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Acidentes por animais peçonhentos no Brasil SUMÁRIO Acidente ofídico Mecanismo de ação dos venenos Acidente botrópico Quadro clínico Exames laboratoriais Tratamento Acidente laquético Quadro clínico Exames laboratoriais Tratamento Acidente crotálico Quadro clínico Exames laboratoriais Tratamento Acidente elapídico Quadro clínico Exames laboratoriais Tratamento Acidente escorpiônico Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames complementares Tratamento Acidente araneídico Loxoscelismo Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames complementares Tratamento Phoneutrismo Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames laboratoriais Tratamento Latrodectismo Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames complementares Tratamento Acidente por lagartas do gênero Lonomia Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames complementares Tratamento Acidente por himenópteros Mecanismo de ação do veneno Quadro clínico Exames complementares Tratamento Soroterapia Indicações bibliográficas 5 A captura e identificação do animal auxiliam no diagnóstico, porém nem sempre isso é possível. Na prática, é a presença de manifestações características de cada tipo de envenenamento que orienta a intervenção a ser realizada. Desta forma, na avaliação inicial do paciente acidentado, é importante buscar informações como: •Há quanto tempo ocorreu o acidente? O tempo decorrido entre a inoculação do veneno e o atendimento é um dos principais fatores prognósticos do envenenamento por animal peçonhento e varia conforme o tipo; •O que o paciente estava fazendo no momento do acidente? As circunstâncias em que o animal causou o acidente são informações essenciais para o raciocínio clínico diagnóstico. Se o paciente estava caminhando, manuseando algum objeto ou se comprimiu o animal contra o corpo podem indicar situações típicas de exposição com animal peçonhento; •Onde aconteceu o acidente? Conhecer o ambiente ou local onde paciente se encontrava na hora da picada pode auxiliar no diagnóstico; •O animal foi visto? É possível obter uma descrição do agente? É uma informação a ser considerada, porém deve se levar em conta que nem sempre é possível confiar na informação do paciente; •Quais os sintomas e sinais apresentados pelo paciente? A anamnese deve ser orientada para a busca de manifestações clínicas locais e sis- têmicas A captura e identificação do animal auxiliam no diagnóstico, porém nem sempre isso é possível. Na prática, é a presença de manifestações característi- cas de cada tipo de envenenamento que orienta a in- tervenção a ser realizada. Desta forma, na avaliação inicial do paciente acidentado, é importante buscar informações como: •Há quanto tempo ocorreu o acidente? O tempo de- corrido entre a inoculação do veneno e o atendimento é um dos principais fatores prognósticos do envenena- mento por animal peçonhento e varia conforme o tipo; •O que o paciente estava fazendo no momento do ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NO BRASIL Grupo Tipo de envenenamento Serpentes botrópico laquético crotálico elapídico Escorpiões escorpiônico Aranhas loxoscelismo foneutrismo latrodectismo Lagartas síndrome hemorrágica por Lonomia Abelhas multiplas picadas por abelhas e vespas Animais peçonhentos podem causar envenenamentos que necessitam tratamento com antiveneno específi- co, sendo os mais frequentes no Brasil os escorpiônicos e ofídicos (Quadro 1). Quadro 1 - Animais peçonhentos relacionados a acidentes no Brasil acidente? As circunstâncias em que o animal causou o acidente são informações essenciais para o para o raciocínio clínico diagnóstico. Se o paciente estava caminhando, manuseando algum objeto ou se com- primiu o animal contra o corpo podem indicar situa- ções típicas de exposição com animal peçonhento; •Onde aconteceu o acidente? Conhecer o ambien- te ou local onde paciente se encontrava na hora da picada pode auxiliar no diagnóstico; •O animal foi visto? É possível obter uma descrição do agente? É uma informação a ser considerada, po- rém deve se levar em conta que nem sempre é possí- vel confiar na informação do paciente; 5 •Quais os sintomas e sinais apresentados pelo pa- ciente? A anamnese deve ser orientada para a busca de manifestações clínicas locais e sistêmicas próprias de cada tipo de envenenamento. •Quais outros sinais e sintomas ocorreram na evo- lução? No exame clínico local, deve-se atentar para manifestações tardias ou complicações. No exame clínico local, atentar para descrever cor- retamente os sinais; diferenciar equimose, cianose, hematoma, necrose; observar a extensão do edema quando presente. Na rotina de atendimento não há exames laborato- riais que permitam detectar a presença do veneno. Entretanto, os testes de coagulação são úteis para realização do diagnóstico, sendo utilizados também ACIDENTE OFÍDICO As serpentes que causam envenenamento de importância em saúde estão distribuídas em vários gêneros; os textos médicos classifi cam os acidentes ofídicos em: botrópico, crotálico, laquético e elapídico (Quadro 2 e fi guras 1 a 5). Dentre eles, o mais frequente é o botrópico. Os acidentes por serpentes em geral acontecem na mata, no roçado, em quintais de chácaras e sítios e terrenos baldios de periferias. Na maioria dos ambientes, é característica a ocorrência sazonal, associada a períodos de calor e umidade. no monitoramento da efi cácia terapêutica. Um grave equívoco é a noção de que há um soro universal capaz de neutralizar os efeitos de todo e qualquer envenenamento. Para cada tipo, são pro- duzidos antivenenos, que são imunoglobulinas he- terólogas específi cas. Outra falsa premissa é de que a picada por um animal peçonhento é sempre sinônimo de soroterapia. Existem muitas serpentes não peçonhentas capazes de agredir um indivíduo. De outra forma, uma serpente peçonhenta pode não injetar veneno sufi ciente para causar altera- ções fi siopatológicas, e determinar uma “picada seca”. É, portanto, necessário que o paciente seja crite- riosamente avaliado do ponto de vista clínico e labo- ratorial para se defi nir o diagnóstico e indicar o trata- mento específi co. paciente? A anamnese deve ser orientada para a busca de manifestações clínicas locais e sistêmicas próprias de cada tipo de envenenamento. •Quais outros sinais e sintomas ocorreram na evolução? No exame clínico local, deve-se atentar para manifestações tardias ou complicações. No exame clínico local, atentar para descrever corretamente os sinais; diferenciar equimose, cianose, hematoma, necrose; observar a extensão do edema quando presente. Na rotina de atendimento não há exames laboratoriais que permitam detectar a presença do veneno. Entretanto, os testes de coagulação são úteis para realização do diagnóstico, sendo utilizados também no monitoramento da efi cácia terapêutica. Um grave equívoco é a noção de que há um soro universal capaz de neutralizar os efeitos de todo e qualquer envenenamento. Para cada tipo, são produzidos antivenenos, que são imunoglobulinas heterólogas específi cas. Outra falsa premissa é de que a picada por um animal peçonhento é sempre sinônimo de soroterapia. Existem muitas serpentes não peçonhentas capazes de agredir um indivíduo. De outra forma, uma serpente peçonhenta pode não injetar veneno sufi ciente para causar alterações fi siopatológi- cas, e determinar uma “picada seca”. É, portanto, necessário que o paciente seja criteriosamente avaliado do ponto de vista clínico e laboratorial para se defi nir o diagnóstico e indicar o tratamento específi co. Acidente Ofídico As serpentes que causam envenenamento de importância em saúde estão distribuídas em vários gêneros; os textos médicos classifi cam osacidentes ofídicos em: botrópico, crotálico, laquético e elapídico (Quadro 2 e fi guras 1 a 5). Dentre eles, o mais frequente é o botrópico. Os acidentes por serpentes em geral acontecem na mata, no roçado, em quintais de chácaras e sítios e terrenos baldios de periferias. Na maioria dos ambientes, é característica a ocorrência sazonal, associada a períodos de calor e umidade. 