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AULA ONLINE 1

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AULA ONLINE 1
Nesta aula veremos o que é a disciplina Museologia e qual o seu campo de estudo. Analisaremos as áreas do conhecimento que se relacionam com a Museologia e abordaremos a função social dos museus.
Museologia: O que é?
A palavra Museologia é formada por duas expressões gregas: museion, que significa lugar das musas(Por exemplo: a musa do verão é a garota mais bonita, porque essa qualidade faz com que ela seja eleita como a melhor representante da "espécie garota" daquela estação do ano.),e logos, que significa estudo ou reflexão baseado na sensibilidade e na razão.
Nesse contexto, a palavra musa assume o significado da "coisa" eleita como sendo a melhor representante da sua espécie, seja por sua beleza, riqueza, técnica, raridade ou outra qualidade a ela atribuída que a faz ser melhor que as outras.
Objetivo maior da Museologia
De acordo com o que vimos anteriormente, podemos chegar ao objetivo maior da Museologia: o estudo do "fato museológico", isso é, o estudo das relações sensíveis que se estabelecem entre as pessoas e os objetos (acervos) apresentados em um cenário expositivo. 
O conceito de fato museológico e outras noções que dele decorrem – musealidade, musealização, patrimônio e outras – serão apresentados nas próximas aulas.
Entretanto, a Museologia foi considerada, durante muito tempo, apenas como "a ciência dos museus". Como a disciplina que estudava exclusivamente as práticas desenvolvidas no interior dessas instituições – conservação, pesquisa, exposição – e pouco articuladas com os problemas que a sociedade precisava e queria debater.
Mas a partir da década de 1970, com a ampliação do conceito de museu e de patrimônio, esse modelo passou a ser questionado, passando a defini-la como uma ciência social que estuda os objetos de museu como fontes de conhecimento.
Ampliação do conceito de Museologia
O conceito de Museologia foi novamente ampliado, redefinindo-a como uma ciência social que "percebe" o objeto museológico como fonte de conhecimento e também de questionamento.
Essa percepção do objeto como fonte de saber e de reflexão produz uma importante diferença no momento de selecioná-lo para integrar um acervo de museu, pois existem vários tipos de conhecimento conforme o valor que lhes é atribuído, e também por "quem" lhes atribui esse valor. 
Para uns, um objeto pode significar muito, e para outros pode ser pouco importante ou até não significar nada em termos de conhecimento e reflexão.
Veja esse exemplo: imagine um conjunto de objetos de suplício usados na época da Inquisição, na Europa, ou no período da escravidão, nas Américas, ou durante o regime militar no Brasil. 
Para "quem" esses objetos podem ter significado enquanto instrumentos de produção de conhecimento e de questionamento?
Que tipo de conhecimento o estudo desses objetos pode produzir?  
E que tipo de reflexão podemos fazer quando nos deparamos com esses objetos?
Certamente, somos levados a pensar em quem os usava e em quem eram usados, isso é, que tipo de sociedade permitiu – e por que permitiu – o uso desses objetos para torturar outras pessoas. 
E também podemos pensar – e decidir – se queremos viver em uma sociedade que faz uso desses objetos.
Atualmente, quando a ciência museológica seleciona objetos para integrar um acervo, o faz pelo seu valor enquanto fontes de conhecimento e questionamento, isso é, "percebendo" a sua capacidade de fazer as pessoas refletirem sobre as suas realidades anteriores e atuais quando elas se deparam com eles.                 
Assim, a Museologia é, essencialmente, uma ciência da informação, na medida em que seleciona, conserva, ordena e investiga as informações contidas nos objetos e acervos museológicos. E também é uma ciência social aplicada, porque realiza pesquisas sobre essas informações e as divulga para o público na forma de conhecimento através de exposições, eventos e programas educativos em museus, centros culturais, centros de memória e centros de referência.
Portanto, você pode perceber que a Museologia é uma disciplina aplicada para o exercício livre e crítico da cidadania e a promoção do desenvolvimento humano, e a sua cientificidade está em permanente construção.
Museu, patrimônio e identidade
Os museus só passam a existir quando o homem adquire a consciência de seus patrimônios natural e cultural, isto é, quando se apropria das práticas que caracterizam o grupo social do qual ele faz parte e o faz ser diferente de outros grupos.
Por exemplo: pelo idioma, pelo sotaque, pelas festas típicas, pela alimentação, pela religião, entre outras práticas que lhes dão uma identidade própria.
Assim que a consciência dessas práticas tem início, começa a se definir a identidade dos grupos humanos em todos os tempos e lugares. É a partir daí que a humanidade passa a construir esses espaços chamados de museus e os utiliza para preservar esse patrimônio, isto é, para preservar o seu legado histórico, ecológico, artístico e cultural.
