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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
DISCIPLINA; LITERATURA INFANTO JUVENIL / PEDAGOGIA
DOCENTE: Prof. Dra. Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina
DISCENTE: Darsône Souza Vieira
05/09/2017.2
MACHADO, Ana Maria - ABRINDO CAMINHO.
Uma experiência de leitura
O livro me ganha já pela capa, tem cores fortes, o que o faz atraente aos meus olhos e depois o título, também me chama atenção, afinal “Abrindo caminho”, com esse título, um livro pode tratar de tantas coisas...
Fora a capa, agora movida pela curiosidade mesma, logo na primeira página, imagens de uma cena que me soa medieval e embaixo a primeira frase: “No meio do caminho de Dante tinha uma selva escura. O início e a sonoridade da frase me remetem à Drumont, então, entro logo no que penso ser uma paródia?? E esse Dante, será o Alighieri? Pela paisagem medieval, com um castelo ao fundo, um personagem diante de uma selva, concluo, sim, só pode ser, então procuro me lembrar do que penso que sei da obra de Dante e, claro, a divina comédia. Opa, uma referência forte! Mas, isso não é um livro de literatura juvenil? Mas, afinal, como deve ser literatura para jovens e crianças?
“Mas havia uma selva escura no meio do caminho de Dante”…, continuo cada vez mais curiosa, mil perguntas. O que tem o Drumond com a selva escura de Dante? Viro a página e lá está o Carlos Drumond de Andrade, com seu papel, caneta, maleta, e “sua” pedra, que me parece insignificante ali, diante de uma situação, aparentemente impeditiva, um fim de estrada, dado um precipício, impedindo-o de seguir viagem. À sua frente, montes verdes, mas verdes por quê?? È uma mata? Observo melhor as imagens, e chego à conclusão que aquele verde não representa afinal, uma mata, pois se parece mais com um deserto… e ele lá, parado com a sua pedra…
Continuo devagar, ainda que dominada por uma curiosidade extrema. Ah, já sei, é uma metáfora, como no poema mesmo. Então, percebo que estou ansiosa por apreender o estilo, a linha de escrita, quero me orientar, mas o livro é uma explosão de imagens, de rimas e métricas e a saída é mesmo me deixar levar pelo que me entrega a autora e as minhas próprias emoções.
A próxima página me reserva Tom Jobim, penso, só pode ser ele, violão do lado, rio, pão de açúcar. Opa! Adivinhei e penso: olha só que diferente esse livro! O que ele pode despertar em crianças e jovens? Eles entenderão sobre as “pedras” e tudo o mais que havia no caminho desses personagens? E como uma professora pode apresentar isso aos alunos? Desejo muito saber mais sobre aquelas pessoas, mas por enquanto me atenho ao que a autora me fornece e o que me vem de pronto à memória com a leitura.
Sigo para próxima página e nela, as figuras/sombras de Dante, Carlos e Tom e, nítidos, um rio, uma pedra enorme e por trás dela a selva densa de Dante. E os versos; “Era pau. Era pedra. Era o fim do caminho?” Com certeza, trata-se de um verso de “águas de março”, a música de Tom Jobim, contudo, a sonoridade dos versos me fala mais da voz de Elis Regina, que foi em sua interpretação que ouvi pela primeira vez essa música. Mas, observo que aqui, os versos estão no passado. “Era pau? Era pedra? E a pergunta, era o fim do caminho? O verbo da frase no passado, e mais as imagens esmaecidas, esse conjunto me remete á morte, por que agora a pedra de Drumond se assemelha a uma lápide. E, então, “era o fim do caminho?” E quem vai dizer com certeza? Hum, assunto de “gente grande”!!!
Percebo a tempo que estou, nesse instante, me prendendo demais ao que eu julgo que a autora deseja comunicar com a sua obra e quase esquecendo de que sou livre em minha “experiência interna” nessa leitura e em tempo lembro-me que, conforme explicita ROSENFELD em Estruturas e problemas da obra literária, que;
“A literatura é um lugar privilegiado em que a experiência “vivida” e a contemplação crítica coincidem num conhecimento singular, cujo critério não é exatamente a “verdade” e sim a “validade” de uma interpretação profunda da realidade tornada em experiência. (ROSENFELD).
Agora, com essa ideia de liberdade que me fornece Rosenfeld, salto para a próxima página, e inesperadamente, uma menina com este mesmo livro, confortavelmente instalada em um sofá, lendo a mesma página da qual acabei de “escapar”, ela também, assim como eu, parece estar refletindo, e concluo isso pela forma como ela olha a paisagem que se abre em sua janela enquanto mantém o livro aberto e abaixo os versos: “Cada um no seu canto, com seu canto nos chamou.” “E nenhum de nós, nunca mais, ficou sozinho”. Sou levada a refletir. Sim, realmente, nos sentimos mais próximos, nos identificamos com aqueles que conseguem, seja em prosa ou em verso. “nos chamar”, ao nomear o que tantas vezes foi o nosso caminho e uma vez que compreendemos que outras pessoas sentiram coisas que, também, em algum momento de nossas vidas sentimos isso conforta, leva um pouco da sensação de não sermos os únicos à encontrar “pedras”, “selvas escuras” ou achar que é o “fim do caminho”.
