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CURSO AVANCADO NO TRATAMENTO DE FERIDAS (BuscAtiva)

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RIO DE JANEIRO, 18 DE OUTUBRO DE 2010. 
CURSO AVANÇADO SOBRE TRATAMENTO DE FERIDAS. 
 
 
 
Razão social: BuscAtiva Consultoria de Enfermagem em Feridas. 
CNPJ: 12618472/001/91 
Endereço: Rua Teixeira de Azevedo 
Tel. / Fax: 3371 79 48 
E-mail: buscativa@gmail.com 
Blog: cefbuscativa.blogspot.com 
Contatos: Marta ( 92928297), Patrícia( 99775059), Adriana ( 77060033), Cleuza( 
94714801). 
O CURSO SERÁ APLICADO EM TRÊS MÓDULOS, COM TESTE DE 
CONHECIMENTO AO FINAL DE CADA MÓDULO. 
 
1º MÓDULO 
 
 Desenvolvimento da pele 
 Fisiologia do processo cicatricial 
 Processo de limpeza da ferida. 
 
 Coleta de material para cultura 
 Protocolos 
 
 
 
 3º MÓDULO 
●Soluções anti-sépticas 
 
●Coberturas 
 
 
 
 2º MÓDULO 
 
● O uso de Equipamento de Proteção Individual ( EPI ) 
 
● Normas de Biossegurança 
 
 
 
 Introdução 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Estrutura da Pele e a Composição do Sangue 
A Pele 
A pele é o órgão atingido pelas feridas e quando lesada requer reparação, constitui a 
maior estrutura que reveste a superfície exterior do corpo e que se continua com as 
membranas dos orifícios e cavidades (mucosas). É considerada fundamental para a 
estabilidade do corpo humano, atingindo cerca de 16% do peso corporal, sendo 
indispensável para a vida, pois forma uma barreira entre os órgãos internos, o 
ambiente externo e participa de muitas funções vitais do organismo. As principais 
estruturas da pele podem ser encontradas na derme. A pele também é chamada de 
tegumento. 
 
A pele é composta de duas camadas principais: epiderme (camada externa) e derme 
(camada intermediária). Há autores que citam a existência de três camadas, 
subdividindo a derme em subcutâneo/hipoderme. 
1.1- Derme - é um epitélio estratificado composto por queratinócitos e formado por 
quatro camadas distintas. 
Queratinócitos ou ceratinócitos - são os principais constituintes da epiderme, 
durando o seu ciclo de vida em torno de 15 a 20 dias. Essas células se dispõem na 
epiderme, formando camadas. Em cada uma delas os ceratinócitos apresentam 
aspectos morfológicos distintos, caracterizando os seus vários estágios de maturação. 
O número de camadas pode variar de acordo com a região do corpo, sendo a pele da 
região plantar a mais espessa e a da face a mais delgada. 
Camada basal: essa é a camada mais profunda e também chamada de germinativa, 
apresenta intensa atividade mitótica, sendo responsável pela constante renovação 
celular. Nesta camada também encontramos os melanócitos, que se constituem nas 
células produtoras de melanina (principal protetor contra radiações solares). 
Camada espinhosa: é a camada mais espessa. Nessa camada se observa uma 
substância denominada de “glicocálix’’ que aumenta a aderência intercelular e serve 
de meio condutor de substâncias hidrossolúveis para o meio externo. 
Camada granulosa: é constituída por células granulosas, que se caracterizam pela 
presença de uma grande quantidade de grânulos de queratoialina, que expressam a 
queratinização (impermeabilização) da epiderme. 
Camada córnea: é formada por células epidérmicas anucleadas, constituídas de 
queratina. Essa camada é mais espessa nas regiões palmo plantares, onde mais uma 
camada compõe a epiderme, o estrato lúcido, localizado entre a camada córnea e a 
granulosa. 
 
►Outras Células Presentes na Epiderme 
 
Melanócitos 
São as células responsáveis pela produção de melanina. A melanina protege as 
células em mitose da camada basal contra os efeitos lesivos dos raios ultravioletas 
sobre o DNA. Além disso, a melanina influencia o metabolismo da vitamina D e a 
termorregulação. 
 
 
 
Células de Merckel 
Estão localizadas na camada basal e tem função sensorial, associadas a terminações 
nervosas intra epidérmicas. Dessa forma, são mais numerosas em áreas de mãos, 
planta dos pés e lábios. 
Células de Langerhans 
As células de Langerhans são derivadas da medula óssea e fazem parte da linhagem 
de macrófago histiocitária. Estão localizadas na camada basal e a sua função é de 
processar e apresentar antígenos ao sistema imunológico. Essa função pode ser 
reduzida pela ação ultravioleta. 
Anexos Cutâneos 
Na derme, encontramos os anexos cutâneos que são: o folículo piloso, a glândula 
sebácea e as glândulas sudoríparas dos tipos apócrino e écrino. 
O folículo piloso é constituído por um canal no qual o pelo é produzido e conduzido ao 
exterior. Ao folículo piloso estão conectadas a glândula sebácea e a glândula 
sudorípara do tipo apócrino. 
As glândulas sebáceas estão em toda pele, exceto nas regiões palmo plantares. 
Caracterizadas por um aglomerado de células, cujo produto da secreção (sebo) é 
drenado para dentro do canal do pelo. 
O sebo protege contra proliferação de bactérias e fungos, e juntamente com o suor 
origina no córneo a película ou manto hidrolipídico que desempenha valioso papel na 
retenção de água pela pele. 
Glândulas sudoríparas do tipo apócrino, encontrada nas regiões axilares, 
perimamilares, anoperineal, desembocam nos folículos pilossebáceos; produzem 
secreção em pequena quantidade, tem aspecto leitoso e produz odor, decorrente de 
bactérias próprias das regiões em que são encontradas. 
Glândulas sudoríparas do tipo écrino encontram-se por toda pele, predominando nas 
regiões axilares e palmo plantar. A secreção sudoral écrina é inodora, incolor e 
compreende 99% de água. Desempenham papel fundamental na regulação da 
temperatura corporal. 
1.2- Derme - a derme ou córion (do latim corium, couro) sustenta a epiderme, e 
envolve anexos cutâneos, vasos, nervos e músculos eretores do pêlo, protegendo-os. 
Mas a derme não é apenas um envoltório. Ela participa ativamente da nutrição 
cutânea, do sistema imune pelo transporte seletivo de células inflamatórias, e regula o 
tônus vascular, contribuindo para a hemostasia. 
Na derme evidenciam-se duas regiões, uma mais superficial com menor quantidade 
de fibras colágenas, chamada derme papilar, e uma mais profunda com grande 
quantidade dessas fibras chamada de derme reticular, localizada entre a derme 
papilar e subcutâneo. 
Ao redor dos vasos sanguíneos dérmicos, encontram-se alguns elementos de defesa 
da pele que são: 
*O tecido linfóide associado à pele, constituído por esparsos linfócitos situados ao 
redor dos vasos mais superficiais. 
*Mastócitos 
*Macrófagos perivasculares 
*Células dendríticas perivasculares (ação semelhante à dos macrófagos) 
 
Elementos encontrados na Derme 
●Fibroblastos e Colágeno 
Na derme, o colágeno é o elemento mais abundante, sendo fabricado principalmente 
pelo fibroblasto. Os fibroblastos também produzem as fibras elásticas e a substância 
de fundo. 
●Fibras Elásticas 
Elas são responsáveis pela elasticidade da pele. Elas são produzidas pelos 
fibroblastos e são compostas de elastina. 
 
 
●Substância de Fundo 
A substância de fundo é comum a todos os tecidos do corpo, formando o meio para 
os elementos celulares e as fibras. Além disso, transporta água e eletrólitos. É 
composta principalmente por fibronectina e glicosaminoglicanos (ácido hialurônico, 
sulfato de condroitina e sulfato de dermatan) sintetizados pelos fibroblastos. 
●Vasos Sanguíneos 
A partir dos vasos perfurantes do músculo esquelético e subcutâneo se forma dois 
plexos vasculares: o plexo vascular profundoe o plexo vascular superficial . 
●Vasos Linfáticos 
Os vasos linfáticos desempenham funções variadas e importantes, incluindo a 
drenagem de linfa, células e macromoléculas, participam da defesa contra 
microorganismos e são canais de tráfego para as células de Langerhans entre a pele 
e os linfonodos. 
●Células Inflamatórias 
Várias células de defesa como os linfócitos B e T, mastócitos, histiócitos e outras 
estão presentes na pele normal. A presença dessas células é importante uma vez que 
a pele está em contato constante com antígenos e agentes infecciosos. Elas estão 
presentes na resposta imunológica normal da pele e em reações de 
hipersensibilidade. 
●Nervos 
A pele é importante meio de troca sensorial com o mundo exterior, sendo para isso 
ricamente inervada. 
●Músculo Liso e Esquelético 
Fibra de músculo liso é representada na pele, essencialmente pelo músculo eretor do 
pêlo. Além disso, fibras isoladas podem ser encontradas na genitália externa e na 
aréola mamária. 
 
1.3-Tecido Subcutâneo ou Hipoderme 
A pele se apóia sobre o tecido adiposo maduro, conhecido como hipoderme ou tecido 
subcutâneo que forma a camada mais profunda da pele, de espessura variável e 
constituída exclusivamente de tecido adiposo. Geralmente, em sua porção superior 
são encontradas as áreas secretoras das glândulas sudoríparas, além de vasos 
sanguíneos, pelos e terminações nervosas. A hipoderme presta uma grande 
contribuição ao isolamento térmico, na proteção mecânica do organismo à pressão e 
traumas, além de constituir um depósito nutritivo de reserva e facilitar a mobilidade da 
pele em relação às estruturas subjacentes. 
 
