilidade de mu dança de seu comportamento. É desnecessário dizer que os pré contemplativos raramente se apresentam para tratamento. Nesse momento a abordagem do profissional é de informação e feedba ck para que o fumante tome consciência de seu problema e possa pensar na possibilidade de mudança. Uma vez que alguma consciência do problema tenha surgi do, o fumante entra em período caracterizado pela ambivalência, chamado de contemplação: ele tanto considera a mudança como a rejeita. Se deixado livre para falar sobre a áreaproblema, o ponde rador ficará dividido entre motivos de preocupação e justificativas para a despreocupação. A tarefa do profissional é ajudar a inclinar a balança para a mudança positiva, utilizando os próprios argumen tos do paciente para a mudança do comportamento. • PNEUMOLOGIA • 1695 O estágio de preparação ou determinação aparece quando a balança do fumante inclina para as afirmações da pessoa: o fumante afirma que precisa fazer algo em relação ao cigarro; sabe que o pro blema existe e algo tem que mudar. Ele começa a assumir atitudes como diminuir o número de cigarros consumidos diariamente. Es te estágio funciona como uma janela de oportunidade, que se abre por um tempo; caso o fumante entre em ação, ele prosseguirá para a cessação do tabagismo. A tarefa do profissional será a de aproveitar a oportunidade que se abre, reforçando comportamentos em busca de uma estratégia de mudança que seja aceitável pelo paciente. No estágio de ação o fumante adota atitudes específicas para chegar à mudança. O objetivo durante este estágio é produzir mu dança em uma áreaproblema. O fumante deixa o cigarro e muda algumas condições ambientais. A maioria das pessoas que deixam de fumar o fazem neste estágio, muitas vezes por conta própria e sem tratamento. A abordagem do profissional é manter o fumante atento e disposto para a mudança. Fazer mudança, no entanto, não garante que ela será man tida. Durante o próximo estágio, que é o da manutenção, o desa fio é manter a mudança obtida pela ação anterior e evitar a recaída. Nesta fase de manutenção, os lapsos e as recaídas não são desejados mas possíveis de acontecer, especialmente quando a pessoa busca a mudança de qualquer padrão de longa duração. Caso haja a recaída, a tarefa do indivíduo é retomar os estágios, caminhando novamen te para a ação de parar e não imobilizarse nisso. A abordagem do profissional nesse caso é manter a ação e os esforços relembrando ao paciente os motivos que o levaram a parar de fumar. Finalmente, se houver recaída dentro da fase de manutenção, a abordagem do profissional é ajudar a evitar o desânimo, a conti nuar a contemplar a mudança, a renovar a determinação e a reto mar a ação e manutenção de esforços. Estratégias cognitivo-comportamentais Se a motivação é uma probabilidade de mudança de com portamento, é razoável que se busquem técnicas que visem a mu dança destes comportamentos indesejáveis. Vamos descrever oi to estratégias que promovem bons resultados, quando aplicadas em conjunto: 1. Oferecer orientação: é um dos elementos que estimula a mudança; orientação oportuna e moderada ajuda a pes soa a se posicionar melhor. 2. Remover barreiras: algumas barreiras práticas e específicas, como locomoção ao lugar do tratamento, cuidados com filhos e timidez podem interferir no sucesso do tratamen to; a tarefa do profissional é ajudar o paciente a estudar medidas viáveis parasuperar as barreiras. 3. Proporcionar escolhas: poucas pessoas gostam que lhes digam o que fazer, ou que sejam forçadas a tomar atitudes; a motiva ção do paciente pode melhorar se ele reconhecer a liberdade de escolha em relação aos objetivos do tratamento. 4. Diminuir o aspecto desejável do comportamento: no está gio da ponderação devese mostrar fatores favoráveis para a balança tender mais para o lado positivo, diminuindo e enfraquecendo os fatores negativos ao tratamento. 5. Praticar a empatia: a postura de acolhimento demonstra da pelo profissional demonstra compreensão e promove ajuda efetiva ao paciente. 6. Proporcionar feedback: o conhecimento claro sobre sua si tuação atual é elemento essencial para a motivação. 7. Estabelecer objetivos: ajudar as pessoas a estabelecer me tas definidas, desde que alcançáveis e realistas, auxiliando no processo de mudança. 