6 7 Acidentes por animais peçonhentos Tipo de envenenamento Gênero causador Nomes populares Distribuição geográfica Principais espécies causadoras de acidentes Botrópico Bothriopsis Bothrocophias Bothropoides Bothrops Rhinocerophis jararaca, jararacuçu, urutu, cruzeira, com- boia; também conhe- cida como surucucu em alguns locais da Amazônia Ampla distribuição em todo território, des- de florestas a áreas abertas Bothrops atrox, B. moojeni (Figura 1), B. jararacuçu, B. erythromelas, Bothropoides jararaca (Figura 2) Rhinocerophis alternatus, Bothropoides neuwiedi Laquético Lachesis surucucu, pico-de-jaca Floresta amazônica e remanescentes de Mata Atlântica Lachesis muta (Figura 3) Crotálico Crotalus cascavel Cerrado, regiões áridas e semi-áridas, campos abertos Crotalus durissus (Figura 4) Elapídico Micrurus Leptomicrurus coral verdadeira Leptomicrurus: oeste da Amazônia Micrurus:distribuição em todo o território nacional Micrurus corallinus (Figura 5), M. frontalis, M. altirostris, M. surinamensis Quadro 2 – Tipo de envenenamento, serpentes peçonhentas e distribuição geográfica no Brasil. •Atividade inflamatória aguda: tem patogênese com- plexa, com a participação de proteases, hialuronidases, fosfolipases e mediadores da resposta inflamatória. De ação imediata à inoculação do veneno no organismo, leva a lesões locais, como edema e dor, podendo evo- luir com bolhas e necrose. Tem caráter progressivo e é mal neutralizado pelo antiveneno, mesmo quando ad- ministrado nas primeiras horas após o acidente •Atividade hemorrágica: hemorraginas provocam lesões na membrana basal dos capilares, levando a manifestações hemorrágicas locais e sistêmicas. •Atividade coagulante: ativa a cascata de coagu- lação sobre fator X, protrombina e/ou trombina, com consumo de fibrinogênio, que pode ocasionar incoa- gulabilidade sanguínea, semelhante ao da coagula- ção intravascular disseminada. •Atividade neurotóxica: neurotoxinas de ação pré- sinaptica atuam nas terminações nervosas inibindo a liberação de acetilcolina na placa motora enquanto neurotoxinas de ação pós-sináptica impedem a ligação da acetilcolina no sítio receptor da placa mioneural. O resultado é o bloqueio neuromuscular e consequente paralisia motora. •Atividade miotóxica: produz rabdomiólise sistêmi- ca, levando à liberação de enzimas musculares e pig- mento de mioglobina que apresenta ação nefrotóxica. Mecanismo de ação dos venenos Os venenos provocam alterações na região da picada (efeito local) e à distância (efeito sistêmico), cujos mecanismos de ação estão classificados no quadro 3. Quadro 3 – Atividades dos venenos das serpentes peçonhentas de importância em saúde no Brasil Atividade Botrópico Laquético Crotálico Elapídico Inflamação aguda +++ +++ - - Hemorrágica +++ +++ - - Coagulante +++ +++ ++ - Neurotóxica - - +++ +++ Miotóxica - - +++ - Mecanismo de ação dos venenos Os venenos provocam alterações na região da picada (efeito local) e à distância (efeito sistêmico), cujos mecanismos de ação estão classi- ficados no quadro 3. •Atividade inflamatória aguda: tem patogênese complexa, com a participação de proteases, hialuronidases, fosfolipases e mediadores da res- posta inflamatória. De ação imediata à inoculação do veneno no organismo, leva a lesões locais, como edema e dor, podendo evoluir com bolhas e necrose. Tem caráter progressivo e é mal neutralizado pelo antiveneno, mesmo quando administrado nas primeiras horas após o acidente •Atividade hemorrágica: hemorraginas provocam lesões na membrana basal dos capilares, levando a manifestações hemorrágicas locais e sistêmicas. •Atividade coagulante: ativa a cascata de coagulação sobre fator X, protrombina e/ou trombina, com consumo de fibrinogênio, que pode ocasio- nar incoagulabilidade sanguínea, semelhante ao da coagulação intravascular disseminada. •Atividade neurotóxica: neurotoxinas de ação pré-sinaptica atuam nas terminações nervosas inibindo a liberação de acetilcolina na placa motora enquanto neurotoxinas de ação pós-sináptica impedem a ligação da acetilcolina no sítio receptor da placa mioneural. O resultado é o bloqueio neuro- muscular e consequente paralisia motora. •Atividade miotóxica: produz rabdomiólise sistêmica, levando à liberação de enzimas musculares e pigmento de mioglobina que apresenta ação nefrotóxica. 8 9 Acidentes por animais peçonhentos ACIDENTE BOTRÓPICO Representa a grande maioria dos acidentes ofídicos registrados, haven- do diversas espécies distribuídas em todo o país. Quadro clínico O acidente botrópico pode evoluir com alterações locais e/ou sistêmicas: Alterações locais: Após a picada, há sangramento pelos orifícios de inoculação em pequena quantidade e o local apresenta edema e dor. Pode ser observa- da equimose (Figura 6) na região da picada, bastan- te tênue nas primeiras horas, e mais evidente no dia seguinte à picada, observando-se também em área de drenagem linfática regional. Bolhas podem surgir (Figura 7). Alterações sistêmicas: A alteração sistêmica mais frequente é a incoagulabilidade sanguínea. Equimose (local e regional), e sangramentos espontâneos como gengivorragia, epistaxe e hematúria (Figura 8) podem ocorrer. Acidentes causados por serpentes fi lhotes po- dem evoluir com quadro local discreto ou mesmo au- sente, porém com evidente alteração na coagulação. Hematêmese, enterorragia, sangramento em sistema nervoso central, hipotensão e choque são mais raros. As complicações podem ser locais ou sistêmicas: Infecções: abscesso (Figura 9), celulite e erisipela na região da picada ocorrem principalmente nos casos moderados ou graves. As bactérias mais frequentemen- te isoladas dos abscessos pertencem ao grupo dos ba- cilos gram-negativos, dentre os quais se destaca a Mor- ganella morganii. Necrose: é mais comum quando o acidente ocorre nos dedos e em membro onde foi aplicado torniquete (Figuras 10 e 11). Síndrome compartimental: é uma complicação mais rara, que geralmente ocorre nas primeiras 24 horas após a picada. O quadro é decorrente da com- pressão do feixe vásculo-nervoso, causada pelo ede- ma acentuado. Lesão renal aguda (LRA): pode estar associada à hipovolemia (decorrente de sangramento ou se- questro de líquidos na região picada), hipotensão/ choque ou coagulopatia de consumo. A lesão mais comum é a necrose tubular aguda e, mais raramente, a necrose cortical. O óbito pode ocorrer devido à insufi ciência renal aguda, hemorragia grave, choque ou septicemia. Quadro clínico O acidente botrópico pode evoluir com alterações locais e/ou sis- têmicas: Alterações locais: Após a picada, há sangramento pelos orifícios de inoculação em pequena quantidade e o local apresenta edema e dor. Pode ser observada equimose (Figura 6) na região da picada, bastante tênue nas primeiras horas, e mais evidente no dia seguinte à picada, observando-se também em área de drenagem linfática region- al. Bolhas podem surgir (Figura 7). Alterações sistêmicas: A alteração sistêmica mais frequente é a incoagulabilidade sanguínea. Equimose (local e regional), e san- gramentos espontâneos como gengivorragia, epistaxe e hematúria (Figura 8) podem ocorrer. Acidentes causados por serpentes fi lhotes podem evoluir com quadro local discreto ou mesmo ausente, porém com evidente alteração na coagulação. Hematêmese, enterorragia,sangramento em sistema nervoso central, hipotensão e choque são mais raros. As complicações podem ser locais ou sistêmicas: Infecções: abscesso (Figura 9), celulite e erisipela na região da pica- da ocorrem principalmente nos casos moderados ou graves. As bactérias mais frequentemente isoladas dos abscessos pertencem ao grupo dos bacilos gram-negativos, dentre os quais se destaca a Morganella mor- ganii. Necrose: é