Funções da Pele 
* Proteção das estruturas internas 
* Termorreguladora 
* Proteção Imunológica 
* Perceptora 
* Secretora 
* Absortiva 
* Sintetizadora de vitaminas 
 
Composição do sangue 
O sangue, para além de fornecer oxigênio e nutrientes aos órgãos e tecidos e de 
transportar os mensageiros endógenos e enzimas, tem ainda duas funções 
importantes associadas ao processo de cicatrização; contém células do sistema 
imunológico que reconhecem e removem partículas estranhas que invadiram o 
organismo e, adicionalmente, contém componentes do sistema de coagulação que 
são responsáveis por coagular as rupturas dos vasos sanguíneos resultantes de 
lesões. 
 
http://www.columbiaphytotechnology.com/images/about/immune-cells.jpg 
 
Componentes dissolvidos 
O plasma sanguíneo é um fluído ligeiramente amarelado contendo 90% de água. 
Existem várias proteínas dissolvidas no plasma (7-8%), tal como as albuminas, que 
são responsáveis por manter a pressão osmótica no sangue e atuam como 
transportadoras de materiais insolúveis na água e globulinas que desempenham o 
papel de anticorpos (ex.: IgG, IgA, IgM) na imunidade humoral. O plasma contém 
ainda: 
 Nutrientes (proteínas, gorduras e açúcares) 
 Sais inorgânicos 
 Produtos resultantes da metabolização (especialmente uréia) 
 Enzimas 
 Hormônios 
O fibrinogênio é um componente do plasma essencial para a coagulação sanguínea. 
É uma ß2-globulina que se encontra normalmente presente em uma concentração de 
2-4 g/l. 
 
Componentes celulares 
 
Eritrócitos (glóbulos vermelhos) - contêm hemoglobina, são os que existem em 
maior número, numa concentração aproximada de 4-5 milhões / µ1. Eles tomam a 
forma de discos achatados, bicôncavos com um diâmetro de 7-8 µm (1µm=1/1000 
mm), são anucleados e muito flexíveis. 
 
http://cnaturais9.files.wordpress.com/2008/05/cosntituicao-do-sangue.jpg 
 
Os glóbulos vermelhos contêm o pigmento sanguíneo hemoglobina que é responsável 
pelo transporte do oxigênio e do CO2. São produzidos na medula óssea e são 
degradados no baço e no fígado. O seu tempo de semivida é de cerca de 120 dias. 
Leucócitos 
Os leucócitos (também conhecidos como glóbulos brancos) estão presentes no 
sangue em quantidades muito inferiores, 4000 - 11000 / µ1. O seu diâmetro 
corresponde a mais do dobro dos eritrócitos. Os glóbulos brancos são sempre 
nucleados e apresentam um movimento amebóide. Eles são produzidos na medula 
óssea e amadurecem nos diferentes órgãos linfáticos (baço, nódulos linfáticos, 
amígdalas, medula óssea, timo), transformando-se em células com uma variedade de 
funções e aparências estruturais. 
A defesa não específica é fornecida por células conhecidas como fagócitos. Estas 
células podem reconhecer, envolver e digerir organismos estranhos tais como fungos, 
bactérias e vírus. Elas incluem: 
• Granulócitos; 
• Fagócitos mononucleares ou monócitos. 
Os granulócitos (11-14 µm), também designados de leucócitos polimorfonucleares, 
encontram-se em maior número do que as restantes células fagocitárias. Estes 
circulam no sangue e o seu nome deve-se aos grânulos que apresentam e que são 
facilmente observáveis ao microscópio. Quando o organismo é invadido por corpos 
estranhos, os granulócitos abandonam os capilares sangüíneos, migram para a área 
afetada e destroem o invasor através da fagocitose. Os fagócitos mononucleados 
estão também envolvidos nos mecanismos gerais de defesa. 
 Dependendo da sua localização podemos fazer a distinção entre monócitos (no 
sangue) e macrófagos (nos tecidos). Os macrófagos, tal como o seu nome indica, são 
as maiores células fagocitárias com um diâmetro de 12-20 µm. Estas células 
removem o invasor e também consomem tecidos endógenos que degeneraram ou 
estão inativos. Os linfócitos fornecem uma forma mais sofisticada e desenvolvida do 
nosso sistema imunológico (imunidade específica). Estas células fazem parte do 
mecanismo de defesa específico, uma vez que possuem na sua membrana, 
estruturas que lhes permitem reconhecer agentes patogênicos específicos (antígeno), 
os quais são eliminados rápida e seletivamente após contato. 
As células indiferenciadas dos linfócitos, tal como as de outros leucócitos, são 
produzidas na medula óssea. Durante o desenvolvimento embrionário elas migram 
para os órgãos linfáticos. A este nível vão amadurecer para dar origem a dois tipos de 
linfócitos: 
Linfócitos T - a maturação dos linfócitos T depende da glândula timo (daí o nome de 
linfócito T), diferenciando-se nos seguintes agentes que medeiam os mecanismos de 
defesa: 
• Células citotóxicas (killer cells), que libertam toxinas, enzimas hidrolíticas ou 
fatores complementares dissolventes, destruindo de modo seletivo os agentes 
patogênicos invasores. 
• Células auxiliares (helper cells) que, após o contato com o antígeno, ajudam a 
produção de anticorpos nos linfócitos B e ativam as células fagocitárias através da 
emissão de sinais químicos semelhantes a hormônios 
• Células supressoras (supressor cells) que inibem a atividade de outros 
linfócitos e como tal regulam a defesa imunológica. 
Linfócitos B - amadurecem no tecido linfático do intestino e fígado. Nos pássaros 
esta função é desencadeada por uma glândula retal, a Bolsa de Fabricius, daí o nome 
linfócitos B. Os linfócitos B têm receptores específicos para antígenos na sua 
superfície celular e, caso ocorra infecção, podem ser transformados em células de 
memória (grandes células plasmáticas) após a estimulação pelo respectivo antígeno. 
Estas células constituem a memória imunológica, uma vez que "memorizam" o 
antígeno e, no caso de se repetir a infecção, desencadeiam de imediato a resposta 
imunológica adequada. As células do plasma são "fábricas" altamente especializadas 
que produzem anticorpos, libertando-os no sangue. Estes se ligam ao seu antígeno 
alvo e, ou o inativam diretamente ou o marcam para ser posteriormente destruído 
pelas células fagocitárias. 
As plaquetas (150,000-450,000)não são verdadeiramente células. As plaquetas são 
anucleadas, achatadas em forma de disco e têm um diâmetro de 2-3.5 µm. Elas 
podem interligar-se, isto é, agregar, em resposta a estímulos específicos. Após a 
agregação das plaquetas, libertam-se fatores plaquetários que iniciam a coagulação 
sangüínea. 
 
Ferida 
Definição: uma ferida é definida, geralmente, como um estado patológico em que os 
tecidos são separados uns dos outros e/ou destruídos. Este acontecimento está 
associado com uma perda de substância e redução da funcionalidade. 
As feridas podem ocorrer em quaisquer tecidos do corpo, mas freqüentemente afetam 
a pele. O termo "ferida" é utilizado para descrever uma ruptura da camada exterior do 
corpo, enquanto que o termo "lesão" aplica-se preferencialmente a danos ocorridos 
nos órgãos internos. As feridas cicatrizam pelos mesmos mecanismos biomecânicos 
em todos os tecidos. Seguidamente estão descritos exemplos de feridas na pele e 
seus processos de cicatrização. 
A perda tecidual pode atingir a derme completa ou incompleta, ou mesmo atingir todo 
o órgão, chegando ao tecido subcutâneo. É daí que vem a definição de tipo de ferida. 
Ferida de espessura parcial (derme incompleta) – ocorre após procedimentos 
dermatológicos como a dermoabrasão, peelings químicos e também pode ser 
causada por traumatismos. A reparação faz-se pela reepitelização dos anexos 
epiteliais ou da pele adjacente não acometida. Como resultado final tem-se uma 
cicatriz praticamente imperceptível. 
Feridas de espessura total (derme completa) – necessitam da formação de um 
novo tecido, o tecido de granulação; a epitelização nas feridas de espessura total, 
acontece apenas nas margens da ferida. Nesse caso, a cicatriz é totalmente 
perceptível e, muitas vezes, pronunciada. 
A cicatriz também depende de vários fatores, locais e gerais, como: localização 
anatômica, tipo de pele, raça, técnica cirúrgica utilizada. 
 
Princípios básicos para avaliação de ferida 
 A avaliação das feridas direciona o planejamento dos cuidados, define a terapia 
tópica e proporciona dados para monitorar o processo de cicatrização.Devemos 
observar: 
*Localização anatômica 
*Tamanho: cm² / diâmetro 
* Profundidade: cm 
 *Tipo / quantidade de tecido: granulação, epitelização, esfacelo e necrose. 
 *Bordas: aderida, macerada, descolada, fibrótica, hiperqueratose. 
 * Pele Peri-lesiona,: edema, coloração, temperatura, endurecimento, descamação, 
flutuação. 
* Exsudato: quantidade, aspecto, odor. 
 
Classificação dos processos biológicos da cicatrização 
Existem alguns autores que consideram três estágios no processo de cicatrização: 
inicialmente um estágio inflamatório, seguido por um proliferativo e finalizando em um 
estágio de remodelação. Outros autores classificam de uma forma mais completa 
dividindo o processo em cinco fases principais: 
Coagulação 
O início é logo após o surgimento da ferida. Esta fase depende da atividade 
plaquetária e da cascata de coagulação. 
A formação do coágulo serve não apenas para coaptar as bordas das feridas, mas 
também para cruzar a fibronectina, oferecendo uma matriz provisória, em que os 
fibroblastos, células endoteliais e queratinócitos possam ingressar na ferida. 
 
