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Psicanálise
Freudiana
Este é o site de
Mecanismos de
Defesa
Ocupação
ROTEIRO
1-Introdução.
2-Sublimação.
3-Repressão.
4-A Racionalização.
5-A Projeção.
6-Deslocamento.
7-A Identificação.
8-A Regressão.
9-O Isolamento.
10-Formação Reativa.
11- A Substituição.
12-A Fantasia.
13-A Compensação.
14-Expiação.
15-Negação.
16-Introjeção.
17-Referências Bibliográficas.
1-INTRODUÇÃO.
São diferentes tipos de operações em que a defesa pode ser
especificada.Os mecanismos predominantes diferem
segundo o tipo de afecção considerado, a etapa genética, o
grau de elaboração do conflito defensivo, etc.
Não há divergências quanto ao fato de que os mecanismos
de defesa são utilizaos pelo ego, mas permanece aberta a
questão teórica de saber se a sua utilização pressupõe
sempre a existência de um ego organizado que seja o seu
suporte.
Foi este o nome que Freud adotou para apresentar os
diferentes tipos de manifestações que as defesas do Ego
podem apresentar, já que este não se defronta só com as
pressões e solicitações do Id e do Superego, pois aos dois
se juntam o mundo exterior e as lembranças do passado.
Quando o Ego está consciente das condições reinantes,
consegue ele sair-se bem das situações sendo lógico,
objetivo e racional, mas quando se desencadeiam situações
que possam vir a provocar sentimentos de culpa ou
ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando
a ansiedade-sinal (ou sinal de angústia), de forma
inconsciente, ativa uma série de mecanismos de defesa,
com o fim de proteger o Ego contra um dor psíquica
iminente.
Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais
eficientes do que outros. Há os que exigem menos
despêndio de energia para funcionar a contento. Outros há
que são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de
energia psíquica.
As defesas do ego podem dividir-se em :
a)Defesas bem sucedidas, que geram a cessação daquilo
que se rejeita
b)Defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação
do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos
imulsos rejeitados.
As defesas patogênicas, nas quais se radicam as neuroses,
pertencem à segunda categorias .Quando os impulsos
opostos não encontram descarga, mas permanecem
suspensos no inconsciente e ainda aumentam pelo
funcionamento continuado das suas fontes físicas, produz-se
estado de tensão, com possibilidade de irrupção.
Daí por que as defesas bem sucedidas, que de fato, menos
se entendem, têm menor importância na psicologia das
neuroses. Nem sempre, porém, se definem com nitidez as
frnteiras entre as duas categorias; há vezes em que não se
consegue distinguir entre “um impulso que foi transformado
pela influência do ego”e “um impulso que irrompe com
distorção, contra a vontade do ego e sem que este o
reconheça”.Este último tipo de impulso há de produzir
atitudes constrangedoras, há de repetir-se continuamente,
jamais permitirá relaxamento pleno gerará fadiga.
2-SUBLIMAÇÃO
É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em
que canaliza os impulsos libidinais para uma postura
socialmente útil e aceitável.
As defesas bem sucedidas podem colocar-se sob o título de
sublimação, expressão que não designa mecanismo
específico; vários mecanismos podem usar-se nas defesas
bem sucedidas; por exemplo, a transformação da
passividade em atividade; o rodeio em volta do assunto, a
inversão de certo objetivo no objetivo oposto. O fator
comum está em que, sob a influência do ego, a finalidade ou
o objeto (ou um e outro) se transforma sem bloquear a
descarga adequada. ( O fator de valoração que
habitualmente se inclui na definição de sublimação é melhor
omitir ). Deve-se diferenciar a sublimação das defesas que
usam contracatexias; os impulsos sublimados descarregam-
se, se bem que drenados por uma trilha artificial, enquanto
os outros não se descarregam.
Na sublimação, cessa o impulso original pelo fato de que a
respectiva energia é retirada em benefício da catexia do seu
substituto. Nas outras defesas, a libido do impulso original é
contida por uma contracatexia elevada.
As sublimações exigem uma torrente incontida de libido, tal
qual a roda de um moinho precisa de um fluxo d’água
desimpedido e canalizado. É por isto que as sublimações
aparecem após a remoção de certa repressão. Para usar
uma metáfora, as forças defensivas do ego não se opõem
frontalmente aos impulsos originais, conforme ocorre no
caso das contracatexias, mas incidem angularmente; daí
uma resultante em que se unificam a energia instintiva e a
energia defensiva, com liberdade para atuar. Distinguem-se
as sublimações das gratificações substitutivas neuróticas
pela sua dessexualização, ou seja, a gratificação do ego já
não é fundamentalmente instintiva.
Quais são os impulsos que experimentam vicissitudes desta
ordem e quais são as condições que determinam a
possibilidade ou a impossibilidade de sublimação ?
Se não forem rejeitados pelo desenvolvimento de uma
contracatexia (o que os excluirá do desenvolvimento ulterior
da personalidade), os impulsos prégenitais e as atitudes
agressivas concomitantes organizam-se, mais tarde sob a
primazia genital.A realização mais ou menos completa desta
organização é indispensável para que tenha êxito a
sublimação daquela parte da pré-genitalidade que não é
usada sexualmente no mecanismo do pré- prazer. É muito
pouco provável a existência de sublimação da sexualidade
genital adulta; os genitais constituem um aparelho que visa
à realização da descarga orgástica plena, isto é, não
sublimada. O objeto da sublimação são os desejos pré-
genitais.Se estes, porém, tiverem sido reprimidos e se
permanecem no inconsciente, competindo com a primazia
genital, não podem ser sublimados. A capacidade de
orgasmo genital é que possibilita a sublimação
(dessexualização) dos dejejos pré-genitais.
O que determina a possibilidade de o ego conseguir chegar
à solução feliz desta ordem não é fácil dizer. Caracteriza-se
a sublimação por:
a)Inibição do objetivo
b)Dessexualização
c)Absorção completa de um instinto nas respectivas eqüelas
d)Alteração dentro do ego; qualidades todas estas que
também se vêem nos resultados de umas tantas
identificações, qual seja, no processo de formação do
superego.
O fato empírico das sublimações, sobretudo as que se
originam na infância, dependerem da presença de modelos,
de incentivos que o ambiente forneça direta ou
indiretamente, corrobora a asserção de Freud no sentido de
que a sublimação talvez se relacione intimamente com a
identificação. Mais ainda : Os casos de transtorno da
capacidade de sublimar mostraram que esta incapacidade
corresponde a dificuldades na promoção de identificações.
Tal qual ocorre com certas identificações,também as
sublimações são capazes de opor-se e se desfazerem, com
êxito maior ou menor, certos impulsos destrutivos infantis;
mas também podem satisfazer, de maneira distorcida, estes
mesmos impulsos destrutivos; de algum modo, toda fixação
artística de um processo natural “mata”este processo. É
possível ver precursores das sublimações em certas
brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se
satisfazem por uma forma “dessexualizada” em seguida a
certa distorção da finalidade ou do objeto; e as
identificações também são decisivas neste tipo de
brincadeiras.
Varia muito a extensão da divisão do objetivo na
sublimação. Há casos em que a diversão se limita a inibição
do objetivo; a pessoa que haja feito a sublimação faz,
precisamente, aquilo que o seu instinto exige que faça, mas
isso depois que o instinto se dessexualize e se subordine à
organização do ego. Noutros tipos de sublimação, ocorrem
transformações de alcance muito maior. É até possível que
certa atividade de direção oposta ao instinto original
substitua, de fato, este último. Certas reações de nojo,
habituais entre as pessoas civilizades, sem vestígio das
tendências instintivas infantis contra as quais se
desenvolveram originalmente, incluem-senesta categoria.O
que ocorre, então, é idêntico ao que Freud chamou
transformação no contrário; uma vez completada, toda a
força de um instinto opera na direção contrária.
3-REPRESSÃO .
É a operação psíquica que pretende fazer desaparecer, da
consciência, impulsos ameaçadores, sentimentos, desejos,
ou seja, conteúdos desagradáveis, ou inoportunos.
Em sentido amplo, é uma operação psíquica que tende a
fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável
ou inoportuno: idéia, afeto, etc.Neste sentido, o recalque
seria uma modalidade especial de repressão.
Em sentido mais restrito, designa certas operações do
sentido amplo, diferentes do recalque:
a)Ou pelo caráter consciente da operação e pelo fato de o
conteúdo reprimido se tornar simplesmente pré-consciente e
não inconsciente;
b)Ou, no caso da repressão de um afeto, porque este não é
transposto para o inconsciente mas inibido, ou mesmo
suprimido.
4-A RACIONALIZAÇÃO.
É uma forma de substituir por boas razões uma determinada
conduta que exija explicações, de um modo geral, da parte
de quem a adota. Os Psicanalistas, em tom jocoso, dizem
que racionalização é uma mentira inconsciente que se põe
no lugar do que se reprimiu.
É um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma
explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do
ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma
idéia, um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não
percebe; fala-se mais especialmente da racionalização de
um sintoma, de uma compulsão defensiva, de uma
formação reativa. A racionalização intervém também no
delírio, resultando numa sistematização mais ou menos
acentuada.
A racionalização é um processo muito comum, que abrange
um extenso campo que vai desde o delírio ao pensamento
normal.Como qulquer comportamento pode admitir uma
explicação racional, muitas vezes é difícil decidir se esta é
falha ou não. Em especial no tratamento psicanalítico
encontraríamos todos os intermediários entre dois
extremos; em certos casos é fácil demonstrar ao paciente o
caráter artificial das motivações invocadas e incitá-lo assim
a não se contentar com elas; em outros, os motivos
racionais são particularmente sólidos (os analistas
conhecem as resistências que a “alegação da realidade”, por
exemplo, pode sisssimular), mas mesmo assim pode ser útil
colocá-los “entre parênteses” para descobrir as satisfações
ou as defesas inconscientes que a eles se juntam.
Como exemplo do primeiro caso encontraremos
racionalizações de sintomas, neuróticos ou perversos (
comportamento homossexual masculino explicado pela
superioridade intelectual e estética do homem, por exemplo)
ou compulsões defensivas (ritual alimentar explicado por
preocupações de higiene, por exemplo).
5-A PROJEÇÃO.
Manifesta-se quando o Ego não aceita reconhecer um
impulso inaceitável do Id e o atribui a outra pessoa.É o caso
do menino que gostaria de roubar frutas do vizinho sem
entretanto ter coragem para tanto, e diz que soube que um
menino, na mesma rua, esteve tentando pular o muro do
vizinho.
Termo utilizado num sentido muito geral em neurofisiologia
e em psicologia para designar a operação pela qual um fato
neurológico ou psicológico é deslocado e localizado no
exterior, quer passando do centro para a periferia, quer do
sujeito para o objeto.
