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ABOLICIONISMO PENAL
ORIGEM
Louk Hulsman, criminólogo holandês, foi o responsável por desenvolver a teoria do abolicionismo penal, sendo um dos principais nomes do movimento. O pensamento abolicionista foi fortemente influenciado pela criminologia crítica, conectada com o cotidiano da década de 60.
Hulsman elabora a sua teoria idealizando uma melhoria na vida de todas as pessoas. Mostrando que o sistema penal não se importa com as intenções da vítima, nem com a vida social do indivíduo processado, antes, segrega-os, congelando apenas a ação da conduta criminosa (HULSMAN, 1997, p. 05), buscando atribuir a causalidade da sua conduta a um tipo penal e, assim, atribuir uma culpa (HULSMAN; DE CELIS, 1993, p. 59-60).
A função que se dá à pena é uma das principais responsáveis pela crise atual do sistema carcerário. A ressocialização e prevenção do crime proposta se dá por meio da segregação dos indivíduos, de modo que estes devem ser excluídos da sociedade, a fim de que sejam educados e disciplinados, para então se reintegrarem. O movimento abolicionista propõe uma política criminal alternativa, visando a abolição do direito penal através de formas diversas de resoluções de conflito que não o castigo, dando um fim ao sistema carcerário. Já que esperar que o sistema penal acabe com a criminalidade é esperar em vão, Sem dúvida, na concepção Hulsmaniana, a prisão é um castigo. Propaga-se que as penas degradantes não são mais adotadas, as penas naturais não existem mais, no entanto atirar um cidadão na cadeia não lhe trará nenhum tratamento digno, pois a privação da liberdade, a privação do convívio social, a privação da prática sexual e a segregação das pessoas de outro sexo, degradam tanto os corpos, quanto as almas. Além do mal da prisão, outros males aparecem acompanhando o sofrimento. O preso não poderá mais trabalhar, assim, como sustentará a sua família? Também não poderá mais assumir o compromisso da educação e do poder familiar sobre a família, está ainda sofrerá com uma estigmatização reflexa, pois agora há na família algo de errado, eles têm um anormal entre eles, devem ser todos anormais então. Definitivamente, a pena não é só a perda da liberdade.
OS TRÊS PRINCIPAIS EIXOS OU FUNDAMENTOS DO ABOLICIONISMO
Fenomenológica-historicista - Nils Christie
O foco desta fundamentação está para o caráter destrutivo das relações comunitárias do sistema penal, bem como a dissolução das relações de horizontalidade e a ameaça da verticalização corporativa
O crime, de acordo com esse pensamento, é uma criação a partir da atribuição de significado a um ato e a distância social seria a responsável por aumentar a tendência que as pessoas têm de atribuir a “etiqueta” de “crimes” a alguns atos e de “criminosos” a alguns indivíduos, ou seja, o etiquetamento que se faz presente na linguagem e na mente dominante, atrapalha e influencia, muitas vezes, a mentalidade da sociedade e, pior, dos julgadores e dos operadores do sistema penal que passar a descriminar o individuo e o trata-lo como intruso, uma anormalidade da sociedade.
O autor também fala sobre as relações de horizontalidade entre os membros da sociedade onde os conflitos sociais são resolvidos sem intervenção estatal, através do diálogo e a aproximação entre os envolvidos. Pois quando existe uma preferência pela atuação do poder coercitivo da polícia ao invés do diálogo, cria-se uma condição onde atos como uma simples perturbação na vizinhança se repitam ao ponto de se atribuir o significado de crime para esta ação. 
Christie é considerado atualmente um minimalista, já que acredita que em algumas situações o Estado deve intervir, mas somente em ocasiões excepcionalíssimas, por exemplo, em casos em que as partes não desejam conciliar-se, havendo uma resistência por parte do agressor ou do agredido, ou ainda por parte dos dois, um Tribunal impessoal se faria necessário a fim de solucionar o problema.
Marxista – Thomas Mathiesen
A proposta de Mathiesen aspiraria não somente a abolição do sistema penal, mas também a abolição de quaisquer estruturas repressivas da sociedade. Como defensor de uma reforma permanente e gradual do sistema penal, justifica seu posicionamento em relação à não construção de novas instituições prisionais a partir de oito premissas, quais sejam:
“(1.ª) a criminologia e a sociologia demonstram que o objetivo de melhora do detento (prevenção especial) é irreal, sendo contestável efeito contrário de destruição da personalidade e a incitação da reincidência; (2.ª) o efeito da prisão no que diz respeito à prevenção geral é absolutamente incerto, sendo possível apenas estabelecer alguma reação do impacto de políticas econômicas e sociais na dissuasão do delito; (3.ª) grande parte da população carcerária é formada por pessoas que praticaram delitos contra a propriedade, ou seja, contra bens jurídicos disponíveis; (4.ª) a construção de novos presídios é irreversível; (5.ª) o sistema carcerário, na qualidade de instituição total, tem caráter expansionista, ou seja, suscita novas construções; (6.ª) as prisões funcionam como formas institucionais e sociais desumanas; (7.ª) o sistema carcerário produz violência e degradação nos valores culturais; e (8.ª) o custo econômico do modelo carcerário é inaceitável”
Ibidem, p. 247-248.