Inflamação 
Intimamente ligada à fase anterior, a inflamação depende, além de inúmeros 
mediadores químicos, das células inflamatórias, como os leucócitos 
polimorfonucleares (PMN), macrófagos e linfócitos. 
Os PMN chegam ao momento da injúria tissular e ficam por período que varia de três 
a cinco dias; são eles os responsáveis pela fagocitose das bactérias. 
O macrófago é a célula inflamatória mais importante desta fase, permanecendo do 
terceiro ao décimo dia. Fagocita bactérias, desbrida corpos estranhos e direciona o 
desenvolvimento de tecido de granulação. Alta atividade fagocitária dos macrófagos é 
observada após trauma. 
A fase inflamatória conta ainda com o importante papel da fibronectina. Sintetizada 
por uma variedade de células como fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais, 
ela adere, simultaneamente à fibrina, ao colágeno e a outros tipos de células, 
funcionando assim como uma cola para consolidar o coagula de fibrina, as células e 
os componentes da matriz. 
Proliferação 
Dividida em três subfases, a proliferação é responsável pelo fechamento de lesão 
propriamente dito. 
A primeira fase da proliferação é a reepitelização. Sabe-se que o plano de 
movimento dos queratinócitos é determinado também pelo conteúdo da água no leito 
da ferida. 
Feridas superficiais abertas e ressecadas reepitelizam mais lentamente do que as 
ocluídas. 
A segunda fase da proliferação inclui a fibroplasia e formação de matriz que é 
extremamente importante na formação do tecido de granulação. A formação do tecido 
de granulação depende do fibroblasto, célula crítica na formação da matriz. O 
fibroblasto produz colágeno, elastina, clicosaminoglicana e proteases, estas são 
responsáveis pelo desbridamento e remodelamento fisiológico. 
A última fase da proliferação é a angiogênese, essencial para o suprimento de 
oxigênio e nutrientes para a cicatrização. 
Contração da ferida 
É o movimento centrípeto das bordas da ferida (espessura total). As feridas de 
espessura parcial não contam com esta fase. Em cicatrizes de segunda intenção a 
contração pode reduzir 62% da área de superfície do defeito cutâneo. 
Remodelação 
Essa é a última das fases; ocorre no colágeno e na matriz; dura meses e é 
responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da 
cicatriz e do eritema. 
Uma cicatriz normal tem aproximadamente 80% da força de tensão da pele normal, 
não é volumosa e é plana. 
São muitas as variáveis tanto de ordem geral como de ordem local que influenciam 
esse longo e complexo processo. 
Dos fatores gerais, interfere a idade, o estado nutricional do paciente, a existência de 
doenças de base, como diabetes, alterações cardiocirculatórias e de coagulação, 
aterosclerose, disfunção renal, quadros infecciosos sistêmicos e uso de drogas 
sistêmicas. 
Dos fatores locais interfere a técnica cirúrgica, formação de hematomas, infecção, 
reação de corpos estranhos, uso de drogas tópicas, ressecamento durante a 
cicatrização. 
 
 
 
 
ÚLCERA DE PRESSÃO 
Definição: 
 Segundo Dealey (2008), Úlceras por Pressão (UP) também são chamadas de 
“feridas por pressão” e “úlceras de decúbito”, e representam um problema para os 
serviços de saúde. 
Uma úlcera de pressão é uma área de dano localizado na pele e estruturas 
adjacentes devido à pressão ou fricção e/ou combinação destes. 
As UP são causadas por uma combinação de fatores, tanto externos quanto 
internos ao paciente. Além da pressão relacionada ao tempo (duração da pressão), 
devemos considerar ainda dois outros fatores na etiogênese das UP que são: a 
intensidade da pressão e a tolerância tissular. 
Além da pressão relacionada à duração, intensidade e tolerância tissular, 
outros fatores de risco contribuem direta ou indiretamente para o desenvolvimento 
das UP. Diversos autores como Dealey (2008), apontam alguns dos fatores de risco 
mais freqüentes e importantes na gênese da UP como: Perfusão tecidual diminuída 
ou ausente; idade; mobilidade; nível de consciência; alguns medicamentos 
utilizados; umidade excessiva; nutrição; algumas doenças crônicas (diabetes, 
doenças cardiovasculares); cisalhamento e fricção. 
 
 Classificação das úlceras de pressão segundo a EPUAP( European Pressure 
Ulcer Advisory Panel): 
● Úlcera de pressão de grau ou estágio 1: eritema não branqueável 
 Eritemanão branqueável em pele intancta. Descoloração da pele, calor, edema, 
induração ou rigidez podem também ser utilizados como indicadores, particularmente 
em indivíduos com pele escura. 
 
 
● Úlcera de grau 2: Flictena 
 Destruição da envolvendo a epiderme, derme ou ambas. A úlcera é superficial e 
apresenta-se clinicamente como uma abrasão ou flictena. 
 
● Úlcera de pressão de grau 3: úlcera superficial 
 Destruição total da pele envolvendo necrose do tecido subcutâneo que pode 
estender-se até, mas não através da fáscia subjacente. 
 
 
● Úlcera de grau 4: úlcera profunda 
 Destruição extensa, necrose tecidual; ou dano muscular, ósseo ou das estruturas 
de suporte com ou sem destruição total da pele. 
 
A classificação das úlceras de pressão por graus é útil para definir a máxima 
profundidade de tecido envolvido. Infelizmente as definições de úlceras de pressão 
por graus perecem ser utilizadas erradamente no sentido, por ex. para descrever a 
cicatrização implica assumir que as úlceras de pressão com destruição total da pele 
cicatrizam por reposição das mesmas camadas estruturais de tecido corporal 
perdidos. OS estudos clínicos indicam que à medida que as úlceras de pressão grau 
4 cicatrizam para profundidades progressivamente mais superficiais , estas não 
repõem o músculo, a gordura subcutânea e a derme antes de reepitelizarem. 
 Uma úlcera de pressão de grau 4 não pode progredir para uma úlcera grau3, 
grau2 ou grau1. 
 A classificação inversa por graus nunca deve ser utilizada para descrever a 
cicatrização de uma úlcera de pressão. 
 Os sistemas de classificação de úlceras de pressão devem apenas ser utilizados 
para registrar a profundidade máxima anatômica de tecido envolvido na úlcera, após 
ter sido removido o tecido necrosado. A cicatrização das úlceras de pressão deve ser 
documentada com parâmetros objetivos tais como: tamanho, profundidade, 
quantidade de tecido necrosado, quantidade de exsudato, presença de granulação, 
etc... 
O PUCLAS é um programa desenvolvido pelo EPUAP (European Pressure 
Ulcer Advisory Panel), para servir de ferramenta de estudo ao tema úlcera de 
pressão, especialmente no que diz respeito à sua classificação pelo grau de lesão 
tissular. 
Lesões por umidade são frequentemente confundidas com úlceras de 
pressão. As lesões por umidade são lesões cutâneas e não causadas por pressão e 
ou forças de deslizamento (cisalhamento). É importante distinguir uma úlcera de 
pressão de uma lesão por incontinência. 
São características de lesões por umidade: 
 Vários pontos superficiais e difusos; 
 Bordos irregulares; 
 Pele brilhosa, úmida e hiperemiada. 
 
 
Classificação dos tipos de 
tecidos
 
 
Regeneração X Reparação 
O organismo espontaneamente tenta fechar uma ferida e restabelece as funções dos 
tecidos danificados tão depressa quanto possível. Todos os tecidos do organismo são 
capazes de cicatrizar com a exceção dos dentes. O estado original pode ser 
restaurado por dois mecanismos diferentes: regeneração ou reparação. 
 
Regeneração: diz respeito à reposição específica de tecido danificado de uma parte 
do corpo ou órgão. O reino animal contém muitos exemplos deste processo, por 
exemplo, a regeneração completa de uma minhoca a partir dos segmentos anteriores 
do seu corpo ou a reposição completa da extremidade de uma salamandra. Entre os 
mamíferos, e especialmente no homem, a regeneração completa só é possível no 
tecido epitelial (epiderme, membranas mucosas do trato gastrointestinal e nos órgãos 
genitais femininos) sendo igualmente possível, dentro de certos limites, nos órgãos 
parenquimatosos tais como o fígado. 
Deste modo, no homem, a recuperação de feridas ou lesões é feita, basicamente, 
através da reparação. 
Reparação: neste processo, o tecido eliminado ou danificado é substituído por 
elementos inespecíficos dos tecidos conjuntivos e de suporte, formando uma cicatriz. 
Apenas nos tecidos de suporte, como é o caso dos ossos, cartilagem e tendões, a 
regeneração é feita com a estrutura própria dos tecidos. Podemos então definir a 
cicatrização como o encerramento de uma ferida através de tecido de suporte à 
formação da cicatriz, associado à regeneração epitelial, ou seja, epitelização. O seu 
objetivo é restaurar a forma e funções do tecido danificado. 
 