mais comum quando o acidente ocorre nos dedos e em membro onde foi aplicado torniquete (Figuras 10 e 11). Síndrome compartimental: é uma complicação mais rara, que geralmente ocorre nas primeiras 24 horas após a picada. O quadro é decorrente da compressão do feixe vásculo-nervoso, causada pelo edema acentuado. Lesão renal aguda (LRA): pode estar associada à hipovolemia (decorrente de sangramento ou sequestro de líquidos na região picada), hipotensão/choque ou coagulopatia de consumo. A lesão mais comum é a necrose tubular aguda e, mais raramente, a necrose cortical. O óbito pode ocorrer devido à insufi ciência renal aguda, hemorra- gia grave, choque ou septicemia. Representa a grande maioria dos acidentes ofídicos registrados, haven- 10 11 Acidentes por animais peçonhentos Exames laboratoriais As alterações laboratoriais que podem ser obser- vadas estão listadas no quadro 4. Dentre os exames complementares, os testes de coagulação são de fundamental importância, pois auxiliam no diagnóstico e são importantes para con- trole de tratamento. Exame Laboratorial Ac. Botrópico Ac. Laquético Ac. Crotálico Ac. elapídico Hemograma Leucócitos normais ou leucocitose, com neu- trofilia Plaquetopenia pode ocorrer Leucocitose com neutrofilia Plaquetopenia pode ocorrer Leucócitos normais ou leucocitose, com neutrofilia; Plaquetopenia é rara Leucocitose Bioquímica ↑ Uréia e Creatinina pode ocorrer; ↑ CK por efeito miotóxi- co local do veneno de algumas espécies ↑DHL e BI devido a he- mólise intravascular Registros escassos, perfil bioquímico provavelmente semelhante ao do acidente botrópico ↑CK (pode estar muito elevada, proporcional a gravidade), AST, DHL ↑Uréia, Creatinina e Potássio podem ocorrer ↓Cálcio na fase inicial da IRA CK pode estar um pouco au- mentada devido efeito miotóxico local do vene- no de algumas espécies Coagulação Normal ou alargamento de TP, TTPA TC alterado ↑Fibrinogênio ↓PDF e Dimero-D Normal ou alarga- mento de TP, TTPA TC alterado ↑Fibrinogênio ↓PDF e Dimero-D Normal ou alargamento de TP, TTPA TC alterado ↑Fibrinogênio ↓ PDF e Dimero-D Normal Urina 1 Hematúria Registros escassos na literatura Normal na ausência de LRA Não descrito Quadro 4: Alterações laboratoriais que pode ser observadas, segundo o tipo de acidente ofídico Exames laboratoriais As alterações laboratoriais que podem ser observadas estão listadas no quadro 4. Dentre os exames complementares, os testes de coagulação são de fundamental importância, pois auxiliam no diagnóstico e são importantes para controle de tratamento. A alteração na coagulação não tem implicação na gravidade do quadro, porém é um importante parâmetro para avaliação da eficácia da soroter- apia. Testes de coagulação devem ser solicitados na admissão do paciente, 12 e 24 horas após o término da soroterapia. A alteração na coagulação não tem implicação na gravidade do quadro, porém é um importante parâme- tro para avaliação da eficácia da soroterapia. Testes de coagulação devem ser solicitados na admissão do paciente, 12 e 24 horas após o término da soroterapia. 12 Os acidentes botrópicos são classificados em relação à gravidade (Quadro 5) . O antiveneno deve ser adminis- trado o mais precocemente possível, sempre que houver evidência clínica e/ou laboratorial de envenenamento. Tratamento Acidente Gravidade Soro Nº de ampo-las Botrópico Leve (Figura 12): edema local de até 2 segmentos*; sangra- mento em pele ou mucosas; pode haver apenas distúrbio de coagulação Antibotrópico (SAB) 4 Moderado (Figura 13): edema que atinge 3 a 4 segmentos*; sangramento sem comprometimento do estado geral; teste de coagulação normal ou alterado 8 Grave (Figura 14): edema que atinge 5 segmentos*, hemorra- gia grave, hipotensão/choque; teste de coagulação normal ou alterado 12 Crotálico Leve: fácies miastênica pouco evidente, sem mialgia ou urina escura; teste de coagulação normal ou alterado Anticrotálico (SAC) 5 Moderado: fácies miastênica evidente; mialgia, urina escura discretas; teste de coagulação normal ou alterado 10 Grave: fácies miastênica evidente; intensa mialgia, urina escu- ra; pode haver insuficiência respiratória; teste de coagulação normal ou alterado 20 Laquético Quadro local presente; pode haver sangramento; sem manifes- tações vagais Antibotrópi- co-laquético (SABL) 10 Quadro local intenso,pode haver sangramento; manifestações vagais presentes 20 Elapídico Considerar todos os casos potencialmente graves Antielapídico (SAE) 10 Quadro 5: Tratamento específico para os acidentes ofídicos segundo a gravidade *O membro picado é dividido em 5 segmentos: por ex.: em relação ao membro superior: 1. Mão; 2. 1/2 distal do antebraço; 3. 1/2 proximal do antebraço; 4. 1/2 distal do braço; 5. 1/2 proximal do braço. Do mesmo modo divide-se o membro inferior em 5 segmentos. Tratamento Os acidentes botrópicos são classificados em relação à gravidade (Quadro 5) . O antiveneno deve ser administrado o mais precocemente pos- sível, sempre que houver evidência clínica e/ou laboratorial de envenenamento. *O membro picado é dividido em 5 segmentos: por ex.: em relação ao membro superior: 1. Mão; 2. 1/2 distal do antebraço; 3. 1/2 proximal do ante- braço; 4. 1/2 distal do braço; 5. 1/2 proximal do braço. Do mesmo modo divide-se o membro inferior em 5 segmentos. 13 Acidentes por animais peçonhentos A avaliação da coagulação deve ser realizada 12 e 24 horas após o termino da administração do antiveneno. Caso não haja melhora da coagulopatia após 12 horas (isto é, o sangue permanece incoagulável), deve-se investigar se: •Houve administração de antiveneno inapropriado, por erro no diagnóstico do tipo de envenenamento, •A quantidade de antiveneno administrada foi insuficiente, por erro na avaliação da gravidade. •O antiveneno estava em condições inadequadas de conservação, com oscilação na temperatura e/ou vali- dade fora do padrão estabelecido pelo produtor. Na maioria das vezes em que não houve normalização dos testes de coagulação, observa-se que o diag- nóstico etiológico foi incorreto. Além da administração do antiveneno específico, medidas de suporte são importantes no tratamento (Quadro 6). A avaliação da coagulação deve ser realizada 12 e 24 horas após o termino da administração do antiveneno. Caso não haja melhora da coagu- lopatia após 12 horas (isto é, o sangue permanece incoagulável), deve-se investigar se: •Houve administração de antiveneno inapropriado, por erro no diagnóstico do tipo de envenenamento, •A quantidade de antiveneno administrada foi insuficiente, por erro na avaliação da gravidade. •O antiveneno estava em condições inadequadas de conservação, com oscilação na temperatura e/ou validade fora do padrão estabelecido pelo produtor. Na maioria das vezes em que não houve normalização dos testes de coagulação, observa-se que o diagnóstico etiológico foi incorreto. Além da administração do antiveneno específico, medidas de suporte são importantes no tratamento (Quadro 6). 