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Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 1 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS YURI LEITE ELOY MEDICINA – P7 – 2010.2 OBSTETRCIA REFERÊNCIAS 1. Material baseado nas aulas ministradas pelos Professores Francisco Mendonça, Roberto Magliano e Eduardo Borges na FAMENE durante o período letivo de 2010.2. 2. MORAIS, E.; & MAUAD. Medicina Materna e Perinatal. 1ª ed., Revinter: 2000. 3. RESENDE, J. Obstetrcia. 9ª ed., Guanabara: 2002 4. NEME, B. Obstetrcia Bsica. 2ª ed., Sarvier: 2000. 5. RESENDE, J. Obstetrcia Fundamental. 9ª ed., Guanabara: 2003 Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 2 MED RESUMOS 2011 CORREIA, Luiz Gustavo; NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. OBSTETRÍCIA DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ (Professor Roberto Magliano) Na nossa Sociedade, a primeira menstruao, alm do valor simblico, tambm apresenta um fator orgnico. Isto se deve ao fato que, a partir do primeiro ciclo menstrual, a sociedade encara a transformao de uma criana em uma jovem frtil, que pode engravidar. No in cio da puberdade (10 aos 14 anos de idade), o recm-infanto apresenta uma srie de modificaes corporais em funo do amadurecimento. Com isto, hormnios, que at ento no eram secretados, passa a apresentar n veis fisiolgicos na circulao. Nos dias atuais, a menarca (primeira menstruao) est sendo cada vez mais precoce. Explica-se, pelo fato do desenvolvimento neurolgico est mais avanado quando comparado s crianas mais antigas; um dos motivos deste o bombardeio de informaes mostradas em ve culos de imprensa (televiso, internet), que contribuem, sobremaneira, no amadurecimento precoce. Antes de descrevermos quais so os principais questionamentos dos antecedentes obsttricos, devemos entender os seguintes termos: Infância o per odo compreendido desde o nascimento at a puberdade (por volta dos 10 anos). Durante esta fase, no h maturao do eixo hipotlamo-hipofisrio-ovariano e, portanto, os hormnios da vida sexual feminina ainda no so produzidos. Menarca o nome tcnico para a primeira menstruao. Isto ocorre a partir do instante que o sistema hipotlamo-hipofisrio-ovariano amadurecido, com consequente liberao do hormnio estradiol (oriundo do estrognio, assim como o estriol e a estrona). A idade mais comum do amadurecimento deste eixo em torno de 11-12 anos de idade. Alm da induo da menarca, o estradiol o hormnio responsvel pelas alteraes corporais hormnio-dependentes, tais como o aparecimento de pelos pubianos, desenvolvimento das mamas, dentre outros. Na infncia (antes dos 11 anos de idade), o estriol est presente na circulao, porm, um hormnio pouco potente para provocar as alteraes hormonais que ocorrem pelo estradiol. Menacme o per odo frtil da mulher, vai desde o inicio da menarca at a menopausa. A Organizao Mundial de Sade (OMS) contempla o per odo de 10-49 anos de idade como o menacme. Dento da menacme, existe o per odo que corresponde adolescncia (10 – 19 ou 21 anos). Climatério o per odo de transio entre o tempo reprodutivo e o no-reprodutivo, vai desde 35-65 anos. Desta maneira, a menopausa est contida no climatrio. Menopausa o termo que designa a ultima menstruao da mulher e os sinais que caracterizam o climatrio (sensao de calor, irritabilidade, ressecamento de vagina, etc.). Fisiologicamente, ocorre como consequncia da ausncia da produo do estradiol pelos ovrios. Senilidade (sinectude) compreende o per odo da vida da mulher aps os 65 anos de idade. Amenorréia traduz a ausncia da menstruao, podendo ser ocasionada por causas fisiolgicas e no- fisiolgicas. Dentre as causas fisiolgicas da amenorria, destacam-se a gravidez, infncia, menopausa e lactao. DIAGNSTICO CLNICO O diagnstico cl nico da gravidez envolve a descrio de uma histria cl nica completa (anamnese), associada ao exame f sico de vrios aparelhos e sistemas, interdependentes. O roteiro para elaborao do diagnstico cl nico de gravidez deve conter dos seguintes achados: 1. Anamnese 2. Inspeo 3. Palpao 4. Toque Vaginal 5. Ausculta Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 3 1. ANAMNESE A anamnese é o ponto inicial de todo o diagnóstico clínico da gravidez. É neste instante que se estabelece uma boa relação médico-paciente, com aconselhamento psicológico (quando for necessário, principalmente, em gestantes adolescentes), dentre outros. A anamnese minuciosa deve conter dados acerca de: Atraso menstrual Interrogatório sistemático o Manifestações Neurovegetativas o Exame do sistema urinário: Poliaciúria o Abdome: Cólicas na região hipogástrica o Exame das mamas: Mastalgia bilateral e sensação de aumentos das mamas Movimentação fetal O atraso menstrual é considerado o primeiro e mais importante sintoma clínico de gravidez da mulher eumenorréica e com vida sexual ativa. O diagnóstico da gravidez é dado a partir dos sinais de presunção, dentre os quais, a amenorréia (ausência de sangramento menstrual) é a mais exuberante. Dados estatísticos comprovam que 0,7% dos casos, as perdas sanguíneas são contínuas até o 3º mês de gestação. Isto se deve a implantação do ovo à decídua. A amenorréia é fisiológica em três outras situações, além da própria gestação: período pré-puberal (durante a infância), menopausa, durante o período de lactação (aleitamento). Outras condições, podem ainda induzir a amenorréia (quadro 1). A amenorréia é fisiológica durante a etapa pré-puberal, pelo fato do não-amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. Amenorréia é a ausência do fluxo menstrual mensal, por no mínimo, 3 meses. Existe uma crença idealizada pela população que a amenorréia é sinal de gravidez. O que ocorre é bem diferente, algumas patologias ginecológicas podem causar amenorréia, a exemplificar: Síndrome dos ovários policísticos, hímen imperfurado, dentre outros. Durante o período gestacional, alguns sinais e sintomas são precipitados. As manifestações neurovegetativas mais comuns são: náuseas, vômitos, sialorréia, vertigens. No sistema urinário, a poliaciúria ocorre como compressão da bexiga pelo corpo uterino. No exame do abdome, a paciente refere cólicas na região hipogástrica e constipação. No interrogatório sistemático a respeito das mamas, a paciente refere mastalgia bilateral e sensação de aumento das mamas (que ocorrem consequente à liberação dos hormônios gestacionais). A movimentação fetal, em multíparas, é percebida a partir da 16ª - 18ª semana, diferentemente, as primigestas somente percebem esta sensação a partir da 18ª - 20ª semana. 2. INSPEÇÃO A inspeção compreende a etapa de visualização, por parte do examinador, de algumas alterações evidentes em alguns sistemas, tais como: mamas, abdome, genitália interna e externa. Cabeça Cloasma gravídico Sinal de Halban Mamas Abdome Genitália interna e externa Durante a inspeção da cabeça, o examinador deve analisar a presença do cloasma gravídico e sinal de Halban. O cloasma gravídico, geralmente, é visto a partir da 12ª - 16ª semana. Visualmente, o cloasma é demonstrado como uma alteração de pigmentação na região das bochechas (infra- orbitária). A hiperpigmentação da gestante parece ser conseqüência da hiperfunção do lobo anterior da hipófise, por intermédio de suas células basófilas que, secretando hormônios melanotróficos, exageram a pigmentação, com preferências para as regiões, onde, na vida embrionária se realizou a oclusão da cavidade abdominal. Já o sinal de Halban constitui o surgimento de lanugem próximo à inserção dos cabelos, que ocorre como conseqüência da intensificação da nutrição dos folículos Diagnóstico diferencial de AMENORRÉIA Condições patológicas Endocrinopatias/anemias graves/cisto ovárioUso de medicações Anticoncepcional / clorpromazina /fenotiazina/ reserpina / metildopa / antiblásticos Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 4 pilosos, reflexo do metabolismo próprio da grávida e principalmente, por influências hormonais. A inspeção das mamas gravídicas demonstra alterações típicas: sinal de Hunter, tubérculos de Montgomery e Rede de Haller. A aréola primitiva, mais escura do que fora da gestação, apresenta, ao redor, a aréola secundária, menos pigmentada de limites imprecisos (aréola gravídica). O sinal de Hunter ou aréola gravídica é a presença de uma pigmentação ao redor da aréola primitiva. Os tubérculos de Montgomery correspondem a glândulas sebáceas hipertrofiadas. Já a rede de Haller representa a dilatação da rede venosa superficial mamária, como uma resposta fisiológica ao aumento da concentração dos hormônios gravídicos, sendo um pré-requisito para futura lactação. Durante a inspeção abdominal, nota-se aumento do volume abdominal, associada a pigmentação acentuada na linha alba (plano mediano, entre o processo xifóide e a sínfise púbica), sinal semiológico conhecido como Linha Nigra. Na inspeção da genitália, o examinador deve buscar a presença do sinal de Jacquemier-Luge e de Kluge, ambos presentes após a 8ª semana de gestação. O sinal de Jacquemier-Luge corresponde a coloração arroxeada do vestíbulo e parede vaginal anterior, explicada fisiologicamente pelo aumento da vascularização e a própria embebição gravídica. O sinal de Kluge é a coloração arroxeada do colo uterina durante a inspeção. 2. PALPAÇÃO Deve-se avaliar, durante a palpação, os seguintes itens: Mamas Corpo uterino Toque vaginal Na palpação, a mama apresenta-se com volume aumentado e mais sensível ao toque. Durante esta etapa, o examinador deverá, com os dedos polegar e indicador, comprimir a Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 5 regio periareolar e avaliar a sa da do “colostro”. A partir, ou at mesmo antes, da 10a semana, j se poss vel que se perceba a presena do colostro. A palpao do corpo e do fundo uterino uma etapa de grande importncia no exame f sico da gestao. Ora, o corpo uterino, ao longo do per odo gestacional, sofre uma srie de alteraes. Com isto, a sua localizao anatmica habitual apresenta-se em um processo dinmico de migrao: Primeiros dois meses: intraplvico 10a – 12a semana: regio hipogstrica 3o – 4o meses: entre a s nfise pbica e cicatriz umbilical 5o ms: cicatriz umbilical O toque vaginal uma etapa fundamental no processo de diagnstico cl nico da gravidez. Trs sinais mais importantes devem ser investigados: Osiander, Noble-Budin e Puzos. O primeiro passo na vigncia do toque vaginal a aplicao da regra estabelecida por Goodel, que descreveu o seguinte: Colo uterino no-gravdico: apresenta consistncia semelhante cartilagem nasal Colo uterino gravdico: Consistncia semelhante ao lbio O sinal de Osiander descrito como sendo a percepo do pulso vaginal, ao toque. O sinal de Noble-Budin a percepo, palpao, do corpo uterino na morfologia globosa. Anatomicamente, em pacientes no- grvidas, o corpo uterino se mostra com formato piriforme. Durante a gestao, os fundos de sacos laterais so preenchidos, desmorfolizando a anatomia piriforme normal do corpo uterino, principalmente, a partir da 10a – 12a semana. O sinal de Puzos o correspondente semiolgico ao rechao fetal. Ou seja, na procedncia do toque vaginal, a falange distal do examinador experimenta a sensao de “algo retornando” de uma cavidade, que justamente o feto em desenvolvimento. 3. AUSCULTA Os batimentos cardiofetais (BCF) que nos informam, durante a gestao, se o concepto est vivo ou morto, pouco se podendo inferir de suas condies de higidez, a no ser atravs da monitorizao dos batimentos. Os BCF, geralmente, so percebidos em torno de 20 semanas de gravidez. A ausculta clinica pode ser imediata ou direta, aplicando-se o ouvido sobre a parede abdominal da paciente, e mediata ou indireta, utilizando-se o estetoscpio. O usado em obstetr cia o de Pinard, de alum nio ou de madeira, tendo trs partes: auricular, coletora e condutora do som. Est hoje em segundo plano, substitu do pela auscultao mediante o sonar-doppler, poss vel a partir de 10-12 semanas de gestao e que faculta, demais, a audincia e a identificao do pulso do cordo umbilical ou de qualquer outro vaso fetal. No termo da gravidez ou prximo dele, em virtude de estar a rea card aca mais perto do plo ceflico, resulta que o foco mximo de escuta ter locao diferente conforme a apresentao. Na apresentao cef lica, o foco se encontra nos quadrantes inferiores do abdome materno, esquerda ou direita, conforme a posio. Na apresentao plvica, o BCF melhor auscultado nos quadrantes superiores esquerda ou direita. Na apresentao crmica, est na linha mdia, junto cicatriz umbilical. DIAGNSTICO LABORATORIAL O exame laboratorial feito perante a anlise da gonadotrofina corinica humana (β-HCG). Esse hormnio espec fico da gravidez, salvo em algumas neoplasias raras que podem produzi-lo. A conduta mais adequada para as pacientes com amenorria, em idade frtil a dosagem do β-HCG. Na urina, o β-HCG somente percebido a partir de 12 dias de falha menstrual. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 6 No plasma, o B-HCG pode ser detectado em at 10 dias aps a fecundao, ou seja, precedendo em quase 4 dias a amenorria (que o principal sinal de presuno). Deste modo, esta forma a de maior sensibilidade e especificidade. OBS1: Alguns fatores influenciam no resultado dos exames de dosagem plasmtica de β-HCG (Quadro 2). Dentre os quais, destacam-se os fatores que determinam exames falso-positivos (dose aumentada do hormnio, sem a gestao instalada) e falso-negativos (gestao j instalada, porm, no acusada no exame laboratorial). DIAGNSTICO ULTRASSONOGRFICO O diagnstico ultrassonogr fico pode ser obtido pela regio abdominal e transvaginal. O transdutor abdominal permite avaliar a presena do saco gestacional a partir da 5 semana de gestao. Enquanto que o transdutor transvaginal permite avaliar o saco gestacional em meados da 4 semana de gestao. Em comum, a USG por via transvaginal ou abdominal objetiva: Avaliar a idade gestacional e vitalidade Localizao do embrio Nmero de embries Fatores que alteram a contagem do β-HCG Falso-Positivos No geral, os falso-positivos so representados pelas condies que aumentam a concentrao do LH: Menopausa; Ooforectomia bilateral; Fenotiaz dicos; Hipnticos; Antidepressivos; Anticonvulsivantes; Anticoncepcionais orais; Hipertireoidismo. Falso-Negativos Os falso-negativos so representados pelas condies que geram insuficincia de β-HCG: Pouco tempo de amenorria, aborto, prenhez ectpica. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 7 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL (Professor Francisco Medonça) Assistncia pr-natal ou simplesmente rotina pr-natal, consiste em uma srie de medidas adotadas pelo mdico obstetra, que visa acompanhar a gestante at o trabalho de parto propriamente dito. Com isso tem por objetivo, salvaguardar a sade das mulheres durante a gravidez e o aleitamento, orientar sobre os cuidados a serem dispensados s crianas, permitir um parto normal e dar a luz a um filho sadio (OMS). CONCEITO A assistncia pr-natal em termos gerais o per odo em que h necessidade de administrar cuidados espec ficos a mulher grvida, preservando o futuro reprodutivo da paciente, contribuindo para a sade do concepto durante sua vida fetal, e ainda tomando providnciascab veis para que a gestante possa dar a luz a um concepto h gido. Com isso pode-se dizer que o mdico tem a oportunidade de ao longo dos nove meses de gestao, identificar e tratar patologias que possam comprometer a sade da me durante a atual gestao, em gestaes futuras e por ltimo garantir a viabilidade do concepto do ponto de vista anatmico, fisiolgico e social. OBJETIVOS ESPECFICOS Prevenir, identificar e/ou corrigir as anormalidades maternas ou fetais que afetam a gravidez, incluindo os fatores sócio-econômicos e emocionais, bem como os médicos e/ou obstétricos. Nesse ponto a assistncia pr-natal se conflui com a sade pblica, ou seja, quando o mdico tem como inteno ajudar paciente, indiretamente se envolve com questes scio-econmicas e culturais, que vo alm da situao de obstetra. Isso pode ser identificado por diversas condies, tais como: (1) pacientes que no tem uma alimentao adequada por dificuldade financeira, ou ainda no pode obter certa medicao para o tratamento de determinada patologia, (2) que sofrem algum tipo de violncia seja ela verbal ou f sica. Dessa forma, pode-se concluir que o mdico obstetra no exerc cio de sua profisso, tem como funo dar apoio psicossocial a gestante. Instruir a paciente no que diz respeito à gravidez, trabalho de parto, puerpério e atendimento ao RN. Nesse aspecto o mdico obstetra desempenha um papel de grande importncia, pois deve primeiramente “abrir os olhos da paciente” para a condio que est passando, isto , explicando as alteraes f sicas e psicolgicas que possam vir a ocorrer, assim como os cuidados que dever ter durante e aps a gestao. Essas consideraes em nosso pa s so ainda mais importantes devido situao da pobreza, e alto ndice de gravidez na adolescncia, ou seja, mes que no esto preparadas psicologicamente para sofrer alteraes to radicais implicadas por uma gravidez. Promover suporte psicológico adequado (principalmente na 1º gravidez). Geralmente a primeira gravidez acompanhada de uma srie de lendas estabelecida por parentes e conhecidos. Entretanto o mdico deve instruir a paciente sobre suas dvidas (relaes sexuais, alimentao, exerc cios f sicos, sangramentos, secrees vaginais), a fim de evitar situaes que possam colocar em risco o concepto e, algumas vezes a prpria me. Uma situao comum a ingesto de medicamentos de forma indiscriminada e sem receita mdica por influncia de terceiros. ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA QUE TAIS OBJETIVOS SEJAM ALCANÇADOS Para que os objetivos citados acima sejam alcanados (preservar a sade da paciente, realizar um acompanhamento pr-natal adequado e gerar um concepto h gido), deve-se adotar certas medidas: I. Captação precoce da gestante na comunidade: consiste no incentivo para o in cio do pr-natal. Quanto mais precoce seu in cio maiores so as chances de detectar anormalidades fetais, diagnstico precoce e tratamento adequado, alm de orientar a futura me sobre os cuidados que devem ser adotados. II. Atendimento periódico contínuo e extensivo à população alvo: a assistncia pr-natal adequada exige uma freqncia de visitas mais elevada ao mdico, proporcionando que o mesmo perceba as alteraes fisiolgicas na me e no concepto. III. Recursos humanos tecnicamente treinados e cientificamente preparados: tem uma grande influncia principalmente quando a paciente faz questionamentos que podem surgerir respostas inadequadas, e dessa forma, causar preju zos a paciente. Principalmente quando est relacionado a crenas familiares, experincias Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 8 de terceiros, que podem levar a gestante a, por exemplo, ingerir medicamentos inadequados, ingerir produtos ou tomar atitudes que possam prejudicar a sade do concepto a da prpria me. IV. Área física adequada: permitindo um exame f sico e anamnese adequada para que a gestante se sinta bem acolhida. V. Realização de exames laboratoriais obrigatórios: VI. Medicamentos básicos e acessíveis: VII. Equipamentos e instrumentais adequados: realizar as medidas adequadas da paciente, auscultar com frequncia o feto, monitorizar constantemente a presso arterial da paciente, fazer dosagens e controle adequado da glicemia. VIII. Sistema eficiente de referencia e contra-referencia: IX. Serviço de registro de estatística: ter conhecimento de servios de estat sticas da regio, onde se faz a assistncia pr-natal, principalmente quando est envolvido o sistema pblico de sade. Isto , ter conhecimento das principais patologias que acometem uma determinada regio e saber sua gravidade em relao s pacientes grvidas, ou ainda, reconhecer uma paciente que vm de outra rea e quais as poss veis patologias pode est trazendo consigo. Um exemplo comum toxoplasmose e hipovitaminose. X. Sistema de avaliação da efetividade das ações de assistência pré-natal: deve-se ter um retorno de todas as aes efetivadas com a paciente no pr-natal, avaliando sua eficcia cl nica, permitindo avaliar seu impacto benfico para a populao. IDENTIFICA O DA IDADE GESTACIONAL J na primeira consulta de uma paciente que ser acompanhada durante sua fase gestacional, de extrema importncia a necessidade de se estabelecer a idade gestacional. Isso importante, pois, atravs dela o mdico pode orientar a paciente sobre determinadas atividades e atitudes, que com certeza iro mudar ao longo da gravidez. Essa idade sempre avaliada pelo mdico obstetra em semanas e nunca em meses, pois dessa forma, permite um acompanhamento mais preciso e fidedigno em relao s alteraes fisiolgicas do feto. Para o clculo da idade gestacional existem diversas regras que podem ser utilizadas, entre as principais temos: Regra de Naegele: baseia-se na data da ltima menstruao (DUM), para ento obter a data estimada do parto (DEP). A DEP ideal acontece com cerca de 40 semanas (280 dias). Quando o parto ocorre aps a DEP, temos um parto pós-data. A regra de Naegele afirma que a DEP pode ser obtida somando 7 dias, diminuindo 3 meses e somando 1 ano DUM. Esta regra pode sofrer variaes, a depender se a DUM ocorreu no final do ms ou no comeo do ano, como mostra o Ex2 e o Ex3, respectivamente. Quando a soma referente aos dias ultrapassa o ms, como mostrado no Ex2, devemos diminuir duas unidades dos meses, seguido do aumento de uma unidade anualmente. No Ex3, por sua vez, como a DUM ocorreu em Janeiro, a DEP ser estimada para o mesmo ano, sem ser necessrio somar uma unidade ao ano; neste caso, podemos ainda considerar como Janeiro sendo o “ms 13”, de modo que, ao subtrairmos 3 dele, chegaremos a Outubro (ms 10). Ex1: Ex2: Ex3: Cálculo das Semanas e Dias: para a realizao do clculo, deve-se estabelecer a data da ltima menstruao, exemplo, 15/01/2010 e a data de base, que seria nesse caso a data da consulta 02/06/2010. Com isso devem-se contar os dias desde a ltima menstruao at a data de base. Assim temos: 16 DIAS DE JANEIRO 28 DIAS DE FEVEREIRO 31 DIAS DE MARO 30 DIAS DE ABRIL 31 DIAS DE MAIO 02 DIAS DE JUNHO Ultrasonografia: a USG um exame ideal para o clculo da idade gestacional da paciente, atravs dele poss vel determinar com exatido todas as fases evolutivas do feto, alm de poder identificar uma srie de patologias e anormalidades fetais. Quando realizado por via transvaginal, a USG tem uma margem de erro m nima que varia em torno de 3 a 5 dias para mais ou para menos. Contudo, o sistema pblico de sade brasileiro falho nesse aspecto e geralmente o per odo de solicitao do exame at o per odo de execuo longo, com isso, perdendo a avaliao que deveria ser realizado na poca determinada anteriormente. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 9 ASSISTNCIAPR-NATAL No Brasil, o Programa de Humanizao no Pr-natal e Nascimento (PHPN) estabelecem que, o nmero m nimo de consultas no acompanhamento pr-natal deve ser de seis. Como j foi dito anteriormente a primeira consulta deve ser realizada o mais precoce poss vel. As consultas subseqentes por sua vez, devem ser mensais at o 7 ms (30 semanas) de gestao, quinzenais at o 9 ms (37 semanas) de gestao e semanais do 9 ms at o parto. A frequncia de consultas aumenta com o decorrer da gestao devido incidncia de complicaes, principalmente em sua fase terminal, como por exemplo, a presena de diabetes gestacional, hipertenso arterial, edemas, convulses, AVC. As patologias que envolvem o feto tambm esto inclusas tais como: insuficincias fetais. PRIMEIRA CONSULTA ANAMNESE Na primeira consulta de uma gestante, deve ser conduzida da mesma forma como feito com outros pacientes, ou seja, realizao de uma anamnese adequada e dirigida para sua condio fisiolgica. Assim durante a identificação, dados socio-econômicos, antecedentes pessoais e familiares, antecedentes ginecológicos, antecedentes obstétricos e condições e hábitos de vida, procura-se estabelecer as condies de risco em que a paciente est inserida e, atravs disso, realizar um trabalho de assistncia pr-natal adequada para a paciente, objetivando uma gravidez o mais saudvel poss vel. EXAME FÍSICO GERAL Seguida da anamnese est o exame físico geral, em que, atravs dele tambm podem ser diagnosticadas condies patolgicas que podem interferir com o curso natural da gestao. Um exemplo so as pacientes que apresentam anormalidades do sistema locomotor. Estas, com certeza, tero dificuldades para deambular nas fases mais avanadas da gravidez. Pacientes que apresentam hrnias discais podem vir a desenvolver dores intensas durante a gestao devido ao peso. Com isso so condies que podem ser diagnosticadas com um exame f sico bem executado. Entre outras patologias comuns que envolvem outros sistemas so: respiratrio (asma, tabagismo), sistema nervoso (epilpticas – indicadas a no suspender o uso dos anticonvulsivantes), cardiolgico (hipertensas), endcrino- metablico (diabticas, dislipidemias, obesidade). Por ltimo segue o exame espec fico ginecológico e obstétrico. EXAME FÍSICO GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO O exame ginecológico deve ser seguido, identificando as alteraes t picas da gravidez que iro aparecer, principalmente no crescimento das mamas. Outra etapa importante consiste na realizao do exame especular e colpocitológico, para identificao de patologias graves como o caso da presena do v rus HPV e at mesmo, cncer do colo uterino. Estat sticas mostram que a grande quantidade de cncer de colo uterino diagnosticada durante a primeira consulta da gravidez devido obrigatoriedade de sua realizao. O toque vaginal importante quando h suspeita de patologias do trajeto do canal de parto, patologias que possam comprometer um futuro parto normal da paciente. Com isso pode-se dizer que realiza-se um check up ginecológico com a paciente. Alm disso, pode ser solicitado exame de urina, citolgico etc. No exame obstétrico realizam-se a inspeção, altura uterina, ausculta dos BCF (batimentos cardíacos do feto), situação e apresentação fetal (manobras de Leopold) e o toque vaginal. EXAMES LABORATORIAIS Mesmo aps a realizao de um exame f sico adequado deve-se abrir um leque maior de exames, para uma melhor investigao e diagnstico de suspeitas levantadas anteriormente. Dessa forma pode-se tratar e controlar doenas que anteriormente estavam descompensadas e ainda estabelecer diagnstico de patologias que antes passavam despercebidas pela prpria gestante, como no incomum encontrar gestantes na primeira consulta, hipertensas, sem ter nenhum conhecimento de sua condio. Em contrapartida, como foi dito anteriormente, o acesso aos exames pelas classes mais pobres dif cil e muitas vezes no poss vel sua realizao. Da a importncia da realizao de um exame f sico adequado para que sejam solicitados somente os exames que so necessrios para a comprovao de uma determinada suspeita cl nica. Entre os principais exames solicitados esto: Hemograma Tipagem sangu nea Fator Rh (Coombs indireto S/N) Glicemia de jejum Urina tipo I Sorologia para HIV: exame que antigamente no era obrigatrio, mas atualmente deve ser realizado. IgG e IgM para rubola Sorologia para s filis IgG e IgM para Toxoplasmose Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 10 IgG e IgM para citomegalovirus Colpocitologia oncótica: pesquisa de HPV Parasitológico de fezes: importante no diagnóstico diferencial no que se refere à dor gestacional. Nesses casos a paciente refere dor abdominal devido à patologia parasitária, e que se não diagnosticada pode vir a indicar medicamentos equivocados podendo trazer prejuízos a paciente e ao feto. Teste de tolerância oral à glicose (75g): glicemia maior que 140 mg/dl confirma o diagnóstico. Ultrasonografia pélvica transvaginal de 1º trimestre Sorologia para hepatite B e C Pesquisa estreptococos do grupo B: muito comum na fase final da gestação principalmente entre a 35º e 37º semana. ORIENTAO QUANTO AO PESO Na primeira consulta também é necessário a orientação quanto ao peso gestacional. Informando que o ganho ideal está em torno de 300 ou 400 g/semana a partir da 1ª semana, com um ganho gestacional total de 10-12 Kg. Entretanto não é uma regra a ser seguida, pois há pacientes que registram um aumento superior a 20 kg durante toda a gestação e se apresentam normais, em contrapartida pacientes que só registram um aumento de 5 a 6 kg, mas também se mostram hígidas. Com isso os valores citados anteriormente é uma média entre os dois opostos. Para avaliar o estado nutricional da gestante, utiliza-se o nomograma de Rosso. O nomograma de Rosso funciona da seguinte forma: (1) registra-se o peso da paciente e (2) altura. Depois disso com uma régua encontra-se o valor em porcentagem do peso ideal em relação à altura. Encontrado o percentual na tabela, relaciona- se com o número de semanas. Podemos interpretar os resultados da seguinte maneira: Percentil A: normal. Percentil B: baixo peso. Percentil C: sobrepeso. Como exemplo prático podemos descrever a seguinte situação. Paciente gestante 9º semana de gravidez, 1º consulta ao obstetra, com 1,60 de altura pesando 65 kg. De acordo com a tabela a percentagem do peso ideal/ altura é de aproximadamente 110. Este valor quando levado a tabela analisando-se as 9 semanas de gestação, a paciente encontra-se em um peso normal. NUTRIO E GRAVIDEZ cido Flico – Estudos realizados por médicos de Londres mostraram que pacientes que tinham deficiência do ácido fólico tinham maiores índices de abortamentos e ainda defeitos da formação do tubo neural. Com isso o ácido fólico passou a ser estudado mais profundamente, até que se comprovou sua eficácia na prevenção de má-formações do tubo neural. A administração do ácido fólico está indicada assim que a gestante suspender o uso dos anticoncepcionais. Assim a suplementação pré-concepcional é feita até a 12ª semana, na dose de 5 mg/dia para prevenção de defeitos do tubo neural. Ferro – Prevenção contra níveis baixos de hemoglobina ao final da gestação, pois pode cursar com trabalho de parto prematuro e abortamentos. Com isso até 20 semanas de gestação além do ácido fólico deve-se indicar o sulfato ferroso. Vitaminas – A, D, C e E. Como via de regra até 20 semanas de gravidez ou até mesmo antes, deve-se fazer o uso de ácido fólico e sulfato ferroso, após esse período deve-se suspender e administrar polivitamínicos, que também tem uma quantidade razoável de ácido fólico. HIGIENE, COMPORTAMENTO E MEDICAMENTOS Asseio corporal: alémde todas as considerações ditas anteriormente, deve-se ainda, informar a paciente sobre as condutas de higienização da genitália externa, prevenindo assim a ocorrência de infecções, que, durante a fase gestacional é de difícil controle e tratamento, principalmente quando se encontra em fases mais avançadas, Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 11 pois nesse momento a futura me tem algumas contra-indicaes em relao a determinados medicamentos (antibiticos). Vestiário: embora muitos ainda achem desnecessrios, as vestes da gestante desempenham um importante papel principalmente em relao higienizao. Recomenda-se que as gestantes utilizem roupas mais leves e que permitem uma ventilao adequada da genitlia externa. Ou seja, deve-se evitar roupas apertadas, desconfortveis, que gerem um ambiente abafado que predispe a ocorrncia de infeces. Trabalho: em relao ao trabalho, importante salientar sobre um pequeno tempo de repouso que a mulher deve preconizar. Estabelecer um intervalo de aproximadamente 40 minutos em decbito lateral esquerdo (principalmente aps o almoo, per odo em que o feto mais necessita de glicose), posio esta que melhora o retorno venoso e com isso diminui o nmero de varizes e edema de membros inferiores, alm de melhorar o fluxo sangu neo para o tero, atravs das artrias e veias uterinas. Fisiologicamente est posio, desloca o tero e com isso, deixa o fluxo da aorta abdominal e veia cava inferior mais livres. Esportes: quanto a atividades f sicas de extrema importncia a orientao do mdico obstetra. Est proibida a realizao de atividades que exigem esforo intenso, tais como levantamentos de peso, utilizao de exerc cios abdominais, ou nenhum outro exerc cio que gere impacto na regio abdominal. Assim nas gestantes indica-se a prtica freqentes de exerc cios, como por exemplo, caminhar levemente. Outra atividade que est bem indicada para as pacientes gestantes a hidroginstica. Os exerc cios f sicos evitam a formao de trombose venosa profunda nos membros inferiores. Viagens (aéreas): em relao s viagens, principalmente as areas, so permitidas quando domsticas. Entretanto nas fases mais avanadas (32 semanas) da gestao contra-indicado devido ao risco de entrar em trabalho de parto durante a viagem. Atividades sexuais: consiste em uma pergunta muito frequente nos consultrios mdicos. Fisiologicamente durante a gestao h um aumento da quantidade de progesterona que inibe a ao estrognica, e com isso, a gestante tem uma perda da libido. A gestante pode ter relaes sexuais, entretanto deve-se observar se durante o ato sexual apresenta ou no contraes, principalmente nos primeiros 5 minutos aps. Essas contraes ocorrem devido ao tero ter uma forma piriforme (que garante a contrao que facilita a suco dos espermatozides). Assim, os espermatozides possuem uma substncia chamada de prostaglandinas, que promovem uma irritao no colo uterino fazendo com que a miofibrila se contraia facilitando sua entrada no orif cio tubrio. Algumas vezes as contraes das miofibrilas so to intensas que podem ocorrer sangramentos. Apesar dessas ocorrncias, no h necessidade de interromper as relaes sexuais, mas sim orientar sobre a prtica do “coito interrompido” ou ainda a utilizao da camisinha. Fumo e álcool: totalmente contra-indicado durante a gravidez. O alcoolismo durante a gravidez pode vir a desenvolver s ndromes de m-formaes congnitas graves. Vacinação: Ttano neonatal - Toxide tetnico (TT) e Gripe (H1N1). Limitação medicamentosa: uma situao importante que no pode ser esquecida durante a assistncia pr- natal. Uma das contra-indicaes inclui a utilizao de quinolonas, sulfas corticides, que se administradas em doses elevadas ou com uma frequncia muito alta, pode trazer preju zos srios ao feto. CONSULTAS SUBSEQUENTES EXAMES OBSTÉTRICOS SISTEMÁTICO Pressão arterial Pele e mucosas Exame das Mamas Palpação obstétrica Medida da altura uterina: quando a altura do tero se encontra ao n vel da cicatriz umbilical a gestao deve estar em torno de 22 semanas. Abaixo da cicatriz umbilical encontra-se menor que 22 semanas e acima da cicatriz, entre o apndice xifide e cicatriz umbilical, est em torno de 28 semanas; quando atinge o apndice xifide, est prxima de 40 semanas. Auscultar dos batimentos cardíacos fetais (BCF) Pesquisa de edema de MMII Solicitar exames pertinentes (laboratório/ultrasonografia, cardiotocografia/doppler velocimetria) Solicitar avaliações de outros profissionais Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 12 MANOBRAS DE LEOPOLD É um método comum e sistemático que se faz por meio da palpação do abdome gravídico no intuito de determinar a posição de um feto dentro do útero de uma mulher. Recebem este nome em homenagem ao ginecologista Christian Gerhard Leopold. As manobras consistem em quatro ações distintas, que ajudam a determinar a posição e apresentação do feto, que, em conjunto com a avaliação correta da forma da pelve materna, podem indicar se o parto será complicado ou se uma cesareana será necessária. Assim as manobras de Leopold são: (1) Delimitação do fundo do útero usando ambas as mãos para deprimir a parede abdominal com as bordas cubitais. As mãos ficam encurvadas, para melhor reconhecer o contorno do fundo do útero e a parte fetal que o ocupa. Com uma das mãos imprimindo súbito impulso ao pólo fetal, esse sofre um deslocamento, chamado "rechaço fetal" realizado com a mulher em decubito dorsal; (2) Ao deslizar as mãos do fundo uterino para o pólo inferior, tenta-se palpar o dorso fetal e os membros, de um ou outro lado do útero; (3) explorar a mobilidade do pólo fetal que se apresenta em relação com o estreito superior do trajeto pélvico. Tenta-se apreender esse pólo fetal entre o polegar e o indicador da mão direita, imprimindo movimentos laterais para procurar o grau de penetração da apresentação na bacia; (4) Com as extremidades dos dedos, palpa-se a pelve materna para tentar reconhecer o pólo cefálico ou o pélvico, e,assim, determinar o tipo de apresentação do concepto. TRATAMENTO DAS INTERCORRNCIAS GRAVDICAS Êmese e Hiperêmese: é uma manifestação comum das pacientes grávidas. Sialorréia ou Ptialismo: também é um sintoma comum, que está associado com as altas concentrações do hormônio beta-hCG. Pirose: ocorre devido ao crescimento uterino constante, fato este que leva a uma compressão do andar superior do abdome, inclusive do estômago, levando a sensação de pirose e até mesmo de regurgitação. Varizes: ocorre devido à dificuldade do retorno venoso, está associada principalmente a compressão da veia cava inferior pelo útero. Hemorróidas: ocorre pelo mesmo mecanismo fisiopatológico da formação das varizes. Câimbras: podem ocorrer principalmente naquelas pacientes que se apresentam com uma deficiência de vitamina e cálcio. Constipação intestinal: se dá pelo aumento do útero e compressão de órgãos digestivos abdominais, que levam a um trânsito abdominal lento. Além disso, há uma atuação maior de uma substância chamada de relaxina, que induz o relaxamento para que o parto ocorra com uma maior facilidade, entretanto atua sobre outras musculaturas lisas inclusive do TGI levando a lentificação do mesmo. Edemas: aparecimento de varizes e dificuldade do retorno venoso. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 13 Sintomas urinários: são comuns desde o primeiro semestre, é explicado principalmente pela compressão do útero sobre a bexiga. Entretanto ao longo da gestação ocorre uma acomodação da bexiga, por isso os sintomas urinários ocorrem com uma maior frequência no 1º trimestre de gestação. Tonteiras e vertigens: está associadoà mudança abrupta da coluna vertebral, fato este que justifique a marcha anserina adotada pelas pacientes grávidas, ou seja, deambula em hiperextensão, com os pés afastados para obter um melhor apoio e equilíbrio, e com as mãos apoiadas sobre a região dorso-lateral. Fadiga: sensação de cansaço, que pode ser explicada pela situação de anemia a que a paciente é exposta. Síndrome dolorosa: é muito comum na gestação quando geralmente a paciente se queixa de dores de localizações imprecisas e disseminadas por várias áreas corporais. Leucorréia: é muito confundida com um aumento fisiológico normal da secreção vaginal. Isso se deve ao fato de uma hipertrofia das glândulas vestibulares entre outras. ASPECTOS EMOCIONAIS & PREPARA O PARA O PARTO O médico deve avaliar e perceber as variações emocionais nas mulheres grávidas, que ocorrem com uma frequência maior do que se imagina. A preparação do parto consiste em uma etapa importante, pois envolve situações sócio-econômicas e emocionais. Fala-se que a gestação do ponto de vista emocional está dividido em três etapas: (1) o 1º trimestre que envolve primeiramente a aceitação de condição de grávida da gestante, medo de abortamentos, condições familiares e culturais, (2) superada essa fase no 2º trimestre a gestante se torna mais tranquila, onde a paciente permanece mais relaxada com sua condição fisiológica e por último (3) o 3º trimestre, em que a paciente volta a ter medo do parto, abortamentos, entre outras crenças, principalmente ansiedade e expectativa quanto ao parto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 14 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA ESTUDO OBSTÉTRICO DO OSSO DO QUADRIL (BACIA) (Professor Eduardo Borges) A boa evolução do mecanismo do parto depende, basicamente, de três parâmetros: (1) das forças de contração uterina; (2) do móvel (feto); (3) do canal de parto. Neste aspecto, o estudo do osso do quadril torna-se fundamental. O osso do quadril (também conhecido por bacia) consiste no cíngulo (raiz) do membro inferior, além de constituir o esqueleto da pelve. Anatomicamente, o osso do quadril tem, de fato, uma forma de bacia, composto por um anel ósseo bem estabilizado que une a coluna vertebral aos dois fêmures. As funções primárias do cíngulo do membro inferior são: Sustentar o peso de parte superior do corpo nas posições sentada e de pé; Transferir o peso do esqueleto axial para o esqueleto apendicular inferior para ficar de pé e caminhar; Oferecer fixação para os fortes músculos da locomoção e postura, bem como aqueles da parede do abdome, resistindo às forças geradas por suas ações. Consequentemente, o cíngulo do membro inferior é muito forte e rígido, principalmente em comparação com o cíngulo do membro superior (ombro). As funções secundárias do cíngulo do membro inferior são: Conter e proteger as vísceras pélvicas e as vísceras abdominais inferiores; Proporcionar fixação para os corpos eréteis dos órgãos genitais externos; Proporcionar a fixação do assoalho pélvico; Proporcionar sustentação para as vísceras abdominopélvicas e para o útero gravídico. CONSIDERAES ANATMICAS DA BACIA COMPONENTES ÓSSEOS No indivíduo maduro, o cíngulo do membro inferior é formado pelos seguintes ossos: Ossos do quadril direito e esquerdo: ossos grandes, de formato irregular, cada um desenvolvendo-se a partir da fusão de três ossos: o ílio, o ísquio e o púbis. Sacro e cóccix: formados, respectivamente, pela fusão de cinco vértebras sacrais e quatro vértebras coccígeas originalmente separadas. Desta forma, do ponto de vista ósseo, a bacia é formada por dois grandes ossos laterais e superiores (o ílio), dois ossos posteriores (sacro e cóccix, que constituem parte da coluna vertebral), dois ossos anteriores (púbis) e dois ossos localizados póstero-inferiormente (ísquio, que sustenta todo o peso do corpo quando sentamos). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 15 ARTICULAÇÕES E LIGAMENTOS As principais articulações da bacia que unem os ossos do cíngulo do membro inferior no adulto, incluindo a extremidade proximal do fêmur, são: Sínfise púbica: articulação que envolve os dois ossos púbicos. Articulação sacrococcígea: articulação entre as vértebras sacrais e as coccígeas é uma articulação relativamente móvel. Articulação sacroilíaca: articulação entre a asa do sacro e a asa do ílio. Articulação coxo-femural: articulação entre o acetábulo da bacia e a cabeça do fêmur. Entre os ossos que compõem a bacia, se estabelecem ligamentos fibrosos importantes para a estabilização destes componentes, além de servir na fixação de estruturas viscerais e de participar nas precisas divisões anatômicas. A figura abaixo lista os principais ligamentos do quadril: DIVISÃO TOPOGRÁFICA DA BACIA Anatomicamente, a pelve é o espaço ou compartimento circundado pelo cíngulo do membro inferior, previamente descrito. A bacia pode ser dividida em duas regiões distintas: a grande bacia (superiormente) e a pequena bacia (inferiormente). Da mesma forma, podemos dividir a pelve em pelve maior e pelve menor. O ponto de referência para esta divisão da bacia se faz ao nível da abertura superior da pelve. A margem óssea que circunda e define a abertura superior da pelve (também denominada de margem da pelve) é formada por: promontório e asa do sacro; linhas terminais direta e esquerda (formadas pela linha arqueada da face interna do ílio, pela linha pectínea do púbis e pela crista púbica). A abertura inferior, obviamente, corresponde ao limite inferior da pequena pelve, sendo limitada por: ângulo e arco púbico anteriormente; túberes isquiáticos lateralmente; ligamentos sacrotuberal póstero-lateralmente; extremidade do cóccix posteriormente. Assim, a bacia maior (em verde-claro, na figura abaixo) é pélvica em virtude de seus limites ósseos, mas abdominal em termos de seu conteúdo. A bacia menor (verde-escura) proporciona a estrutura óssea para a cavidade pélvica e o períneo profundo. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 16 Para estudo obstétrico, nos interessa apenas o estudo anatômico da pequena bacia, uma vez que é nela onde ocorrem as principais modificações do feto durante o mecanismo do parto (além do fato de que é ela que constitui o próprio canal de parto). ESTUDO DA BACIA MENOR Do ponto de vista obstétrico, a região da bacia compreendida abaixo do nível das linhas pectínea e arqueada é a mais importante, sendo denominada de bacia menor. Além desta terminologia, obstetras, principalmente os mais tradicionais, adotam outras designações, tais como: bacia obstétrica, escavação ou escava, bacia verdadeira (ou pelve verdadeira), etc. O exame clínico da bacia obstétrica consiste em duas etapas: a pelvimetria (análise das medidas da bacia) e a pelvigrafia (análise da estrutura da bacia). Para a realização destes exames, é necessário um conhecimento anatômico mínimo da bacia menor, que inclui a avaliação dos estreitos, diâmetros, planos parelelos, arco anterior, eixo e classificação por diferenças étnicas. ESTREITOS E DIÂMETROS DA BACIA Na bacia menor, podemos descrever ao menos três estreitos. O estudo destas regiões se faz importante visto que nelas podem acontecer algumas das intercorrências durante o parto, uma vez que o canal de parto é, de fato, mais estreito nestas regiões. São eles: Estreito superior: ao nível abertura superior da pelve (isto é, limite entre as pelves maior e menor). Estreito médio: ao nível das espinhas isquiáticas. Estreito inferior: ao nível da abertura inferior da pelve (isto é, limite inferior da bacia obstétrica). É, portanto, preciso saber conhecer e examinar os estreitos para que, no momento do parto, o bebê passe com a maior segurança possível. Por esta razão, passaremos a estudar, de forma mais detalhada,cada um dos estreitos. Estreito superior. O estreito superior corresponde a abertura superior da pelve, justamente onde dividimos a bacia maior da bacia menor. É, portanto, o limite superior da bacia menor. Seus limites são: Promontório sacral (porção do sacro que se une à 5ª vértebra lombar); Asas do sacro e articulações sacroilíacas; Linha arqueada (ou linha inonimada, localizada na face interna do osso), eminência ílio-púbica (ou eminência íliopectínea) e linha pectínea; Margem superior do púbis e sínfise púbica. É graças ao estreito superior que se pode classificar o osso do quadril a depender do grau de sua abertura (ou diâmetros). Desta maneira, podemos classificar a bacia nas seguintes formas: bacia ginecóide (da mulher), bacia andróide (do homem), bacia antropóide (do macaco) e a bacia platipelóide. A bacia andróide (A) é característica no sexo masculino. Seu estreito superior apresenta um formato mais triangular, com diâmetro ântero-posterior relativamente pequeno. Esta arquitetura fornece uma maior firmeza à pelve masculina; contudo, quando for presente em uma mulher, pode apresentar riscos para o parto vaginal. A bacia ginecóide (B) é o tipo feminino mais comum. Seu estreito superior possui caracteristicamente um formato oval arredondado e um diâmetro transversal largo (contudo, basicamente, os diâmetros se equivalem). A bacia antropóide (C) apresenta um diâmetro ântero-posterior bastante grande, quando comparado ao diâmetro transversal, dando à pelve um aspecto elíptico. A bacia platipelóide (D) é mais arredondada, apresentando um aspecto que lembra um prato. Nesta forma de bacia, o diâmetro transverso é maior do que o diâmetro ântero-posterior. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 17 OBS1: Embora as diferenças anatômicas entre as pelves masculinas e femininas geralmente sejam claras, a pelve de qualquer pessoa pode ter algumas características do sexo oposto. A morfologia mostrada nas figuras A e C são mais comuns em homens, B e A em mulheres brancas, B e C em mulheres negras, enquanto o tipo D é raro em ambos os sexos. O estreito superior possui, pelo menos, três diâmetros principais. São estes diâmetros os responsáveis pela classificação morfológica da bacia. Os diâmetros do estreito superior são: Diâmetro ântero-posterior ou conjugado verdadeiro (a): traçado desde o promontório até a borda súpero-posterior da sínfise púbica (mais especificamente até o ponto de Crouzart). Mede cerca de 11cm. Diâmetro transverso médio (b): traçado entre os extremos das linhas arqueadas (ou linhas inonimadas) dos dois lados. Mede, aproximadamente, 13 cm. Diâmetros oblíquos: traçados desde a articulação sacro-ilíaca de um lado até a eminência ílio-pectínea do outro. O diâmetro oblíquo esquerdo ou primeiro oblíquo (letra c, na figura) se inicia na articulação sacro-ilíaca direita e parte até a eminência ílio-pectínea esquerda; o diâmetro oblíquo direito ou segundo oblíquo (letra d, na figura) é traçado deste a articulação sacro-ilíaca esquerda até a eminência ílio-pectínea direita. Medem cerca de 12cm. Estreito médio. O estreito médio localiza-se ao nível das espinhas isquiáticas, pequenas projeções póstero-mediais pontiagudas localizadas perto da junção entre o ramo e o corpo do ísquio. Consiste na zona de maior estreitamento (ou angustiamento) da bacia. Os limites do estreito médio são: Terço inferior do sacro (aproximadamente entre a 3ª e 5ª vértebra sacral); Ligamento sacro-isquiático (ou sacro-espinhal); Espinha isquiática; Margem inferior da sínfise púbica. Os diâmetros que constituem o estreito médio da bacia são: Diâmetro sacro-médio púbico (SMP): traçado deste o terço inferior do sacro (entre a 3ª e 5ª vértebra sacral) até o ponto mediano da sínfise púbica. Mede cerca de 12cm. Diâmetro biciático: traçado entre as duas espinhas isquiáticas. Consiste no menor diâmetro da bacia, medindo cerca de 10,5 cm. Estreito inferior. O estreito inferior é o mais complexo e diferente dos demais. Isso se dá por duas diferenças básicas: (1) não apresenta um formato circular característico, mas sim em losango; (2) os dois triângulos que compõem o losango estão dispostos em dois planos diferentes, estando as suas bases unidas em uma linha comum. Seus limites anatômicos são, portanto, representados por 2 triângulos de base comum (que constitui o diâmetro bituberoso). Triangulo anterior: Ângulo subpúbico (ápice) Ramos ísquipúbicos (lados) Diâmetro bituberoso (base) Triangulo posterior: Diâmetro bituberoso (base) Ligamentos sacro-tuberosos (lados) Ponta do sacro (ápice) Os diâmetros do estreito inferior são: Diâmetro cóccix-subpúbico (CSP): com disposição ântero-posterior, é traçado desde o cóccix até o ponto mediano abaixo da sínfise púbica. Mede cerca de 9,5 (chegando a 11 cm graças ao fenômeno de retropulsão do cóccix; ver OBS2). Diâmetro bituberoso: traçado entre as duas tuberosidades isquiáticas. Mede cerca de 11cm. OBS2: O cóccix se articula ao sacro por meio de uma articulação flexível que, durante o trajeto fetal pelo canal de parto, ele sofre um fenômeno conhecido por retropulsão do cóccix, o que garante ao diâmetro cóccix-subpúbico um aumento de, aproximadamente, 1,5cm. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 18 PLANOS PARALELOS DA BACIA Podemos identificar, pelo menos, 4 planos paralelos na bacia verdadeira. Tais planos, traados por Hodge, servem como referncia para avaliar o n vel em que se encontra a descida do feto. So eles: Plano I (Terminalebene): localizado altura do estreito superior (ou na abertura superior da pelve); Plano II (Chefe de Veit): meia distncia entre o estreito superior e estreito mdio, ao n vel da margem inferior da s nfise pbica; Plano III: ao n vel do estreito mdio, sendo a espinha isquitica seu ponto de referncia. Plano IV: ao n vel da abertura inferior da bacia. Quando o feto se encontra neste n vel, tradicionalmente, os obstetras referem que o feto “est coroando”, o que representa dizer que sua cabea est quase fora. Atualmente, os planos de Hodge ainda servem como referncia. Contudo, os planos paralelos de referncia mais utilizados so os planos de DeLee. Nesta referncia, tomemos a espinha isquitica como ponto mdio da bacia: tudo que est acima dela ser numerada, em cent metros, de forma negativa (-1cm, -2cm, -3cm, - 4cm e -5cm); tudo que estiver abaixo dela, por sua vez, ser graduada em cent metros positivos (+1cm, +2cm, +3cm, +4cm e +5cm). Portanto, neste estudo, a espinha isquitica o plano 0 (que corresponde ao plano III de DeLee). Com o aux lio dos planos paralelos de DeLee, podemos traar de forma mais correta e precisa a evoluo da descida do plo ceflico fetal. CLASSIFICAÇÃO E DIFERENÇAS ÉTNICAS DA BACIA ARCO ANTERIOR O arco anterior est situado adiante do dimetro transverso mdio do estreito superior, possuindo um raio de 6cm de comprimento. Seu conhecimento anatmico se faz importante no momento da avaliao da insinuao do plo ceflico: quando a cabea do feto j se encontra em posio baixa, no mais poss vel palpar o arco anterior; se a cabea ainda est alta, ser poss vel sentir o arco anterior. EIXO DA BACIA O eixo da bacia uma linha que corta ao meio dos diversos planos da bacia, sendo representada pela prpria linha imaginria de Caros (ver OBS4). Apresenta, portanto, uma linha perpendicular (linha de descida), que se estende at o estreito mdio, e outra linha anterior (linha de desprendimento). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 19 OBS3: Podemos notar no esquema ao lado que a bacia apresenta certa inclinação, sendo a referência de inclinação o ângulo formado entre o diâmetro ântero-posterior doestreito superior e uma linha horizontal traçada entre o promontório e L5 (que é de, aproximadamente, 60º). Quanto menor for esse ângulo, maior será a inclinação da bacia e maior será o aspecto de volume das nádegas. OBS4: Durante a descida fetal, o bebê descreve um movimento semelhante a um anzol, de forma que a primeira linha (reta) descreve a descida do feto (linha de insinuação e descida), enquanto que a segunda (curva) representa o desprendimento do mesmo (linha de desprendimento). Ao conjunto destas duas linhas damos o nome de linha imaginária de Caros. EXAME CLNICO DA BACIA A semiologia da pelve é fundamental. O prognóstico do parto pode ser razoavelmente entrevisto, no seu aspecto mecânico, ao cabo do correto emprego dos métodos habituais de exame da bacia. Demais da apreciação de todos os dados que o interrogatório, a inspeção geral e tocológica, e a palpação, nos podem fornecer sobre as várias causas capazes de influir na constituição da pelve. Cumpre avaliar-lhe a capacidade, a forma e a inclinação. Os principais exames físicos para avaliação da pelve e do osso do quadril são a pelvimetria e a pelvigrafia. Estes dois exames, quando possível, devem avaliar os três estreitos da bacia: o superior, o médio e o inferior. PELVIMETRIA Faz-se o estudo da capacidade da bacia por meio da pelvimetria, que procura estimar-lhe diâmetros, ora medindo-lhes externamente (pelvimetria externa) ou internamente (pelvimetria interna). Pelvimetria interna. A pelvimetria interna pode ser instrumental, digital e manual. Tem por escopo medir os diâmetros internos da escavação. Embora haja instrumentos para a realização da pelvimetria interna, podemos lançar mão de uma técnica para avaliação indireta do diâmetro da conjugada verdadeira (que apresenta, aproximadamente, 11 cm), chamada de regra de Smellie. Para a realização desta manobra, com a paciente em posição ginecológica, faz-se o toque vaginal com a mão direita no intuito de atingir o promontório. Uma vez atingido o promontório, com o dedo indicador da mão esquerda, marca-se o local onde a sínfise púbica repousa sobre a mão que realiza o toque (ver figura ao lado). Ao final disso, retiram-se as duas mãos e solicita a um auxiliar que meça a distância entre a ponta do dedo da mão direita até o local marcado pelo indicador da mão esquerda (a este índice, dar-se o nome de conjugata diagnonalis). Ao final da medida, devemos descontar cerca de 1,5cm (o que nos fornece a medida da conjugata vera obstétrica). Se o resultado for acima de 10,5cm, conclui-se que a criança pode passar pelo canal de parto. Pelvimetria externa. Parâmetro utilizado para estimar os diâmetros do estreito inferior. Para isso, estando a paciente em posição ginecológica, devemos medir com uma régua a distância entre as duas tuberosidades isquiáticas. Se a medida for maior do que 11cm, conclui-se que a criança passaria sem maiores dificuldades pelo canal de parto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 20 PELVIGRAFIA O julgamento da forma da bacia se faz através da pelvigrafia, que analisa os elementos constituintes da bacia, em sua regularidade individual e no conjunto deles. É, em outras palavras, a apreciação morfológica da pelve, a ser feita manual ou digitalmente, e pelo exame radiográfico. Pode ser interna ou externa. Pelvigrafia interna. Não existe pelvigrafia interna para o estreito superior. Por meio dela, devemos realizar a averiguação do chamado arco anterior da bacia, cujo raio de curvatura é de 6 cm. A pelvigrafia interna do estreito médio pode ser possível quando identificamos a presença da espinha isquiática: quando localizamos esta estrutura na bacia feminina, conclui-se que a probabilidade de um parto dificultoso é alta (sabe-se que na bacia feminina característica não existe espinha isquiática). Pelvigrafia externa. Procura-se conhecer o comprimento da sínfise e definir a altura e ângulo de abertura da arcada púbica. Por meio dela, devemos avaliar a abertura do ângulo subpúbico: com a mão espalmada, procura- se a sínfise púbica e coloca-se os dedos indicador e polegar sobre os ramos ísquio-púbis da bacia feminina. Quanto maior for o ângulo, melhor será a passagem do feto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 21 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA ESTÁTICA FETAL (Professor Eduardo Borges) As relações do produto conceptual com a bacia e com o útero constituem o que chamamos de estática fetal . Seu estudo permite o conhecimento da nomenclatura obstétrica, fundamental para o tocólogo. Até a 28ª semana de gestação, o bebê ainda não apresenta uma posição definida. Durante esta semana, ele realiza a chamada cambalhota fisiológica e assume, deste modo, seu posicionamento definitivo. Depois de estabelecido sua posição dentro do útero, o feto apresenta quatro propriedades cuja definição é objetivo deste capítulo. São elas: Situação: relação do maior eixo fetal com o maior eixo materno. Apresentação: parte fetal que se apresenta no estreito superior da bacia e nele vai se encaixar (em obstetrícia, leia-se, insinuar). Posição: relação do dorso fetal com o lado esquerdo ou direito da mãe. Atitude: relação existente das diversas partes do feto entre si. SITUA O FETAL Denomina-se situação à relação entre os eixos longitudinais fetal e uterino. Coincidentes os dois (paralelos), a situação será longitudinal ; quando perpendiculares, a situação é transversa ; se cruzados, será oblíqua ou inclinada . A primeira ocorre em 99,5% das vezes, e a última respresenta fase de transição na situação fetal que, no momento do parto, tende a se estabilizar em longitudinal ou transversa. APRESENTA O FETAL Assim se denomina a região fetal que se loca na área do estreito superior, ocupando-a em seu todo, aí tende a insinuar-se e, durante o parto, é sede de mecanismo bem determinado. Ao plano circunferencial da apresentação que se põe em relação com o estreito superior, chama-se plano de contacto da apresentação. À situação transversa corresponde sempre a apresentação córmica (com relação ao ombro). Duas apresentações podem ocorrer na situação longitudinal: a do pólo cefálico e a do pólo pélvico, e se nomeiam, respectivamente, apresentação cefálica e apresentação pélvica . No quadro seguinte, evidenciam-se as apresentações decorrentes da situação: Situação Apresentação Modos de apresentação Longitudinal Transversa Cefálica Pélvica Córmica Cefálica fletida e cefálica defletida Pélvica completa e pélvica incompleta Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 22 MODOS DA APRESENTAÇÃO CEFÁLICA O pólo cefálico pode apresentar-se fletido, com o mento próximo a face anterior do tórax ou dele se afastar em graus diversos de extensão. No primeiro caso, teremos as apresentações cefálicas fletidas, e no segundo, as apresentações cefálicas defletidas (de 1º grau ou bregmáticas; de 2º grau ou de fronte; e, na deflexão máxima, as de 3º grau ou apresentações de face). MODOS DE APRESENTAÇÃO PÉLVICA Estando o pólo pélvico no estreito superior, duas apresentações podem ocorrer: a apresentação pélvica completa, quando as coxas e as pernas estão fletidas sobre o tronco e a apresentação pélvica incompleta (também chamada de modo agripino ou modo de nádegas), quando fletidas as coxas sobre a bacia e as pernas se acham estendidas sobre a face anterior do tronco. POSI O FETAL Segundo a escola alemã, define-se posição como a relação do dorso fetal com o lado direito ou esquerdo materno, dificilmente podendo essa região fetal localizar-se francamente para diante ou para trás à vista da lordose lombar da gestante. Assim, teremos posição esquerda (ou 1ª posição), quando o dorso fetal se acha voltado para o lado esquerdo materno, e posição direita (ou 2ª posição),quando o dorso se orienta para o lado direito. ATITUDE FETAL Denomina-se atitude ou hábito fetal a relação das diversas partes do feto entre si. Graças à flexibilidade da coluna vertebral e à articulação occipitovertebral, durante a gestação, o feto se aloja na cavidade uterina em atitude de flexão generalizada, isto é, a coluna vertebral encurvada no seu todo e a cabeça com o mento aproximado da face anterior do tórax, o que dá ao concepto a forma ovóide (o ovóide fetal), que apresenta, então, dois pólos: o pólo cefálico e o pólo pélvico, este maior que aquele. Nos membros inferiores as coxas se fletem sobre a bacia e as pernas, na mesma atitude, sobre as coxas. Nos membros superiores os braços se locam na face anterior do tórax bem como os antebraços, também fletidos. Ao conjunto do tronco com os membros, dá-se a denominação de ovóide córmico. No início do trabalho de parto, e principalmente após a amniorrexe, a atitude do feto se modifica. Nessas condições, pela expansão do segmento inferior e pela incorporação da cérvice, o útero toma forma diversa, passando de globosa a cilindróide, o que obriga o feto a endireitar o tronco, diminuindo sua flexão de maneira a se constituir um cilindro, o cilindro fetal, formado pela cabeça fletidas sobre o tórax, com as pequenas partes a ele mais aconchegadas. Nessa atitude o referido cilindro apresente sítios de flexibilidade desigual: na região cervical a movimentação é mais fácil na direção ântero-posterior, e no tronco há maior tendência ao movimento no sentido lateral. Esses pormenores da atitude fetal durante o trabalho permitem explicar certas fases ou movimentos na mecânica do parto. A atitude do ovóide cefálico também se altera no decurso do trabalho. Aqui, a apresentação se apresta para iniciar os fenômenos mecanismos, modifica sua atitude, e se orienta num dos diâmetros do estreito superior (transversos ou oblíquos). Atitudes fetais anormais podem incluir uma cabeça que esteja estendida para trás, estendida para outras partes do corpo ou posicionada atrás das costas. As atitudes fetais anormais podem aumentar o diâmetro da parte de apresentação enquanto passa pela pélvis, aumentando a dificuldade do parto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 23 Situação, apresentação e posição do feto. a. Situação longitudinal, apresentação cefálica fletida, Occipito-esquerda-anterior (OEA); b. Situação longitudinal, apresentação cefálica fletida, Occipito-direita-anterior (ODA); c. Situação longitudinal, apresentação cefálica, Occipito-direita-posterior (ODP); d. Situação longitudinal, apresentação cefálica de fletida de 2º grau, naso-direita-anteiror; e. Situação longitudinal, apresentação pélvica completa; f. Situação longitudinal, apresentação pélvica incompleta (modo de nádegas); g. Situação oblíqua; h. Situação transversa, apresentação córmica, acrômio-esquerda-anterior; i. Situação transversa, acrômio-esquerda-anterior. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 24 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA MECANISMO E ASSISTÊNCIA AO PARTO NA APRESENTAÇÃO CEFÁLICA FLETIDA (Professor Francisco Mendonça) A importncia de se estudar a apresentao ceflica do parto, est justificada por esse tipo esta presente em praticamente 96,5% dos partos e a apresentao ceflica fletida est em torno de 95,5%. As outras apresentaes tambm so de extrema importncia, pois requerem medidas e atitudes espec ficas para que transcorra um parto dentro dos padres de normalidade tanto para o feto e para a me. DEFINI O quando a apresentao ceflica encontra-se ao n vel do plano de contato da apresentao (plano da circunferncia da apresentao que se pe em relao com o estreito superior) estando o mento prximo face anterior do trax, ou seja: fletida sobre este. ATITUDES DA CABEA FETAL Devido grande incidncia da apresentao ceflica fletida, os estudos, se prendem a esse tipo. Entretanto as outras formas de atitude da cabea fetal so de extrema importncia cl nica. o Cefálica fletida (vértice ou occipital): mais comum, onde o feto se encontra em apresentao ceflica, com o mento fletido sobre o trax. o Cefálica Defletida: conceituada como qualquer posicionamento apresentada pelo feto em que, o mento no se encontra fletido sobre o trax. Pode apresentar graus variveis. Geralmente esse tipo de apresentao tem uma evoluo ruim, representando em obstetr cia, partos complicados e de dif cil execuo. Ceflica defletida de 1 grau ou bregmatica: Ceflica defletida de 2 grau ou de fronte: Ceflica defletida de 3 grau ou de face: representa o tipo de apresentao que representa maiores dificuldades para sua realizao. VARIEDADES DE POSIÇÃO DA APRESENTAÇÃO CEFÁLICA FLETIDA O.P. – Occ pito - Pubiana O.E.A – Occ pito - Esquerda - Anterior O.E.T – Occ pito - Esquerda - Transversa O.E.P – Occ pito - Esquerda - Posterior O.S – Occ pitossacra O.D.P – Occ pito - Direita - Posterior O.D.T – Occ pito - Direita - Transverso O.D.A – Occ pito - Direita - Anterior Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 25 LINHAS DE ORIENTA O Para o estudo das linhas de orientação é necessário conhecer e acostumar o toque dessas determinadas regiões, no feto após o nascimento, cerca de 30 ou 40 minutos após o parto. Com isso, durante esse estudo deve-se tentar diferenciar os ossos parietais, principais suturas e fontanelas. Assim entre as principais linhas responsáveis para orientação quanto à apresentação cefálica do feto temos: A. Fontanela lambdóide (Posterior ou pequena fontanela), limitada pelo occipital e parietais, possuindo morfologia triangular saindo dos seus vértices as suturas sagital e lambdóide. Durante a avaliação da paciente no pré-parto, se for palpada a fontanela lambdóide, abaixo do púbis, pode-se dizer que a paciente se encontra em uma apresentação cefálica. B. Fontanela Bregmática e Sutura Sagitometópica: C. Glabela (ou raiz do nariz) e Sutura Metópica D. Mento e Linha Facial E. Crista Sacrococcígea e Sulco Interglúteo F. Gradeado Costal e Acrômio. OBS1: Em determinadas condições de apresentação o parto normal é impossível de ser realizado, só são efetuados quando o feto se encontra inviável (morto) há dias, e para sua retirada ocorre uma fratura da coluna vertebral, e com isso o feto descia em uma posição descrita como vértice. Entre as apresentações que isso ocorre são as apresentações cefálicas. Entretanto não são mais comuns na prática clínica atualmente. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 26 MECANISMO DO PARTO Alm de ter o conhecimento sobre as linhas de orientaes fetais, existentes outras informaes de grande importncia para o mdico obstetra para avaliar se o parto transplvico vivel. Assim entre as principais estruturas que se deve avaliar para o parto normal bem sucedido temos: Feto: esttica fetal Bacia: consiste na avaliao da anatomia da gestante, avaliando as condies que permitem um parto bem sucedido. Com isso nesses casos, quando a paciente no tem condies anatmicas que permitam um parto normal deve-se indicar o parto cesariana. Contração Uterina: Teoria dos 4Ps: envolve principalmente as condies emocionais da paciente, ou seja, suas situaes ps quicas da paciente. TRAJETO Partes Moles Segmento Interior Crvice Vagina Regio Vulvoperineal Partes Duras Grande Bacia Pequena Bacia ou Escavao Diante dessas consideraes, pode-se observar o quanto importante a realizao do toque vaginal para avaliao principalmente dessas partes citadas acima. Assim atravs do toque pode-se determinar a localizao do feto, posio e apresentao. Avaliar a presena de poss veis obstrues ao canal de parto,como exemplo, tumoraes plvicas, curvatura da s nfise pbica mais fechada. Essas consideraes so de tamanha importncia, que atualmente, existe uma subespecialidade da obstetr cia voltada somente para esse tipo de avaliao, chamada de tocoginecologia. TEMPOS DO PARTO So os movimentos passivos que o feto executa no transcurso do canal do parto. Quando o feto est em procedimento de “descida”, atravs do desfiladeiro plvico realiza movimentos que so de extrema importncia para a acomodao perfeita ao longo do canal plvico, permitindo assim, um parto mais fcil e com menor nmero de complicaes. Os principais movimentos realizados pelo feto so movimentos de rotao. INSINUAÇÃO OU ENCAIXAMENTO a passagem da maior circunferncia da apresentao atravs do anel do estreito superior. definida ou caracterizada anatomicamente, pela passagem do feto da grande bacia para a pequena bacia. DESCIDA Aps sua apresentao na pelve menor, inicia-se a segunda fase do parto, denominada de descida atravs do estreito inferior, em que a cabea migra at as proximidades do assoalho plvico, onde comea o cotovelo do canal. ROTAÇÃO INTERNA DA CABEÇA Pode ser identificada atravs do exame do toque, pela qual, em intervalos de 2 ou 3 horas, avalia-se a posio do feto, que sofre rotao progressiva, atendendo a sequncia: occipitossacro, posteriormente occ pito transverso e occipito-pbico. DESPRENDIMENTO DA CABEÇA Sabe-se que durante o parto existem as foras que impulsionam o feto para baixo (principalmente as contraes uterinas), enquanto que a pelve promove uma contraposio, dada especialmente pelos ligamentos redondos. Dada a curvatura inferior do canal do parto o desprendimento se processa por movimento de deflexo, a nuca do feto toma apoio na arcada pbica e a cabea oscila em torno desse ponto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 27 ROTAÇÃO EXTERNA DA CABEÇA E ROTAÇÃO INTERNA DAS ESPÁDUAS Após isso o feto se apresenta em uma posição occipitopúbica, também chamada de apresentação direta. Paralelamente ao desprendimento cefálico do feto ocorre, a rotação externa da cabeça (ocorre independente da influência do obstetra) e a rotação interna das escápulas. Essa rotação externa é importante para a passagem do corpo do feto, pois o diâmetro biacromial é maior que o cefálico. Com isso essa rotação externa da cabeça e interna das escápulas é de extrema importância para a passagem do feto. É importante salientar que esses movimentos ocorrem fisiologicamente, o médico obstetra nesses casos desempenha um papel secundário. DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS Depois da realização do movimento de rotação externa da cabeça e interna das escápulas deve-se realizar um movimento de tração com o concepto para que haja o desprendimento total dos ombros do feto. Os movimentos de tração são realizados através da cabeça do feto: (1) primeiramente realiza-se uma tração inferiormente, com intuito de desprender o ombro anterior, (2) após o descolamento do ombro anterior realiza-se o mesmo movimento para cima para que ocorra o desprendimento do ombro posterior. ASSISTNCIA AOS PERODOS CLNICOS DO PARTO O partograma é responsável por registrar os principais passos durante o trabalho de parto. Como vimos a propóstito da assistência ao parto, é prudente rever os períodos clínicos do parto, que são divididos, didaticamente, em: • Dilatação: corresponde à cervicodilatação do colo uterino. • Expulsão: período compreendido desde a dilatação até a expulsão, propriamente dita, do concepto. • Dequitação: consiste no descolamento, descida e expulsão da placenta. • 4º período de Greemberg: corresponde à primeira hora após a dequitação quando uma hemorragia pode sobrevir. Neste período, ocorre o trombotamponamento e o miotamponamento: fenômeno que consiste na contração da musculatura uterina na tentativa de ocluir as artérias que estavam conectadas à placenta, fazendo com que haja um pinçamento (hemostasia) das artérias do leito vascular sangrante, sendo completada com a ação plaquetária no intuito de formar um verdadeiro tampão. A partir destes períodos pré-definidos, veremos, neste momento, o manejo e a assistência médica para com a paciente em trabalho de parto. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO A assistência ao trabalho de parto se inicia primeiramente através do diagnóstico, ou seja, detectar que a paciente se encontra em nessa condição. Assim para isso existem uma série de medidas que devem ser avaliadas criteriosamente: Contrações dolorosas rítmicas (2/10 min), com duração de 20 a 60 segundos: essas contrações rítmicas se devem ao fato de liberações em bolus de ocitocina, que determinam um maior número de contrações uterinas, entretanto esse bolus é inibido pela ação da ocitocinase. Isso é importante, pois uma descarga constante de ocitocina iria determinar um fluxo sanguíneo reduzido para o feto, levando-o ao óbito. Com isso essa interrupção é importante para a passagem de O2 para o feto. Entretanto existem outros tipos de ocitócitos, que não são sensíveis a ação da ocitocina, determinando assim contrações constantes, que, tem uma maior importância no pós-parto. Colo apagado nas primíparas e dilatado para 02 cm: ocorre devido às contrações uterinas que forçam a passagem do feto através do colo uterino, com isso determinando sua dilatação e conseqüente apagamento. Quanto a esta dilatação, estima-se que seja de aproximadamente 10 cm (máximo), para que permita a passagem do feto, sem que ocorra laceração do colo uterino. Entretanto quando essa dilatação está em torno de 2 cm, pode afirmar que as contrações uterinas estão estimulando a saída do feto. Essa dilatação demora em torno de 8 a 12 horas para que seja totalmente estabelecida. Colo semi-apagado nas multíparas e dilatado para 03 cm: isso é importante, pois o colo uterino das pacientes que já tiveram filhos, apresentam-se mais dilatados, com isso, 2 cm de dilatação em pacientes multíparas não é o suficiente para se estabelecer o diagnóstico do trabalho de parto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 28 Formação da bolsa das águas Eliminação do tampão mucoso: devido ao apagamento do colo, composta por fibras colagenoses, muco, macrófagos, impedindo que bactérias ascendam do canal de parto para a cavidade amniótica. A perda desse tampão mucoso é uma das indicações importantes para o diagnóstico de trabalho de parto. ASSISTÊNCIA NA DILATAÇÃO OU 1º PERÍODO DO PARTO A dilatação (1º período do parto) inicia-se com as contrações uterinas dolorosas e termina com a dilatação cervical completa (10 cm). Essa dilatação ocorre devido às forças de contrações uterinas, que determinam na parede pélvica uma força contralateral, que favorece a abertura e dilatação do colo uterino. Os cuidados imediatos são: Toque vaginal: os cuidados com o toque vaginal devem incluir assepsia e anti-sepsia adequada, impedindo a disseminação e colonização de bactérias. Através do toque deve-se avaliar a apagamento, dilatação, orientação e consistência do colo uterino. Avaliar a situação do feto: posição, variedade, altura e proporcionalidade à bacia flexão e/ou assinclitismo. Altura da apresentação: Bolsa das águas: avaliar a presença de bolsa rota ou íntegra. Importante principalmente para o rastreamento de infecções. Vitalidade do concepto: realizada através da ausculta dos batimentos fetais. Alimentação: nas pacientes que se encontram em trabalho de parto avançado e há contra-indicação para a administração de alimentos, deve-se dar um suporte adequado para essa paciente para evitar a fadiga. Deambulação: devido à própria força da gravidade que faz com que as contrações uterinas sejam mais eficazes facilitando assim o trabalho de parto. Cateterismo vesical: é realizada quando está diante de uma pacientecom eclampsia e pré-eclâmpsia. Além disso, quando o parto normal é complicado e a paciente encontra-se em eminência de trocar de um parto normal para cesariana. Perfusão venosa: Analgesia do parto: quando a paciente necessita de um melhor conforto para o trabalho de parto, principalmente devido à dor de parto. Ocitócitos: utilizados com cautela para não determinar sofrimento fetal. Meperidina: tem como função principal relaxar a musculatura lisa, do útero e do colo, proporcionando sua dilatação com uma maior facilidade. OBS2: Nas pacientes que estão em trabalho de parto durante várias horas, em jejum, é pertinente a realização de uma hidratação venosa (soro glicosado), administração de adenosina trifosfato, glicose e em alguns casos O2. Com essas medidas previne-se uma fadiga importante dessa musculatura, menor necessidade de administrar ocitocina, menor grau de sedação. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 29 OBS3: Aspectos maternos acompanhados no trabalho de parto: Intensidade da Contrao: Fraca / moderada / forte Durao da contrao: Curta (abaixo de 20 segundos): quando as contraes so curtas, no haver fora suficiente para a dilatao do colo uterino, no progredindo o trabalho de parto. Com isso nesses casos est indicada a administrao de ocitocina. Apropriada (entre 20 e 60 segundos): Alongada (acima de 60 segundos): quando a durao da contrao est acima de 60 segundos, tem repercusso para a oxigenao fetal, pois a reserva energtica est sendo pequena para o feto. Com isso tm-se muitas contraes com pouca oxigenao. Podendo determinar sofrimento fetal. Frequncia da contrao Polissistolia: acima de 05 contraes em 10 minutos, favorecendo ao sofrimento fetal. Adequada: entre 02 e 05 contraes em 10 minutos Hipossistolia: menos de 02 contraes em 10 minutos. Sendo este o momento adequado para a administrao de ocitocina, na tentativa de normalizao da frequncia das contraes e com isso promover um trabalho de parto adequado. Dilatao ou Apagamento do Colo Uterino (00 a 10 cm) Grosso: mais de 03 cm de comprimento Mdio: 01 a 03 cm de comprimento Fino: menos de 01 cm de comprimento Descida do Plo Fetal Alto: (-1, -2 e -3 de De Lee) Mdio: (0 de De Lee – espinhas citicas) Baixo: (+1, +2 e +3 de De Lee) ASSISTÊNCIA NA EXPULSÃO OU 2º PERIODO Inicia-se com a dilatao completa e se encerra com a sa da do feto. A tcnica adequada para a assistncia expulso fetal feita da seguinte forma: (1) flexo moderada da perna sobre a coxa, e dessa sobre o tronco (posio de Bonnaire-Bu), (2) exagero da flexo que aumenta o dimetro anteroposterior do estreito inferior (posio de Laborie-Duncan), (3) Posio de Crouzat-Walcher que amplia o estreito superior (inspirado em Lorca,C.). Essas posies determinam um aumento de 1 cm na distncia do pbis ao promontrio. Posição de Laborie-Duncan: Anestesia loco regional: Episiotomia: a episiotomia mais realizada no ngulo de 15 e 30 graus. As outras angulaes no so totalmente contra- indicadas. Entretanto nas pacientes em foi realizada a inciso de forma lateral, pode cursar com fibrose da musculatura (resultada da cicatrizao), tendo assim como queixa principal a dispareunia (dor a relao sexual). Entretanto algumas pacientes, principalmente as caucasianas apresentam uma distncia do stio vaginal ao esf ncter anal maior, com isso sendo realizada a inciso vertical. Proteção do períneo: para que no haja lacerao durante a passagem do feto. Manobra de Kristeller: consiste na compresso bimanual, em n vel do fundo do tero para facilitar o trabalho de parto e intensifica e estimular as contraes uterinas. Entretanto pode determinar um violento aumento de presso intra-uterina, podendo seguir com trauma do endomtrio e de v sceras abdominais, deslocamento prematura da placenta e leso do sistema nervoso central do feto. Fórcipe de alívio: utilizada principalmente nos casos em que o feto j desceu, entretanto no ocorreu um desprendimento adequado. Nestas situaes, pode-se utilizar o frceps de al vio, no lugar da ocitocina que pode determinar uma oxigenao precria ao feto. Assistência ao desprendimento dos ombros: Revisão da vagina e colo Episiorrafia Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 30 ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO Limpeza da face Aspiração oral e nasal Cálculo do ÁPGAR Ligadura do cordão Profilaxia da oftalmia gonocócica com hidróxido de alumínio Avaliação dos fenômenos plásticos do RN: importante para o acompanhamento do recém-nascido, identificando a presença de edema, inchaços, tumorações, etc. Identificação SECUNDAMENTO OU 3º PERIODO O secundamento (decedura, delivramento, descolamento, dequitação, dequitadura) pode ocorrer de duas formas: (1) Mecanismo da dequitação segundo Baudelocque-Schultze e (2) segundo Baudelocque-Duncan. No primeiro caso a placenta se encontra posteriormente no fundo do útero, no momento do descolamento vai ocorrer primeiro a exteriorização da placenta para então haver a eliminação do coágulo. Entretanto quando a placenta se encontra lateralizada, no momento do descolamento, ocorre primeiro o sangramento e logo em seguida a exteriorização da placenta, caracterizando o descolamento de Baudelocque-Duncan. O descolamento da placenta ocorre devido às contrações uterinas, uma vez que, a placenta se encontra aderida a parede do endométrio. Alguns consensos orientam a administração de 10 unidades de ocitocina para a saída da placente. Imediatamente após a dequitação (saída da placenta) a disposição da musculatura no fundo e corpo do útero permitem o miotamponamento dos vasos uterinos por meio da sua contração (ligaduras de Pinard). As pacientes no pós-parto que apresentam um útero relaxado provavelmente vão apresentar sangramentos no interior do útero. Com isso, nesses casos é necessária a administração de substâncias que determinam a contração uterina promovendo um miotamponamento. Nesses casos a contração uterina é mantida de forma constante através da secreção da ocitocina, que não é sensível a ocitocinase, sendo assim de grande importância para a miotamponagem uterina. A Manobra de Jacob-Dublin consiste na retira da placenta no sentido horário. Dessa forma foi comprovada que tem a menor possibilidade de permanecer membranas retidas no interior do útero. QUARTO PERÍODO DE GREEMBERG Corresponde a 1ª hora após a saída da placenta Miotamponagem (Pinard) Trombotamponagem Indiferença miouterina: quando não ocorre o fenômeno de PINARD. Contração uterina fixa Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 31 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA PARTOGRAMA (Professor Roberto Magliano de Morais) O partograma consiste no registro grfico do trabalho de parto que demonstra a evoluo da dilatao e da descida da apresentao fetal. As medidas podem incluir ainda estat sticas como a dilatao cervical, frequncia card aca fetal, durao do trabalho de parto e sinais vitais. Este tema representa um assunto bsico em Obstetr cia. Seu estudo foi introduzido para facilitar o acompanhamento do trabalho de parto e, consequentemente, tranquilizar a paciente, familiares e a equipe de planto no que diz respeito evoluo do parto. O partograma tem como finalidade a realizao de um registro acurado do progresso do trabalho de parto, de maneira que qualquer atraso ou desvio do normal seja detectado e tratado rapidamente. Por meio dele, tambm, o obstetra pode se defender legalmente de uma eventual acusao ou queixa contra seus atos realizados no momento do parto. IMPORTNCIA Simplicidade, praticidade, objetividade Acompanhamento do trabalho de parto mesmopor principiantes ou paramdicos Facilita a passagem do planto no pr-parto Melhora a qualidade da assistncia ao parto Permite corrigir precocemente partos disfuncionais Diminui a incidncia de cesreas Favorece o uso racional de ocitcicos (ocitocina exgena) e analgesia Reduz os riscos de morte perinatal Defesa profissional, por se tratar de um documento escrito legal CONSIDERAES PRELIMINARES O partograma responsvel por registrar os principais passos durante o trabalho de parto. Como vimos a propstito da assistncia ao parto, prudente rever os períodos clínicos do parto, que so divididos, didaticamente, em: • Dilatação: corresponde cervicodilatao do colo uterino. • Expulsão: per odo compreendido desde a dilatao at a expulso, propriamente dita, do concepto. • Dequitação: consiste no descolamento, descida e expulso da placenta. • 4º período de Greemberg: corresponde primeira hora aps a dequitao quando uma hemorragia pode sobrevir. Neste per odo, ocorre o trombotamponamento e o miotamponamento: fenmeno que consiste na contrao da musculatura uterina na tentativa de ocluir as artrias que estavam conectadas placenta, fazendo com que haja um pinamento (hemostasia) das artrias do leito vascular sangrante, sendo completada com a ao plaquetria no intuito de formar um verdadeiro tampo. Alm desta diviso didtica dos per odos cl nicos do parto, Friedman, em 1954, instituiu a divisão funcional do parto nos seguintes per odos: • Período preparatório: per odo em que a mulher ainda no entrou, de fato, no trabalho de parto. Neste momento, a mulher j apresenta contraes uterinas, por vezes dolorosas ou no, de intensidades diferentes. Contudo, tais contraes so insuficientes para provocar a cervicodilatao e, consequentemente, a entrada da paciente em trabalho de parto franco. Todavia, estas contraes tm a funo de preparar o colo do tero para o trabalho de parto. • Período de dilatação: corresponde ao mesmo per odo de cervicodilatao da diviso cl nica do trabalho de parto, vista previamente. Para efeitos de diagnstico de trabalho de parto, este per odo deve constar de uma dilatao de pelo menos 2 a 3 cm, com colo esvaecido e a presena de 2 a 3 contraes r tmicas em 10 minutos. Alm disso, neste momento, ocorre a formao da bolsa das guas (cavidade cheia de l quido situada entre o mnio e o crion). A tendncia que esta bolsa rompa ao final do per odo de dilatao – muito embora este rompimento ocorra at antes do in cio do trabalho de parto. • Período pélvico: muito parecido com o per odo anterior, sendo dif cil distingui-lo clinicamente do per odo de dilatao. O per odo plvico se diferencia por ser caracterizado pela insinuao profunda e rotao da cabea fetal na bacia. neste per odo que os principais mecanismos do parto ocorrem. Entre eles, pode ocorrer a desacelerao da dilatao (mas que nem sempre acontece): em mdia, quando o trabalho de parto se inicia, o colo uterino comea a dilatar de forma muito rpida (1 cm/hora e 1,5cm/hora para mult paras). Portanto, neste per odo, o colo comea a dilatar-se mais lentamente. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 32 A realização do partograma depende, basicamente, do entendimento de todos estes períodos pré-citados e, fundamentalmente, de saber como diagnosticar o trabalho de parto franco. Dentro do trabalho de parto, devemos considerar como principal sinal a presença de contrações rítmicas e, em segundo plano, a dilatação do colo uterino. De fato, o que mais caracteriza o trabalho de parto é a presença de contrações rítmicas. As mais características são aquelas que possuem uma duração média de 50 a 60 segundos, separadas por intervalos de 5 minutos regulares. Além das contrações rítmicas, a dilatação do colo e a descida da cabeça fetal também são eventos importantes e que devem ser registrados no partograma. No período de dilatação da divisão funcional, o grau de dilatação do colo e a velocidade da descida da cabeça fetal acontecem de forma rápida; contudo, quando se tem o início do período pélvico da divisão funcional do parto, como vimos, corre uma desaceleração nestes dois eventos. Por esta razão, a dilatação cervical obedece a uma curva sigmóide enquanto a descida da apresentação segue uma curva hiperbólica (como veremos logo adiante). FASES DA CERVICODILATAÇÃO E CURVA DE DESCIDA DA APRESENTAÇÃO Segundo Friedman (1978), o período funcional de dilatação pode ser dividido nas fases descritas abaixo. A partir da observação delas, Friedman desenhou um gráfico representando-as. • Fase de latência: fase em que ocorrem as primeiras contrações regulares até fase ativa. É caracterizada pela coordenação e polarização das contrações. Seu traçado gráfico, no que diz respeito à dilatação cervical, constitui uma curva quase horizontal, pois ocorre discreta variação da dilatação. Esta fase tem a função de preparar o colo para fase ativa, tendo uma duração média de 16 a 20h. É justamente nesta fase que a família pressiona o profissional a internar a paciente, que já se encontra com contrações; contudo, ainda não é chegado o momento e, na verdade, ainda não há trabalho de parto, sendo desnecessária a internação neste momento. • Fase ativa: fase em que ocorre apagamento, dilatação cervical (3 cm) e início das contrações regulares (com duração de 50 a 60 segundos separadas por intervalos de 5 minutos). Esta fase subdivide-se em 3 estágios: o Aceleração: curta e variável. o Inclinação máxima: reflete a eficácia da contração e dilatação. o Desaceleração: traduz a relação fetopélvica. No que diz respeito à apresentação fetal, Friedman observou um traçado gráfico hiperbólico ao estabelecer a relação entre a altura da cabeça fetal durante a apresentação (sendo a espinha isquiática o ponto de referência, segundo De Lee) e o tempo. A partir daí, Friedman desenhou a Curva de descida da apresentação e dividiu este fenômeno nas seguintes fases: • Fase latente: Início do trabalho de parto até ponto de descida ativa • Fase ativa: coincide com fase ativa de dilatação. Subdivide-se em: o Aceleração: inclinação máxima o Desaceleração: fase perineal Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 33 Desta forma, temos o seguinte gráfico comparativo: A análise conjunta das curvas de dilatação e descida permite avaliar evolução do parto. Pode-se, portanto, quantificar a evolução do parto por meio dos seguintes parâmetros: Dilatação cervical: analisada com relação ao tempo em horas no eixo do x do gráfico. No partograma, temos o auxílio de um espaço quadriculado para tal marcação. Cada quadrado representa, na horizontal, o intervalo de 1 hora, enquanto que, na vertical, representam a dilatação de 1 cm. Descida da apresentação fetal: analisada com relação ao eixo do y do gráfico, tomando como base a distância, em centímetros, do plano 0 de DeLee (sendo as espinhas isquiáticas o nosso ponto de referência): tudo que estiver acima das espinhas isquiáticas será numerada, em centímetros, de forma negativa (-1cm, -2cm, -3cm, - 4cm e -5cm); tudo que estiver abaixo delas, por sua vez, será graduada em centímetros positivos (+1cm, +2cm, +3cm, +4cm e +5cm). Deste modo, descreve-se uma curva hiperbólica. CONSTRU O DO PARTOGRAMA O partograma (cujo modelo da OMS, 1988, segue como anexo no final deste capítulo) deve resumir toda a avaliação clínica da parturiente e do seu feto, o que inclui: FCF Integridade das membranas Características do líquido amniótico Presença de bossa serossanguínea Dilatação cervical Frequência e intensidade das contrações Descida da apresentação(planos de De Lee ou Hodge) Medicamentos e fluidos ministrados Sinais vitais maternos Rubrica do examinador As principais orientações para a construção de um partogramasão: 1. Preencher data, identificação da parturiente e prováveis diagnósticos obstétricos, ginecológico e clínico-cirúrgico. Todos estes dados são importantes. A paridade, por exemplo, deve ser anotada pois, quanto mais filhos a mulher tiver, mais rápido se procede o seu parto (visto que sua dilatação chega ao nível de 1,5cm/hora) e melhor será sua evolução clínica. No item 4 do exemplo acima, devemos anotar os seguintes dados da paciente: gestas (G: isto é, quantas vezes a paciente engravidou), para (P: quantos bebês ela deu a luz) e abortamentos (A). Portanto, se uma paciente obstétrica engravidou 6 vezes (contando com a atual gravidez), deu a luz a 3 e perdeu dois, devemos anotar da seguinte maneira: G: 6; P: 3; A: 2. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 34 A data de admissão e a hora do início do trabalho de parto são dados de extrema importância: é através da referência do início do trabalho de parto que se tem a idéia da evolução deste partograma. 2. Auscultar e registrar a frequência cardíaca fetal (FCF) a cada 30 minutos (antes, durante e após as contrações). Esta mensuração é importantíssima durante o trabalho de parto e no acompanhamento da paciente. É a frequência cardíaca que nos dá a idéia da vitalidade do bebê. Esta mensuração deve ser feita nos intervalos das contrações, visto que a contração uterina retarda a oferta de sangue para o bebê (contrações vigorosas e duradouras podem, portanto, causar hipoxemia). É por esta razão que o uso de ocitocina durante o trabalho de parto deve ser feito com parcimônia: se a paciente já tem, fisiologicamente, um certo grau de contração suficiente para provocar cervicodilatação e descida do bebê, uso de ocitocina, embora potencialize este efeito, pode trazer um grau de hipóxia ainda maior para o bebê. Portanto, o uso de ocitocina só deve ser feito em casos de extrema necessidade. 3. Registrar as contrações uterinas (frequência e intensidade), a cada 30 minutos. 4. A integridade da bolsa das águas deverá ser descrita de acordo com as siglas: BI - Bolsa íntegra BRA - Bolsa rota artificialmente BRE - Bolsa rota espontaneamente 5. As características do líquido amniótico serão descritas da seguinte forma: LCCG - Líquido claro com grumos LCSG - Líquido claro sem grumos M - Mecônio (+ a ++++) A presença de grumos (resultado da maturação da pele fetal) no líquido amniótico significa dizer que a gestação é a termo e o feto é maduro. Se ele está claro, prediz uma situação normal, com boa condição fisiológica. A coloração esverdiada do líquido não prediz, obrigatoriamente, uma situação de alarme, mas pode sugerir apenas uma eventual evacuação fetal; contudo, em alguns casos, pode representar um sinal de hipóxia fetal, que, por meio de uma estimulação vagal, provoca o relaxamento do esfíncter anal do bebê. OBS1: Antes de registrar o grau de dilatação cervical e a descida de apresentação fetal, devemos definir os conceitos das linhas de referência propostas por Philpott e Castle (1972): Linha de alerta: linha ascendente (em 45º com o eixo x) traçada na hora subseqüente ao 1º exame. Linha de ação: linha paralela à linha de alerta (também em 45º com o eixo x), traçada 4 horas (4 quadradinhos) à direita da linha de alerta. Tais linhas servem como parâmetro para identificar se a contração está ocorrendo em uma velocidade fisiológica e adequada ou se o parto está tendendo a se tornar distórcico (dificultoso). Entre estas linhas, tem-se a idéia de 3 zonas: a Zona 1 (à esquerda da linha de alerta), a Zona 2 (entre as duas linhas) e a Zona 3 (à direita da linha de ação). Na evolução normal do parto eutócico, a dilatação cervical ocorre à esquerda da linha de alerta (Zona 1), sem nunca atingir a linha de alerta ou ultrapassá-la. Note que a linha de alerta no partograma ao lado está traçado na hora 8, o que significa que o primeiro exame aconteceu exatamente às 7 horas da manhã. Com isso, a linha de ação deve ser traçada às 12 horas. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 35 6. Registro da dilatao cervical e descida da apresentao. As anotaes devem ser iniciadas no momento em que a paciente entra na fase ativa do trabalho de parto (obviamente, aps a fase latente), que se caracteriza pela presena de, pelo menos, 3 contraes em 10 minutos e dilatao de 3 cm. Em caso de dvida, podemos esperar mais uma hora adicional depois que estes parmetros da fase ativa forem atendidos. neste momento, ento, que devemos internar a paciente e iniciar as anotaes dos achados do exame f sico no partograma. Para isso, devemos seguir os seguintes parmetros: Cada diviso horizontal corresponde a 1hora e cada diviso vertical a 1 cm de dilatao cervical e de descida da apresentao. Traar a linha de alerta na primeira hora do exame (na hora 0 ou, se preferir, na hora exata referida no eixo x) e a linha de ao, 4 quadradinhos depois da linha de alerta. Entre as linhas, devemos considerar as zonas que serviro como referncia para o nosso grfico. A linha de latncia (mostrada no partograma da OMS) nem sempre est presente e, portanto, podemos desprez-la, desenhando o partograma sem utiliz-la uma s vez. A dilatao deve ser representada por um tringulo (▲) e a altura da apresentao por meio de uma circunferncia (representando o plo ceflico com variedade de posio, quando poss vel). O primeiro registro do partograma, como vimos, deve ser feito no in cio da fase ativa (caracterizada pela presena de 3cm de dilatao e 2 a 3 contraes regulares, em pelo menos 10 minutos). Na dvida, podemos aguardar 1h para realizar um novo exame e, s ento, registrar com certeza. Inicialmente, devemos marcar na hora imediatamente anterior ( esquerda) da linha de alerta. Veja o exemplo abaixo, em que, no momento do primeiro exame, quando o feto estava em apresentao occipito-esquerda-transversa, no plano -4 de DeLee e a paciente apresentava 4 cm de dilatao: Como vimos a propsito da OBS1, devemos tomar as linhas de alerta e de ao como referncia. Tais linhas facilitam o diagnstico dos partos distcicos. Os partos de evoluo normal ocorrem esquerda da linha de alerta (Zona 1). Quando a curva de dilatao cervical ultrapassa a linha de alerta (Zona 2), e ou a linha de ao (Zona 3), o parto deve ser considerado disfuncional, o que caracteriza uma distrcia (sendo necessria a interveno mdica para descobrir o tipo de distorcia e prover uma correo). Desta forma, temos: O porcentual de partos normais maior quando a dilatao cervical evolui esquerda da linha de alerta (Zona 1). O porcentual de cesareanas tanto maior quanto mais direita da linha de alerta (Zonas 2 e 3) evoluir a curva de dilatao. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 36 INTERPRETA O DO PARTOGRAMA PARTO FISIOLÓGICO No partograma ao lado, observamos uma paciente que entrou em trabalho de parto s 7 horas, com 4cm de dilatao. Duas horas depois, apresentava 5cm. Duas horas depois, 7cm, chegando a 9cm, cerca de 6 horas do in cio do trabalho de parto. A descida fetal tambm aconteceu de maneira efetiva, iniciando com apresentao OET e terminando em occipito-esquerda-anterior (OEA), ao n vel do plano +4 de DeLee. Tais achados caracterizam um parto fisiolgico (eutrcico). PARTO DISTÓRCICO O partograma ao lado mostra a evoluo de um parto distrcico. Note que a dilatao cervical no progrediu de maneira efetiva, de modo que a curva de dilatao ultrapassou a linha de alerta e atingiu a linha de ao. Associado a isso, a descida de apresentao no aconteceu (a cabea do feto continua alta, no plano -4 de DeLee, mesmo depois de cerca de 6 horas de trabalho de parto). FASE DE LATÊNCIA PROLONGADA Este fenmeno ocorre quando a fase de latncia superior a 20 horas – isto , a paciente experimenta de contraes ineficientes, sem ritmicidade, ao longo de 20 horas. Neste caso, devemos promover um acompanhamento ambulatorial adequado, orientando e tranquilizando a paciente, desde que no se trate de gestante de risco. Contudo, a maioria dos mdicos no esperam o fim deste per odo de latncia de optam pela cirurgia cesariana. No geral, a fase de latncia dura cerca de 8 a 9 horas, como mostrado no traado esquerda (vermelho). Neste per odo, como vimos, a paciente experimenta contraes sem ritmo ou funo alguma. Na fase de latncia prolongada, a paciente passa por estes sintomas ao longo de 20 horas, aproximadamente (grfico azul, da direita). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 37 FASE ATIVA PROLONGADA Neste quadro, ocorre dilatação progressiva, porém lenta (velocidade<1cm/hora), que facilmente ultrapassa a linha de alerta, podendo atingir inclusive a linha de ação. Geralmente, é causada por contrações ineficazes, incoordenadas (inércia uterina primária). A fase ativa prolongada pode ser corrigida com ocitocina e, por vezes, amniotomia. O partograma ao lado o registro de uma paciente que iniciou o trabalho de parto com 3 contrações/10minutos, evoluindo para 4 fortes contrações/10 minutos, chegando a 5 fortes contrações/10 minutos. Contudo, ao mesmo tempo em que isso acontecia, o colo uterino não dilatou como deveria, de modo que, no inicio do trabalho de parto, apresentava 2 a 3 cm de dilatação, mas quase 7 horas depois, apresentava apenas 5 cm, tocando, nesta ocasião, a linha de ação. Note que, mesmo com uma dilatação inferior ao esperado, a cabeça do bebê continuou descendo. Provavelmente, o médico deve ter rompido a bolsa (amniotomia) ou administrado ocitocina na 13ª hora do registro, acelerando a contração uterina. Gráfico representativo mostrando uma situação de fase ativa prolongada. PARADA SECUNDÁRIA DA DESCIDA Caso em que ocorre parada da descida fetal após cervicodilatação completa no intervalo mínimo de 1 hora. Geralmente, ocorre quando a velocidade de descida é menor que 1cm/h (para as nulíparas) ou 2cm/h (para as multíparas). Pode ocorrer secundário aos seguintes fatores: desproporção cefalopélvica, esgotamento, bloqueio motor, falta de analgesia, etc. Geralmente, realizando um bloqueio efetivo da dor da paciente, podemos resolver o quadro. Contudo, se houver alteração da vitalidade fetal associada, temos um fator de mau prognóstico, sendo prudente a realização de cesariana. Partograma mostrando registro de paciente que apresentava contrações efetivas e dilatação ampla; contudo, a descida fetal continuou parada, fixa no plano -3 de DeLee. Provavelmente, há uma desproporção céfalo-pélvica. Quando a dilatação atinge a linha de ação e, mesmo assim, a descida não acontece, há uma grande associação a sofrimento fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 38 Curva mostrando a comparação entre uma descida fetal ineficiente (gráfico verde) e uma descida eficiente (gráfico em azul), mesmo associada a uma dilatação cervical adequada (traçado vermelho). PARTO TAQUITÓCICO Parto caracterizado por um trabalho de parto com duração inferior a 3 horas, com padrão contratural de hipersistolia e de taquissistolia. É o típico caso em que o Obstetra realiza o toque e observa uma contração moderada. Pouco tempo depois, sem a mínima expectativa por parte do médico, a paciente dá a luz de forma repentina. É um quadro mais comum em multíparas, ou por iatrogenia. Geralmente, provoca sofrimento fetal (usualmente por hipoxemia, devido às contrações uterinas vigorosas) e lacerações do canal de parto. Partograma mostrando o registro de uma paciente que chegou na primeira hora do exame com 3 a 4 cm de dilatação, apresentando 5 vigorsas contrações em 10 minutos, de forma tal que, com cerca de 4 horas depois, sua dilatação há havia, praticamente, triplicado de dimensão. Note ainda o quão aguda foi a descida fetal, de forma que o feto, que na primeira hora se apresentava no plano -4 de DeLee, 2 horas depois já teria se exteriorizado. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 39 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA FÓRCEPS OBSTÉTRICO (Professor Roberto Magliano Morais) O uso do frceps obsttrico feito para encurtar o segundo estgio do parto, quando h indicaes maternas ou fetais. Esse instrumento foi originalmente desenhado com o intuito de realizar partos vaginais em mulheres com fetos mortos ou sem chances de vida, com o objetivo de salvar a vida da me; at o sculo XVII, o parto obstru do era conduzido com craniotomia e embriotomia, atravs de ganchos e perfuradores. Os primeiros frceps foram desenhados para lidar com metais incandescentes e a origem da palavra parece da derivar (formus = quente e capere = pegar). O frceps, como ns o conhecemos, foi uma evoluo de instrumentos anteriores, desenvolvidos pela fam lia Chamberlen no sculo XVII. INTRODU O O frceps consiste em uma pina com ramos articulares que tem como funo apreenso da cabea, trao e rotao. Embora possa ter uma aparncia traumtica para o feto, o frceps contribui fortemente para o trabalho de parto quando indicado nas condies corretas e feita com tcnicas adequadas. Apesar disso, com o passar dos anos e desenvolvimento de mtodos anestsicos eficientes e popularizao da cesariana, o frceps deixou de ser to utilizado. Antigamente o frceps era um instrumento largamente utilizado, pois at a dcada de 60, ainda no havia descoberto os antibiticos e a anestesia no era to eficaz. Com isso os partos complicados, quando eram realizados atravs da cesariana apresentavam um ndice de mortalidade elevado, sejam por infeco, falha anestsica ou falha nas tcnicas cirrgicas, dessa forma, nessa poca o frceps era a alternativa teraputica. Assim foi atravs dessas condies que o frceps, adquiriu o estigma de um instrumento traumtico, devido s condies extremas que era utilizado em tempos passados. A maioria das complicaes associadas ao feto durante o parto no ocorrem devido ao uso do frceps (baixo). Fato este que foi comprovado atravs de estudos que comprovaram que o ndice de paralisia cerebral em cidades em que o ndice de cesarianas elevado, em comparao com outras em que h maior realizao de partos normais, inclusive com a realizao do frceps, no foi to expressivo como se esperava. As leses neurolgicas fetais ocorrem principalmente no pr-natal, entretanto exclui-se no trabalho de parto propriamente dito. CONDIES DE PRATICABILIDADE E INDICAES Atualmente o frceps mais utilizado o frceps de al vio, que no provoca leses na me ou no feto. Esse tipo de frceps mais utilizado atualmente denominado de frceps baixo, que no causa traumas, em comparao ao frceps alto, que era utilizado antigamente, que gerava traumas tanto na me como no feto. Uma das condies para utilizao do frceps de al vio naquelas pacientes onde o feto se apresenta em planos baixos, entretanto a me encontra-se fadigada, ou seja, sem fora para expulsar. Com isso pode-se realizar o frceps de al vio. Importante salientar que quando utilizado de forma correta o frceps gera uma proteo semelhante a uma “armadura” na cabea do feto, promovendo assim uma maior proteo contra leses. Como foi dito anteriormente as poss veis leses do frceps se desenvolvem naquelas pacientes com feto em apresentao alta, onde realizado o frceps alto e mdio promovendo principalmente tocotraumatismo fetal e materno. Contudo o frceps mais utilizado atualmente o frceps baixo nas seguintes condies: quando a paciente tem uma apresentao fetal +3 e +4 cm abaixo da espinha isquitica, apresentaoceflica do feto favorvel, ou seja, occipitopbica, esquerdo-anterior e direito-anterior. De uma forma geral podemos resumir as indicaes do frceps nas seguintes etapas: Fadiga materna com feto em posio baixa Evitar sofrimento fetal, nos partos normais complicados, onde se percebe grande presena de mecnio. Pacientes que j realizaram cesarianas podem predispor a ruptura uterina no momento das contraes, especialmente nos per odos finais, onde se apresentam mais intensas. Com isso utilizando-se o frceps pode-se abreviar esse per odo, diminuindo assim a carga de contrao uterina. Pacientes cardiopatas, aos quais os esforos f sicos durante o trabalho de parto podem determinar risco de eventos cardiovasculares. Assim abrevia-se o tempo de parto dessas pacientes, tracionando o feto com o frceps. Recomenda-se no utilizar o frceps em fetos prematuros, sendo assim melhor indicado nos concepto acima de 34 semanas. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 40 De forma geral, para utilizar o frceps, devemos ter em mente s seguintes consideraes: Avaliar indicaes e contra-indicaes para sua realizao Escolher frceps que melhor de adapte a apresentao ceflica do feto Avaliar as condições de praticabilidade e as indicações (maternas e fetais) do parto fórceps (ver quadro abaixo) Apresentao Espacial do Frceps Seguir manobras tcnicas pr-determinadas Alocao da colher esquerda guiada pela mo direita e vice-versa. Realizar articulao adequada das colheres Realizar trao r tmica e descontinuada do plo ceflico Retirada suave do feto Retirar o frceps aps o parto na ordem inversa que foi alocada Condições de praticabilidade Indicações Maternas Fetais Maternas Fetais Bolsa rota Dilatao completa Ausncia de qualquer impedimento no canal mole do parto Bacia proporcional ao feto Feto vivel Bolsa rota Plano +3 e +4 da espinha isquitica Sofrimento materno Fadiga materna Resistncia perineal Feto vivel mas em sofrimento (FCF > 100 bpm) Presena de mecnio Prolapso irredut vel de membros TIPOS O frceps mais utilizado atualmente do tipo Simpson Braum, que formado por dois ramos articulares, uma curvatura ceflica que se ajusta a cabea do feto e uma curvatura plvica. Alm disso, possui fenestraes de ambos os lados e por ltimo o cabo com apoio para as mos. Apesar de ser o mais utilizado, no a melhor escolha para realizao da rotao, entretanto, as rotaes quando necessrias (apresentaes esquerda e direita anterior) ainda so feitas com esse tipo devido a segurana e facilidade de utilizao. Entretanto as rotaes permitidas com esse tipo de frceps s so poss veis at 45, ou seja, mudana de apresentao direita ou esquerda anterior para uma apresentao occipitopbica. Essa rotao com o frceps de Simpson Brown chamada de manobra do “volteio”. Os frceps de rotao so utilizados em uma apresentao transversa persistente direita ou esquerda. Nesses pacientes ocorre a dilatao e contraes adequadas por parte da me, entretanto o feto no tem a capacidade de realizar uma rotao adequada. A explicao para a no rotao ceflica dada principalmente pelas contraes uterinas de expulso no contrabalanceadas pela musculatura do per neo. Isso ocorre com uma maior freqncia em mulheres mult paras, ou pela prpria ao da anestesia levando a um relaxamento intenso da musculatura. Com isso determina uma apresentao ceflica transversa persistente direita ou esquerda. Nestes casos, o frceps mais utilizado o de Kielland. Esse tipo de frceps se apresenta mais reto, e sua articulao mvel. APRESENTA O ESPACIAL DO FRCEPS Para ser realizada a apresentao especial do frceps deve-se ter conhecimento prvio em posio ceflica e dilatao. Alm disso, para utilizao de frceps existem condies de aplicabilidade maternas e fetais. As condies maternas incluem uma dilatao completa, bolsa rota, feto +3 e +4. J as fetais so: feto vivo e vivel e proporcionalidade entre o plo ceflico do feto e dimetro da bacia materna. Com isso aps detectar as condies e indicaes para a realizao do frceps, deve-se realizar o toque vaginal, obedecendo a posio ceflica do feto, avaliando sua viabilidade, bolsa rota e plano +3 e +4, para s ento seguir com a apresentao espacial do frceps. A introduo do frceps atravs da vagina ocorre em etapas diferenciadas e com utilizao de tcnicas e manobras espec ficas. Dessa forma, introduz-se primeiramente a colher direita guiada pela mo esquerda do obstetra, seguida da colher esquerda guiada pela mo direita e posteriormente ajusta-se sua articulao. Com o frceps devidamente alocado realiza-se uma trao r tmica e descontinuada do plo ceflico, retirando o feto suavemente. Aps a retirada do feto, devem-se desarticular as colheres do frceps na ordem inversa de alocao, ou seja, se primeiro foi colocada a colher direita. Aps o parto, retira-se a colher esquerda e vice-versa. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 41 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA PRENHEZ ECTÓPICA (Professor Roberto Magliano de Morais) A prenhez (ou gravidez) ectpica (PE), juntamente ao abortamento, considerada uma patologia hemorrgica do primeiro trimestre da gravidez. A prenhez ectpica conceituada como qualquer implantao do vulo fecundado fora da superf cie endometrial. Ela, na maioria das vezes, acontece de forma silenciosa, mas pode apresentar um desfecho catastrfico. Em outras palavras, a prenhez ectpica toda gestao que se desenvolve fora da cavidade uterina, podendo ocorrer em diversas outras localizaes como: trompas, ovrios, colo do tero, cavidade abdominal. Entretanto a localizao mais frequente so as tubas uterinas, o que chamamos de gravidez tubria. Sabe-se que as tubas uterinas so estruturas finas, que anatomicamente no esto preparadas para abrigar uma gestao, o que pode complicar com rompimento e sangramento vigoroso, predispondo ao bito caso o mdico no realize um diagnstico precoce e adote as medidas efetivas para o quadro. IMPORTNCIA EPIDEMIOLGICA A prevalncia de PE oscila em torno de 1 a 2% de todas as gestaes, sendo mais frequente em mulheres acima dos 30 anos de idade e naquelas que j conceberam anteriormente. Da a importncia de estudar a PE, uma vez que sua incidncia relativamente alta, fazendo com que ela seja uma complicao comum no s nos consultrios de ginecologia e obstetr cia. Alm disso, registra-se um aumento na sua incidncia, o que pode ser explicado, em parte, pelo fato da disseminao de mtodos contraceptivos que no previnem as infeces, um fator predisponente para a ocorrncia de gravidez tubria. importante tomar nota que a PE apresenta um alto ndice de morbimortalidade, principalmente devido ocorrncia de sangramentos intensos por rompimento de tubas uterinas, principalmente. Muitas vezes, no momento do diagnstico, as trompas j se mostram comprometidas, de modo que s resta realizar uma abordagem cirrgica e retirar a tuba uterina afetada, o que prejudica, em parte, a fertilidade. Atualmente, com o advento do ultrassom transvaginal e da dosagem srica e quantitativa do beta-hCG, pode-se conseguir o diagnstico preciso da gravidez ectpica e com isso, realizar o tratamento conservador mais precoce, aumentando as chances de preservar a trompa afetada e manter ntegra a fertilidade da paciente. CLASSIFICA O A gravidez ectpica pode ser classificada de acordo com sua localizao em (1) primria, (2) secundria, (3) composta ou (4) combinada. Primária: quando o ovo se instala em localizao ectpica e, naquela localidade, se desenvolve e inicia o ciclo de clivagens.A gravidez ectpica primria ainda pode ser classificada em: o Tubria: a mais frequente, correspondendo a 98% e, de acordo com a localizao ao longo da trompa, pode ser classificada em: ampolar, istmica, infundibular e cornual. o Abdominal (1,4%): pode evoluir at a proximidade do termo, apesar da grande associao com malformaes. o Ovariana (0,2 - 3%): Na maioria das vezes, ocorre por rotura precoce do rgo, com a passagem do ovo fecundado para a cavidade peritoneal e hemorragia. o Cervical (0,2 – 1%): se desenvolve no colo uterino. Secundária: aquela que primeiramente se instala na tuba uterina, e com o rompimento da mesma o ovo se instala na cavidade abdominal e l se desenvolve, sendo esta chamada de gravidez tubo-abdominal. Com isso tambm das trompas pode se instalar nos ovrios, instalando uma gravidez tubo-ovariana, ovrio-abdominal, intraligamentar, etc. Composta: um tipo de gravidez rara, que se caracteriza pela presena simultnea de uma gravidez ectpica antiga e uma tpica atual. Combinada: acontece quando, simultaneamente, acontece uma gravidez ectpica e tpica (ambas atuais). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 42 ETIOLOGIA E PATOGNESE Se o trnsito do ovo para o tero for lentificado ou obstru do ou se sua capacidade de implantao (que ocorre geralmente entre o 7 e o 8 dia aps a fecundao) for antecipada, tem-se um risco de ocorrncia de PE. As hipteses a seguir procuram explicar a etiopatogenia: A cirurgia tubria, seja para restaurao da patncia ou para esterilizao, pode ser considerada como o maior fator de risco para obstruo e PE. Infeces plvicas, salpingites, infeces ps-parto ou ps-aborto, apendicite ou endometriose podem causar estreitamento e consequentemente aumentar o risco de PE. Os processos inflamatrios que acometem a mucosa tubria provocam aderncias entre as pregas da endossalpinge, o que promove uma obstruo parcial da sua luz. Com o uso de qualquer mtodo anticoncepcional, o nmero absoluto de gestaes ectpicas diminui uma vez que a concepo menos provvel. Entretanto, na presena de falhas anticoncepcional o nmero relativo de gestaes ectpicas aumenta. EVOLU O CLNICA Como a gravidez tubria corresponde a mais frequente pertinente voltarmos nossos estudos para a mesma. Deste modo, este tipo de gravidez pode ter vrias evolues, de modo que as mais observadas so rompimento tubrio e abortamento. Reabsorção: aps a expulso da tuba uterina e ca da na cavidade abdominal ovo reabsorvido, tendo a resoluo do caso. Aborto tubário: a trompa, quando o ovo inicia seu crescimento, passa a se contrair e empurrar o ovo para fora, at chegar cavidade abdominal e sendo destru do, podendo ser reabsolvido. Ruptura tubária: consiste em uma evoluo comum dos pacientes com gravidez tubria, onde o crescimento trofoblstico leva a distenso da trompa afetada, com ruptura e sangramento, o que gera bastante dor. Ectópica secundária: ocorre quando o ovo expulso da luz da tuba uterina, e l no reabsorvido, podendo se desenvolver em outra localidade. Ectópica avançada: so aquelas em que a paciente pode atingir cerca de 15 a 20 semanas de gestao, o que ocorre, mais frequentemente, com as formas abdominais. FATORES DE RISCO DIP (doena Inflamatria Plvica); Cirurgia tubria: principalmente nas tcnicas de desobstruo tubria; Tcnicas de reproduo assistida: devido estimulao da ovulao, inserir embries na cavidade uterina, que por algum fator ainda desconhecido, podem migrar para as trompas; Contraceptivos (DIU, minip lula); Ectpica anterior: provavelmente essas pacientes possuem alguma anormalidade nas trompas que impossibilita o transporte para adequado do ovo para a cavidade uterina; Outros fatores de risco: raa negra, fumo e idade menor que 18 anos. DIAGNSTICO CLÍNICO Geralmente, essas pacientes se queixam de atraso menstrual, sangramentos genitais e ainda dor abdominal. J no exame fisco, essa paciente apresenta dor à palpação profunda no quadrante inferior do lado afetado. Nos casos mais avanados, em que haja peritonite (sangue, inflamao), pode-se perceber o sinal da descompresso brusca positivo. A presena de uma massa anexal indica a localizao da PE. Outros achados comuns so: “Grito” de Douglas (ou Sinal de Proust), que caracterizado pela palpao extremamente dolorosa (manifestada na forma de um grito) do fundo de saco posterior do peritnio (saco de Douglas) ou mobilizao do colo uterino. A lipotímia, que caracterizada uma sensao de desmaio, sem necessariamente que ele ocorra, geralmente pode estar associada ao quadro de anemia ou hipovolemia que a paciente pode apresentar devido ao sangramento constante. Pode haver ainda a escapulalgia (sinal de Laffon), que se manifesta como dor na regio do ombro devido irritao do nervo frnico pela presena de sangue na regio subdiafragmtica quando a paciente se deita. O sinal de Cullen (equimose periumbilical) pode estar presente. Outros: hipotenso, aumento da frequncia card aca, sudorese, nuseas, vmitos. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 43 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Apesar da riqueza de sinais e sintomas que a paciente pode vir a apresentar, é de extrema importância a avaliação laboratorial dessa paciente. O exame laboratorial é feito com a dosagem de beta-hCG que, geralmente está associada ao USG transvaginal (USG TV), durante a investigação clínica. Através desses exames é possível realizar o diagnóstico precoce dessa paciente. Com isso, nas pacientes com história clínica sugestiva de gravidez ectópica (diagnóstico clínico), o diagnóstico definitivo é obtido quando observamos o seguinte: ß-hCG acima de 2.000 UI/ml associado à ausência de saco gestacional na cavidade uterina visualizada através da USG transvaginal. Essa avaliação é patognomônica de gravidez ectópica, pois fisiologicamente com o beta-hCG igual ou acima de 2000 UI/ml, deveria estar presente o SG na cavidade uterina. Além disso, é importante salientar que os valores de ß-hCG se duplicam a cada 24 horas. Isso se faz importante pois, mesmo que uma paciente com história pertinente à PE, mas apresente valores de ß-hCG menores que 2000 UI/ml, não devemos excluir o diagnóstico, mas sim, realizar uma nova dosagem em torno de 24 a 48 horas, avaliando sua elevação, sempre associado à USG transvaginal para investigar a presença do saco gestacional. ULTRASONOGRÁFICO Saco gestacional extra-uterino: embrião com batimentos Cavidade uterina vazia: gestações > 4 semanas, pois quando menor que 4 semanas mesmo nas gestações normais pode estar ausente. Hematossalpinge: presença de sangue nas trompas Líquido livre na pelve: sinal indireto de gravidez ectópica CIRÚRGICO Culdocentese: consiste na punção de sangue localizado no fundo de saco, através do óstio vaginal, tendo a presença de microcoágulos. Laparoscopia o HCG + USG: quando inconclusivo o Diagnóstico Diferencial o Tratamento: retirada do tecido ectópico. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Apendicite: geralmente o paciente cursa com febre, com dor caracteristicamente de início no epigástrio com migração para a fossa ilíaca direita. Além disso, nessas condições a paciente não se queixa de atraso menstrual nem de outras condições que podem sugerir o diagnóstico. DIP: Cisto de ovário torcido: pode cursar com sinais de irritação peritoneal. Cisto de ovário hemorrágico Abortamento TRATAMENTO CIRÚRGICO As maiores taxas de sucesso gestacional posterior e menores taxas de nova gestação ectópica são conseguidas quando a cirurgia é realizada antes da ruptura. A laparoscopia é preferível à laparotomia, exceto na presença de instabilidade hemodinâmica. De um modo geral, o tratamento definitivoé feito com base na intenção ou não da paciente ter filhos. Podemos optar pela salpingostomia ou pela salpingotomia, principalmente quando o diagnóstico for mais precoce e a trompa ainda estiver íntegra. Contudo, quando a paciente não tem mais a vontade de engravidar ou quando a trompa estiver rompida, devemos realizar a salpingectomia. Salpingectomia: consiste na retirada da tuba afetada devendo-se retirar uma porção do terço distal da porção intersticial tubária, no intuito de evitar uma PE no coto tubário. Salpingostomia: apresenta as melhores taxas de gravidez tópica posterior. É empregada para remover sacos gestacionais pequenos, menores que 2 cm e localizados no terço distal de uma tuba íntegra. O corte não é suturado e cicatriza por segunda intenção. Salpigotomia: raramente utilizada nos dias atuais, consiste na incisão longitudinal da trompa diretamente sobre a gravidez ectópica (da mesma forma da salpingostomia) e após a remoção dos produtos, a incisão é suturada. MEDICAMENTOSO Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 44 Com um diagnóstico precoce através da USGTV e o desejo de ter filhos, podemos optar pelo tratamento medicamentoso, com o objetivo de destruir o trofoblasto implantado, detendo a progressão da gravidez. Para esta situação, utiliza-se o Metotrexate (MTX sistêmico), 50mg/m², intramuscular. O MTX constitui uma importante opção para o tratamento da PE íntegra (sem ruptura). O MTX destrói o ovo, com ou sem embrião, e possibilita a absorção do produto conceptual pelo organismo. Entretanto existem algumas condições para sua utilização, como por exemplo: a gravidez deve estar em um estágio inicial, com beta-hCG menor que 15000 UI/ml, líquido livre na cavidade menor que 100 ml. Em resumo, os critérios para uso do MTX na PE incluem: Idade gestacional inferior a seis semanas; Saco gestacional menor ou igual a 3,5 ou 4cm; Feto morto (ausência de batimentos cardíacos). OBS1: Caso a paciente ainda deseje ter filhos e, não há possibilidade de realização de um tratamento medicamentoso, deve ser realizado o tratamento cirúrgico que está baseado na salpingostomia com ressecção segmentar, que, como vimos anteriormente, consiste na abertura da tuba uterina e retirada da massa trofoblástica, com a lavagem exaustiva da região subsequente, tentando preservar ao máximo da integridade da mesma. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 45 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA ABORTAMENTO (Professor Roberto Magliano de Morais) Assim como a gravidez ectópica, o abortamento é uma complicação hemorrágica comum do primeiro trimestre de gestação, que cursa com sangramentos importantes. Por definição, o abortamento pode ser definido como toda interrupção da gravidez antes de atingir a viabilidade do concepto. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que perdas do concepto com até 20 a 22 semanas de gestação com menos de 500g já caracteriza um abortamento (muito embora, atualmente, existem relatos de conceptos com menos de 500g que conseguiram sobreviver e, portanto, esta definição por peso fetal vem caindo em desuso). Quando o concepto entra em óbito com mais de 22 semanas de gestação, diz-se que temos um natimorto. Os abortamentos são bem mais frequentes do que se imagina, e isto se deve principalmente aos abortamentos não diagnosticados, em que há eliminação espontânea da massa trofoblástica, e não de um feto previamente formado. Outra informação importante é que a maioria dos insucessos da gravidez, em cerca de 75% das vezes, ocorre antes da implantação. Acredita-se que esses tipos de abortamentos estejam relacionados com anormalidades cromossômicas. CLASSIFICA O O abortamento pode ser classificado de diversas formas. Dentre elas, temos: Quanto à época: o Precoce: ocorre até 12 semanas de gestação o Tardio: acima de 12 semanas. Quanto à incidência: o Subclínico: quando ocorre antes da próxima falha menstrual. Incidência de aproximadamente 50%. o Clínico: quando ocorre após gravidez confirmada pela dosagem de ß-hCG e/ou USG. Tem incidência de 10 a 15%. Motivação da mãe o Espontâneo: ocorre sem qualquer interferência médica ou da mãe o Induzido: Legalmente: patologias em que a progressão da gravidez leva a morte da gestante. Um exemplo são aquelas pacientes com hipertensão pulmonar grave, anemia aplástica. Criminalmente: realização de aborto sem justificativa plausível com ou sem ajuda do médico, sendo considerado no Brasil crime tanto por parte do médico e da paciente. Entretanto existem algumas condições específicas o abortamento pode ser realizado, um exemplo é nos casos de violência sexual. Quanto a Clínica o Evitável ou ameaça de abortamento: o Inevitável (trabalho de abortamento) Completo: O completo ocorre quando a mulher elimina toda a massa de células e tecido fetal. Incompleto: Já o incompleto elimina parcialmente o conteúdo da cavidade uterina. Este ainda pode cursar afebril, sem complicações, somente pequenos sangramentos, ou ainda febril com complicações graves com, infecção das tubas uterinas, peritonite e septicemia. Abortamento Retido: ocorre quando não há expulsão após 30 dias da morte do concepto. Abortamento Habitual: nesses casos é pertinente a pesquisa da causa do abortamento, podendo este ser por um mecanismo mecânico, problema genético inerente as condições maternas, infecções, imunológico. ETIOLOGIA As principais causas envolvidas no abortamento precoce são: Anormalidades cromossômicas: causa mais comum de abortamento, geralmente atribuída a uma seleção natural negativa de fetos com defeitos grosseiros em seu material genético. Infecções: rubéola, parvovirose, citomegalovirose, herpes simples, hepatite B, HIV, infecção, infecção do trato urinário (ITU), sífilis, toxoplasmose, malária. Desordens anatômicas: malformações uterinas, miomas, incompetência istmo-cervical, sinéquias uterinas, distopias uterinas. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 46 Distúrbios imunológicos: destaca-se a síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAF), que é uma causa auto-imune de abortamento de repetição. Endócrinas: insuficiência lútea, doenças da tireóide, diabetes melito insulino-dependente, síndrome de ovários policísticos. Fatores ambientais FATORES DE RISCO Idade materna avançada; Uso de álcool; Uso de gás anestésico; Uso excessivo de cafeína; Tabagismo materno e paterno; Nova gestação nos primeiros 3 meses após o parto anterior; Uso de cocaína; Uso de DIU; Medicações: misoprostol (Cytotec®), retinóides, metotrexate, AINEs (exceto acetaminofen); Múltiplos abortamentos provocados prévios; Abortamento espontâneo prévio; Radiação em altas doses. DIAGNSTICO CLÍNICO O diagnóstico clínico do abortamento é feito principalmente através da anamnese e exame ginecológico. Para isso, é necessário avaliar a normalidade dos ciclos menstruais, sangramentos, presença de dor e suas características semiológicas. Na maioria das vezes, as pacientes se queixam de atraso menstrual, sangramentos vaginais persistentes por mais de 5 horas, dor abdominal e, ao exame especular, podemos ser visualizado coágulos sanguíneos. O exame ginecológico deve ser feito de forma completa, avaliando as mamas, abdome (inspeção, palpação útero, percussão e ausculta), realizar o cálculo da idade gestacional, realização do exame especular, avaliar sangramentos e restos ovulares através do colo uterino. Na presença de restos ovulares saindo pelo colo uterino, pode- se dá o diagnóstico de abortamento incompleto. As formas clínicas e seus principais aspectos são descritos logo a seguir: Ameaça de abortamento: No exame do toque vaginal, pode-se diagnosticar a ameaça de abortamento. Geralmente essaspacientes se apresentam com sangramentos em pequena quantidade, acompanhado ou não de dor em cólica na região hipogástrica. No exame ginecológico, o colo uterino encontra-se fechado e o tamanho é compatível com o atraso menstrual. Já quando a dilatação do colo do útero encontra-se acentuada trata-se de um abortamento inevitável. Abortamento inevitável: O abortamento inevitável é caracterizado clinicamente por sangramento moderado ou intenso, acompanhado de dor abdominal em cólica, geralmente de forte intensidade. No exame físico, dependendo da intensidade da hemorragia, pode-se evidenciar anemia, taquicardia e hipotensão arterial. No exame especular, observa-se sangramento ativo proveniente do canal cervical, geralmente com presença de restos dos produtos da concepção. O orifício interno do colo uterino encontra-se dilatado no exame de toque vaginal. A ultra-sonografia pode evidenciar o descolamento ocular com saco gestacional em posição baixa e dilatação cervical. Abortamento Completo: Quando o abortamento ocorre no primeiro trimestre da gravidez, principalmente nas 10 a 12 semanas iniciais, é comum a expulsão completa dos produtos fetais. Rapidamente, o útero se contrai e o sangramento, juntamente com as cólicas, diminui de intensidade. O orifício interno do colo uterino tende a fechar-se em poucas horas. Ao exame ultra-sonográfico, pode não haver evidência de conteúdo uterino, porém algumas vezes observa-se mínima quantidade de conteúdo ecogênico e líquido. Abortamento incompleto: É mais frequente após 12 semanas de gravidez e nesses casos ocorre à eliminação parcial dos produtos da concepção. O sangramento vaginal persiste e, por vezes, torna-se intermitente. No exame de toque, o orifício interno do colo uterino, geralmente, se encontra pérvio, contudo, algumas vezes pode se apresentar fechado, sendo o diagnóstico realizado pelos achados ultra-sonográfico. Na USG observa-se a presença de conteúdo fetal intra-uterino. Abortamento Retido: Denomina-se aborto retido a ocorrência de morte embrionária ou fetal antes de 20 semanas de gravidez, associada à retenção do produto conceptual por período prolongado de tempo, por vezes, dias ou semanas. Geralmente as pacientes referem parada dos sintomas associados a gravidez como náuseas, vômitos, ingurgitamento mamário. Pode se manifestar na forma de sangramento vaginal pequeno na maioria das vezes, semelhante aos casos de ameaça de abortamento. O colo uterino encontra-se fechado ao exame do toque. Abortamento Habitual: O abortamento habitual, também denominado recorrente, classicamente é definido como a ocorrência consecutiva de três ou mais abortamentos espontâneos e incide em cerca de 1% das mulheres. Suas causas são várias e podem ser divididas em genéticas, anatômicas, endocrinológicas, infecciosas e imunológicas. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 47 OBS1: importante salientar que as pacientes grvidas podem cursar com sangramentos durante toda a gestao tendo um ou mais eventos. Entretanto no indicativo de abortamento, desde que seja provada sua origem. No h risco aumentado de anormalidades fetais naquelas pacientes, que tem ameaa de abortamentos, ou presena de sangramentos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Nas pacientes de baixo risco, na maioria das vezes os exames laboratoriais no representam nenhum benef cio. J nas pacientes de alto risco, tem uma importncia mais esclarecida, entretanto, esse grupo de pacientes corresponde a somente 10%. Assim os exames que devem ser solicitados o beta-hCG que, geralmente solicitado naquelas pacientes com sangramentos, que ainda no tem conhecimento de sua gravidez. A ultra-sonografia transvaginal importante para avaliar a presena do saco gestacional (localizao, regularidade, reas de descolamento, vitalidade). Alm disso, sabe-se que o beta-hCG desempenha uma importante funo no diagnstico diferencial com gravidez ectpica, onde valores desse hormnio maior que 2000UI/ml, com ausncia de saco gestacional na USG transvaginal, patognomnico de gravidez ectpica. Fisiologicamente com valores acima de 1000 UI/ml o caso gestacional j deve estar presente na cavidade uterina. Alm disso, mesmo que esteja abaixo de 2000UI/ml com paciente com cl nica sugestiva deve realizar sua dosagem cerca de 24 a 48 horas aps, pois seu valores so duplicados. CONDUTA TERAPUTICA Antes de tomar as medidas corretas para cada tipo de abortamento, deve-se identificar os poss veis fatores de risco que essa paciente est exposta. Entre os principais temos: (1) SG de implantao baixa e bordas irregulares, (2) BCF >90 bpm, (3) descolamentos, que nesses casos, provavelmente a paciente perder o feto, devendo o mdico explicar de forma correta a paciente. Alm disso, os principais diagnsticos diferenciais devem ser realizados com (1) Gravidez ectpica, (2) Neoplasia trofoblstica, (3) Ginecopatias. A conduta teraputica a ser adotada espec fica de acordo com a classificao cl nica do aborto: ABORTO EVITÁVEL Nesses casos a conduta se resume a medidas expectantes, como: (1) repouso, (2) abstinência sexual, pois os espermatozides podem estimular as contraes uterinas, intensificando o progresso do aborto, (3) administração de antiespasmódicos, (4) conversar e orientar a paciente sobre a sua situao e conduta correta a ser adotada. Os uterol ticos so drogas que tem como funo inibir as contraes uterinas, muito embora estudos demonstraram que so ineficazes no tratamento ( receptores insens veis). A progesterona contra-indicada, no tendo nenhum benef cio ou malef cio para a paciente. Alguns estudos demonstraram que a progesterona em determinadas pacientes provocou virilizao (aparecimento na mulher de caracteres sexuais secundrios anlogos aos do homem). Alm disso, pode provocar reteno de embries mortos, devido a sua funo de manter o endomtrio para sustentar o concepto, podendo assim evoluir para um aborto retido. A progesterona pode ser til nos casos de aborto recorrente, principalmente para o diagnstico de insuficincia de corpo lteo ou da placenta. Essas condies cl nicas geralmente so sobrediagnosticada e a suplementao sobreutilizada. O uso em larga escala da progesterona natural ocorre pelos escassos efeitos adversos maternos e quase nenhum efeito teratognico O diagnstico de deficincia da fase ltea feito pela confirmao histolgica de endomtrio datado 2 ou mais dias fora da fase secretora. Na gestao s pode ser diagnosticada pela dosagem srica de progesterona. Infelizmente a produo de progesterona pelo corpo lteo pulstil e seus n veis sricos flutuam muito, podendo assim mascarar o diagnstico. Diversos estudos tm demonstrado pobre correlao entre n veis plasmticos de progesterona e bipsia endometrial. H casos de ovos “aberrantes”, que cursam com dficit de progesterona. Entretanto a baixa produo de progesterona seria conseqncia e no causa do abortamento. ABORTAMENTO INEVITÁVEL COMPLETO No h necessidade de realizao de nenhum tratamento, pois devido s condies cl nicas o aborto inevitvel, devendo ser adotadas algumas medidas de cunho emocional e de suporte me. ABORTAMENTO INEVITÁVEL INCOMPLETO Nesses casos pode ser realizado o esvaziamento da cavidade uterina, quando a idade gestacional for menor que 12 (1 trimestre). Entretanto, quando estiver superior a 12, deve-se induzir a expulso do concepto com Misoprostol (25 a 50 mc 8/8 horas) ou Ocitocina. Depois disso, pode-se realizar a curetagem ou vcuo-aspirao do contedo intra- uterino. Nos casos de abortamento infectado deve-se fazer a coleta do material para bacterioscopia e cultura, iniciando um esquema de antibioticoterapia agressivo para a paciente, com penicilina cristalina 4 milhes de unidades EV 6/6 horas associado a metronidazol 500 mg EV 8/8 horas. E, porfim, esvaziamento uterino. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 48 Nos casos de infecção disseminada, devem-se seguir as seguintes condutas: (1) hospitalização; (2) coleta de material para bacterioscopia e cultura; (3) Penicilina cristalina 4 milhões EV 6/6 horas associado ao Metronidazol 500 mg EV 8/8 horas e Gentamicina 60 a 80 mg EV 8/8 horas; (4) drenagem de possíveis coleções purulentas intracavitárias (colpotomia ou laparotomia); (5) esvaziamento uterino; (6) histerectomia quando há comprometimento da vitalidade dos tecidos uterinos (remoção do foco infeccioso). ABORTAMENTO RETIDO Esvaziamento uterino por aspiração ou curetagem é a media de escolha. A curetagem é um procedimento médico executado em unidade hospitalar, sob anestesia geral ou locorregional, que objetiva retirar material placentário ou endometrial da cavidade uterina por um instrumento denominado cureta. Tem, portanto, como função principal limpar os restos do aborto. OBS2: O recomendável é enviar o material abortado para exame anatomopatológico. Além disso, deve-se avaliar se a paciente é Rh negativo e o marido Rh positivo ou desconhecido prescreve-se imunoglobulina anti-Rh até 72 horas após o abortamento. Nos casos em que a paciente já está sensibilizada não há necessidade da administração de imunoglobulinas, já que seu sistema imunológico já foi sensibilizado e possui a informação para produção de anticorpos contra as hemácias fetais. OBS3: As mulheres que abortam produtos citogeneticamente normais impõem-se acurado estudo das causas não genéticas de abortamento. Em grande percentagem dos casos infelizmente não se consegue determinar a razão da perda gestacional. ABORTAMENTO HABITUAL Orientar o casal para investigação no intervalo intergestacional tentando-se elucidar a possível causa, coletar o material de forma adequada, para análise citogenética. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 49 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. OBSTETRÍCICA OPERAÇÃO CESARIANA (Professor Francisco Mendonça) A cesariana considerada atualmente o procedimento cirrgico mais realizado diariamente em todo o mundo (sua incidncia varia em torno de 30% a 85%). Representa um procedimento responsvel por salvar diversas vidas. Muito embora, antigamente, a cesariana era um procedimento realizado apenas para salvar a vida do concepto diante de complicaes durante o parto. Por definio, a operação cesariana o ato cirrgico que objetiva a retirada do concepto mediante inciso abdominal e uterina (histerotomia). Apresenta alguns sinnimos, como: cesariana, cesrea, tomotcia, etc. Representa o recurso mais poderoso e eficiente que o obstetra dispe para lidar com grande nmero de complicaes do parto. A origem da palavra cesariana controvrsia, havendo muitos relatos em diferentes literaturas. No reinado de Numa Pompilius (715-673 AC) a lei romana (Lex Regis de Inferendo Mortis) proibia enterrar uma gestante morta antes da retirada do feto: Si mater pregnans mortua sit, fructus quam primum caute extrahatur (MAGALHES, 1942). Embora se acredite que o termo “cesariana” esteja relacionado ao nascimento do imperador Csar, que foi extra do do ventre de sua me moribunda (Aurlia), a palavra cesrea vincula-se ao verbo latino caedere (cortar): qui caeso matris utero nascitur = aquele que tirado do ventre da me (VALE, 1998). De fato, a palavra cesariana vem do francs csarienne e esta do latim caedere (cortar, talhar). OBS1: Alguns autores afirmam ainda que o prprio Imperador Csar mandou abrir o abdome de sua me para descobrir de onde teria vindo “tamanha sapincia”. Tanto que, ao ser retalhada, sua me realizou uma citao que se perpetuou na humanidade: “Transpasse este ventre que levou ao mundo tamanho monstro!”. INCIDNCIA Na realidade, sabe-se que, ao longo de sua histria, a operao cesariana sofreu grandes avanos graas ao advento da anestesia e da descoberta dos antibiticos. Tanto que, em grandes centros especializados em obstetr cia, mesmo se a mulher j estiver em bito, dependendo das condies cl nicas e de tempo, pode-se salvar o concepto por meio da cesariana. Graas a estes avanos, a cesariana considerada a cirurgia mais praticada em todo o mundo. No Brasil, este padro o mesmo: a cesariana constitui o procedimento cirrgico mais realizado na mulher brasileira. A frequncia de cesariana cresce desde a dcada de 60. Algumas razes para o aumento das operaes cesarianas em todo mundo so: Reduo da paridade (condies mais comuns em prim paras que indiquem a operao); Aumento da idade das gestantes; Monitorizao fetal eletrnica; Apresentao plvica (alargamento de indicaes); Decrscimo na aplicao do frcepes mdio; Temor de processos por m prtica; Fatores socioeconmicos e demogrficos. Induo do Parto; Segurana da anestesia; Proteo vitalidade do concepto; Laqueadura tubria; Interesse econmico ou pol tico; Presses familiares; Medicina defensiva; Coincidncias com datas de aniversrios, viagens, feriados. OBS2: Embora a cesariana tenha se tornado progressivamente mais segura com o progressos das tcnicas anestsicas e de assepsia, a morbimortalidade materna significativamente maior na cesariana do que ao parto transplvico. Por esse motivo, a indicao da cesariana deve ser precisa e deve atender a uma avaliao criteriosa dos riscos e benef cios do procedimento. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 50 INDICAES DA OPERA O CESARIANA As indicações da cesariana representam um espectro complexo e controvertido da assistência obstétrica. Por isso, é impossível apresentar uma lista completa de indicações de cesariana, mas em resumo, podemos destacar indicações para benefício materno, do feto ou para ambos. INDICAÇÕES MATERNAS Paciente anteriormente cesareada: geralmente mais de duas operações cesarianas prévias, pois, na maioria das vezes, as indicações das primeiras operações perduram e fazem com que a terceira seja necessária. Desproporção céfalo-pélvica: incompatibilidade da cabeça do feto com o canal de parto. Discinesias uterinas: doenças que afetam diretamente a contratilidade uterina seja ela uma hipertonia ou hipotonia uterina, condições essas que interferem diretamente no parto normal. No primeiro caso as contrações intensas resultariam em uma ruptura da parede uterina, já no segundo caso haverá uma deficiência na expulsão do feto, podendo gerar sofrimento do mesmo, e nem a administração de drogas (ocitocinas), culminará no parto normal. Obesidade Distorcias das partes moles: muitas vezes o tecido colágeno do útero não se dissolve, com isso determinando uma condição de enrijecimento uterino não proporcionando uma dilatação uterina adequada. Toxemia tardia Doença hipertensiva específica da gestante (DHEG): na sua forma grave (pré-eclampsia/eclampsia) corresponde em uma das principais indicações absolutas de cesariana antecipadas. Diabetes gestacional: é uma complicação da gravidez que interfere diretamente na progressão de um parto normal, pois está diretamente relacionada com a incidência de natimorto. Primiparidade idosa Históricos de partos laboriosos: utilização de fórceps de alívio, com exaustão psicológica e física, parto com histórico de hemorragia puerperal, demorado, etc. Antecedentes de operações plásticas ginecológicas: são aquelas pacientes que realizaram cirurgias corretivas na região perineal devido a lacerações ou deformações provocadas pelo parto transvaginal. Câncer genital: está contra-indicado de forma absoluta, quando o diagnóstico está estabelecido. Atos tococirúrgicos intentados e frustrados per vaginam: são aquelas pacientes, em que o médico obstetratentou realizar a o parto normal, através da indução medicamentosa, entretanto, sem sucesso. Com isso, nesses casos é indicativo para realização de cesariana. Medicina defensiva: consiste na pressão estabelecida pelos familiares sobre o médico, de modo que o mesmo realiza a cesariana por receio de complicações caso aguarde a resolução através de um parto normal. Síndromes hemorrágicas: descolamento prematuro da placenta e placenta prévia total ou parcial. São indicações para realização de cesariana, pois são patologias hemorrágicas que podem cursar com sofrimento fetal por falta de oxigenação, com perda do concepto, além de complicações para a mãe. No caso da placenta prévia, devemos realizar a cesariana, uma vez que existe uma barreia física entre o feto e o meio externo. Morte da gestante com feto presumidamente vivo (cesárea post mortem) INDICAÇÕES FETAIS Apresentações anômalas: nesses casos incluem os conceptos com pólo cefálico maior que o canal vaginal, fato este que poderia tornar o parto normal laborioso e determinar sofrimento fetal e exaustão materna. Uma das situações é a apresentação transversa. Oligoidramnia e polidramnia: aumento ou redução abrupta do líquido amniótico constitui situações que forçam o médico obstetra a interromper a gravidez e realização da cesariana. O aumento da pressão do líquido amniótico pode promover a ruptura da bolsa das águas, ocorrendo de forma intensa, podendo promover também o prolapso do cordão umbilical através da vagina. As reduções do líquido amniótico levariam o feto e o cordão umbilical a sofrer uma pressão aumentada das paredes uterinas. Placenta prévia: por impedir a passagem do concepto por via normal. Descolamento prematuro da placenta: Pós-maturidade: nessas situações existe uma insuficiência placentária fisiológica. São aquelas gestações que excedem 42 semanas, e com isso, no momento do trabalho de parto, condição esta em que o feto mais precisa de suprimento arterial e oxigenação, a placenta não estaria competente para realizar essa função, culminando no sofrimento fetal. Malformações fetais: consiste nos fetos que apresentam deformidades, principalmente neurológicas, que estão localizadas na espinha, ou ainda do pólo cefálico, fazendo com que o parto se torne laborioso. Nesses casos a indicação da cesariana é feita através da ultra-sonografia. Macrossomia fetal Doença hemolítica perinatal: condição que caracteriza um edema fetal, tornando-o macrossômico. Sofrimento fetal agudo ou crônico: condições absolutas para interrupção da gravidez e retirada do feto. Morte habitual do feto ou do recém-nascido: também inclui indicação para cesariana. Prolapso e procidência de cordão. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 51 importante salientar que no existem contra-indicaes absolutas cesariana. Contrariamente aos outros tipos de cirurgia, que no envolvem mais de um paciente no mesmo procedimento, os riscos e os benef cios maternos e fetais devem ser considerados. OBS3: Atualmente, a recuperao ps-cirrgica de uma paciente submetida cesariana praticamente a mesma do parto normal. O que ainda restaria de vantagem para a me submetida ao parto normal a menor taxa de infeces, quando comparada quelas pacientes submetidas cesariana, mas o que pode ser muito bem controlado, a depender do centro de internao. Contudo, o que diferencia os dois tipos de procedimentos e passa a ser positivo para o parto normal o fato de que o prprio canal de parto atua como um beneficiador da apresentao fetal no que diz respeito ao mecanismo ventilatrio: quando submetemos um recm-nascido ao parto normal, a possibilidade das s ndromes aspirativas muito menor, alm do que o nmero de prematuros no parto normal muito menor quando comparado ao parto cesariano. TCNICA A operao cesariana no significa apenas a abertura do tero e a retirada do concepto – na realidade, ela abrange bem mais do que isso: (1) abertura do abdome; (2) abertura do tero (histerotomia); (3) extrao fetal; (4) limpeza abdominal e da cavidade uterina; (5) sutura da cavidade uterina. Alm de todos estes tempos, a cesariana requer alguns cuidados iniciais e manobras especiais, que veremos logo adiante. CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS INICIAIS As seguintes questes pr-operatrias devem ser avaliadas, tanto pelo corpo de enfermeiros como pelo cirurgio: Cuidados da enfermagem Tricotomia Higiene corporal Esvaziamento vesical Retirada de prtese Cuidados do cirurgião Posicionamento da paciente Antissepsia Anestesia INCISÃO No Brasil, a forma de abertura da parede abdominal habitualmente adotada a laparotomia à Pfannenstiel. A anestesia preferida o bloqueio peridural. No recomendada em emergncias como descolamento prvio de placente, sofrimento fetal, grandes hemorragias, gravidez ectpica com instabilidade hemodinmica, dentre outras situaes. Na tcnica de Pfannenstiel, feita uma inciso na pele transversalmente e de forma arqueada com concavidade voltara para cima. O tecido subcutneo e a aponeurose dos retos abdominais tambm so abertos transversalmente. Em algumas situaes, especialmente antes da inciso de Pfannenstiel ser largamente utilizada, a cesariana atravs de uma inciso longitudinal mediana infra-umbilical foi muito utilizada e, se fosse necessrio, era realizada uma inciso periumbilical para aumentar o campo cirrgico. Entretanto, essa ltima inciso no mais realizada, pois foi comprovada que atravs da inciso de Pfannenstiel o nmero de hrnias nessas pacientes era menor que na laparotomia mediana infra-umbilical, alm disso, tinha uma cicatrizao mais rpida. Contudo, importante salientar que a inciso de Pfannenstiel, deve estar centrada na prega abdomino-plvica, no estando localizada totalmente no abdome, ou na pelve. Quando realizada abaixo da localizao correta, pode determinar uma fibrose cicatricial e como consequncia a paciente referir dispareunia. TEMPOS CIRÚRGICOS 1. Abertura da parede abdominal Inciso da pele (laparotomia Pfannenstiel) e do tecido celular subcutneo Abertura da aponeurose do msculo reto (tambm transversalmente) e divulso dos feixes do reto abdominal Abertura do peritnio parietal longitudinalmente Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 52 2. Histerotomia O peritnio visceral uterino aberto transversalmente sobre o segmento uterino inferior e o miomtrio neste local ento divulsionado (e no cortado) com dois dedos transversalmente. A inciso uterina mais utilizada a arciforme a Kerr, que uma inciso feita em forma de arco acompanhando a prpria conformao do tero (praticamente, somente ela realizada nos dias de hoje). Atravs deste tipo de inciso, so menores as chances de leso das artrias de grande calibre (como a artria uterina). Alm disso, a extrao fetal feita de forma mais facilitada. Contudo, podemos destacar outras tcnicas, tais como: Transversa: nesse tipo de inciso ocorre a maiores chances de lesionar as artrias uterinas, determinando sangramentos intensos. Arciforme: junto da inciso arciforme Kerr, a mais utilizada. Tcnica de Fuchs-Marshall: inciso em arco com concavidade superior. Longitudinal Kronig (seco segmentria longitudinal): inciso que no segue as fibras musculares uterinas e, com isso, determina maiores danos a sua musculatura, dificuldade de cicatrizao e leses extensas de vasos arteriais. 3. Extração Fetal Quando a apresentao ceflica, o cirurgio pode realizar a manobra de Geppert para realizar a retirada do embrio. Para isso, o cirurgio introduz a mo no interior do tero, que far com que o occip cio fique voltado para a inciso, enquanto feita compresso no fundo uterino. Estaconsiste na manobra que tenta simular a situao fetal que seria ideal para um parto normal, proporcionando uma condio capaz de gerar um movimento de “alavanca” que o feto realiza durante o parto normal. A placenta extra da manualmente ou, preferencialmente, por expresso do fundo uterino (manobra de Cred). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 53 4. Síntese Cirúrgica A histerorrafia (síntese do útero) deve ser feita com pontos contínuos tipo chuleio, ou pontos separados. Quanto ao tipo de fio utilizado, o ideal seria o de Vicryl (absorção mais rápida), entretanto, o fio de Catgut ainda é muito utilizado no Brasil e na África do Sul (nos EUA, este fio só é utilizado em medicina veterinária). Depois de fechado o útero, devemos proceder com a aproximação da musculatura, sutura da aponeurose e, logo em seguida, da pele. DIFICULDADES E COMPLICAES Hemorragia: a cesariana consiste em uma cirurgia dita como volumosa, onde há sangramentos pela própria técnica, com isso, sangramentos extras podem determinar descompensação da paciente. Pode ocorrer tanto durante como após o ato cirúrgico. O tratamento de hemorragias na cesariana envolve desde massagem do útero e compressão manual da aorta abdominal, ligadura bilateral das artérias uterinas e ligadura de hipogástricas ou até mesmo histerectomia. Extração fetal difícil: conceptos de apresentação anômala, macrossomias ou ainda incisões pequenas que tornam a extração fetal dificultosa. Aderências: pode ocorrer devido à colocação de compressas secas para limpeza e retirada de coágulos sanguíneos. Isso determina a extração da camada serosa do tecido, deixando uma área cruenta, que torna a superfície de deslizamento entre o útero e o peritônio áspera, e não lisa como anteriormente, determinando a ocorrência de aderências. Histerectomia periparto: pode ser feita de forma total ou subtotal, ou ainda, nos casos mais graves, histerectomia radical. Entre as principais indicações para a realização da histerectomia periparto temos: (1) ruptura uterina; (2) acretismo placentário, caracterizado pelo não descolamento placentário mesmo após o parto; (3) atonia uterina; (4) extensão da incisão uterina; (5) câncer cervical diagnósticado no intra-operatório; (6) miomatose uterina que promove sangramentos intensos de difícil controle; (7) inversão uterina. Outras complicações comuns: Cardiovasculares, como o edema pulmonar agudo (geralmente relacionado com cardiopatia, principalmente estenose mitral); Pulmonares (pneumonia por aspiração atelectasia, pneumonia bacteriana e embolia pulmonar); Gastrointestinais (íleo paralítico metabólico ou secundário a peritonite). MEDIDAS PS-OPERATRIAS A complicação pós-operatória mais comum da operação cesariana é a infecção, que poderá ser uterina (endomiometrite) ou da parede abdominal. A profilaxia antibiótica em cesarianas não eletivas de risco, principalmente em mulheres em trabalho de parto com rotura de membranas ovulares por mais de seis horas, comprovadamente reduz a incidência de endometrite e infecção de parede. Os agentes preferidos são as cefalosporinas de primeira geração, como a Cefazolina ou a Cefalotina. Existe uma tendência atual de realizar o seguinte esquema: 2g de Ampicilina ou Cefalosporina (Cefalotina ou Cefazolina), após o clampeamento do cordão umbilical. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 54 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA (Professor Francisco Mendonça) O descolamento prematuro da placenta (DPP) consiste na separao intempestiva da placenta normalmente implantada (corpo uterino), em gestao acima de 20 semanas e antes da expulso fetal, j que o descolamento normal da placenta ocorre aps o parto. Tem como sinon mia: Abruptio Placentae (Forma Toxmica) Ablaptio Placentae (Forma Acidental-Traumtica) Gestose Hemorrgica (associao com pr-eclmpsia) Eclmpsia Hemorrag para (associao com pr- eclmpsia) Apoplexia Uteroplacentria (tero de Couvelaire) De acordo com a definio acima citada, parte-se do pressuposto que a paciente possua uma placenta normoinserida. A placenta normal aquela que est localizada na parede posterior do fundo uterino, sem anormalidades, deformaes ou patologias associadas. O descolamento prematuro da placenta uma patologia de incidncia considervel atingindo 0,5 a 3,5% (maternidade escola da UFRJ, 1998), 1,0% (HU – USP, 2006), 1/150 partos (Cunningham, 1996), 0,5 1,5% (Trajano, 2000), com uma Variao de 1/86 a 1/200. Alm disso, cerca de 15 a 25% de todas as mortes perinatais, tem relao com o descolamento prematuro da placenta. Acomete com uma maior freqncia um determinado grupo de pacientes, como: Idosas Mult paras Pobres (devido desnutrio). Negras ETIOLOGIAS Para o estudo do descolamento prematuro da placenta, podemos dividir suas causas em dois grandes grupos: (1) traumáticas e (2) não-traumáticas. As causas traumáticas ainda podem ser subdividias em traumas externos (ou seja, quedas, golpes, acidentes ocupacionais) e internos (como gestao gemelar, cordo umbilical curto, inverses uterinas, toro do tero grav dico, hiperatividade fetal). Uma situao comum ocorre naquelas pacientes que possuem um cordo umbilical curto, e feto hiperativo, com isso a movimentao fetal, pode promover uma trao na placenta atravs do cordo umbilical curto e promover o descolamento prematuro da mesma. Outro exemplo, o rompimento abrupto da bolsa das guas, gerando uma descompresso brusca que pode precipitar o descolamento da placenta. Nas gestaes gemelares, o prprio feto pode tracionar o cordo e promover um descolamento prematuro da placenta. As causas não-traumáticas so bem conhecidas e incluem aquelas principais patologias que acometem a gestante com uma maior freqncia, so elas: Hipertenso arterial (crnica HAC) Doena hipertensiva espec fica da gestao (DHEG) ROPREMA - Rotura Prematura de Membranas, com descompresso uterina abrupta Gemelidade Emprego da Aspirina Tabagismo Coca na Miomas uterinos e malformaes uterinas Deficincia de Folatos, Vitamina. C e alcoolismo Desnutrio Antecedentes de DPP-NI anterior Fatores anafilticos (reaes anafilticas) FISIOPATOLOGIA Fisiopatologicamente existem diversas explicaes para o descolamento prematuro da placenta, considerando as principais etiologias j discutidas acima. Assim temos: Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 55 Independente da causa, seja ela traumática ou não-traumática, haverá uma hemorragia placentária que recebe o nome de hemorragia decidual, que gera um coágulo. Este coágulo, ainda pequeno, leva a um descolamento discreto da placenta e formação de um hematoma retroplacentário (entre a placenta e o útero). Devido ao sangramento constante, esse hematoma retroplacentário vai progredindo até determinar uma invasão da placenta, ou seja, com o aumento da pressão entre o útero e placenta, haverá uma mobilização e compressão da placenta (cratera placentária), já que está é constituída por um tecido frouxo e esponjoso, em comparação com o útero, que é mais rígido e musculoso. Como o processo é progressivo, impreterivelmente haverá um aumento da área descolada e perda sanguínea, instalando-se assim a irreversibilidade do quadro. Em cerca de 20% das pacientes pode ocorrer uma hemorragia oculta, sangramento vaginal em 80% dos casos e hemoâmnio. A evolução do quadro descrito anteriormente, ou seja, a formação do coágulo, com formação de um hematoma retroplacentário, e ainda, presença de sangramento ativo, vai gerar anormalidades da contração uterina, que pode se manifestar na forma de uma hipertonia e hipotonia, como será descritologo adiante. Com relação à hipertonia, é provocada pela presença do sangue em contato com a parede uterina, exercendo uma ação irritante e promovendo uma maior contração uterina. Essa irritação se deve especialmente pela presença da hemosiderina nas hemoglobinas sanguíneas. Essa contratilidade aumentada ocorre de forma constante sem que haja melhora com uso de medicações ou determinadas posições, já que o sangramento está ativo. Essa última consideração é importante para a avaliação e diagnóstico diferencial com outras patologias que culminam com aumento da contratilidade uterina. O acúmulo de sangue e aumento da pressão positiva no interior do útero vai levar a uma infiltração sanguínea no miométrio acarretando uma desorganização da citoarquitetura muscular do miométrio. Essa infiltração caracteriza-se por um útero edemaciado de coloração arroxeada e com sufusões hemorrágicas, perdendo sua conformação quanto à cor e forma. O útero nessas condições é denominado de útero de Couvelaire (útero apoplético). Esses fatores interferem diretamente com os mecanismos fisiológicos celulares da contração uterina e com isso, manifesta-se clinicamente a hipotonia uterina. Com a progressão do caso citado anteriormente, em determinado momento, a placenta estará completamente descolada da parede posterior do útero, determinando um déficit importante de nutrientes e oxigênio, caracterizando o sofrimento e conseqüente evolução para a morte fetal. Em algumas raras situações, podem-se diagnosticar essas pacientes com uma pequena parte da placenta descolada, podendo mostrar-se funcional e manter a integridade fetal. O sangramento com consequente formação de coágulo retroplacentário permite à passagem da tromboplastina tecidual pelo espaço intervilositário e daí, para a circulação materna. Essa passagem é explicada principalmente devido ao aumento da pressão no interior do útero, dada pela presença do sangue, com isso, em determinado ponto o aumento constante dessa pressão determinará a passagem dessa substância para a corrente sanguínea. Essa tromboplastina na circulação materna estimula a cascata de coagulação nos capilares maternos, devido ao sangramento ativo presente, dessa forma, culmina-se na paciente a coagulação intravascular disseminada (CIVD). Essas alterações determinam o aparecimento de lesões viscerais (necrose cortical renal e cor pulmonale). De forma geral, com o coágulo retroplacentário e a CIVD haverá um aumento do consumo de fatores da coagulação (VII, VIII, IX e X), ativação do sistema fibrinolítico (fibrinólise ou degradação da fibrina) e diminuição de plaquetas (explicado pela tentativa de controlar o sangramento), o que pode acarretar um aumento da hemorragia devido a ativação da fibrinólise e incoagulabilidade sangüínea. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 56 QUADRO CLNICO Dor sbita e intensa no baixo ventre Sangramento – retroplacentrio (20%) externo (80%) Parada de movimentos fetais: devido compresso fetal, por parte do tero devido ao aumento da presso. Ausculta fetal negativa Hipertenso arterial: Estado de pr-choque ou choque hipovolmico Hipertonia uterina Bolsa das guas tensa Parto em avalanche Sinal da cratera Hematoma retro-placentrio (US) Desproporo entre a precariedade do estado geral da paciente e a perda sang nea evidente Equimose no local das punes (coagulopatia) Morte fetal elevada Hemomnio: quando a presso intra-amnitica est elevada, culmina no rompimento da bolsa das guas, ocorrendo a passagem do sangue para o interior da cavidade amnitica. DIAGNSTICO CLÍNICO O diagnstico eminentemente feito pela esfera cl nica, podendo ser subsidiado pela Ecografia e Cardiotocografia. Entre os principais achados cl nicos que sugerem o diagnstico temos: (1) Convergncia tensional nas hipertensas, (2) Pr-choque ou choque hipovolmico, (3) Sinais indiretos de CIVD (petquias, equimoses ou hematomas), (4) Sangramento vaginal vis vel, (5) Aumento do tnus uterino, (6) Ausculta fetal dif cil ou ausente, (7) Bolsa das guas tensa. EXAMES COMPLEMENTARES Quanto realizao de exames complementares, o mais utilizado a USG, onde os principais achados so (embora possa ser normal): Cogulo retroplacentrio Elevaes da placa corinica Aumento da espessura placentria Imagens compat veis com cogulos no estmago fetal DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Placenta prvia Rotura da vasa prvia Rotura do seio vaginal Rotura uterina Traumatismo genital Leses cervicais, vaginais e vulvares Discrasias sangu neas Prenhez ectpica avanada CONDUTA CLNICA MEDIDAS GERAIS Cateterizao venosa (Jelcon, Intracath ou Disseco venosa) Instalar puno venosa central (casos graves) Sondagem vesical O2 mido em mscara aberta Monitorizao da Presso.arterial, FC e diurese Colher material para exames laboratoriais EXAMES LABORATORIAIS Dosagem de hemoglobina e hematócrito (2 em 2h), para avaliar grau de anemia. Avaliação Da Coagulação Formao e dissoluo do coagulo (Teste de Weiner): atualmente no mais utilizado. Coagulograma completo c/ contagem de plaquetas Plaquetas < 100.000/mm3- CIVD TTP elevado – CIVD Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 57 Dosagem de fibrinognio plasmtico: <100 mg% coagulativa Deteno dos produtos de degradao da fibrina (PDF): < 20 mg/ml fibrinlise Avaliao da funo renal Avaliao da funo respiratria e metablica por gasometria arterial REPOSIO VOLMICA Sangue total fresco Papa de hemcias associada a Ringer lactato NaCl para expanso volmica rpida (S/N) Plasma fresco Crioconcentrado de fatores da coagulao Concentrado de plaquetas OBS1: Nessas condies de grande valia a opinio de um profissional hematologista, que vai avaliara as condies de coagulabilidade da paciente, adotando as condutas corretas na mesma (aumentar a coagulao sangu nea ou estimular a fibrinlise, levando em considerao a fase evolutiva da paciente), condutas essas que em nada interferem na interveno cl nica obsttrica. Entretanto importante um consenso pra avaliar qual seria a melhor conduta para a paciente. CONDUTA OBSTTRICA Feto Vivo ≥ 28 Semanas Cesrea (preferencialmente) Parto Transvaginal (antevisto iminente), considerando o bom estado geral materno e fetal, ausncia de alteraes na hemocoagulao, presena de colo dilatado (pelo 7cm) e realizao da amniotomia (abertura da bolsa das guas). Feto Vivo < 28 Semanas Avaliar condies maternas Interromper pela via mais adequada Feto Morto em Qualquer Idade Gestacional Utilizar a via mais segura para a me Parto vaginal preferencialmente OBS2: De acordo com as condutas analisadas, observa-se que a integridade do feto de grande importncia, para avaliar qual medida a mais indicada para essas pacientes. Ou seja, seria catastrfico em paciente com CIVD, realizar uma cesariana, na possibilidade de salvar o feto, no sabendo que o mesmo poder est morto, alm de complicar ainda mais as condies cl nicas da me. COMPLICAES tero de Couvelaire CID Necrose hipofisiaria – (S. de Sheehan) Infeces Choque hipovolmico Insuficincia renal aguda Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 58 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA PLACENTA PRÉVIA (Professor Francisco Mendonça) Placenta prévia (PP) é uma forma de prenhez heterotópica e se define como implantação da placenta no segmento inferior do útero, após 28 semanas de gravidez. Incide em 0,5% a 1,0% de todas as gestações. Diferencia-se do descolamento prematuro da placenta, pois esta encontra-se em localização normal, ocorrendo seu desprendimentodevido a diversos fatores já estudados. Já a placenta prévia apresenta tem uma localização anormal, entretanto, não houve descolamento. Além disso, na placenta prévia, não há nenhuma condição eminente de abortamento, ou seja, mesmo a placenta estando em posição anômala a gravidez progride sem maiores complicações. Na placenta prévia, a placenta encontra-se em localização anterior ao feto. Com isso, o parto normal nessas pacientes é complicado e quando há indicação, deve ser realizado com cautela e técnica adequada. FATORES DE RISCOS Idade materna avançada Multiparidade Gestação múltipla Cirurgias uterinas prévias História anterior de placenta prévia Curetagens uterinas repetidas Tabagismo Residentes em altas altitudes CLASSIFICA O Placenta prévia total: Quando a placenta oclui completamente o orifício interno do colo uterino Placenta prévia parcial: Quando a oclusão do orifício interno se dá de forma incompleta Placenta prévia marginal: Quando a borda placentária atinge o orifício interno, mas não o ultrapassa QUADRO CLNICO O quadro clínico é determinado por sangramento genital indolor, de coloração vermelho-viva, que ocorre por volta do terceiro trimestre, particularmente entre 28 e 34 semanas de gestação, com características cíclicas e agravamento progressivo. Em alguns casos o sangramento só se manifesta durante o trabalho parturitivo. O sangramento é indolor, silencioso e inopinado. O sangramento dos pacientes com DPP geralmente se manifestam com dor e ainda apresentam uma coloração mais escura com a presença de coágulos. DIAGNOSTICO DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnostico da placenta prévia se suporta, em especial, nas suas manifestações clínicas, na maioria das vezes, exuberante. Geralmente essas pacientes não têm história de trauma, com isso, não apresenta um quadro exuberante de dor. São quadros mais brandos e mais calmos. Além disso, não apresenta co-morbidades que indiquem o descolamento de placenta prévia não-traumática como: distúrbios da coagulação, hipertensão arterial, diabetes, gestação gemelar etc. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 59 EXAME FÍSICO Na suspeita de placenta prévia, o toque vaginal deve ser evitado pelo risco de agravamento da hemorragia Exame especular obrigatório podendo nos orientar: No diagnostico diferencial com outras doenças hemorrágicas do terceiro trimestre No grau de oclusão do orifício interno pelo tecido placentário Quanto à intensidade do sangramento Classificação da placenta prévia Sangramentos devido à relação sexual, especialmente quando está associada a lesões pré-existentes. EXAMES COMPLEMENTARES O diagnóstico ultra-sonográfico, embora seja o método mais comum de diagnóstico de PP, só é definitivo no terceiro trimestre, visto a possibilidade da migração placentária (uma vez implantada a placenta permanecerá naquela localização até o final da gestação, entretanto pode ter pequenas modificações devido ao crescimento e mudanças conformacionais) em gestações menos avançadas. Além desse exame, pode ser realizado a RNM, entretanto não é rotineiro. DIAGNSTICO DIFERENCIAL Descolamento prematuro da placenta Rotura de vasa prévia Rotura de seio marginal Rotura uterina Traumatismo genital Lesões cervicais, vaginais e vulvares Sangramento não-genital (retal ou vesical) Discrasias sangüíneas CONDUTA TERAPUTICA EXPECTANTE (GESTAÇÃO PRÉ-TERMO) Internação em dependência do volume do sangramento e do comprometimento da volemia materna Toques vaginais proibidos Ultra-sonografia para auxilio no diagnóstico diferencial Avaliação da vitalidade fetal pela Cardiotocografia é mandatória Monitorar volemia materna (sinais vitais e hemograma) Betametasona: 12 mg IM (6mg de fosfato e 6mg de acetato), com intervalo de 24 horas em um total de duas doses, para maturação do sistema pulmonar. É desnecessária a prescrição de corticóide após 34 semanas O uso de tocolíticos (inibidores da contração uterina) deve ser evitado, pois pode dificultar a avaliação de sinais maternos e agravar a hemorragia Deve-se abandonar conduta expectante, assumindo-se postura ativa na presença de: Hemorragia grave com comprometimento materno importante Sinais de sofrimento fetal ATIVA (GESTAÇÃO A TERMO) Operação Cesariana de preferência Reposição das Perdas Maternas Parto Transpélvico Placenta parcial ou marginal Acompanhamento com CTG é mandatória Indicação de amniotomia Controle Hemodinâmico OBS1: Em alguns casos é necessária a realização de amniotomia, devido ao aumento da pressão amniótica, e algumas vezes a placenta prévia é total e o sangramento é abrupto, não tendo condições de transferir a paciente ou tempo para preparação de uma cirurgia. Com isso, uma das medidas consiste em transfixar a placenta, romper a bolsa das águas, promovendo a descida do pólo cefálico, fazendo com que o mesmo comprima a placenta em direção a pelve, diminuindo em cerca de mais de 50% o sangramento. Outra situação interessante é que na operação cesariana, ao realizar a incisão uterina depara-se com a placenta, com isso, pode-se rechaçar a placenta e tentar realizar a extração fetal com retirada da placenta em seguida; entretanto é de difícil realização. Ou ainda realizar uma conduta agressiva com destruição da placenta, atravessando a mesma de forma grosseira (com isso feto entra em sofrimento e para de respirar), para então ocorrer à retirada do feto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 60 OBS2: Quadro diferencial entre PP x DPP: Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 61 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA PREMATURIDADE (Professor Eduardo Borges) Conceituamos o recém-nascido prematuro ou pré-termo como aquele que nasce com menos de 37 semanas (ou 259 dias) de gestao, segundo a OMS (1961), sendo a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal, respondendo por 75 a 95% de todos os bitos neonatais no associados a malformaes congnitas. Dos sobreviventes, at 15% apresentam sequelas significativas, como alteraes do desenvolvimento neuropsicomotor, doenas respiratrias crnicas, predisposio para doenas infecciosas e distrbios oftalmolgicos. A prematuridade , portanto, um dos grandes problemas de sade pblica, contribuindo com elevados nmeros para a morbi-mortalidade infantil e para a invalidez, principalmente em pa ses em desenvolvimento. Da a importncia de abord-la em um cap tulo individual. OBS1: De acordo com esta classificao, considera-se um recm-nascido pós-termo aquele cujo nascimento ocorreu aps 42 semanas (ou 294 dias) de gestao. Alm desta terminologia, com base na data estimada do parto (DEP) que, como sabemos, seria ideal se ocorresse em torno de 40 semanas de gestao, podemos classificar o neonato como pós-data, quando seu parto acontece depois da DEP. Entretanto, importante salientar que nem todas as gestaes ps-termo so ps-datas, como por exemplo: gestantes que se encontram com 41 semanas e 2 dias de gestao podem ser consideradas ps-data, pois excederam a data provvel do parto; entretanto, ainda considerada a termo. EPIDEMIOLOGIA O estudo da prematuridade de extrema importncia, principalmente devido a trs fatores principais: Mortalidade, sendo a prematuridade a principal causa de mortalidade neonatal. Elevado índice de morbidade, isto : a prematuridade responsvel por um alto ndice de complicaes, sendo as principais, em curto prazo: s ndrome do desconforto respiratrio, sepse, hemorragia intraventricular, enterocolite necrotizante, etc. Em longo prazo, as complicaes da prematuridade esto associadas principalmente ao desenvolvimento incompleto de rgos e sistemas. Com isso, os neonatos podem desenvolver problemas de concentrao, inteligncia,escrita, fala, motricidade, etc. Alto custo inicial, uma vez que a manuteno de um recm-nascido prematuro indica internao em UTI neonatal, cujo custo muito elevado. Alm disso, pode-se dizer que existe um custo social, partindo do pressuposto que a sociedade deve arcar financeiramente um indiv duo com sequelas em longo prazo. Assim a morbimortalidade est intimamente relacionada idade gestacional, ou seja: quanto menor a idade gestacional, maior ser as possibilidades do neonato vir a desenvolver complicaes ou ir a bito. Ao contrrio disso, quanto mais a gestao se aproxima do “termo”, mais as complicaes e a mortalidade diminuem. Conclui-se que, o ndice de complicaes inversamente proporcional idade gestacional. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 4.240.000 partos ocorreram em 2006; destes, 440.000 foram prematuros, indicando um ndice de prematuridade bastante elevada. Na Europa a prematuridade est em torno de 5 a 8%. No Brasil a incidncia de prematuridade est em torno de 6,6%. Em Joo Pessoa – Para ba, a incidncia gira em torno de 8,7%, de acordo com o Ministrio da Sade. A elevada incidncia de prematuridade nos EUA est associada no a fatores maternos ou fetais; podemos explic-la tomando como base a classificao do recm-nascido quanto idade gestacional, que veremos logo a seguir na OBS2. CLASSIFICA O O parto prematuro pode ser classificado pelo menos de duas formas: quanto inteno do parto (classificao obsttrica) e quanto idade gestacional (classificao peditrica). CLASSIFICAÇÃO QUANTO À INTENÇÃO DO PARTO O parto prematuro pode ser subclassificado como espontâneo ou eletivo (iatrogênico), de forma que, para cada 3 partos prematuros espontneos, ns temos 1 eletivo. Parto espontâneo: o parto espontâneo corresponde a 75% dos partos prematuros, sendo decorrente de fatores maternos, como o quadro de trabalho de parto pr-termo (TPP) ou associado rotura prematura das membranas ovulares (RPMO). Geralmente, o parto espontneo possui causas multifatoriais, que podem indicar a presena de gemelidade, queda hormonal, sangramentos, polidrmnio. Parto eletivo: o eletivo ou iatrogênico est associado indicao do parto pelo mdico diante de doenas maternas, obsttricas e/ou fetais, como o prprio sofrimento fetal. Neste caso, o parto eletivo torna-se uma Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 62 opo quando a gestao impe algum risco para a vida da me ou do feto. A preveno da prematuridade eletiva mais dif cil e se faz, principalmente, por melhoria nas condies maternas pr-concepcionais e durante o pr-natal. Quanto a esta classificao, necessrio tomar nota do seguinte fato: a medicina, nas ltimas dcadas, pouco mudou em termos de teraputica. Diferentemente do que ocorreu no que diz respeito ao campo mdico-tecnolgico, o que pode ser visto nos exames diagnsticos, como a tomografia, a ressonncia magntica, PET-Scan, os raios-X digitais, etc. Toda esta parafernlia tecnolgica tambm alcanou os utens lios da pratica mdica de diversas reas, tais como: respiradores, cnulas, sondas, aspiradores, UTI, etc., bem como o desenvolvimento de materiais cirrgicos mais modernos. Este avano tecnolgico proporcionou uma reduo drstica da mortalidade de prematuros. Isto pode ser percebido quando analisamos o comportamento do ndice de mortalidade de recm-nascidos prematuros, com cerca de 23 a 24 semanas, no Brasil, que chega a taxas de aproximadamente 90%. Em contrapartida, nos EUA, onde esto concentrados os equipamentos mais modernos e efetivos no tratamento desses RN, o ndice de sobrevivncia est em torno de 50%. OBS2: Com isso, podemos concluir a seguinte situao: nos EUA, o feto que nasce com cerca de 34 semanas de gestao, mesmo sendo pr-termo, tem a mesma taxa de mortalidade de um feto a termo, quando comparado com outros pa ses (excetuando-se na vigncia de algumas complicaes, como a membrana hialina, sangramentos, etc.). Deste modo, devido grande base tecnolgica norte-americana, capaz de fornecer ao RN prematuro todo subs dio necessrio para sua sobrevivncia, comum, nos EUA, que os partos em pacientes hipertensas e diabticas sejam antecipados, evitando maiores complicaes maternas e/ou fetais. Sabendo que nos EUA o ndice de obesidade, hipertenso e s ndrome metablica relativamente alto, percebe-se o porqu do fato de o ndice de prematuridade eletiva nos EUA ser bem mais elevado do que em outros pa ses. OBS3: Apesar disso, atualmente, tem-se o ideal objetivo de que, toda gestao, independente do risco, deve ser mantida at o termo sempre que poss vel. Contudo, para isso, necessrio um bom aparato mdico que suporte a me e o feto. Portanto, a o melhor momento para o feto nascer , indiscutivelmente, o termo. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À IDADE GESTACIONAL A prematuridade ainda pode ser classificada levando-se em considerao as primeiras 34 semanas. Sabe-se que um recm-nascido considerado prematuro quando este possui menos que 37 semanas. Quando se encontra abaixo de 34 semanas prematuro precoce, e entre 34 e 37 semanas prematuro tardio. Desta forma, temos: Prematuridade extrema: 20 – 27 semanas; Prematuridade moderada: 28 – 31 semanas; Prematuridade leve: 32 a 36/7 semanas; Prematuridade tardia: nascimento entre 34 – 36/7 semanas. Esta classificao mais antiga (2003) de prematuridade classificava da seguinte forma: (1) extrema, quando o RN nasce antes de 27 semanas, (2) moderada, entre 28 e 31 semanas e 6 dias e (3) leve, quando o RN nasce depois da 36 semana. Essa classificao importante para avaliar as consideraes ditas anteriormente: “quanto menor a idade gestacional, maior o nmero de complicaes e mortalidade neonatal”. FATORES DE RISCO Apesar de cerca de 50% dos partos no possu rem um fator associado, a identificação de fatores de risco deve ser a primeira estratgia na reduo da incidncia e/ou das complicaes inerentes ao parto pr-termo. Epidemiológicos: Baixo n vel socioeconmico; Ambientais; Nutrio inadequada; Idade materna: extremos de idade impem maiores riscos (considera-se que a melhor poca para engravidar aquela compreendida entre 19 a 23 anos); Estatura materna: quanto mais baixa for a me, maiores as intercorrncias; Peso materno; Estresse f sico e psicolgico; Fumo; Drogas. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 63 Fatores históricos e obstétricos: Rotura prematura das membranas ovulares: Parto prematuro anterior (considerado o fator de risco mais importante; ver OBS4); Gemelaridade; Multiparidade: geralmente essas pacientes têm idade elevada, com isso favorecendo a ocorrência de alguma patologia obstétrica. As mais comuns são pré-eclampsia, diabetes. Fertilização in vitro; Incompetência cervical; Sangramentos de primeiro e segundo trimestres; Alterações hormonais; Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG); Descolamento prematuro de placenta; Placenta prévia; Amniorrexe Prematura; Restrição do crescimento fetal; Polidrâmnio ou oligoidrâmnio; Malformações fetais. OBS4: Dos fatores de risco obstétricos, vale comentar sobre o parto prematuro anterior, uma vez que consiste no fator de risco mais importante. Caso a paciente já tenha histórico de prematuridade anterior, o risco do segundo ou terceiro filho ser prematuro é mais elevado, de modo que a idade gestacional do último parto é o fator que prediz o risco. Para um melhor entendimento, suponhamos o seguinte exemplo: uma paciente tem seu primeiro filho prematuro; entretanto, em sua segunda gestação, o nascimento foi a termo. Com isso, as chances do seu terceiro filho ser a termo é maior, pois é sempre o último parto que prediz a chance de prematuridade. OBS5: Estudos realizados nos EUA em umapequena cidade (178.000 habitantes), foram analisadas 1000 mulheres. Destas, cerca de 1% das brancas tiveram parto prematuro e 2% as negras. Nas gestações subsequentes, dessas mulheres, observou-se que a recorrência do parto prematuro aconteceu em cerca de 28% dessas mulheres. Destes partos, cerca de 20% resultaram em RN prematuro, mas com idade gestacional superior que a anterior. Apenas 8% tiveram prematuros com idade gestacional menor que a anterior. Com isso, através desse estudo, foi possível estabelecer as seguintes conclusões: Identificada que a causa das elevações da prematuridade nos EUA, que estava associada à indicação médica não ocorrendo de forma espontânea. A taxa de recorrência está em torno de 30 a 35%, ou seja, a maioria das mulheres que tiveram parto prematuro apresentarão, na próxima gestação, a despeito de qualquer tratamento, um parto a termo. A gestação ocorria em idade gestacional mais avançada que o parto anterior; A paciente negra tem 2 vezes mais chances de ter um parto prematuro. A predisposição genética desempenhava um papel de grande importância no parto prematuro espontâneo. Essa predisposição genética é defendida principalmente pelo maior índice de prematuridade nas mulheres negras do que brancas mesmo estas sendo da mesma classe sócio-econômica. Esta predisposição está relacionada ao polimorfismo genético individual de cada raça: a negra, quando acometida por Gardnerella, apresentava contrações que a branca não experimentava. Ginecológicos: Alterações anatômicas do colo uterino; História de amputação do colo uterino; Malformações uterinas; Miomatose. Clínico-cirúrgicos: Infecções; Doenças maternas; Procedimentos cirúrgicos na gravidez. Genéticos: materno e/ou fetal. De um modo geral, a importância dos fatores genéticos está sustentada principalmente na recorrência de partos pré-termos em uma mesma paciente. Além disso, envolve-se a história familiar de prematuridade (mulheres que nasceram prematuras tem maior chance de dá a luz a RN prematuro) e ainda a relação racial explicada na OBS5. Deste modo, apesar de não haver nenhum gene identificado, acredita- se que a recorrência de partos prematuros esteja relacionada com uma possível predisposição genética. Iatrogênicos Desconhecidos Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 64 FISIOPATOLOGIA DO PARTO PREMATURO O parto prematuro pode estar relacionado a quatro bases fisiopatolgicas: (1) instabilidade do eixo hipotlamo- hipofisrio-adrenal (HHA); (2) inflamao ou infeco local; (3) hemorragia tecidual; (4) hiperdistenso uterina, como ocorre no parto gemelar (40% dos casos cursa com prematuridade, principalmente, na forma de prematuridade eletiva) ou no polidrmnio, por exemplo. ESTRESSE MATERNO E FETAL Uma gestante que, por algum fator externo, encontra-se sob estresse emocional fisiologicamente ativa o eixo HHA com liberao de do CRH (hormnio liberador de corticotrofina), que tem por funo estimular a secreo de ACTH pela hipfise. O ACTH por sua vez, estimula a secreo de estrognio e o cortisol. O cortisol, alm de promover a maturao do sistema pulmonar fetal, atua na placenta e estimula a produo do CRH espec fico da placenta, que tem como funo aumentar a produo de prostaglandinas, levando a dilatao cervical e contrao uterina. Com isso, podemos dizer que a exposio ao estresse propicia o trabalho de parto prematuro. Alm disso, o estresse leva a um desequil brio da relao do estrognio/progesterona (E/Pa). Com o aumento desta relao (↑E/Pa), temos: O estrognio estimula a contrao uterina, atravs da mobilizao e aumento da s ntese da actina e miosina. Aumento do influxo de clcio intracelular quando o estrognio se liga aos seus receptores espec ficos no tero, possibilitando o deslizamento do filamento de actina sobre miosina, desencadeando as contraes uterinas. Aumento das conexinas e GAP junctions, permitindo que o potencial se espalhe para todas as clulas, tornando o tero mais excitado e sens vel a contraes. Aumento da s ntese dos receptores de ocitocina. INFECÇÃO Estima-se que cerca de 40% dos partos prematuros estejam relacionados com a ocorrncia de infeces, seja ela infeco do trato urinrio ou vaginal, infeces periodontais, corioamniorite (causa infecciosa mais comum de parto prematuro), entre outras. O processo infeccioso, em n vel do crio e da dec dua, promove uma macia liberao de interleucinas (IL-6, IL-8 TNF-alfa). Estes fatores sinalizam a migrao de clulas polimorfonucleares que (macrfagos e moncitos), que promovem a secreo de proteases, que atuam degradando a matriz extracelular (substncias que tem como funo principal sustentar as fibras de colgeno, identificadas como proteoglicanos) e prostaglandinas. Este mecanismo favorece, portanto, a ocorrncia de parto prematuro. OBS6: Portanto, nas pacientes estressadas, com presena de processo infeccioso, hemorragias deciduais com liberao de protrombina, hiperdistenso uterina, ocorre uma maior formao de GAP junctions levando a um tero mais irritvel, ocorre uma maior ativao do crio e da dec dua com liberao de proteases. Essas proteases, em ao conjunta com as prostaglandinas, promovem contraes uterinas e esvaecimento cervical, o que culmina com o nascimento prematuro. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 65 TESTES PREDITIVOS DE PARTO PREMATURO Os testes de rastreamento mais estudados e que demonstraram ser mais efetivos e reprodutíveis são: Monitoração das contrações uterinas; Avaliação do comprimento do colo uterino; Pesquisas de marcadores bioquímicos específicos, sendo a fibronectina fetal (fFN) a mais utilizada. MONITORAÇÃO DAS CONTRAÇÕES UTERINAS A atividade uterina está presente durante toda a gravidez. A presença de quatro ou mais contrações por hora em idade gestacional (IG) menor ou igual a 30 semanas, ou seis ou mais contrações por hora em IG acima de 30 semanas, demonstra maior risco de parto pré-termo. A monitorização das contrações uterinas é mais eficaz em pacientes sintomáticas, podendo ser uma arma importante para excluir o falso trabalho de parto prematuro, evitando medidas e/ou internação desnecessárias. AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO DO COLO UTERINO O encurtamento cervical e a abertura do orifício interno (OI) podem ter início semanas antes do TPP. Essas alterações resultam de modificações bioquímicas do tecido cervical. Essas alterações são detectadas, clinicamente, pelo toque vaginal seriado. Contudo, a ultrassonografia (US) endovaginal fez com que o exame do colo uterino se tornasse mais eficaz, fornecendo maior acurácia preditiva em comparação ao toque vaginal. Recente editorial sugere que a avaliação cervical seja realizada entre a 22ª e a 24ª semanas, na mesma ocasião em que se realiza a US morfológica fetal, uma vez que o colo curto, nesse momento, deveria ser visto como um fator de risco a ser pesquisado, e não como um teste de predição. MARCADORES BIOQUÍMICOS Dentre os vários marcadores bioquímicos, a fibronectina fetal (fFN), uma glicoproteína de alto peso molecular produzida pelo trofoblasto, cuja função é assegurar a aderência do blastocisto à decídua, é o mais utilizado. Normalmente, a fFN está presente no conteúdo cervicovaginal durante as primeiras 20 a 22 semanas de gestação. Após a 22ª semana, ocorre a fusão do âmnio com o córion e a fFN desaparece da vagina, reaparecendo após a 36ª semana (a presença da fFN entre a 24ª e a 36ª semanas aumenta o risco para o parto pré-termo, geralmente denotando a presença de infecção ou lesão). OBS7: A fFN e a medida do comprimento do colo uterino pela US endovaginal apresentam valores preditivos equivalentes. Entretanto, quando os dois métodos são, simultaneamente,associados, o poder de predição é maior CONDUTA TERAPUTICA No que diz respeito à assistência médica aos grupos de risco para parto prematuro, devemos tomar conhecimento da classificação de Hobel que estabelece quatro estágios evolutivos, sendo que nos estágios I, II e III, as medidas preventivas tornam-se mais largamente utilizadas. Estagio I: pacientes com presença de fatores de risco; Estágio II: pacientes que apresentam contrações uterinas sem dilatação cervical (útero irritável); Estágio III: pacientes que apresentam contrações uterinas e dilatação cervical (ou seja, constitui a fase ativa do parto prematuro); Estágio IV: pacientes que se encontram em trabalho de parto prematuro, entretanto, o mesmo se encontra avançado, de modo que as medidas neste caso se resumem a assistência ao nascimento, no intuito de minimizar a morbidade, e medidas profiláticas. ESTÁGIO I No estágio I, situam-se as gestantes com fatores de risco para o parto prematuro. Nesse estágio, o importante é a boa assistência pré-natal, que deve ser a mais completa possível, com a participação de profissionais da área da saúde relacionados aos problemas mais comuns. A rotina do médico obstetra nesses casos está baseada nas seguintes etapas: Orientação nutricional e psicológica. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 66 Orientaes quanto aos hbitos de higiene, evitando, assim, as vulvovaginites e corioamnionites Interromper uso de drogas il citas e fumo. Diagnstico e tratamento das intercorrncias cl nicas como infeco do trato urinrio (ITU), leucorria, etc. O exame ultrassonogrfico deve ser realizado o mais precocemente poss vel, a fim de se estabelecer com preciso a idade gestacional e diagnosticar situaes de risco, como a presena de malformaes uterinas, miomas e gestao gemelar. Alm disso, a avaliao ultrassonogrfica endovaginal em todas as gestantes, entre 22 e 24 semanas, por ocasio da ultrassonografia morfolgica, imprescind vel para a avaliao o comprimento do colo uterino, seria uma conduta pertinente. Quando o colo longo, a paciente de baixo risco; em contrapartida, quando o colo curto (menor que 20 mm), representa um alto risco e necessita de cuidados espec ficos. Circlagem uterina Indicaes de progesterona natural Circlagem Uterina. A circlagem uterina consiste em um procedimento utilizado para o tratamento das pacientes com tero incompetente, ou seja, quando o colo no tem a capacidade de manter o feto. Tal procedimento consiste na sutura e reforo do tero incopetente. Entretanto no se deve preconizar, rotineiramente, circlagem nas anomalias uterinas congnitas (tero didelfo, bicorno e septado). Nessa situao, sugere-se avaliação cervical rotineira entre 12 e 23 semanas de gestao. Caso haja encurtamento do colo, indica-se o mesmo procedimento Progesterona Natural. A progesterona natural est indicada basicamente em trs situaes: (1) histrico de parto prematuro anterior, (2) pacientes com mal-formaes uterinas, (3) pacientes que na USG apresentam um colo com comprimento menor que 20 mm. A progesterona natural pode ser utilizada entre 16 e 36 semanas, em doses de 100 a 400mg/dia, por via vaginal, ou de 100 a 200mg, trs vezes ao dia, por via oral. Os dois esquemas teraputicos reduzem a incidncia de prematuridade na populao de alto risco em torno de 50%. Nas duas formas de administrao, deve ser empregada a progesterona micronizada. A indicao de progesterona no feita por reduo dos n veis plasmticos da gestante, mas sim, devido aos seguintes efeitos: Diminui os receptores de estrognio uterinos, com isso impedindo o efeito contrtil deste hormnio sobre o tero. Inibe os receptores de ocitocina impedindo a contrao Aumenta a s ntese dos beta-receptores, com isso a administrao de drogas beta-adrenrgicas promove um miorelaxamento uterino Diminui o clcio transcelular impedindo sua reteno no ret culo sarcoplasmtico, no havendo contrao promovida pela actina e miosina. A progesterona atualmente considerada uma droga segura tanto para me como para o feto, no possuindo efeitos hemodinmicos, no predispondo a hipertenso materna, e ainda no tem efeitos sobre a glicemia (diabetes). Tratamento das vaginoses. Apesar de no haver fortes evidncias cient ficas de que o rastreamento de vaginose reduz a incidncia de parto prematuro na populao em geral, no grupo de risco pode haver algum benef cio em rastrear e tratar gestantes assintomticas que apresentaram partos prematuros em gestaes anteriores. Na vaginose, ocorre substituio dos lactobacilos por anaeróbios Gram-negativos, que so: Gardnerella vaginalis; Peptoestreptococci; Mycoplasma hominis; Ureaplasma urealyticum; Bacteroides sp; etc. O contedo vaginal se torna mais alcalino (pH ≥ 5,0) e surgem corrimento vaginal branco acinzentado e odor de amina. O diagnstico pode ser presumido pelo exame especular, por meio da medida do pH com fita apropriada, aplicada entre 2 e 3cm do introito vaginal, na parede lateral da vagina, e pela presena de odor de amina de peixe, que se desprende quando uma gota do contedo vaginal misturada com uma gota de hidrxido de potssio a 10%. A anlise microscpica do contedo vaginal, pelo Gram, o mtodo definitivo de diagnstico com o aparecimento das células-pista (clue-cells). O tratamento dever ser semelhante ao preconizado em gestantes sintomticas: metronidazol via oral (250mg, 3 vezes ao dia, por 7 dias, ou 500mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias) ou clindamicina via oral (300mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias) e/ou local durante 7 dias. OBS8: O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, sugere que o rastreamento em gestantes com antecedentes de parto pr-termo, caso seja realizado, deve ser feito na primeira consulta, e o tratamento comea na mesma ocasio. Deve ser realizado controle pós-tratamento aps um ms da terapia. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 67 OBS9: É importante que as gestantes de risco tenham conhecimento dos sintomas e sinais do trabalho de parto, como: Aparecimento de contrações uterinas regulares durante pelo menos uma hora, mesmo que indolores; Sensação de peso no baixo-ventre; Alteração no fluxo vaginal. ESTÁGIO II O estágio II é caracterizado pelos eventos bioquímicos envolvidos com TPP. A contratilidade uterina é anormal, mas as alterações cervicais podem ser pequenas ou mesmo estarem ausentes. O aparecimento de contrações uterinas sem repercussão cervical é denominada de útero irritável, situação em que a gestante deverá ser mantida em repouso, podendo receber progesterona natural e/ou ser sedada (Diazepan, via oral, 5mg/dia, 12/12 horas ou 10mg à noite). Nessas pacientes é pertinente a avaliação da existência de infecção do trato urinário, avaliar o perfil psicológico especialmente naquelas pacientes com partos prematuros anteriores, avaliar a vitalidade do feto, devido ao risco de sofrimento, orientar sobre a interrupção do ato sexual devido ao orgasmo (promove contração uterina). Estudos demonstraram a eficácia da utilização da progesterona natural na dosagem de 100 a 200mg por via vaginal, acreditando que esta teria um efeito quiescente sobre o útero, e além disso, diminuindo a ansiedade e acalmado a gestante. As intercorrências clínicas, quando presentes, devem ser tratadas especificamente, e, pela frequência elevada, as ITU e vaginais devem ser sempre investigadas. Em gestantes sem US prévia, é imprescindível a realização desse exame, com a finalidade de avaliar: IG; estruturas anatômicas; crescimento fetal. Desde que haja viabilidade (IG igual ou superior a 26 semanas), deve-se analisar a vitalidade fetal. Neste estágio, a avaliação ultrassonográfica endovaginal e/ou a fibronectina fetal(OBS9) servem para evitar internações desnecessárias, bem como tocólise e corticoides para maturar o pulmão fetal. ESTÁGIO III Contrações rítmicas e eficazes, com modificação significativa do colo uterino, caracterizam este estágio, ou seja, o clássico trabalho de parto pré-termo (TPP). O estágio III deve ser devidamente diferenciado do estágio II (isto é: diferenciar um quadro de útero irritável de um trabalho de parto prematuro, propriamente dito), o que nem sempre é fácil. Para isso, devemos lançar mão da pesquisa da fibronectina fetal (fFN) que, como vimos anteriormente, é uma glicoproteína presente na interface materno- fetal que não é encontrada na vagina após a 22ª semana. Contudo, antes do início do trabalho de parto, suas concentrações vaginais começam a aumentar. Serve, portanto, como um teste eficaz de rastreamento de trabalho de parto. O feto é responsável pela produção da fFN, que tem como função promover a fixação do córion fetal à decídua materna (endométrio), auxiliando na adesão entre suas células. O fato dela não ser encontrada na vagina após a 22ª semana de gestação é explicado pela adesão do saco gestacional à parede do útero, que ocorre, de modo mais efetivo, por volta da 20ª semana. Caso ela seja encontrada neste período, devemos suspeitar da presença de lesões de continuidade, de processos inflamatórios ou, então, a rotura da bolsa das águas. É importante salientar que a fFN não faz parte do mecanismo normal do trabalho de parto prematuro. Como vimos anteriormente, quando ela apresenta concentrações vaginais entre a 24ª e a 36ª semana, denota a existência de alguma intercorrência na interface materno-fetal, como processos inflamatórios ou infecciosos. Contudo, como vimos a propósito da fisiopatologia do parto prematuro, o processo infeccioso é um importante fator de prematuridade. Por isso, diz-se que a fFN é um marcador de infecção, o que predispõe à prematuridade. Portanto, para diferenciar o estágio II do estágio III devemos avaliar a presença de fFN ao exame especular: se esta estiver presente, a chance do bebê nascer é eminente, sendo necessário iniciar investigações mais precisas para o diagnóstico de trabalho de parto; quando ausente, indica que a paciente não está em trabalho de parto, tendo um valor preditivo negativo elevado. As medidas preventivas adotadas para o estágio III são tocólise (no intuito de evitar as contrações uterinas) e utilização de corticóide (para maturação do pulmão fetal), até a 34º semana. Entretanto, para o início do tratamento proposto, é necessário a identificação do verdadeiro trabalho de parto, que pode ser feito através do exame especular, avaliando a presença ou ausência da fibronectina, ou ainda através dos critérios citados abaixo: Contrações uterinas regulares a cada 5 minutos; Dilatação cervical de pelo menos 1 cm; Esvaecimento cervical (encurtamento do colo uterino) e/ou progressão das alterações cervicais. OBS10: Para o diagnóstico diferencial em casos duvidosos, é importante que a gestante permaneça em repouso durante 2 a 3 horas para observação clínica. A pesquisa de fFN no conteúdo vaginal, ou mesmo a avaliação do comprimento cervical por via endovaginal, podem auxiliar no diagnóstico diferencial. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 68 Tocólise (uterolíticos). A toclise significa inibio da contrao uterina. Entre as drogas tocol ticas mais comuns temos: Antagonistas dos canais de clcio, Sulfato de magnsio, Beta-agonistas, Antagonistas das ocitocinas, Inibidores da s ntese de prostaglandinas. Os principais objetivos para utilizao da toclise so: Postergar o parto por, pelo menos, 48 horas, para que os glicocorticides administrados me possam atingir o seu mximo efeito; Permitir transporte seguro da me, caso seja indicado, para centro tercirio que possua um n vel adequado de assistncia neonatal, se o parto ocorrer; Prolongar a gestao quando houver condies autolimitadas subjacentes que comprometem o trabalho de parto, como pielonefrite ou cirurgia abdominal, e puderem ser tratadas adequadamente, evitando a recorrncia do TPP. Antes de se instituir a teraputica inibitria, deve-se estar atento s indicaes e contraindicaes da toclise. As principais indicaes para o uso de tocol ticos so: Per odo de latncia longo do trabalho de parto (dilatao cervical < 3cm); Esvaecimento no pronunciado: por nota, esvaecimento significa encurtamento do colo uterino, de modo que a distncia entre o stio uterino interior e o externo diminui; IG entre 22 e 34 semanas e 6 dias; Ausncia de contraindicaes. Por sua vez, a toclise contraindicada nos casos em que h: Morte fetal; Sofrimento fetal; Malformaes fetais incompat veis com a vida; Restrio do crescimento fetal; Rotura da bolsa das guas (ver OBS11); Infeco amnitica; Descolamento prematuro de placenta; Placenta prvia sangrante; S ndromes hipertensivas; Diabetes melito (DM) tipo 1 instvel; Cardiopatias; Hipertiroidismo descompensado; Anemia falciforme. OBS11: Como a rotura prematura da bolsa das guas est relacionada a um alto ndice de infeco periparto, est contra-indicada a toclise, uma vez que necessrio retirar o beb diante de tal processo, assim como sempre necessrio drenar qualquer coleo decorrente de uma infeco. Aps a administrao da medicao, a paciente deve ser hospitalizada e mantida em repouso no leito, e as seguintes providncias e avaliaes devero ser realizadas: Vitalidade fetal: desde que haja viabilidade fetal, realiza-se a cardiotocografia fetal; com essa medida, tambm so monitorizadas as contraes; US: para confirmar a apresentao fetal, analisar o volume de l quido amnitico, estimar o peso fetal e a IG e pesquisar poss veis malformaes fetais; Exame bacterioscópico e culturas do contedo vaginal (aerbios e anaerbios), cultura de contedo vaginal e anal para o estreptococo do grupo B, coleta do contedo cervical para pesquisa de Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoea; caso seja imposs vel realizar esses exames, deve-se atentar para a possibilidade de colonizao pelo estreptococo do grupo B e indicar sua profilaxia; Acesso venoso e exames laboratoriais: hemograma, anlise de urina tipo I e cultura de urina. 1. Beta-Adrenérgicos. A Terbutalina (Bricanyl) a droga de escolha e deve ser utilizada no seguinte esquema teraputico. Preparao: diluir cinco ampolas (1amp = 0,5 mg) em soro glicosado a 5% (500mL); Dose inicial: 2,5μg/min (10 gotas/min). Aumentar 2,5μg/min (10 gotas/min) a cada 20 minutos se a contrao no parar at um mximo de 80 gotas/min (20μg/min); Manuteno: obtida a dose m nima capaz de cessar as contraes (volume mximo efetivo), mantm-se o gotejamento por 24 horas. Aps as 24 horas de administrao do medicamento, diminuem-se 10 gotas gradativamente a cada 20 minutos, at a suspenso total. Caso as contraes retornem, o esquema teraputico descrito acima deve ser repetido. Caso contrrio, a paciente poder receber alta. 2. Antagonistas da ocitocina. Estes frmacos so anlogos inativos da ocitocina e competem com ela por seus receptores, inibindo a contrao uterina. O Atosiban a nica droga dispon vel no mercado desta classe. um pept deo sinttico que age competindo com a ocitocina no seu receptor da clula miometrial e reduz os efeitos fisiolgicos desse hormnio. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 69 É efetivo na diminuição significativa das contrações uterinas, apresentando efeitos colaterais maternos mínimos, como náuseas, cefaléia, vômitos, tonturas, taquicardia e hipotensão arterial. Os resultados perinatais e neonatais, até o momento, foram semelhantes aos descritos para os beta-agonistas. Inicialmente: dose de 0,9mL (6,75mg) injetadadiretamente na veia durante um minuto (bolus); Manutenção: infundem-se duas ampolas de 5mL em 90mL de SG 5% (solução de 100mL), IV, durante três horas, na velocidade de 24mL/hora (300mg/min) em bomba de infusão; posteriormente, infundem-se os 28mL restantes da solução anterior em 3 horas e meia, na velocidade de 8mL/hora, totalizando 6 horas e meia; antes de continuar com a administração do fármaco, deve-se monitorar as contrações uterinas; Persistência das contrações: mantém-se a solução IV de 90mL de SG 5% com duas ampolas de 5mL de atosiban na velocidade de 8mL/hora. O esquema proposto acima pode ser repetido por até duas vezes, entretanto caso ainda haja persistência das contrações, deve-se avaliar o colo, identificando mudanças do mesmo, presença de ITU. Entretanto cerca de 80% das contrações cessam na fase de manutenção. 3. Bloqueadores dos Canais de Cálcio. Os bloqueadores de canais de cálcio inibem a entrada do cálcio extracelular através da membrana citoplasmática, impedem a liberação do cálcio intracelular do retículo sarcoplasmático e aumentam a saída do cálcio da célula miometrial. Habitualmente, é utilizada a Nifedipina na dose inicial de 30mg por via oral, seguida de 20mg, também por via oral, a cada 8 horas. Os efeitos colaterais maternos mais comuns são enrubescimento facial, náuseas e cefaléia. Outro esquema bastante utilizado é o seguinte: Dose de ataque: 10mg via oral/20 minutos/4 doses 40 mg via oral (4 cápsulas) Manutenção: 20mg via oral/4 doses/24 horas 80mg via oral (4 cápsulas) 4. Sulfato de Magnésio. O sulfato de magnésio compete com o cálcio, impedindo a sua entrada pela membrana da célula miometrial. A dose utilizada é de 4g diluídos em soro glicosado a 10% por via intravenosa (IV) em 20 minutos, como dose de ataque, seguidos de 2 a 3g/hora até cessarem as contrações uterinas. Em resumo, temos: Dose de ataque: 4 doses de 10 mg via oral 40 mg Manutenção: 1º Dia: 4 doses de 20 mg via oral 6/6 horas 80 mg 2º Dia: 3 doses de 20 mg via oral 8/8 horas 60 mg 3º Dia (alta): 3 doses 10 mg via oral 8/8 horas 30 mg Corticóide Terapia. O melhor esquema utilizado se dá com a Betametasona 12mg ao dia, por via intramuscular, com intervalo de 24 horas, em um total de duas aplicações. O efeito máximo tem início após 24 horas da segunda dose e persiste por 7 a 14 dias no máximo, promovendo uma boa maturação pulmonar. Uma alternativa terapêutica é a utilização de Dexametasona 6mg 12/12 horas até uma dose total de 24mg, ou seja, durante dois dias. Podemos ainda fazer a dexametasona no mesmo esquema da Betametasona. Após a interrupção das contrações uterinas, e administração dos corticóides a paciente pode ser liberada e receber alta. Alguns estudos demonstram que a utilização de progesterona natural pode contribuir para a redução das contrações, podendo ser utilizada 200mg por via intra-vaginal. ESTÁGIO IV Exceto pela profilaxia do estreptococo do grupo B, nesse estágio adota-se mais uma conduta assistencial ao TPP (trabalho de parto prematuro). Profilaxia para Estreptococos do Grupo B. O estreptococo do grupo B (Streptococcus agalactiae) coloniza a vagina e o reto de 10 a 40% de todas as mulheres grávidas. Essa colonização pode ser transitória, crônica ou intermitente, essas pacientes tem uma predisposição a ter essa bactéria na flora, mesmo sem estar infectada, por isso o tratamento dessas pacientes não gera uma erradicação total. Nas gestantes colonizadas o risco de desenvolver infecção precoce está em torno de 25%. A transmissão vertical (TV) ocorre, na maioria das vezes, no canal de parto, constituindo-se no principal agente responsável pela septicemia neonatal precoce (infecção neonatal), principalmente no prematuro. A infecção por essas bactérias está envolvida como a principal causa infecciosa de morbidade e mortalidade neonatal. Pode provocar uma infecção precoce, quando ocorre transmissão vertical, ou ainda tardia que se manifesta de 7 a 89 dias após o parto, através de pneumonias e meningites. Recomenda-se que seja realizada a pesquisa do estreptococo do grupo B na vagina e no reto durante o terceiro trimestre, entre 35 e 37 semanas. A identificação da bactéria é feita através de cultura específica. Nos casos de Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 70 impossibilidade de realização da cultura devem-se identificar alguns fatores de risco (história de RN infectado por estreptococos do grupo B, bacteriúria positiva para estreptococos, febre maior que 38º no momento do parto, parto prematuro, bolsa rota por mais de 18 horas), casos estejam presentes, independente se a paciente é ou não colonizada, é pertinente a indicação de antibiótico no momento do parto. Nas pacientes colonizadas devem-se administrar antibióticos no intraparto para evitar a passagem de bactérias do canal vaginal para o feto. Ou seja, o tratamento durante a gestação não tem nenhum efeito benéfico, pois, já a paciente pode ser colonizada de forma crônica, ou ainda, intermitente, significando que a colonização irá voltar dentro de pouco tempo. Por isso para a mãe o antibiótico é feito no intra-parto. Assistência ao Trabalho de Parto. Nessas pacientes, estágio IV, foi visto que a ocorrência do parto prematuro é inevitável, com isso algumas medidas devem ser adotadas e outras evitadas para garantir um parto bem sucedido, garantindo a vitalidade fetal. Entre as principais medidas temos: Evitar fórceps profilático Amniotomia Tardia Episiotomia Ampla Clampeamento do Cordão Umbilical evitando ordenha da placenta, pois pode gerar hemólise maciça, e provocar hiperbilirrubinemia neonatal. Nas apresentações cefálicas fletidas com peso superior a 1,5 kg, pode ser realizado através de parto normal, nas apresentações defletidas com peso menor que 1,5 kg, a melhor via de parto é abdominal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 71 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA AMNIORREXE PREMATURA (Professor Eduardo Borges) A ruptura prematura das membranas ovulares (RPMO) tambm conhecida pelo termo amniorrexe prematura. Em outras palavras, podemos definir amniorrexe prematura como o rompimento das membranas corinicas e amniticas antes do in cio do trabalho de parto normal. Como se sabe, as membranas ovulares so compostas de dois folhetos, um interno, em contato com o l quido amnitico, denominado âmnio, e outro externo, denominado cório. As membranas ovulares, assim constitu das permanecem ntegras at o in cio do trabalho de parto. A sua rotura antes deste evento constitui a RPMO, o que requer algumas providncias por parte do obstetra. Tal situao coloca a cavidade amnitica em contato com os microrganismos que podem ser encontrados na vagina, propiciando desta forma a contaminao do feto ainda dentro da cavidade uterina. A amniorrexe prematura no tem ligao nenhuma com a idade gestacional, sendo classificada como “prematura” apenas pela sua relao ao in cio do trabalho de parto. Pode ser, com isso, classificada como amniorrexe prematura a pr-termo (quando acontece antes da 37 semana) ou a termo (quando acontece aps a 37 semana). EPIDEMIOLOGIA A incidncia de rotura prematura de membranas, acontece em aproximadamente 10% das gestaes de acordo com os seguintes trabalhos: Crepin (11%); Gunn (10,7%); Riviere (9,06%). Em 90 a 97% destes casos, ela acontece aps a 30 semana de gestao, sendo responsvel por aproximadamente 1/3 de todos os partos prematuros ETIOLOGIA As mais diversas teorias tm sido propostas para explicar o rompimento das membranas ovulares, mas de qualquer forma, a causa pode ser subordinada a fatores mecnicos, enzimticos, bacterianos e histolgicos. Dentre as principais causas, destacamos: Hiperdistenso uterina: polidramnio, gemelaridade, etc. Incompetnciacervical; Deficincia de colgeno; Iatrognica (durante a circlagem uterina, por exemplo); Tabagismo; Dficit nutricional; Histria prvia ou familiar (teoria da predisposio gentica); Infeco intrauterina. COMPLICAES DA AMNIORREXE PREMATURA Como consequncia maior e mais temida, tem-se o risco da prematuridade sempre que a rotura das bolsas ocorra antes de 37 semanas. S ndrome da angstia respiratria (doena da membrana hialina) e hemorragias ventriculares. Risco de infeco fetal e/ou materna, e todas suas consequncias. Hipoplasia pulmonar, principalmente quando a ruptura muito precoce, de modo que impea o desenvolvimento natural dos pulmes. O prolapso de cordo poder ocorrer nas situaes em que a rotura das membranas ocorra quando a apresentao fetal ainda alta. Neste caso, tambm sero mais frequentes as apresentaes anmalas. Sofrimento fetal por compresso do cordo umbilical. Instalao de distcias dinmicas, que comumente acabam em resoluo por via alta. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 72 OBS1: Existe uma patologia gentica autossmica recessiva conhecida como Sequncia de Potter, em que a criana nasce com aspecto envelhecido, com pequena estatura, implantao baixa das orelhas, afastamento dos eixos oculares, agenesia renal e visceromegalias, o que tambm causa hipoplasia pulmonar por compresso. Neste caso, a hipoplasia pulmonar tambm pode ser explicada pela agenesia renal, que resulta em pouco l quido amnitico e pouco espao para desenvolvimento pulmonar. De um modo geral, podemos afirmar que a complicao fetal mais temida a prematuridade (como vimos, 1/3 dos partos prematuros so causados por amniorrexe prematura). Contudo, a complicao materna mais temida a infeco (corioamnionite), o que pode acometer o miomtrio (miometrite), evoluindo para uma sepse ou para a necessidade de uma histerectomia total abdominal. CONDUTA Diante de uma paciente com suspeita de ruptura prematura de membranas, alguns questionamentos devem ser impostos: “Realmente existe uma ruptura precoce? Qual a idade gestacional? Existe algum processo infeccioso? Como est o beb?”. Portanto, para o manejo de uma paciente com amniorrexe, devemos realizar quatro procedimentos bsicos: Confirmar o diagnstico de amniorrexe prematura; Avaliar a idade gestacional; Descartar infeco; Avaliar a vitalidade fetal. DIAGNÓSTICO A principal evidncia de que tenha ocorrido a rotura das membranas ovulares a evidente de perda de l quido amnitico por via vaginal. Porm em certas situaes esta perda no to evidente, de modo que deve-se lanar mo de recursos subsidirios para se chegar a confirmao do diagnstico, tais como: Exame especular para avaliar a presena de l quido amnitico, sendo este exame sensibilizado com a manobra de Valsava. Avaliao do pH vaginal: sendo o l quido amnitico alcalino, e o meio vaginal cido, a alterao deste ltimo, seria um indicativo de rotura ovular. A cristalizao do muco cervical, que no ocorre normalmente durante a gestao, pode apresentar esta caracter stica desde que haja ocorrido a rotura das membranas ovulares. Este teste pode ser feito utilizando uma esptula e colhendo material vaginal, o qual dever ser aquecido em bico de Bunsen e avaliado em microscopia ptica. O teste positivo quando o material passa a apresentar um aspecto arboriforme, como uma samambaia. A presena de clulas de escamao fetais no contedo vaginal (células orangirófilas - coradas em alaranjado pelo azul do Nilo a 0,1%) seria o indicativo do diagnstico. Avaliao ultrassonogrfica. Outros testes bioqu micos: avaliao da alfa-fetoprote na, fibronectina fetal, etc. Os testes bioqu micos, contudo, so mais caros. Na prtica mdica, devemos iniciar com exame f sico especular, solicitando que a paciente tussa ou faa qualquer outra manobra que aumente a presso intraabdominal. Se houver a sa da de l quido, tem-se a confirmao diagnstica. Caso contrrio, devemos lanar mo da pHmetria vaginal ou na ultrassonografia. SINAIS DE INFECÇÃO MATERNA Confirmado o diagnstico, necessrio afastar a suspeita de infeco materna. Para isso, devemos considerar os seguintes pontos: Temperatura corporal superior a 37,8C Taquicardia materna ou fetal Secreo purulenta ou ftida escorrendo pela vagina Toque do colo doloroso Ausncia dos movimentos respiratrios fetais Leucocitose > 15000 com desvio para a esquerda (predominncia de clulas jovens no sangue perifrico) ou com aumento de maior que 20% com relao ao leucograma anterior. CONDUTA TERAPUTICA Diante de uma situao de amniorexe, a paciente deve ser internada, e observada em regime hospitalar. A indicao de antibioticoterapia profiltica e curativa vai depender de cada situao, onde devero ser observados principalmente tempo desde o momento da rotura, bem como as caracter sticas do liquido amnitico, principalmente o odor. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 73 Dependendo da idade gestacional, os conceitos bsicos de tratamento tm rumos diferentes. Desta forma temos: Se a ruptura prematura ocorre com menos do que 34 semanas, no h infeco ou trabalho de parto, com boa vitalidade fetal, a conduta pode ser expectante. Caso haja atividade uterina, podemos administrar corticoterapia preventiva. Se a ruptura prematura ocorre com menos de 34 semanas e a paciente apresenta atividade uterina vigorosa (trabalho de parto), infeco (coriomanionite) ou vitalidade fetal comprometida, com administrao devemos proceder com a resoluo da gestao. Entre 34 e 37 semanas de gestao a conduta pode ser expectante, ou resolutiva. Acredita-se que a partir desta poca a corticoterapia no tem mais razo de ser realizada. Aps 37 semanas de gestao, est indicada a interrupo da gravidez, ou seja atravs de induo ou atravs de uma cesrea segmentar transversa. CONDUTA EXPECTANTE Na maioria dos servios, a conduta expectante termina na 34 semana de gestao (da a importncia de calcular a idade gestacional). Na ocasio da conduta expectante, devemos proceder do seguinte: Regime de internao hospitalar; Realizar exame especular: coleta de secreo para cultura de estreptococo do grupo B; Hemograma a cada 2 ou 3 dias (de preferncia, 3 vezes por semana para avaliar uma eventual mudana de leucograma); Avaliar a vitalidade fetal a cada 2 ou 3 dias, atravs do perfil biofísico fetal, por meio da cardiotocografia (que avalia as contraes e a frequncia card aca fetal) e da ultrassonografia (avalia os movimentos do feto, a quantidade de l quido amnitico e tnus fetal). Portanto, devemos avaliar os seguintes parmetros: movimentos respiratrios, frequncia card aca, movimento corporal do feto, tnus e quantidade de l quido amnitico. Corticoterapia: utilizada em alguns locais com o intuito de promover o aumento da s ntese de surfactante pulmonar fetal. Caso seja necessrio, podemos optar pela Betametasona 12mg ao dia, por via intramuscular, com intervalo de 24 horas, com dose mxima de 24mg. A corticoterapia s dever ser feita at a 32 ou 34 semana e se no houver sinais de infeco. O maior objetivo da corticoterapia a preveno da hemorragia ventricular fetal e da s ndrome da angustia respiratria. Deve-se fazer apenas um ciclo de corticide por no mximo 7 dias. O ideal que o parto ocorra 24 horas aps a administrao do corticide (caso contrrio, o efeito do corticide minimizado). Antibioticoprofilaxia: Ampicilina por 3 a 7 dias ou Eritromicina endovenosa por 2 a 7 dias ou Amoxacilina, etc (ver OBS2). H, contudo, controvrsias na literatura sobre a real necessidade de antibioticoprofilaxia. O objetivo da antibioticoprofilaxia reduzir a morbidade infecciosamaterno-fetal e aumentar o per odo de latncia (per odo entre a ruptura da bolsa e o trabalho de parto). O uso de antibitico feito, portanto, para melhorar os efeitos adversos da prematuridade sobre o feto. Toclise em casos bem indicados, embora a maioria dos trabalhos contra-indique esta prtica, uma vez que a mulher com amniorrexe prematura apresenta um alto ndice de infeco – condio em que a retirada do feto deve ser eminente (e a toclise prejudicaria o parto). Alm disso, vrios trabalhos mostraram que a toclise no melhora o prognstico materno. Ela seria indicada apenas no intuito de obter benef cios da corticoinduo. Antigamente, se indicava a toclise quando havia necessidade de transporte da paciente para outro centro. Contudo, atualmente, muito pouco se indica a toclise na vigncia de uma amniorrexe prematura sob pena de postergar uma infeco importante, de modo que seria mais interessante transportar a criana fora do tero materno, mas em incubadoras modernas. OBS2: Nunca devemos usar Amoxacilina com cido clavulnico, uma vez que este predispe a uma complicao muito temida nos casos de prematuridade, que a enterocolite necrotizante. Devemos dar preferncia pela Eritromicina endovenosa e oral, muito embora este medicamento endovenoso seja pouco dispon vel. RESOLUÇÃO DA GRAVIDEZ A resoluo da gravidez dever ser uma opo plaus vel no caso de uma amniorrexe prematura com mais de 37 semanas de gestao ou com menos, contanto que haja coriomanionite. De fato, sempre que houver infeco na me ou no feto, imperativa a finalizao da gravidez, independente da idade gestacional. Neste caso, devemos realizar antibitico-induo com Ampicilina (2g, IV, de 6/6h), Gentamicina (1,5mg/kg de 8/8h ou 240mg em dose nica) e Metronidazol (500mg IV de 8/8h, indicada aps o clampeamento do cordo). Este esquema tr plice importante pois a flora vaginal multibacteriana, da a necessidade de utilizar a Ampicilina (para cobrir Gram-positivos), a Gentamicina (para cobrir Gram-negativos) e o Metronidazol (para cobrir germes anaerbios). O esquema deve ser mantido por 48 horas aps o ltimo pico febril ou por 48 horas aps o parto. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 74 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA PATOLOGIAS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO (Professor Francisco Mendonça) O líquido amniótico (LA) é composto por água (98%) e elementos sólidos orgânicos e inorgânicos (2%). Os mecanismos envolvidos em sua produção e reabsorção variam de acordo com a idade gestacional e dependem intimamente das relações entre concepto, placenta e organismo materno. No primeiro trimestre, o LA é isotônico com relação ao sangue fetal e materno, representando um transudato do trofoblasto. A principal fonte de LA, nesta fase, é a membrana amniótica. No segundo e no terceiro trimestres, os rins fetais representam a maior fonte de produção, enquanto a deglutição fetal é responsável por praticamente toda a reabsorção do LA. O LA representa um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento do concepto, possibilitando sua movimentação, protegendo-o contra traumatismos e favorecendo seu equilíbrio térmico. Participa também da homeostase de fluidos e eletrólitos, auxilia no desenvolvimento do pulmão fetal, distribui homogeneamente a pressão resultante das metrossístoles durante o trabalho de parto, além de revelar importantes informações concernentes à vitalidade e à maturidade do feto. Excluindo a amniorrexe prematura, as patologias mais comuns e prevalentes do líquido amniótico são: o Oligoidrâmnio e Polidrâmnio. Estas duas situações serão discutidas com maiores detalhes ao longo deste capítulo. POLIIDRMNIO O poliidramnio é definido como o excesso na quantidade de líquido amniótico (LA), estando associado à maior morbidade e mortalidade perinatais. Caracteriza-se quando o volume de LA é superior a 2.000ml. Sua incidência está em torno de 0,4 % à 1,5 % das gestações. ETIOPATOGENIA Causas fetais: consiste basicamente em uma série de doenças que determinam uma maior produção de líquido amniótico, superando a capacidade fetal e materna de absorção. Obstruções gastrointestinais; Anomalias congênitas (SNC); Arritmias cardíacas; Infecções; Hidropisia fetal auto-imune: Tumores fetais: nesses casos merecem destaque as tumorações renais Poliúria fetal; Causas maternas Diabetes Mellitus Doença hemolítica peri-natal (DHPN) e Gemelaridade homozigótica. Causas placentárias Síndrome da transfusão feto-fetal Corioangioma: tumoração diagnosticada por USG, sendo uma causa importante a se pensar diante de uma paciente com polidrâmnio. Idiopática CLASSIFICAÇÃO Agudo. Nestas pacientes, os sinais e sintomas sugestivos de polidrâmnio aparecem em poucos dias, de modo que o abdome cresce de forma exagerada e a paciente percebe uma desproporção entre a idade gestacional e tamanho do útero. Além disso, estas pacientes referem um crescimento lento e gradativo normal do útero e que, em poucos dias, ocorre um aumento exagerado do abdome. Além disso, nota-se uma pele distendida, lisa e brilhosa. Referem também cansaço fácil, justificado pela compressão do músculo diafragma. Ocorre com uma maior frequência no 2º trimestre (antes de 24 semanas) e evolui em trabalho de parto prematuro e com elevados índices de mortalidade. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 75 Crônico. Consiste em uma forma de dif cil diagnstico, pois, nestes casos, a gestante no percebe o crescimento exagerado e gradativo da regio abdominal. Diferentemente da forma aguda, o aparecimento na forma crnica ocorre em semanas e no em dias. Tem uma maior frequncia no 3 trimestre de gestao, tendo uma evoluo fetal mais favorvel, associado a diversas condies. A principal delas consiste em preparar o feto para o trabalho de parto, haja visto que uma gestao de 3 trimestre, em que h possibilidade de administrar corticides para maturao pulmonar melhorando assim s condies de sobrevida fetais. DIAGNÓSTICO Clínico. O diagnostico cl nico estabelecido de acordo com os achados da anamnese e exame físico. Entre os principais podemos citar: Altura do fundo uterino no compat vel com a idade gestacional; Edemas nas pores baixas do ventre; Pele do abdome distendida, lisa e brilhante Presena de estrias extensas: ocorrem como resultado do desprendimento das camadas da pele de forma abrupta. Dificuldade na palpao do tero e partes fetais, justificado pela quantidade exacerbada de l quido fetal, condio esta que impede a palpao (atravs das manobras de Leopold) de fundo uterino e partes fetais. Dificuldade na ausculta dos BCF Sinal de “piparote” Hipertonia uterina e hipossistolia: o crescimento exagerado do tero, devido grande quantidade de LA, determina um aumento do tnus uterino. Com isso a paciente relata alm do crescimento exagerado do abdome, dor local. Exames complementares. Ultra-Sonografia: um exame de baixo custo, pouco invasivo e de fcil acesso. Alm disso, traz informaes importantes ao mdico para estabelecer o diagnstico prematuro. Dependendo da causa do poliidrmnio, a USG ainda pode suspeitar sobre uma poss vel etiologia, como o caso de anormalidades do SNC, corioangioma, etc. De uma forma geral, a USG avalia o LA atravs da tcnica do ndice de l quido amnitico (ILA). Assim temos: Índice de líquido amniótico Volume do LA 8 a 18 cm Normal > 18 e ≤ 24 cm LA Aumentado > 24 cm Poliidrmnio COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS Sabe-se que, fisiologicamente, a gestante passa por uma fase denominada de materno-puerperal, que consiste em uma srie de mudanas anatmicas e fisiolgicas (endcrinas, metablicas, etc.) para suportar e manter a gravidez ato momento do parto. Quando esse processo interrompido ou acelerado por qualquer distrbio, incluindo a polidrmnio, nota-se o sofrimento materno. Com isso as principais alteraes so: Dificuldade respiratória materna: consiste em uma das primeiras queixas relatadas pelas pacientes. Isso est associado principalmente compresso do msculo diafragma pelas estruturas abdominais. Refere piora do quadro de dispnia principalmente na posio deitada, referindo piora na expanso pulmonar. Rotura prematura das membranas: o aumento da presso amnitica pode culminar em Amniorrexe prematura, podendo evoluir para um parto prematuro. Trabalho de parto prematuro; Pré-eclâmpsia: o aumento volumtrico do LA, dificuldade de expanso respiratria associada doena hipertensiva da gestao, pode evoluir para um quadro de pr-eclmpsia propriamente dita. Descolamento prematuro da placenta: uma distenso uterina intensa pode precipitar nessas pacientes o descolamento da placenta, ou seja, a placenta perde a capacidade de aderncia as paredes uterinas. Parto prolongado: a distenso uterina (miofibrila) determinaria nessas pacientes contraes uterinas insatisfatrias, podendo determinar um quadro de sofrimento fetal. Prolapso de cordão e de membros: consiste na complicao mais abrupta desse tipo de patologia. Com isso nessas pacientes, nota-se uma grande eliminao de l quido amnitico, podendo se exteriorizar partes fetais, como o cordo umbilical. Outras pequenas partes tambm podem ser identificadas como membros superiores e inferiores. Hemorragias no secundamento; Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 76 Distocia funcional pela distensão excessiva do útero: ocorre durante o trabalho de parto, tendo necessidade algumas vezes de administrar quantidades controladas de ocitocina, para que haja contrações controladas e eficazes para expulsão do concepto. Atonia ou hipertonia uterina pós-parto: mais comumente ocorre uma atonia uterina, sendo necessário algumas vezes administrar ocitocina. OBS1: Em resumo, as pacientes com útero distendido podem complicar facilmente com uma ruptura prematura de membrana devido ao aumento da pressão intra-amniótica. Esse aumento da contração pode determinar uma contração uterina abrupta, podendo resultar em descolamento placentário. Além disso, outra condição agravante é caracterizada pela compressão do cordão umbilical promovida pelas partes fetais exteriorizadas contra o canal de parto. Essas condições são emergências extremas em obstetrícia. Nesses casos, deve-se proceder com a realização de uma cesariana. CONDUTA Correção de causas maternas ou fetais; Controle do peso, altura uterina, circunferência abdominal e edema materno; Repouso relativo, dieta hiperprotéica; Investigação de malformações / cardiopatias fetais: pode ser feito o diagnóstico através da avaliação da USG, utilizada para confirmação do diagnóstico de poliidrâmnio. Avaliação ultra-sonográfica da placenta; Pesquisa de diabetes mellitus / gestacional: para diferenciação do poliidrâmnio causado unicamente pelo quadro de diabetes das outras etiopatogenias envolvida com essa patologia. Pesquisa de anticorpos irregulares; Considerar realização de cariótipo fetal: pode ser realizada para avaliar os risco de uma gestação futura, ou seja, podendo estar associada a fatores genéticos. Amniocentese esvaziadora nos casos de dispnéia progressiva: essa técnica pode ser utilizada naquelas pacientes diagnostica-se um poliidrâmnio, entretanto a mesma não cursa com nenhum das complicações citadas acima. Nestes casos pode-se proceder com a amniocentese esvaziadora, para promover um alívio da dispnéia da paciente, e ainda, prorrogar o trabalho de parto, ou seja, promovendo uma melhor maturação fetal, e ainda, permitindo a administração de corticóides, para maturação pulmonar fetal e menores riscos após o parto. Durante a realização do procedimento deve-se ter cautela, pois o esvaziamento do LA em altas pressões pode determinar como complicação principal o descolamento prematuro de placenta. Por isso, deve-se tirar somente uma pequena quantidade, necessária para o alívio da dispnéia da paciente. Outra complicação grave desse procedimento inclui a corioamniorite, ou seja, infecção do líquido e membranas amnióticas pelo pertuito formado com a punção. Administração de corticóides entre a 24ª e 34ª de gestação: tem como principal objetivo promover a maturação do sistema pulmonar do feto. Inibição do trabalho de parto prematuro: realizada principalmente para que o corticóide administrado possa atuar de forma correta. Indometacina (até a 34ª semana): é um excelente antiinflamatório e promove uma redução considerável no volume do líquido amniótico. Em alguns casos quando não há possibilidade de realização de uma amniocentese esvaziadora, pode-se administrar indometacina, promovendo uma redução do líquido amniótico, possibilitando a paciente a ingerir corticóide durante o tempo necessário. Entretanto um dos inconvenientes dessa droga é o fechamento precoce do ducto arteriovenoso. Cuidados no trabalho de parto. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Erro na DPP (data provável para o parto); Associação Cisto de ovário: os cistos podem determinar um maior volume abdominal nessas pacientes. Leiomioma uterino: também pode determinar um abdome distendido quando associada com a gestação. NTG (mola hidatiforme): neoplasia trofoblástica gestacional Macrossomia fetal: pode ser determinada pela própria genética do paciente, ou seja, fetos grandes para idade gestacional. Gemelaridade: condição fisiológica em que há um aumento do volume abdominal. Muitas vezes a paciente não tem conhecimento de sua gestação gemelar. OLIGOIDRMNIO O oligoidrâmnio (OI) é uma deficiência na quantidade de líquido amniótico, abaixo de 300-400 ml, ou quando o índice de líquido amniótico for igual ou menor do que cinco. Sua incidência está em torno de 0,5 a 5,5% das gestações. O oligoidrâmnio ainda pode ser classificado em moderado (volume de LA entre 100 e 500 ml) e grave (volume de LA abaixo de 100 ml). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 77 Trata-se de uma condição geralmente associada a desfecho perinatal desfavorável e a uma frequência maior de complicações fetais, como anormalidades dos batimentos cardíacos e presença de mecônio, com consequente aumento do número de cesarianas. Os efeitos da oligoidrâmnio estão bem estabelecidos nas gestações de alto risco, porém, nas gestações a termo e de baixo risco ainda não há um consenso estabelecido. OBS2: Entre as principais funções do líquido amniótico podemos citar: proteção, regulação da temperatura, excreção de produtos tóxicos e hidratação. Com isso, patologias que levam a um quadro de Oligoidrâmnio determinam um déficit de todas essas funções citadas acima. ETIOLOGIA Causas fetais: Restrição do crescimento fetal Anomalias congênitas Morte fetal: nesses casos o oligoidrâmnio pode ser o principal sintoma de morte fetal. Geralmente essas pacientes se queixam de redução do volume abdominal. Agenesia renal bilateral (Síndrome de Potter) Rim policistico Obstrução dos ureteres e estenose do colo da bexiga Alterações funcionais (< Filtração glomerular) OBS3: Como foi citado acima os casos de oligoidrâmnio estão bem relacionados com patologias urinárias. Diferentemte dos casos de poliidrâmnio, em que há uma predominância de anomalias relacionadas ao sistema nervoso central. Causas placentárias: Aparecimento em semanas Maior frequência no 3º trimestre DPP-NI e Sindrome de transfusão feto-fetal: Causas maternas: Síndromes hipertensivas Colagenoses Diabetes Desidratação: condição muito comum. Drogas: inibidoras da enzima de conversão e da síntese de prostaglandinas. O uso crônicode essas drogas Pode levar ao aparecimento a um quadro de oligoidrâmnio, entretanto, não é devido a uma restrição do crescimento fetal. Pois geralmente essas pacientes podem apresentar um feto pequeno para idade gestacional ou ainda, retardo de crescimento intra-uterino, fazendo com que o abdome esteja diminuído, quando se leva em consideração a proporcionalidade com a idade gestacional. Outras: Uterinas: incluem principalmente as causas compressivas como é o caso dos miomas, que comprimem o líquido amniótico levando a uma compressão da placenta e menor secreção de LA. RPM: ruptura prematura das membranas, ocorrendo principalmente em sua forma mais lenta e silenciosa. Idiopáticas (nulíparas e gestantes acima de 30 anos) Pós-datismo ou gestação prolongada: incluem aquelas pacientes que não realizam uma assistência pré0natal adequada, com isso, após a data do parto, a placenta passa a apresentar os primeiros sinais de insuficiência placentária, havendo uma redução na produção de líquido amniótico. FISIOPATOLOGIA O oligoidrâmnio ocorre primariamente devido a um quadro de insuficiência placentária associado a déficit nutritivo e/ou hipóxia. Essas condições induzem um mecanismo de defesa que é chamado de centralização fetal, ou seja, a oxigenação e nutrientes serão dispostos para os órgãos nobres, para que haja manutenção da vida fetal. Entretanto essa centralização fetal vai desenvolver um quadro de hipofluxo sanguíneo nos rins, pulmões e intestinos determinando uma condição de redução do volume de LA. Após isso, tem-se uma das principais complicações envolvendo a redução do líquido amniótico que inclui a compressão do cordão umbilical e sofrimento fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 78 DIAGNÓSTICO Clínico. Crescimento fetal inadequado feita pela aferio da altura uterina Palpao abdominal evidenciando diminuio do LA Reduo da movimentao fetal Queda dos BCF Historia cl nica de perda de l quido: ocorre nos casos de ruptura prematura de membranas, entretanto, silenciosa e alta, determinando assim uma perda crnica desse l quido. Reconhecimento fcil dos diversos segmentos fetais Ultra sonografico. Dimetro do maior bolso de LA menor que 2 cm ndice do L quido Amnitico - ILA < 5 cm Aconchegamento exagerado das pequenas partes fetais CONDUTA Expectante (sem maturidade pulmonar). Internamento hospitalar Avaliao diria da vitalidade fetal Amniocentese (7 em 7 dias) para pesquisa de maturidade fetal Hiperidratao Resolutiva. ILA <5 cm IG ≥ 37 semanas Oligoidrmnio associado CIUR indicado resoluo da gestao a partir da vitalidade fetal, independente da maturidade fetal Presena de mecnio no LA Sempre acompanhar o intraparto com monitorao fetal CONSIDERAES FINAIS O l quido amnitico fundamental para a manuteno da homeostasia e o adequado desenvolvimento do produto conceptual. As alteraes do volume de l quido amnitico esto associadas a aumento do risco perinatal e complicaes no parto e puerprio. As principais vias de produo e absoro do l quido amnitico na segunda metade da gestao so a produo urinria e a absoro intestinal pelo feto, respectivamente. A ultra-sonografia o mtodo de escolha para o diagnstico e acompanhamento das alteraes do volume do l quido amnitico, segundo critrios subjetivos e/ou semiquantitativos. Oligoidramnio a reduo do volume do l quido amnitico. Suas principais causas so: amniorrexe prematura, anomalias do sistema urinrio fetal e insuficincia placentria. O risco de hipoplasia pulmonar no oligoidramnio est relacionado idade gestacional em que este se instala e sua gravidade. Poliidrmnio o aumento do volume de l quido amnitico e est associado a diversas alteraes maternas, fetais e placentrias. Entretanto, aproximadamente metade dos casos idioptica. Diante do diagnstico de alterao do volume do l quido amnitico, deve-se conduzir propedutica minuciosa para tentar determinar a etiologia primria. O acompanhamento e eventual tratamento desses casos tambm sero determinados fundamentalmente pela causa espec fica. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 79 MED RESUMOS 2010 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA CARDIOTOCOGRAFIA (Professor Eduardo Borges) A cardiotocografia (CTG) é um importante método não-invasivo de avaliação da vitalidade e do sofrimento fetal (temas dos capítulos que serão vistos logo em sequência), sendo um dos exames realizados para traçar o perfil biofísico fetal, permitindo determinar o bem-estar fetal. Assim como o eletrocardiograma (ECG) avalia o comportamento elétrico do coração, a cardiotocografia consiste no registro gráfico da frequência cardíaca fetal e das contrações uterinas, comparando estes dois registros. Contudo, diferentemente do ECG, a cardiotocografia não permite o diagnóstico de patologias cardíacas, mas sim, fornece informações sobre a vitalidade fetal. O procedimento foi criado na década de 70 e é mundialmente aceito para investigar a frequência cardíaca fetal (FCF), registrar continuamente os movimentos do bebê, as contrações uterinas (quando presentes) e, com esses elementos, conferir a oxigenação do feto, principalmente, nos casos de gravidez de risco na presença de: Doenças maternas (síndromes hipertensivas, endocrinopatias, cardiopatias, colagenoses, nefropatias, endopatias, neoplasias, desnutrição, etc.); Intercorrências na gestação (oligoamnio, polidramnio, pós-datismo, ruptura prematura de membranas, gravidez gemelar complicada, placenta prévia, etc.); Doenças fetais (anemias fetais, cardiopatias, infecções, etc.). A importância desse exame está na vigilância do bem-estar do bebê e pode ser realizado tanto na gravidez (anteparto) quanto durante o parto (intraparto). Além disso, é considerado pelos médicos uma excelente ferramenta para diagnosticar e prevenir o sofrimento fetal, analisar as condições de vida do bebê, tranquilizar a mãe e tomar as providências necessárias. GENERALIDADES E CLASSIFICA O A cardiotocografia pode ser classificada como cardiotocografia anteparto (quando realizada antes do início do trabalho de parto) e intraparto (quando realizada durante o parto). No que diz respeito às modalidades da cardiotocografia, podemos classificá-la como basal (quando o exame ocorre sem interferência do examinador), estimulada (quando se utilizam recursos mecânicos ou vibro-acústicos para testar a reação do feto) e sobrecarga. De um modo geral, as características da cardiotocografia que merecem destaque são: Exame que permite o estudo da frequência cardíaca fetal (FCF). Método primário de avaliação da vitalidade e diagnóstico de sofrimento fetal. Apresenta valores de predição variáveis: a cardiotocografia não diminuiu a mortalidade ou a morbidade neonatal; apenas aumentou as taxas de operações cesarianas; contudo, é considerado um bom método, principalmente quando em associação ao Doppler e ao perfil biofísico. Apresenta altos índices falso-positivos (pois a frequência cardíaca do bebê pode estar reduzida caso ele esteja dormindo ou caso a mãe esteja fazendo uso de medicamentos). Isso significa que, quando a cardiotocografia indica um resultado ruim, devemos avaliar bem a paciente, pois pode se tratar, apenas, de um resultado falso-positivo. Em caso de situações suspeitas, devemos lançar mão do perfil biofísico fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 80 Assim como o ECG, os traados da cardiotocografia so feitos em um papel especial (figura anterior), milimetrado de forma espec fica e dividido, basicamente, em dois campos: um superior, onde so registrados os batimentos card acos fetais; e um inferior, onde so registrados as contraes uterinas (traado tocogrfico) e osmovimentos do beb. O papel dividido em quadrados grandes (com 1cm2) que, por sua vez, so subdivididos em pequenos quadradinhos (geralmente, apresentam 2,5mm2). Cada quadrado grande deve ser avaliado horizontalmente, e representa 1 minuto da linha do tempo; os quadrados pequenos devem ser avaliados verticalmente, representando a frequncia card aca fetal (FCF). O intervalo que cada quadradinho representa varia de papel em papel; mas podem ser facilmente determinados, uma vez que no canto esquerdo do papel h os valores dos batimentos card acos (da , basta utilizar um intervalo entre dois valores pr- determinados e dividi-lo pelo nmero de quadradinhos entre eles). Observando o exemplo ao lado, nota-se que cada quadradinho representa 5 batimentos neste padro de papel (que o mais comum). Determinar o valor de cada quadradinho deve ser o primeiro passo na interpretao da cardiotocografia. PARMETROS DA CARDIOTOCOGRAFIA A cardiotocografia deve ser analisada sistematicamente e, de preferncia, atravs do estudo dos seguintes parmetros: Linha de base Variabilidade Acelerao transitria Desaceleraes LINHA DE BASE A linha de base definida como sendo uma linha imaginria desenhada ao longo do traado grfico estvel da frequncia card aca fetal, no intuito de estabelecer uma mediana desta frequncia. Deste modo, ela servir como n vel de referncia para as variaes da FCF, para cima ou para baixo, permitindo determinar os demais parmetros, como a variabilidade, a acelerao transitria e as desaceleraes. Alm disso, a linha de base a responsvel por determinar se o feto apresenta-se com frequncia normal, bradicrdico ou taquicrdico: Linha de base acima de 160bpm/10minutos Taquicardia. Linha de base entre 110 (alguns autores consideram 120) – 160bpm/10minutos Normal. Linha de base abaixo de 110bpm/10minutos Bradicardia. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 81 A taquicardia fetal , portanto, definida pela FCF maior que 160bpm ao longo de, pelo menos, 10 minutos. Pode ser causada por: hipxia fetal crnica, hipertermia materna (para cada variao de 1C na temperatura da me, a FCF sobe cerca de 10 batimentos/min), infeco ovular, drogas, hiperatividade fetal, hipotenso materna, etc. A bradicardia fetal , portanto, definida pela FCF menor que 110bpm ao longo de, pelo menos, 10 minutos. Pode ser causada por: bloqueio trio-ventricular, hipxia grave (fase final), drogas, bradicardia constitucional. VARIABILIDADE A variabilidade (ou oscilao) consiste na alterao basal do padro nos batimentos card acos fetais de acordo com a sua amplitude. Esta variao deve ser prolongada (no m nimo, 1 minuto) ao ponto de no ser confundida com uma acelerao transitria. Em termos tcnicos, a variabilidade deve ser definida como o parmetro da cardiotocografia que avalia a quantidade de variaes da frequncia card aca fetal em 1 minuto, quando desconsideramos as zonas de pico (zonas de acelerao transitria). A variabilidade mais avaliada pelas cardiotocografias computadorizadas. Desta forma, temos: Intervalo considerado normal 0 – 5bpm: padro silencioso (terminal) ou variabilidade ausente. Ex: sofrimento fetal, hipxia grave. 6 – 10bpm: padro comprimindo ou variabilidade m nima. Ex: fetos adormecidos, droga depressora SNC ou sofrimento fetal. 10 – 25bpm: padro ondulatrio ou variabilidade moderada. Ex: fetos normais (fisiolgica). > 25bpm: padro saltatrio ou variabilidade aumentada. Ex: hemodinmica (compresso de cordo umbilical) ou hipermovimentao fetal. Padro sinuside ou sinusoidal: ondas sinusides e montonas, amplitude 5-15 bpm e durao de 15-30 seg com ritmo fixo e regular. assim chamada por apresentar ondas de aspecto que lembram sinos de igreja. Ex: fetos Rh sensibilizados (anemia hemol tica fetal). caracter stico de um padro terminal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 82 ACELERAÇÃO TRANSITÓRIA A acelerao transitria um parmetro da cardiotocografia caracterizado pelo aumento transitrio da FCF (variao maior que 15 batimentos com relao linha de base previamente traada) por um per odo curto de tempo (10 – 20 segundos). Geralmente ela causada pela movimentao fetal intra-tero. A definio da acelerao transitria pode variar de acordo com a idade gestacional da criana: IG < 32 semanas: >10bpm em um tempo m ninimo de 10 segundos. IG ≥ 32 semanas: >15bpm em um tempo m nimo de 15 segundos. A acelerao transitria considerada como o melhor parâmetro da cardiotocografia para avaliar a vitalidade fetal: uma vez presente, indica um bom vigor card aco fetal e/ou uma boa reserva de oxignio. Tanto que, o padro americano de anlise de cardiotocografia avalia apenas este parmetro. Para eles, o feto deve apresentar, pelo menos, duas aceleraes transitrias – se presentes, considera-se o feto como reativo, com boa vitalidade. DESACELERAÇÕES As desaceleraes so parmetros cardiotocogrficos demonstrados no traado como quedas da frequncia card aca fetal, descrevendo verdadeiros vales no traado. Seriam, portanto, o contrrio da acelerao transitria. necessrio, porm, ao analisar as desaceleraes, observar as suas relaes com traado grfico feito pelas contraes uterinas. A partir da relao entre o nadir (ponto mais profundo da depresso) do traado da desacelerao e o pico (ponto mais alto) do traado das contraes uterinas nos permite classificar as desaceleraes da seguinte forma: Desacelerações não-periódicas: no apresentam relao alguma com as contraes uterinas. So elas: espicas (DIP 0) e desacelerao prolongada. Desacelerações periódicas: guardam relao com as contraes uterinas. So elas: DIP I (precoce), DIP II (tardio), DIP III (varivel). OBS1: A terminologia DIP uma aluso ao termo ingls utilizado para designar “mergulhador” ou “profundo” – dipper. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 83 Espicas (DIP 0). O DIP 0 é um tipo de desaceleração não-periódica cuja explicação etiológica ainda é incerta. São representadas como pequenas depressões ocasionais no traçado cardiotocográfico e que não apresentam relação alguma com o traçado da contração uterina. É comum encontrar espicas momentos antes do acontecimento de acelerações transitórias ou após movimentos fetais. Desaceleração prolongada. A desaceleração prolongada (ou DIP prolongado) é caracterizada por uma grande depressão no traçado cardiotocográfico, mas sem estabelecer relação alguma com a contratilidade uterina. Geralmente, o achado de DIP prolongado está relacionado com o relato de administração de altas doses de medicamentos anti-hipertensivos (alfametildopa, nifedipino, etc.). Desaceleração precoce (DIP I). O DIP I é um tipo de desaceleração periódica que apresenta relação bem determinada e coincidente com a contração uterina. A relação se faz entre o nadir (ponto mais profundo) do traçado da desaceleração e o pico do traçado da contração uterina. Se a relação for exata, isto é, se cada nadir da desaceleração coincidir com cada pico dos traçados tocográficos, tem-se um DIP I. Para definir o DIP I não é necessário que a relação seja exatamente coincidente. Alguns autores admitem que uma decalagem < 20 segundos ainda caracteriza um DIP I (vide OBS2). Contudo, sabendo que cada quadrado grande do papel da cardiotocografia corresponde a 1 minuto, um intervalo menor que 20s chega a ser insignificante. Fisiopatologicamente, o DIP I indica compressão cefálica do feto pelas contrações uterinas, causando um reflexo vagal que promove a queda da FCF. Portanto, neste caso, a contração uterina exerce uma compressão do pólo cefálico do embrião. Isto causa a ativação de nocirreceptores que promovemuma estimulação vagal, induzindo à bradicardia. OBS2: Decalagem é o termo atribuído para a distância entras as linhas imaginárias traçadas a partir do nadir da desaceleração e o pico da contração uterina. Ela é menor que 20 segundos ou inexistente na DIP I, e maior que 20 segundos na DIP II, como veremos logo adiante. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 84 Desaceleração tardia (DIP II). O DIP II um tipo de desacelerao peridica em que no se tem uma relao bem determinada entre o nadir da desacelerao e o pico das ondas tocogrficas, embora haja um nadir para cada pico. Neste caso, o nadir da desacelerao acontece tardiamente com relao ao pico da contrao uterina. Desta falta de relao, forma-se uma decalagem (ver OBS2) bem evidente, maior do que 20 segundos. Da mesma maneira que a acelerao transitria um marcador de bem-estar fetal e presena de boas reservas de oxignio, o DIP II representa o contrrio: a desacelerao tardia indica baixas reservas de oxignio (PO2 < 18mmHg), o que patognomônico de sofrimento fetal. A fisiopatologia do DIP II est relacionada com uma reduo do fluxo tero-placentrio (decorrente de uma contrao uterina vigorosa), diminuindo o fluxo sangu neo fetal at um ponto cr tico. Como este feto no apresenta uma boa reserva de oxignio, instala-se a hipxia, que estimula quimiorreceptores responsveis por promover a bradicardia, no intuito de poupar o oxignio card aco. Alm disso, a presena de DIP II em mais de 50% das contraes indica: pH < 7,25 (30% dos casos); L quido amnitico meconial (60%); Mortalidade peritanal (20%). Desaceleração variável (DIP III). O DIP III (tambm conhecido como DIP umbilical ou varivel) um tipo de desacelerao peridica em que o nadir da desacelerao no apresenta nenhuma relao com as ondas do traado grfico da tocografia. Tambm no h uma relao de 1:1, como h no DIP II. Contudo, o que define o DIP III so as seguintes caracter sticas: Causada por compresso funicular (o que caracteriza o termo DIP umbilical) Queda abrupta da FCF Queda deve ser ≥ 15bpm Durao ≥15s e ≤2min O termo DIP varivel atribu do a este tipo de desacelerao porque seu traado varia de acordo com a contrao uterina. Ela pode acontecer imediatamente aps a contrao uterina (simulando uma DIP II) como pode ocorrer ao mesmo tempo da contrao (simulando um DIP I). A diferenciao facilmente feita analisando a morfologia da onda do DIP umbilical, que diferente dos demais. Na maioria das vezes, a onda se apresenta como uma queda, que se mantm em por um per odo curto de tempo, para depois subir. Geralmente, se apresenta na morfologia de “onda em W”. A fisiopatologia da DIP III est relacionada com a compresso do cordo umbilical pela contrao uterina ou pela movimentao fetal. Com isso, a ao de barorreceptores ativada, levando bradicardia reflexa decorrente de uma queda abrupta da FCF, durando mais do que 15 segundos. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 85 O DIP umbilical no considerado, francamente, um registro grfico patolgico. Contudo, algumas caracter sticas do traado da DIP III so marcadores desfavorveis, servindo como critrios de mau prognstico: Taquicardia compensadora (tendncia taquicardia aps a recuperao da queda da FCF) Recuperao em n veis inferiores linha de base Retorno lento linha de base Durao ≥ 60 segundos Queda da FCF abaixo de 70bpm Morfologia em W NDICE CARDIOTOCOGRFICO A interpretao da cardiotocografia pode ser feita atravs de vrios ndices. Um dos mais utilizados o ndice cardiotocomtrico de Ivo Behle e Zugaib, que estabelece notas para cada um dos parmetros da cardiotocografia. Como a acelerao transitria considerada o melhor parmetro para anlise da CTG, ela recebe a maior nota se estiver presente. O ndice cardiotocomtrico de Behle & Zugaib leva em considerao a seguinte graduao para os achados considerados normais dos parmetros da cardiotocografia, a qual, segundo eles, deve ser realizada ao longo de 20 minutos de anlise. Parmetros Nota Linha de base 120 – 155bpm 1 Variabilidade 10 – 25bpm 1 Acelerao transitria 1 em 10 minutos 2 Desaceleraes Nenhuma 1 Portanto, de acordo com o ndice cardiotocomtrico de Behle & Zugaib, podemos concluir que o feto pode ser ativo (quando recebe 5 ou 4 pontos), hipoativo (quando recebe 3 ou 2 pontos) e inativo (quando recebe 1 ou 0 pontos). Quando o feto for considerado ativo, diz-se que est normal, de modo que a me pode receber alta e retornar ao seu lar. Contudo, quando o feto classificado como hipoativo ou inativo pela CTG anteparto, devemos realizar o estmulo snico, que um teste propedutico caracterizado pelo ato de buzinar ou promover outro ru do sonoro perturbante prximo ao ouvido da criana durante 3 segundos. Feito este est mulo, devemos esperar a seguinte resposta m nima: aumento de 20bpm na FCF com durao ≥ 3minutos. Com base nesta resposta, podemos classificar o feto hipoativo ou inativo da seguinte maneira: Reativo: ocorreu aumento de 20bpm por, no m nimo, 3 minutos. Hiporreativo: a resposta foi parcial ao est mulo sonoro. No-reativo: no houve resposta alguma ao est mulo sonoro. Padro bifsico: caracterizado pelo feto que, durante o exame, no apresentou nenhuma acelerao transitria e, durante o novo teste, aps o est mulo sonoro, a criana pode ter despertado de um eventual sono e apresentar aceleraes transitrias. Como sabemos, a acelerao transitria o parmetro mais importante da cardiotocografia, e pode indicar, por si s, uma boa vitalidade fetal. Diante de todos estes passos, os seguintes resultados da CTG so considerados favorveis, normais ou tranquilizantes: Cardiotocografia mostrando feto ativo; Cardiotocografia mostrando feto reativo; Cardiotocografia mostrando padro bifsico. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CTG Em resumo, a CTG apresenta certas vantagens e desvantagens com relao ausculta intermitente da FCF (exame utilizado para diagnstico do sofrimento fetal), tais como: Vantagens Desvantagens Registro cont nuo e permanente dos BCF Exame fcil e no invasivo (tcnica externa) Mtodo difundido mundialmente Elevada sensibilidade Baixa especificidade Falso positivo (50 a 60%) Mtodo invasivo (tcnica interna) Limite movimentao fetal Total da pontuao Interpretao 5 – 4 Ativo 3 – 2 Hipoativo 1 – 0 Inativo Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 86 CONSIDERAES IMPORTANTES SOBRE A CTG O resultado normal assegura o bem estar fetal. Ótimo método para rastreamento do sofrimento fetal. Resultados insatisfatórios podem estar associados com utilização materna de certos medicamentos, malformações fetais ou estímulo sônico inadequado. Não reduz complicações neurológicas em gestantes com baixo risco. Altos índices de testes falso-positivos. Aumento das taxas de cesarianas. FLUXOGRAMA MODELO FISIOLGICO (NORMAL) DO CTG Linha de base entre 100 e 160bpm. Variabilidade oscilatória entre 10 e 25bpm. Presença de pelo menos 4 acelerações transitórias. Ausência de desacelerações. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 87 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA SOFRIMENTO FETAL AGUDO (Professor Eduardo Borges) O sofrimento fetal consiste na resposta que o produto conceptual apresenta frente hipxia que, caso no corrigida, culmina em acidose. Em outras palavras, podemos definir sofrimento fetal como evento que pe em risco a vitalidade fetal (tema do prximo cap tulo) e cujo diagnstico fundamental para uma eventual resoluo da gravidez. Basicamente, o sofrimento fetal pode ser classificado da seguinte forma: Agudo: o tipo de sofrimentofetal que ocorre durante o parto (intraparto). Este ser o tema principal abordado por este Cap tulo. Crônico: o tipo de sofrimento fetal decorrente de complicaes durante a gestao (anteparto). FISIOPATOLOGIA Independentemente do tipo de forma de sofrimento fetal, o evento principal que ocorre a hipóxia fetal. Diante desta situao, o feto pode lanar mo de duas respostas adaptativas principais, que so: Respostas hemodinâmicas: desvio de sangue para rgos nobres (sistema nervoso central, corao e supra-renais) atravs de vasodilatao nestes s tios. A este mecanismo denominamos centralização da circulação fetal. Respostas metabólicas: produo de energia pela via anaerbica, em que h menor dficit de ATP (como ocorre no ciclo de Krebs, por exemplo, uma etapa da via aerbia da respirao celular). Desta forma, o organismo economiza mais ATP para a demanda metablica. RESPOSTAS HEMODINÂMICAS AO ESTRESSE O feto, quando submetido ao estresse (sendo a hipxia o principal representante), lana mo de um mecanismo que j citamos anteriormente – a centralização fetal. Este mecanismo corresponde a um est mulo autonmico do sistema nervoso simptico que promove os seguintes eventos (Berhman et al., 1970): Vasodilatao seletiva para rgos nobres (crebro, corao e glndulas adrenais), aumentando o aporte sangu neo destes rgos; Vasoconstrio generalizada em territrios no-nobres (pele, rins, pulmes, etc). O fato da centralizao fetal no priorizar estes rgos predispe o oligomnio (reduo do volume do l quido amnitico), que favorece a compresso funicular (do cordo umbilical) e a liberao de mecnio, que pode ser aspirado pelo feto (promovendo a chamada s ndrome de aspirao meconial e morte). H ainda uma reduo nutricional para o feto (pela compresso funicular e oligoamnio), causando restrio do crescimento fetal. Portanto, o substrato cl nico das alteraes hemodinmicas que caracteriza o sofrimento fetal representado pela restrição do crescimento fetal e oligoamnio. O substrato biof sico, por sua vez, representado pela centralizao da circulao fetal, com vasodilatao em rgos nobres e comprometimento de rgos no-nobres. MECANISMOS METABÓLICOS FETAIS DE COMPENSAÇÃO FRENTE AO ESTRESSE Diante do estresse metablico e da ausncia de O2, o feto prioriza a economia de energia. Para isso, o feto abre mo da realizao do ciclo de Krebs e passa a utilizar a via anaerbia do metabolismo da glicose (via do cido pirvico) e a liberao de solues tampes (bases) para diminuir a acidose. Portanto, na persistncia do fator agressor e na diminuio da pO2, ocorre aumento da resistncia perifrica em rgos no-nobres (decorrente do mecanismos de centralizao fetal), promovendo a hipxia local. A hipxia desencadeia, ento, o metabolismo anaerbico da glicose, com produo de ácido lático e ons H+. Ocorre assim, a diminuio do pH sangu neo e a diminuio do base excess. Deste quadro, instala-se a acidose metablica, predispondo leso celular. Desta forma, o feto armazena mais energia, perdendo menos ATP do que perderia realizando seu metabolismo aerbio. Contudo, esta rota metablica predispe acidose metablica fetal, caracterizada por: Valores de pH < 7,20 (quando pH < 7,10 a acidose considerada como extremamente grave) Valores de base excess < -12 OBS1: Substratos do sofrimento fetal. Diante de todos estes mecanismos compensatrios, o feto passa por eventos que ajudam ao diagnstico do sofrimento fetal: Substrato clínico: restrio do crescimento fetal e oligoamnio Substrato biofísico: centralizao fetal e alteraes hemodinmicas Substrato bioquímico: (acidose metablica fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 88 OBS2: Algumas definies bsicas devem ser consideradas para melhor entendimento sobre o sofrimento fetal: Hipoxemia: reduo da pO2 no sangue circulante. Hipóxia: reduo da pO2 nos tecidos. Anóxia: reduo da pO2, aumento da pCO2 e reduo do pH (acidose) no sangue e nos tecidos. ETIOLOGIA DO SOFRIMENTO FETAL AGUDO O sofrimento fetal agudo , portanto, aquele que ocorre durante o parto (intra-parto). Sua etiologia pode estar relacionada com os seguintes fatores: Hiperatividade uterina: Administrao exagerada de ocitocina (iatrognica), Parto obstru do (incompatibilidade feto-canal de parto), Per odo expulsivo prolongado. Esta hiperatividade uterina responsvel pela falta de aporte de O2 para a criana, promovendo a hipxia e a gliclise anaerbica, provocando acidose fetal e leso celular. Hipotensão materna: anestesias de conduo / drogas hipotensoras, hemorragias, decbito dorsal (compresso da aorta e veia cava, o que diminui o retorno venoso e o dbito card aco). Insuficiência placentária crônica: doenas maternas como pr-eclampsia, diabetes (tipo I), colagenoses, lpus eritematoso sistmico, pneumopatias (como a asma grave), hipertenso arterial sistmica. Compressão do cordão umbilical: circulares, ns, procidncias e prolapsos. Como vimos a propsito da fisiopatologia do sofrimento fetal, as complicaes durante o trabalho de parto podem desencadear variaes no suprimento de O2 fetal, causando hipoxemia. Diante deste quadro, ocorre uma redistribuio da circulao fetal e in cio da gliclise anaerbica que, se no compensada, predispe liberao de cido ltico e H+, promovendo a acidose fetal – substrato bioqu mico do sofrimento fetal. QUADRO CLNICO No sofrimento fetal, de um modo geral, um dos primeiros eventos a acontecer a taquicardia, enquanto que a ltima a bradicardia fetal. Alterações no SNC: Taquicardia (primeira alterao) Reduo na variabilidade da FCF Desaparecimento das aceleraes transitrias Desaceleraes da FCF Vasoconstrico no trato gastrointestinal (devido ao desvio da circulao fetal), com est mulo do SN parassimptico e liberao de mecnio. Alterações miocárdicas: Desaceleraes prolongadas Bradicardia fetal Alteraes do ECG fetal DIAGNSTICO Os principais artif cios que podemos utilizar para diagnstico do sofrimento fetal agudo so: Ausculta intermitente da frequncia card aca fetal (FCF) Monitorizao cont nua intraparto Verificao da presena de mecnio Oximetria de pulso fetal pH de sangue de couro cabeludo fetal AUSCULTA INTERMITENTE DA FCF A FCF deve ser auscultada por 60 segundos durante e aps a contrao. Este parmetro um bom mtodo para avaliar gestaes de baixo risco para sofrimento fetal intraparto. De um modo geral, temos as seguintes recomendaes: Fase de latncia (1 fase) do trabalho de parto: a cada 30 minutos na gestao de baixo risco e cada 15 minutos na gestao de alto risco. Fase ativa do trabalho de parto: a cada 30 minutos na gestao de baixo risco e a cada 5 minutos na gestao de alto risco. Per odo expulsivo: a cada 5 minutos. Os resultados a serem interpretados neste mtodo so: Normal: FCF entre 100 – 160bpm Ausncia de flutuaes Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 89 Ausculta suspeita: FCF < 110bpm ou >160bpm Queda da FCF aps a contrao Irregularidade do ritmo A conduta diante do padro suspeito da ausculta baseia-se em trs passos: (1) auscultar com maior frequncia; (2) monitorizao fetal eletrnica (cardiotocografia); (3) decbito lateral esquerda (DLE), oxigenao, expanso do volume. CARDIOTOCOGRAFIA INTRAPARTO Como vimos em seu Cap tulo referente, a cardiotocografia um importante mtodo no-invasivo de avaliao da vitalidade e do sofrimento fetal, sendo um dos exames realizados para traar o perfil biofísico fetal, permitindo determinar o bem-estar fetal. A CTG avalia, dentre outros critrios, a frequncia card aca fetal, sendo assim, um mtodo primrio na avaliao davitalidade fetal. Embora tenha valores de predio variveis e no diminuir as taxas de mortalidade e morbidade, seu uso intraparto (durante o trabalho de parto) tornou-se imprescind vel para o diagnstico do sofrimento fetal agudo (que , justamente, aquele que acontece durante o trabalho de parto), embora possa ser realizado anteparto (durante a gestao). A CTG intraparto pode ser realizada atravs de duas tcnicas: externa (com aplicao de eletrodos no abdome da me) ou interna (com aplicao de eletrodos diretamente no feto). De um modo geral, a CTG um timo mtodo para screening, pois um resultado normal caracteriza o bem-estar fetal; contudo, resultados alterados podem no caracterizar um risco eminente de morte (devido ao aparecimento frequente de resultados falso-positivos). Vantagens. A CTG apresenta certas vantagens e desvantagens com relao ausculta intermitente da FCF, tais como: Vantagens Desvantagens Registro cont nuo e permanente dos BCF Exame fcil e no invasivo (tcnica externa) Mtodo difundido mundialmente Elevada sensibilidade Baixa especificidade Falso positivo (50 a 60%) Mtodo invasivo (tcnica interna) Limite movimentao fetal Parâmetros da CTG. A cardiotocografia deve ser analisada sistematicamente e, de preferncia, atravs do estudo dos seguintes parmetros: Linha de base: definida como sendo uma linha imaginria desenhada ao longo do traado grfico da frequncia card aca fetal, no intuito de estabelecer uma mediana desta frequncia. Variabilidade: consiste na alterao basal do padro nos batimentos card acos fetais de acordo com a sua amplitude. Esta variao deve ser prolongada (no m nimo, 1 minuto) ao ponto de no ser confundida com uma acelerao transitria. Aceleração transitória: considerada como o melhor parâmetro da cardiotocografia para avaliar a vitalidade fetal: uma vez presente, indica um bom vigor card aco fetal e/ou uma boa reserva de oxignio. Pode ser definida pelo aumento transitrio da FCF (variao maior que 15 batimentos com relao linha de base previamente traada) por um per odo curto de tempo (10 – 20 segundos). Desacelerações: so parmetros cardiotocogrficos demonstrados no traado como quedas da frequncia card aca fetal, descrevendo verdadeiros vales no traado. Seriam, portanto, o contrrio da acelerao transitria. Ìndice cardiotocográfico. A interpretao da cardiotocografia pode ser feita atravs de vrios ndices. Um dos mais utilizados o índice cardiotocométrico de Ivo Behle e Zugaib, que estabelece notas para cada um dos parmetros da cardiotocografia. Como a acelerao transitria considerada o melhor parmetro para anlise da CTG, ela recebe a maior nota se estiver presente. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 90 Portanto, de acordo com o índice cardiotocométrico de Behle & Zugaib, podemos concluir que o feto pode ser ativo (quando recebe 5 ou 4 pontos), hipoativo (quando recebe 3 ou 2 pontos) e inativo (quando recebe 1 ou 0 pontos). Quando o feto for considerado ativo, diz-se que está normal, de modo que a mãe pode receber alta e retornar ao seu lar. Contudo, quando o feto é classificado como hipoativo ou inativo, devemos realizar o estmulo snico, que é um teste propedêutico caracterizado pelo ato de buzinar ou promover outro ruído sonoro perturbante próximo ao ouvido da criança durante 3 segundos. Feito este estímulo, devemos esperar a seguinte resposta mínima do: aumento de 20bpm na FCF por durao ≥ 3minutos. Com base nesta resposta, podemos classificar o feto hipoativo ou inativo da seguinte maneira: Reativo: ocorreu aumento de 20bpm por, no mínimo, 3 minutos. Hiporreativo: a resposta foi parcial ao estímulo sonoro. Não-reativo: não houve resposta alguma ao estímulo sonoro. Padrão bifásico: caracterizado pelo feto que, durante o exame, não apresentou nenhuma aceleração transitória e, durante o novo teste, após o estímulo sonoro, a criança pode ter despertado de um eventual sono e apresentar acelerações transitórias. Como sabemos, este é o parâmetro mais importante da cardiotocografia, e pode indicar, por si só, uma boa vitalidade fetal. Diante de todos estes passos, os seguintes resultados da CTG devem ser considerados e, a partir deles, devemos traçar condutas específicas: Resultados Interpretao Conduta Cardiotocografia mostrando feto ativo; Cardiotocografia mostrando feto reativo; Cardiotocografia mostrando padrão bifásico. Cardiotocografia fisiológica (normal) Expectante, acompanhando a gestante clinicamente e repetindo os exames, tentando corrigir os fatores de risco na medida do possível. Bradicardia ou taquicardia Redução persistente da variabilidade Desaceleração variável grave ou de mau prognóstico Desacelerações tardias com variabilidade preservada Padrão sinusoidal Padrão suspeito Medidas adicionais: Mudança de decúbito Expansão de volume Máscara de O2 Preparar parto de emergência Variabilidade ausente Bradicardia ou taquicardia grave com redução da variabilidade Desacelerações repetitivas com redução da variabilidade Padrão sinusoidal persistente Padrão terminal Conduzir o parto imediatamente por via mais adequada Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 91 VERIFICAÇÃO DA PRESENÇA DE MECÔNIO O mecônio (do grego mekónion - suco de dormideira) constitui-se nas primeiras fezes eliminadas pelo recém-nascido. O mecônio é uma substância escura, de tom esverdeado, viscosa. O mecônio é, portanto, um componente fisiológico do parto. Contudo, em boa parte dos casos, ele pode representar algum evento agressor ou mesmo sofrimento fetal agudo. Em 10 a 22% dos trabalhos de partos há mecônio e, para cada 1000 nascidos vivos, 1 tem morte perinatal relacionada com a presença de mecônio (Nathan et al, 1994). Clinicamente, a presença de mecônio se faz importante, principalmente, quando associado ao DIP II e/ou acidose metabólica, principalmente devido à aspiração meconial. A presença de mecônio no líquido amniótico nos remete às seguintes importâncias: Comum na resposta autonômica à hipóxia Faz parte com a maturação do trato gastro-intestinal (por esta razão o mecônio é inexistente em prematuros que entram em sofrimento, uma vez que eles não desenvolveram o TGI) Decorrente do estímulo vagal, que resulta em aumento do peristaltismo Relacionado com a síndrome de aspiração meconial A análise do aspecto do líquido amniótico (LA) pode ser feito através da amnioscopia ou da amniocentese. Normalmente, o LA é claro, límpido e cristalino, assim como água, ou esbranquiçado como leite, devido ao vérnix caseoso e células do bebê. Se, na amnioscopia, houver suspeita de mecônio, devemos proceder com a amniotomia e considerar os seguintes rumos: Mecônio +/4 ou ++/4: realizar rigorosa monitorização fetal (que pode ser eletrônica, pela CTG); Mecônio +++/4 ou ++++/4: conduta resolutiva pela via mais favorável (que seja mais rápida e simples naquela ocasião). Lembrar ainda que, nesta situação, a presença de síndrome de aspiração meconial é frequente e pode estar relacionada com a redução de pO2 e presença de acidose fetal. ANÁLISE DO pH FETAL EM MICROAMOSTRAS DE SANGUE A análise do sangue e do pH fetal pode ser feita através de microamostras coletadas por punção por incisão na cabeça do feto insinuado no colo uterino. A mocriamostra de sangue deve ser coletada durante a apresentação fetal e geralmente requer a repetição do exame em 15 a 30 minutos para avaliar o pH. No Brasil, este exame e muito pouco utilizado ou não é mais feito. Sua interpretação se baseia nos seguintes parâmetros: Normal pH acima de 7,25 Pré-acidose pH entre 7,20 e 7,24 (repetir em 15 minutos) Acidose pH abaixode 7,20 Acidose grave pH abaixo de 7,00 As vantagens e desvantagens da análise do pH são: Vantagens Desvantagens Permite a análise do equilíbrio ácido-básico Baixos índices de falsos positivos (6%) Reduz as taxas de cesáreas Procedimento invasivo e perigoso ao bebê Exige análise intermitente Limita movimentação Difícil implantação e treinamento de equipe Risco de infecção fetal OXIMETRIA DE PULSO FETAL A análise da oximetria de pulso fetal apresenta as seguintes características: Analisa a saturação de O2 da hemoglobina fetal, em sangue arterial; Utilizada em associação com a CTG; Indicada para casos com traçados suspeitos na CTG. O sensor é aplicado em contato com a face fetal. Para sua inserção, deve haver rotura das membranas e cervicodilatação de mais de 2cm. É um artifício melhor do que a análise direta do pH fetal por microamostragens. Considera-se acidose fetal quando: saturação < 30% por período > 10 minutos. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 92 As principais limitações da oximetria de pulso são: Ausência de curvas de normalidade confiáveis Perda de captação de sinais em até 50% das vezes Nem sempre os valores baixos relacionam-se com a acidose fetal LINHAS GERAIS DE DIAGNSTICO E CONDUTA PARA O SOFRIMENTO FETAL AGUDO Utilizando o mecônio como parâmetro, devemos avaliar a sua consistência. Se ele for fluido, devemos conduzir o trabalho de parto (TP) normalmente. Se ele for espesso, podemos sugerir uma cirurgia cesárea. Contudo, prudente mesmo seria solicitar o pH fetal. Se este mostrar um pH > 7,20, significa dizer que o feto é bem oxigenado e que podemos seguir com o trabalho de parto. Contudo, se o pH < 7,20 (acidose), temos a indicação de cesárea. Portanto, a presença única de mecônio não deve ser tratada como sinônimo de cesárea. Utilizando a cardiotocografia para diagnóstico do sofrimento fetal, devemos avaliar seus parâmetros. Se ela for normal, significa dizer que o feto está bem oxigenado. Se o resultado for suspeito ou anormal, devemos sugerir a oximetria fetal. Se ela estiver normal, nos remete ao fato de bebê bem oxigenado; se tiver alterada (<30%) nos faz avaliar a necessidade de avaliar o pH fetal. Como este exame não é feito no Brasil, somente através da cardiotocografia suspeita ou a normal, já podemos indicar a cesárea ou pela via mais rápida. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 93 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA VITALIDADE FETAL (Professor Eduardo Borges) Avaliar a vitalidade fetal , para a obstetr cia, definir se o beb est ou no em sofrimento. Assim como vimos no Cap tulo anterior, o sofrimento fetal consiste na resposta que o produto conceptual apresenta frente hipxia que, caso no corrigida, culmina em acidemia fetal. Portanto, os mtodos propeduticos de anlise da vitalidade fetal tm o objetivo de diagnosticar o sofrimento fetal. Este Cap tulo tem, pois, como objetivo, listar e detalhar os principais mtodos utilizados pela obstetr cia para anlise da vitalidade fetal. Contudo, antes de iniciar o estudo destes mtodos, faremos uma breve considerao sobre as caracter sticas que definem o sofrimento fetal. SOFRIMENTO FETAL Em outras palavras, o sofrimento fetal nada mais que a tentativa de adaptao do feto hipxia que, se no for corrigida, culmina com a acidose metablica e morte. Diante da hipxia, o papel adaptativo do feto pode ser feito atravs de uma adaptao hemodinmica ou de uma adaptao metablica. Adaptação hemodinâmica: desvio de sangue para rgos nobres (crebro, corao e supra-renais) atravs de vasodilatao nestes s tios. Adaptação metabólica: produo de energia pela via anaerbica, em que h menor dficit de ATP (como ocorre no ciclo de Krebs, por exemplo, uma etapa da via aerbia da respirao celular). Desta forma, o organismo economiza mais ATP para a demanda metablica. ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS Diante de um quadro de insuficincia placentria, em que haja dficit de oxignio, ocorre hipoxemia tecidual fetal e dficit nutritivo. O dficit nutritivo culmina em restrição do crescimento fetal (RCF). Do ponto de vista hemodinmico, a hipoxemia fetal leva centralização da circulação fetal, responsvel por proteger os rgos nobres (sistema nervoso central, corao e glndulas suprarrenais) at certo ponto – quando os fatores agravantes tornam-se mais eminentes, este mecanismo torna-se descompensado e leva o feto ao bito. Alm disso, a centralizao fetal no prioriza outros rgos (como os rins, pulmo, pele, intestino, etc.), levando a uma isquemia pulmonar e renal. Este fato desencadeia o oligomnio, que favorece a compresso funicular (do cordo umbilical) e a liberao de mecnio, que pode ser aspirado pelo feto (promovendo a chamada s ndrome de aspirao meconial e morte). Portanto, o substrato cl nico das alteraes hemodinmicas que caracteriza o sofrimento fetal representado pela restrição do crescimento fetal e oligoamnio. O substrato biof sico, por sua vez, representado pela centralizao da circulao fetal, com vasodilatao em rgos nobres e comprometimento de rgos no-nobres. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS O substrato bioqu mico da insuficincia placentria e da hipxia a acidose metabólica fetal. Como vimos anteriormente, para suprir a carncia energtica causada pela falta de O2, o feto lana mo da via anaerbia para obteno de energia, em que a glicogenlise origina lactato e piruvato, acumulando ons H+ e promovendo a acidose metablica. Desta forma, o feto armazena mais energia, perdendo menos ATP do que perderia realizando seu metabolismo aerbio. Contudo, esta rota metablica predispe acidose metablica fetal, caracterizada por: Valores de pH < 7,20 (quando pH < 7,10 a acidose considerada como extremamente grave) Valores de base excess < -12 Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 94 AVALIA O DA VITALIDADE FETAL O objetivo da avaliao da vitalidade fetal corresponde, justamente, ao diagnstico do sofrimento fetal. Portanto, as indicaes para a anlise mais apurada da vitalidade fetal esto baseadas em situaes que possam promover este sofrimento. Portanto, basicamente, as seguintes situaes indicam a avaliao da vitalidade fetal. Doenças maternas: s ndromes hipertensivas, endocrinopatias, cardiopatias, colagenoses, nefropatias, endopatias, neoplasias, desnutrio, etc.; Intercorrências na gestação: oligoamnio, polidramnio, ps-datismo, ruptura prematura de membranas, gravidez gemelar complicada, placenta prvia, etc.; Doenças fetais: anemias fetais, cardiopatias compat veis com a vida, infeces, etc.. Os principais mtodos propeduticos para avaliao da vitalidade fetal esto resumidos na tabela abaixo. Eles visam identificar os substratos do sofrimento fetal: substrato cl nico (restrio do crescimento fetal e oligoamnio), substrato biof sico (centralizao fetal e alteraes hemodinmicas) e o substrato bioqu mico (acidose metablica fetal). Métodos clínicos Métodos biofísicos Métodos bioquímicos Aferio da altura uterina BCF Mobilograma Amnioscopia Dopplervelocimetria Cardiotocografia Perfil biof sico fetal Dosagem hormonal/enzimtico Dosagem de lactato Gasometria fetal: Anteparto (cordocentese) Intraparto (couro cabeludo) De um modo geral, os mtodos cl nicos devem ser sempre prioridade. Todavia, os mtodos biof sicos s sero indicados diante de patologias identificadas atravs dos mtodos cl nicos. Os mtodos bioqu micos servem para avaliar as alteraes metablicas do feto diante do sofrimento. Contudo, como praticamente todos os mtodos bioqu micos so invasivos e/ou necessitam de tempo para mostrar alteraes (cerca de 48h), eles ca ram em desuso, de modo queapenas os mtodos cl nicos e biof sicos merecem uma abordagem mais precisa. MTODOS CLNICOS PARA AVALIA O DA VITALIDADE FETAL Os principais artif cios que podemos lanar mo para avaliar os substratos cl nicos que caracterizam um eventual sofrimento fetal (RCF e oligodramnio) so: Aferio da altura uterina Batimentos cardiofetais (BCF) Mobilograma Amnioscopia AFERIÇÃO DA ALTURA UTERINA Toda mulher gestante deve medir o tero mensalmente. A altura uterina reflete, de maneira indireta, o tamanho do beb. Diante de um beb aumentado (macrossmico), podemos sugerir diabetes gestacional, por exemplo. Ao contrrio, diante de um beb pequeno (restrio do crescimento fetal), poder amos sugerir um poss vel sofrimento fetal. Da a importncia deste parmetro. A altura fetal deve ser medida com fita mtrica, desde a s nfise pbica at a altura do fundo uterino (verificado palpao). Diante de alteraes com relao s demais medidas mensais, devemos rastrear melhor as condies desta gestante, seja atravs da medio da glicemia ou atravs dos mtodos biof sicos para avaliar o bem-estar fetal. BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS Os batimentos cardiofetais (BCF) podem ser aud veis atravs do abdome materno, desde que a tcnica de ausculta seja realizada de maneira adequada (com o sonar-Doppler, o estetoscpio de Pinnard ou com a campnula menor do estetoscpio tradicional). De um modo geral, a literatura afirma que a frequncia card aca fetal normal estaria no intervalo entre 120-160. Portanto, temos: FCF normal: 120 – 160bpm Taquicardia: FCF > 160bpm/10 minutos Bradicardia: FCF < 120bpm/10 minutos De modo mais espec fico, alguns autores afirmam que da 5 a 10 semana de gestao, os BCF se apresentam em uma frequncia de 110 – 170bpm, sendo esta uma faixa normal para esta idade gestacional. A partir da 10 semana Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 95 at a 14 semana, os BCF caem para uma faixa de 100 – 150bpm, permanecendo assim, em mdia, at o final da gestao. Por esta razo, o valor considerado normal para a FCF a partir da 12 semana de gestao varia, portanto, de 110-120bpm a 160bpm. OBS1: Diante de uma alterao durante a anlise dos BCF, podemos lanar mo de uma manobra propedutica que auxilia no diagnstico do bem-estar fetal. Esta manobra consiste no estímulo sônico ou mecânico, que se baseia na estimulao do feto atravs de um susto sonoro (buzinar durante 3 segundos) ou mecnico. Quando se faz esta manobra, espera-se que o feto apresente um aumento na sua frequncia de mais de 20bpm e que dure pelo menos 3 minutos. MOBILOGRAMA O mobilograma o teste que avalia os movimentos fetais. A metodologia deve ser realizada da seguinte maneira: a paciente deve se posicionar em decbito-lateral e o mobilograma deve ser registrado trs vezes ao dia, durante 30 minutos. Ao longo destas medies, o beb deve ser movido pelo menos 10 vezes. A interpretao deste exame feita atravs da observao dos seguintes sinais de alarme: Movimentos fetais < 10 vezes/dia Reduo dos movimentos em 50% O mobilograma s deve ser indicado para as seguintes pacientes: Gestante de alto risco internada Gestante diabtica ou hipertensa Exame não orientado para o baixo risco, salvo situaes especiais, para no aumentar a carga de exames desnecessrios para a gestante. AMNIOSCOPIA A anlise do aspecto do l quido amnitico (LA) pode ser feito atravs da amnioscopia ou da amniocentese. Normalmente, o LA claro, l mpido e cristalino, assim como gua, ou esbranquiado como leite, devido ao vrnix caseoso e clulas do beb. Amnioscopia: introduo de um aparelho de ptica atravs do colo do tero para avaliar o LA. Amniocentese: consiste na aspirao transabdominal de uma pequena quantidade de fluido amnitico com o aux lio da ultrassonografia. muito pouco utilizada, atualmente. Na maior parte dos casos, quando o beb entra em sofrimento, ele libera mecnio, alterando o aspecto do normal do LA para um padro meconial, de forma que ele se apresenta escuro ou esverdiado e espesso. Quando o LA se mostra amarelado, pode demonstrar aumento da bilirrubina fetal (decorrente de hemlise, principalmente). Quando o LA se mostra amarronzado sugere morte fetal, decorrente da degradao de hemcias do beb. MTODOS BIOFSICOS PARA AVALIA O DA VITALIDADE FETAL Os principais artif cios que podemos lanar mo para avaliar os substratos biof sicos que caracterizam um eventual sofrimento fetal (centralizao da circulao fetal e alteraes hemodinmicas, em geral) so: Dopplervelocimetria Cardiotocografia Perfil biof sico fetal CARDIOTOCOGRAFIA (CTG) Como vimos em seu Cap tulo referente, a cardiotocografia um importante mtodo no-invasivo de avaliao da vitalidade e do sofrimento fetal, sendo um dos exames realizados para traar o perfil biofísico fetal, permitindo determinar o bem-estar fetal. A CTG avalia, dentre outros critrios, a frequncia card aca fetal, sendo assim, um mtodo primrio na avaliao da vitalidade fetal. Embora tenha valores de predio variveis e no diminuir as taxas de mortalidade e morbidade, seu uso ante-parto (antes do parto) tornou-se imprescind vel para a anlise do perfil biof sico fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 96 Parmetros da CTG. A cardiotocografia deve ser analisada sistematicamente e, de preferncia, atravs do estudo dos seguintes parmetros: Linha de base: definida como sendo uma linha imaginria desenhada ao longo do traado grfico da frequncia card aca fetal, no intuito de estabelecer uma mediana desta frequncia. Variabilidade: consiste na alterao basal do padro nos batimentos card acos fetais de acordo com a sua amplitude. Esta variao deve ser prolongada (no m nimo, 1 minuto) ao ponto de no ser confundida com uma acelerao transitria. Acelerao transitria: considerada como o melhor parmetro da cardiotocografia para avaliar a vitalidade fetal: uma vez presente, indica um bom vigor card aco fetal e/ou uma boa reserva de oxignio. Pode ser definida por caracterizado pelo aumento transitrio da FCF (variao maior que 15 batimentos com relao linha de base previamente traada) por um per odo curto de tempo (10 – 20 segundos). Desaceleraes: so parmetros cardiotocogrficos demonstrados no traado como quedas da frequncia card aca fetal, descrevendo verdadeiros vales no traado. Seriam, portanto, o contrrio da acelerao transitria. ndice cardiotocogr fico. A interpretao da cardiotocografia pode ser feita atravs de vrios ndices. Um dos mais utilizados o ndice cardiotocomtrico de Ivo Behle e Zugaib, que estabelece notas para cada um dos parmetros da cardiotocografia. Como a acelerao transitria considerada o melhor parmetro para anlise da CTG, ela recebe a maior nota se estiver presente. Parmetros Nota Linha de base 120 – 155bpm 1 Variabilidade 10 – 25bpm 1 Acelerao transitria 1 em 10 minutos 2 Desaceleraes Nenhuma 1 Portanto, de acordo com o ndice cardiotocomtrico de Behle & Zugaib, podemos concluir que o feto pode ser ativo (quando recebe 5 ou 4 pontos), hipoativo (quando recebe 3 ou 2 pontos) e inativo (quando recebe 1 ou 0 pontos). Quando o feto for considerado ativo, diz-se que est normal, de modo que a me pode receber alta e retornar ao seu lar. Contudo, quando o feto classificado como hipoativo ou inativo, devemos realizar o estmulo snico, que um teste propedutico caracterizado pelo ato de buzinar ou promover outro ru do sonoro perturbante prximo ao ouvido da criana durante 3 segundos. Feito este est mulo, devemos esperar a seguinte resposta m nima do: aumento de 20bpm na FCF por durao ≥ 3minutos. Com base nesta resposta, podemos classificar o feto hipoativoou inativo da seguinte maneira: Reativo: ocorreu aumento de 20bpm por, no m nimo, 3 minutos. Hiporreativo: a resposta foi parcial ao est mulo sonoro. No-reativo: no houve resposta alguma ao est mulo sonoro. Padro bifsico: caracterizado pelo feto que, durante o exame, no apresentou nenhuma acelerao transitria e, durante o novo teste, aps o est mulo sonoro, a criana pode ter despertado de um eventual sono e apresentar aceleraes transitrias. Como sabemos, este o parmetro mais importante da cardiotocografia, e pode indicar, por si s, uma boa vitalidade fetal. Diante de todos estes passos, os seguintes resultados da CTG so considerados favorveis, normais ou tranquilizantes: Cardiotocografia mostrando feto ativo; Cardiotocografia mostrando feto reativo; Cardiotocografia mostrando padro bifsico. Total da pontuao Interpretao 5 – 4 Ativo 3 – 2 Hipoativo 1 – 0 Inativo Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 97 PERFIL BIOFÍSICO FETAL (PBF) O perfil biofísico fetal é um método utilizado para avaliação dos substratos biofísicos da vitalidade fetal, assim como a CTG. Em outras palavras, o PBF é um método utilizado para avaliação da vitalidade do concepto. A ultra- sonografia e a cardiotocografia basal são utilizadas para o estudo das variáveis estudadas. As principais indicações para o estudo do PBF são: Cardiotocografia suspeita Cardiotocografia normal, mas com suspeita de oligoidrâmnio Variáveis que compõem o PBF. O PBF avalia a cardiotocografia, alguns parâmetros fetais através da ultrassonografia e avalia a quantidade de líquido amniótico. Desta forma, temos: Variáveis que analisam marcadores agudos Variáveis que analisam marcadores crônicos São aquelas variáveis que avaliam o sistema nervoso central, identificando sofrimento agudo. Análise da FCF pela cardiotocografia Movimentos fetais Movimentos respiratórios Tônus Representadas por apenas um parâmetro, avaliam o sistema renal do feto, identificando sofrimento crônico. Avaliação do líquido amniótico Portanto, este método emprega variáveis que representam comprometimento agudo do feto, ou seja, se alteram quando a hipoxia fetal já se encontra deflagrada. As variáveis agudas são os movimentos respiratórios, movimentos do concepto, tônus e reatividade de freqüência cardíaca. A variável que representa o comprometimento crônico de insuficiência placentária é o volume do líquido amniótico, que se altera gradativamente, ao longo do processo de deteriorização da função placentária. OBS2: Teoria da hipóxia gradual (Vintzileos et al., 1991). Tal teoria diz respeito à ordem cronológica das funções afetadas pela hipóxia. Daí, as alterações nos exames do PBF também seguiriam uma ordem, a depender das alterações de seus marcadores. Segundo ela, quanto mais precoce for o amadurecimento neurológico de uma determinada função, mais resistente ela é à hipóxia. O feto desenvolve as seguintes funções na mesma ordem cronológica que elas se apresentam: tônus, movimentos corpóreos, movimentos respiratórios e controle autonômico (taquicardia e bradicardia). Por esta razão, segundo Vintzileos, o primeiro parâmetro a se mostrar alterado diante de uma hipóxia é a CTG e, só depois, o bebê perde a amplitude de seus movimentos respiratórios, corpóreos e tônus. OBS3: Esta teoria defende, portanto, que: quanto mais tardio for o amadurecimento de um determinado órgão, mais sensível ele é à hipóxia. É por esta razão que o SNC e autonômico é mais frequentemente afetado pela hipóxia pois, apesar de o tubo neural ser uma das primeiras estruturas a ser formar, o amadurecimento cerebral só ocorre na vida pós-parto. Marcadores agudos do PBF. Cardiotocografia BASAL ou ESTIMULADA o Reativo: presença de aceleração transitória (AT) da freqüência cardíaca fetal à movimentação do concepto (AMF). O aumento da frequência cardíaca deve ser de pelo menos 15bpm, em função da linha basal, com duração mínima de 15 segundos. o Não reativo: AMF ausente. o Suspeito: oscilação ondulatória o Grave: oscilação comprimida ou desaceleração desfavorável/tardia. o Terminal: oscilação lisa Movimentos respiratórios fetais (MRF) o Presente: mínimo de um episódio com duração > 30 segundos o Ausente: não observado movimento respiratório ou duração menor que 30 segundos Movimentos fetais (MF) e Tônus fetal (TF): avaliados em conjunto pela sua interdependência o Normal: quando observado > 1 MF rápido de extensão-flexão; abertura e fechamento das mãos. o Anormal: quando os MF estão ausentes ou são lentos; membros totalmente em extensão; mãos abertas. Volume do líquido amniótico (vLA): o Normohidramnia: índice de líquido amniótico (ILA) > 8 cm e < 18 cm Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 98 Marcador crônico: avaliação do líquido amniótico. O LA um marcador crnico do PBF. Sua anlise depende da avaliao do volume do maior bolsão ou pelo índice de líquido amniótico. Consideramos o ndice de L quido Amnitico (ILA), aferido nos quatro quadrantes, segundo padronizado, mais fidedigno que o bolso de LA isolado. No PBF, considera-se normal, o maior bolso maior ou igual a 2cm ou o ILA maior ou igual a 5 cm. Maior bolsão Índice de LA (ILA) Interpretação <2 cm <5 cm Oligomnio entre 2 e 3 cm entre 5 e 8 cm Reduzido entre 4 e 7 cm entre 8 e 18 cm Normal >8 cm >20 cm Polidrmnio Resultados e Interpretação do PBF. A concluso, ou o laudo do PBF, pode ser realizada de formas diferentes. Os marcadores sempre devem ser observados, ao atestar qualquer anormalidade, por um exame que dure de pelo menos 30 minutos. A pontuao dos resultados pode ser obtida, de forma clssica, avaliando cada varivel individualmente, considerando o valor 2 para aquelas consideradas normais e 0 para as anormais. Assim, de uma maneira geral, classicamente sero considerados como normais os resultados de 8 e 10; 6 como duvidoso e 4 ou menos como anormais (Manning e col., 1987). Marcador Resultado Nota do PBF Cardiotocografia Ativo, reativo ou bifsico 2 - 0 Movimentos respiratrios 1 episdio de 30 segundos 2 - 0 Movimentos fetais 1 rpido e amplo ou 3 lentos 2 - 0 Tnus Abertura e fechamento da mo 2 - 0 Volume do LA Maior bolso > 2 cm 2 - 0 A interpretao do PBF depende das notas dadas a cada um destes marcadores. O total das notas pode somar 10 ou 0 (um feto com PBF nota 0 no est morto, necessariamente). Desta forma, de acordo com a relao entre a nota obtida pelo PBF e o aspecto do l quido amnitico, podemos traar a seguinte conduta: Nota do PBF Líquido amniótico Conduta 10 ou 8 Normal Conservadora 8 Anormal Resoluo de acordo com a idade gestacional 6 Normal Repetir em 6h 6 Anormal Resoluo baseada na maturidade e/ou viabilidade ≤ 4 Independente Resoluo a partir da viabilidade Vantagens x Desvantagens do PBF. Vantagens Desvantagens Baixo custo Resultado normal: feto bem oxigenado Falso negativo: 0,4 a 0,6/1000 nascidos vivos Valor preditivo negativo: 99,9% O resultado anormal pode falar a favor de um dficit de oxigenao, de um ciclo sono-vig lia ou do uso de algum medicamento. Apresenta valor preditivo positivo de 50% O fato de o PBF apresentar o valor preditivo positivo de 50% quer dizer que, nos casos que ele vier alterado, apenas a metade apresentar, de fato, alguma alterao. , portanto, um mtodo “cara-ou-coroa”, e nunca deve ser utilizado isoladamente – seus achados sempre devem ser associados aos mtodos cl nicos de avaliao detal e cardiotocografia. DOPPLERVELOCIMETRIA A dopplervelocimetria , de fato, o principal divisor de guas na anlise da vitalidade fetal. Ela estuda o fluxo sangu neo da placenta para o feto e de rgos do prprio concepto. Portanto, seus principais fundamentos so: Avaliar a função placentária atravsdo fluxo da artria umbilical; Avaliar a resposta fetal à hipóxia, atravs do fluxo da artria cerebral mdia (como componente arterial que avalia a funo arterial cerebral) e do ducto venoso (pequeno vaso presente durante a via embriolgica que serve como um “atalho” entre a veia umbilical e o corao, aps passar pelo f gado na forma de veias hepticas). Depois da artria umbilical, o ducto venoso o segundo componente mais oxigenado do feto e sua anlise reflete a funo miocrdica do beb (avaliando a funo arterial miocrdica). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 99 Análise da dopplervelocimetria. A análise da dopplervelocimetria pode ser feita através de duas maneiras: Avaliar a velocidade do fluxo exibida no sonograma: o traçado gráfico mostrado pelo sonograma arterial sempre mostra um pico relativo á sístole (S) e outro pico menor relativo à diástole (D): quanto menor a resistência, maior é o componente diastólico, o que significa que o sangue flui muito bem. O sonograma do ducto venoso, entretanto, além da sístole e da diástole, mostra um componente referente à sístole atrial (onda a): quando há refluxo de sangue do átrio para as grandes veias, temos o achado conhecido com onda a reversa. Utilização de índices: consiste em uma outra maneira de utilizar a dopplervelocimetria, através dos índices demonstrados abaixo. O cálculo dos índices é feito pelo próprio aparelho. De um modo geral, quanto maior o índice, maior é a resistência. Relação sístole/diástole (S / D) Índice de resistência (IR) Índice de pulsatilidade (IP): é o mais importante. Índice de pulsatilidade para veias (IPV) Sequência de alterações. Diante do sofrimento fetal, a sequência cronológica de alterações na dopplervelocimetria segue a ordem descrita a seguir: Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 100 Em resumo, o primeiro doppler que se altera o umbilical (pois reflete a insuficincia placentria), aumentando a resistncia (devido fibrose placentria) e o IP torna-se alto. Por fim, pode haver distole zero ou reversa. Diante de um doppler de artria umbilical alterado, devemos investigar o doppler da artria cerebral mdia (ACM). Por meio deste parmetro, podemos avaliar a presena de um mecanismo compensatrio, que seria a vasodilatao cerebral. Quando a ACM dilata, h uma queda na resistncia do fluxo sangu neo cerebral, diminuindo, assim, o IP. Por ltimo, h uma diminuio no fluxo na contrao atrial, facilmente verificada pelo doppler de ducto venoso, que verifica um aumento do IPV, com a presena de onda a reversa. OBS3: Uma das nicas situaes em que se tem um doppler de ACM alterado mas com manuteno do fluxo umbilical normal a hipotensão arterial materna. Esta situao pode fazer com que haja falta de sangue para o beb, o qual realizar uma vasodilatao compensatria; contudo, como a placenta est normal, o doppler retorna a normalidade rapidamente. Portanto, no podemos considerar esta situao como uma centralizao da circulao fetal: s podemos afirmar este quadro depois que o doppler da artria umbilical estiver alterado. Esta uma das razes que fez da relao ACM/Umbilical cair em desuso atualmente. Critérios para resolução da gestação. A distole zero no critrio para resoluo da gestao pois, uma vez presente, ela exige a avaliao da ACM e do ducto venoso. A centralizao fetal evidenciada pelo doppler da ACM tambm no indica resoluo da gravidez pois, uma vez presente, ela exige a avaliao do ducto venoso. Quando o ducto venoso est alterado (elevao do IPV > 1), indica-se a resoluo e, a depender da idade gestacional, podemos utilizar corticide para resolver. Portanto, os seguintes critrios, por sua vez, indicam a resoluo da gestao: Diástole reversa Ducto venoso alterado IPV entre 1,0 –1,5: avaliar a possibilidade de corticide IPV >1,5: Resoluo imediata Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 101 Indicações da dopplervelocimetria. Em resumo, apesar de a CTG e o PBF serem exames fundamentais para avaliação do substrato biofísico do sofrimento fetal, a avaliação deste quadro deve ser iniciada pela dopplervelocimetria, pois esta é responsável, por si só, pelo direcionamento quanto à resolução ou não da gravidez. Além disso, de uma forma geral, nenhum método deve ser avaliado espontaneamente, mas sim, mediante as seguintes indicações: Alto risco para insuficiência placentária. Suspeita clínica e/ou ultrassonográfica de RCF. CONSIDERAES FINAIS QUANTO VITALIDADE FETAL A avaliação da vitalidade fetal é ferramenta útil e necessária no acompanhamento das gestações de alto risco, sobretudo para insuficiência placentária. As gestações de baixo risco não são beneficiadas com a incorporação dessa tecnologia na rotina pré-natal, exceto em casos de gestação pós-data. O prognóstico da gestação de alto risco tem melhorado sensivelmente, não apenas pela adequação do controle terapêutico das doenças maternas, mas também pelo maior entendimento dos métodos de avaliação do bem estar fetal Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 102 MED RESUMOS 2011 CORREIA, Luiz Gustavo; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÌFICA DA GESTAÇÃO (Professor Rodrigo Magliano) A doena hipertensiva espec fica da gestao (DHEG) apresenta a pr-eclmpsia como prottipo cl nico. A pr- eclmpsia ditada como sendo a doença mais freqüente no ciclo grav dico-puerperal. Alm disto, uma patologia que influenciada pela paridade, de modo que, mais freqente em pacientes nul paras (3 a 7%) quando comparadas as que j foram submetidas a partos anteriores (mult paras, na ordem de 0,8 – 5%). Alguns cientistas descrevem que as gestantes mult paras apresentam certa “imunidade” contra a pr-eclmpsia, explicitando a hiptese de sua menor incidncia neste grupo de pacientes. J a eclampsia uma forma mais grave da DHEG, na qual a gestante apresenta um quadro convulsivo e, eventualmente, o bito. Segue abaixo alguns ndices estat sticos que denotam a importncia da descrio, durante este Cap tulo, da doena hipertensiva espec fica gestacional. Mais que 4 milhes de mulheres, por ano, desenvolvero a pr-eclmpsia Mais que 100 mil mulheres, por ano, desenvolvero a eclampsia e, destas, 90% (90 mil), sero habitantes de pa ses em desenvolvimento No Brasil, a pr-eclmpsia a principal causa de morte materna, seguido de hemorragias incontrolveis e infeco As formas cl nicas da DEHG so vrias, dentre as quais, destacam-se: Pr-eclmpsia, Eclampsia, Pr- eclmpsia Superajuntada ( hipertenso arterial crnica), Hipertenso arterial crnica (HAC), Hipertenso transitria. CONCEITOS Antes de aprofundarmos o conhecimento deste Cap tulo nas DHEG, devemos entender alguns conceitos cl nicos e laboratoriais, que sero de grande importncia para a descrio mais adiante. O primeiro passo para definirmos as caracter sticas cl nicas, diagnstico e terapia da DHEG, o conceito da pr-eclmpsia e eclmpsia. PRÉ-ECLÂMPSIA A pr-eclmpsia a situao em que a gestante apresenta um quadro de hipertenso arterial sistmica (HAS), acompanhada de proteinria e/ou edema generalizado aps a 20 semana de gestao. Pela definio, podemos entender que a gestante com a HAS antes da primeira metade da gestao, corriqueiramente, no apresenta pr-eclmpsia. HAS: Para se dizer que a gestante apresenta HAS, devemos proceder a medio da presso arterial na paciente em decbito dorsal, com o manguito no brao direito, em duas medidas com intervalo m nimo de 4 horas. Quando a PAS maior ou igual a 140 mmHg e/ou PAD maior ou igual a 90 mmHg, se faz o diagnstico de HAS. Proteinria: A proteinria um termoque refere que est ocorrendo uma eliminao de prote nas pela urina. Geralmente, sua presena j suscita a hiptese de que est ocorrendo um acometimento renal e, portanto, uma forma mais avanada da doena. Do contexto fisiopatolgico, a proteinria passa a ser vigente quando ocorre uma perda de prote nas pelos rins, suscitada por uma disfuno do endotlio do capilar glomerular, denominada de endoteliose. Ou seja, o endotlio passa a apresentar uma dificuldade em filtrar a prote na e, com isto, toda prote na que ultrapassa os n veis renais so excretadas na urina. Sem dvida, a proteinria o padro ouro. O diagnstico de proteinria laboratorial, ou seja, procede-se de anlise de urina de 24 horas e observa-se n vel de prote na de 300 mg. Edema: O edema, antigamente, era uma caracter stica cl nica muito valorizada. Nos dias atuais, j sabemos que o edema uma conseqncia da perda protica pela urina e, de fato, representa um efluxo de l quidos hipertnicos para o espao intersticial (tambm denominado de “3 espao”). Do contexto fisiopatolgico, podemos comparar os vasos sangu neos com “tubos de PVC de um encanamento de gua” e, ao redor deste tubo existe um cimento de forte aderncia. Do mesmo modo, os vasos sangu neos, que so tubos ocos impermeveis, apresentam um endotlio bastante r gido tal qual o “cimento” dos tubos de PVC. O fato da gestante apresentar edema j sugere que ocorreu uma leso da continuidade endotelial. Geralmente, ocorre edema de mos e face e ocorre aumento do peso em, no m nimo, 1kg por semana. importante o diagnstico diferencial entre o edema patolgico e o fisiolgico. Este caracterizado por um edema que ocorre no final do dia, enquanto que o edema patolgico o que ocorre desde o amanhecer. Como regra mnemnica, o edema patolgico o que a paciente j acorda com ele, enquanto que o fisiolgico o que a paciente dorme com ele. O mecanismo fisiopatolgico a diminuio da presso onctica, por perda protica. ECLÂMPSIA A eclampsia a entidade nosolgica hipertensiva em que a gestante passa a experimentar sinais e sintomas mais intensos quando comparados pr-eclmpsia, dentre eles, as convulses generalizadas (geralmente, tipo tnico-clnica) so as mais frequentes. vlido ressaltar que, as causas neurolgicas, anestsicas e complicaes metablicas devem ser exclu das, durante a investigao diagnstica. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 103 HIPERTENS O ARTERIAL CRNICA A HAC apresenta-se como uma patologia crnica da gestante, em que a sua presso arterial est sempre elevada. Em outras palavras, corresponde a hipertenso de qualquer etiologia, presente antes da gravidez ou diagnosticada at a 20 semana da gestao (ou seja: um tipo de HAS presente antes da gestao). Diferentemente da pr-eclmpsia, a HAS est elevada desde a primeira semana da gestao e, alm disto, a HAS menor, quantitativamente. Uma manobra propedutica de grande valia para esta diferenciao a avaliao da presso arterial da gestante durante os trimestres gestacionais. Consta-se que, as pacientes com HAC, ao longo das semanas, apresentaro uma diminuio da presso quando comparada com as primeiras semanas e, isto ocorre por conta de uma vasodilatação periférica generalizada que fisiológico durante a gravidez (ver OBS1). Outro dado importante o fato que, ao longo das semanas, o desenvolvimento da placenta tambm afeta diretamente o territrio vascular da gestante, deste modo, h uma contribuio para a hipotenso arterial de uma paciente com HAC. E, para confundir ainda mais o diagnstico, no final da gestao, ocorre um aumento de 50 a 60% do volume plasmtico e, por conta disto, ocorre uma hipertenso arterial. OBS1: A paciente com HAC, isto , hipertenso arterial preexistente antes da gestao, pode ainda evoluir com a pr- eclmpsia e, nesta ocasio, denominamos o quadro como pré-eclâmpsia superajuntada (secundria HAC). o t pico caso da paciente portadora de HAS crnica que, ao invs de ter uma diminuio de sua PA, apresenta um agravamento da mesma com o passar dos meses. HIPERTENS O ARTERIAL TRANSITRIA a hipertenso que ocorre no final da gravidez (durante todo o pr-natal, os n veis pressricos so normais), porm, h proteinria. Podemos dizer que as pacientes com este tipo de hipertenso apresentam um in cio da pr- eclmpsia, porm, no houve tempo para o seu desenvolvimento. um quadro cl nico benigno, pois, desaparece em 12 semanas aps o puerprio. PR-ECLMPSIA A pr-eclmpsia pode ser graduada em duas formas distintas: (1) leve e (2) grave. Leve: presso maior ou igual a 140/90; Proteinria maior ou igual a 300 mg/L; Grave: presso maior ou igual a 160/110; Proteinria maior ou igual a 5 g/L. CRITÉRIOS DE GRAVIDADE Presso arterial diastlica > 110 mmHg Proteinria > 2g / 24h Oligria < 30 ml/h Cefalia (espasmos arteriolar, hipofluxo cerebral, edema cerebral), dor epigstrica (devido a distenso da Cpsula de Glisson) e transtornos visuais Convulso (Eclmpsia) Creatinina > 1,2 mg/dL Trombocitopenia <100.000/mm3, por conta de uma leso endotelial, com aderncia e desvio das plaquetas em direo ao vaso afetado Aumento das enzimas hepticas Cianose e edema pulmonar Restrio do crescimento fetal (m perfuso) OBS2: A s ndrome HELLP pode tambm indicar uma complicao da pr-eclmpsia e, eventualmente, pode levar ao bito. Hemolytic anemia: sobressaindo-se a bilirrubina total maior ou igual a 1,2 mg% EL (Elevated Liver Enzimes): TGO maior ou igual a 60 – 70 UI/L; LP (Low Platet count): Plaquetas menor ou igual a 100.000/mm3 OBS3: Apesar de serem descritos vrios fatores que influenciam na gravidade de uma pr-eclmpsia, somente alguns deles devem ser memorizados para questes de Concursos pblicos. Presso arterial > 160 / 110 mmHg Proteinria > 5g / 24h Oligria Cefalia, dor epigstrica e transtornos visuais Cianose e edema pulmonar Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 104 FATORES DE RISCO Os fatores de risco para pré-eclâmpsia são muito variáveis. Destes, a nuliparidade é a que mais pode representar o fator de risco principal. O mecanismo fisiopatológico envolve uma resposta imunológica, com intolerância ao esperma masculino. Além deste, outros fatores também podem se fazer presentes: História familiar de DHEG DHEG grave em gestação prévia HAS ou doença renal pré-existente Obesidade Gemelaridade: Pelo aumento da luz uterina Trombofilias Molestia trofoblástica gestacional Aloimunização Rh ETIOPATOGENIA Três principais fatores estão influenciados na etiopatogenia da pré-eclâmpsia, ou seja, quais os mecanismos patológicos que uma determinada etiologia causa a doença. Invasão trofoblástica inadequada Fatores imunológicos Lesão endotelial e alteração inflamatória Invasão trofoblástica inadequada . Em condições normais, o trofoblasto, dentro da cavidade uterina, se implanta e se fixa em regiões mais vascularizadas. Geralmente, sua fixação ocorre no tecido que está subjacente à artéria espiralada (que é ramo das artérias radiais provenientes da A. uterina) e, com isto, determina formação de uma fístula (conexão vascular mãe-fetal) que é responsável pela sua nutrição. Por vezes, este trofoblasto destrói inadequadamente a parede muscular e ocorre uma falência da nutrição. Isto é comprovado, imaginologicamente, através da realização de um Doppler em paciente gestante com pré-eclâmpsia: a artéria uterina se apresenta mais dilatada, pois, se encontra em esforço intenso para empurrar o sangue em direção ao embrião. Fatores imunológicos . O embrião pode funcionar como um verdadeiro enxerto (material biológico da mãe e do pai) para uma paciente gestante. Nesta ocasião (pré-eclâmpsia), se assemelhaao órgão transplantado, com uma ausência da tolerabilidade da carga genética do embrião, sem razões ainda concretas. Gera, com isso, uma resposta inflamatória exarcebada: Ativação de PMN e sistema de complemento Produção de citocinas e interleucinas Formação de imunocomplexo na placenta, fígado e glomérulos Lesão endotelial e alteração inflamatória . Na pré-eclâmpsia, ocorre um desequilíbrio entre as prostaglandinas PGI2, que é vasodilatadora e a TXA2, que é vasoconstrictora. Portanto, há uma elevação dos níveis de TXA2 em detrimento da PGI2, consequentemente, há maior liberação de prostaglandinas vasoconstrictoras, daí a hipertensão arterial. Os vasoespasmos frequentemente relatados pela elevação dos níveis de TXA2 promove uma lesão endotelial, com ativação da cascata de coagulação. A lesão implica em aumento da permeabilidade vascular. Nos rins, ocorre uma alteração da microvasculatura, com perda de proteína. A perda de proteína determina uma diminuição da pressão oncótica e se inicia a saída de líquidos para o 3º espaço, instalando-se o edema. Em resumo, o fator imuno-genético vai provocar uma invasão trofoblástica inadequada, uma redução na perfusão placentária (decorrente da doença vascular materna e do tecido trofoblástico aumentado), provocando a produção de endotoxinas placentárias e lesão endotelial (segundo Pritchard, 1978, a presença da vilosidade coriônica determina, de forma misteriosa o surgimento de vasospasmo). FISIOPATOLOGIA O vasoespasmo arteriolar influenciará em vários setores do organismo, conforme podemos perceber no fluxograma a seguir. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 105 DIAGNÓSTICO Os critérios de diagnóstico na pré-eclâmpsia leve e grave são diferentes. Para a pré-eclâmpsia leve, a análise da proteína da urina, ácido úrico e uréia e creatinina já bastam. Já para a eclampsia grave, devemos proceder dos seguintes exames: Proteinúria Ácido úrico: O acido úrico vai estar muito aumentado e seu valor normal é <6ng/dL. Uréia e Creatinina: Aumento de uréia e creatinina. Essas 3 alterações acontecem tanto na pré-eclampsia leve como na grave. Dosagem de bilirrubinas (BLR total >1,2ng/mL) e Enzimas Hepáticas (TGO e TGP) porque existe uma maior tendência de lesão hepática. Além de hemograma completo e DHL (Valor normal <600 UI). Exame do fundo de olho ECG/Ecocardiograma USG renal para excluir uma hipertensão causada por uma estenose renal, por exemplo; Pesquisa de trombofilia (anticoagulante lúpico e anticardiolipina). CONDUTA Conduta Clínica na Pré-eclâmpsia leve. Dieta; Repouso; Sedação; Anti-hipertensivos Repouso: o repouso é indicado para todas as formas de DEHG. Na pré-eclâmpsia grave, a conduta de internação é obrigatório. E, ainda na forma leve, é prudente a internação, pois, a doença pode evoluir com piora clínica, ainda que seja nesta forma mais branda. Anti-hipertensivos: o uso de anti-hipertensivos somente é indicado em paciente com pré-eclâmpsia grave ou leve (quando a pressão diastólica estiver acima de 105-110 mmHg). A hipertensão arterial é um mecanismo de defesa e, por com disto, somente é tratada quando pode por em risco a vida da gestante. Ou seja, quando a pressão ultrapassa a capacidade de distensão das artérias, podendo promover rompimento vascular de olhos, cérebro e coração (lesão em órgão alvo). Em casos de utilização de anti-hipertensivos, devemos sempre optar por monoterapia. Os objetivos do tratamento anti-hipertensivo é o de manter a PAD abaixo de 100 mmHg e reduzir os níveis tensionais em 20- 30% do nível inicial. Dentre as drogas anti-hipertensivas, a mais usada mundialmente é o Aldomet® (alfa- metildopa), na posologia de 250 mg, em 3 tomadas diárias. Além desta, outras também podem ser utilizadas, em monoterapia: Visken® Hidralazina: é usada nas emergências hipertensivas Nifedipina (30mg/dia) Anlodipina OBS4: Em gestantes, é proscrito a utilização dos seguintes fármacos: Inibidores da ECA (dano fetal, oligoamnio e insuficiencia renal); Antagonistas dos receptores da angiotensina II; Atenolol (restrição do crescimento fetal); Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 106 Diuréticos (somente é indicado quando há um quadro de Insuficiência Renal ou Edema Agudo de Pulmão ou Cardiopatia) Conduta Clínica na Pré-eclâmpsia grave. Internação com repouso em decúbito lateral com dorso elevado Acesso venoso e monitorização rigoroso da PA Solicitar exame laboratoriais de rotina Vitalidade fetal Usar drogas anti -hipertensivas : o controle da PA visa reduzir os níveis tensionais entre 20-30% das medidas iniciais. Deste modo, a droga de predileção é a hidralazina . Cada ampola desta droga apresenta 1 mL, com 20 mg da droga. Devemos diluir este conteúdo para 20 e, com isto, resultar em um final de 1mg/mL. Aplica-se 5mg em bólus e, se não ocorrer efeito, em 20 minutos, repete-se a administração. Pode-se utilizar, também, o Adalat VO (Nifedipina, sempre VO 30mg a cada 4h no máximo com 4 doses) ou o Nitroprussiato de sódio (10 microgramas/Kg/min). Profilaxia das convulsões com Sulfato de Magnésio (MgSO4): Na pré-eclâmpsia grave, o risco de convulsões é maior. Por isto, a utilização de Sulfato de Magnésio é prudente no sentido de impedir profilaticamente esta ação. Por ser utilizado por via endovenosa ou IM (5g), porém, a via IV pode induzir uma paralisia muscular pela competição com receptores de cálcio. Resolução da gravidez (obedecendo ao seguinte fluxograma) OBS 5: Na vigência da utilização de Sulfato de Magnésia como profilaxia para crise convulsiva, se faz necessário a avaliação do reflexo patelar, movimentos respiratórios e a diurese. No que se refere ao reflexo patelar, é importante entender que a sua abolição significa que a dose terapêutica deste fármaco já foi atingida, isto é importante, pois, a dose terapêutica (que é de 7mEq/L) é muito próxima da dose tóxica (10mEq/L). A diurese deve ser mantida acima de 25ml/h, tendo em vista o fato que o MgSO4 tem excreção renal. A insuficiência renal é um fator proscritor de sua utilização. O antídoto é o Gluconato de Cálcio a 10%. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 107 Na pr-eclmpsia grave, a internao do paciente deve ser sempre realizada. A conduta sempre resolutiva a partir de 34 semanas, nascendo o beb em prematuridade. ECLMPSIA A eclampsia a entidade nosolgica em que a gestante passa a experimentar sinais e sintomas mais intensos quando comparados pr-eclmpsia, dentre eles, as convulses generalizadas (geralmente, tipo tnico-clnica) so as mais frequentes. FATORES INTERVENIENTES Atendimento pr-natal deficiente quando conduz mal uma pr-eclmpsia, deixando evoluir para uma eclampsia. Conduta inadequada na pr-eclmpsia COMPLICAÇÕES MATERNAS ASSOCIADA À ECLÂMPSIA Hemorragia cerebral Edema Agudo de Pulmo Insuficincia respiratria, renal Coagulopatia MORBIDADE PERINATAL ASSOCIADA À ECLÂMPSIA Prematuridade Hipoxia secundria s condies maternas Descolamento prematuro de placenta FISIOPATOLOGIA O vasoespasmo cerebral induz reas de infarto cerebral com consequente edema. A hemorragia pode ainda ocorrer, suscitando, por vezes, o quadro de encefalopatia hipertensiva. CLASSIFICAÇÃO Eclâmpsia não-complicada Eclâmpsia complicada Eclâmpsia descompensada Convulso sem outras intercorrncias Convulso acompanhada de uma ou mais das seguintes intercorrncias: Coagulopatia Insuficincia respiratria Insuficincia card aca Icter cia Insuficicia renal aguda Presso arterial diastlica ≥ 120mmHg Temperatura corprea ≥ 38C Convulso associada a: Choque Coma Hemorragia cerebral Necessidade de assistncia ventilatria QUADRO CLÍNICO O quadro se inicial secaracteriza por cefalia, epigastralgia e distrbios visuais. Ao final, ocorrem quadros de convulso. A partir da , podemos dividir o quadro cl nico nas seguintes fases: Fase de invaso o Silenciosa ou precedida de grito ou urea o Fibrilao da boca e membros em pronao Fase de contrao tnica o Tetanizao de todo o corpo o Opisttono e trismo o Olhos para cima e pupilas dilatadas Fase de contrao clnica o Inspirao profunda o Expirao prolongada Fase de coma o Convulses repetidas ou prolongadas o Perda da conscincia o Ausncia de reflexos Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 108 CONDUTA Medidas gerais: Decúbito lateral elevado: porque a paciente pode vomitar e aspirar Proteger língua com Guedel: para evitar que ela morda a língua. Oxigenação (5l/min): devido a hipoxia cerebral Acesso venoso, avaliao laboratorial e hemograma completo Coagulograma Enzimas hepáticas (AST, ALT); Bilirrubinas totais e frações Uréia/ creatinina DHL Proteinúria de 24 horas e Ácido Úrico Interromper a gestao – UTI Convulso persistente: indicar tomografia computadorizada. CONSIDERAES FINAIS Segundo as V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, considera-se hipertensão na gravidez quando o nível da pressão arterial for maior ou igual a 140/90 mmHg, principalmente no terceiro trimestre, sendo a pressão diastólica identificada na fase V de Korotkoff. Duas formas de hipertensão podem complicar a gravidez: hipertensão preexistente (HA crnica) e hipertensão induzida pela gravidez (pr-eclmpsia/eclmpsia), podendo ocorrer isoladamente ou de forma associada. o Hipertensão arterial crônica em gestantes: Corresponde a hipertensão de qualquer etiologia, presente antes da gravidez ou diagnosticada at a 20 semana da gestao. A Alfametildopa é a droga preferida por ser a mais bem estudada e não haver evidência de efeitos deletérios para o feto. Os inibidores da ECA e os bloqueadores do receptor AT1 são contraindicados durante a gravidez. o Pré-eclâmpsia/eclâmpsia (doença hipertensiva específica da gravidez): A pr-eclampsia/eclampsia ocorre geralmente aps 20 semanas de gestao. Caracteriza-se pelo desenvolvimento gradual de hipertensão e proteinúria. A interrupção da gestação é o tratamento definitivo na pré-eclâmpsia e deve ser considerado em todos os casos com maturidade pulmonar fetal assegurada. A hipertensão arterial grave (na forma de emergência) é frequentemente tratada com Hidralazina endovenosa. A pré-eclampsia grave está associada com elevada morbidade e mortalidade materna e perinatal A assistência pré-natal precária predispõe a evolução das formas leves para as formas graves O tratamento clínico e obstétrico nas formas graves deve ser conduzido em serviços terciários Não há métodos satisfatórios na prevenção primária e secundária até o momento atual