FIOSIOLOGIA DO PROCESSO CICATRICIAL 
Após décadas a fio, em que os enfermeiros sempre realizaram os tradicionais 
“curativos” - ou delegaram tal atividade a outrem -, parece que ocorre um despertar, 
uma tomada de consciência generalizada por parte destes profissionais sobre a 
importância e a responsabilidade relativas ao tratamento das lesões de pele. 
Este “acordar”, nada mais é que a conscientização gradativa de estar repetindo 
procedimentos aprendidos e incorporados quase por “ritual e tradição”, muitos dos 
quais sem qualquer base ou fundamentação fisiológicas. 
Não é mais novidade o conceito de “curativo úmido” que se contrapõe à tradição 
aprendida em aula, de se manter o curativo “sempre seco”. Por que será que se 
manteve vivo durante décadas um procedimento tão absurdo como este, sendo 
totalmente antifisiológico? As respostas podem ser várias. Talvez porque, mesmo 
seca, a ferida ainda cicatriza, ou porque alguém mandou que se fizesse dessa ou 
daquela forma. A causa mais provável deve-se certamente a dissociação entre teoria 
e prática dos profissionais que se propõem a tal atividade. Como se pode manter o 
leito de uma ferida totalmente seco, esperando que haja proliferação e migração 
celular, quando se sabe, pela fisiologia, que a célula é basicamente “água cercada por 
água por todos os lados”? 
A responsabilidade do enfermeiro que se propõe a tratar lesões de pele implica em 
conhecimento não apenas dos materiais de vanguarda, hoje disponíveis no mercado, 
mas primeiramente do entendimento de fisiologia da cicatrização e de todas as etapas 
do processo de reparo tissular. Sem esse entendimento é improvável que faça um 
diagnóstico correto e selecione a cobertura adequada para o tratamento da lesão. 
Muitos e variados tipos de traumatismos, bem como as incisões cirúrgicas, resultam 
em danos da pele. O nosso organismo normalmente consegue cicatrizar 
espontaneamente estas feridas, de forma a restaurar as funções originais da sua 
camada protetora o mais rápido possível. Este processo envolve uma grande 
variedade de mecanismos de reparação em cada uma das camadas da pele e 
múltiplas células, algumas de origem sangüínea. Para compreender melhor estes 
processos, vamos primeiro analisar a estrutura de uma pele saudável e dos 
componentes do sangue. 
A pele é um dos órgãos mais importantes do corpo e exerce múltiplas funções. Uma 
pele saudável fornece barreira contra pressão ou fricção, substâncias químicas e 
tóxicas, calor, frio, raios UV, radiações e microorganismos patogênicos. 
Adicionalmente, a pele é um órgão essencial para a manutenção dos fluídos 
corporais, proporciona termorregulação e comunica todos os estímulos externos 
através de receptores para toque, pressão, temperatura e dor. Por outro lado, 
exteriorizamos o nosso estado emocional através da pele, porque coramos, 
empalidecemos, arrepiamo-nos e emitimos odores (feromonas). 
 
 O PROCESSO DE LIMPEZA DA FERIDA 
A reparação de feridas, especialmente as crônicas, é um fenômeno complexo, 
dinâmico e sistêmico. Por ser sistêmico, depende das condições gerais de saúde do 
indivíduo, que pode ser interrompido por diversos fatores intrínsecos que devem ser 
cuidadosamente avaliados e controlados para permitir a evolução natural deste 
processo. 
Emboraa reparação tecidual tanto por regeneração quanto por substituição de tecido 
seja sistêmica, é absolutamente necessário favorecer condições locais através de 
terapia tópica adequada para dar suporte e viabilizar o processo fisiológico. 
Entre os diversos princípios da terapia tópica, a remoção não somente da necrose 
como também de corpos/partículas estranhos do leito da ferida constitui um dos 
primeiros e mais importantes componentes a serem considerados na avaliação inicial 
e subseqüentes da ferida. 
O processo de limpeza é de fundamental importância para a reparação tecidual. A 
reparação não poderá evoluir de modo adequado, enquanto todos os agentes 
inflamatórios não forem removidos do leito da ferida. 
A limpeza da ferida, no sentido restrito do termo wound cleansing, derivado da língua 
inglesa, significa o uso de fluídos (soluções) para suavemente lavar e retirar bactérias, 
detritos, exsudatos, corpos estranhos, resíduos de agentes tópicos e outros da 
superfície da ferida. 
Na bibliografia norte-americana, publicado no guia de prática clínica desenvolvido em 
1994, pela Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) a limpeza da ferida 
inclui o desbridamento, que é conceituado como a remoção de tecidos necrosados e 
de corpos/partículas estranhos do leito da ferida, usando técnicas mecânicas e/ou 
químicas. 
Limpeza é a ação de limpar, limpar é tirar as sujidades com água, segundo dicionário 
da língua portuguesa. Então a sujidade da ferida pode ser removida com água ou 
através de outros métodos. Limpeza é um termo amplo e o que se modificam são a 
forma de efetuá-la e as soluções utilizadas. Considerando ser este um processo 
passa-se a denominá-lo “processo de limpeza”. 
No processo de limpeza das feridas, cada etapa da trajetória de reparação tem uma 
necessidade e, para atender essa demanda vários métodos e técnicas podem ser 
utilizados, optando-se por aqueles mais suaves ou mais agressivos, dependendo da 
condição do leito da ferida. 
Quando o conteúdo estranho não puder ser removido apenas com a simples lavagem 
da ferida, institui-se então, uma forma de limpeza mais agressiva, a qual é conhecida 
como desbridamento. Não sendo este eficaz para remover a carga bacteriana e a 
ferida apresentar sinais clínicos de infecção local, recomenda-se o uso criterioso de 
antibióticos tópicos, que poderão ser associados a antibióticos sistêmicos conforme a 
gravidade do caso. 
 
TÉCNICA LIMPA X ESTÉRIL 
De acordo com Rodeheaer (1997), ainda não existem publicações de pesquisas 
científicas definitivas sobre como e com o que limpar as feridas, em especial as 
abertas, e que as recomendações são baseadas à luz do conhecimento científico 
atual e no senso comum. 
Segundo Dantas (2003), além de ser senso comum, o bom senso de cada profissional 
na escolha do método de limpeza, no momento em que está avaliando a pessoa com 
ferida, é muito importante. Cada ferida avaliada é diferente uma da outra, exatamente 
porque as pessoas são diferentes. Por essa razão, a escolha deve ser feita conforme 
a necessidade de cada pessoa e não somente nas rotinas das instituições. 
Cabe ao profissional de saúde, ao avaliar uma pessoa portadora de ferida, verificar a 
eficácia de determinado tratamento, reconhecer os fatores de risco associados à 
infecção, pois a sua conduta deve sempre levar em consideração a presença destes 
fatores, que podem direta ou indiretamente, alterar o metabolismo corporal, e a 
resposta imunológica, seja por mecanismos fisiológicos (idade) ou patológicos 
(infecção provocada por procedimento de risco). 
É bastante comum que, no dia-a-dia profissional, haja confusão quanto ao fato de 
estar diante de uma ferida infectada, contaminada ou apenas colonizada. Diante 
disso, é necessário relembrar a definição de infecção, colonização e contaminação. 
►Contaminação – refere-se à presença de um microorganismo sobre a superfície 
epitelial sem que haja invasão tecidual, reação fisiológica ou dependência metabólica 
com o hospedeiro. 
►Colonização – há uma relação de dependência metabólica com o hospedeiro e a 
formação de colônias, mas sem a expressão clínica e reação imunológica. 
►Infecção – Implica em parasitismo, com interação metabólica e reação inflamatória 
e da imunidade. 
Todo esse entendimento é fundamental para que seja possível controlar o 
aparecimento das infecções. Todas as feridas, sejam elas agudas ou crônicas, estão 
expostas a microorganismos. Cabe ao profissional de saúde adotar as medidas 
adequadas para tratar uma infecção ou simplesmente monitorar um estado de 
colonização e, acima de tudo, evitar a contaminação de uma ferida, o que aumenta 
significativamente o risco de infecção. 
É necessário limpar feridas abertas utilizando soluções e materiais esterilizados e 
com técnica estéril? Devido à falta de estudos científicos que fundamentam essa 
interrogação, a AHCPR (1994) e National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP, 
2000) recomendam, para a limpeza de feridas crônicas: técnica limpa e coberturas 
limpas, sendo necessário para tal prática o uso individualizado dos materiais e que os 
mesmos, depois de abertos, sejam adequadamente armazenados. 
Bates-Jansen e cols. (1997) em estudo piloto em deiscências cirúrgicas no ambiente 
hospitalar, comparando técnica limpa e estéril não obtiveram diferença na 
cicatrização, concluindo que curativos limpos e técnica limpa estão adequados para a 
limpeza de feridas, além de ter um custo menor. 
No entanto, existem situações na qual a técnica limpa não é recomendada, tais como: 
se houver invasão da corrente sanguínea e em pacientes imunodeprimidos. Nesses 
casos deve-se usar tudo estéril. 
Em nossa experiência como especialistas nessa área, adotamos as recomendações 
internacionais de procedimento limpo para a maioria das feridas crônicas, e nas 
deiscências cirúrgicas. Entretanto, nas feridas cirúrgicas limpas, recomendamos o uso 
de técnica estéril a fim de evitar a colonização/infecção da ferida operatória, e de 
preservar e proteger o cliente/paciente de contaminações oriundas de técnicas 
inadequadas e produtos contaminados. 
 
RECOMENDAÇÕES PARA REALIZAÇÃO DA LIMPEZA 
A limpeza com o uso de fluidos deve ser realizada a cada troca de cobertura primária. 
No entanto, quando a troca for realizada mais de uma vez ao dia, deve-se considerar 
se há necessidade de lavar outra vez a lesão, ou simplesmente, retirar a cobertura 
saturada e colocar uma nova. Segundo alguns pesquisadores, a lavagem frequente 
da superfície da superfície é indesejada e a ferida terá melhor reparação se for menos 
manipulada. 
Ao ser realizada a limpeza, utiliza-se a solução aquecida para evitar a queda da 
temperatura da ferida. Isso evita não somente o resfriamento da ferida, mas também 
promove o conforto do cliente. Antes de utilizar o soro na ferida, deve-se testar a 
temperatura na face interna na região do antebraço à semelhança do que se faz para 
verificar a temperatura de leite de mamadeiras de recém-nascidos. 
A forma mais segura de realizar a limpeza de feridas granuladas e limpas é através 
da irrigação com seringa e agulha, a uma pressão suave para não causar danos 
teciduais. Alguns autores sugerem que nessa situação, deve-se apenas limpar ao 
redor da ferida, evitando o leito, para não remover o exsudato da superfície, pois o 
mesmo contém fatores de crescimento, nutrientes e células proliferativas que 
aumentam na reparação, e seriam retirados com a limpeza. 
Há recomendação de quando uma ferida é tratada com coberturas que não deixam 
resíduos, deve-se realizar a limpeza da área perilesional e o leito da ferida é apenas 
umedecido, poiso mesmo fica tão limpo que não necessita de muita irrigação. 
Nas feridas com resíduos, corpos estranhos, fragmentos e outros, realiza-se limpeza 
cuidadosa e com baixa pressão. Nessa situação, a gaze deve ser umedecida e 
suavemente pressionada ou friccionada sobre a ferida. Essa prática é importante, 
principalmente, em feridas que apresentam espaços mortos. 
Para feridas mais profundas estreitas ou com espaços mortos, a limpeza torna-se 
mais efetiva e adequada, quando se faz a irrigação com solução salina. Pode-se 
utilizar um cateter uretral ou retal acoplado a seringa de 20ml, o qual deve ser 
cuidadosamente introduzido para evitar traumas. 
Em feridas extremamente sujas, com aderência no leito ou infectadas, são indicadas 
soluções não tóxicas, antissépticas e maior força mecânica. Ao ser realizada a 
limpeza utilizando pressões maiores, recomenda-se o uso de máscara, óculos, 
avental e luvas para proteção do profissional devido à ocorrência de acidentes 
biológicos. 
 