8. Ajudar ativamente: o profissional, ativa e afirmativamen te interessado, pode exercer grande influência sobre a to mada de decisão. Iniciativas práticas para o atendimento em consultório Muitas condutas podem ser adotadas. Por exemplo, na sala de espera de um consultório exiba cartazes de “Proibido fumar”, retire cinzeiros, combine com toda a equipe de saúde a proibição de fumar no ambiente médico e crie oportunidades para que seu paciente peça ajuda para largar o cigarro (incluindo folhetos sobre o abandono do tabagismo entre os materiais de leitura da sala de espera ou exibindo filmes educativos em vídeo). Durante a anamnese incorpore informações sobre tabagis mo, como número diário de cigarros, número de anos fumando, tentativas anteriores de abandono (com tempo de abstinência, pro blemas enfrentados), pergunte sobre os sintomas relacionados ao tabagismo (como tosse, produção de catarro, dificuldade respira tória, infecções respiratórias recorrentes) e reveja histórico familiar relacionado ao fumo (tais como coronariopatias, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer, etc). Perguntas rotineiras sobre o con sumo tabágico: “Você fuma?” ou “Você continua fumando?”; “Há quanto tempo?” ou “Com que idade começou?”; “Quantos cigarros por dia você fuma em média?”; “Você está interessado em parar de fumar?”; “Você já tentou parar de fumar antes?” (caso afirmativo: “O que aconteceu?”). O profissional deve sempre adequar reco mendações às características do paciente, estimulandoo a parar de fumar com boas razões, como as exemplificadas a seguir: Adolescentes: mau hálito, vestes e cabelos impregnados pelo odor do fumo, dores de garganta, tosse, infecções respiratórias freqüentes, falta de ar, mau desempenho nas atividades esportivas, despesas com cigarro e perda da ine pendência (“ser controlado pelo cigarro”). Mulheres grávidas: risco aumentado de aborto espontâneo, morte fetal, imaturidade pulmonar do feto e baixo peso ao nascimento, entre outras. Pais fumantes: bronquite, alergias e infecções respirató rias mais freqüentes entre crianças de pais fumantes e mau exemplo para os filhos. Adultos assintomáticos: risco aumentado de doença car díaca, DPOC, câncer de pulmão, redução da expectativa de vida, despesas com manutenção do consumo de cigarros, despesas com doenças tabacorelacionadas, respiração pre judicada, hábito socialmente inadequado por causar doen ças naqueles que não fumam, além do envelhecimento pre coce, com aparecimento de rugas e escurecimento de dentes e pontas dos dedos. Adultos sintomáticos: infecções das vias aéreas inferiores e superiores, tosse, dor de garganta, doenças nas gengivas, dispnéia, úlcera do trato digestivo, angina, claudicação, os teoporose, esofagite, impotência sexual e redução do de sempenho das atividades físicas. Fumantes recentes: mais fácil parar agora e menos risco de adoecer. Qualquer fumante: garantia de que outros não sejam afe tados pelos males da sua fumaça, economia de dinheiro, melhora da resistência física para exercícios, melhora da qualidade de vida, e sensação de bem estar e certeza de ter conquistado algo importante para si. Transforme o exame físico em intervenção: dê mais ênfase ao exame cardiovascular e dos pulmões, mensure a pressão arterial, 1696 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • proporcionando alívio dos efeitos da abstinência e “quebrando” o ciclo vicioso da ação nicotínica. Com relação à prescrição, a dose inicial é de 150 mg/dia durante 3 dias, seguida de dose plena de 300 mg/ dia em duas tomadas por via oral, com intervalo mínimo de 8 horas. atenção: a dose não deve ser tomada após as 19 horas, pois facilita o aparecimento de insônia. Por tratarse de medicação bem tolerada, é fácil de utilizar e não requer ajustes de dose pa ra cada paciente. Recomendase que os pacientes devam ser trata dos com bupropiona durante até 12 semanas. Devese marcar data para suspender o fumo durante as primeiras duas semanas (usual mente na segunda semana de tratamento). Se até a sétima semana não houver progresso no abandono do fumo, a bupropiona de verá ser suspensa. À semelhança de outros antidepressivos, há pe queno risco de provocar convulsões. Portanto, está contraindicada em pacientes com epilepsia, doenças do sistema nervoso central, anorexia ou bulimia e sob uso de drogas que baixem o limiar pa ra convulsões. Além destas, outras situações de risco devem ser ve rificadas