No sentido propriamente psicanalítico, operação pela qual o
sujeito expulsa de si e localiza no outro- pessoa ou coisa-
qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos”que ele
desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de
origem muito arcaica, que vamos encontrar em ação
particularmente na paranóia, mas também em modos de
pensar “normais”, como a superstição.
6-DESLOCAMENTO.
É um processo psíquico através do qual o todo é
representado por uma parte ou vice-versa.Também pode
ser uma idéia representada por uma outra, que,
emocionalmente, esteja associada à ela. Esse mecanismo
não tem qualquer compromisso com a lógica. É o caso de
alguém que tendo tido uma experiência desagradável com
um policial, reaja desdenhosamente, em relação a todos os
policiais.
É muito corrente nos sonhos, onde uma coisa representa
outra. Também se manifesta na Transferência, fazendo com
que o indivíduo apresente sentimentos em relação a uma
pessoa que, na verdade, lhe representa uma outra do seu
passado.
Fato de a importância, o interesse, a intensidade de uma
representação ser suscetível de se destacar dela para passar
a outras representações originariamente pouco intensas,
ligadas à primeira por uma cadeia associativa.
Esse fenômeno, particularmente visível na análise do sonho,
encontra-se na formação dos sintomas psiconeuróticos e, de
um modo geral, em todas as formações do inconsciente.
A teoria psicanalítica do deslocamento apela para a hipótese
econômica de uma energia de investimento suscetível de se
desligar das representações e de deslizar por caminhos
associativos.
O “livre”deslocamento desta energia é uma das principais
características do modo como o processo primário rege o
funcionamento do sistema insconsciente.
7-A IDENTIFICAÇÃO.
É o processo psíquico por meio do qual um indivíduo
assimila um aspecto, um característica de outro, e se
transforma, total ou parcialmente, apresentando-se
conforme o modelo desse outro. A personalidade constitui-
se e diferencia-se por uma série de identificações.
Freud descreve como característico do trabalho do sonho o
processo que traduz a relação de semelhança, o “tudo como
se”, por uma substituição de uma imagem por outra ou
“identificação”.
A identificação não tem aqui valor cognitivo : é um processo
ativo que substitui uma identidade parcial ou uma
semelhança latente por uma identidade total.
8-A REGRESSÃO.
É o processo psíquico em que o Ego recua, fugindo de
situações conflitivas atuais, para um estágio anterior. É o
caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área
sexual, regrida, para obter satisfações, à fase oral,
passando a comer em excesso.
Considerada em sentido tópico, a regressão se dá, de
acordo com Freud, ao longo de uma sucessão de sistemas
psíquicos quea excitação percorre normalmente segundo
determinada direção.
No seu sentido temporal, a regressão supõe uma sucessão
genética e designa o retorno do sujeito a etapas
ultrapassadas do seu desenvolvimento (fases libidianis,
relações de objeto, identificações, etc.).
No sentido formal, a regressão designa a passagem a
modos de expressão e de comportamento de nível inferior
do ponto de vista da complexidade, da estruturação e da
diferenciação.
A regressão é uma noção de uso muito frequênte em
psicanálise e na psicologia contemporânea; é concebida, a
maioria das vezes, como um retorno a formas anteriores do
desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e
da estruturação do comportamento.
Freud é levado então a diferenciar o conceito de regressão,
como o demonstra esta passagem acrescentada em 1914
em três espécies de regressões:
a)Tópica, no sentido do esquema do aparelho psíquico.A
regressão tópica é particularmente manifestada no sonho,
onde ela prossegue até o fim.Encontra-se em outros
processos patológicos em que é menos global (alucinação)
ou mesmo em processos normais em que vai menos longe
(memória).
b)Temporal, em que são retomadas formações psíquicas
mais antigas.
c)Formal, quando os modos de expressão e de figuração
habituais são substituídos por modos primitivos. Estas três
formas de regressão, na sua base, são apenas uma, e na
maioria dos casos coincidem, porque o que é mais antigo no
tempo é igualmente primitivo na forma e, na tópica
psíquica, situa-se mais peto da extremidade perceptiva.
9-O ISOLAMENTO.
É um processo psíquico típico da neurose obsessiva, que
consiste em isolar um comportamento ou um pensamento
de tal maneira que as suas ligações com os outros
pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam
absolutamente interrompidas, já que foram ( os
pensamentos,os comportamentos), completamente
excluídos do consciente.
Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no
decurso do pensamento, fórmulas, rituais, e,de um modo
geral, todas as medidas que permitem estabelecer um hiato
na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.
Certos doentes defendem-se contra uma idéia, uma
impressão, uma ação, isolando-as do contexto por uma
pausa durante a qual “…nada mais tem direito a produzir-se,
nada é qualificada de mágica por Freud; aproxima-a do
processo normal de concentração no sujeito que procura
não deixar que o seu pensamento se afaste do seu objeto
atual.
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas
obsessivos; nós o vemos particularmente em ação no
tratamento, onde a diretriz da associação livre, por lhe se
oposta, coloca-o em evidência (sujeitos que separam
radicalmente a sua análise da sua vida, ou determinada
sequência de idéias do conjunto da sessão, ou determinada
representação do seu contexto ideoafetivo).
Freud reduz, em última análise, a tendência para o
isolamento a um modo arcaico de defesa contra a pulsão, a
interdição de tocar, uma vez que “… o contato corporal é a
finalidade imediata do investimento de objeto, quer o
agressivo quer o terno”.
Nesta perspectiva, o isolamento surge como “… uma
supressão da possibilidade de contato, um meio de subrair
uma coisa ao contato; do mesmo modo, quando o neurótico
isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá-nos
simbolicamente a entender que não permitirá que os
pensamentos que lhes dizem respeito entrem em contato
associativo com outros”.
Na realidade, pensamos que seria interessante reservar o
termo isolamento para designar um processo específico de
defesa que vai da compulsão a uma atitude sistemática e
concentrada, e que consiste numa ruptura das conexões
associativas de um pensamento ou de uma ação,
especialmente com o que os precede e os segue no tempo.
10-FORMAÇÃO REATIVA.
É um processo psíquico que se caracteriza pela adoção de
uma atitude de sentido oposto a um desejo que tenha sido
recalcado, constituindo-se, então, numa reação contra ele.
Uma definição: é o processo psíquico, por meio do qual um
impulso indesejável é mantido inconsciente, por conta de
uma forte adesão ao seu contrário.
Muitas atitudes neuróticas existem que são tentativas
evidentes de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de
defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes
tolhidas rígidas, que obstam a expressão de impulsos
contrários, os quais, no entanto, de vez em quando,
irrompem por diversos modos.
Nas peculiaridades desta ordem, a psicanálise, psicologia
“desmascaradora” que é, consegue provar que a atitude
oposta original ainda está presente no
inconsciente.Chamam-se formações reativas estas atitudes
opostas secundárias.
As formações reativas representam mecanismo de defesa
separado e independente? Dão mais impressão de constituir
consequencia e reafirmação de uma repressão estabelecida.
Quando menos, contudo, significam certo tipo de repressão
que é possível distinguir de outras repressões. Digamos: É
um tipo de repressão em que a contractexia é manifesta e
que, portanto, tem êxito no evitar de atos repressivos muito
repetidos de repetidos de repressão secundária. As
formações reativas evitam repressões secundárias pela
promoção de modificação definitiva, “uma vez por todas”,
da personalidade. O indivíduo que haja contituído formações
reativas não desenvolve certos mecanismos de defesa de
que se sirva ante a ameaça de perigo instintivo; modificou a
estrutura da sua personalidade, como se este perigo
estivesse sem cessar presente, de maneira que esteja
pronto sempre que ocorra.
11- A SUBSTITUIÇÃO.
Processo pelo qual um objeto valorizado emocionalmente,
mas que não pode ser possuído, é inconscientemente
substituído por outro, que geralmente se assemelha ao
proibido. É uma forma de deslocamento.
12-A FANTASIA.
É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma
situação em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou
desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito.
É um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e
que representa, de modo mais ou menos deformado pelos
processos defensivos, a realização de um desejo e, em
última análise, de um desejo inconsciente.
A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades:
a)Fantasias conscientes ou sonhos diurnos.
b)Fantasias inconscientes como as que a análise revela,
como estruturas subjacentes a um conteúdo manifesto.
c)Fantasias originárias.
13-A COMPENSAÇÃO.
É o processo psíquico em que o indivíduo se compensa por
alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por
meio de um outro aspecto que o caracterize, que ele, então,
passa a considerar como um trundo.
14-EXPIAÇÃO.
É o processo psíquico em que o indivíduo quer pagar pelo
seu erro imediatamente.
15-NEGAÇÃO.
A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga
quanto o próprio sentimento de dor. Nas crianças pequenas,
é muito comum a negação de realidades desagradáveis,
negação que realiza desejos e que simplesmente exprime a
efetividade do princípio do prazer.
A capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a
contrapartida da “realização alucinatória dos desejos”. Anna
Freud chamou este tipo de recusa do reconhecimento do
desprazer em geral “pré-estádios da defesa”.
16-INTROJEÇÃO.
Originalmente, a idéia de engolir um objeto exprime
afirmação; e como tal é o protótipo de satisfação instintiva,
e não de defesa contra os instintos. No estádio do ego
prazeroso purificado, tudo quanto agrada é introjetado. Em
última análise, todos os objetos sexuais derivam de
objetivos de incorporação. Do mesmo passo, a projeção é o
protótipo da recuperação daquela onipotência que foi
projetada para os adultos. Contudo, a incorporação, embora
exprima “amor”, destrói objetivamente os objetos como
tais, como coisas independentes do mundo exterior.
Precebendo este fato, o ego aprende a usar a introjeção
para fins hostis como executora de impulsos destrutivos e
também como modelo de um mecanismo definido de
defesa.
A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se
dirigem para um objeto. A identificação, realizada através
da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os
objetos.
SEGUNDA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO
(SEGUNDA TÓPICA).
ROTEIRO.
1-Introdução.
2- Id ou Isso.
2.1-Definição.
2.2- Histórico.
3- Ego ou Eu.
3.1- Definição.
3.2- Histórico.
3.3- Ideal do Ego (Eu).
4- Superego ou Supereu.
4.1- Definição.
4.2- Histórico.
5- Bibliografia.
1-INTRODUÇÃO.
A representação “tópica” exposta no capítulo VII de “A interpretação dos sonhos”
fixa a ordem de coexistência das diferentes regiões do aparelho psíquico, entre
cujas extremidades – sensível e motora – se desenrolam os processos.