DESBRIDAMENTO 
“O desbridamento é o começo da reparação. Essa técnica é usada quando a 
prevenção falhou” (The Symposium on Advanced Wound Care, 2000). 
Os mecanismos naturais favorecem o desbridamento, mas as feridas cicatrizam mais 
rapidamente se este processo for acelerado. 
O desbridamento promove limpeza da lesão, reduz a contaminação bacteriana, 
promove um meio ótimo para cicatrização e prepara a lesão para intervenção 
cirúrgica, como o enxerto ou rotação de retalho. 
Segundo a Soc. Bras. de Enf. em Dermatologia - SOBENDE/2002, o desbridamento 
tem por objetivo limpar a ferida, removendo tecidos desvitalizados e bactérias. O 
desbridamento é essencial para o tratamento de feridas, pois “tecido necrótico e 
cicatrização não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo”. 
Tecido necrótico é um meio de infecção e, como é avascular, não reage a 
antibioticoterapia sistêmica, ele promove uma resposta inflamatória exacerbada, 
retardando assim o processo de reparação tecidual. 
A necrose deriva vários termos tais como: escara, tecido desvitalizado, tecido 
morto, tecido necrótico, tecido inviável, e nada mais são do que sinônimos, 
independentemente da palavra usada, todas tem o mesmo significado e 
referem-se à morte celular. 
 
 
Escara não é sinônimo de úlcera por pressão. Feridas de qualquer etiologia 
podem apresentar escara. 
 
 
 
O termo escara é descrito como uma capa/crosta de camadas de tecidos 
dessecados e comprimidos, normalmente de consistência dura, seca; no 
entanto, poderá ser mais macia dependendo do grau de hidratação da mesma. 
Apresenta coloração preta, marrom ou cinza, e bem aderida no leito da ferida. 
O termo esfacelos refere-se ao tecido necrosado de consistência fina, 
amolecida, macia e de coloração amarela, ou cinza, é formada por bactérias, 
fibrina, elastina, colágeno, leucócitos intactos, fragmentos celulares, exsudato e 
grande quantidade de DNA. Quanto à aderência, os esfacelos podem estar firmes 
ou frouxamente aderidos ao leito da ferida. 
 
 
● INDICAÇÕES PARA O DESBRIDAMENTO 
A Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) recomenda que qualquer 
tecido observado necrosado observado durante a avaliação inicial e nas avaliações 
subseqüentes da ferida deve ser removido, desde que a intervenção esteja de acordo 
com os objetivos globais do tratamento e das condições clínicas do doente. As 
indicações gerais para efetuar o desbridamento são: 
→ purulência; 
→ infecção local e sistêmica; 
→ osteomielite; 
→ presença de corpos estranhos; 
→ esfacelos e grande área de necrose. 
● CONTRA INDICAÇÕES 
Embora o desbridamento seja realmente vital para a reparação da ferida, existem 
situações nas quais não é a melhor indicação terapêutica, tais como: 
→ Feridas em membros inferiores com perfusão duvidosa ou ausente, com escara 
seca e estável até que o estado vascular seja melhorado. Nessa situação a escara 
representa menos risco, pois promove barreira para os tecidos vivos, e diminui o risco 
de infecção. A recomendação é para efetuar diariamente limpeza simples, passar 
antissépticos e cobrir com gaze seca, além de extrema vigilância para sinais de 
infecção. Após a revascularização, o desbridamento deve ser instituído conforme os 
critérios de seleção. 
→ Úlcera por pressão no calcanhar com presença de escara seca. A razão pela qual 
não desbridar, deve-se o risco de osteomielite. No entanto, se o paciente for bem 
assistido, o desbridamento poderá ser efetuado com segurança. 
 
 
► MÉTODOS DE DEBRIDAMENTO 
Existem vários métodos de desbridamento que poderão ser utilizados para a limpeza 
das feridas com presença de necrose e corpos estranhos, cuja escolha depende do 
conhecimento do profissional e das condições gerais do paciente. 
Estes métodos são classificados em seletivo e não seletivo. O primeiro remove 
apenas o tecido inviável sem afetar o tecido vivo, o segundo pode remover ambos. Os 
métodos de desbridamento agrupam-se em cinco categorias: instrumental, mecânico, 
enzimático, autolítico, e biológico. Em alguns casos utilizar mais de um método é 
apropriado, dependendo das circunstâncias clínicas. 
Os critérios para a escolha são variados, e a seleção deve observar: 
1º) As condições clínicas do paciente – essa é a primeira condição a ser 
ponderada. 
2º) A urgência – em situações como infecção, sepse, celulite avançada, osteomielite, 
é imperativa a escolha de métodos mais rápidos. Uma boa conduta é a associação de 
métodos. 
3º) O tipo de tecido necrosado – a aderência e a consistência são parâmetros 
importantes de escolha do método. 
* Necrose coagulativa ou de coagulação – Caracterizada pela presença de crosta 
preta e/ou bem escura. 
* Necrose liquefativa ou de liquefação – Caracterizada pelo tecido amarelo-
esverdeado desvitalizado resultante da infecção bacteriana. 
●Habilidade e competência – esse aspecto é extremamente importante, 
especialmente quando a escolha é pelo método instrumental, onde aspectos éticos, 
também devem ser considerados. 
● Desbridamento Instrumental 
Esse método é realizado com a utilização de objetos cortantes, tais como tesoura, 
lâminas bisturi e outros instrumentos necessários dependendo da agressividade do 
procedimento, e por isso é dividido em dois tipos: Conservador e Cirúrgico. 
● Desbridamento instrumental conservador ( DIC) 
É definido como um método seletivo de remoção de tecidos necrosados, sem 
ocasionar dor e sangramento, ou seja, sem atingir tecidos viáveis. É o método mais 
agressivo feito por enfermeiros capacitados. 
As vantagens deste método são: ser seletivo; remover imediatamente uma 
quantidade maior de necrose; pode ser usado sozinho ou ser usado com outros 
métodos (p.ex.: autolítico ou enzimático) e pode ser realizado na beira do leito tanto 
em ambiente hospitalar como clínicas e domicílio. 
As contra indicações para a realização desta técnica são: o uso de terapia 
anticoagulante ou pacientes com coagulopatias: pacientes que não conseguem ficar 
quietos durante o procedimento; quando a escara estiver muito aderida, dificultando a 
sua remoção do tecido viável e em feridas isquêmicas com a escara seca e estável. 
 Classificamos as técnicas de desbridamento instrumental conservador em: 
*Técnica de Cover – Após o descolamento completo das bordas e melhor visão do 
comprometimento tecidual, inicia-se a retirada da área comprometida separando-a do 
tecido íntegro até que a necrose saia em forma de uma “tampa¨. Mais indicada para 
necrose de coagulação. 
* Técnica de Square – Utiliza-seuma lâmina de bisturi ou agulha 40x12 para 
realização, no tecido necrótico, de pequenos quadradinhos (2mm a 0,5cm). Esta 
técnica poderá ser utilizada para facilitar a penetração de substâncias desbridantes. 
* Técnica de Slice – Utiliza-se uma lâmina de bisturi ou tesoura de Aris a fim de 
remover a necrose que se apresenta na ferida de forma desorganizada. 
 
