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Violência doméstica medidas protetivas à mulher sua natureza e seu alcance

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JUS І Belo Horizonte, ano 43, n. 27, p. 109-116, jul./dez. 2012
Violência doméstica: medidas protetivas 
à mulher – Sua natureza e seu alcance
Laércio Conceição Lima
5º Promotor de Justiça – Criminal e Defesa dos 
Direitos Humanos – do Estado de Minas Gerais, 
na comarca de Uberaba. Graduado pela Faculdade 
de Direito de Franca, em 1984.
resumo: O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre as medidas 
protetivas conferidas à mulher pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, 
apelidada de “Lei Maria da Penha”. O artigo também disserta sobre a natureza 
dessas medidas protetivas e a dificuldade de sua aplicação, em face disso, 
cuidando-se em sua maioria essa de natureza civil. Isto ocorre em razão da 
confusão estabelecida entre a natureza das medidas protetivas e concessão 
de competência cumulativa ao juízo criminal para o julgamento das causas 
civis e criminais previstas na referida Lei. Essa competência deve perdurar até 
que sejam criados os Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar. 
No que diz ao alcance das medidas protetivas, afora o respeito à dignidade 
da pessoa humana, abarca ou visa à proteção do ambiente doméstico e fami-
liar, que necessita de harmonia e paz para o engrandecimento da família e 
de seus membros, proporcionando a boa educação especialmente dos filhos 
menores de idade que reclamam esse ambiente saudável para seu desen-
volvimento como pessoa, futuros homens e mulheres. O trabalho pretende 
realizar crítica construtiva em razão do avanço conquistado pelas mulheres 
e negativa no sentido de que devem ser criados os Juizados de Família, com 
competência para conhecer e julgar as causas de natureza cautelar (medidas 
protetivas de urgência) e das causas principais (separação judicial, reconhe-
cimento e dissolução de sociedade familiar de fato, guarda e regulamenta-
ção de visitas, alimentos) cuja competência pertence às Varas de Família ou 
Juízes Cíveis (onde aquelas não houver), em face da preponderância civil 
dessas medidas. A metodologia utilizada se baseia em pesquisas realizadas 
na doutrina em questão e estudiosos como Rogério Sanches Cunha, Ronaldo 
Batista Pinto e Maria Berenice Dias.
Palavras-chave: Lei Maria da Penha. Violência doméstica. Medidas protetivas.
Sumário: 1 Introdução – 2 Natureza das questões relacionadas à aplicação 
das medidas protetivas – 3 Alcance das medidas protetivas – Conclusão 
– Referências
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1 introdução
A proteção e a coibição da violência contra a mulher no âmbito familiar e 
domés tico constituem comando constitucional. A inserção na Carta da República 
(art. 226, §8º) dessa especial proteção representa o cumprimento de obrigação 
assumida pelo Brasil em decorrência da Convenção sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação contra a Mulher, aprovada pela Assembleia Geral das 
Nações Unidas, por intermédio da Resolução nº 34/180, de 18 de dezembro de 1979.
Não se trata, pois, de favor do constituinte às mulheres. No entanto, não 
se pode deixar de reconhecer o significativo avanço que isso representa. Essa 
consagração de mecanismos de defesa e coibição de violência contra a mulher 
no âmbito familiar e doméstico foi exalçada à proteção constitucional pela Carta 
Magna de 1988, a “Constituição Cidadã”, na fala do imortal e saudoso Deputado 
Federal Ulysses Guimarães.1 Todavia, somente em 2006 essa proteção mereceu o 
tratamento normativo infraconstitucional, quando foi promulgada a Lei nº 11.340, 
de 7 de agosto de 2006, apelidada de “Lei Maria da Penha”.2 Somente nesta data 
é que o País desincumbiu-se daquela obrigação assumida na Convenção já men-
cionada, ou seja, quase 27 anos depois.
Não foi uma dádiva do legislador brasileiro, mas sim uma conquista a duras 
penas da mulher, que se engajou na luta contra a violência e qualquer forma de 
discriminação do homem no ambiente doméstico e familiar.3
1 Art. 226, caput e §8º, CF: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] §8º O 
Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando meca-
nismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.
