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1. Competência

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Direito Processual Civil I
COMPETÊNCIA
5º Período “A”
1. Do conflito a Jurisdição:
	A autotutela significa resolver o próprio conflito, essa conduta não há muita aceitação, justiça, pois vence quem tem mais força. Não há um sujeito imparcial que vai analisar e julgar o conflito, apenas um dos envolvidos (o mais forte) irá determinar a forma como conflito será resolvido. Nessa situação não há uma satisfação social, pois não há justiça em ganhar quem é mais forte.
	Com a evolução da sociedade surgiram os árbitros, anciões, até chegarmos à estrutura do Estado para interferir nos conflitos e regulá-los. Para resolver conflitos tem que haver a sociedade e para que haja uma convivência harmoniosa tem que haver as normas para regular direito conflitante. Quando me incomodo com algo, tenho que reclamar meus direitos. Ex.: Meu vizinho coloca um som alto, se eu não reclamar ele vai entender que estou gostando, ou seja, quem está insatisfeito tem que manifestar sua vontade, realizar a minha “pretensão”, a imposição do meu desejo, quem impões é “autor”. A oposição pode “resistir” a minha pretensão, ela não é obrigada a aceitar a minha reclamação. A pretensão resistida gerará um “conflito”, que pode ser resolvida pelas partes, ou o autor pode desistir da pretensão.
	A “desistência” é a primeira forma de resolução de conflito, onde a parte tinha o direito de reclamar sua pretensão, mas não desistiu, finalizando o conflito. Ou seja, a desistência é quando o auto não reclama mais sua pretensão. Só quem pode desistir é o autor, nunca o réu, o réu pode se submeter a pretensão. 
	A “Submissão” é a “Aceitação da Pretensão” é a segunda forma para compor o conflito, nessa situação haverá uma submissão, uma renúncia a resistência. Quem recebeu a reclamação não resistiu, aceitou a pretensão do reclamante. 
	O autor ou a outra parte podem resolver “totalmente” o conflito, através de uma resolução unilateral, porque depende de uma das partes. Há também a resolução bilateral através de uma “conciliação”, um “acordo/transição”, quando as partes combinam e cada um tem que ceder. Ex.: O vizinho não desliga o som, mais diminui o volume e o autor da reclamação aceita, ambas as partes renunciam sua vontade.
	Se ninguém ceder, não houver a desistência, nem a submissão e nem a transição, surge a lide, e se não conseguiram resolver, o Estado (juiz imparcial) é convocado para compor o conflito, com o poder de exercer a jurisdição, através do Poder judiciário. A jurisdição é o poder de julgar, representando pelo “juiz”, que julga determinados processos de acordo com sua competência.
	Competência é uma delimitação do Poder Judiciário, para definir o que ele poderá julgar, restringindo as causas que determinado juiz pode julgar. 
	O autor da ação tem que conhecer a competência para endereçar a petição inicial corretamente, pois se endereçar para juiz incompetente, o mesmo vai se declarar incompetente e encaminhar a ação para o juiz competente, podendo haver prejuízo para o processo. 
2. Competência Internacional:
	É quando o Brasil pode julgar no parâmetro internacional.
# Princípio da Territorialidade: Todo ato praticado no território nacional, poderá ter ação proposta no país, a competência pode ser instaurada pela justiça brasileira.
Art. 16 NCPC – A jurisdição civil é exercida pelos juízes e tribunais em todo território nacional, conforme a disposição deste código. 
2.1 – Competência Exclusiva: É quando a justiça brasileira reconhece apenas as causas julgadas em território nacional, tendo como objetivo a proteção dos bens. São situações em que o Brasil não reconhece decisões fora do território nacional. Ex.: Situações em que o imóvel esteja situado no Brasil.Art. 23. NCPC - Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
2.2 – Competência Concorrente: É quando a ação pode ser proposta no Brasil e no Exterior, ou seja, a justiça brasileira e a estrangeira são competentes para regular o direito. Mesmo que o negócio jurídico não tenha sido firmado no Brasil, a justiça brasileira pode regular eventuais conflitos que possam surgir. 
Sentença Estrangeira (homologação): As decisões estrangeiras terão que ser homologadas pelo Brasil, para fazer a verificação se estar conforme o regulamento do país.
Não Induz a Litispendência: A litispendência é quando há duas ações idênticas no judiciário. É permitido ter a mesma ação no Brasil e no exterior, no entanto, para que uma sentença estrangeira seja reconhecida pelo Brasil, é necessário ser homologada, para verificar se a decisão está de acordo com a norma brasileira, caso esteja, será confirmada como uma “sentença transitado em julgado” e deverá ser executada. Caso haja uma decisão primeiro no Brasil, a sentença estrangeira não poderá ser homologada, pois ele já foi condenado. Se houver decisão primeiro no estrangeiro e for homologado no Brasil, já produzirá efeitos e o processo no Brasil será prejudicado. 