É daí que decorre a função primordial dos museus: 
selecionar, guardar, conservar, pesquisar e divulgar tudo aquilo que seja eleito como patrimônio – como "musa" – para um determinado grupo social, isto é, pelas qualidades que dão àquele grupo uma identidade.
PATRIMÔNIOS
O patrimônio natural se constitui no espaço físico onde um grupo humano se instala e vive.
O patrimônio cultural nos objetos materiais (tangíveis) que produz para viver e também nas suas criações imateriais (intangíveis). Essas criações imateriais se baseiam nas práticas que o ser humano constrói para compreender o mundo em que vive e se reconhecer como um grupo unido, como, por exemplo, o folclore, a gastronomia, a língua, a mitologia, entre outras expressões da cultura que somadas constituem o que se conhece por patrimônio integral.
Desse modo, você pode deduzir que o patrimônio integral é o conjunto constituído pelo lugar onde um grupo vive, pelos objetos materiais que esse grupo constrói para viver e pelas práticas imateriais que ele cria para que seus membros se reconheçam como pertencentes a esse grupo.
A natureza onde nascem às águas – os mares e os rios – e as florestas e os campos onde se renova o ar e se produzem os alimentos são espaços importantes para a vida das pessoas. Sem eles, não se pode viver. 
É um patrimônio natural que deve ser preservado por toda a humanidade. Quando adquirimos a consciência da importância desse patrimônio que é de todos nós, fazemos de tudo para preservá-lo para nós mesmos e para as novas gerações.
Do mesmo modo são as cidades, os bairros, as praças, as casas e os prédios construídos para as pessoas viverem e se utilizarem deles. E essas construções estão inseridas em espaços originalmente naturais, que aos poucos se transformam em espaço urbanos.
São criações materiais, do mesmo modo que os móveis, os utensílios, os meios de transporte e as demais coisas que as pessoas criam para facilitar as suas vidas.
Mais sobre patrimônios
Quando as criações como as cidades, praças, etc. se tornam importantes para as pessoas, seja por quaisquer motivos, elas devem ser preservadas como patrimônios materiais. Por exemplo: uma cidade, um prédio, uma praça ou um objeto que possua um valor afetivo ou histórico para um grupo de pessoas é considerado um patrimônio material. E é material porque são objetos concretos, físicos, tangíveis.
Assim também são consideradas como bens patrimoniais as práticas, os hábitos e as tradições que um grupo cria para celebrar e reafirmar a sua identidade. Só que, nesse caso, são construções intangíveis, isto é, não são fisicamente concretas, como por exemplo, a dança, a música, as receitas das comidas típicas, os símbolos, o comportamento das pessoas, o sotaque e outras expressões imateriais próprias daquele grupo.
Então, podemos entender que o patrimônio integral é a soma de todos esses bens naturais, culturais materiais e culturais imateriais que as pessoas consideram como pertencentes a todo o grupo, e que por isso é importante que sejampreservadas. E é esse conjunto de natureza, coisas e práticas que caracteriza esse grupo. Que dá a ele uma identidade. Uma personalidade.
Assim, podemos compreender que a identidade de um povo é constituída pelo seu patrimônio integral. Veja mais um exemplo:
Imagine a torcida de um time de futebol. O que faz com que essas pessoas se reconheçam como torcedores desse time? O bairro onde se localiza a sede do clube, o seu prédio, os jogadores, a camisa do time, a sua bandeira, o seu hino, os seus troféus e a própria torcida são patrimônios materiais e imateriais que dão identidade àquele grupo de torcedores. E é através desse conjunto de objetos e símbolos que as pessoas se reconhecem como ligadas afetivamente a esse time. 2 
Portanto, podemos concluir que um patrimônio é integral quando engloba um conjunto de expressões materiais e imateriais que fazem com que as pessoas se liguem afetivamente a ele, isso é, se apropriem dele, se reconheçam através dele e se constituam como um grupo que tem aquele patrimônio – no caso, o time – como seu. 
E é por essas razões que as pessoas têm o desejo de preservá-lo. Por que esse conjunto de expressões lhes dá uma identidade própria, única, que é serem torcedores daquele time.
Campo de estudo
O campo de estudo da Museologia é a investigação da instituição "museu", dos acervos nela contidos e das interações desses acervos com as realidades dos vários grupos humanos. 
Desse modo, o estudo museológico aborda as relações entre os seres humanos e as suas diversas formas de compreender, valorizar, expressar e reproduzir a sua cultura no seu dia a dia.