2 A intitulação à Lei nº 11.340/2006 de Maria da Penha Maia Fernandes, de Fortaleza/CE, deve-se 
à luta desta mulher, farmacêutica, que sofreu violência gravíssima por parte de seu marido: che-
gou a ser sofrer agressões durante seu casamento e quase foi assassinada por duas vezes, uma 
em 29 de maio de 1983, sendo que na primeira vez foi vítima de assalto simulado, do qual ficou 
paraplégica, e na segunda, pouco mais de uma semana daquele primeiro fato, ele buscou ele-
trocutá-la por meio de uma descarga elétrica enquanto ela tomava banho; agressões desse tipo 
vinham ocorrendo com tantas outras mulheres deste país. Os fatos foram levados ao conheci-
mento da Comissão Internacional de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, 
que cobrou do governo brasileiro informações e nunca as receberam. Esse descaso fez com que 
a Comissão da OEA, por meio do Relatório nº 54, de 2001, condenasse o Brasil a pagar uma inde-
nização de 20 mil dólares em favor de Maria da Penha, responsabilizando o País por negligência e 
omissão frente à violência doméstica, deixando assim de cumprir a tempo a sua obrigação assumida 
pela Convenção de 1979 já referida no texto. A mencionada indenização foi paga pelo Governo 
do Pará no ano de 2008, em audiência pública e com pedido de desculpas. Cf. DIAS. A Lei Maria 
da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar 
contra a mulher, p. 15-17.
3 A violência contra a mulher pode-se caracterizar nas formas: “física, psicológica, sexual, patrimo-
nial e moral”, nos termos do art. 7º, I a V, da Lei Maria da Penha.
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2 natureza das questões relacionadas à aplicação das 
medidas protetivas
A implantação das medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria 
da Penha não foi e ainda não está sendo fácil. Houve sérias confusões sobre sua 
natureza e competência para sua aplicação. Ainda perdura esse dilema ou a má 
interpretação da Lei até os dias atuais. Confundem-se questões civis e criminais 
previstas nesse documento legislativo histórico. Essa confusão advém do fato de 
a citada Lei prever a cumulação de competências civil e criminal em seu art. 334 
para a solução das causas ou questões atinentes à violência doméstica e familiar 
contra a mulher.
Enquanto não são instalados e estruturados os Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher, a competência para a solução das questões 
ou causas civis e criminais pertence ao juízo criminal da Justiça comum (art. 33 da 
Lei nº 11.340/2006). Todavia, aqui está a celeuma criada em face dessa cumula-
ção de competências. Os juízes têm olvidado que existem causas civis e criminais, 
inde pendentes umas das outras. Tudo tem sido tratado como se causas criminais 
fossem as questões atinentes às medidas protetivas. Um erro grave de interpre-
tação desse novel instrumento legal, conquistado com um árduo e persistente 
trabalho das mulheres do Brasil e dos vários quadrantes do Mundo. Isso, sobre-
maneira, tem prejudicado a consecução do avanço dessa conquista, podendo 
mesmo fomentar um verdadeiro retrocesso.
As medidas de urgência relacionadas à proteção da mulher, que obrigam o 
agressor, previstas no art. 22, incisos II (“afastamento do lar, domicílio ou local de 
convivência com a ofendida”), III (“proibição de determinadas condutas, entre as 
quais: proibição de contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por 
qualquermeio de comunicação (alínea “b”); “freqüentação de determinados luga-
res a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida” (alínea “c”), 
IV (“restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe 
de atendimento multidisciplinar ou serviço similar”), e V (“prestação de alimentos 
provisionais ou provisórios”), bem aquelas estabelecidas nos artigos 23 e 24 da 
citada lei (medidas de urgências em favor da ofendida),5 possuem natureza civil. 
4 Art. 33, caput: “Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as 
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as 
previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente” (grifos nossos).
5 “Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I - encaminhar a ofen-
dida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; 
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Já as medidas atinentes ao inciso I (“suspensão da posse ou restrição do porte de 
armas”) e ao inciso III, alínea “a” (“proibição de aproximação da ofendida, de seus 
familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e 
o agressor”), do art. 22, possuem natureza criminal. Aliás, estas são as únicas, de 
todas as medidas, que detêm esta natureza, o que implica em verdadeira anteci-
pação da tutela penal.
Pois bem, para a realização ou consecução das medidas civis é necessário 
lançar mão do processo cautelar, nos termos do art. 13 da Lei nº 11.340/2006.6 Por 
outro lado, para a efetivação das medidas protetivas criminais, é necessário o pro-
cesso penal cautelar. Para tanto, imperativo a existência de inquérito policial, que só 
pode existir pela iniciativa da pessoa (mulher) ofendida no âmbito da família e do 
lar. Isto é, necessário que essa iniciativa seja formalizada mediante manifestação 
expressa de vontade (seja por representação formal ou mediante anotação no 
termo de declarações) da pessoa ofendida.
Para a solução das questões ou causas civis e criminais, reclama-se o devido 
processo legal, previsto na Constituição Federal em seu art. 5º e inciso LIV.7 Não 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após 
afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direi-
tos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos.
 Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade 
particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: 
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporá-
ria para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, 
salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao 
agressor; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos mate-
riais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.”
6 “Art. 43. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da 
prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de 
Processo Pena e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao 
idoso que não conflitarem com o estabelecimento nesta Lei” (grifos nossos).