antes do inicio do uso da bupropiona: história de traumatismo craniano ou convulsões, inclusive convulsão febril infantil; tumores do sistema nervoso central; uso abusivo de álcool; uso de antipsicóticos, antidepressivos, teofilina e corticos teróides sistêmicos, entre outros. Os efeitos adversos mais comuns são sensação de boca seca e insônia, que podem ser controlados facilmente. É difícil separar os efeitos colaterais da bupropiona dos sintomas de abstinência da nicotina, pois ambos podem levar à agitação, ansiedade, irritabilida de e insônia. As complicações encontradas durante o uso da bupro piona são risco de convulsões e reações de hipersensibilidade, que ocorrem em cerca de 0,1% dos pacientes em ensaios clínicos. Em fumantes com insuficiência hepática ou renal recomendase que a dose de bupropiona deve ser mais baixa que a usual. Sua utilização não é recomendada durante a gravidez, pois ainda não foi estabele cida a segurança do uso durante o período de gestação. Considerada como método seguro no tratamento da depen dência à nicotina, a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) no Brasil está disponível por via transdérmica ou oral. As proprieda des farmacocinéticas dos métodos de reposição de nicotina dife rem entre si, porém nenhum libera nicotina para a circulação rapi damente como o cigarro. A goma de mascar de nicotina é encontrada em tabletes de 2 e 4 mg, e consiste em complexo de resina e nicotina tamponado em pH alcalino, para que haja aumento de sua absorção pela mu cosa oral. Deve ser mascada fortemente por 20 a 30 minutos para que se obtenha 90% de liberação de nicotina, e o seu pico de con centração é atingido em torno de 90 minutos. A biodisponibilida de da nicotina, a partir de tablete de goma de mascar de 2 mg é de, aproximadamente, 1 mg, e no de 4 mg por volta de 1,5 a 2 mg. Como tratamento isolado devem ser mascadas 10 a 15 unidades por dia. A goma prestase também como medicação emergencial, adicional a outras formas de tratamento, para alívio de momentos de grande compulsão. O risco de dependência crônica de goma de mascar de nicotina parece ser mínimo, provavelmente pelo fato de não produzir a mesma satisfação que o cigarro. As reações ad versas mais comuns com o uso da goma de mascar são problemas dentais, fadiga muscular do maxilar, goma aderida à dentadura, ir ritação da boca ou garganta, úlceras orais, hipersalivaçãoe sinto mas gastrointestinais gerais. A utilização da goma de mascar requer orientação especial: deve ser mascada até o surgimento de gosto característico, indican do a liberação de nicotina, que será absorvida pela mucosa bucal. A goma deve, então, ser colocada no sulco gengival por alguns minu explique a relação entre tabagismo e esses sistemas, relacione sin tomas detectados ao tabagismo e discuta os benefícios físicos de parar de fumar. Utilize exames laboratoriais para individualizar a mensagem, por exemplo: meça o pico do fluxo expiratório, meça a saturação de oxigênio e realize uma espirometria. Incorpore o abandono do tabagismo ao plano de tratamento: quando um pa ciente tem diagnóstico de doenças relacionadas ao tabaco ou sua doença é exacerbada pelo fumo, enfatize a importância do aban dono do tabagismo para o tratamento da doença. Aproveite os retornos para reforçar a importância em parar de fumar e para controlar o progresso do paciente que está largando o cigarro. Quando o paciente está deixando de fumar, orienteo em relação à síndrome de abstinência. Nas primeiras 24 horas podem ocorrer: desejo intenso por cigarros, irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação, insônia, termores, cefaléia, tontura e distúrbios gastrointestinais. Os pacientes precisam saber também que os sintomas físicos da abstinência são passageiros, durando de uma a duas semanas. Afirme que eles terão apoio médico durante esse período difícil. Tratamento farmacológico Os medicamentos de eficácia comprovada na cessação do ta bagismo são divididos em duas categorias: medicamentos nicotí nicos e nãonicotínicos. Os medicamentos nicotínicos, também denominados Tera pia de Reposição de Nicotina (TRN), apresentamse sob a forma de adesivos transdérmicos, gomas de mascar, spray nasal ou para inalação. Apenas as duas primeiras apresentações encontramse dis poníveis no mercado brasileiro e correspondem a uma forma len ta de liberação da