● Desbridamento Instrumental Cirúrgico (DIC) 
Este é o tipo conhecido como desbridamento cirúrgico. Geralmente é utilizado em 
situações que exigem a remoção maciça de tecidos ou em extrema emergência, 
como em casos de processos infecciosos graves. É realizado por cirurgiões, 
preferencialmente em centro cirúrgico, sob anestesia e com técnica asséptica. 
A principal vantagem é a rapidez e a efetividade na remoção da necrose. 
As desvantagens incluem: a necessidade de submeter o paciente a anestesia; risco 
de sangramento e bacteremia transitória, podendo evoluir para sepse em feridas 
infectadas; não ser seletivo; ter custo alto e, também exigir hospitalização. 
● Desbridamento mecânico 
Consiste na aplicação de força mecânica diretamente sobre o tecido necrótico a fim 
de facilitar a sua remoção. Dentre estes procedimentos temos: 
*Fricção com gaze ou esponja – Indicado em pequenas lesões com necrose de 
liquefação. Esta técnica pode ser dolorosa e geralmente deve ser associada a outras 
técnicas. 
* Irrigação com jato de soro – Indicado para lesões com necrose de liquefação e 
infecção com drenagem de exsudato purulento. Lavar a ferida até que esteja 
aparentemente limpa. Também deve ser associada a outros métodos. 
* Irrigação pulsátil – Utilizada em lesões extensas com muito exsudato, áreas com 
aderências e de difícil acesso. Muitas vezes deverá ser aplicada em conjunto com 
aspiração contínua. Pode provocar maceração tecidual. 
* Curativo úmido-seco – Utilizado em lesões pequenas, com pequenas áreas de 
necrose de liquefação. A prática desta técnica tem sido abandonada, pois o processo 
não é seletivo, traumatizando o tec.de granulação e de epitelização e por ser muito 
dolorida. 
 ● Desbridamento enzimático 
É praticado com a aplicação tópica de enzimas proteolíticas diretamente sobre a 
necrose de coagulação ou liquefação. O desbridamento enzimático é o método mais 
seletivo, utilizando enzimas proteolíticas exógenas que trabalham conjuntamente com 
as enzimas naturais para degradar o tecido necrótico. Estas enzimas degradam o 
colágeno existente na necrose. É um método prático e seguro. Enzimas que podem 
ser utilizadas: papaína, colagenase, bromalina e estreptoquinase. 
Contra indicações: Úlceras isquêmicas, fúngicas e neoplásica e em pacientes com 
distúrbio de coagulação. 
 ● Desbridamento autolítico 
O desbridamento autolítico é um processo que, até certo nível, ocorre naturalmente 
em todas as feridas. As células fagocíticas (tais como os macrófagos) e enzimas 
proteolíticas no leito da ferida, liquificam e separam o tecido necrótico do tecido são. 
Os curativos para tratamento de feridas, que mantêm um leito da ferida úmido, 
podem proporcionar um ambiente ótimo para o desbridamento, uma vez que limpam 
a ferida ao permitirem que as células fagocíticas liqüefaçam o tecido necrótico e 
deste modo promovem a granulação. Deste modo, o processo de desbridamento 
autolítico pode resultar em níveis significativos de exsudato, os quais devem ser 
considerados na seleção da terapia apropriada. 
O desbridamento autolítico é fácil de realizar e não danifica o tecido adjacente à 
ferida. Adicionalmente, a dor sentida pelo paciente quando é utilizado este método é 
mínima. Uma vez que o desbridamento autolítico ocorre naturalmente o processo 
requer um conhecimento técnico. É considerado o método mais lento. 
Contra indicações – Úlceras isquêmicas e fúngicas. 
● Desbridamento biológico (Larval) 
A terapia larval, usando especialmente magoots estéreis, oferece uma alternativa 
efetiva no desbridamento de feridas e na remoção de bactérias. Estas larvas 
destroem e liquefazem o tecido morto através de enzimas proteolíticas potentes. Este 
tratamento parece não apresentar efeitos adversos. Apesar de visto inicialmente pelos 
clínicos como um tratamento de última escolha, os casos de sucesso estão sendo 
divulgados e ganham cada vez mais aceitação. 
Porque um desbridamento contínuo é benéfico? 
É pouco provável que um único método de desbridamento seja adequado para a 
preparação do leito de uma ferida crônica para o estágio de reparação seguinte. Nas 
feridas crônicas geralmente não é possível remover as condições associadas 
sistêmicas e, conseqüentemente, a carga necrótica continua a acumular-se. Deste 
modo, uma parte importante da preparação do leito da ferida é o reconhecimento de 
que a contínua remoção de tecido necrótico é necessária ao longo do tratamento e de 
que o desbridamento deve ser visto como um processo longo, muitas vezes referido 
como desbridamento de manutenção. Os métodos de desbridamento autolítico e 
enzimático, em comparação com outros métodos, são mais seletivos e geralmente 
menos dolorosos para o doente. Dentro do contexto do desbridamento de 
manutenção, os agentes autolíticos e enzimáticos podem ser usados por períodos 
longos de tempo e ser extremamente benéficos (Falanga V. 2002). 
 
►PREPARO DO LEITO DA FERIDA 
A preparação do leito da ferida diz também respeito à carga bacteriana na 
ferida. Durante a preparação do leito da ferida é fundamental avaliar a natureza 
e extensão da carga bacteriana, de modo a que as condições sejam ótimas para 
a cicatrização. 
As bactérias presentes na ferida podem evitar a cicatrização, mesmo quando 
não há sinais evidentes de infecção. O profissional deve identificar quando há 
carga bacteriana, e quando atinge um nível em que as bactérias contribuem 
para impedir a cicatrização deficiente. 
Carga bacteriana normal 
As bactérias estão presentes na pele intacta, mas a infecção é raramente 
problemática porque os seguintes mecanismos controlam a carga biológica. 
 A camada externa da pele é uma barreira física à invasão; 
 A pele possui um pH ligeiramente ácido, o qual não é favorável ao 
crescimento bacteriano; 
 A pele normalmente secreta ácidos graxos e polipeptídeos 
antibacterianos, os quais inibem o crescimento bacteriano; 
 A flora normal da pele ajuda a prevenir a colonização por 
microorganismos patogênicos. 
Apesar de a ferida criar uma porta de entrada para as bactérias, um fluxo 
sangüíneo inadequado é um dos fatores predisponentes mais significativos 
para o desenvolvimento de uma ferida infectada (por ex. em úlceras por 
pressão ou em úlceras de perna isquêmicas). 
 
 
Contaminação - infecção contínua 
As feridas crônicas existem juntamente com um continuum bacteriano, variando de 
ferida contaminada para ferida infectada (ver figura abaixo). O desafio consiste em 
estabelecer onde a ferida se encontra posicionada nesse continuum e que 
estratégias clínicas são apropriadas nesse ponto. A carga bacteriana presente numa 
ferida pode dividir-se em quatros categorias distintas: 
 Contaminação; 
 Colonização; 
 Colonização crítica; 
 Infecção. 
 
Contaminação: define-se como a presença de bactérias que não se reproduzem. É 
uma condição normal das feridas crônicas e não impedem a cicatrização. 
Colonização: define-se como a presença de bactérias em fase de reprodução, sem 
uma reação do hospedeiro. Essas bactérias colonizam e contaminam todas as feridas 
crônicas, mas isso não significa que essas feridas se encontrem infectadas. A 
colonização bacteriana não contribui para uma cicatrizaçãodeficiente. 
Feridas colonizadas criticamente: define-se como a presença de microorganismos 
em fase de reprodução, os quais iniciam um processo de dano do tecido local. Pode 
haver sinais locais de que uma mudança no equilíbrio, ou carga bacteriana elevada, 
possa contribuir para um retardo na cicatrização. 
Infecção: ocorre quando a cicatrização é afetada, pois as bactérias invadiram os 
tecidos, estão se multiplicando e causam uma reação no hospedeiro. 
 
Quando a carga bacteriana se torna um problema? 
A carga bacteriana pode ser definida como a carga metabólica imposta pelas 
bactérias no leito da ferida. As bactérias competem com as células normais pelo 
oxigênio e nutrientes e as bactérias e os seus subprodutos (ex. endotoxinas) podem 
causar distúrbios em todas as fases do processo de cicatrização. Uma carga 
bacteriana elevada pode causar o seguinte: 
 Carga metabólica elevada; 
 Produção de endotoxinas e proteases; 
 Estimulação de um ambiente da ferida pró-inflamatório; 
 Cicatrização retardada ou deficiente. 
OBS: As feridas crônicas estão sempre contaminadas ou colonizadas com 
bactérias, o que pode dificultar a identificação dos níveis de carga bacteriana 
em que a cicatrização fique comprometida. Apesar de não existirem orientações 
em como quantificar os níveis bacterianos numa ferida, o profissional deve ter 
em conta a resistência do hospedeiro, as características da ferida e as 
características do exsudato, durante a avaliação da carga bacteriana. 
Estudos têm demonstrado (Robson MC 1997, Dow G 2001) que existe um efeito 
negativo na cicatrização quando a quantidade de bactérias na ferida atinge níveis 
superiores a 1x105. Este efeito tem sido observado em feridas agudas traumáticas, 
enxertos de pele, feridas cirúrgicas e feridas crônicas. 
 
 
 
Sinais e sintomas da ferida infectada 
 
A infecção de feridas agudas e freqüentemente a infecção da ferida crônica, 
demonstra os seguintes sinais e sintomas: 
 Purulência; 
 Eritema em progressão; 
 Calor; 
 Edema perilesão; 
 Dor; 
 Febre; 
 Leucocitose. 
Tornou-se aparente que os sinais e sintomas tradicionais da ferida aguda podem ser 
diminuídos ou alterados numa ferida crônica, apesar de uma carga bacteriana 
elevada. Os mecanismos exatos da infecção na ferida crônica ainda não são claros, a 
apresentação clínica e impacto da carga bacteriana nas feridas crônicas continua a 
ser um dos focos principais para a investigação. No entanto, os seguintes sinais 
secundários podem alertar o profissional para a possibilidade da ferida crônica possuir 
uma carga bacteriana elevada, que retarde a cicatrização. Isto é por vezes referido 
como colonização crítica. Alguns destes sinais secundários são enumerados abaixo: 
 Atraso na cicatrização; 
 Alteração da cor do tecido de granulação. Aspecto anormal do tecido de 
granulação (torna-se friável). O tecido é muitas vezes descrito como 
anormal/irregular; 
 Odor aumentado ou anormal; 
 Drenagem serosa aumentada. 
 