14 Conduta Acidentes Botrópico Laquético Crotálico Elapídico Jejum Inicialmente o paciente deve permanecer em jejum, pelo risco de náuseas e vômitos, durante a infusão da soroterapia. Terminada a infusão do antiveneno, avaliar as condiçõesclínicas do paciente para liberação da dieta. X X X X Drenagem postural Havendo edema, manter o membro atingido elevado; reavaliar a conduta em caso de síndrome compartimental. X X - - Hidratação Manter hidratação adequada com cristaloide, precoce- mente, para prevenir LRA. X X X - Analgesia Especialmente nos acidente botrópico e laquético; em geral há boa resposta com analgésico do tipo dipirona.Se necessá- rio, opióides; evitar anti-infl amatórios não hormonais. X X X X Antibiótico Na presença de infecção secundária, administrar anti- microbianos com atividade sobre bacilos gram-negativos (especial- mente Morganella), cocos G+ e anaeróbios. X X - - Diurético Na presença de oligúria, com o paciente já adequada- mente hidratado, estimular diurese com o uso de diurético de alça do tipo Furosemida X X X - Procedimento cirúrgico Drenar abscesso no momento apropriado; debridar áreas com necrose após sua delimitação. Na suspeita de síndrome compartimental, avaliar de forma criteriosa a indicação de fasciotomia. X X - - Derivados de sangue Plasma fresco, crioprecipitado ou plaquetas não são indicados para correção dos distúrbios de hemostasia. O sangramento espontâneo cessa pouco após o início da soroterapia. Em caso de procedimento invasivos/cirúrgicos antes da reversão da coagulopatia, pode ser necessária a reposição desses fatores. X X X - Diálise Na presença de Lesão Renal Aguda, solicitar avaliação da Nefrologia. X X X - Ventilação mecânica Para os pacientes com comprometimento da mecânica respiratória. - - X X Profi laxia antitetânica Atualizar a carteira vacinal do paciente. X X X X Quadro 6: Tratamento geral do acidentes ofídicos 15 Acidentes por animais peçonhentos ACIDENTE LAQUÉTICO As serpentes do gênero Lachesis são encontradas, em baixa densidade populacional, nas fl orestas da Amazônia e na Mata Atlântica da região Nordeste até o norte do Rio de Janeiro. Decorre disso a baixa frequência de acidentes no país. ACIDENTE LAQUÉTICO As serpentes do gênero Lachesis são encontradas, em baixa densidade populacional, nas fl orestas da Amazônia e na Mata Atlântica da região Nordeste até o norte do Rio de Janeiro. Decorre disso a baixa frequência de acidentes no país. Quadro clínico Como seu veneno apresenta atividades fi siopatológicas semelhantes ao das serpentes que causam o acidente botrópico, o quadro clínico pode ser indistinguível. Diferencia-se, no entanto, o envenenamento laquético quando da presença de manifestações vagomiméticas, cujo mecanismo de ação do veneno não se encontra bem estabelecido. O quadro de náuseas, vômitos, sudorese, dores abdominais, diarréia, hipotensão e choque sugere fortemente o diagnóstico; sua ausência, no entanto, não descarta a possibilidade de acidente laquético. Exames laboratoriais Em relação a exames complementares, há poucos dados em literatura (Quadro 4) Tratamento O tratamento é feito com soro antibotrópico-laquético (SABL) 10 ou 20 ampolas, a depender da ausência ou presença das manifestações vagomiméti- cas (Quadro 5). As condutas gerais seguem a mesma orientação do acidente botrópico (Quadro 6). Em pacientes com hipotensão, deve-se fazer inicialmente expansão com cristalóide e, posteriormente, avaliar necessidade de administrar droga vasoativa. Na presença de bradicardia com instabilidade hemod- inâmica, usar atropina (0,05mg/kg para crianças e 0,5 mg para adultos). Quadro clínico Como seu veneno apresenta atividades fi siopato- lógicas semelhantes ao das serpentes que causam o acidente botrópico, o quadro clínico pode ser indistin- guível. Diferencia-se, no entanto, o envenenamento laquético quando da presença de manifestações va- gomiméticas, cujo mecanismo de ação do veneno não se encontra bem estabelecido. O quadro de náuseas, vômitos, sudorese, dores abdominais, diarréia, hipo- tensão e choque sugere fortemente o diagnóstico; sua ausência, no entanto, não descarta a possibilidade de acidente laquético. Exames laboratoriais Em relação a exames complementares, há poucos dados em literatura (Quadro 4) Atlântica da região Nordeste até o norte do Rio de Janeiro. Decorre Tratamento O tratamento é feito com soro antibotrópico-laquético (SABL) 10 ou 20 ampolas, a depender da ausência ou presença das manifestações vagomiméticas (Quadro 5). As condutas gerais seguem a mesma orientação do acidente botrópico (Quadro 6). Em pacientes com hipotensão, deve-se fazer inicialmente expansão com cristalóide e, posteriormente, avaliar necessidade de administrar droga vasoativa. Na presença de bradi- cardia com instabilidade hemodinâmica, usar atropina (0,05mg/kg para crianças e 0,5 mg para adultos). 16 ACIDENTE CROTÁLICO Representa a segunda causa de acidente ofídico no país. Quadro clínico Alterações pouco proeminentes na região da picada como edema, eritema e dor são observadas (Figura 15). As queixas iniciais são visão turva e “olhos pesados”. O paciente evolui com ptose palpebral, diplopia, podendo apresentar difi culdade para deglutição e ptose mandibular. Casos graves podem progredir com insufi ciência respiratória. Mesmo que o paciente apresente distúrbio na coagulação, raramente ocorrem sangramentos como gengi- vorraria e equimoses. A rabdomiólise, evidenciada clinicamente como mialgia, colúria (por mioglobinuria), pode levar à a LRA, complicação observada no acidente crotálico. Eventualmente, o quadro clínico pode se instalar mais lentamente, o que torna necessário manter uma ob- servação mais rigorosa e prolongada. ACIDENTE CROTÁLICO Representa a segunda causa de acidente ofídico no país. Quadro clínico Alterações pouco proeminentes na região da picada como edema, eritema e dor são observadas (Figura 15). As queixas iniciais são visão turva e “olhos pesados”. O paciente evolui com ptose palpebral, diplopia, podendo apresentar difi culdade para deglutição e ptose mandibular. Casos graves podem progredir com insufi ciência respiratória. Mesmo que o paciente apresente distúrbio na coagulação, raramente ocorrem sangramentos como gengivorraria e equimoses. A rabdomiólise, evidenciada clinicamente como mialgia, colúria (por mioglobinuria), pode levar à a LRA, complicação observada no acidente crotálico. Eventualmente, o quadro clínico pode se instalar mais lentamente, o que torna necessário manter uma observação mais rigorosa e prolongada. Exames laboratoriais Os exames laboratoriais indicam a intensidade da rabdomiólise, com a elevação do nível sérico de creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH). A coagulopatia está presente em cerca de 50% dos casos. O hemograma pode mostrar leucocitose com neutrofi lia. Aumento de uréia e creatinina podem ocorrer; na fase oligúrica da LRA além de hiperpotassemia, podem ser encontrados acidose metabólica, níveis elevados de fósforo e diminuição de cálcio sérico (Quadro 4). Exames laboratoriais Os exames laboratoriais indicam a intensidade da rabdomiólise, com a elevação do nível sérico de crea- tinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH). A coagulopatia está presente em cerca de 50% dos casos. O hemograma pode mostrar leucocitose com neu- trofi lia. Aumento de uréia e creatinina podem ocorrer; na fase oligúrica da LRA além de hiperpotassemia, podem ser encontrados acidose metabólica, níveis elevados e dor são observadas pesados”. O paciente evolui com ptose palpebral, diplopia, podendo apresentar de fósforo e diminuição de cálcio sérico (Quadro 4). Na fase de recuperação da LRA os níveis de cálcio no soro podem estar bastante elevados. Tratamento Está indicado o soro anticrotálico (SAC) ou, na sua ausência, o antibotrópico-crotálico (SABC), como mos- tra o quadro 5. As medidas de suporte estão descritas no quadro 6. 