nicotina. Os medicamentos nãonicotínicos são os antidepressivos bupropiona e nortriptilina, e o antihipertensi vo clonidina. A TRN e a bupropiona são considerados medicamentos de primeira linha, ao passo que a nortriptilina e a clonidina são classifi cados como de segunda linha no tratamento. Segundo o Consen so de Abordagem e Tratamento do Fumante do INCA de 2001, os medicamentos de segunda linha só devem ser utilizados após insucesso das medicações de primeira linha. Abaixo, observamos que existem critérios para utilização da farmacoterapia, conforme estabelecido no consenso já referido. Portanto, devem receber tratamento medicamentoso: fumantes imoderados, ou seja, que fumam 20 ou mais ci garros por dia; fumantes que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos após acordar e fumam, no mínimo, 10 cigarros por dia; fumantes com escore do teste de Fargerström igual ou maior que 5, ou avaliação individual, a critério do profissional; fumantes que já tentaram parar de fumar anteriormente ape nas com a abordagem cognitivocomportamental. Devemos lembrar que não deve haver contraindicações clí nicas para o uso da farmacoterapia indicada. De modo geral, a mo noterapia é suficiente. A escolha entre uma das formas de reposição de nicotina (adesivo ou goma de mascar) e bupropiona, depende rá da avaliação individual do paciente pelo profissional. Entre os medicamentos de primeira linha, não existe critério especifico para escolha, devendose levar em consideração a opinião e preferência do paciente, desde que não existam contraindicações. Esta estra tégia tende a aumentar a adesão ao tratamento. A bupropiona é medicamento nãonicotínico, antidepressivo monocíclico, que inibe a recaptação da dopamina e da noradrena lina no cérebro. A droga aumentaria a quantidade de dopamina ce rebral e teria também interação direta com receptores de nicotina, • PNEUMOLOGIA • 1697 tos até adquirir a consistência endurecida, quando deverá ser reini ciado o processo de mascar. Este ciclo deve ser repetido em média por 30 minutos. Devese evitar líquidos durante e antes de mascar a goma, pois isso diminui a absorção da nicotina. A via transdérmica é, atualmente, a mais recomendada no mun do. Estão disponíveis, no Brasil, dosagens dos adesivos de 7,14 e 21 mg de nicotina ativa. Os adesivos transdérmicos são eficazes em libe rar doses fixas de nicotina, alcançando, em média, 50% do nível sé rico obtido pela inalação da fumaça do cigarro. A nicotina é libera da continuamente, sendo absorvida pela pele, porém, sua absorção corresponde a 75% do total contido nos adesivos. A concentração de nicotina no plasma se mantém por cerca de 16 horas, declinando gradativamente e desaparecendo após 28 horas, enquanto o nível de cotinina (metabólito da nicotina) se mantém estável por 36 horas. Os efeitos adversos mais comuns são as várias formas de irritação cutânea (eritema, prurido, edema, vesículas). Estes efeitos colaterais podem ser evitados alternando o local de aplicação do adesivo. Devese evitar o consumo de cigarros durante a utilização de TRN, pois poderá ocorrer superdosagem de nicotina. Devese contraindicar TRN para pacientes com passado recente de infar to do miocárdio, arritmias cardíacas e acidente vascular encefálico, embora em certas circunstâncias, tais contraindicações possam ser reavaliadas de acordo com os riscos e benefícios de seu uso. Após a revisão semanal do paciente, o terapeuta decidirá pe lo incremento, manutenção ou diminuição da dose diária de re posição de nicotina, na dependência da intensidade dos sintomas de abstinência. A nortriptilina, um antidepressivo tricíclico, possui mecanis mo de ação semelhante à bupropiona, ao inibir a recaptação de no radrenalina e dopamina no sistema nervoso central. O tratamento a longo prazo com esta droga reduz a ansiedade e auxilia na cessa ção do tabagismo. Existem poucos trabalhos científicos de acom panhamento de pacientes a longo prazo com o uso desta medica ção na cessação do tabagismo, mas estudos a curto prazo mostram que ela é eficaz no auxílio à interrupção. A dose recomendada é de 75 a 100 mg/dia por 8 a 12 semanas. Deve ser iniciada com 25 a 50 mg/dia e aumentada, gradualmente, se necessário. Possui poucos efeitos colaterais. Outra medicação disponível é a clonidina, antihipertensivo que pode ser utilizado no tratamento do tabagismo, embora