No amplo universo das manifestações culturais estudados pela Museologia podemos destacar: a pintura, a escultura, a arquitetura, a numismática (moedas), os meios de transporte, a armaria, a indumentária (vestuário e joalheria), a heráldica (brasões), o mobiliário, as condecorações, a tapeçaria, os utensílios domésticos (cerâmicas, porcelanas), prataria e ourivesaria, os acervos religiosos, as danças, a literatura, o teatro, o folclore, a culinária típica e várias outras formas de expressão que os grupos humanos criam para identificar-se e organizar-se em sociedade.
Todos esses conhecimentos são investigados em uma perspectiva sócio-histórica e aplicados pela ciência museológica através da museografia, da expografia, das técnicas de conservação e restauro dos estudos de público e da pedagogia museal.  
Como você pode perceber, esses conhecimentos têm uma relação muito próxima com a História e também com outros campos do saber.
Portanto, a disciplina Museologia estuda tudo o que se relaciona com esse lugar chamado museu e seus acervos, e prepara profissionais para administrá-loe fazê-lo cumprir sua função social. 
E a ciência museológica – o seu campo de investigação aplicada – seleciona e pesquisa os objetos e os acervos, produz conhecimentos a partir deles e divulga esses saberes através de exposições, eventos e programas educativos.
Relações da Museologia com outros campos do saber
Existem vários tipos de museus, conforme os acervos que possuem, a sua especialidade e as áreas do conhecimento em que desenvolvem as suas pesquisas. Para isso, a Museologia interage com várias outras disciplinas e campos do saber. 
Está intimamente ligada com as disciplinas históricas – da arte, da cultura e da civilização – e, constantemente, relacionada com as ciências humanas e naturais, com a Filosofia e com as ciências exatas.
A pesquisa museológica abrange o amplo universo das expressões artísticas, desde as artes plásticas e visuais – pintura, escultura – além de outras linguagens como a música, o cinema, a fotografia, o teatro, a dança, o folclore, a cenografia e a Literatura.
Também se relaciona intimamente com o campo das ciências humanas, como a Antropologia, a Arqueologia, a Ciência Política, a Educação, a Filosofia, a Geografia, a História, a Psicologia, a Teologia e a Sociologia.
Na área das ciências sociais aplicadas, articula-se com a Ciência da Informação, com a Comunicação, a Economia, a Administração, e muito com a Arquitetura e com o Turismo.  A Museologia é, ela própria, uma ciência social aplicada.  
Há ainda uma relação próxima com as ciências exatas – a Física e a Matemática – e com as ciências biológicas e da terra, como a Medicina, a Astronomia e a Química.
Como você pode ver, a Museologia coloca em ação várias áreas do conhecimento e as torna um campo aberto para criar relações e interpretações que os museus fazem nas suas mostras. Englobando vários campos do saber, a Museologia cria elos para produzir conhecimento a partir de uma diversidade de informações contidas nos seus acervos.
Quando examinamos detalhadamente uma pintura, podemos perceber os vários conhecimentos que nela estão contidos. O próprio tema já indica que o artista realizou um trabalho de observação e percepção para representá-lo. Depois, os estudos de perspectiva, de luz e sombra, dos elementos químicos usados nas misturas para formar as cores nos seus diversos tons e texturas.
Se for uma pintura de cena em que haja a presença de pessoas ou animais, os conhecimentos de anatomia, de movimento, das expressões, da fauna, flora e da estética. Há ainda os detalhes do vestuário, do cenário e do próprio estilo narrativo do artista, que é a sua marca pessoal. Como você pode notar, são conhecimentos que envolvem diversas áreas do saber.
Museologia e sociedade
Como você já sabe, a ciência museológica está em permanente evolução. Atualmente, as reflexões nessa área lançam seu olhar sobre a realidade circundante, ou seja, sobre a sociedade. E daí tem surgido uma nova corrente museológica, criando outros tipos de museus e renovando as suas ações.
Nós já vimos que houve uma época em que a Museologia era considerada a “ciência dos museus", e suas ações pouco discutiam os problemas com a sociedade.
Vimos também que os objetos incorporados aos acervos – objetos musealizados – deixaram de ser selecionados apenas como raridades – ou como fontes de informação isolada – e passaram a ser percebidos como fontes de conhecimento. 
E, depois, como provocadores de questionamentos.
Então, já podemos concluir que essa nova vertente da ciência museológica rompeu com uma tradição que tratava o objeto em si mesmo, guardado em um edifício chamado de museu para ser apreciado por um público restrito através de uma pedagogia formal.  
E também podemos concluir que os acervos só podem provocar reflexões se forem percebidos em um contexto sócio-histórico. 
E mais ainda: que as ações realizadas pelos museus – seus eventos, seus programas educativos e exposições – sejam desenvolvidas com a participação da comunidade.

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