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RIO DE JANEIRO, 18 DE OUTUBRO DE 2010. CURSO AVANÇADO SOBRE TRATAMENTO DE FERIDAS. Razão social: BuscAtiva Consultoria de Enfermagem em Feridas. CNPJ: 12618472/001/91 Endereço: Rua Teixeira de Azevedo Tel. / Fax: 3371 79 48 E-mail: buscativa@gmail.com Blog: cefbuscativa.blogspot.com Contatos: Marta ( 92928297), Patrícia( 99775059), Adriana ( 77060033), Cleuza( 94714801). O CURSO SERÁ APLICADO EM TRÊS MÓDULOS, COM TESTE DE CONHECIMENTO AO FINAL DE CADA MÓDULO. 1º MÓDULO Desenvolvimento da pele Fisiologia do processo cicatricial Processo de limpeza da ferida. Coleta de material para cultura Protocolos 3º MÓDULO ●Soluções anti-sépticas ●Coberturas 2º MÓDULO ● O uso de Equipamento de Proteção Individual ( EPI ) ● Normas de Biossegurança Introdução A Estrutura da Pele e a Composição do Sangue A Pele A pele é o órgão atingido pelas feridas e quando lesada requer reparação, constitui a maior estrutura que reveste a superfície exterior do corpo e que se continua com as membranas dos orifícios e cavidades (mucosas). É considerada fundamental para a estabilidade do corpo humano, atingindo cerca de 16% do peso corporal, sendo indispensável para a vida, pois forma uma barreira entre os órgãos internos, o ambiente externo e participa de muitas funções vitais do organismo. As principais estruturas da pele podem ser encontradas na derme. A pele também é chamada de tegumento. A pele é composta de duas camadas principais: epiderme (camada externa) e derme (camada intermediária). Há autores que citam a existência de três camadas, subdividindo a derme em subcutâneo/hipoderme. 1.1- Derme - é um epitélio estratificado composto por queratinócitos e formado por quatro camadas distintas. Queratinócitos ou ceratinócitos - são os principais constituintes da epiderme, durando o seu ciclo de vida em torno de 15 a 20 dias. Essas células se dispõem na epiderme, formando camadas. Em cada uma delas os ceratinócitos apresentam aspectos morfológicos distintos, caracterizando os seus vários estágios de maturação. O número de camadas pode variar de acordo com a região do corpo, sendo a pele da região plantar a mais espessa e a da face a mais delgada. Camada basal: essa é a camada mais profunda e também chamada de germinativa, apresenta intensa atividade mitótica, sendo responsável pela constante renovação celular. Nesta camada também encontramos os melanócitos, que se constituem nas células produtoras de melanina (principal protetor contra radiações solares). Camada espinhosa: é a camada mais espessa. Nessa camada se observa uma substância denominada de “glicocálix’’ que aumenta a aderência intercelular e serve de meio condutor de substâncias hidrossolúveis para o meio externo. Camada granulosa: é constituída por células granulosas, que se caracterizam pela presença de uma grande quantidade de grânulos de queratoialina, que expressam a queratinização (impermeabilização) da epiderme. Camada córnea: é formada por células epidérmicas anucleadas, constituídas de queratina. Essa camada é mais espessa nas regiões palmo plantares, onde mais uma camada compõe a epiderme, o estrato lúcido, localizado entre a camada córnea e a granulosa. ►Outras Células Presentes na Epiderme Melanócitos São as células responsáveis pela produção de melanina. A melanina protege as células em mitose da camada basal contra os efeitos lesivos dos raios ultravioletas sobre o DNA. Além disso, a melanina influencia o metabolismo da vitamina D e a termorregulação. Células de Merckel Estão localizadas na camada basal e tem função sensorial, associadas a terminações nervosas intra epidérmicas. Dessa forma, são mais numerosas em áreas de mãos, planta dos pés e lábios. Células de Langerhans As células de Langerhans são derivadas da medula óssea e fazem parte da linhagem de macrófago histiocitária. Estão localizadas na camada basal e a sua função é de processar e apresentar antígenos ao sistema imunológico. Essa função pode ser reduzida pela ação ultravioleta. Anexos Cutâneos Na derme, encontramos os anexos cutâneos que são: o folículo piloso, a glândula sebácea e as glândulas sudoríparas dos tipos apócrino e écrino. O folículo piloso é constituído por um canal no qual o pelo é produzido e conduzido ao exterior. Ao folículo piloso estão conectadas a glândula sebácea e a glândula sudorípara do tipo apócrino. As glândulas sebáceas estão em toda pele, exceto nas regiões palmo plantares. Caracterizadas por um aglomerado de células, cujo produto da secreção (sebo) é drenado para dentro do canal do pelo. O sebo protege contra proliferação de bactérias e fungos, e juntamente com o suor origina no córneo a película ou manto hidrolipídico que desempenha valioso papel na retenção de água pela pele. Glândulas sudoríparas do tipo apócrino, encontrada nas regiões axilares, perimamilares, anoperineal, desembocam nos folículos pilossebáceos; produzem secreção em pequena quantidade, tem aspecto leitoso e produz odor, decorrente de bactérias próprias das regiões em que são encontradas. Glândulas sudoríparas do tipo écrino encontram-se por toda pele, predominando nas regiões axilares e palmo plantar. A secreção sudoral écrina é inodora, incolor e compreende 99% de água. Desempenham papel fundamental na regulação da temperatura corporal. 1.2- Derme - a derme ou córion (do latim corium, couro) sustenta a epiderme, e envolve anexos cutâneos, vasos, nervos e músculos eretores do pêlo, protegendo-os. Mas a derme não é apenas um envoltório. Ela participa ativamente da nutrição cutânea, do sistema imune pelo transporte seletivo de células inflamatórias, e regula o tônus vascular, contribuindo para a hemostasia. Na derme evidenciam-se duas regiões, uma mais superficial com menor quantidade de fibras colágenas, chamada derme papilar, e uma mais profunda com grande quantidade dessas fibras chamada de derme reticular, localizada entre a derme papilar e subcutâneo. Ao redor dos vasos sanguíneos dérmicos, encontram-se alguns elementos de defesa da pele que são: *O tecido linfóide associado à pele, constituído por esparsos linfócitos situados ao redor dos vasos mais superficiais. *Mastócitos *Macrófagos perivasculares *Células dendríticas perivasculares (ação semelhante à dos macrófagos) Elementos encontrados na Derme ●Fibroblastos e Colágeno Na derme, o colágeno é o elemento mais abundante, sendo fabricado principalmente pelo fibroblasto. Os fibroblastos também produzem as fibras elásticas e a substância de fundo. ●Fibras Elásticas Elas são responsáveis pela elasticidade da pele. Elas são produzidas pelos fibroblastos e são compostas de elastina. ●Substância de Fundo A substância de fundo é comum a todos os tecidos do corpo, formando o meio para os elementos celulares e as fibras. Além disso, transporta água e eletrólitos. É composta principalmente por fibronectina e glicosaminoglicanos (ácido hialurônico, sulfato de condroitina e sulfato de dermatan) sintetizados pelos fibroblastos. ●Vasos Sanguíneos A partir dos vasos perfurantes do músculo esquelético e subcutâneo se forma dois plexos vasculares: o plexo vascular profundoe o plexo vascular superficial . ●Vasos Linfáticos Os vasos linfáticos desempenham funções variadas e importantes, incluindo a drenagem de linfa, células e macromoléculas, participam da defesa contra microorganismos e são canais de tráfego para as células de Langerhans entre a pele e os linfonodos. ●Células Inflamatórias Várias células de defesa como os linfócitos B e T, mastócitos, histiócitos e outras estão presentes na pele normal. A presença dessas células é importante uma vez que a pele está em contato constante com antígenos e agentes infecciosos. Elas estão presentes na resposta imunológica normal da pele e em reações de hipersensibilidade. ●Nervos A pele é importante meio de troca sensorial com o mundo exterior, sendo para isso ricamente inervada. ●Músculo Liso e Esquelético Fibra de músculo liso é representada na pele, essencialmente pelo músculo eretor do pêlo. Além disso, fibras isoladas podem ser encontradas na genitália externa e na aréola mamária. 