Cláusula de Eleição de Foro: É quando o foro é escolhido, é uma regra relativa. Nas situações “absolutas”, quando for competência exclusiva, o foro deve ser respeitado 
Obs.: A litispendência é quando há dois processos idênticos/mesmo processo, não pode ocorrer dentro da justiça brasileira, por isso, deve seguir a regra da “prevenção”, quer dizer que o “juiz prevento”, aquele que recebeu primeiro, onde foi primeiro dado entrada no processo, que irá julgar.
Obs².: ¹Competência originária – É o juiz que vai receber a primeira reclamação, normalmente são os juízes de 1º instância, não houve sentença anterior, será a primeira apreciação da ação pelo judiciário. ²Competência Recursal – É o juiz que vai reavaliar uma decisão. Já houve uma sentença, mas uma das partes não ficou satisfeita, entra com o recurso para processo ser analisado por um órgão superior (observar hierarquia). 
3. Cooperação Internacional: 
	É a cooperação na comunicação, proporcionando celeridade nos processos.Art. 26 NCP - A cooperação jurídica internacional será regida por tratado de que o Brasil faz parte e observará:
I - o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
II - a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados;
III - a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente;
IV - a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação;
V - a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras.
§ 1o Na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática.
§ 2o Não se exigirá a reciprocidade referida no § 1o para homologação de sentença estrangeira.
§ 3o Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.
§ 4o O Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica.
4. Competência Interna:
4.1 – Momento da Fixação da Competência: A competência está na petição inicial, o momento da fixação. Há uma fixação, porque foi recebido pelo juiz e não mudará mais. Alguns órgãos possuem várias comarcas/varas, nesse caso aconteceráuma distribuição e a fixação acontecerá quando a petição inicial chegar ao órgão competente, e esse órgão terá a competência perpetua, ou seja, ficará com o processo até o fim. 
4.2 – Perpetuação da Competência: Depois de fixada a competência, ela não é modificada, qualquer alteração. Apenas excepcionalmente, se altera a competência se houver a supressão/extinção do órgão jurisdicional ou competência absoluta, nos casos em que o juiz é absolutamente incapaz e o processo terá que ser encaminhado para um juiz competente. Art. 43 NCPC - Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
4.3 – Critérios de Determinação de Competência: 
	Em razão da matéria, pessoa, território, valor da causa e função.
4.4 – Espécies:
Competência em Razão da Matéria: Relacionado com o tipo de ação e o objeto da ação. Vai depender da matéria, especialidade. Tudo que não for especial é da justiça comum.
Competência em Razão da Pessoa – União – Art. 45 NCPC: Quando for ações de interesse da União, autarquias. Em razão da pessoa demandada
Art. 45 NCPC - Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
Competência em Razão do valor da Causa: Vai depender quanto custará a causa, tem que verificar o valor limite que o órgão pode regular. 1º Identificar a orçada do órgão, 2º Calcular as custas do processo, 3º calcular os honorários advocatícios. 
Competência em Razão do Território/Foro: Vai analisar pela localidade do órgão judicial. 
Regra Geral: Pelo domicílio do réu – Art. 46 NCPC: Tem que ingressar com a ação no domicílio do réu
Art. 46 NCPC - A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado o
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Regra Especial: Pela situação da coisa – Art. 47 NCPC: Tem que ingressar com a ação onde o objeto estiver. 
Art. 47 NCPC - Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
Foro de Eleição – Art. 47, §1º NCPC: É quando as partes elegem o foro, escolhe o juiz competente para regular eventuais litígios que houver. Obs.: Há ações que não pode escolher o foro, são as ações de Direito Real sobre as coisas.
Art. 47 NCPC - § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
Obs.: Ação de direito Pessoal – Relação entre as pessoas. Ação de Direito real – Relação de algo que me pertence, ou seja, relação minha com a coisa. Pode haver ação de direito pessoal, que envolva imóvel, nesse caso vai entrar contra a pessoa para reparar o dano que fez ao bem.
Competência em Razão da Função: é o que cada órgão tem o poder de julgar. São atribuições de cada órgão e faz parte das suas funções. 
Justiça do Trabalho – Art. 114 CF
Justiça Militar – Art 122 CF
Justiça Eleitoral – Art. 118 CF
Justiça Federal - Art. 108 e 109 CF
Justiça Estadual – Art. 125 CF
5. Competência Absoluta e Relativa
5.1 - Características das Incompetências Absolutas e Relativas:
	Dentre as cinco competências, iremos enquadrá-las como Competência/Incompetência Relativa ou Competência/Incompetência Absoluta. Estamos tratando da Competência/Incompetência quem o tribunal possui para julgar. A incompetência ocorre quando o juiz não é competente para julgar determinada lide, deve ser analisada a regra de competência para instaurar um processo, pois se o mesmo for encaminhado para o local errado, o juiz se declarará incompetente relativa ou absolutamente.
