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Sociedade, Comunicação e Cultura Aula 03 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 03: Alteridade e etnocentrismo Objetivo: Ajudar a refletir quem somos em relação ao outro. Ajudar-nos a percorrermos temas como igualdade e desigualdade, classe social e as grandes questões que norteiam a humanidade, raça, gênero, violência. O ser humano em sua diversidade Os estudos antropológicos nos desafiam e, ao mesmo tempo, nos convocam a uma revolução do olhar. A ampliar nosso saber e ver o “outro”, a diversidade de povos e culturas como algo que nos enriquece e não como uma ameaça a nossa soberania e centralidade, pois, conforme Morin (2005, p. 36), a cultura [o outro] é o que permite aprender e conhecer, mas também é o que nos impede de aprender e conhecer fora dos nossos imperativos e normas. Essa disposição, abertura para o outro é o que denominamos alteridade. É ela que nos permite romper com o pensamento reducionista e pensar de forma mais igualitária utilizando nosso pensamento e inteligência com consciência da pluralidade. Conforme Laplantine (2003), A descoberta da alteridade é a de uma relação que nos permite deixar de identificar nossa pequena província de humanidade com a humanidade, e correlativamente deixar de rejeitar o presumido "selvagem" fora de nós mesmos. Confrontados à multiplicidade, a priori enigmática, das culturas, somos aos poucos levados a romper com a abordagem comum que opera sempre a naturalização do social (como se nossos comportamentos estivessem inscritos em nós desde o nascimento, e não fossem adquiridos no contato com a cultura na qual nascemos). A romper igualmente com o humanismo clássico que também consiste na identificação do sujeito com ele mesmo, e da cultura com a nossa cultura. De fato, a filosofia clássica (antológica com São Tomás, reflexiva com Descartes, criticista com Kant, histórica com Hegel), mesmo sendo filosofia social, bem como as grandes religiões, nunca se deram como objetivo o de pensar a diferença (e muito menos, de pensá-la cientificamente), e sim o de reduzi-la, frequentemente inclusive de uma forma igualitária e com as melhores intenções do mundo. (Laplantine, 2003, p. 63) A todo o momento reforçamos que somos diversidade e, portanto, nem melhor e nem pior que os outros, apenas e complexamente, diferentes. E o novo, o diferente, merece e deve ser respeitado. Se esse novo nos desafia é porque temos o que aprender com ele. Não podemos e não devemos achar que somos referência de valor para ninguém, pois a cultura, como já dissemos, é constituída pelo conjunto de hábitos, costume, práticas, saberes, normas, interditos, crenças, mitos, que é conservado e transmitido de geração em geração pelas diversas sociedades. Acesse o AVA e veja um slideshow sobre alteridade, etnocentrismo, xenofobia. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. Etnocentrismo A história nos ensinou que antigamente existiam dois tipos de sistemas culturais: os lógicos e os pré-lógicos. Esse tipo de pensamento reduzia o sistema cultural das sociedades simples, também chamadas de primitivas, a pré-cultura. No entanto, se essas sociedades possuíam como é comprovada uma forma de linguagem, de escrita, mitos, ritos religiosos e mortuários, desenvolveu técnicas de subsistência, de segurança, armamentos, isso lhe demonstra que há uma lógica, uma razão de ser em seu sistema social. E não podemos mais uma vez nos esquecer de que a cultura surge a partir das aptidões organizadoras e cognitivas1 dos seres humanos. Todo sistema cultural tem sua própria lógica. É etnocentrismo2 considerar lógico apenas o próprio sistema. Infelizmente ainda hoje, mesmo com toda a evolução do ser humano, convivemos com grupos, sociedades, nações que consideram sua etnia, língua, religião, costumes como superiores aos demais. E ver o mundo somente através de sua cultura, sem os óculos da diversidade, é uma forma perigosa e destrutiva, que tem provocado inúmeros conflitos sociais como o racismo, a xenofobia, a intolerância religiosa, o fundamentalismo3. Temos como exemplo os horrores que a ideologia ariana de Adolf Hitler provocou; a insistente presença dos Estados Unidos nos conflitos mundiais; a disputa pela herança da Terra Santa; entre tantos outros como a violência dos skinheads contra negros, nordestinos e homossexuais. Ou nossa incrível tendência de ainda hoje considerar a cultura rural como folclórica e a cultura urbana escolarizada. Conforme Blim (2007, p. 84), a dicotomia “nós e os outros” expressa essa tendência. Ela se expressa fora do grupo (o estrangeiro), mas também dentro do próprio grupo (laços familiares, torcidas de futebol, tribos urbanas, etc.). Portanto, o etnocentrismo resume-se nisto: "Os meus costumes, hábitos, valores estão certos. Os seus, não!". Assim, o risco é querer encaixar o outro no mesmo sistema ou eliminá-lo. Relativismo cultural O oposto do etnocentrismo é o relativismo cultural. Uma ideologia político- social que defende a validade e a riqueza de qualquer sistema cultural e nega qualquer valorização moral e ética deles. Segundo Geertz (2001), não crer em critérios universais seria ver-se acusado pelos antirrelativistas de descrer na existência de um mundo físico, de não ter qualquer posição política ou de ver em Hitler apenas um cara com gostos não convencionais. Os chamados antirrelativistas seriam partidários