1.3-Tecido Subcutâneo ou Hipoderme A pele se apóia sobre o tecido adiposo maduro, conhecido como hipoderme ou tecido subcutâneo que forma a camada mais profunda da pele, de espessura variável e constituída exclusivamente de tecido adiposo. Geralmente, em sua porção superior são encontradas as áreas secretoras das glândulas sudoríparas, além de vasos sanguíneos, pelos e terminações nervosas. A hipoderme presta uma grande contribuição ao isolamento térmico, na proteção mecânica do organismo à pressão e traumas, além de constituir um depósito nutritivo de reserva e facilitar a mobilidade da pele em relação às estruturas subjacentes. Funções da Pele * Proteção das estruturas internas * Termorreguladora * Proteção Imunológica * Perceptora * Secretora * Absortiva * Sintetizadora de vitaminas Composição do sangue O sangue, para além de fornecer oxigênio e nutrientes aos órgãos e tecidos e de transportar os mensageiros endógenos e enzimas, tem ainda duas funções importantes associadas ao processo de cicatrização; contém células do sistema imunológico que reconhecem e removem partículas estranhas que invadiram o organismo e, adicionalmente, contém componentes do sistema de coagulação que são responsáveis por coagular as rupturas dos vasos sanguíneos resultantes de lesões. http://www.columbiaphytotechnology.com/images/about/immune-cells.jpg Componentes dissolvidos O plasma sanguíneo é um fluído ligeiramente amarelado contendo 90% de água. Existem várias proteínas dissolvidas no plasma (7-8%), tal como as albuminas, que são responsáveis por manter a pressão osmótica no sangue e atuam como transportadoras de materiais insolúveis na água e globulinas que desempenham o papel de anticorpos (ex.: IgG, IgA, IgM) na imunidade humoral. O plasma contém ainda: Nutrientes (proteínas, gorduras e açúcares) Sais inorgânicos Produtos resultantes da metabolização (especialmente uréia) Enzimas Hormônios O fibrinogênio é um componente do plasma essencial para a coagulação sanguínea. É uma ß2-globulina que se encontra normalmente presente em uma concentração de 2-4 g/l. Componentes celulares Eritrócitos (glóbulos vermelhos) - contêm hemoglobina, são os que existem em maior número, numa concentração aproximada de 4-5 milhões / µ1. Eles tomam a forma de discos achatados, bicôncavos com um diâmetro de 7-8 µm (1µm=1/1000 mm), são anucleados e muito flexíveis. http://cnaturais9.files.wordpress.com/2008/05/cosntituicao-do-sangue.jpg Os glóbulos vermelhos contêm o pigmento sanguíneo hemoglobina que é responsável pelo transporte do oxigênio e do CO2. São produzidos na medula óssea e são degradados no baço e no fígado. O seu tempo de semivida é de cerca de 120 dias. Leucócitos Os leucócitos (também conhecidos como glóbulos brancos) estão presentes no sangue em quantidades muito inferiores, 4000 - 11000 / µ1. O seu diâmetro corresponde a mais do dobro dos eritrócitos. Os glóbulos brancos são sempre nucleados e apresentam um movimento amebóide. Eles são produzidos na medula óssea e amadurecem nos diferentes órgãos linfáticos (baço, nódulos linfáticos, amígdalas, medula óssea, timo), transformando-se em células com uma variedade de funções e aparências estruturais. A defesa não específica é fornecida por células conhecidas como fagócitos. Estas células podem reconhecer, envolver e digerir organismos estranhos tais como fungos, bactérias e vírus. Elas incluem: • Granulócitos; • Fagócitos mononucleares ou monócitos. Os granulócitos (11-14 µm), também designados de leucócitos polimorfonucleares, encontram-se em maior número do que as restantes células fagocitárias. Estes circulam no sangue e o seu nome deve-se aos grânulos que apresentam e que são facilmente observáveis ao microscópio. Quando o organismo é invadido por corpos estranhos, os granulócitos abandonam os capilares sangüíneos, migram para a área afetada e destroem o invasor através da fagocitose. Os fagócitos mononucleados estão também envolvidos nos mecanismos gerais de defesa. Dependendo da sua localização podemos fazer a distinção entre monócitos (no sangue) e macrófagos (nos tecidos). Os macrófagos, tal como o seu nome indica, são as maiores células fagocitárias com um diâmetro de 12-20 µm. Estas células removem o invasor e também consomem tecidos endógenos que degeneraram ou estão inativos. Os linfócitos fornecem uma forma mais sofisticada e desenvolvida do nosso sistema imunológico (imunidade específica). Estas células fazem parte do mecanismo de defesa específico, uma vez que possuem na sua membrana, estruturas que lhes permitem reconhecer agentes patogênicos específicos (antígeno), os quais são eliminados rápida e seletivamente após contato. As células indiferenciadas dos linfócitos, tal como as de outros leucócitos, são produzidas na medula óssea. Durante o desenvolvimento embrionário elas migram para os órgãos linfáticos. A este nível vão amadurecer para dar origem a dois tipos de linfócitos: Linfócitos T - a maturação dos linfócitos T depende da glândula timo (daí o nome de linfócito T), diferenciando-se nos seguintes agentes que medeiam os mecanismos de defesa: • Células citotóxicas (killer cells), que libertam toxinas, enzimas hidrolíticas ou fatores complementares dissolventes, destruindo de modo seletivo os agentes patogênicos invasores. • Células auxiliares (helper cells) que, após o contato com o antígeno, ajudam a produção de anticorpos nos linfócitos B e ativam as células fagocitárias através da emissão de sinais químicos semelhantes a hormônios • Células supressoras (supressor cells) que inibem a atividade de outros linfócitos e como tal regulam a defesa imunológica. Linfócitos B - amadurecem no tecido linfático do intestino e fígado. Nos pássaros esta função é desencadeada por uma glândula retal, a Bolsa de Fabricius, daí o nome linfócitos B. Os linfócitos B têm receptores específicos para antígenos na sua superfície celular e, caso ocorra infecção, podem ser transformados em células de memória (grandes células plasmáticas) após a estimulação pelo respectivo antígeno. Estas células constituem a memória imunológica, uma vez que "memorizam" o antígeno e, no caso de se repetir a infecção, desencadeiam de imediato a resposta imunológica adequada. As células do plasma são "fábricas" altamente especializadas que produzem anticorpos, libertando-os no sangue. Estes se ligam ao seu antígeno alvo e, ou o inativam diretamente ou o marcam para ser posteriormente destruído pelas células fagocitárias. As plaquetas (150,000-450,000)não são verdadeiramente células. As plaquetas são anucleadas, achatadas em forma de disco e têm um diâmetro de 2-3.5 µm. Elas podem interligar-se, isto é, agregar, em resposta a estímulos específicos. Após a agregação das plaquetas, libertam-se fatores plaquetários que iniciam a coagulação sangüínea. Ferida Definição: uma ferida é definida, geralmente, como um estado patológico em que os tecidos são separados uns dos outros e/ou destruídos. Este acontecimento está associado com uma perda de substância e redução da funcionalidade. As feridas podem ocorrer em quaisquer tecidos do corpo, mas freqüentemente afetam a pele. O termo "ferida" é utilizado para descrever uma ruptura da camada exterior do corpo, enquanto que o termo "lesão" aplica-se preferencialmente a danos ocorridos nos órgãos internos. As feridas cicatrizam pelos mesmos mecanismos biomecânicos em todos os tecidos. Seguidamente estão descritos exemplos de feridas na pele e seus processos de cicatrização. A perda tecidual pode atingir a derme completa ou incompleta, ou mesmo atingir todo o órgão, chegando ao tecido subcutâneo. É daí que vem a definição de tipo de ferida. Ferida de espessura parcial (derme incompleta) – ocorre após procedimentos dermatológicos como a dermoabrasão, peelings químicos e também pode ser causada por traumatismos. A reparação faz-se pela reepitelização dos anexos epiteliais ou da pele adjacente não acometida. Como resultado final tem-se uma cicatriz praticamente imperceptível. Feridas de espessura total (derme completa) – necessitam da formação de um novo tecido, o tecido de granulação; a epitelização nas feridas de espessura total, acontece apenas nas margens da ferida. Nesse caso, a cicatriz é totalmente perceptível e, muitas vezes, pronunciada. A cicatriz também depende de vários fatores, locais e gerais, como: localização anatômica, tipo de pele, raça, técnica cirúrgica utilizada. Princípios básicos para avaliação de ferida A avaliação das feridas direciona o planejamento dos cuidados, define a terapia tópica e proporciona dados para monitorar o processo de cicatrização.Devemos observar: *Localização anatômica *Tamanho: cm² / diâmetro * Profundidade: cm *Tipo / quantidade de tecido: granulação, epitelização, esfacelo e necrose. *Bordas: aderida, macerada, descolada, fibrótica, hiperqueratose. * Pele Peri-lesiona,: edema, coloração, temperatura, endurecimento, descamação, flutuação. * Exsudato: quantidade, aspecto, odor. Classificação dos processos biológicos da cicatrização Existem alguns autores que consideram três estágios no processo de cicatrização: inicialmente um estágio inflamatório, seguido por um proliferativo e finalizando em um estágio de remodelação. Outros autores classificam de uma forma mais completa dividindo o processo em cinco fases principais: Coagulação O início é logo após o surgimento da ferida. Esta fase depende da atividade plaquetária e da cascata de coagulação. A formação do coágulo serve não apenas para coaptar as bordas das feridas, mas também para cruzar a fibronectina, oferecendo uma matriz provisória, em que os fibroblastos, células endoteliais e queratinócitos possam ingressar na ferida. Inflamação Intimamente ligada à fase anterior, a inflamação depende, além de inúmeros mediadores químicos, das células inflamatórias, como os leucócitos polimorfonucleares (PMN), macrófagos e linfócitos. Os PMN chegam ao momento da injúria tissular e ficam por período que varia de três a cinco dias; são eles os responsáveis pela fagocitose das bactérias. O macrófago é a célula inflamatória mais importante desta fase, permanecendo do terceiro ao décimo dia. Fagocita bactérias, desbrida corpos estranhos e direciona o desenvolvimento de tecido de granulação. Alta atividade fagocitária dos macrófagos é observada após trauma. A