Porém, chega de memórias de buscas ao inferno, chega de pedras pelo caminho e das tantas vezes que julguei ser o fim do caminho. 
Salto para a próxima página e é nela que percebo e confirmo que há um livro dentro do livro e, lá estão, em figuras interpostas, com suas respectivas paisagens, Dante entrando em sua densa selva que agora tem uma estrada, Tom com seu violão, achou uma ponte que o levou através do rio para o outro lado e Drumond parece ter feito um túnel da sua (dele), gigantesca pedra e todos estão, claramente, seguindo sem obstáculos, e os versos: “No meio do caminho de Dante teve uma estrada. No meio do caminho de Carlos teve um túnel. No meio do caminho de Tom teve uma ponte.” O texto me fala claramente de superação, de enfrentar dificuldades e encontrar saídas, transformando o que problemas em soluções criativas. Não sou conhecedora profunda da vida destes personagens, me dá vontade de “conhece-los” melhor.
Na página seguinte leio primeiro os versos, deixo as imagens para uma leitura posterior: “No meio do caminho de Cris tinha um oceano.” Quem é Cris, por deus?1? A autora vem, desde o início, me trazendo personagens históricos, inegavelmente conhecidos, por uma razão ou outra, famosos, então as imagens me ajudarão à desvendar e de fato; caravelas, mar alto. Agora... CRIS ? Sorrio interiormente, quanta intimidade com Cristóvão Colombo!!! Considero isso um toque de humor e isso porque possivelmente, é minha ideia de humor, afinal, literatura é inferir, é “viajar”, tem a ver com nossas experiências subjetivas.
Página seguinte e vou direto aos versos, que continuam “brincando” com o poema do Drumond: “No meio do caminho de Marco Polo tinha inimigo e deserto”.
Diante de outro personagem, Marco Polo. Percebo que a autora segue um padrão na sua escolha de personagens, todos foram pessoas que em algum momento de suas vidas, tiveram sonhos que requeriam a disposição para o enfrentamento, disposição para atirarem-se em busca de suas visões e isso me instiga a memória. Lembro que Marco polo está relacionado ao desbravar de mundos nunca antes possíveis de alcance, como a China. Com terras antes, desconhecidas, como o meu próprio país, que se encontrava na rota de Cristovão Colombo. Tudo que entendo da vida desses personagens são trazidos pelo fio da memória, de livros de história, de menções em filmes, de livros que já li, mas nesse instante me parecem insuficientes para uma leitura mais eficaz, ainda que as imagens me auxiliem na composição de parte dessas histórias. 
Concluo, nessa altura da leitura que, definitivamente, esse é um livro para adultos também, e desses que já tem alguma “quilometragem” literária, alguns conhecimentos enfim, que lhe dê sustentação em termos de referências para a viagem na qual embarquei ao abrir e iniciar a leitura deste livro.
Retorno a Dante, em sua selva escura e me vem a pergunta, quem nos dias atuais, estudando em uma escola pública teria recebido desta, estímulo suficiente para “encarar” 788 páginas de “A divina comédia em dias de redes sociais,“fast food cultural”, ou de apropriar-se de conhecimentos universais necessários para outras leituras, mas penso também que sempre é tempo.
Sigo em frente, lendo tudo quase de um fôlego só. Fisgada completamente, mas dou uma pausa, busco mais pistas sobre a leitura e viro o livro e lá está uma síntese orientadora do livro. Me sinto envergonhada, contudo, gostei de não ter lido ali antes, pois essa experiência teria sido outra, uma vez que as informações teriam dirigido o meu olhar e possivelmente, reduzido meu encantamento enquanto “desbravava” o livro. 
Retomo a leitura e, realmente, já não há mistérios, o que vejo é bastante objetivo, entendo completamente que se trata de grandes homens da história, que de alguma forma, seja na literatura universal, como Dante, seja na música popular e literatura brasileira como Tom Jobim e Carlos Drumond de Andrade, na Aviação como Alberto Santos Dumont, vivenciando e vencendo seus desafios e “lonjuras” e ela, a autora, compõe seu texto, nos conta a história, mantendo a mesma “métrica” e como num poema mesmo, vai contando sobre Cristóvão Colombo, Marco polo e filosofando sutilmente sobre a vida e os desafios enfrentados e superados por eles.
“No meio do caminho de Marco teve um mapa bem melhor, no meio do caminho de Cris teve um mundo bem maior, e com o voo de Alberto, esse mundo ficou menor.”
Na página seguinte, a menina fazendo marcações num enorme mapa, que correspondem aos locais onde estiveram os personagens, talvez, por onde ela também andou, através da leitura do livro em que é personagem e leitora, simultaneamente. 
Percebo que não há forma de fazer uma leitura no livro, se não “ler” as imagens; que já não “falam” apenas das figuras históricas, mas agora é tudo deliciosamente junto e misturado.