No entanto, em nota introduzida numa edição posterior, Freud ressalta a
insuficiência do esquema anteriormente construído. “O desenvolvimento posterior
deste esquema desdobrado linearmente”, escreve ele então, “deverá levar em
conta esta suposição de que o sistema que sucede ao pré-consciente é aquele a
que devemos atribuir a consciência”.
A primeira tópica foi inspirada pela análise do sonho e da histeria, será sucedida,
após 1920, por uma segunda tópica, elaborada em resposta aos problemas da
psicose, que abrange o id, o ego, e o superego. Da primeira, Freud dizia que tinha
um valor descritivo, ao passo que na segunda reconhecemos um valor sistemático.
“Daremos o nome de inconsciente”, escrevia ele em 1900, “ao sistema situado mais
atrás; ele não poderia ter acesso à consciência, a não ser passando pelo pré-
consciente, e durante essa passagem o processo de excitação deverá se submeter
a certas modificações”.
Insatisfeito com o “modelo topográfico”, porquanto esse não conseguia explicar
muitos fenômenos psíquicos, em especial aqueles que emergiam na prática clínica,
Freud vinha gradativamente elaborando uma novaconcepção, até que, em 1920,
mais precisamente a partir do importante trabalho metapsicológico “Além do
princípio do prazer, ele estabeleceu de forma definitiva a sua clássica concepção do
aparelho psíquico, conhecido como modelo estrutural (ou dinâmico), tendo em vista
que a palavra “estrutura” significa um conjunto de elementos que separadamente
tem funções específicas, porém que são indissociados entre si, interagem
permanentemente e influenciam-se reciprocamente. Ou seja, diferentemente da
Primeira Tópica, que sugere uma passividade, a Segunda Tópica é eminentemente
ativa, dinâmica. Essa concepção estruturalista ficou cristalizada em “O ego e o id”
de 1923 e consiste em uma divisão tripartite da mente em três instâncias: o id, o
ego e o superego.
2- ID OU ISSO.
2.1- DEFINIÇÃO.
Este foi um termo introduzido por Georg Groddeck em 1923 e conceituado por
Sigmund Freud no mesmo ano, a partir do pronome alemão neutro da terceira
pessoa do singular (Es), para designar uma das três instâncias da segunda tópica
freudiana, ao lado do ego (eu) e do superego (supereu). O id (isso) é concebido
como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente.
Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do aparelho
psíquico. O id constitui o pólo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos,
expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e
inatos e, por outro, recalcados e adquiridos.
Do ponto de vista “econômico”, o id é, para Freud, o reservatório inicial da energia
psíquica. Do ponto de vista “dinâmico”, ele abriga e interage com as funções do ego
e com os objetos, tanto os da realidade exterior, como aqueles que, introjetados,
estão habitando o superego, com os quis quase sempre entra em conflito, porém,
não raramente, o id estabelece alguma forma de aliança e conluio com o superego.
Do ponto de vista “genérico”, são as suas diferenciações. Do ponto de vista
“funcional”, ele é regido pelo princípio do prazer; logo pelo processo primário.
Do ponto de vista “topográfico”, o inconsciente, como instância psíquica,
virtualmente coincide com o id, o qual é considerado o pólo psicobiológico da
personalidade, fundamentalmente constituído pelas pulsões.
2.2- HISTÓRICO.
O termo das Es [isso, aquilo] é introduzido em O ego e o id (Das Ich und das Es,
1923). Freud vai busca-lo em Georg Groddeck e cita o precedente de Nietzsche,
que designaria assim “... o que há de não pessoal e, por assim dizer, de necessário
por natureza do nosso ser”.
A introdução do conceito de id (isso) por Freud na teoria psicanalítica está
intrinsecamente ligada à grande reformulação dos anos de 1920-1923. Sabemos
que esta se caracterizou pela modificação da teoria das pulsões, pela elaboração de
uma nova psicologia do ego, que levava em conta suas funções inconscientes de
defesa e recalque, e pela definição de uma nova tópica, na qual o id veio a ocupar o
lugar que fora do inconsciente na tópica anterior.
Foi em seu ensaio “O ego e o id” que Freud introduziu o termo pela primeira vez,
insistindo na solidez de fundamento da acepção definida por Groddeck: a de uma
vivência passiva do indivíduo, confrontado com forças desconhecidas e impossíveis
de dominar.
A primeira tópica era uma descrição cômoda dos processos psíquicos. Permitia
distinguir entre o consciente e duas modalidades de inconsciente, o inconsciente
propriamente dito, cujos conteúdos só raramente (ou nunca) podiam ser
transformados em pensamentos conscientes, e o pré-consciente, feito de
pensamentos latentes, passíveis de se tornar ou de voltar a se tornar conscientes.
Aos poucos, a partir de 1915, ao preço de lenta maturação fundamentada na
experiência clínica, Freud chegou à conclusão de que grandes partes do ego e do
superego eram inconscientes. Daí em diante, tornou-se impossível afirmar a
existência de uma identidade entre o ego e o consciente, de um lado, e o recalcado
e o inconsciente, de outro. Assim, foi preciso revisar por completo a concepção das
relações consciente-inconsciente expressa pela primeira tópica. Daí a introdução do
termo id para designar o inconsciente, considerado um reservatório pulsional
desorganizado, assimilado a um verdadeiro caos, sede de “paixões indomadas”
que, sem a intervenção do eu, seria um joguete de suas aspirações pulsionais e
caminharia inelutavelmente para sua perdição.
Ao mesmo tempo, o ego perdeu sua autonomia pulsional, tornando-se o id a sede
da pulsão de vida e da pulsão de morte. Diversamente de sua abordagem descritiva
da primeira tópica, a abordagem dinâmica da segunda não instaurou nenhuma
separação radical entre as instâncias que a compunham: os limites do id deixaram
de ter a precisão dos que marcavem a separação entre o inconsciente e o sistema
consciente-pré-consciente, e o ego deixou de ser estritamente diferenciado do id no
qual o superego mergulha suas raízes.
No contexto da trigésima primeira das “Novas conferências introdutórias sobre
psicanálise”, que versava sobre “A decomposição da personalidade psíquica”, Freud
inaugurou uma reflexão sobre os respectivos futuros do ego e do id e sobre a
missão que, sob esse ponto de vista, cabia à psicanálise. Nesse contexto, enunciou
sua célebre frase “Wo Es war, soll Ich werden”, que daria margem a diversas
leituras, por sua vez articulada com as modalidades de interpretação da segunda
tópica. Uma primeira leitura, a da “Ego Psychology”, privilegiou o papel do eu,
considerado como tendo que dominar o isso ao término de uma análise bem
conduzida. Inversamente, Jacques Lacan forneceu da frase freudiana uma tradução
baseada em sua teoria da linguagem. Enfatizou a emergência dos desejos
inconscientes para os quais a análise deve abrir caminho, em oposição às defesas
do ego, posição esta que ele recapitulou em 1967 por meio de uma formulação que
se tornou famosa: “isso fala!”.
3- EGO OU EU.
3.1- DEFINIÇÃO.
É um termo empregado na filosofia e na psicologia para designar a pessoa humana
como consciente de si e objeto do pensamento. Retomado por Sigmund Freud, esse
termo designou, num primeiro momento, a sede da consciência. O ego (eu) foi
então delimitado num sistema chamado primeira tópica, que abrangia o consciente,
o pré-consciente e inconsciente.
A partir de 1920, o termo mudou de estatuto, sendo conceituado por Freud como
uma instância psíquica, no contexto de uma segunda tópica que abrangia outras
duas instâncias: o superego e o id. O ego tornou-se então, em grande parte,
inconsciente.
Essa segunda tópica (id, ego, superego) deu origem a três leituras divergentes da
doutrina freudiana: a primeira destaca um eu concebido como um pólo de defesa
ou de adaptação à realidade (Ego Psychology, annafreudismo); a segunda
mergulha o ego no id, divide-o num ego (eu) [moi] e num Ego (Eu) [je] –sujeito,
este determinado por um significante (lacanismo); e a terceira inclui o ego numa
fenomenologia do si mesmo ou da relação de objeto (Self Psychology, kleinismo).
Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com
as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da
realidade. Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da
totalidade da pessoa, a sua autonomia é apenas relativa.
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito
neurótico, o pólo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de
mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto desagradável
(sinal de angústia).
Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos
psíquicos; mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia
pulsional são contaminadas pelas características que especificam o processo
primário: assumem um aspecto compulsivo, repetitivo, desreal.
A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros
relativamente heterogêneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo,diferenciado
a partir do id em contato com a realidade exterior, quer definindo-o como o produto
de identificações que levam à formação no seio da pessoa de um objeto de amor
investido pelo id.
Relativamente à primeira teoria do aparelho psíquico, o ego é mais vasto do que o
sistema pré-consciente-consciente, na medida em que as suas operações
defensivas são em grande parte inconscientes.
Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo
exterior, ter-se-ia diferenciado. No id reina o princípio de prazer. Ora, o ser humano
é um animal social e, se quiser viver com seus congêneres, não pode se instalar
nessa espécie de nirvana, que é o princípio de prazer, ponto de menor tensão,
assim como lhe é impossível deixar que as pulsões se exprimam em estado puro.
De fato, o mundo exterior impõe à criança pequenas proibições que provocam o
recalcamento e a transformação das pulsões, na busca de uma satisfação
substitutiva que irá provocar no eu, por sua vez, um sentimento de desprazer. O
princípio de realidade substitui o princípio de prazer. O eu se apresenta como uma
espécie de tampão entre os conflitos e clivagens do aparelho psíquico, ao mesmo
tempo que tenta desempenhar o papel de uma espécie de pára-excitação, em face
das agressões do mundo exterior.
3.2- HISTÓRICO.
Na medida em que existem em Freud duas teorias tópicas do aparelho psíquico, a
primeira das quais faz intervir os sistemas inconscientes, pré-consciente, consciente
e a segunda as três instâncias id, ego e superego, é corrente em psicanálise admitir
que a noção de ego só se teria revestido de um sentido estritamente psicanalítico,
técnico, após aquilo a que se chamou a “virada” de 1920.
Freud utiliza a noção de ego desde os primeiros trabalhos e é interessante ver
destacarem-se dos textos do período de 1894-1900 certos temas e problemas que
se reencontrarão ulteriormente.
Foi a experiência clínica das neuroses que levou Freud a transformar radicalmente a
concepção tradicional do ego. A psicologia e, sobretudo a psicopatologia leva, por
volta dos anos 1880, pelos estudos das “alterações e desdobramentos da
personalidade”, dos “estatutos segundos”, etc., a desmantelar a noção de um ego
uno e permanente.