fase inflamatória conta ainda com o importante papel da fibronectina. Sintetizada por uma variedade de células como fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais, ela adere, simultaneamente à fibrina, ao colágeno e a outros tipos de células, funcionando assim como uma cola para consolidar o coagula de fibrina, as células e os componentes da matriz. Proliferação Dividida em três subfases, a proliferação é responsável pelo fechamento de lesão propriamente dito. A primeira fase da proliferação é a reepitelização. Sabe-se que o plano de movimento dos queratinócitos é determinado também pelo conteúdo da água no leito da ferida. Feridas superficiais abertas e ressecadas reepitelizam mais lentamente do que as ocluídas. A segunda fase da proliferação inclui a fibroplasia e formação de matriz que é extremamente importante na formação do tecido de granulação. A formação do tecido de granulação depende do fibroblasto, célula crítica na formação da matriz. O fibroblasto produz colágeno, elastina, clicosaminoglicana e proteases, estas são responsáveis pelo desbridamento e remodelamento fisiológico. A última fase da proliferação é a angiogênese, essencial para o suprimento de oxigênio e nutrientes para a cicatrização. Contração da ferida É o movimento centrípeto das bordas da ferida (espessura total). As feridas de espessura parcial não contam com esta fase. Em cicatrizes de segunda intenção a contração pode reduzir 62% da área de superfície do defeito cutâneo. Remodelação Essa é a última das fases; ocorre no colágeno e na matriz; dura meses e é responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da cicatriz e do eritema. Uma cicatriz normal tem aproximadamente 80% da força de tensão da pele normal, não é volumosa e é plana. São muitas as variáveis tanto de ordem geral como de ordem local que influenciam esse longo e complexo processo. Dos fatores gerais, interfere a idade, o estado nutricional do paciente, a existência de doenças de base, como diabetes, alterações cardiocirculatórias e de coagulação, aterosclerose, disfunção renal, quadros infecciosos sistêmicos e uso de drogas sistêmicas. Dos fatores locais interfere a técnica cirúrgica, formação de hematomas, infecção, reação de corpos estranhos, uso de drogas tópicas, ressecamento durante a cicatrização. ÚLCERA DE PRESSÃO Definição: Segundo Dealey (2008), Úlceras por Pressão (UP) também são chamadas de “feridas por pressão” e “úlceras de decúbito”, e representam um problema para os serviços de saúde. Uma úlcera de pressão é uma área de dano localizado na pele e estruturas adjacentes devido à pressão ou fricção e/ou combinação destes. As UP são causadas por uma combinação de fatores, tanto externos quanto internos ao paciente. Além da pressão relacionada ao tempo (duração da pressão), devemos considerar ainda dois outros fatores na etiogênese das UP que são: a intensidade da pressão e a tolerância tissular. Além da pressão relacionada à duração, intensidade e tolerância tissular, outros fatores de risco contribuem direta ou indiretamente para o desenvolvimento das UP. Diversos autores como Dealey (2008), apontam alguns dos fatores de risco mais freqüentes e importantes na gênese da UP como: Perfusão tecidual diminuída ou ausente; idade; mobilidade; nível de consciência; alguns medicamentos utilizados; umidade excessiva; nutrição; algumas doenças crônicas (diabetes, doenças cardiovasculares); cisalhamento e fricção. Classificação das úlceras de pressão segundo a EPUAP( European Pressure Ulcer Advisory Panel): ● Úlcera de pressão de grau ou estágio 1: eritema não branqueável Eritemanão branqueável em pele intancta. Descoloração da pele, calor, edema, induração ou rigidez podem também ser utilizados como indicadores, particularmente em indivíduos com pele escura. ● Úlcera de grau 2: Flictena Destruição da envolvendo a epiderme, derme ou ambas. A úlcera é superficial e apresenta-se clinicamente como uma abrasão ou flictena. ● Úlcera de pressão de grau 3: úlcera superficial Destruição total da pele envolvendo necrose do tecido subcutâneo que pode estender-se até, mas não através da fáscia subjacente. ● Úlcera de grau 4: úlcera profunda Destruição extensa, necrose tecidual; ou dano muscular, ósseo ou das estruturas de suporte com ou sem destruição total da pele. A classificação das úlceras de pressão por graus é útil para definir a máxima profundidade de tecido envolvido. Infelizmente as definições de úlceras de pressão por graus perecem ser utilizadas erradamente no sentido, por ex. para descrever a cicatrização implica assumir que as úlceras de pressão com destruição total da pele cicatrizam por reposição das mesmas camadas estruturais de tecido corporal perdidos. OS estudos clínicos indicam que à medida que as úlceras de pressão grau 4 cicatrizam para profundidades progressivamente mais superficiais , estas não repõem o músculo, a gordura subcutânea e a derme antes de reepitelizarem. Uma úlcera de pressão de grau 4 não pode progredir para uma úlcera grau3, grau2 ou grau1. A classificação inversa por graus nunca deve ser utilizada para descrever a cicatrização de uma úlcera de pressão. Os sistemas de classificação de úlceras de pressão devem apenas ser utilizados para registrar a profundidade máxima anatômica de tecido envolvido na úlcera, após ter sido removido o tecido necrosado. A cicatrização das úlceras de pressão deve ser documentada com parâmetros objetivos tais como: tamanho, profundidade, quantidade de tecido necrosado, quantidade de exsudato, presença de granulação, etc... O PUCLAS é um programa desenvolvido pelo EPUAP (European Pressure Ulcer Advisory Panel), para servir de ferramenta de estudo ao tema úlcera de pressão, especialmente no que diz respeito à sua classificação pelo grau de lesão tissular. Lesões por umidade são frequentemente confundidas com úlceras de pressão. As lesões por umidade são lesões cutâneas e não causadas por pressão e ou forças de deslizamento (cisalhamento). É importante distinguir uma úlcera de pressão de uma lesão por incontinência. São características de lesões por umidade: Vários pontos superficiais e difusos; Bordos irregulares; Pele brilhosa, úmida e hiperemiada. Classificação dos tipos de tecidos Regeneração X Reparação O organismo espontaneamente tenta fechar uma ferida e restabelece as funções dos tecidos danificados tão depressa quanto possível. Todos os tecidos do organismo são capazes de cicatrizar com a exceção dos dentes. O estado original pode ser restaurado por dois mecanismos diferentes: regeneração ou reparação. Regeneração: diz respeito à reposição específica de tecido danificado de uma parte do corpo ou órgão. O reino animal contém muitos exemplos deste processo, por exemplo, a regeneração completa de uma minhoca a partir dos segmentos anteriores do seu corpo ou a reposição completa da extremidade de uma salamandra. Entre os mamíferos, e especialmente no homem, a regeneração completa só é possível no tecido epitelial (epiderme, membranas mucosas do trato gastrointestinal e nos órgãos genitais femininos) sendo igualmente possível, dentro de certos limites, nos órgãos parenquimatosos tais como o fígado. Deste modo, no homem, a recuperação de feridas ou lesões é feita, basicamente, através da reparação. Reparação: neste processo, o tecido eliminado ou danificado é substituído por elementos inespecíficos dos tecidos conjuntivos e de suporte, formando uma cicatriz. Apenas nos tecidos de suporte, como é o caso dos ossos, cartilagem e tendões, a regeneração é feita com a estrutura própria dos tecidos. Podemos então definir a cicatrização como o encerramento de uma ferida através de tecido de suporte à formação da cicatriz, associado à regeneração epitelial, ou seja, epitelização. O seu objetivo é restaurar a forma e funções do tecido danificado. FIOSIOLOGIA DO PROCESSO CICATRICIAL Após décadas a fio, em que os enfermeiros sempre realizaram os tradicionais “curativos” - ou delegaram tal atividade a outrem -, parece que ocorre um despertar, uma tomada de consciência generalizada por parte destes profissionais sobre a importância e a responsabilidade relativas ao tratamento das lesões de pele. Este “acordar”, nada mais é que a conscientização gradativa de estar repetindo procedimentos aprendidos e incorporados quase por “ritual e tradição”, muitos dos quais sem qualquer base ou fundamentação fisiológicas. Não é mais novidade o conceito de “curativo úmido” que se contrapõe à tradição aprendida em aula, de se manter o curativo “sempre seco”. Por que será que se manteve vivo durante décadas um procedimento tão absurdo como este, sendo totalmente antifisiológico? As respostas podem ser várias. Talvez porque, mesmo seca, a ferida ainda cicatriza, ou porque alguém mandou que se fizesse dessa ou daquela forma. A causa mais provável deve-se certamente a dissociação entre teoria e prática dos profissionais que se propõem a tal atividade. Como se pode manter o leito de uma ferida totalmente seco, esperando que haja proliferação e migração celular, quando se sabe, pela fisiologia, que a célula é basicamente “água cercada por água por todos os lados”? A responsabilidade do enfermeiro que se propõe a tratar