Efeitos da infecção na ferida crônica 
Quando a ferida crônica se torna infectada, o progresso até à cicatrização é 
gravemente retardado uma vez que a infecção pode: 
 Prolongar a fase inflamatória da cicatrização; 
 Interromper os mecanismos normais da coagulação; 
 Levar a desordem na função leucocitária; 
 Levar a uma diminuição de angiogênese; 
 Alterar a formação de tecido de granulação (os fibroblastos nas feridas crônicas 
infectadas apresentam um número reduzido, possuem atividade metabólica 
reduzida e sintetizam um colágeno enfraquecido, em padrões desorganizados). 
Pode ser apropriado para o clínico efetuar a monitorização dos valores sanguíneos e 
efetuar raios-x num paciente com uma ferida crônica infectada, para investigar a 
possível existência de osteomielite. 
Equilíbrio bacteriano: relação entre a resistência do hospedeiro e a quantidade 
e virulência bacterianas 
As bactérias encontram-se presentes em todas as feridas crônicas, mas para a 
cicatrização ocorrer, o equilíbrio entre as resistências do hospedeiro e a quantidade e 
virulência das bactérias deve ser mantido. 
Resistência do hospedeiro: esta é uma variável importante na determinação do 
risco de infecção nas feridas crônicas, uma vez que os fatores locais e sistêmicos 
podem afetar a cicatrização. 
A perfusão é um fator importante que está associado com a fisiopatologia das feridas 
crônicas e pode aumentar o risco de infecção. 
A seguinte equação demonstra que apesar da quantidade de bactérias e virulência 
serem significativas na determinação do risco de infecção numa ferida, os fatores do 
hospedeiro são de importância extrema. 
Risco de infecção = 
carga bacteriana x virulência 
Resistência do hospedeiro 
Outros fatores tais como imunossupressão, diabetes e medicação concomitante 
podem influenciar a forma como as bactérias presentes irão afetar a cicatrização. 
Quantidade bacteriana e virulência: Os fatores listados abaixo podem comprometer 
o equilíbrio, levando ao aumento da carga bacteriana. 
 Adesina – as bactérias contêm proteínas heterólogas na sua superfície, as 
quais medeiam à adesão celular e a invasão do hospedeiro; 
 Cápsulas celulares – estes polissacarídeos da superfície celular, presentes na 
superfície das bactérias, conferem proteção contra a fagocitose pelas células imune 
do hospedeiro; 
 Biofilmes – a importância dos biofilmes como elementos da ferida infectada 
tornou-se recentemente aparente (Sibbald RG et al, 2000). Quando as bactérias 
proliferam nas feridas formam micro-colônias, as quais se ligam ao leito da ferida e 
secretam um glicocálix ou biofilme que protege os microorganismos. Estas colônias 
bacterianas sofrem diversas alterações, as quais podem alterar a sensibilidade 
antimicrobiana destes organismos. Os microorganismos podem existir como 
aglomerados de bactérias de um só tipo ou como colônias bacterianas mistas, tais 
como Pseudomonas e Staphylococcus sp. A liberação periódica de bactérias móveis 
destas colônias pode resultar em infecção. Os biofilmes constituem focos 
protegidos de infecção e resistência bacteriana na ferida, protegendo as 
bactérias dos efeitos de agentes antimicrobianos tais como antibióticos e 
antissépticos (Davey ME and O’Toole GA, 2000); 
 Resistência antibiótica – o uso excessivo de antibióticos contribui para o 
desenvolvimento de cepas de bactérias resistentes aos antibióticos. 
Por que manejar o exsudato? 
O aumento do exsudato numa ferida crônica encontra-se muitas vezes associado a 
outras complicações subjacentes no paciente. Por exemplo, quando a carga 
bacteriana aumenta, a drenagem da ferida também aumenta. Tanto o edema 
(particularmente nas extremidades inferiores) quanto à destruição de tecido necrótico 
podem produzir um aumento nas quantidades de exsudato. O manejo do exsudato 
deve ter em conta fatores subjacentes e assegurar que o ambiente da ferida se 
mantém úmido. Um ambiente de cicatrização ideal é aquele em que o nível ótimo de 
umidade é mantido de modo a permitir uma divisão e migração celulares eficientes, 
enquanto garante que o leito da ferida resseque ou permaneça úmido. Num ambiente 
úmido a síntese de colágeno e de tecido de granulação encontra-se elevada; a 
migração celular e a epitelização ocorrem mais rapidamente e não se formam crostas 
nem cicatrizes. 
A manutenção de um ambiente úmido da ferida possui vários benefícios adicionais, 
tais como os que são apresentados em seguida: 
 Tempo de cicatrização reduzido; 
 Capacidade de autólise; 
 Taxas de infecção reduzidas; 
 Trauma reduzido; 
 Redução da dor; 
 Menos trocas de curativo; 
 Maior custo-efetividade (definidocomo o custo total do tratamento para atingir 
os resultados desejados e não simplesmente como o custo dos curativos). 
Como manejar o exsudato? 
O manejo do exsudato deve iniciar-se com a determinação dos fatores que 
contribuem para o aumento dos seus níveis. Uma vez preparado o leito da ferida, o 
profissional deve decidir que terapia tópica é mais adequada. Esta decisão deve 
basear-se em vários fatores, incluindo os níveis de exsudato, o aspecto e odor 
presentes na ferida. 
 
 
Coleta de material 
 
Finalidade: 
 Identificar o agente etiológico e determinar sua sensibilidade aos 
antimicrobianos, mas também definir a extensão da infecção nos diferentes tecidos. 
 
 Indicação: 
 O mais precoce possível, assim que feita a suspeita diagnóstica de infecção. 
 
Instruções de coleta em geral: 
 Coletar material antes da antibioticoterapia, quando possível. No caso de úlceras 
crônicas, recomenda-se que haja interrupção do uso do antibiótico para coleta do 
material (caso em uso do antibiótico sem resposta adequada, porém clinicamente 
estável). 
 Processar a limpeza da lesão com soro fisiológica estéril e compressa, retirando o 
material tecidual desvitalizado e secreções superficiais. Esse procedimento é 
extremamente importante. O objetivo é minimizar a colonização por organismos 
superficiais, que levariam a antibioticoterapia inadequada casos recuperados em 
cultura. 
 Na úlcera superficial e na úlcera profunda sem coleção deve-se realizar a 
limpeza com soro fisiológico, fazer a curetagem de material do fundo da úlcera, 
colocar em recipiente estéril, com solução salina estéril e transporte imediato ao 
laboratório, em meio microbiológico que promova o crescimento bacteriano, inclusive 
com a preservação de bactérias anaeróbias. 
 Na úlcera profunda com coleção, deve-se aspirar com agulha e enviar o 
material para o laboratório. Podendo ser enviado na mesma seringa, sem ar e 
fechada, para favorecer o crescimento das bactérias anaeróbias e anaeróbias 
facultativas, ou pode-se colocar o aspirado em frasco ou tubo com meio de cultura. 
Importante: Os swabs devem ser definitivamente evitados, devido à maior 
possibilidade de recuperação????? de microrganismos colonizantes, que 
podem confundir a interpretação etiológica. 
 O grande vilão no laboratório, em casos de feridas é a utilização de swabs, pois 
não permitem uma quantidade adequada de material para os exames, também 
aumentando a probabilidade de falsos negativos. 
 Caso o swab seja a única opção de coleta, somente devem ser utilizados os 
swabs que possuam meio de transporte AMIES ou STUARBS, que são 
disponíveis comercialmente. Os swabs não permitem realizar cultura anaeróbia. 
 Biópsias: Realizar limpeza criteriosa, com soro fisiológico e compressas estéreis, 
realizar desbridamento, se necessário. Em partes moles deve ser sempre de tecido 
profundo. 
 Biópsia óssea percutânea: Não se deve puncionar através da ferida, pois assim 
há chance de cultivar a flora que está sendo transpassada pela agulha. Recomenda-
se então fazer uma incisão lateral após rigorosa antissepsia de pele (como 
anteriormente descrito). O fragmento deve ser colocado em recipiente estéril, com 
solução salina ou meio líquido conforme descrito anteriormente. O material deve ser 
enviado ao laboratório em um prazo máximo de duas, identificando-se a embalagem e 
observando-se todas as normas de biossegurança. 
 Solicitação de exames: Deve constar cultura aeróbia e antibiograma. A 
cultura anaeróbia somente deve ser solicitada em aspirados e ou biópsia, nunca 
em material coletado através de swabs. 
 Deve-se enfatizar que o diagnóstico etiológico individualizado deve ser uma meta 
para melhor atendimento do paciente. 
 
Protocolos para curativos de acordo com as características da ferida. 
 CURATIVOS EM FERIDAS CIRÚRGICAS: 
*Ferida limpa e fechada – O curativo deve ser realizado com soro fisiológico 0,9% e 
mantido fechado nas primeiras 24 horas após a cirurgia, passado este período a 
incisão pode ficar exposta. Se houver secreção(sangue ou seroma) manter curativo 
semi-oclusivo. 
* Ferida com dreno aberto – O curativo do dreno deve ser realizado separado da 
incisão, e o primeiro a ser feito será sempre o do local menos contaminado. O 
curativo deve ser mantido limpo e seco, isto significa que o número de trocas deve ser 
diretamente relacionado com a quantidade de drenagem. 
 Feridas com drenagem de moderada a grande , quando possível deve-se aplicar 
uma bolsa para coletar o excesso de secreção, permitindo medir a quantidade do 
exsudato drenado e proporciona maior conforto ao paciente. 
*Feridas com sistema de drenos fechados (torácico, hemovac), cateter venoso 
central (intracath, duplo lúmem) e o mesmo princípio é valido para os introdutores 
(p.ex.: introdutores de marcapasso e Swan-Ganz) - antes de iniciar o curativo, 
inspecionar o local de inserção por meio de palpação. Realizar a troca a cada 24 
horas ou sempre que estiver úmido, solto ou sujo. 
 
*Feridas abertas sem infecção - Podem apresentar perda ou não de substâncias. 
Por estarem abertas estas lesões são altamente susceptíveis as contaminações 
exógenas. O curativo deve ser oclusivo e trocado quando necessário. 
*Feridas abertas contaminadas – Normalmente apresentam secreção purulenta e 
tecido desvitalizado. O curativo deve ser realizado com solução anti-séptica e 
aplicado tópicamente pomada ou cobertura com ação antimicrobiana. Se o curativo 
for realizado com pomada, a troca deverá ser feita a cada 12 horas ou 24 horas. Com 
o uso de coberturas antimicrobianas a troca deverá ser efetuada conforme a 
saturação ou de acordo com tempo de vida útil do produto. Lembramos que também é 
necessário seguir a prescrição médica de antibiótico por via sistêmica. 
*Feridas com fístula ou deiscência de paredes – Quando ocorre uma fístula ou 
deiscência de parede ou tunelização, torna-se difícil a realização de limpeza no 
interior da ferida proporcionando um ambiente altamente contaminado. Deve ser 
realizado limpeza exaustiva de toda cavidade com soro fisiológico 0,9% em jato com 
auxílio de seringa ou sonda, se necessário. Usar pomada ou cobertura 
antimicrobiana, se houver necessidade e sempre preencher as cavidades. A troca do 
curativo deverá ser feita conforme saturação da cobertura ou no máximo a cada 24 
horas se for feito com pomadas. 
 