Henri F. Ellenberg dá mostras de excessiva severidade ao escrever, a propósito da
segunda tópica freudiana, que “o ego (eu) não passa de um antigo conceito
filosófico, vestido numa nova roupagem psicológica”. Sem dúvida, Freud foi tão
pouco inventor do termo “eu” quanto criador dos termos inconsciente e consciente.
A idéia do ego, muitas vezes sinônima da de consciência, de fato está presente nas
obras da maioria dos grandes filósofos, sobretudo os alemães, desde meados do
século XVIII. E, ante a constatação das experiências das experiências
mesmerianas, Wilhelm von Schelling (1775-1854) e Johann Gottlieb Fichte (1762-
1814) relativizaram a importância do eu em sua concepção do funcionamento
mental. Essas referências filosóficas constituem o pano de fundo contra o qual se
desenvolveram as primeiras etapas de uma psiquiatria dinâmica que procurava
desvincular-se das concepções organicistas do funcionamento do espírito humano.
Assim, podemos considerar que Wilhelm Griesinger (1817-1869), inspirador de
Theodor Meynert, foi um dos ancestrais de Freu. Nomeado diretor, em 1860, do
novíssimo hospital psiquiátrico de Zurique, o Burghölzli, Griesinger foi um dos
primeiros psiquiatras a afirmar que a maioria dos processos psicológicos decorria de
uma atividade inconsciente. Ele elaborou uma psicologia do eu cujas distorções são
tidas como resultantes do conflito que opõe esse eu a representações que ele não
consegue assimilar.
Meynert, cujas aulas Freud acompanhou em 1883, formulou, por sua vez, uma
concepção dual do ego, fazendo uma distinção entre o ego primário, parte
inconsciente da vida mental que tem sua origem na infância, e o ego secundário,
ligado à percepção consciente.
Encontramos a marca desse ensino na primeira grande elaboração teórica de Freud,
seu “Projeto para uma psicologia científica”. Desde esse momento, o ego se
inscreve na trama da análise do conflito psíquico. Assim, nessa primeira síntese
teórica, evocando o conflito entra a “atração provocada pelo desejo” e a tendência
ao recalcamento, cujo teatro é o sistema neuronal concernido nas excitações
endógenas, Freud discerne a existência de uma “instância” cuja presença entrava a
passagem das quantidades energéticas, quando esse fluxo é acompanhado de
sofrimento ou de satisfação. “Essa instância”, diz Freud, “chama-se o ego (eu)”.
Esse ego tem um modo duplo de funcionamento: esforça-se por se livrar dos
investimentos dos quais é objeto, procurando a satisfação, e tenta por meio do
processo que Freud denomina de inibição, evitar a repetição de experiências
dolorosas.
A reformulação que começou a se efetuar com a introdução do conceito de
narcisismo, em 1914, contribuiu para conferir ao ego um lugar de primeiro plano.
Em seguida aos trabalhos de Karl Abraham, o estudo das psicoses permitiu
estabelecer que o ego podia ser sede de um investimento libidinal, como qualquer
objeto externo. Surgiu assim uma libido do ego, oposta à libido objetal, com Freud
enunciando a hipótese de um movimento de balança entre as duas. A partir daí, o
eu deixou de ter apenas o papel de mediador perante a realidade externa, sendo
também objeto de amor e se tornando, em virtude da distinção entre narcisismo
primário – que se pressupõe a existência de uma libido no ego – e narcisismo
secundário, um reservatório de libido.
Depois de Freud, o ego, sua concepção e as funções de que ele é supostamente a
sede iriam constituir um desafio teórico e político a partir do qual se instituiria
correntes contraditórias nos movimento psicanalítico.
Assim se formaram duas correntes, destinadas a se tornar dominantes na
psicanálise norte-americana: o “annafreudismo” e a “Ego Psychology”, em torno de
Anna Freud, por um lado, e de “Heinz Hartmann”, por outro, para privilegiar o ego
e seus mecanismos de defesa, em detrimento do id, do inconsciente e do sujeito.
Dessa maneira, elas contribuíram para fazer da psicanálise uma terapia da
adaptação do eu à realidade.
Em reação a essa normalização, Heinz Kohut retomou o conceito de self (o si
mesmo), introduzido em 1950 por Hartmann, para assinalar uma distinção em
relação ao ego, e elaborou uma teoria do aparelho psíquico em que o self se tornou
uma instância particular, que permite explicar os ataques narcísicos.
Outras correntes, como o kleinismo e o lacanismo, adotam uma orientação
radicalmente oposta, na perspectiva de um “retorno ao inconsciente”, seguindo
caminhos que por outro lado, são bem distintos entre si.
Se Melanie Klein enfatiza a fase pré-edipiana do desenvolvimento psíquico,
consagrando sua atenção ao estudo das relações arcaicas mãe-filho e a seu
conteúdo pulsional negativo, o procedimento de Jacques Lacan volta-se desde logo
para a análise das condições de emergência de um sujeito do inconsciente,
apanhado, em sua origem, na armadilha do ego (eu), que é constitutivo do registro
do imaginário, este conclamado, desde 1953, a se tornar uma das instâncias da
tópica lacaniana, ao lado do real e do simbólico.
Para Lacan, o eu (ego) se distingue, como núcleo da instância imaginária, na fase
chamada de estádio do espelho. A criança se reconhece em sua própria imagem,
caucionada nesse movimento pela presença e pelo olhar do outro (a mãe ou um
substituto) que a identifica, que a reconhece simultaneamente nessa imagem.
Nesse instante, porém, o Eu (ego) [je] – sujeito - é como que captado por esse eu
(ego) [moi] imaginário: de fato, o sujeito, que não sabe o que é, acredita ser
aquele eu (ego) [moi] a quem vê no espelho. Trata-se de um engodo, é claro, já
que o discurso desse eu [moi] é um discurso consciente, que faz “semblante” de
ser o único discurso possível do indivíduo, enquanto existe, como que nas
entrelinhas, o discurso não controláveldo sujeito do inconsciente.
Consideradas essas bases, podemos compreender a interpretação lacaniana da
célebre frase de Freud nas “Novas conferências introdutórias sobre psicanálise”:
“Wo Es war, soll Ich werden”. Lacan traduz essa frase da seguinte maneira: “Ali
onde isso (id) era, eu (ego) devo advir”. Para ele, trata-se de mostrar que o ego
não pode surgir no lugar do id, mas que o sujeito (je) deve estar ali onde se
encontra o id, determinado por ele, pelo significante.
Segundo Lacan, pode-se acrescentar que a criança se banha em um mundo de
linguagem, que veicula as proibições e que é somente porque o ser humano é um
ser falante que se instaura o recalcamento e, por meio dele, a divisão do sujeito. A
barra que dessa forma vai toca-lo proíbe-lhe o acesso à verdade de seu desejo.
3.3- IDEAL DO EGO (EU).
Essa subestrutura (idealich no original alemão) está diretamente conectada com o
conceito, mas genérico, de superego. Resulta dos ideais do próprio ego ideal da
criança, os quais, altamente idealizados, são projetados nos pais, onde se somam
aos originais mandamentos provindos do ego ideal de cada um deles, de modo que
o ideal do ego pode ser considerado “um herdeiro direto do ego ideal”. Dessa
forma, o sujeito fica submetido às aspirações dos outros, em relação ao que ele
deve ser e ter. Daí resulta que seu estado mental prevalente é o de um
permanente sobressalto e o fácil acometimento do sentimento de vergonha,
quando não consegue corresponder às expectativas dos outros, que passam a ser
também suas.
Isso pode ser exemplificado, com uma afirmação que Freud faz em “Sobre o
narcisismo: uma introdução” em 1914, onde diz que o fanatismo, a hipnose ou o
estado amoroso representam três casos nos quais um objeto exterior,
respectivamente: o chefe, o hipnotizador e a pessoa amada vão ocupar o lugar do
ideal do ego no próprio ponto onde o sujeito projeta seu ego ideal.
4- SUPEREGO OU SUPEREU.
4.1- DEFINIÇÃO.
É uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da
sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou
de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-
observação, na formação de ideais, funções do superego.
Classicamente, o superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo;
constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais. Certos
psicanalistas recuam para mais cedo a formação do superego, vendo esta instância
em ação desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo menos procurando
comportamentos e mecanismos psicológicos muito precoces que seriam precursores
do superego (Glover, Spitz, por exemplo).
4.2- HISTÓRICO.
O termo Über-Ich foi introduzido por Freud em O ego e o id (Das Ich und das Es,
1923). Mostra a função crítica assim designada constitui uma instância que se
separou do ego e que parece dominá-lo, como demonstram os estados de luto
patológico ou de melancolia em que o sujeito se vê criticar e depreciar.
Em seu texto de 1924 sobre a economia do masoquismo, Freud declarou: “O
imperativo categórico de Kante é herdeiro direto do complexo de Édipo”. Seria
impossível situar melhor o conceito de superego, que apareceu em 1923, em “O
ego e o id”. Ele foi o produto de uma longa elaboração, iniciada em 1914 no artigo
“Sobre o narcisismo: uma introdução”. Freud construiu então a noção de ideal,
substituto do narcisismo infantil e que seria, supostamente, o instrumento de
medida utilizado pelo ego para observar a si mesmo.
Foi em 1933, na trigésima primeira conferência de introdução à psicanálise, que,
depois de haver apresentado a instância do superego (particularmente em “O mal-
estar na cultura”) como um censor, por delegação das instâncias sociais, junto ao
ego, Freud forneceu o quadro exaustivo da formação do superego e de suas
funções.
Essa formação é correlata do apagamento da estrutura edipiana. Num primeiro
tempo, o superego é representado pela autoridade parental que dá ritmo à
evolução infantil, alternando as provas de amor com as punições, geradoras de
angústia. Num segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as
proibições externas são internalizadas. Esse é o momento em que o superego vem
substituir a instância parental por intermédio de uma identificação. Se Freud
distinguiu bem o processo de identificação do processo de escolha do objeto, ele se
revelou insatisfeito, entretanto, com sua explicação, e manteve a idéia de uma
instituição do superego “como um caso bem-sucedido de identificação com a
instância parental”.
Na medida em que o supereu é concebido como herdeiro da instância parental e do
Édipo, como o “representante das exigências éticas do homem”, seu
desenvolvimento é distinto no menino e na menina. Enquanto, no menino, o
superego se reveste de um caráter rigoroso, às vezes feroz, que resulta da ameaça
de castração vivida durante o período edipiano, na menina o percurso é diferente: o
complexo de castração instala-se muito antes do Édipo. O supereu feminino, por
conseguinte, seria menos opressivo e menos implacável.