 O CPC trata das questões cautelares nos seus artigos 796 a 889. Diz o art. 796: “O procedimento 
cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre depen-
dente”. Importante transcrever o art. 798, que concede ao juiz o poder geral de cautela: “Além dos 
procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste Livro, poderá 
o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio 
de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil 
reparação”. Vale a pena ler os demais artigos sobre o processo cautelar. A própria Lei Maria da 
Penha, no art. 19, §1º, prevê essa natureza cautelar: “As medidas protetivas de urgência poderão 
ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do 
Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado”. Trata-se de poder geral de cautela 
concedido ao órgão jurisdicional.
7 Art. 5º, LIV: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (grifos 
nossos).
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é aceitável que seja qualquer processo, mas aquele apropriado para uma solução 
correta e clara da situação posta à apreciação do órgão jurisdicional. Não é buro-
cracia legal, porém verdadeira garantia constitucional, pois que isto implica em 
segurança jurídica da pessoa humana, quer seja aquela intitulada de agressor, 
que sofrerá a aplicação das medidas, quer seja aquela reconhecida como ofendida, 
que se beneficiará dessas medidas.
3 Alcance das medidas protetivas – Conclusão
Assim, enquanto não forem criados os Juizados Especiais, essa confusão na 
aplicação das medidas protetivas deve ser expelida, sob pena de significar um 
grande retrocesso no avanço conquistado pelas mulheres.
Espera-se, pois, um esforço maior dos magistrados, em primeiro e segundo 
graus de jurisdição, no cumprimento dos comandos constitucional e legal, para que 
essas medidas protetivas de urgência (artigos 22, 23 e 24 da Lei Maria da Penha) 
não caiam no desprestígio e no olvido das pessoas que delas estão a neces sitar, por 
questão de sobrevivência e para proteção de sua dignidade como pessoa humana, 
princípio basilar da República brasileira, inserto no art. 1º, III, da Carta Constitucional.
É bom relembrar que as medidas protetivas possuem natureza cautelar civil. 
São elas aplicadas em caráter preparatório de eventuais ações principais, tais como 
separação judicial, reconhecimento e dissolução de sociedade familiar de fato, 
guarda de filhos e regulamentação de visitas, alimentos. Estas ações são da com-
petência do juízo cível e não do juízo criminal. A competência para o conhecimento 
e julgamento dessas medidas de proteção, de cunho eminentemente cautelar e 
civil, foi cometida ao juízo criminal apenas temporariamente e de forma transitória. 
Esta comissão ou este cometimento feito pelo legislador ordinário, ao disciplinar 
as questões relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher, foi deter-
minada pelo art. 33 da Lei nº 11.340/2006. Trata-se de exemplificação em número 
aberto por várias formas no art. 7º e seus incisos I a IV, da citada lei. Esta lei — inti-
tulada “Lei Maria da Penha” — regulamenta o disposto §8º do art. 226 da CF.
Não é por demais dizer que o alcance das medidas protetivas, afora o res-
peito à dignidade da pessoa humana, abarca ou visa à proteção do ambiente 
domés tico e familiar, que necessita de harmonia e paz para o engrandecimento 
da família e de seus membros, proporcionando a boa educação especialmente 
dos filhos menores de idade que reclamam esse ambiente saudável para seu desen-
volvimento como pessoas, futuros homens e mulheres.
Disso tudo vê-se que é urgente a estruturação e funcionamento dos Juizados 
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, para que o avanço conquistado 
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pelas mulheres não venha retroceder em face da acanhada aplicação das medidas 
protetivas de urgência e de outras providências previstas na Lei Maria da Penha.
Urgente, pois, a implantação desses Juizados Especiais, fazendo aqui um 
alerta e um pedido à classe política para que busque junto ao Tribunal de Justiça 
e à Procuradoria-Geral de Justiça o compromisso de sua concretização, a fim de 
que a Lei seja aplicada em sua plenitude e correção, e com isso minimizar a confu-
são já falada e o desafogamento dos juízos criminais que estão assoberbados de 
serviços de outra natureza e não possuem as condições e a formação necessárias 
para o cumprimento dessa obrigação legal e constitucional.
Enquanto isso não venha a acontecer, seria necessário ao menos que fosse 
reestudada e revista a questão da competência para a aplicação de medidas de 
natureza civil, devendo cometê-las aos Juízes de Família ou aos Juízes Cíveis, tiran-
do-as das mãos dos juízes criminais, já que são eles quem detém a competência 
para as causas principais relacionadas a tais medidas e por isso estão mais afeitos 
às questões e causas civis.