 *Curativos em fixadores externos 
PROCEDIMENTOS 
 Lavar as mãos; 
 Limpeza diária com soro fisiológico, álcool 70% ou solução de polihexanidada na pele 
e no pino; 
 Manter os pinos envolvidos com gaze estéril; 
 Manter os fixadores cobertos por atadura somente nos primeiros dias após a cirurgia. 
 
 
 TESTE DE CONHECIMENTO 
 
 
1 . Ass ina le a a l te rna t i va fa l sa : 
a ) A c ica t r i zação é um evento comp lexo e d inâmico 
b ) A c ica t r i zação f ina l depende da tec idua l in ic ia l 
c ) Mu i tos even tos de rmato lóg icos con tam com a c ica t r i zação em 
de rme incomple ta 
d ) As fases da c i ca t r i zação são bem de te rminadas e 
ind iv idua l i zadas. 
e ) A c ica t r i zação depende de vá r ios fa to res como: loca l i zação 
ana tômica , t ipo da pe le , raça , e técn ica c i rú rg ica u t i l i zada . 
 
 
2 . Qua l das a l te rna t i vas aba i xo não co r responde à 
c i ca t r i zação em de rme comple ta? 
a ) A c ica t r i z é percep t íve l 
b ) Mu i tas vezes a c ica t r i z é p ronunc iada 
c ) A reparação se faz basicamente pe la reep i te l i zação 
d ) Necess i ta de fo rmação de um novo tec ido 
e ) Pode se es tende r a té tec ido ce lu la r subcu tâneo 
 
 
3 . Em re lação à coagu lação , podemos a f i rmar : 
a ) O in íc io é imed ia to após o surg imento da fe r ida 
b ) Independe de ou t ras a t i v idades como a p laquetá r ia e casca ta 
de coagu lação . 
c ) Inúmeros p rodu tos como substânc ias vasoa t i vas são 
l i be radas , e são impor tan tes apenas pa ra es ta fase . 
d ) É a ún ica fase ind iv idua l , sendo bem ind iv idua l sendo bem 
pa r t i cu la r i zada das subseqüentes . 
e ) O coágu lo é impresc ind íve l pa ra coap ta r as bo rdas das 
fe r idas , e imed ia tamente fagoc i tado po r não te r ma is nenhum 
pape l re levan te nes ta fase . 
 
 
4 . As cé lu las ma is impor tan tes da fase in f lama tó r ia são : 
a ) Leucóc i tos po l imor fonuc lea res 
b ) Eos inó f i los 
c ) L in fóc i tos 
d ) P lasmóc i tos 
e ) Macró fagos 
 
 
5 . As p r ime i ras cé lu las a chega r à fe r ida são : 
a ) Macró fagos 
b ) P lasmóc i tos 
c ) L in fóc i tos 
d ) Eos inó f i los 
e ) Leucóc i tos po l imor fonuc lea res 
 
 
6 . Em re lação à con t ração da fe r ida , é e r rado a f i rmar : 
a ) Mov imento cen t r ípe to das bo rdas 
b ) Oco r re em todas as fe r idas de espessu ra pa rc ia l 
c ) Oco r re mesmo quando há enxe r tos 
d ) Pode passa r de 50% em c ica t r i zes po r segunda in tenção 
e ) Fac i l i ta por d im inu ição da á rea o reparo do de fe i to 
cu tâneo 
 
 
7 . A remode lação oco r re : 
a ) Rap idamente e logo após a coagu lação 
b ) Aumen to a quan t idade de água, pa ra me lho r e fe i to f ina l 
da c ica t r i z . 
c ) No co lágeno e na ma t r i z 
d ) Pa ra aumenta r a espessu ra da c ica t r i z e d im inu i r a sua 
fo rça de tensão 
e ) V isando aumen ta r a vascu la r i zação da c i ca t r i z 
 
 
8 . Ex is tem mu i tas va r iáve is que podem mod i f ica r o e fe i t o 
f ina l da c i ca t r i z : 
a ) Uso de d rogas s i s têm icas 
b ) Uso de d rogas tóp icas 
c ) Técn ica c i rú rg ica respe i tando un idades es té t i cas , 
ev i tando o p inçamento , e p r omovendo uma ap rox imação 
na tu ra l das bo rdas . 
d ) Mate r ia l c i rú rg ico u t i l i zado em fe r idas p rovocadas 
e ) Todas ac ima são va r iáve is impor tan tes e devem se r 
cons ide rados em c i ru rg ia de rmato lóg ica . 
 
9. Dent re os fa to res aba ixo , iden t i f i que aque les que re ta rdam 
ou impedem a c ica t r i zação de lesões aber tas , de fo rma 
ma is impera t i va : 
a ) Idade e u t i l i zação de an t ib ió t i cos s is têmicos 
b ) P ressão con t ínua sob re o loca l e manutenção da lesão em 
me io seco 
c ) Doenças p ré ex is ten tes e uso de an t i -sép t icos 
d ) Es tado nu t r ic iona l e uso de cu ra t i vos não indus t r i - 
a l i sados. 
e ) P resença de in fecção e técn ica de l impeza u t i l i zada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2º MÓDULO – BIOSSEGURANÇA E EPI 
 
BIOSSEGURANÇA E EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL 
 BIOSSEGURANÇA 
“É o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de 
riscos inesperados às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento 
tecnológico e prestação de serviços; riscos que podem comprometer a saúde do 
homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos” 
(Comissão de Biossegurança - FIOCRUZ). 
Risco X Perigo 
Risco é o perigo mediado pelo conhecimento que se tem da situação. É o que temos 
como prevenir. 
Perigo existe quando não se conhece a situação. É o desconhecido ou mal 
conhecido. (Costa, M.F. Biossegurança. Segurança Química Básica em 
Biotecnologia e Ambientes Hospitalares. S. Paulo. Santos Ed., 1996.1ª ed.) 
 
EXPOSIÇÕES A MATERIAL BIOLÓGICO 
O uso de equipamento de proteção individual nos ambientes hospitalares teve origem 
em 1982, mesmo antes da etiologia da Aids, os CDC (EUA) recomendaram que os 
profissionais de saúde deveriam prevenir o contato direto da pele ou membranas 
mucosas com sangue, secreções, excreções e tecidos de pacientes com suspeita ou 
diagnóstico de Aids baseados nas observações iniciais sugestivas de que a doença 
era causada por uma agente transmissível. 
Essas precauções recomendadas, denominadas Precauções contra Sangue e Fluidos 
corporais, incluíam principalmente: a manipulação cuidadosa de instrumentos perfuro 
cortantes contaminados com materiais biológicos; uso de coletor resistente para o 
descarte de agulhas e lâminas; o não reencapamento de agulhas por causa dos 
freqüentes acidentes; o uso de luvas e de capotes sempre que existir a possibilidade 
de contato com sangue; fluidos corporais, excreções e secreções; a lavagem das 
mãos antes e após o contato direto e indireto com o paciente; o uso de hipoclorito 
para a limpeza de utensílios e superfícies; o transporte de sangue e fluidos biológicos 
em embalagens impermeáveis e resistentes. 
Em 1987 os CDC fizeram uma atualização a partir documentação sobre a 
possibilidade de transmissão do HIV por contato mucocutâneo e da constatação de a 
infecção pelo HIV poderia ser desconhecida na maioria dos pacientes com risco de 
exposição dos profissionais de saúde. Foi com base nessas conclusões que os CDC 
implementaram o conceito de Precauções Universais. 
O termo “Universais” refere-se à necessidade de instituição das medidas de 
prevenção na assistência a todo e qualquer paciente, independentemente da 
suspeita ou confirmação diagnóstica de infecção pelo HIV ou qualquer outra 
doença infectocontagiosa como a Hepatite. 
As Precauções Universais recomendam o uso de rotineiro de barreiras de proteção 
(luvas, capotes, óculos de proteção ou protetores faciais). Englobam ainda as 
precauções necessárias na manipulação de agulhas e outros materiais cortantes para 
prevenir exposições percutâneas e os cuidados necessários de desinfecção e 
esterilização na reutilização de instrumentos de procedimentos invasivos. 
 
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL 
A utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e de proteção coletiva 
(EPC) é sem sombra de dúvida uma medida fundamental na proteção dos 
trabalhadores de saúde, ou seja, uma medida de biossegurança. 
Os profissionais que trabalham em hospitais estão potencialmente expostos a uma 
grande diversidade de agentes desencadeadores de doenças, tais como: 
a) Agentes físicos (radiação e temperatura); 
b) Químicos (substâncias tóxicas); 
c) Biológicos (agentes infecciosos) – O profissional de saúde pode ser visto 
como suscetível de adquirir infecção ou como fonte de transmissão de infecção; 
d) Ergonômicos (postura); 
e) Psicológicos (estresse). 
No Brasil existe a portaria nº 485, de 11 de novembro de 2005, que aprova a Norma 
Regulamentadora nº32 (NR 32), que regulamenta a segurança e saúde do 
trabalhador nos estabelecimentos de saúde do país. 
Tanto o exagero quanto o desprezo em relação às medidas de biossegurança devem 
ser evitados. 
A disseminação de infecção dentro do hospital depende de três elementos: 
a) Uma fonte de microorganismo infectante; 
b) Um hospedeiro suscetível; 
c) Um meio de transmissão de microorganismo. A transmissão ocorre

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