Freud sublinhou também que o superego não se constrói segundo o modelo dos
pais, mas segundo o que é constituído pelo superego deles. A transmissão dos
valores e das tradições perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos superegos,
de uma geração para outra. O superego é particularmente importante no exercício
das funções educativas. Quanto a esse aspecto, portanto, Freud censurou as
“chamadas concepções materialistas da história”, por ignorarem a dimensão do
superego, veículo da cultura em seus diversos aspectos, em prol de uma explicação
fundamentada unicamente na determinação econômica.
A concepção freudiana do supereu não obteve unanimidade entre os psicanalistas.
Em 1925, Sandor Ferenczi insistiu na internalização de certas proibições muito
antes da dissolução do Édipo, em particular aquelas que dizem respeito à educação
esfincteriana: “A identificação anal e uretral com os pais, que já apontamos antes,
parece constituir uma espécie de precursora fisiológica do Ideal do ego ou do
Superego no psiquismo da criança”.
Melanie Klein situou as “primeiras fases do superego” no momento das “primeiras
identificações da criança”, quando, muito pequena, ela “começa a introjetar seus
objetos”; o medo que ela sente em decorrência disso determina processos de
rejeição e projeção cuja interação parece ter “uma importância fundamental, não
somente para a formação do superego, mas também para relações com as pessoas
e a adaptação à realidade”.
Na obra de Jacques Lacan, o conceito de superego é objeto de múltiplas
elaborações, relacionadas com a teorização do par supereu/ideal do eu. Nessa
perspectiva, o supereu continua dominante, mas, diferentemente de Freud, Lacan o
concebe como a inscrição arcaica de uma imagem materna onipotente, que marca
o fracasso ou o limite do processo de simbolização. Nessas condições, o supereu
encarna a falha da função paterna e esta, por conseguinte, é situada do lado do
ideal do eu.
5-BIBLIOGRAFIA.
FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0
ROUDINESCO, ELISABETH - Dicionário de Psicanálise, Jorge Zahar Editor, RJ-1997.
LAPLANCHE E PONTALIS – Vocabulário da Psicanálise, Martins Fontes, SP-2000.
KAUFMANN, PIERRE – Primeiro Grande Dicionário Lacaniano, Jorge Zahar Editor,
RJ-1996.
ZIMERMAN, DAVID E. – Fundamentos Psicanalíticos, Artmed, RS-1999.
CHEMAMA, ROLAND - Dicionário de Psicanálise Larousse, Artes Médicas, RS-1995.
NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000
HANNS, LUIZ – Dicionário Comentado do Alemão de Freud, Imago, RJ-1996.
FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses, Atheneu, SP-2000
ZIMERMAN, DAVID E. – Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise, Artmed, RS-
2001.
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Resistência
Ocupação
ROTEIRO
1- Introdução.
2- Histórico e compreensão das resistências.
3- Tipos, fontes e identificação das resistências.4- Definição, conceitos e o manejo com a resistência.
5- Fragmentos da obra de Freud sobre resistência.
5.1- O processo de formação da resistência.
5.2- Resistência – Sintomas e repressão.
5.3- Resistência e anticatexia.
6- Uma visão kleiniana sobre resistência.
7- Um outro viés sobre resistência - de Freud a Lacan.
8- Bibliografia.
1-INTRODUÇÃO.
A resistência implica todas as forças dentro do paciente que se opõem
aos procedimentos e processos do trabalho psicanalítico. Em maior ou
menor grau, ela está presente desde o começo até o fim do
tratamento. As resistências defendem o “status quo” da neurose do
paciente. As resistências se opõem ao analista, ao trabalho analítico e
ao ego racional do paciente. A resistência é um conceito operacional,
não foi inventada recentemente pela análise. A situação analítica se
transforma na arena em que as resistências se acabam revelando.
As resistências são repetições de todas as operações defensivas
utilizadas pelo paciente em sua vida passada. Todas as variações de
fenômenos psíquicos podem ser utilizados objetivando a resistência,
mas, qualquer que seja sua fonte, a resistência age através do ego do
paciente. Embora alguns aspectos de uma resistência possam ser
conscientes, uma parte fundamental é realizada pelo ego
inconsciente.
A terapia psicanalítica se caracteriza pela análise sistemática e
completa das resistências. É trabalho do analista descobrir como o
paciente resiste, a que está ele resistindo e por que ele age assim. A
causa imediata de uma resistência é sempre evitar algum afeto
doloroso como a ansiedade, culpa ou vergonha. Por trás deste motivo
iremos encontrar um impulso instintual que disparou o afeto doloroso.
No final das contas, descobrir-se-á que é o medo de um estado
traumático que a resistência está tentando evitar.
Desde os primórdios da psicanálise, o fenômeno resistência tem sido
exaustivamente estudado em sua teoria e técnica, mas nem por isso,
na atualidade, perdeu em significação e relevância. Pelo contrário, ele
continua sendo considerado a pedra angular da prática analítica e,
cada vez mais, os autores prosseguem estudando-o sob renovados
vértices de abordagem e conceitualização.
Na qualidade de conceito clínico, a concepção de resistência surgiu
quando Freud discutiu as suas primeiras tentativas de fazer vir à tona
as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas. Isto data de
antes do desenvolvimento da técnica da associação livre, quando ele
ainda empregava a hipnose, e a sua recomendação técnica era no
sentido de insistência (por parte do psicanalista) como o contrário da
resistência (por parte do paciente).
Este método de coerção associativa empregada por Freud incluía uma
pressão de ordem física que ele próprio procedia e recomendava
como “colocando a mão na testa do paciente, ou lhe tomando a
cabeça entre minhas duas mãos” a fim de conseguir a recordação e
verbalização dos conflitos passados.
2-HISTÓRICO E COMPREENSÃO DAS RESISTÊNCIAS.
Freud empregou o termo resistência, pela primeira vez, ao se referir a
Elisabeth Von R. (1893), com a palavra original “widerstand”, sendo
que em alemão “wider” significa “contra”, como uma oposição ativa.
Até então a resistência era considerada exclusivamente como um
obstáculo à análise, correspondendo sua força à quantidade de
energia com que as idéias tinham sido reprimidas e expulsas de suas
associações.
Freud escreveu na conferência XIX - Resistência e Repressão, “A
resistência dos neuróticos à remoção de seus sintomas tornou-se a
base do ponto de vista dinâmico das neuroses. Inicialmente, Breuer e
eu empreendíamos a psicoterapia por meio da hipnose; a primeira
paciente de Breuer foi totalmente tratada sob influência hipnótica, e,
no início, eu o segui neste procedimento. Admito que, naquela época,
o trabalho avançava mais fácil e satisfatoriamente, e também em
muito menos tempo. Os resultados eram, porém, incertos e não
duradouros, e por essa razão finalmente abandonei a hipnose. E
então compreendi que não se tornaria possível a compreensão da
dinâmica destas doenças enquanto fosse empregada a hipnose. Este
estado era justamente capaz de subtrair à percepção do médico
[psicanalista] a existência da resistência. Ele fazia recuar a
resistência, tornando uma determinada área livre para o trabalho
analítico e represava-a nas fronteiras desta área sob uma tal forma,
que se tornava impenetrável, do mesmo modo como a dúvida age na
neurose obsessiva. Por esse motivo, tenho podido declarar que a
psicanálise propriamente dita começou quando dispensei o auxílio da
hipnose”.
O termo “resistência”, por longo tempo, foi empregado com uma
conotação de juízo pejorativo. A própria terminologia utilizada para
caracterizá-la, em épocas passadas (de certa forma, ainda persistindo
no presente), era impregnada de expressões típicas de ações
militares, como se o trabalho analítico fosse uma beligerância do
paciente contra o analista e vice-versa.
Em A interpretação dos sonhos (1900), os conceitos de resistência e
de censura estão intimamente relacionados: a “censura” é para os
sonhos aquilo que a “resistência” é para a associação livre. Neste
trabalho, em suas considerações sobre o esquecimento dos sonhos,
Freud deixou postulado que uma das regras da psicanálise é que tudo
o que interrompe o progresso do trabalho psicanalítico é uma
resistência.
Aos poucos, com a tática de ir da periferia em direção à profundidade,
Freud foi entendendo que o reprimido mais do que um corpo estranho
era algo como um “infiltrado”. Assim, ele começa a deixar claro que a
resistência não era dirigida somente à recordação das lembranças
penosas, mas também contra a percepção de impulsos inaceitáveis,
de natureza sexual, que surgem distorcidos. Com isso, Freud conclui
que o fenômeno resistencial não era algo que surgia de tempos em
tempos na análise, mas sim que ele está permanentemente presente.
Muitos outros autores, contemporâneos de/ou posteriores a ele,
trouxeram importantes contribuições ao estudo das resistências,
como são, entre tantos outros: Ferenczi (1918) apontou para o fato
de que a própria regra fundamental da livre associação de idéias
podia ser usada para fins resistenciais; Abraham (1919) descreveu
com maestria aspectos ainda vigentes das resistências crônicas de
natureza narcisística; W. Reich (1933) insistia no fato de que o
trabalho primordial do psicanalista, de início, deveria ser a remoção
da “couraça caracterológica” formada do tipo de resistência que ele
denominou “resistência de caráter”; J. Rivière (1936) fez um
importante estudo sobre as defesas maníacas na gênese da RTN,
como uma forma resistencial de negação das ansiedades depressivas;
Anna Freud (1936), seguindo os esboços do pai, foi a primeira a fazer
uma clara sistematização das defesas que o ego utiliza como
resistências, demonstrando que essas não são apenas obstáculos ao
tratamento, mas são também importantes fontes de informação sobre
as funções do ego em geral.
M.Klein, desde 1920, com os seus conhecidos estudos sobre o
psiquismo primitivo e a análise com crianças, propiciou uma
compreensão bastante mais clara acerca dos arcaicos recursos
defensivos que o ego utiliza como movimentos resistenciais;
Rosenfeld (1965) aprofundou o estudo das resistências em pacientes
de personalidade narcisística, não psicóticos, nos quais um “self
idealizado”, patológico e de gênese precoce obriga o indivíduo a um
boicote e a uma permanente resistência contra o aparecimento de
genuínas necessidades da parte infantil dependente; Bion, embora
não tenha produzido nenhum artigo explicitamente sobre resistências,
deixou um importante legado sobre este tema, notadamente pelo seu
enfoque da vincularidade analítica.
Lacan, que sempre pregou um “retorno a Freud”, tem extraído uma
significação especial para a compreensão de algumas formas de
resistência nas terapias psicanalíticas. Sua formulação básica fica
baseada no fatode que o desejo da criança (paciente) é o de ser
desejado pelo Outro (pais no passado; analista, no presente).