lesões de pele implica em conhecimento não apenas dos materiais de vanguarda, hoje disponíveis no mercado, mas primeiramente do entendimento de fisiologia da cicatrização e de todas as etapas do processo de reparo tissular. Sem esse entendimento é improvável que faça um diagnóstico correto e selecione a cobertura adequada para o tratamento da lesão. Muitos e variados tipos de traumatismos, bem como as incisões cirúrgicas, resultam em danos da pele. O nosso organismo normalmente consegue cicatrizar espontaneamente estas feridas, de forma a restaurar as funções originais da sua camada protetora o mais rápido possível. Este processo envolve uma grande variedade de mecanismos de reparação em cada uma das camadas da pele e múltiplas células, algumas de origem sangüínea. Para compreender melhor estes processos, vamos primeiro analisar a estrutura de uma pele saudável e dos componentes do sangue. A pele é um dos órgãos mais importantes do corpo e exerce múltiplas funções. Uma pele saudável fornece barreira contra pressão ou fricção, substâncias químicas e tóxicas, calor, frio, raios UV, radiações e microorganismos patogênicos. Adicionalmente, a pele é um órgão essencial para a manutenção dos fluídos corporais, proporciona termorregulação e comunica todos os estímulos externos através de receptores para toque, pressão, temperatura e dor. Por outro lado, exteriorizamos o nosso estado emocional através da pele, porque coramos, empalidecemos, arrepiamo-nos e emitimos odores (feromonas). O PROCESSO DE LIMPEZA DA FERIDA A reparação de feridas, especialmente as crônicas, é um fenômeno complexo, dinâmico e sistêmico. Por ser sistêmico, depende das condições gerais de saúde do indivíduo, que pode ser interrompido por diversos fatores intrínsecos que devem ser cuidadosamente avaliados e controlados para permitir a evolução natural deste processo. Emboraa reparação tecidual tanto por regeneração quanto por substituição de tecido seja sistêmica, é absolutamente necessário favorecer condições locais através de terapia tópica adequada para dar suporte e viabilizar o processo fisiológico. Entre os diversos princípios da terapia tópica, a remoção não somente da necrose como também de corpos/partículas estranhos do leito da ferida constitui um dos primeiros e mais importantes componentes a serem considerados na avaliação inicial e subseqüentes da ferida. O processo de limpeza é de fundamental importância para a reparação tecidual. A reparação não poderá evoluir de modo adequado, enquanto todos os agentes inflamatórios não forem removidos do leito da ferida. A limpeza da ferida, no sentido restrito do termo wound cleansing, derivado da língua inglesa, significa o uso de fluídos (soluções) para suavemente lavar e retirar bactérias, detritos, exsudatos, corpos estranhos, resíduos de agentes tópicos e outros da superfície da ferida. Na bibliografia norte-americana, publicado no guia de prática clínica desenvolvido em 1994, pela Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) a limpeza da ferida inclui o desbridamento, que é conceituado como a remoção de tecidos necrosados e de corpos/partículas estranhos do leito da ferida, usando técnicas mecânicas e/ou químicas. Limpeza é a ação de limpar, limpar é tirar as sujidades com água, segundo dicionário da língua portuguesa. Então a sujidade da ferida pode ser removida com água ou através de outros métodos. Limpeza é um termo amplo e o que se modificam são a forma de efetuá-la e as soluções utilizadas. Considerando ser este um processo passa-se a denominá-lo “processo de limpeza”. No processo de limpeza das feridas, cada etapa da trajetória de reparação tem uma necessidade e, para atender essa demanda vários métodos e técnicas podem ser utilizados, optando-se por aqueles mais suaves ou mais agressivos, dependendo da condição do leito da ferida. Quando o conteúdo estranho não puder ser removido apenas com a simples lavagem da ferida, institui-se então, uma forma de limpeza mais agressiva, a qual é conhecida como desbridamento. Não sendo este eficaz para remover a carga bacteriana e a ferida apresentar sinais clínicos de infecção local, recomenda-se o uso criterioso de antibióticos tópicos, que poderão ser associados a antibióticos sistêmicos conforme a gravidade do caso. TÉCNICA LIMPA X ESTÉRIL De acordo com Rodeheaer (1997), ainda não existem publicações de pesquisas científicas definitivas sobre como e com o que limpar as feridas, em especial as abertas, e que as recomendações são baseadas à luz do conhecimento científico atual e no senso comum. Segundo Dantas (2003), além de ser senso comum, o bom senso de cada profissional na escolha do método de limpeza, no momento em que está avaliando a pessoa com ferida, é muito importante. Cada ferida avaliada é diferente uma da outra, exatamente porque as pessoas são diferentes. Por essa razão, a escolha deve ser feita conforme a necessidade de cada pessoa e não somente nas rotinas das instituições. Cabe ao profissional de saúde, ao avaliar uma pessoa portadora de ferida, verificar a eficácia de determinado tratamento, reconhecer os fatores de risco associados à infecção, pois a sua conduta deve sempre levar em consideração a presença destes fatores, que podem direta ou indiretamente, alterar o metabolismo corporal, e a resposta imunológica, seja por mecanismos fisiológicos (idade) ou patológicos (infecção provocada por procedimento de risco). É bastante comum que, no dia-a-dia profissional, haja confusão quanto ao fato de estar diante de uma ferida infectada, contaminada ou apenas colonizada. Diante disso, é necessário relembrar a definição de infecção, colonização e contaminação. ►Contaminação – refere-se à presença de um microorganismo sobre a superfície epitelial sem que haja invasão tecidual, reação fisiológica ou dependência metabólica com o hospedeiro. ►Colonização – há uma relação de dependência metabólica com o hospedeiro e a formação de colônias, mas sem a expressão clínica e reação imunológica. ►Infecção – Implica em parasitismo, com interação metabólica e reação inflamatória e da imunidade. Todo esse entendimento é fundamental para que seja possível controlar o aparecimento das infecções. Todas as feridas, sejam elas agudas ou crônicas, estão expostas a microorganismos. Cabe ao profissional de saúde adotar as medidas adequadas para tratar uma infecção ou simplesmente monitorar um estado de colonização e, acima de tudo, evitar a contaminação de uma ferida, o que aumenta significativamente o risco de infecção. É necessário limpar feridas abertas utilizando soluções e materiais esterilizados e com técnica estéril? Devido à falta de estudos científicos que fundamentam essa interrogação, a AHCPR (1994) e National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP, 2000) recomendam, para a limpeza de feridas crônicas: técnica limpa e coberturas limpas, sendo necessário para tal prática o uso individualizado dos materiais e que os mesmos, depois de abertos, sejam adequadamente armazenados. Bates-Jansen e cols. (1997) em estudo piloto em deiscências cirúrgicas no ambiente hospitalar, comparando técnica limpa e estéril não obtiveram diferença na cicatrização, concluindo que curativos limpos e técnica limpa estão adequados para a limpeza de feridas, além de ter um custo menor. No entanto, existem situações na qual a técnica limpa não é recomendada, tais como: se houver invasão da corrente sanguínea e em pacientes imunodeprimidos. Nesses casos deve-se usar tudo estéril. Em nossa experiência como especialistas nessa área, adotamos as recomendações internacionais de procedimento limpo para a maioria das feridas crônicas, e nas deiscências cirúrgicas. Entretanto, nas feridas cirúrgicas limpas, recomendamos o uso de técnica estéril a fim de evitar a colonização/infecção da ferida operatória, e de preservar e proteger o cliente/paciente de contaminações oriundas de técnicas inadequadas e produtos contaminados. RECOMENDAÇÕES PARA REALIZAÇÃO DA LIMPEZA A limpeza com o uso de fluidos deve ser realizada a cada troca de cobertura primária. No entanto, quando a troca for realizada mais de uma vez ao dia, deve-se considerar se há necessidade de lavar outra vez a lesão, ou simplesmente, retirar a cobertura saturada e colocar uma nova. Segundo alguns pesquisadores, a lavagem frequente da superfície da superfície é indesejada e a ferida terá melhor reparação se for menos manipulada. Ao ser realizada a limpeza, utiliza-se a solução aquecida para evitar a queda da temperatura da ferida. Isso evita não somente o resfriamento da ferida, mas também promove o conforto do cliente. Antes de utilizar o soro na ferida, deve-se testar a temperatura na face interna na região do antebraço à semelhança do que se faz para verificar a temperatura de leite de mamadeiras de recém-nascidos. A forma mais segura de realizar a limpeza de feridas granuladas e limpas é através da irrigação com seringa e agulha, a uma pressão suave para não causar danos teciduais. Alguns autores sugerem que nessa situação, deve-se apenas limpar ao redor da ferida, evitando o leito, para não remover o exsudato da superfície, pois o mesmo contém fatores de crescimento, nutrientes e