17 Acidentes por animais peçonhentos Quadroclínico À semelhança do envenenamento crotálico, a au- sência da ação infl amatória local faz com que a região da picada não apresente alterações signifi cativas (Fi- gura 16), sendo evidente o quadro sistêmico neurotó- xico: turvação visual, diplopia, ptose palpebral, ptose mandibular, difi culdade para deglutição, sialorréia. Mialgia discreta localizada e, mais raramente a distância da região picada, pode ocorrer. Outras ma- nifestações, como náuseas ou vômitos também são observadas. Em casos graves o paciente pode evoluir com disp- neia e insufi ciência respiratória por paralisia da mus- culatura respiratória. Exames laboratoriais As alterações laboratoriais encontradas estão des- critas no quadro 4. ACIDENTE ELAPÍDICO Na família Elapidae estão as corais verdadeiras que apresentam dois gêne- ros no Brasil: Micrurus e Leptomicrurus. O acidente elapídico é raro, pois essas serpentes possuem hábitos subterrâneos, boca pequena e presa não articulada, o que difi culta a inoculação do veneno. ros no Brasil: Micrurus e Leptomicrurus. O acidente elapídico é raro, pois essas serpentes possuem hábitos subterrâneos, boca pequena e presa não articulada, 18 Tratamento O soro antielapídico (SAEL) é indicado na dose de 10 ampolas, não havendo classifi cação de intensida- de do envenenamento devido à escassez de dados clínicos (Quadro 5). É importante observar com atenção o padrão res- piratório do paciente e, em caso de insufi ciência res- piratória, o paciente deve ser submetido à intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Na presença de insufi ciência respiratória aguda, su- gere-se fazer teste terapêutico com anticolinesterásicos, do tipo neostigmine, na tentativa de reverter os fenôme- nos neuroparalíticos: neostigmine (prostigmine) por via intravenosa (50mg/Kg), precedida da injeção de atropi- Mecanismo de ação do veneno O veneno escorpiônico atua sobre os canais de sódio voltagem dependen- te, promovendo a despolarização das terminações nervosas sensitivas, mo- toras e do sistema nervoso autônomo, com liberação maciça de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos. As manifestações sistêmicas observadas no envenenamento são decorrentes das ações destes neurotransmissores. na IV, para prevenir os efeitos muscarínicos da acetilco- lina, principalmente a bradicardia e a hipersecreção (0,5 mg para adulto e 50mg/Kg/dose para criança). Em geral, a resposta é rápida. Em caso de melhora da sintomatologia paralítica, recomenda-se dose de manutenção (50-100mg/Kg, IV, a cada 4 horas ou in- tervalos menores, ou por infusão continua, iniciando com 25mg/Kg/hora) sempre precedida da administra- ção de atropina. Dependendo da resposta do pacien- te, pode haver maior espaçamento entre as doses, até que ocorra a recuperação do quadro. Não havendo resposta ao teste terapêutico, não se deve manter o anticolinesterásico. ACIDENTE ESCORPIÔNICO Os escorpiões têm ampla distribuição no Brasil, porém, nos últimos anos, os registros de aci- dentes têm apresentado aumento signifi cativo. Somente o gênero Tityus é considerado de importância em saúde e a espécie T. serrulatus (Figura 17) está associada a casos graves em crianças. A letalidade desses acidentes é baixa (0,2%), porém a maioria dos óbitos ocorre em me- nores de 14 anos de idade. O veneno escorpiônico atua sobre os canais de sódio voltagem dependen- Os escorpiões têm ampla distribuição no Brasil, porém, nos últimos anos, os registros de aci- dentes têm apresentado aumento signifi cativo. Somente o gênero saúde e a espécie T. serrulatus desses acidentes é baixa (0,2%), porém a maioria dos óbitos ocorre em me- nores de 14 anos de idade. 19 Acidentes por animais peçonhentos Quadro clínico O envenenamento evolui com quadro local e me- nos frequentemente alterações sistêmicas: Local: a dor é a principal manifestação e ocorre imediatamente após a picada. Sua intensidade é va- riável, sendo às vezes insuportável. São observados também eritema, sudorese e piloereção. Sistêmico: decorre da hiperatividade do sistema nervoso autônomo; surgem náuseas, vômitos, sudo- rese, sialorréia, agitação, taquipnéia e taquicardia, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, choque. As manifestações sistêmicas são mais frequentes em crianças. A intensidade e a frequência dos vômitos é um sinal premonitório sensível da gravidade do enve- nenamento. As manifestações sistêmicas surgem precocemente, de forma que nas primeiras duas a três horas a gravidade do acidente está definida.Na região Norte do Brasil, acidentes por T. obscurus são descritos com manifestações do tipo sensação de “choque elétrico” pelo corpo, com mioclonia, disme- tria, disartria e ataxia da marcha. Exames complementares As alterações laboratoriais são observadas nos ca- sos com manifestação sistêmica. São descritas: Hemograma: leucocitose com neutrofilia; Bioquímica: hiperglicemia, hiperamilasemia, hipo- potassemia e hiponatremia; em casos graves a CK , CKMb e troponina I podem estar aumentadas; Testes de coagulação: não há alteração; ECG: arritmias como taquicardia ou bradicardia si- nusal, extrassístoles ventriculares, alterações simila- res às encontradas no infarto agudo do miocárdio, blo- queio de condução atrioventricular ou intraventricular; Rx Tórax: aumento da área cardíaca, congestão pulmonar; Ecocardiograma: nas formas graves pode-se ob- servar hipocinesia transitória do septo interventricular e da parede posterior do ventrículo esquerdo. Tratamento O antiveneno está indicado para os casos com ma- nifestações sistêmicas (moderados e graves) e a dose a ser administrada varia conforme a gravidade (qua- dro 7). O antiveneno não está indicado para pacientes com quadro leve. Para a dor intensa fazer infiltração local ou bloqueio com anestésico, do tipo lidocaína 2%, sem vasocons- trictor (2-3ml/dose); eventualmente, quando necessário repetir o anestésico, associar analgésico opióide; quan- do a dor for de menor intensidade, analgésicos orais e compressas mornas no local podem ser suficientes. Na presença de manifestações sistêmicas, o pa- ciente deve ser monitorado com atenção, preferencial- mente em UTI. Para os casos com vômitos profusos, 20 Quadro 7: Tratamento dos acidentes escorpiônicos e por Phoneutria segundo a gravidade além da hidratação parenteral (que deve ser cuidadosa devido ao risco de edema pulmonar), pode ser adminis- trada a metoclopramida. Na presença de insuficiência cardíaca/edema agudo de pulmão, a hidratação deve ser cuidadosa; administrar diurético de alça (furosemi- Acidente Gravidade Soro Nº de ampolas Tratamento geral Escorpiônico Leve: dor, eritema, sudorese, piloereção, parestesia na região da picada Antiescopiônico (SAEsc) ou Antiaracnídico (SAA) - Calor local analgésico oral. Em dor intensa: infiltração local ou bloqueio anestésico, associado ou não a analgésico opióide Moderado: quadro local e uma ou mais manifestações como: náuseas, vômitos, sudorese, sialorréia discretos, agitação, taquipnéia e taquicardia 2-3 Monitoramento dos parâmetros vitais, hidratação parenteral cautelosa, metoclopramida em caso de vômitos profusos Grave: Além das manifestações acima: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese profusa, sialorréia intensa, prostração, convulsão, coma bradicardia, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, choque 4-6 Internação em UTI, diurético de alça, oxigenioterapia, dobutamina, ventilação mecânica e noradrenalina, se necessário Foneutrismo Leve: dor, edema, eritema, sudorese, parestesia local Antiaracnídico (SAA) - Calor local analgésico oral. Em dor intensa: infiltração local ou bloqueio anestésico, associado ou não a analgésico opióideModerado: quadro local associado à sudorese, vômitos ocasionais, agitação, hipertensão arterial 2-4 Monitoramento dos parâmetros vitais, hidratação parenteral cautelosa, metoclopramida em caso de vômitos profusos Grave: sudorese profusa, priapismo, vômitos requentes, arritmia, choque, edema agudo de pulmão 5-10 Internação em UTI, diurético de alça, oxigenioterapia, dobutamina, ventilação mecânica e noradrenalina se necessário da), oxigênio e se necessário, dobutamina e ventilação mecânica. Em paciente com bradicardia com instabili- dade hemodinâmica, usar atropina IV. Havendo hipo- tensão ou choque, não relacionados a hipovolemia, administrar dobutamina/noradrenalina. 