Talvez essa criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher 
devesse ser repensada, uma vez que essas medidas protetivas, em sua quase tota-
lidade, possuem natureza civil e caracterizam-se como questões de família. O 
ambiente de Delegacia de Polícia não é apropriado para tratar de questões dessa 
natureza, que reclama uma sensibilidade superior para resolvê-las, além de exigir 
um trabalho multidisciplinar, como a própria Lei Maria da Penha exige em seu 
art. 29. É natural dizer que as questões de família já exigem esse tratamento, o que 
dispensaria essa previsão legal especial.
Por serem essas medidas protetivas caracterizadas como questões de famí-
lia, indiscutivelmente, além de que elas são de natureza cautelar e servem às 
causas principais (separação judicial, reconhecimento e dissolução de sociedade 
familiar de fato, guarda e regulamentação de visitas, alimentos) cuja competência 
pertence às Varas de Família ou Juízes Cíveis (onde aquelas não houver), melhor 
seria a criação de Juizados de Família, com competência para conhecer e julgar as 
causas de natureza cautelar (medidas protetivas de urgência) e aquelas causas 
principais. Em função dessa mudança, importa ainda rever a criação de Delegacias 
especializadas para essas questões civis, que não é um ambiente propício para a 
solução das coisas da família, envolvendo questões de filhos menores. Dever-se-ia 
cometer os serviços de assistência jurídica à Defensoria Pública, que passaria a 
promover a defesa dos interesses das mulheres vítimas da violência doméstica e 
familiar. Por sua vez, a Delegacia de Polícia especializada ficaria tão somente com 
a atribuição de cuidar das questões criminais decorrentes dessa violência.
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É possível que isso seja mais realista e produza um resultado mais promissor, 
pois a estruturação daqueles Juizados Especiais de Violência Doméstica contra a 
Mulher poderá não acontecer por questões orçamentárias e pelo fato de que a 
sua competência é bastante restrita, levando em conta que, na maioria dos casos, o 
que é extraído de minha experiência funcional, as mulheres não desejam a repre-
sentação criminal contra seus maridos ou companheiros, mas apenas a aplicação 
das medidas protetivas. Nos Juizados de Família, com competência para as cau-
sas principais de separação judicial, reconhecimento e dissolução de sociedade 
familiar de fato, guarda de filhos e regulamentação de visitas, alimentos, indis-
cutivelmente os problemas envolvendo a violência doméstica seriam resolvidos 
com maior eficiência e presteza.
Fica aqui essa reflexão, depois de cinco anos de promulgação da Lei Maria da 
Penha.
Uberaba, 18 de agosto de 2011.
Violence domestique: mesures protectrices à la femme – Sa nature et 
sa portée
résumé: L’article présent a l’objectif de discourir sur les mesures protectrices 
conferées à la femme par la Loi 11.340, du 7 août 2006, appelée « Loi Maria 
da Penha ». L’article disserte aussi sur la nature de ces mesures protectrices 
et la difficulté de son aplication, devant cela, ayant attention principalement 
à celle de nature civile. Cela arrive en raison de la confusion établie entre la 
nature des mesures protectrices et la concession de compétence cumulative 
à la chambre criminelle pour le jugement des causes civiles et criminelles 
prévues dans la loi reférée. Cette compétence doit perdurer jusqu’à la 
création de tribunaux spéciaux pour la Violence Domestique et Familiale. 
En ce qui concerne la portée des mesures protectrices, sauf le respect 
à la dignité de la personne humaine, il embrasse ou vise la protection du 
milieu domestique et familial, où on a besoin d’harmonie et de paix pour 
le grandissement de la famille et de ses membres, en favorisant la bonne 
éducation spécialement des enfants mineurs qui réclament ce milieu sain 
pour leurs développements comme personnes, hommes et femmes de 
l’avenir. Le travail a l’intention de faire une critique constructive en raison 
du progrès conquis par les femmes et une critique négative dans le sens 
qu’on doit créer les tribunaux de famille, avec la compétence de connaître 
et de juger les causes de précaution (mesures protectrices d’urgence) et des 
causes principales (séparation judiciaire, reconnaissance et dissolution de 
la société familiale en réalité, guarde d’enfants, réglementation des visites, 
alimentation) dont la compétence appartient aux Tribunaux Spéciaux 
de Famille et de Chambre Civiles (où ceux-là n’y existent pas), devant la 
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prépondérance civile de ces mesures. La méthodologie utilisée a la base de 
recherches sur la doctrine concernée et de studieux comme Rogério Sanches 
Cunha, Ronaldo Batista Pinto e Maria Berenice Dias.
Mots clés: Loi Maria da Penha. Violence domestique. Mesures protectrices.
referências
CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) 
comentada artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à 
violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira 
de Normas Técnicas (ABNT):
LIMA, Laércio Conceição. Violência doméstica: medidas protetivas à mulher: sua natureza e 
seu alcance. JUS, Belo Horizonte, ano 43, n. 27, p. 109-116, jul./dez. 2012.
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