células proliferativas que aumentam na reparação, e seriam retirados com a limpeza. Há recomendação de quando uma ferida é tratada com coberturas que não deixam resíduos, deve-se realizar a limpeza da área perilesional e o leito da ferida é apenas umedecido, poiso mesmo fica tão limpo que não necessita de muita irrigação. Nas feridas com resíduos, corpos estranhos, fragmentos e outros, realiza-se limpeza cuidadosa e com baixa pressão. Nessa situação, a gaze deve ser umedecida e suavemente pressionada ou friccionada sobre a ferida. Essa prática é importante, principalmente, em feridas que apresentam espaços mortos. Para feridas mais profundas estreitas ou com espaços mortos, a limpeza torna-se mais efetiva e adequada, quando se faz a irrigação com solução salina. Pode-se utilizar um cateter uretral ou retal acoplado a seringa de 20ml, o qual deve ser cuidadosamente introduzido para evitar traumas. Em feridas extremamente sujas, com aderência no leito ou infectadas, são indicadas soluções não tóxicas, antissépticas e maior força mecânica. Ao ser realizada a limpeza utilizando pressões maiores, recomenda-se o uso de máscara, óculos, avental e luvas para proteção do profissional devido à ocorrência de acidentes biológicos. DESBRIDAMENTO “O desbridamento é o começo da reparação. Essa técnica é usada quando a prevenção falhou” (The Symposium on Advanced Wound Care, 2000). Os mecanismos naturais favorecem o desbridamento, mas as feridas cicatrizam mais rapidamente se este processo for acelerado. O desbridamento promove limpeza da lesão, reduz a contaminação bacteriana, promove um meio ótimo para cicatrização e prepara a lesão para intervenção cirúrgica, como o enxerto ou rotação de retalho. Segundo a Soc. Bras. de Enf. em Dermatologia - SOBENDE/2002, o desbridamento tem por objetivo limpar a ferida, removendo tecidos desvitalizados e bactérias. O desbridamento é essencial para o tratamento de feridas, pois “tecido necrótico e cicatrização não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo”. Tecido necrótico é um meio de infecção e, como é avascular, não reage a antibioticoterapia sistêmica, ele promove uma resposta inflamatória exacerbada, retardando assim o processo de reparação tecidual. A necrose deriva vários termos tais como: escara, tecido desvitalizado, tecido morto, tecido necrótico, tecido inviável, e nada mais são do que sinônimos, independentemente da palavra usada, todas tem o mesmo significado e referem-se à morte celular. Escara não é sinônimo de úlcera por pressão. Feridas de qualquer etiologia podem apresentar escara. O termo escara é descrito como uma capa/crosta de camadas de tecidos dessecados e comprimidos, normalmente de consistência dura, seca; no entanto, poderá ser mais macia dependendo do grau de hidratação da mesma. Apresenta coloração preta, marrom ou cinza, e bem aderida no leito da ferida. O termo esfacelos refere-se ao tecido necrosado de consistência fina, amolecida, macia e de coloração amarela, ou cinza, é formada por bactérias, fibrina, elastina, colágeno, leucócitos intactos, fragmentos celulares, exsudato e grande quantidade de DNA. Quanto à aderência, os esfacelos podem estar firmes ou frouxamente aderidos ao leito da ferida. ● INDICAÇÕES PARA O DESBRIDAMENTO A Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) recomenda que qualquer tecido observado necrosado observado durante a avaliação inicial e nas avaliações subseqüentes da ferida deve ser removido, desde que a intervenção esteja de acordo com os objetivos globais do tratamento e das condições clínicas do doente. As indicações gerais para efetuar o desbridamento são: → purulência; → infecção local e sistêmica; → osteomielite; → presença de corpos estranhos; → esfacelos e grande área de necrose. ● CONTRA INDICAÇÕES Embora o desbridamento seja realmente vital para a reparação da ferida, existem situações nas quais não é a melhor indicação terapêutica, tais como: → Feridas em membros inferiores com perfusão duvidosa ou ausente, com escara seca e estável até que o estado vascular seja melhorado. Nessa situação a escara representa menos risco, pois promove barreira para os tecidos vivos, e diminui o risco de infecção. A recomendação é para efetuar diariamente limpeza simples, passar antissépticos e cobrir com gaze seca, além de extrema vigilância para sinais de infecção. Após a revascularização, o desbridamento deve ser instituído conforme os critérios de seleção. → Úlcera por pressão no calcanhar com presença de escara seca. A razão pela qual não desbridar, deve-se o risco de osteomielite. No entanto, se o paciente for bem assistido, o desbridamento poderá ser efetuado com segurança. ► MÉTODOS DE DEBRIDAMENTO Existem vários métodos de desbridamento que poderão ser utilizados para a limpeza das feridas com presença de necrose e corpos estranhos, cuja escolha depende do conhecimento do profissional e das condições gerais do paciente. Estes métodos são classificados em seletivo e não seletivo. O primeiro remove apenas o tecido inviável sem afetar o tecido vivo, o segundo pode remover ambos. Os métodos de desbridamento agrupam-se em cinco categorias: instrumental, mecânico, enzimático, autolítico, e biológico. Em alguns casos utilizar mais de um método é apropriado, dependendo das circunstâncias clínicas. Os critérios para a escolha são variados, e a seleção deve observar: 1º) As condições clínicas do paciente – essa é a primeira condição a ser ponderada. 2º) A urgência – em situações como infecção, sepse, celulite avançada, osteomielite, é imperativa a escolha de métodos mais rápidos. Uma boa conduta é a associação de métodos. 3º) O tipo de tecido necrosado – a aderência e a consistência são parâmetros importantes de escolha do método. * Necrose coagulativa ou de coagulação – Caracterizada pela presença de crosta preta e/ou bem escura. * Necrose liquefativa ou de liquefação – Caracterizada pelo tecido amarelo- esverdeado desvitalizado resultante da infecção bacteriana. ●Habilidade e competência – esse aspecto é extremamente importante, especialmente quando a escolha é pelo método instrumental, onde aspectos éticos, também devem ser considerados. ● Desbridamento Instrumental Esse método é realizado com a utilização de objetos cortantes, tais como tesoura, lâminas bisturi e outros instrumentos necessários dependendo da agressividade do procedimento, e por isso é dividido em dois tipos: Conservador e Cirúrgico. ● Desbridamento instrumental conservador ( DIC) É definido como um método seletivo de remoção de tecidos necrosados, sem ocasionar dor e sangramento, ou seja, sem atingir tecidos viáveis. É o método mais agressivo feito por enfermeiros capacitados. As vantagens deste método são: ser seletivo; remover imediatamente uma quantidade maior de necrose; pode ser usado sozinho ou ser usado com outros métodos (p.ex.: autolítico ou enzimático) e pode ser realizado na beira do leito tanto em ambiente hospitalar como clínicas e domicílio. As contra indicações para a realização desta técnica são: o uso de terapia anticoagulante ou pacientes com coagulopatias: pacientes que não conseguem ficar quietos durante o procedimento; quando a escara estiver muito aderida, dificultando a sua remoção do tecido viável e em feridas isquêmicas com a escara seca e estável. Classificamos as técnicas de desbridamento instrumental conservador em: *Técnica de Cover – Após o descolamento completo das bordas e melhor visão do comprometimento tecidual, inicia-se a retirada da área comprometida separando-a do tecido íntegro até que a necrose saia em forma de uma “tampa¨. Mais indicada para necrose de coagulação. * Técnica de Square – Utiliza-seuma lâmina de bisturi ou agulha 40x12 para realização, no tecido necrótico, de pequenos quadradinhos (2mm a 0,5cm). Esta técnica poderá ser utilizada para facilitar a penetração de substâncias desbridantes. * Técnica de Slice – Utiliza-se uma lâmina de bisturi ou tesoura de Aris a fim de remover a necrose que se apresenta na ferida de forma desorganizada. ● Desbridamento Instrumental Cirúrgico (DIC) Este é o tipo conhecido como desbridamento cirúrgico. Geralmente é utilizado em situações que exigem a remoção maciça de tecidos ou em extrema emergência, como em casos de processos infecciosos graves. É realizado por cirurgiões, preferencialmente em centro cirúrgico, sob anestesia e com técnica asséptica. A principal vantagem é a rapidez e a efetividade na remoção da necrose. As desvantagens incluem: a necessidade de submeter o paciente a anestesia; risco de sangramento e bacteremia transitória, podendo evoluir para sepse em feridas infectadas; não ser seletivo; ter custo alto e, também exigir hospitalização. ● Desbridamento mecânico Consiste na aplicação de força mecânica diretamente sobre o tecido necrótico a fim de facilitar a sua remoção. Dentre estes procedimentos temos: *Fricção com gaze ou esponja – Indicado em pequenas lesões com necrose de liquefação. Esta técnica pode ser dolorosa e geralmente deve ser associada a outras técnicas. * Irrigação com jato de soro – Indicado para lesões com necrose de liquefação e infecção com drenagem de exsudato purulento. Lavar a ferida até que esteja aparentemente