21 Acidentes por animais peçonhentos As aranhas consideradas de importância em saúde no Brasil pertencem a três gêneros: Loxosceles (Figura 18), Phoneutria (Figura 19) e Latrodectus (Figura 20). O quadro 8 apresenta algumas de suas características e as principais informações epidemiológicas dos acidentes. Loxosceles Phoneutria Latrodectus Característi cas do agente Nome popular: “aranha mar- rom” (Figura16) Tamanho: 3-4 cm Coloração: marrom Comportamento: não agres- siva Habitat: vive sob telhas, ti jolos, madeiras; no interior de domicílios, é encontrada em porões, atrás de móveis e cantos escuros. Nome popular: “aranha armadeira” (Figura 17) Tamanho: ati nge até 15 cm de envergadura Coloração: marrom-a- cinzentada Comportamento: em postura de defesa eleva as patas dianteiras, apoiando-se sobre as traseiras. Tem hábitos noturnos. Habitat: encontrada em cachos de banana, palmeiras, debaixo de tron- cos caídos, pilhas de madeira e en- tulhos; dentro das casas se esconde dentro dos calçados e roupas. Nome popular:” viúva-ne- gra” ou “fl amenguinha” (Figura18); Tamanho: a fêmea adulta ati nge 3 cm de envergadura Coloração: marrom, ou pre- ta e vermelha, possui no ventre um desenho em for- ma de ampulheta Epidemiologia do acidente Causa a maioria dos acidentes araneídicos no país, principal- mente no Sudeste e Sul, espe- cialmente na região metropo- litana de Curiti ba (Paraná). Os acidentes estão relaciona- dos aos atos de vesti r e dor- mir, ati ngindo com maior fre- quência a região proximal de membros e o tronco. Acidentes mais frequentes no Sul e Sudeste. Os acidentes ocorrem em cir- cunstâncias como calçar, limpeza de quintal, jardim, ao manusear legumes, verduras e frutas, prin- cipalmente bananas, sendo mais acometi dos mãos e pés. Acidentes raros. As fêmeas causam o acidente, em geral quando comprimidas contra o corpo. As aranhas consideradas de importância em saúde no Brasil pertencem a três gêneros: Loxosceles (Figura 18), Phoneutria (Figura 19) e Latro- dectus (Figura 20). O quadro 8 apresenta algumas de suas características e as principais informações epidemiológicas dos acidentes. ACIDENTE ARANEÍDICO Quadro 8: Características das aranhas de importância médica no Brasil 22 LOXOSCELISMO Mecanismo de ação do veneno O veneno da aranha Loxosceles ativa o sistema complemento, células endotelial, epitelial e plaquetas, levando obstrução de pequenos vasos e liberação de mediadores infl amatórios com consequente infi ltração de polimormonucleares no local da inoculação do veneno. Além disso, há a ação de enzimas hidrolíticas que degradam moléculas da mem- brana basal, resultando dessas ações, lesão cutâneo-necrótica. Também, pode ser observada no loxoscelismo a presença de hemólise intravascular, decorrente da ação do veneno sobre metaloproteina- ses endógenas que, uma vez ativadas, agem sobre proteínas da membrana de hemácias, tornando-as susceptí- veis a ação do complemento. O principal componente do veneno de Loxosceles responsável tanto pela necrose cutânea quanto pela hemólise é uma proteína de 32 a 35kDa, com atividade esfi ngomielinase-D. LOXOSCELISMO Mecanismo de ação do veneno O veneno da aranha Loxosceles ativa o sistema complemento, células endotelial, epitelial e plaquetas, levando obstrução de pequenos vasos e liberação de mediadores infl amatórios com consequente infi ltração de polimormonucleares no local da inoculação do veneno. Além disso, há a ação de enzimas hidrolíticas que degradam moléculas da membrana basal, resultando dessas ações, lesão cutâneo-necrótica. Também, pode ser observada no loxoscelismo a presença de hemólise intravascular, decorrente da ação do veneno sobre metaloproteinases endógenas que, uma vez ativadas, agem sobre proteínas da membrana de hemácias, tornando-as susceptíveis a ação do complemento. O principal componente do veneno de Loxosceles responsável tanto pela necrose cutânea quanto pela hemólise é uma proteína de 32 a 35kDa, com atividade esfi ngomieli- nase-D. Quadro clínico O loxoscelismo pode ser classifi cado em duas formas: Forma Cutânea. É a forma clínica mais frequente. O quadro, de instalação lenta e progressiva, inicia-se com dor discreta após a picada e que regride. Em pe- ríodo que pode variar de 4 a 8 horas, a dor reaparece juntamente com edema e eritema. Na evolução, nas primeiras 24 horas, surgem áreas de equimose, mes- cladas com eritema violáceo e palidez, formando a chamada “placa marmórea” (Figura 21), muitas vezes com eritema ao redor. A lesão pode evoluir com necrose seca (Figura 22) e úlcera. Infecção secundária pode ocorrer, na fase de crosta necrótica. Associado à lesão de pele, não são infrequentes fenômenos gerais como febre, náuseas, vômitos, ton- tura, cefaléia e exantema macular ou maculopapular, por vezes pruriginoso. Forma cutâneohemolítica. É rara e não proporcio- nal ao comprometimento cutâneo. As manifestações clínicas relacionadas à hemólise intravascular, como do veneno. Além disso, há a ação de enzimas hidrolíticas que degradam moléculas da mem- 23 Acidentes por animais peçonhentos anemia aguda, icterícia, hemoglobinúria, na grande maioria dos casos, surgem nas primeiras 72 horas do envenenamento. Lesão renal aguda (LRA) pode ser observada e, com menor frequência, coagulação in- travascular disseminada (CIVD). Exames complementares Na forma cutânea pode ser encontrada leucocito- se com neutrofilia. Em pacientes com intenso qua- dro flogístico local pode haver lesão muscular com consequente aumento sérico de enzimas musculares como CK, DHL e AST. Nos casos que evoluem com hemólise observa-se anemia, leucocitose com neutrofilia, reticulocitose, aumento de DHL, de bilirrubina total com predomínio de bilirrubinas indireta e diminuição da haptoglobina livre. Plaquetopenia, alterações de uréia e creatinina Forma Cutânea Forma Cutâneo-hemolítica Prednisona: 5 a 7 dias 40 mg/d (adulto); 1 mg/kg/d (criança) Prednisona: 1 mg/kg/d , 5 a 7 dias Soro antiloxoscélico (SALox) ou antiaracnídico (SAA): 5 ampolas Soro antiloxoscélico (SALox) ou antiaracnídico (SAA): 10 ampolas - - correção de alterações eletrolíticas e de distúrbios do equilíbrio ácido-base - diálise - concentrado de hemácias - analgesia de acordo com a intensidade da dor - antihistamínico: para os casos com exantema pruriginoso - antibiótico: se houver infecção secundária (com espectro para microorganismos usuais da flora da pele, como por exemplo, cefalexina) - debridamento cirúrgico, quando há delimitação da necrose - cirurgia plástica reparadora; se necessário e dos testes de coagulação podem ocorrer. Pacientes que evoluem com LRA, podem apresentar alterações eletrolíticas e distúrbios do equilíbrio ácido-base. Tratamento Na forma cutânea, tem se recomendado o an- tiveneno específico (soro antiaracnídico ou o soro an- tiloxoscélico) na fase inicial, usualmente nas primeiras 48 horas após o acidente e corticosteroides. Entretan- to, quanto maior o tempo ocorrido após o acidente, menor é aeficácia da soroterapia sobre a evolução da lesão cutânea. Na forma cutâneo-hemolítica é indica- da a administração de corticosteroide e a soroterapia específica, independente do tempo decorrido após a picada. No quadro 9 estão resumidas as medidas terapêuti- cas recomendadas. Quadro 9: Medidas terapêuticas indicadas para o loxoscelismo *Soro antiloxoscélico (SALox) ou soro antiaracnídico (SAA) – 1 ampola = 5 ml 24 PHONEUTRISMO Mecanismo de ação do veneno A fração Phoneutriatoxina 2 (PhTx2) do veneno de P. nigriventer é identifi cada como principal componente tóxico responsável pelas alterações observadas nos acidentes. Age sobre os canais de sódio voltagem dependente e leva à despolarização de fi bras musculares esqueléticas e de terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema ner- voso autônomo. As manifestações sistêmicas, que raramente são observadas nesses aci- dentes, são decorrentes da liberação de neurotransmissores (catecolaminas e acetilcolina). PHONEUTRISMO Mecanismo de ação do veneno A fração Phoneutriatoxina 2 (PhTx2) do veneno de P. nigriventer é identifi cada como principal componente tóxico responsável pelas alterações observadas nos acidentes. Age sobre os canais de sódio voltagem dependente e leva à despolarização de fi bras musculares esqueléticas e de terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema ner- voso autônomo. As manifestações sistêmicas, que raramente são observadas nesses aci- dentes, são decorrentes da liberação de neurotransmissores (catecolaminas e acetilcolina). Quadro clínico Predominam as manifestações locais. A dor imedia- ta é o sintoma mais frequente, podendo ser de forte intensidade e irradiar-se até a raiz do membro afetado. Cessada a dor mais intensa, os pacientes referem pa- restesia na região da picada. Outras manifestações, como edema (Figura 23) e eritema também são co- muns; sudorese e mais raramente, fasciculações, po- dem ser observadas no local da picada. Raramente, associadas ao quadro local, ocorrem manifestações sistêmicas como vômitos, sudorese, hipertensão arterial, priapismo, bradicardia, hipoten- são arterial, arritmias, edema agudo do pulmão, con- vulsões e coma. As alterações sistêmicas resultam da hiperatividade do sistema nervoso autônomo e, quan- do ocorrem, são mais frequentes em crianças. Do ponto de vista clínico, o foneutrismo apresenta manifestações similares ao escorpionismo e, quando o animal não é visualizado, pode não ser possível di- ferenciar um acidente do outro. 