Distribuição entre as partes;
Forma de arguição – Preliminar – Art. 64 NCPC
Art. 64 NCPC - A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação.
§ 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.
§ 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência.
Declaração - “en officio” - Art. 63, § 3º NCPC
Art. 63, § 3º NCPC - Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente.
§ 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.
Prorrogação: Relativa – Art. 65 NCPCArt. 65 NCPC - Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação.
Parágrafo único.  A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar.
Prazo: Absoluto – Art. 64, § 1º NCPC
 Relativo – Art. 64 caput NCPCArt. 64 NCPC - A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação.
§ 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.
Modificação pelas partes: Absoluto – Art. 62 NCPC
 Relativo – Art. 63 (foro de eleição) e Art. 54 NCPC 
 (Conexão e continência) 
Art. 62 NCPC -  A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes.
Art. 63 NCPC -  As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações.
Art. 54 NCPC - A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção.
	
	A ação possui como elementos as partes, o pedido e a causa do pedido. Ocorre “Conexão” quando há o mesmo pedido ou a mesma causa de pedir em uma ação. Na litispendência vai verificar o primeiro processo que foi ingressado, o primeiro recebido ou distribuído. O juiz provento que vai analisar. As ações conexas que possuem a mesma causa de pedir, pode gerar insegurança jurídica, caso os juízes profiram sentenças distintas, havendo um conflito nas decisões judiciais, já com a reunião/conexão das ações, além de ter apenas uma sentença, haverá mais celeridade e redução dos custos do processo. Nessa ocasião haverá dois juízes competentes, o que irá analisar a ação, será o que primeiro recebeu ou foi distribuída a petição, apenas esse juiz será competente para julgar, o outro terá a competência modificada. 
	Na “Continência” também haverá a reunião das ações, terá ações com as mesmas partes e o mesmo pedido (podendo uma das partes pedir mais que a outra). Haverá a união dos processos e se houver pedido maior que o da outra parte esse pedido será acoplado/englobado no único processo. Sempre que houver continência haverá conexão, que vai ser encaminhado para ojuiz provento e será modificada a competência do outro juiz. 
Obs.: Analisar planilha sobre Competência Absoluta e Relativa 
6. Conflito de Competência
	É quando dois ou mais juízes não concordam com a sentença de um processo, quando eles não possuem a mesma opinião, nessa situação o tribunal superior irá decidir. Há a discordância de dois ou mais juízes competentes, ocorrerá a competência negativa quando juízes estiverem em conflito. Um juiz “A” remete o processo para outro juiz “B”, o Juiz “B” devolve o processo para o Juiz “A”, os dois ou mais se declaram competente/incompetente (Conflito Negativo). Quando ambos os juízes se acham competente para julgar o processo (Conflito positivo).
Acerca da Reunião ou separação de ação – Art. 178 e 951 NCPC.
	Pode ocorrer de um juiz entender que deve haver a reunião dos processos (conexão) e outro entender que os processos devem ser analisados separadamente. Art. 178 NCPC - O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
Art. 951 NCPC - O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.
6.1 – Declínio de Competência e Declaração de Ofício: Art. 64, § 1º e 2º NCPC.
	Só haverá declínio de competência se for “declarada a incompetência” do juiz, o processo não será extinto, será encaminhado para um juiz competente para apreciar a ação. Deve intimar as partes para que manifestem a incompetência do juiz. 
Obs.: Antes do novo CPC o processo era extinto por vícios, enxergava o processo com base na sua “forma”, sem considera a finalidade. Agora, antes de extinguir o juiz convoca a parte para suprir o vício, não permitir que haja a insatisfação das partes encerrando o processo. O novo CPC busca das partes, maior participação, não parar o processo por mero formalismo, o juiz pode agir de ofício solicitando que o erro seja sanado para dar continuidade o processo e atingir sua finalidade que é “dizer o direito”.
Obs².: Ato de Ofício – É uma exceção do Princípio da Inércia, o juiz vai agir sem que ninguém tenha solicitado, sem que ninguém tenha provocado. Na Incompetência absoluta quando o juiz verificar que é incompetente, e o réu não se manifestar, ele convocará as partes para declarar a incompetência. Se o réu não declarar, o juiz pode agir de ofício e declarar sua incompetência para julgar a ação. Logo após sua declaração as partes serão ouvidas e elas podem argumentar, justificar caso elas o considere competente.

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