limpa. Também deve ser associada a outros métodos. * Irrigação pulsátil – Utilizada em lesões extensas com muito exsudato, áreas com aderências e de difícil acesso. Muitas vezes deverá ser aplicada em conjunto com aspiração contínua. Pode provocar maceração tecidual. * Curativo úmido-seco – Utilizado em lesões pequenas, com pequenas áreas de necrose de liquefação. A prática desta técnica tem sido abandonada, pois o processo não é seletivo, traumatizando o tec.de granulação e de epitelização e por ser muito dolorida. ● Desbridamento enzimático É praticado com a aplicação tópica de enzimas proteolíticas diretamente sobre a necrose de coagulação ou liquefação. O desbridamento enzimático é o método mais seletivo, utilizando enzimas proteolíticas exógenas que trabalham conjuntamente com as enzimas naturais para degradar o tecido necrótico. Estas enzimas degradam o colágeno existente na necrose. É um método prático e seguro. Enzimas que podem ser utilizadas: papaína, colagenase, bromalina e estreptoquinase. Contra indicações: Úlceras isquêmicas, fúngicas e neoplásica e em pacientes com distúrbio de coagulação. ● Desbridamento autolítico O desbridamento autolítico é um processo que, até certo nível, ocorre naturalmente em todas as feridas. As células fagocíticas (tais como os macrófagos) e enzimas proteolíticas no leito da ferida, liquificam e separam o tecido necrótico do tecido são. Os curativos para tratamento de feridas, que mantêm um leito da ferida úmido, podem proporcionar um ambiente ótimo para o desbridamento, uma vez que limpam a ferida ao permitirem que as células fagocíticas liqüefaçam o tecido necrótico e deste modo promovem a granulação. Deste modo, o processo de desbridamento autolítico pode resultar em níveis significativos de exsudato, os quais devem ser considerados na seleção da terapia apropriada. O desbridamento autolítico é fácil de realizar e não danifica o tecido adjacente à ferida. Adicionalmente, a dor sentida pelo paciente quando é utilizado este método é mínima. Uma vez que o desbridamento autolítico ocorre naturalmente o processo requer um conhecimento técnico. É considerado o método mais lento. Contra indicações – Úlceras isquêmicas e fúngicas. ● Desbridamento biológico (Larval) A terapia larval, usando especialmente magoots estéreis, oferece uma alternativa efetiva no desbridamento de feridas e na remoção de bactérias. Estas larvas destroem e liquefazem o tecido morto através de enzimas proteolíticas potentes. Este tratamento parece não apresentar efeitos adversos. Apesar de visto inicialmente pelos clínicos como um tratamento de última escolha, os casos de sucesso estão sendo divulgados e ganham cada vez mais aceitação. Porque um desbridamento contínuo é benéfico? É pouco provável que um único método de desbridamento seja adequado para a preparação do leito de uma ferida crônica para o estágio de reparação seguinte. Nas feridas crônicas geralmente não é possível remover as condições associadas sistêmicas e, conseqüentemente, a carga necrótica continua a acumular-se. Deste modo, uma parte importante da preparação do leito da ferida é o reconhecimento de que a contínua remoção de tecido necrótico é necessária ao longo do tratamento e de que o desbridamento deve ser visto como um processo longo, muitas vezes referido como desbridamento de manutenção. Os métodos de desbridamento autolítico e enzimático, em comparação com outros métodos, são mais seletivos e geralmente menos dolorosos para o doente. Dentro do contexto do desbridamento de manutenção, os agentes autolíticos e enzimáticos podem ser usados por períodos longos de tempo e ser extremamente benéficos (Falanga V. 2002). ►PREPARO DO LEITO DA FERIDA A preparação do leito da ferida diz também respeito à carga bacteriana na ferida. Durante a preparação do leito da ferida é fundamental avaliar a natureza e extensão da carga bacteriana, de modo a que as condições sejam ótimas para a cicatrização. As bactérias presentes na ferida podem evitar a cicatrização, mesmo quando não há sinais evidentes de infecção. O profissional deve identificar quando há carga bacteriana, e quando atinge um nível em que as bactérias contribuem para impedir a cicatrização deficiente. Carga bacteriana normal As bactérias estão presentes na pele intacta, mas a infecção é raramente problemática porque os seguintes mecanismos controlam a carga biológica. A camada externa da pele é uma barreira física à invasão; A pele possui um pH ligeiramente ácido, o qual não é favorável ao crescimento bacteriano; A pele normalmente secreta ácidos graxos e polipeptídeos antibacterianos, os quais inibem o crescimento bacteriano; A flora normal da pele ajuda a prevenir a colonização por microorganismos patogênicos. Apesar de a ferida criar uma porta de entrada para as bactérias, um fluxo sangüíneo inadequado é um dos fatores predisponentes mais significativos para o desenvolvimento de uma ferida infectada (por ex. em úlceras por pressão ou em úlceras de perna isquêmicas). Contaminação - infecção contínua As feridas crônicas existem juntamente com um continuum bacteriano, variando de ferida contaminada para ferida infectada (ver figura abaixo). O desafio consiste em estabelecer onde a ferida se encontra posicionada nesse continuum e que estratégias clínicas são apropriadas nesse ponto. A carga bacteriana presente numa ferida pode dividir-se em quatros categorias distintas: Contaminação; Colonização; Colonização crítica; Infecção. Contaminação: define-se como a presença de bactérias que não se reproduzem. É uma condição normal das feridas crônicas e não impedem a cicatrização. Colonização: define-se como a presença de bactérias em fase de reprodução, sem uma reação do hospedeiro. Essas bactérias colonizam e contaminam todas as feridas crônicas, mas isso não significa que essas feridas se encontrem infectadas. A colonização bacteriana não contribui para uma cicatrizaçãodeficiente. Feridas colonizadas criticamente: define-se como a presença de microorganismos em fase de reprodução, os quais iniciam um processo de dano do tecido local. Pode haver sinais locais de que uma mudança no equilíbrio, ou carga bacteriana elevada, possa contribuir para um retardo na cicatrização. Infecção: ocorre quando a cicatrização é afetada, pois as bactérias invadiram os tecidos, estão se multiplicando e causam uma reação no hospedeiro. Quando a carga bacteriana se torna um problema? A carga bacteriana pode ser definida como a carga metabólica imposta pelas bactérias no leito da ferida. As bactérias competem com as células normais pelo oxigênio e nutrientes e as bactérias e os seus subprodutos (ex. endotoxinas) podem causar distúrbios em todas as fases do processo de cicatrização. Uma carga bacteriana elevada pode causar o seguinte: Carga metabólica elevada; Produção de endotoxinas e proteases; Estimulação de um ambiente da ferida pró-inflamatório; Cicatrização retardada ou deficiente. OBS: As feridas crônicas estão sempre contaminadas ou colonizadas com bactérias, o que pode dificultar a identificação dos níveis de carga bacteriana em que a cicatrização fique comprometida. Apesar de não existirem orientações em como quantificar os níveis bacterianos numa ferida, o profissional deve ter em conta a resistência do hospedeiro, as características da ferida e as características do exsudato, durante a avaliação da carga bacteriana. Estudos têm demonstrado (Robson MC 1997, Dow G 2001) que existe um efeito negativo na cicatrização quando a quantidade de bactérias na ferida atinge níveis superiores a 1x105. Este efeito tem sido observado em feridas agudas traumáticas, enxertos de pele, feridas cirúrgicas e feridas crônicas. Sinais e sintomas da ferida infectada A infecção de feridas agudas e freqüentemente a infecção da ferida crônica, demonstra os seguintes sinais e sintomas: Purulência; Eritema em progressão; Calor; Edema perilesão; Dor; Febre; Leucocitose. Tornou-se aparente que os sinais e sintomas tradicionais da ferida aguda podem ser diminuídos ou alterados numa ferida crônica, apesar de uma carga bacteriana elevada. Os mecanismos exatos da infecção na ferida crônica ainda não são claros, a apresentação clínica e impacto da carga bacteriana nas feridas crônicas continua a ser um dos focos principais para a investigação. No entanto, os seguintes sinais secundários podem alertar o profissional para a possibilidade da ferida crônica possuir uma carga bacteriana elevada, que retarde a cicatrização. Isto é por vezes referido como colonização crítica. Alguns destes sinais secundários são enumerados abaixo: Atraso na cicatrização; Alteração da cor do tecido de granulação. Aspecto anormal do tecido de granulação (torna-se friável). O tecido é muitas vezes descrito como anormal/irregular; Odor aumentado ou anormal; Drenagem serosa aumentada. Efeitos da infecção na ferida crônica Quando a ferida crônica se torna infectada, o progresso até à cicatrização é gravemente retardado uma vez que a infecção pode: Prolongar a fase inflamatória da cicatrização; Interromper os mecanismos normais da coagulação; Levar a desordem na função leucocitária; Levar a uma diminuição de angiogênese; Alterar a formação de tecido de granulação (os fibroblastos nas feridas crônicas infectadas apresentam um número reduzido, possuem atividade metabólica reduzida e sintetizam um colágeno enfraquecido, em padrões desorganizados). Pode ser apropriado para o clínico efetuar a monitorização dos valores sanguíneos e efetuar raios-x num paciente com uma ferida crônica infectada, para investigar a possível existência de osteomielite. Equilíbrio bacteriano: relação entre a resistência do hospedeiro e a quantidade e virulência bacterianas As bactérias encontram-se presentes em todas as feridas crônicas, mas para a cicatrização ocorrer, o equilíbrio entre as resistências do hospedeiro e a quantidade e virulência das bactérias deve ser mantido. Resistência do hospedeiro: esta é uma variável importante na determinação do risco de infecção nas feridas crônicas, uma vez que os fatores locais e sistêmicos podem afetar a cicatrização. A perfusão é um fator importante que está associado com a fisiopatologia das feridas crônicas e pode aumentar o risco de infecção. A seguinte equação demonstra que apesar da quantidade de bactérias e virulência serem significativas na determinação do risco de infecção numa ferida, os fatores do hospedeiro são de importância extrema. Risco de infecção = carga bacteriana x virulência Resistência do hospedeiro Outros fatores tais como imunossupressão, diabetes e medicação concomitante podem influenciar a forma como as bactérias presentes irão afetar a cicatrização. Quantidade bacteriana e virulência: Os fatores listados abaixo podem comprometer o equilíbrio, levando ao aumento da carga bacteriana. Adesina – as bactérias contêm proteínas heterólogas na sua superfície, as quais medeiam à adesão celular e a invasão do hospedeiro; Cápsulas celulares – estes polissacarídeos da superfície celular, presentes na superfície das bactérias, conferem proteção contra a fagocitose pelas células imune do hospedeiro; Biofilmes – a importância dos biofilmes como elementos da ferida infectada tornou-se recentemente aparente (Sibbald RG et al, 2000). Quando as bactérias proliferam nas feridas formam micro-colônias, as quais se ligam ao leito da ferida e secretam um glicocálix ou biofilme que protege os microorganismos. Estas colônias bacterianas sofrem diversas alterações, as quais podem alterar a sensibilidade antimicrobiana destes organismos. Os microorganismos podem existir como aglomerados de bactérias de um só tipo ou como colônias bacterianas mistas, tais como Pseudomonas e Staphylococcus sp. A liberação periódica de bactérias móveis destas colônias pode resultar em infecção. Os biofilmes constituem focos protegidos de infecção e resistência bacteriana na ferida, protegendo as bactérias dos efeitos de agentes antimicrobianos tais como antibióticos e antissépticos (Davey ME and O’Toole GA, 2000); Resistência antibiótica – o uso excessivo de antibióticos contribui para o desenvolvimento de cepas de bactérias resistentes aos antibióticos. Por que manejar o exsudato? O aumento do exsudato numa ferida crônica encontra-se muitas vezes associado a outras complicações subjacentes no paciente. Por exemplo, quando a carga bacteriana aumenta, a drenagem da ferida também aumenta. Tanto o edema (particularmente nas extremidades inferiores) quanto à destruição de tecido necrótico podem produzir um aumento nas quantidades de exsudato. O manejo do exsudato deve ter em conta fatores subjacentes e assegurar que o ambiente da ferida se mantém úmido. Um ambiente de cicatrização ideal é aquele em que o nível ótimo de umidade é mantido de modo a permitir uma divisão e migração celulares eficientes, enquanto garante que o leito da ferida resseque ou permaneça úmido. Num ambiente úmido a síntese de colágeno e de tecido de granulação encontra-se elevada; a migração celular e a epitelização ocorrem mais rapidamente e não se formam crostas nem cicatrizes. A manutenção de um ambiente úmido da ferida possui vários benefícios adicionais, tais como os que são apresentados em seguida: Tempo de cicatrização reduzido; Capacidade de autólise; Taxas de infecção reduzidas; Trauma reduzido; Redução da dor; Menos trocas de curativo; Maior custo-efetividade (definidocomo o custo total do tratamento para atingir os resultados desejados e não simplesmente como o custo dos curativos). Como manejar o exsudato? O manejo do exsudato deve iniciar-se com a determinação dos fatores que contribuem para o aumento dos seus níveis. Uma vez preparado o leito da ferida, o profissional deve decidir que terapia tópica é mais adequada. Esta decisão deve basear-se em vários fatores, incluindo os níveis de exsudato, o aspecto e odor presentes na ferida. Coleta de material Finalidade: Identificar o agente etiológico e determinar sua sensibilidade aos antimicrobianos, mas também definir a extensão da infecção nos diferentes tecidos. Indicação: O mais precoce possível, assim que feita a suspeita diagnóstica de infecção. Instruções de coleta em geral: Coletar material antes da antibioticoterapia, quando possível. No caso de úlceras crônicas, recomenda-se que haja interrupção do uso do antibiótico para coleta do material (caso em uso do antibiótico sem resposta adequada, porém clinicamente estável). Processar a limpeza da lesão com soro fisiológica estéril e compressa, retirando o material tecidual desvitalizado e secreções superficiais. Esse procedimento é extremamente importante. O objetivo é minimizar a colonização por organismos superficiais, que levariam a antibioticoterapia inadequada casos recuperados em cultura. Na úlcera superficial e na úlcera profunda sem coleção deve-se realizar a limpeza com soro fisiológico, fazer a curetagem de material do fundo da úlcera, colocar em recipiente estéril, com solução salina estéril e transporte imediato ao laboratório, em meio microbiológico que promova o crescimento bacteriano, inclusive com a preservação de bactérias anaeróbias. Na úlcera profunda com coleção, deve-se aspirar com agulha e enviar o material para o laboratório. Podendo ser enviado na mesma seringa, sem ar e fechada, para favorecer o crescimento das bactérias anaeróbias e anaeróbias facultativas, ou pode-se colocar o aspirado em frasco ou tubo com meio de cultura. Importante: Os swabs devem ser definitivamente evitados, devido à maior possibilidade de recuperação????? de microrganismos colonizantes, que podem confundir a interpretação etiológica. O grande vilão no laboratório, em casos de feridas é a utilização de swabs, pois não permitem uma quantidade adequada de material para os exames, também aumentando a probabilidade de falsos negativos. Caso o swab seja a única opção de coleta, somente devem ser utilizados os swabs que possuam meio de transporte AMIES ou STUARBS, que são disponíveis comercialmente. Os swabs não permitem realizar cultura anaeróbia. Biópsias: Realizar limpeza criteriosa, com soro fisiológico e compressas estéreis, realizar desbridamento, se necessário. Em partes moles deve ser sempre de tecido profundo. Biópsia óssea percutânea: Não se deve puncionar através da ferida, pois assim há chance de cultivar a flora que está sendo transpassada pela agulha. Recomenda- se então fazer uma incisão lateral após rigorosa antissepsia de pele (como anteriormente descrito). O fragmento deve ser colocado em recipiente estéril, com solução salina ou meio líquido conforme descrito anteriormente. O material deve ser enviado ao laboratório em um prazo máximo de duas, identificando-se a embalagem e observando-se todas as normas de biossegurança. Solicitação de exames: Deve constar cultura aeróbia e antibiograma. A cultura anaeróbia somente deve ser solicitada em aspirados e ou biópsia, nunca em material coletado através de swabs. Deve-se enfatizar que o diagnóstico etiológico individualizado deve ser uma meta para melhor atendimento do paciente. Protocolos para curativos de acordo com as características da ferida. CURATIVOS EM FERIDAS CIRÚRGICAS: *Ferida limpa e fechada – O curativo deve ser realizado com soro fisiológico 0,9% e mantido fechado nas primeiras 24 horas após a cirurgia, passado este período a incisão pode ficar exposta. Se houver secreção(sangue ou seroma) manter curativo semi-oclusivo. * Ferida com dreno aberto – O curativo do dreno deve ser realizado separado da incisão, e o primeiro a ser feito será sempre o do local menos contaminado. O curativo deve ser mantido limpo e seco, isto significa que o número de trocas deve ser diretamente relacionado com a quantidade de drenagem. Feridas com drenagem de moderada a grande , quando possível deve-se aplicar uma bolsa para coletar o excesso de secreção, permitindo medir a quantidade do exsudato drenado e proporciona maior conforto ao paciente. *Feridas com sistema de drenos fechados (torácico, hemovac), cateter venoso central (intracath, duplo lúmem) e o mesmo princípio é valido para os introdutores (p.ex.: introdutores de marcapasso e Swan-Ganz) - antes de iniciar o curativo, inspecionar o local de inserção por meio de palpação. Realizar a troca a cada 24 horas ou sempre que estiver úmido, solto ou sujo. *Feridas abertas sem infecção - Podem apresentar perda ou não de substâncias. Por estarem abertas estas lesões são altamente