25 Acidentes por animais peçonhentos Exames complementares Em casos graves é descrita leucocitose com neu- trofi lia, hiperglicemia e acidose metabólica. Tratamento O antiveneno está indicado nos casos com mani- festações sistêmicas em crianças e em todos os ca- sos graves (quadro 7). O soro a ser administrado é o soro antiaracnídico (SAA). O tratamento sintomático objetiva o alívio da dor, sendo, na maioria dos casos, a única medida terapêu- tica necessária. Quando a dor é intensa, é recomen- dado bloqueio ou infi ltração local de anestésico, do tipo lidocaína 2%, sem vasoconstrictor, 2 a 3 mL. Quando houver necessidade de repetir o anestési- co local, analgésicos opioides podem ser associados. Se a dor não é de forte intensidade, analgésicos de uso oral e compressas mornas no local podem ser su- fi cientes. Não utilizar compressas frias ou de gelo. O paciente que evolui com manifestações sistêmi- cas deve ser internado, preferencialmente em unidade de terapia intensiva, e o tratamento segue os princí- pios do tratamento para o escorpionismo grave. LATRODECTISMO Mecanismo de ação do veneno O principal componente tóxico do veneno latrodéctico é a alfa-latrotoxina, uma neurotoxina com atividade pré-sináptica. Sua ação leva a aumento Ca++ intracelular e liberação maciça de neurotransmissores adrenér- gicos, colinérgicos e GABA (acido gama-amino-butírico). Mecanismo de ação do veneno O principal componente tóxico do veneno latrodéctico é a alfa-latrotoxina, uma neurotoxina com atividade pré-sináptica. Sua ação leva a aumento Ca++ intracelular e liberação maciça de neurotransmissores adrenér- gicos, colinérgicos e GABA (acido gama-amino-butírico). Quadro clínico Após a picada, há dor local imediata que pode ser intensa e irradiar-se aos gânglios linfáticos regionais. A dor pode se generalizar e ocorrer tremores, agitação, contraturas musculares, dor abdominal. São descritos trismo, blefaroconjuntivite, sudorese, hipertensão ar- terial, taquicardia que pode evoluir para bradicardia, retenção urinária, priapismo e choque. Exames complementares Não há descrição na literatura brasileira de altera- ções laboratoriais. Tratamento O soro antilatrodéctico não está disponível no Bra- sil atualmente. O tratamento sintomático inclui analgésicos e ben- zodiazepínicos do tipo diazepam (5 a 10 mg em adul- tos, 1 a 2 mg/kg/dose em crianças, IV a cada 4 horas), clorpromazina (25 a 50 mg em adultos, 0,55 mg/kg/ dose em crianças, IM a cada 8 horas) até a reversão da sintomatologia do envenenamento. 26 Várias famílias e gêneros de lagartas (Figura 24 e 25) denominadas urticantes podem causar acidentes benignos com repercussão limitada ao local de conta- to das cerdas com a pele. Apenas o gênero Lonomia (Figura 26) é responsável por quadro sistêmico que pode levar a complicações e óbito decorrente de san- gramentos. Acidentes causados por Lonomia são particular- mente importantes na região Sul, que concentra a maioria dos casos registrados em todo o país, apesar do registro de acidentes em quase todo o Brasil. Mecanismo de ação do veneno O veneno de Lonomia provoca distúrbio na coa- gulação sanguínea, por dois mecanismos: atividade pró-coagulante do veneno por ativação de um ou mais fatores de coagulação, como fator X e protrombina (L. obliqua) e ação fi brinolítica além da pró-coagulante (L. achelous). O resultado fi nal se traduz no consumo dos fatores de coagulação e consequente incoagulabilida- de sanguinea. Também é descrita atividade hemolítica do veneno. ACIDENTE POR LAGARTA DO GÊNERO LONOMIA 27 Acidentes por animais peçonhentos Quadro clínico Local: de início imediato, é indistinguível daquele causado por lagartas de outros gêneros ou famílias. São observados: dor em queimação, muitas vezes intensa e irradiada para o membro, e eventualmente com prurido discreto; edema e eritema (Figura 27), muitas vezes com lesões puntiformes decorrentes da compressão das cerdas na pele (Figura 28); infarta- mento ganglionar regional, vesiculação e, mais rara- mente, bolhas e necrose na área do contato na evolu- ção durante as primeiras 24 horas. Sistêmico: alguns pacientes podem evoluir com a chamada síndrome hemorrágica, que se instalam al- gumas horas após o acidente. Manifestações inespe- cíficas como cefaleia, mal estar, náuseas e dor ab- dominal podem ocorrer, muitas vezes associados ou antecedendo o aparecimento de sangramentos. O quadro hemorrágico mais frequente inclui equimoses (Figura 29) e hematomas de aparecimento espontâ- neo ou provocados por traumatismo/ venopunção, gengivorragia e hematúria (Figura 30). Epistaxe e sangramentos em outros sítios que podem determinar maior gravidade como hematêmese, hemoptise e he- morragia intracraniana são relatados. Lesão renal aguda e mais raramente insuficiência renal crônica são complicações descritas. Exames complementares Provas de coagulação (Tempo de Protrombina, Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada, Tempo de Trombina e Tempo de Coagulação (TC)): cerca de 50% dos pacientes acidentados por Lonomia apre- sentam distúrbio na coagulação sanguínea, com ou sem sangramentos, cuja melhora costuma ocorrer 24 horas após a administração do antiveneno específico. Contagemde plaquetas pode estar alterada, so- bretudo nos casos graves; Bilirrubina total e indireta e DHL encontram-se ele- vadas quando há hemólise; Uréia e creatinina devem ser avaliadas nos quadros com síndrome hemorrágica para detecção de LRA. Tratamento O tratamento específico com soro antilonômico (Salon) está indicado para os casos moderados e gra- ves, ou seja, aqueles que evoluem com coagulopatia (quadro 10). Para a dor que ocorre logo após o contato pode ser utilizado compressas frias ou geladas. Nas formas com alteração sistêmica, deve se fazer a correção da anemia com concentrado de hemácias quando necessário. Não há indicação para administração de plasma, fatores de coagulação ou vitamina K para reversão da coagulopatia, que ocorre após a administração do an- tiveneno. Importante lembrar ainda que os plasma/ fatores de coagulação não devem ser administrados na ausência do antiveneno, pois sua utilização nessas situações está associada a piora ou demora na recu- peração da síndrome hemorrágica. Expansão com cristaloide deve ser iniciada pre- cocemente; se paciente evoluir com LRA oligúria, o aporte hídrico deve ser reavaliado. Na presença de LRA, fazer correção de distúrbios eletrolíticos, de alterações do equilíbrio ácido-base e avaliar os critérios para indicação de diálise. 