Em outras palavras, a criança, para garantir o amor dos pais, pode ter
aprendido, desde sempre, a adivinhar e a cumprir as expectativas
ideais dos mesmos; logo, o seu desejo confunde-se como sendo o
“desejo do outro”. A não ser assim, a criança de ontem – nosso
analisando de hoje – correria o grave risco de perder o amor do
superego e do objeto externo, sendo que isso acontece, sobrevém
uma reação do tipo de protesto, desesperança e retraimento, nos
mesmos moldes que as crianças, estudadas por Spitz (1945), que
tiveram abandonos prematuros. É evidente que a reprodução disso
tudo no campo analítico configura-se sob a forma de poderosas
resistências inconscientes, como, por exemplo, a de um estado
mental de desistência.
A evolução do conceito de resistência, na prática analítica, sofreu uma
profunda transformação, desde os tempos pioneiros em que ela era
considerada unicamente como um obstáculo de surgimento
inconveniente, até os dias de hoje, quando, embora se reconheça a
existência de resistências que obstruem totalmente o curso exitoso de
uma análise, na grande maioria das vezes o aparecimento das
resistências no processo analítico é muito bem-vindo, porquanto elas
representam, com fidelidade, a forma de como o indivíduo defende-se
e resiste no cotidiano de sua vida.
Assim, de modo genérico, a resistência no analisando é conceituada
como a resultante da forças dentro dele, que se opõem ao analista,
ou aos processos e procedimentos à análise, isto é, que obstaculizam
as funções de recordar, associar, elaborar, bem como o desejo de
mudar. Nessa perspectiva, continua vigente o postulado de Anna
Freud (1936) de que a análise das resistências não se distingue da
análise das defesas do ego, ou seja, da “permanente blindagem do
caráter”.
3- TIPOS, FONTES E IDENTIFICAÇÃO DAS RESISTÊNCIAS.
Freud descreveu os tipos e fontes das resistências da seguinte
maneira: “Não se deve supor que essas correções nos proporcionem
um levantamento completo de todas as espécies de resistência
encontradas na análise. A investigação ulterior do assunto revela que
o analista tem de combater nada menos que cinco espécies de
resistência, que emanam de três direções — o ego, o id e o superego.
O ego é a fonte de três, cada uma diferindo em sua natureza
dinâmica. A primeira dessas três resistências do ego é a resistência
da repressão. A seguir vem a resistência da transferência, que é da
mesma natureza, mas que tem efeitos diferentes e muito mais claros
na análise, visto que consegue estabelecer uma relação com a
situação analítica ou com o próprio analista, reanimando assim uma
repressão que deve somente ser relembrada. A terceira resistência,
embora também uma resistência do ego, é de natureza inteiramente
diferente. Ela advém do ganho proveniente da doença e se baseia
numa assimilação do sintoma no ego. Representa uma não disposição
de renunciar a qualquer satisfação ou alívio que tenha sido obtido. A
quarta variedade, que decorre do id, é a resistência que, necessita de
‘elaboração’. A quinta, proveniente do superego e a última a ser
descoberta, é também a mais obscura, embora nem sempre a menos
poderosa. Parece originar-se do sentimento de culpa ou da
necessidade de punição, opondo-se a todo movimento no sentido do
êxito, inclusive, portanto, à recuperação do próprio paciente pela
análise”.
Freud aprofundou bastante o estudo sobre resistências em “Inibição,
sintoma e ansiedade” (1926), quando, utilizando a hipótese
estrutural, descreveu cinco tipos e três fontes das mesmas. Os tipos
derivados da fonte do ego eram:
a) Resistência de repressão: consiste na repressão que o ego faz, de
toda percepção que cause algum sofrimento.
b) De transferência: a paciente manifesta uma resistência contra a
emergência de uma transferência “negativa”, ou “sexual”, com o seu
analista.
c) De ganho secundário: pelo fato de que a própria doença concede
um benefício a certos pacientes, como histéricos, personalidades
imaturas, e aqueles que estão pleiteando alguma forma de
aposentadoria por motivo de doença, essas resistências são muito
difíceis de abordar, eis que egossintônicas.
d) As resistências provindas do id: Freud as considerava como ligadas
à “compulsão à repetição” e que, juntamente com uma “adesividade
da libido”, promovem uma resistência contra mudanças.
e) A resistência oriunda do superego, a mais difícil de ser trabalhada,
segundo Freud, por causa dos sentimentos de culpa que exigem
punição.
No clássico “Análise Terminável e Interminável” (1937), Freud
introduz alguns novos postulados teórico - técnicos, e creio que se
pode dizer que aí ele formula um sexto tipo de resistência: a que é
provinda do ego contra o próprio ego: “em certos casos, o ego
considera a própria cura como um novo perigo”.
Neste mesmo trabalho de 1937, Freud aporta outras importantes
contribuições sobre resistências, como são as seguintes: o conceito da
Reação Terapêutica Negativa (RTN) como sendo aderido ao instinto
de morte; a valorização do papel da contratransferência, sendo que
ele aponta que a resistência do analisando pode ser causada pelos
“erros do analista”, a observação de que a resistência no homem se
deve ao medo dos desejos passivo-femininos em relação a outros
homens, enquanto a resistência das mulheres deve-se em grande
parte à “inveja do pênis”; e Freud também alude ao surgimento de
uma “resistência contra a revelação das resistências”.
A resistência se manifesta clinicamente muitas vezes de maneira
complexa ou sutil. Podemos identificar atitudes de resistência como,
por exemplo:
a) No paciente silencioso, de uma forma consciente ou inconsciente, o
paciente se nega a transmitir seus pensamentos, desta forma, atentar
para a comunicação não verbal.
b) O discurso intelectualizado é muito racional buscando um
isolamento em alguns casos para resistir a algum afeto.
c) Uma postura fixa, intranqüila, movimentos repentinos.
d) Se fixa num determinado assunto, num tempo, (passado ou
presente), em trivialidades, em assuntos externos, para evitar uma
introspecção. Evita determinados temas (sexuais, agressivos). Muitas
vezes, ao invés de usar sua verbalização para comunicar, usa para
confundir.
e) Mostra determinado ritual, como a rigidez no horário, traz
anotações, começa a sessão de uma mesma forma ou com assuntos
já decorados.
f) A maneira falar é muito técnico, racional, formal. Evita certas
palavras pelo seu sinônimo. Fala muito enfaticamente sobre algo. Fala
por subentendidos e enigmas, fazendo da análise um jogo de
adivinhação. Já outros transformam a sessão em polêmica, como se a
análise fosse um jogo de opiniões.
4- DEFINIÇÃO, CONCEITOS E O MANEJO COM A RESISTÊNCIA.
É toda e qualquer força interna do paciente que se opõe ao processo
terapêutico. É um reerguimento das defesas do paciente. As pessoas,
no desenvolvimento de seu Ego, frente às vicissitudes inerentes à sua
socialização e aprendizado de vida, constroem mecanismos de
defesas normais, para que suas pulsões possam se manifestar, porém
de uma maneira adequada, dentro de um padrão de ordem moral e
social. O complicador é quando estes mecanismos de defesas, devido
a traumas psicológicos excessivos (positivos ou negativos), são
construídos e atuados, de uma forma exacerbada, aos moldes de um
quimioterápico anticancerígeno que, em doses excessivas matam,
além das células cancerígenas, também as células normais, e
conseqüentemente a pessoa.
Podemos dizer que as forças resistenciais que se erguem no “setting”
analítico, são as mesmas forças dos mecanismos de defesas normais
e patológicas, que o indivíduo usa no seu cotidiano para manter sua
sobrevivência. As resistências são a manutenção do “status quo” que
com tanto sacrifício, o paciente montou, no transcorrer de seu
desenvolvimento. O principal motivo da resistência é a de evitar um
“sofrimento”,ou seja, de passar por tudo aquilo, pelo qual ele
mantém reprimido.
São forças internas, inconscientes ou conscientes, do analisando que
se opõe ao analista, ao processo, e aos procedimentos da análise,
obstaculizando a função de recordar, associar, elaborar, bem como o
desejo de mudar. Ao contrário, de ser um obstáculo indesejável, é
sempre bem vinda, porquanto representa a forma de como o
indivíduo defende-se e resiste, no cotidiano de sua vida, e
compreendendo o analista, a este “modus operandis” de se defender,
pode ele, demonstrar ao paciente como que ele construiu suas
defesas, “como que ele funciona”.
Quanto mais frágil o ego do paciente, mais forte o é para resistir. Em
pacientes mais regredidos, estes opõem sérias resistências às
mudanças, e desejam manter as coisas como elas estão, não porque
não desejam curar-se, mas é que não acreditam nas melhoras, ou
que as mereçam, ou porque correm o “sério risco” de voltar a sentir
as dolorosas experiências passadas, (traição, humilhação). “Seu
objetivo de vida é para sobreviver e não para viver”.
Por isso enquanto houver “re-sistência” (no sentido de re= voltar e
sistência= existir), a análise flui bem, porém quando a forma de
resistência é a de “de-sistência” (de ser), ou seja o indivíduo não tem
desejo para mais nada na vida, o único desejo seu, é o não ter desejo
(que podem representar os suicidas em potencial). Sempre haverá de
existir resistência do início ao fim da análise. Para se interpretar a
resistência, deve-se primeiro, demonstrá-la e esclarecê-las.
O paciente, segundo Bion, mantém com o analista, um “acordo
manifesto” e um “desacordo latente”. Aparentemente ele é assíduo,
colaborador, gentil, que concorda com o analista (aparentemente
aceitando as interpretações), porém no fundo, ele as desvitaliza,
achando-as não importantes, entra por um ouvido e sai pelo outro, e
de uma maneira sutil, sem demonstrar contradição vai impondo e
mantendo suas próprias opiniões, sem aceitar as do analista.
Muitas vezes conscientemente por vergonha ou medo de ser rejeitado
pelo analista, escondem algum assunto que acham, vão “desonrá-lo”
perante o analista, querem manter uma imagem positiva diante do
analista, e para fugir do assunto passam a falar sobre trivialidades.
Desta forma, muitas vezes o analista nota que o paciente tem algo
que não quer dizer, e que mantém por muito tempo, um segredo
consciente. O motivo pelo qual detectado, que o paciente está a
esconder algo, e de sempre apontar este fato, é que um determinado
segredo, funciona como um ímã, para outros segredos, recordações, e
impulsos, bloqueando o livre curso da análise.
Quando o paciente contar o “segredo”, sentirá um alívio e quando
perceber que a reação do analista, independente de qual tenha sido o
fato, foi de total naturalidade, passa a contar coisas que eram difíceis
de tocar. Logo, sempre devemos tratar o segredo confessado com
muito respeito, naturalidade e que merece ser tratado normalmente.