da ideia de que quem não concorda com uma opinião, automaticamente defende o ponto de vista contrário, ou seja, “se você não acredita no meu Deus, deve acreditar no meu demônio”. No entanto, Geertz argumenta que as acusações antirrelativistas são falsas e não procedem. O ser humano tem direito a um ponto de vista próprio sem que necessariamente tenha que se posicionar como contrário. O relativismo cultural teria sido na realidade muito utilizado pela antropologia no sentido do desenvolvimento de um esforço de compreensão do ponto de vista de diferentes culturas sem provocar choques, partindo da ideia de que cada ser humano chama de barbarismo o que lhe é estranho ou que não faz parte da sua própria prática. Xenofobia Como o próprio nome indica, a xenofobia é uma fobia, medo. Neste caso, consiste numa aversão a estrangeiros ou a estranhos, desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio a que pertencemos ou pelo que é incomum ou vem de fora do nosso país. Um exemplo atual de xenofobia é a cruzada que os norte-americanos iniciaram contra o mundo islâmico após o ataque de 11 de setembro. Eles disseminaram um verdadeiro horror a todo e qualquer cidadão islâmico, como se todos fossem terrorista. Tanto que os EUA foram acusados de disseminar a islamofobia4. Outro fato bastante divulgado é a dificuldade de se conseguir visto de entrada para os EUA e alguns países da Europa e, ainda que se consiga, a intimidaçãoque os estrangeiros passam nos aeroportos e o risco de ainda assim ficarem retidos, presos e serem deportados. Considerações finais Nesta aula percebemos o quão difícil e perigosa pode ser a convivência com o outro se não aprendermos a respeitar as diferenças. A humanidade apresenta vários exemplos tristes e reais de soberania de um povo, de um grupo contra o outro. Cabe a nós fazermos a nossa parte e disseminarmos uma cultura de paz, termos um olhar mais humano e solidário para com todos, inclusive com a natureza, que vem sofrendo com os nossos desatinos. Acesse o AVA e faça os exercícios propostos. Qualquer dúvida, procure o professor para esclarecê-la. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. Saiba mais Cognição1: é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. A palavra tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles. Etnocentrismo2: do grego etnos = povo; centrismo = centro: implica que tendemos a conceber a nossa visão de mundo como o centro de tudo e todos os outros são classificados e comparados em relação aos valores de nosso grupo, do nosso sistema cultural. Fundamentalismo3: é o termo usado para se referir à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca. O termo surgiu no começo do século XX nos EUA, quando protestantes determinaram que a fé cristã exigia acreditar em tudo que está escrito na bíblia. Mas o fundamentalismo só começou a preocupar o mundo em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã num estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente: mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto e festas, proibidas. Islamofobia4: o sentimento de ódio ou de repúdio em relação aos muçulmanos e ao islamismo em geral. Este tipo de aversão ao islamismo vem acontecendo principalmente nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e em Israel, graças aos atentados terroristas promovidos por organizações fundamentalistas islâmicas, tais como a Al-Qaeda, o Talibã, o Hezbollah, o Hamas, o Fatah al-Islam, as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa e a Jihad Islâmica Palestina. Este tipo de discriminação se agravou exponencialmente após os ataques de 11 de setembro de 2001, ocorridos nos Estados Unidos. Vale a pena conferir 1. Fahrenheit 9/11. Michel Moore (Estados Unidos, 2004). Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, esse polêmico documentário analisa as figuras do presidente norte-americano George W. Bush e suas ligações com a família do terrorista Osama Bin Laden. Entremeando discursos a fatos reais, desenha um perfil do presidente nada favorável: acusa-o de ter manipulado a eleição, de invadir o Iraque com interesse no petróleo e de ter manipulado o povo americano, exacerbando o medo coletivo ao terror. 2. Forall: o trampolim da vitória. Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz (Brasil, 1997). A história se passa em 1943, época em que os Estados Unidos construíram uma base militar, chamada Parnamirim, em Natal (RN), para defender a costa do Atlântico Sul contra os países do Eixo, na Segunda Guerra Mundial. O filme demonstra o contraste das culturas norte-americana e nordestina e o impacto da presença de 15 mil soldados na região. É possível ver a mudança de valores, dos desejos e das esperanças da população local, possibilitando a discussão sobre valores éticos e culturais. 3. Veja mais sobre fundamentalismo na revista Superinteressante – no 215 – julho de 2005. Disponível em: <http://super.abril.com.br/religiao/fundamentalismo- 445747.shtml>. Acesso em: 25 mar. 2013. REFERÊNCIAS BRIM, Robert et al. Sociologia: uma bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomsom Learning, 2007. CHAUÍ, Marilena. Unidade 8: O mundo da prática. Cap. 1: A cultura. In: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. GEERTZ, Clifford. Anti anti-relativismo – nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor,1986.
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