28 Quadro 10: Tratamento do envenenamento por Lonomia segundo a gravidade Acidente Gravidade Soro Nº de ampolas Tratamento geral Acidente por Lonomia Leve: quadro local apenas; teste de coagu- lação normal Antilonômico (SALon) - Compressa com gelo ou água gelada; analgesia de acordo com a inten- sidade da dor Moderado: quadro local presente ou não; sangramento pode ou não ocorrer (quando presente: em pele e/ou mucosas); teste de coagulação alterado 5 Expansão com cristalóide e monitora- mento da função renal Grave: independente do quadro local, presença de sangramento em vísceras ou complicações com risco de morte ao pa- ciente; teste de coagulação alterado 10 Expansão com cristalóide e monitora- mento da função renal, reposição de hemácias se necessário. Não admin- istrar plasma, fatores de coagulação ou vitamina K como alternativa ao antiveneno 29 Acidentes por animais peçonhentos Na ordem Himenoptera estão incluídas as abelhas, vespas e formigas. Podem causar quadro alérgico, decorrente de poucas picadas, em pessoa previamen- te sensibilizada, ou quadro tóxico, devido ataque por múltiplas abelhas ou vespas. Poucas informações são disponíveis sobre ataques causados por himenópteros, cuja ocorrência aumen- tou a partir da década de 1950, quando foram intro- duzidas acidentalmente abelhas africanas no Brasil, ocorrendo rápida expansão de abelhas africanizadas pelo continente. Serão aqui abordados apenas os acidentes decor- rentes de ataques maciços. Mecanismo de ação do veneno Dentre os componentes do veneno das abelhas destacam-se fosfolipases e melitina que atuam, de for- ma sinérgica, levando à lise de membranas celulares. O peptídio degranulador de mastócitos (PDM) é res- ponsável pela liberação de mediadores de mastócitos e basófi los, como a histamina, serotonina e derivados do ácido araquidônico. Estão presentes também no veneno aminas biogênicos como histamina, seroto- nina, dopamina e noradrenalina, que podem levar a vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e intoxicação adrenérgica. Quadro clínico A reação tóxica sistêmica causada por múltiplas picadas inicia-se com uma intoxicação histamínica, com sensação de prurido, rubor e calor generalizados, podendo surgir pápulas e placas urticariformes disse- minadas, hipotensão, taquicardia, cefaleia, náuseas e/ou vômitos, cólicas abdominais e broncoespasmo. Seguem-se manifestações de intoxicação adrenérgi- ca (taquicardia, sudorese, hipertermia) rabdomiólise e hemólise. Convulsões e arritmias cardíacas são me- nos frequentes. Complicações como insufi ciência respiratória agu- da, LRA e CIVD podem ocorrer. Exames complementares São observados: Hemograma: anemia, leucocitose com neutrofi lia, plaquetopenia, reticulocitose. Bioquímica: elevação de CPK, AST, ALT, DHL, bilir- rubina total com predomínio de indireta, hemoglobina livre, diminuição dos níveis séricos de haptoglobina li- vre. Uréia e creatinina devem ser solicitadas para ava- liar a função renal, bem como eletrólitos como sódio e potássio e gasometria. Tratamento Não existe antiveneno disponível no Brasil, sendo o tratamento feito com medidas de suporte: •retirada do ferrão imediatamente após o acidente e de forma cuidadosa, para não comprimir a glândula presente no aguilhão. •anti-histamínico e corticosteroides; •expansão com cristaloide para os casos de hipo- tensão, bem como para facilitar a excreção de mio e hemoglobina. •para o controle da intoxicação adrenérgica reco- menda-se prazosin; •dependendo da complicação, avaliar a necessida- de de diálise, ventilação mecânica. Estima-se que acidentes com mais de 500 picadas sejam potencialmente letais. O prognóstico depende de atendimento e condições de suporte adequados que devem ser realizados precocemente. SOROTERAPIA Os soros antivenenos são concentrados de imuno- globulinas específi cas e purifi cadas obtidas pela hipe- rimunização de cavalos com venenos dos diferentes animais peçonhentos. Devem ser utilizado em pacien- tes com manifestações clinico-laboratoriais do enve- nenamento. É necessário considerar a possibilidade de haver picada sem envenenamento (“picada seca”). A administração do antiveneno deve ser específi ca de acordo com o tipo de envenenamento, indepen- dentemente do animal causador do acidente ter sido identifi cado ou não e baseado na presença de mani- festações clínicas. Não existe no Brasil um antivene- no polivalente. O tempo decorrido entre acidente e tratamento é fator prognóstico de fundamental importância. Por exemplo, para os acidentes ofídicos, intervalos maio- res que 6 a 12 horas estão mais fortemente associa- dos a complicações locais e sistêmicas. ACIDENTE POR HIMENÓPTEROS 30 Os soros antivenenos são concentrados de imuno- globulinas específicas e purificadas obtidas pela hipe- rimunização O sucesso do tratamento depende também da quantidade adequada segundo a gravidade do enve- nenamento. Quando indicado, o número de ampolas não depende da idade ou peso corporal do paciente. A via de administração é endovenosa, podendo o antiveneno ser diluído em SF ou SG5% na proporção de 1:5 a 1:10, e em quantidade compatível com capa- cidade do paciente em receber o aporte hídrico. Em acidentes escorpiônicos, onde há risco de edema pul- monar, indica-se infundir o antiveneno mais concen- trado ou mesmo administrá-lo sem diluição. Os soros antivenenos são concentrados de imuno- globulinas específicas e purificadas obtidas pela hipe- rimunização O sucesso do tratamento depende também da quantidade adequada segundo a gravidade do enve- nenamento. Quando indicado, o número de ampolas não depende da idade ou peso corporal do paciente. A via de administração é endovenosa, podendo o antiveneno ser diluído em SF ou SG5% na proporção de 1:5 a 1:10, e em quantidade compatível com capa- cidade do paciente em receber o aporte hídrico. Em acidentes escorpiônicos, onde há risco de edema pul- monar, indica-se infundir o antiveneno mais concen- trado ou mesmo administrá-lo sem diluição. Todo o paciente que receber antiveneno deve ser in- ternado por, pelo menos, 24 horas e o tratamento deve ser feito preferencialmente em ambiente hospitalar. Por sua natureza heteróloga, os antivenenos po- dem causar reações precoces (anafilática ou anafilac- tóide) e tardias (doença do soro). A reação precoce pode ocorrer durante a infusão e nas primeirashoras após a soroterapia. A administração prévia de anti-histamínicos (difeni- dramina 50 mg EV em adultos e 1 mg/kg em crianças) e corticosteróides (hidrocortisona 300 a 500 mg em adultos, e 4 a 8 mg/kg em crianças) pode diminuir a frequência e/ou intensidade das manifestações alér- gicas, porém não previnem totalmente o aparecimen- to de reações que variam desde urticária até choque anafilático. Portanto a soroterapia deve ser adminis- trada sob supervisão. Teste de sensibilidade ao soro não deve ser reali- zado, pois tem baixo valor preditivo. Na vigência de reações precoces, a soroterapia deve ser interrompida e as manifestações tratadas de acordo com a intensidade e localização. A droga de escolha é a adrenalina (para adulto, 1/3 ampola por via subcutânea). Após tratada a reação precoce, a so- roterapia deve ser reiniciada mais diluída e em infusão mais lenta, sob estrita observação. Embora de baixa frequência, a doença do soro pode determinar o aparecimento, 5 a 21 dias após a soroterapia, de febre, artralgia, urticária, adenomega- lia. O tratamento com prednisona por via oral (adultos: 20 a 40 mg/dia, crianças: 1 mg/kg/dia) por 5 a 7 dias mostra resultados satisfatórios. Todos os soros antivenenos produzidos no Brasil (Instituto Butantan-SP, Fundação Ezequiel Dias-MG, Instituto Vital Brazil-RJ e Centro de Produção e Pes- quisa em Imunobiológicos-PR) são adquiridos pelo Ministério de Saúde que distribui às secretarias esta- duais de saúde e estas, por sua vez, a hospitais cre- denciados em municípios estratégicos, não havendo, portanto, venda comercial no país. 31 Acidentes por animais peçonhentos Indicações bibliográficas Amaral CF, Lopes JA, Magalhaes RA, de Rezende NA. Electrocardiographic, enzymatic and echocardiographic evidence of myocardial damage after Tityus serrulatus scorpion poisoning. Am J Cardiol 1991;67:655-7. Arocha-Piñango CL, Guerrero B. 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