O autor sustenta o direcionamento de políticas sociais aos sujeitos vulneráveis e a descriminalização das drogas. Voltando-se ao fato de que grande parte da população carcerária é composta por pessoas que praticam crimes contra o patrimônio, portanto conclui que a guerra contra o crime deveria ser, na verdade, uma guerra contra a pobreza. 
Entre suas contribuições a que mais se destaca diz respeito à criação de novas formas de proteção à vítima. Diante do desamparo das vítimas pelo sistema atual, propõe, no lugar do aumento da punição ao transgressor, o aumento do apoio à vítima levando-se em consideração a gravidade do ocorrido.
Fenomenológica - Louk Hulsman
Hulsman conclui que o sistema penal possui um problema em si mesmo, não demonstrando eficácia na resolução dos problemas a que se propõe solucionar. A melhor alternativa seria, portanto, sua abolição total como sistema repressivo.
Dentre os motivos apontados três seriam fundamentais para a abolição do sistema penal. Em primeiro lugar, o sistema penal seria responsável por causar sofrimentos desnecessários, distribuídos socialmente de maneira injusta. Em segundo lugar, o sistema penal não apresentaria nenhum efeito positivo sobre aqueles envolvidos em conflitos. Por último, defende a tese de que o controle do sistema é extremamente difícil de ser mantido.
As mudanças começariam na linguagem pois seria impossível superar a lógica do sistema penal sem rejeitar seu vocabulário, que constitui a base dessa lógica.
“Segundo Hulsman, o câmbio na linguagem permitiria maior tolerância com modelos culturais diferenciados e a construção da situação problemática como acidente, caso fortuito, fato trágico da vida, não segregando de forma maniqueísta a sociedade entre vítimas e criminosos.”
Carvalho, Salo de. Op. cit., p. 253.
O sistema mostra os condenados como culpados, alimentando o sentimento de vingança trazendo traumas, mazelas, desigualdades sociais, o que não recupera ninguém pelo contrário, ensina um caminho escuro, onde o retorno para o sistema através da reincidência é o esperado. Segundo Hulsman, em toda a sua vida, ele jamais viu alguém mau. Já conheceu pessoas difíceis, mas ninguém que após um esforço de compreensão, pareça repugnante. De um lado põe-se como já dito o bem, a ordem, a segurança pública, o interesse geral, a defesa dos valores sociais relevantes. Após este discurso manipulador, a sociedade influenciada adequa este pensamento ao cidadão infrator, a partir daí surge o desejo e o fundamento do encarceramento em nome da proteção da ordem. Talvez antes da sociedade pensar em enviar alguém para o cárcere para “pagar” pelos seus crimes deveria meditar nas palavras de Roberto Lyra: “antes de se pedir a prisão de alguém deveria se passar umdia na cadeia”.
Hulsman admite também que o Estado poderá continuar exercendo uma jurisdição capaz de resolver os conflitos, pois certamente, deverá haver um órgão que imponha um poder coercitivo, desde que, não seja um órgão penal. Conclui que embora, existam esferas de decisão e de ação que devam permanecer sob a direção do Estado, seria mais vantajoso se os conflitos fossem resolvidos pelas próprias pessoas ou por organizações que lhe são próximas.
PROPOSTA CENTRAL
De forma geral o abolicionismo propõe um novo olhar sobre o sistema de justiça penal, propõe uma descriminalização, além de lançar novas alternativas para a solução dos problemas jurídico-criminais, afirmando que, em nenhuma hipótese, o sistema penal da forma que é concebido poderá prevenir e reprimir a criminalidade, pelo contrário rouba os conflitos de seus intervenientes e, gera violência sob o próprio amparo estatal. A abolição é, não somente do sistema de justiça penal, mas também da cultura e do pensamento punitivo. Hulsman assim a sintetiza: “A justiça criminal existe em quase todos nós, assim como em algumas áreas do planeta o ‘preconceito de gênero’ e o ‘preconceito racial’ existem em quase todos. A abolição é, assim, em primeiro lugar, a abolição da justiça criminal em nós mesmos: mudar percepções, atitudes e comportamentos”.
REFERÊNCIAS
KULLOK, Arthur. O ABOLICIONISMO PENAL SEGUNDO LOUK HULSMAN. Disponível em: https://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/2014/09/2014_09_06907_06935.pdf
PAVAN, Janaína. O pensamento abolicionista como solução para o problema do encarceramento: utopia ou realidade? Disponível em: http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=291
HULSMAN, Louk; DE CELIS, Jacqueline Bernat. Penas perdidas: O sistema penal em questão. Tradução de Maria Lúcia Karam. 1 ed. Rio de Janeiro: Luam, 1993.

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