com resultados inferiores aos usuais. Está em franco desuso. A clonidina alivia os sintomas da síndrome de abstinência como ansiedade, ir ritabilidade, cansaço e compulsão. Pode ser utilizada na dose de até 0,75 mg/dia, durante 3 semanas. Efeitos colaterais como se dação e hipotensão arterial podem dificultar seu uso, e a suspensão abrupta pode produzir crises hipertensivas. A vareniclina é nova droga disponibilizada para o tratamento do tabagismo, sendo desenhada especificamente para ativar parcial mente o receptor da nicotina e reduzir a intensidade do desejo pela substância e, conseqüentemente, pelo cigarro. Há menos sintomas relacionados à abstinência e, caso o paciente fume durante o trata mento, a medicação tem potencial para reduzir ou retirar a sensa ção de satisfação associada ao fumar. Foi testada com tratamento de 1 mg duas vezes ao dia, duração de 12 semanas. Já foi aprova da pela ANVISA, porém, até o momento não foi disponibilizada ao mercado nacional (até o fechamento desta edição), porém, há previsão de liberação ainda no primeiro semestre de 2007. Existem vários outros métodos propostos para a cessação do tabagismo, tais como hipnose, acupuntura, aromaterapia, piteiras e outros. Não existem, entretanto, evidências cientificas suficientes para comprovar a eficácia desses métodos. Dessa forma, devese re comendar que o tratamento farmacológico do tabagismo seja fun damentado no uso dos tratamentosdescritos nesta revisão. Plano para deixar de fumar O Núcleo de apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo) da Disciplina de Pneumologia da Umiversidade Federal de São Paulo (Unifesp) está localizado no Centro de Reabilitação Pulmonar do Lar Escola São Francisco (LESF) e o seu plano de cessação é baseado em programa cognitivocompor tamental. O fumante passa por entrevista inicial na qual são avalia dos, entre outros, o grau de dependência à nicotina (Fagerström), o grau de motivação para mudanças comportamentais (Prochaska e DiClemente), a indicação de farmacoterapia e a existência de con traindicações relativas e absolutas ao uso de qualquer dos medica mentos para o tratamento. Com base nestes dados ele será encami nhado ao tratamento em grupo, no qual receberá a intervenção comportamental e as orientações para o uso do medicamento in dicado. O acompanhamento é feito por 8 semanas (encontros se manais no primeiro mês e quinzenais no segundo mês, totalizan do 6 reuniões), tempo suficiente para abordagem das questões que surgem durante todas as etapas da cessação. A opção da tera pia medicamentosa associada (quando indicada) é feita pela ava liação das preferências do paciente, da existência de contraindi cações e dos aspectos que possam indicar maiores benefícios com alguma das medicações. Ao final do tratamento os fumantes que pararam de fumar são encaminhados aos encontros mensais de manutenção, nos quais receberão apoio com estratégias de prevenção da recaída. Estes encontros são mensais e prolongados até que o individuo comple te 1 ano de abstinência. Pacientes que sofrem recaída são reenca minhados ao tratamento. Os pacientes são orientados a obterem mais informações sobre tabagismo nos sites www.pacientes.com.br e www.prevfumo.med.br. 533 Reabilitação do Pneumopata Crônico José Roberto Jardim Andréa K. Carvalho Nivia Nonato Oliver Nascimento A American Thoracic Society/European Respiratory Society (2006) definiu Reabilitação Pulmonar como: programa baseado em evidências, multiprofissional e integral para pacientes com doenças respiratórias crônicas com sintomas e redução nas atividades diá rias. A reabilitação é tratamento individualizado e delineado pa ra reduzir sintomas, melhorar a capacidade física, aumentar a par ticipação do paciente e reduzir os custos com cuidados de saúde por meio de estabilização e reversão das manifestações sistêmi cas da doença. A reabilitação pulmonar tem como objetivo básico a melhora da qualidade de vida relacionado ao estado de saúde do paciente. Além disso, o programa visa: aumentar a capacidade ao exercício, aumentar a habilidade de autoajuda (independência) e diminuir os sintomas pulmonares, sobretudo a dispnéia (Tabela 1). Uma das razões para o sucesso da reabilitação pulmonar ba seiase no fato de que os pacientes crônicos possuem outros com ponentes tratáveis que não apenas o pulmonar. Alterações na mus
Compartilhar