susceptíveis as contaminações exógenas. O curativo deve ser oclusivo e trocado quando necessário. *Feridas abertas contaminadas – Normalmente apresentam secreção purulenta e tecido desvitalizado. O curativo deve ser realizado com solução anti-séptica e aplicado tópicamente pomada ou cobertura com ação antimicrobiana. Se o curativo for realizado com pomada, a troca deverá ser feita a cada 12 horas ou 24 horas. Com o uso de coberturas antimicrobianas a troca deverá ser efetuada conforme a saturação ou de acordo com tempo de vida útil do produto. Lembramos que também é necessário seguir a prescrição médica de antibiótico por via sistêmica. *Feridas com fístula ou deiscência de paredes – Quando ocorre uma fístula ou deiscência de parede ou tunelização, torna-se difícil a realização de limpeza no interior da ferida proporcionando um ambiente altamente contaminado. Deve ser realizado limpeza exaustiva de toda cavidade com soro fisiológico 0,9% em jato com auxílio de seringa ou sonda, se necessário. Usar pomada ou cobertura antimicrobiana, se houver necessidade e sempre preencher as cavidades. A troca do curativo deverá ser feita conforme saturação da cobertura ou no máximo a cada 24 horas se for feito com pomadas. *Curativos em fixadores externos PROCEDIMENTOS Lavar as mãos; Limpeza diária com soro fisiológico, álcool 70% ou solução de polihexanidada na pele e no pino; Manter os pinos envolvidos com gaze estéril; Manter os fixadores cobertos por atadura somente nos primeiros dias após a cirurgia. TESTE DE CONHECIMENTO 1 . Ass ina le a a l te rna t i va fa l sa : a ) A c ica t r i zação é um evento comp lexo e d inâmico b ) A c ica t r i zação f ina l depende da tec idua l in ic ia l c ) Mu i tos even tos de rmato lóg icos con tam com a c ica t r i zação em de rme incomple ta d ) As fases da c i ca t r i zação são bem de te rminadas e ind iv idua l i zadas. e ) A c ica t r i zação depende de vá r ios fa to res como: loca l i zação ana tômica , t ipo da pe le , raça , e técn ica c i rú rg ica u t i l i zada . 2 . Qua l das a l te rna t i vas aba i xo não co r responde à c i ca t r i zação em de rme comple ta? a ) A c ica t r i z é percep t íve l b ) Mu i tas vezes a c ica t r i z é p ronunc iada c ) A reparação se faz basicamente pe la reep i te l i zação d ) Necess i ta de fo rmação de um novo tec ido e ) Pode se es tende r a té tec ido ce lu la r subcu tâneo 3 . Em re lação à coagu lação , podemos a f i rmar : a ) O in íc io é imed ia to após o surg imento da fe r ida b ) Independe de ou t ras a t i v idades como a p laquetá r ia e casca ta de coagu lação . c ) Inúmeros p rodu tos como substânc ias vasoa t i vas são l i be radas , e são impor tan tes apenas pa ra es ta fase . d ) É a ún ica fase ind iv idua l , sendo bem ind iv idua l sendo bem pa r t i cu la r i zada das subseqüentes . e ) O coágu lo é impresc ind íve l pa ra coap ta r as bo rdas das fe r idas , e imed ia tamente fagoc i tado po r não te r ma is nenhum pape l re levan te nes ta fase . 4 . As cé lu las ma is impor tan tes da fase in f lama tó r ia são : a ) Leucóc i tos po l imor fonuc lea res b ) Eos inó f i los c ) L in fóc i tos d ) P lasmóc i tos e ) Macró fagos 5 . As p r ime i ras cé lu las a chega r à fe r ida são : a ) Macró fagos b ) P lasmóc i tos c ) L in fóc i tos d ) Eos inó f i los e ) Leucóc i tos po l imor fonuc lea res 6 . Em re lação à con t ração da fe r ida , é e r rado a f i rmar : a ) Mov imento cen t r ípe to das bo rdas b ) Oco r re em todas as fe r idas de espessu ra pa rc ia l c ) Oco r re mesmo quando há enxe r tos d ) Pode passa r de 50% em c ica t r i zes po r segunda in tenção e ) Fac i l i ta por d im inu ição da á rea o reparo do de fe i to cu tâneo 7 . A remode lação oco r re : a ) Rap idamente e logo após a coagu lação b ) Aumen to a quan t idade de água, pa ra me lho r e fe i to f ina l da c ica t r i z . c ) No co lágeno e na ma t r i z d ) Pa ra aumenta r a espessu ra da c ica t r i z e d im inu i r a sua fo rça de tensão e ) V isando aumen ta r a vascu la r i zação da c i ca t r i z 8 . Ex is tem mu i tas va r iáve is que podem mod i f ica r o e fe i t o f ina l da c i ca t r i z : a ) Uso de d rogas s i s têm icas b ) Uso de d rogas tóp icas c ) Técn ica c i rú rg ica respe i tando un idades es té t i cas , ev i tando o p inçamento , e p r omovendo uma ap rox imação na tu ra l das bo rdas . d ) Mate r ia l c i rú rg ico u t i l i zado em fe r idas p rovocadas e ) Todas ac ima são va r iáve is impor tan tes e devem se r cons ide rados em c i ru rg ia de rmato lóg ica . 9. Dent re os fa to res aba ixo , iden t i f i que aque les que re ta rdam ou impedem a c ica t r i zação de lesões aber tas , de fo rma ma is impera t i va : a ) Idade e u t i l i zação de an t ib ió t i cos s is têmicos b ) P ressão con t ínua sob re o loca l e manutenção da lesão em me io seco c ) Doenças p ré ex is ten tes e uso de an t i -sép t icos d ) Es tado nu t r ic iona l e uso de cu ra t i vos não indus t r i - a l i sados. e ) P resença de in fecção e técn ica de l impeza u t i l i zada 2º MÓDULO – BIOSSEGURANÇA E EPI BIOSSEGURANÇA E EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL BIOSSEGURANÇA “É o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inesperados às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços; riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos” (Comissão de Biossegurança - FIOCRUZ). Risco X Perigo Risco é o perigo mediado pelo conhecimento que se tem da situação. É o que temos como prevenir. Perigo existe quando não se conhece a situação. É o desconhecido ou mal conhecido. (Costa, M.F. Biossegurança. Segurança Química Básica em Biotecnologia e Ambientes Hospitalares. S. Paulo. Santos Ed., 1996.1ª ed.) EXPOSIÇÕES A MATERIAL BIOLÓGICO O uso de equipamento de proteção individual nos ambientes hospitalares teve origem em 1982, mesmo antes da etiologia da Aids, os CDC (EUA) recomendaram que os profissionais de saúde deveriam prevenir o contato direto da pele ou membranas mucosas com sangue, secreções, excreções e tecidos de pacientes com suspeita ou diagnóstico de Aids baseados nas observações iniciais sugestivas de que a doença era causada por uma agente transmissível. Essas precauções recomendadas, denominadas Precauções contra Sangue e Fluidos corporais, incluíam principalmente: a manipulação cuidadosa de instrumentos perfuro cortantes contaminados com materiais biológicos; uso de coletor resistente para o descarte de agulhas e lâminas; o não reencapamento de agulhas por causa dos freqüentes acidentes; o uso de luvas e de capotes sempre que existir a possibilidade de contato com sangue; fluidos corporais, excreções e secreções; a lavagem das mãos antes e após o contato direto e indireto com o paciente; o uso de hipoclorito para a limpeza de utensílios e superfícies; o transporte de sangue e fluidos biológicos em embalagens impermeáveis e resistentes. Em 1987 os CDC fizeram uma atualização a partir documentação sobre a possibilidade de transmissão do HIV por contato mucocutâneo e da constatação de a infecção pelo HIV poderia ser desconhecida na maioria dos pacientes com risco de exposição dos profissionais de saúde. Foi com base nessas conclusões que os CDC implementaram o conceito de Precauções Universais. O termo “Universais” refere-se à necessidade de instituição das medidas de prevenção na assistência a todo e qualquer paciente, independentemente da suspeita ou confirmação diagnóstica de infecção pelo HIV ou qualquer outra doença infectocontagiosa como a Hepatite. As Precauções Universais recomendam o uso de rotineiro de barreiras de proteção (luvas, capotes, óculos de proteção ou protetores faciais). Englobam ainda as precauções necessárias na manipulação de agulhas e outros materiais cortantes para prevenir exposições percutâneas e os cuidados necessários de desinfecção e esterilização na reutilização de instrumentos de procedimentos invasivos. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL A utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e de proteção coletiva (EPC) é sem sombra de dúvida uma medida fundamental na proteção dos trabalhadores de saúde, ou seja, uma medida de biossegurança. Os profissionais que trabalham em hospitais estão potencialmente expostos a uma grande diversidade de agentes desencadeadores de doenças, tais como: a) Agentes físicos (radiação e temperatura); b) Químicos (substâncias tóxicas); c) Biológicos (agentes infecciosos) – O profissional de saúde pode ser visto como suscetível de adquirir infecção ou como fonte de transmissão de infecção; d) Ergonômicos (postura); e) Psicológicos (estresse). No Brasil existe a portaria nº 485, de 11 de novembro de 2005, que aprova a Norma Regulamentadora nº32 (NR 32), que regulamenta a segurança e saúde do trabalhador nos estabelecimentos de saúde do país. Tanto o exagero quanto o desprezo em relação às medidas de biossegurança devem ser evitados. A disseminação de infecção dentro do hospital depende de três elementos: a) Uma fonte de microorganismo infectante; b) Um hospedeiro suscetível; c) Um meio de transmissão de microorganismo. A transmissão ocorre
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