Depois de confessado ou analisamos como o paciente se sente ou
analisamos o conteúdo do segredo.
Os segredos geralmente têm conotação, vergonhosa e repugnante
(no modo de ver do paciente), relacionados com secreção, excreção
ou atividades sexuais, ou como já dito, de algo que o paciente ache
que vai desabonar sua imagem perante o analista.
A resistência pode ser consciente, pré-consciente ou inconsciente e
pode ser expressa por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos,
pensamentos, fantasias ou ações. A resistência em essência, uma
força opositora no paciente, agindo contra o progresso da análise,
contra o analista e contra os procedimentos e processos analíticos. Já
em 1912 Freud havia reconhecido a importância da resistência ao
afirmar: “A resistência acompanha o tratamento em todos os seus
passos. Toda e qualquer associação, todo o ato da pessoa em
tratamento deve contar com a resistência e ela representa um
compromisso entre as forças que estão lutando pela recuperação e as
forças opositoras”.
5-FRAGMENTOS DA OBRA DE FREUD SOBRE RESISTÊNCIA.
5.1- O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA RESISTÊNCIA.
A resistência do paciente apresenta-se sob muitíssimos tipos,
extremamente sutis e freqüentemente difíceis de detectar; e mostra
mutações cambiantes nas formas em que se manifesta.
No tratamento psicanalítico, fazemos uso da mesma técnica da
interpretação de sonhos. Instruímos o paciente para se colocar em
um estado de auto-observação tranqüila, irrefletida, e nos referir
quaisquer percepções internas que venha a ter — sentimentos,
pensamentos, lembranças — na ordem em que lhe ocorrem. Ao
mesmo tempo, advertimo-lo expressamente a não deixar que algum
motivo leve-o a fazer uma seleção entre essas associações ou a
excluir alguma dentre elas, seja porque é muito desagradável ou
muito indiscreta para ser dita, ou porque é muito banal ou
irrelevante, ou que é absurda e não necessita ser dita. Sempre
insistimos com o paciente para seguir apenas a superfície de sua
consciência e pôr de lado toda crítica sobre aquilo que encontrar,
qualquer que seja a forma que esta crítica possa assumir; e
asseguramos-lhe que o sucesso do tratamento e, sobretudo sua
duração, depende da conscienciosidade com que ele obedece a esta
regra técnica fundamental da análise.
Já sabemos, da técnica da interpretação de sonhos, que aquelas
associações que originam as dúvidas e objeções, são justamente as
que invariavelmente contêm o material que leva à descoberta do
inconsciente. A primeira coisa que conseguimos ao estabelecer a
regra técnica fundamental é que ela se transforma no alvo dos
ataques da resistência. O paciente procura, por todos os meios, livrar-
se das exigências desta regra. Num momento, declara que não lhe
ocorre nenhuma idéia; no momento seguinte, que tantos
pensamentos se acumulam dentro de si, que não pode apreender
nenhum.
Ora constatamos com desgostosa surpresa que o paciente cedeu
primeiro a uma e, depois a mais outra objeção crítica, revelada pelas
longas pausas que introduz em seus comentários. E logo depois,
admite que existe algo que de fato não pode dizer, pois tem vergonha
e permite que este motivo prevaleça sobre sua promessa. Ou diz que
lhe ocorreu algo, mas que isto se refere a outra pessoa, e não a ele
mesmo, e, em vista disso, não há por que referi-lo. Ou ainda, aquilo
que agora lhe acudiu à mente é realmente sem importância,
excessivamente tolo e sem sentido. E assim continua, com
inumeráveis variações e apenas se pode replicar que ‘dizer tudo’
realmente significa ‘dizer tudo’. Dificilmente haver-se-á de encontrar
um único paciente que não faça uma tentativa de reservar uma ou
outra região para si próprio, de modo a evitar que o tratamento tenha
acesso a ela.
É uma regular tempestade em copo d’água. No entanto, o paciente
está desejoso de argumentar; anseia fazer como que passemos a
instruí-lo, ministrar-lhe ensinamentos, contradizê-lo, iniciá-lo na
literatura, de modo que possa adquirir mais conhecimentos. Está
muito disposto a tornar-se um adepto da psicanálise — com a
condição de que a análise poupe a sua pessoa. Mas reconhecemos
esta curiosidade como sendo resistência, como manobra tendente a
nos desviar de nossas tarefas específicas, e repelimo-la.
No caso de um paciente obsessivo, haveremos de esperar táticas de
resistências especiais. Freqüentemente, permitirá que a análise
prossiga sem empecilhos em seu caminho, de modo que ela possa
esclarecer, cada vez melhor, o enigma de sua doença. Começamos a
nos admirar, por fim, de este aclaramento não se acompanhar de
nenhum efeito prático, nenhuma diminuição dos sintomas. Então
conseguimos perceber que a resistência se refugiou dentro da dúvida,
que é própria da neurose obsessiva.
É como se o paciente dissesse: ‘Sim, está tudo muito bem, muito
interessante, e terei muita satisfação em prosseguir ainda mais. Eu
mudaria um bocado minha doença, se tudo isto fosse verdade. Mas
não acredito, nem um pouco, que sejaverdade; e, na medida em que
não acredito, não faz qualquer diferença para minha doença.’ As
coisas podem continuar assim por longo tempo, até que finalmente a
pessoa enfrenta diretamente essa atitude de reserva, e então se fere
a batalha decisiva. As resistências intelectuais não são as piores:
sempre é possível superá-las.
O paciente também sabe, contudo, como erguer resistência sem sair
de esquema de referência da análise, e a superação desta situação
está entre os problemas técnicos mais difíceis. Em vez de recordar,
repete atitudes e impulsos emocionais o início de sua vida, que
podem ser utilizados como resistência contra o psicanalista e
tratamento, através do que se conhece como ‘transferência’. Se o
paciente é um homem, geralmente extrai este material de sua relação
com seu pai, em cujo lugar coloca o psicanalista, e dessa forma
constrói resistências que surgem a partir de seu esforço de se tornar
independente, em si próprio e em sua opinião, a partir de sua
ambição, cujo objetivo primeiro consistia em fazer as coisas tão bem
como seu pai, ou superá-lo; ou a partir de sua aversão a se endividar,
pela segunda vez na vida, com uma carga de gratidão. Assim, às
vezes, tem-se a impressão de que o paciente substitui inteiramente
sua melhor intenção de pôr um fim à sua doença, pela intenção
alternativa de negar que o psicanalista tenha razão, de fazer com que
este reconheça sua impotência e de triunfar sobre ele.
As mulheres têm um talento de mestre para explorar, na relação com
o psicanalista, uma transferência afetuosa, com nuances eróticas,
destinada à resistência. Se esta ligação atinge determinado nível,
desaparece todo o seu interesse pela situação imediata do tratamento
e todas as obrigações que assumiram no início; seu ciúme, que nunca
está ausente, e sua irritação ante a inevitável rejeição, embora
expressos respeitosamente, não podem deixar de ter como efeito um
dano na harmonia entre paciente e analista, e assim inativam uma
das mais poderosas forças motrizes da análise. Resistências deste tipo
não devem ser condenadas apressadamente. Incluem tanto material
importante do passado do paciente e trazem-no à lembrança de
forma tão convincente, que elas se tornam os melhores suportes da
análise, se uma técnica habilidosa soube dar-lhes o rumo apropriado.
Também se pode dizer que aquilo que se mobiliza para lutar contra as
modificações que nos esforçamos por efetivar, são traços de caráter,
atitudes do ego. Com referências a este aspecto, descobrimos que
esses traços de caráter foram formados em conexão com as causas
da neurose e como reação contra as exigências desta; e encontramos
traços que normalmente não conseguem emergir ou não podem
emergir no mesmo grau, e que poderia descrever como latentes. Na
verdade, chegamos a compreender, finalmente, que a superação
dessas resistências constitui a função essencial da análise e é a única
parte do nosso trabalho que nos dá a segurança de havermos
conseguido algo com o paciente.
Se refletirem também que o paciente transforma todos os eventos
casuais, ocorrentes durante a análise, em interferências no
tratamento; que ele utiliza, como motivos para afrouxar seus
esforços, todo acontecimento perturbador externo à análise, todo
comentário feito por uma pessoa ou autoridade, em seu ambiente,
hostil à psicanálise, toda doença orgânica eventual ou tudo aquilo que
complica sua neurose, e até mesmo, na verdade, toda melhora em
seu estado — se considerarem tudo isto, terão obtido uma imagem
aproximada, embora ainda incompleta, das formas e dos métodos da
resistência; e a luta contra esta resistência faz parte de toda análise.
Portanto, temos tido a possibilidade de nos convencer de que, em
ocasiões incontáveis no decurso de sua análise, a mesma pessoa
abandonará sua atitude crítica e depois a reassumirá. Se estivermos
na iminência de trazer-lhe à consciência uma parcela de material
inconsciente especialmente desagradável, a pessoa se torna
extremamente crítica; pode ter empreendido e aceito muitas coisas
previamente, agora, todavia, é simplesmente como se aquelas
aquisições tivessem sido anuladas; em seu esforço de se opor, a todo
custo, pode oferecer o quadro completo de um imbecil emocional. Se,
contudo, conseguimos ajudá-la a superar essa nova resistência, ela
recupera sua compreensão interna (insight) e entendimento. Sua
faculdade crítica não é, assim, uma função independente a ser
respeitada como tal, é o instrumento de suas atitudes emocionais e
orienta-se segundo sua resistência.
5.2- RESISTÊNCIA – SINTOMAS E REPRESSÃO.
O paciente luta contra a remoção de seus sintomas e o
estabelecimento de seus processos mentais? Dizemos a nós mesmos
que conseguimos descobrir, aqui, forças poderosas que se opõem a
qualquer modificação na condição do paciente; devem ser as mesmas
que, no passado, produziram esta condição. Durante a formação de
seus sintomas, algo deve ter-se passado, que agora podemos
reconstituir a partir de nossas experiências durante a resolução de
seus sintomas.
Através da observação de Breuer, que há uma precondição para a
existência de um sintoma: algum processo mental deve não ter sido
conduzido normalmente até seu objetivo normal — que era o objetivo
de poder tornar-se consciente. O sintoma é o substituto daquilo que
não aconteceu nesse ponto. Agora sabemos em que ponto deve
localizar a ação da força que presumimos. Uma violenta oposição
deve ter-se iniciado contra o acesso à consciência do processo mental
censurável, e, por este motivo, ele permaneceu inconsciente. Por
constituir algo inconsciente, teve o poder de construir um sintoma.