Na página seguinte; personagem novo??? É a autora, deve ser! Retorno à página que está mostrando o mapa grande, volto um pouco mais e observo que não se trata da garotinha, então infiro que é a autora, e a garotinha, quem é ela? Talvez o leitor, talvez a autora mesmo, prelúdio apenas do que viria a se tornar. Sinto-me agora totalmente liberta para imaginar, criar uma nova história a partir do que leio. Mas, e não é essa, afinal, a função da literatura, seja ela qual for? Uma leitura feita, não o é, sempre, a partir de nosso próprio poder de inferências?
Agora, é a autora, contando também sua história. Nas imagens, ela aparece em “sua estrada” e à sua frente um portão com grades e altas e acima os versos: 
“No meio do caminho tem coisa que eu não gosto.
Cerca, muro. Grade tem. Tem muita pedra também. Pedra? Ou ovo?
Fim do caminho?
Ou caminho novo?”
Positivamente, uma linda metáfora, que merece reflexão!
Paro um pouco a minha escrita e página a página, vou buscando registrar minhas impressões, então, retomo a leitura das imagens. A autora vai em direção a um grande portão, com seu mapa e sua grande bolsa a tiracolo, enquanto passa por paisagens um tanto parecidas com as quais estivemos quando seus poemas falavam da densa selva de Dante, os desertos de Marco Polo e em lugar do túnel de Drumond, um portão que está aberto, onde era muro e grades e ela o atravessa e já na página seguinte está a autora dentro do que é, possivelmente “sua utopia”, seu sonho possível?
E após o muro, a cidade em cenas coloquiais onde se vê pessoas e crianças. Uma cidade que tem uma livraria Alighieri, uma banca de revistas do Cristóvão, e uma agência de viagem onde não aparece o nome todo, mas o que tem dá pra apostar seguramente que se chama “Agência de viagem Santos Dumont”.
Dessa cidade tem-se uma vista do pão de açúcar e do mar, penso que pode ser uma favela transformada, “o morro” do imaginário da autora e essa ideia é reforçada com o poema: “Porta, ponte, túnel, estrada, mapa, voo, navegação. Quem disse que fim da picada não se abre para a imensidão.” Trecho de “aguas de março”, agora, tornada otimista.
Noutra página, a penúltima, mais detalhes da cidade e, imagine, um bar chamado “Bar do Tom”, tenho que sorrir, é justo, enfim, nada mais emblemático para um boêmio. Um caminhão de mudanças com o nome “Mudanças do Oriente”, numa alusão a Marco Polo. O poema da página reforça ainda mais a ideia que as imagens retratam o Rio de Janeiro e suas favelas, sonho da autora, sem os muros, sem a feiura desse “apartheid”, agora harmônicos, enfim, uma só cidade.
“Beco que vira avenida. Muro que cai para o irmão.
Esperança renascida escancarando a prisão.”
E por fim, “Aguas de março”; um pouco trilha sonora do livro, e, como que chegando de uma longa jornada, de onde eu pude, na companhia da autora, visitar o passado, do mais antigo ao mais recente, onde pessoas realizaram coisas, que em seu tempo, eram quase impossíveis, mas que elas realizaram. Fizeram de cada obstáculo um degrau e pelos seus feitos, ficaram para sempre na história e não, não era o fim da história, não era o fim do caminho, na verdade são caminhos abertos para tantas outras aventuras, para outros sonhos possíveis, e quem sabe até para os que se mostram impossíveis agora.
A autora, como quem sai fortalecida pela incursão ao passado, pois as imagens me dizem que ela está feliz, possivelmente, pela esperança que o conhecimento histórico dos feitos daquelas pessoas, prova, de que é possível tornar realidade o que um dia foi utopia, lhe trazem esperanças, pois são “(...) promessas de vida em seu coração”.
O livro é poético, é metafórico, e sua leitura, imprimiu em mim a ideia de que o sonho da autora se situa no âmbito de sua realidade, que é ver o Rio de Janeiro e o “Morro” juntos, uma só cidade e para falar de um sonho, seu sonho, ela recorre à personagens que serviriam perfeitamente à um livro não literário, caso quem o use, busque nele a função da informação, e ainda assim, seria possível perceber a poesia, a música a arte das imagens, às quais a autora recorreu com maestria para expressar o seu sonho. É metafórico, e como tal, vai depender do olhar e da experiência interna do leitor.
Pode parecer, por exemplo, que ela concluiu sua incursão ao passado e vai deixando-os para traz, indo agora ao encontro do que ela já coloca como sua (dela) realidade, já sob o “efeito colateral” de seu desejo, A autora pode, também estar passando uma mensagem sobre superação, pois, sem que ela diga, contudo, é como se dissesse que cada realização daquelas pessoas, em seu próprio tempo histórico, em algum momento pareceu impossível, mas eles conseguiram, encontraram obstáculos que superaram e que isso a inspira, lhe dá a coragem para sonhar o seu sonho, por mais utópico que eles possam parecer: o Rio e seu “Morro”, sem muros, sem portão.
Esse é o sonho da autora tornado literatura para todas as idades!!