Esta mesma oposição, durante o tratamento psicanalítico, se insurge,
mais uma vez, contra nosso esforço de tornar consciente aquilo que é
inconsciente. É isto o que percebemos como resistência. Propusemos
dar ao processo patogênico, que é demonstrado pela resistência, o
nome de repressão.
Devemos, formar idéias mais definidas acerca do processo de
repressão. Esta é a precondição da formação dos sintomas; também
é, contudo, algo em relação ao qual não encontramos nada
semelhante. Tomemos como nosso modelo um impulso, um processo
mental que tenta transformar-se em ação. Sabemos que pode ser
repelido por aquilo que denominamos rejeição ou condenação.
Quando isto acontece, a energia à sua disposição é retirada dele; o
impulso torna-se impotente, ainda que possa persistir como
lembrança. Todo o processo de chegar a uma decisão referente ao
mesmo segue seu curso no âmbito do conhecimento do ego. Passa-se
algo muito diverso quando o mesmo impulso está sujeito à repressão.
Nesse caso, ele conservaria sua energia e dele não restaria nenhuma
recordação; além disso, o processo de repressão seria realizado sem
ser percebido pelo ego.
Se um processo permaneceu inconsciente, o fato de ser ele mantido
afastado da consciência talvez possa ser apenas uma indicação de
alguma vicissitude por que passou, e não a vicissitude mesma. A fim
de formar uma imagem dessa vicissitude, suponhamos que todo
processo mental — devemos admitir uma exceção que
mencionaremos numa fase posterior — exista, inicialmente, em um
estádio ou fase inconsciente, e que é somente dali que o processo se
transporta para a fase consciente, da mesma forma como uma
imagem fotográfica começa como negativo e só se torna fotografia
após haver-se transformado em positivo. Nem todo negativo
transforma-se, contudo, necessariamente em positivo; e não é
necessário que todo processo mental inconsciente venha a se tornar
consciente.
Para qualquer impulso, porém, a vicissitude da repressão consiste em
o guarda não lhe permitir passar do sistema do inconsciente para o do
pré-consciente. Trata-se do mesmo guarda que vimos a conhecer
como resistência, quando tentamos suprimir a repressão por meio do
tratamento analítico. O sintoma é um substituto de algo que foi
afastado pela repressão. Ao investigar a resistência, constatamos que
elaemana de forças do ego, de traços de caráter conhecido e latente.
São estes, pois, os responsáveis pela repressão, ou, pelo menos, têm
uma participação nela. Os sintomas podem ser adequadamente
visualizados, como satisfações substitutivas daquilo que se perde na
vida. Sem dúvida, pode-se ainda levantar toda classe de objeções à
asserção de que os sintomas neuróticos são substitutos de satisfações
sexuais.
Em psicanálise, os contrários não importam em contradição.
Poderíamos ampliar nossa tese e dizer que os sintomas objetivam ou
uma satisfação sexual ou o rechaço da mesma, e que, na totalidade,
o caráter positivo de realização de desejo prevalece na histeria e o
negativo, ascético, na neurose obsessiva. Se os sintomas podem
servir tanto à satisfação sexual como ao seu oposto.
5.3- RESISTÊNCIA E ANTICATEXIA.
Importante elemento da teoria da repressão é a opinião de que a
repressão não é um fato que ocorre uma vez, mas que exige um
dispêndio permanente de energia. Se esse dispêndio viesse a cessar,
o impulso reprimido, que está sendo alimentado todo o tempo a partir
de suas fontes, na ocasião seguinte fluiria pelos canais dos quais
havia sido expulso, e a repressão ou falharia em sua finalidade ou
teria de ser repetida um número indefinido de vezes. Assim, é porque
os instintos são contínuos em sua natureza que o ego tem de tornar
segura sua ação defensiva por um dispêndio permanente de energia.
Essa ação empreendida para proteger a repressão é observável no
tratamento analítico como resistência. A resistência pressupõe a
existência da anticatexia.
Uma anticatexia dessa espécie é claramente observada na neurose
obsessiva. Ela aparece ali sob a forma de uma alteração do ego, como
uma formação reativa no ego, e é efetuada pelo reforço da atitude
que é o oposto da tendência instintual que tem de ser reprimida —
como, por exemplo, na piedade, na consciência e no asseio. Essas
formações reativas de neurose obsessiva são essencialmente
exageros dos traços normais do caráter que se desenvolvem durante
o período de latência. A presença de uma anticatexia na histeria é
muito mais difícil de detectar, embora teoricamente seja igualmente
indispensável. Na histeria, também, uma quantidade de alteração do
ego através da formação reativa é inegável e em algumas
circunstâncias se torna tão acentuada que se força à nossa atenção
como o principal sintoma. O conflito devido à ambivalência, por
exemplo, é transformado em histeria por esse meio.
O ódio do paciente por uma pessoa a quem ele ama é mantido em
baixo nível por uma quantidade reduzida de ternura e apreensão da
parte dela. Mas a diferença entre as formações reativas na neurose
obsessiva e na histeria é que na segunda não têm a universidade de
um traço de caráter, mas estão confinadas a relações específicas.
Uma histérica, por exemplo, pode ser especialmente afetuosa com
seus próprios filhos, os quais no fundo ela odeia; mas por causa disso
ela não será mais amorosa, em geral, do que outras mulheres ou
mais afetuosa para com outras crianças. A formação reativa da
histeria apega-se tenazmente a um objeto específico e jamais se
difunde por uma disposição geral do ego, ao passo que o que é
característico da neurose obsessiva é precisamente uma difusão dessa
espécie — um afrouxamento de relações na escolha de objeto.
Há outra espécie de anticatexia, contudo, que parece mais adequada
ao caráter peculiar da histeria. Um impulso instintual reprimido pode
ser ativado (novamente catexizado) a partir de duas direções: de
dentro, através de reforço de suas fontes internas de excitação, e de
fora, através da percepção de um objeto que ele deseja. A anticatexia
histérica é principalmente dirigida para fora, contra percepções
perigosas. Assume a forma de uma espécie especial de vigilância que,
por meio de restrições do ego, causa situações a serem evitadas que
ocasionariam tais percepções, ou, se de fato ocorrerem consegue
afastar delas a atenção do paciente.
A resistência tem de ser superada na análise provém do ego, que se
apega a suas anticatexias. É difícil para o ego dirigir sua atenção para
percepções e idéias que ele então estabeleceu como norma evitar, ou
reconhecer como pertencendo a si próprio, impulsos que são o oposto
completo daqueles que ele conhece como seus próprios. Nossa luta
contra a resistência na análise baseia-se nesse ponto de vista dos
fatos. Se a resistência for ela mesma inconsciente, como tão amiúde,
acontece devido à sua ligação com o material reprimido, nós a
tornamos consciente. Se for consciente, ou quando se tiver tornado
consciente, apresentamos argumentos lógicos contra ela;
prometemos ao ego recompensas e vantagens se ele abandonar sua
resistência.
Não pode haver nenhuma dúvida ou erro sobre a existência dessa
resistência por parte do ego. Mas temos de perguntar a nós mesmos
se ela abrange todo o estado de coisas na análise, pois verificamos
que mesmo após o ego haver resolvido abandonar suas resistências
ele ainda tem dificuldades em desfazer as repressões; e
denominamos o período de ardoroso esforço que se segue, depois de
sua louvável decisão, de fase de ‘elaboração’. O fator dinâmico que
torna uma elaboração desse tipo necessária e abrangente não está
longe para se procurar. Pode ser que depois de a resistência do ego
ter sido removida, o poder da compulsão à repetição — a atração
exercida pelos protótipos inconscientes sobre o processo instintual
reprimido — ainda tenha de ser superado. Nada há a dizer contra
descrever esse fator como a resistência do inconsciente. Não há
qualquer necessidade de se ficar desestimulado por causa dessas
correções. Devem ser bem escolhidas se acrescentarem algo ao nosso
conhecimento, e não constituem vergonha alguma para nós, na
medida em que antes enriquecem do que invalidam nossos pontos de
vista anteriores — limitando algum enunciado, talvez, que era por
demais geral ou ampliando alguma idéia que foi muito estreitamente
formulada.
6- UMA VISÃO KLEINIANA SOBRE RESISTÊNCIA.
Klein descreveu a resistência na análise como sendo a manifestação
de uma transferência negativa. Em contraste, a psicanálise clássica
considerava a resistência como uma repressão da libido. Trata-se de
uma diferença decisiva, que dá origem a tipos de interpretação
radicalmente diferentes e expectativas de eficácia terapêutica
também radicalmente diferente. Na opinião de Klein, a resistência
apresentava-se como uma forma de evitar o relacionamento com ela
própria ou como uma forma de evitar os jogos com brinquedos:
“Minha experiência confirmou minha crença de que, se construo a
antipatia, imediatamente como ansiedade e sentimento transferencial
negativo e a interpreto como tal em conexão com o material que a
criança ao mesmo tempo produz, remontando-o depois de volta ao
seu objeto original, qual seja, a mãe, posso imediatamente observar
que a ansiedade diminui. Isto se manifesta pelo começo de uma
transferência mais positiva e, com esta, de um brincar mais vigoroso.
Pela resolução de alguma parte da transferência negativa, obteremos
então, tal como acontece com os adultos, um aumento da
transferência positiva e esta, de acordo com a ambivalência da
infância, será em breve, por sua vez, sucedida por uma reemergência
da negativa”. (Klein, 1927). Interpretações desse tipo eram “contra a
prática costumeira” (Klein – 1955) e ela entrou em disputa com Anna
Freud a respeito do manejo da resistência e da transferência
negativa.
Klein estudou as inibições no brincar com grandes detalhes e deu-se
conta do impacto enorme dos sentimentos agressivos no
desenvolvimento da simbolização e, portanto, na totalidade do
funcionamento intelectual. Klein demonstrou que o brincar era tão
simbólico quanto as palavras, ainda que envolvesse descarga
muscular. Dessa maneira, a fantasia não era necessariamente um
método de descarga alternativo à ação corporal, como Freud
contentara-se em deixá-la ser, mas concomitante profundamenteimportante, senão a mola mestra, da descarga física de energia. A
formação de símbolos é um recurso primário na expressão, tanto
interna quanto externa da atividade inconsciente da fantasia, em
qualquer momento determinado. A externalização destas fantasias no
brincar simbólico e na personificação é impulsada pela necessidade de
colocar a certa distância estados internos de perseguição. Klein
estava demonstrando, portanto, que os símbolos, como substitutos,
constituem uma estratégia defensiva, e que a análise do processo de
simbolização é uma análise das defesas.
Mediante sua compreensão da personificação dos objetos internos e,
eventualmente de partes do ego (identificação projetiva), percebeu
que estava lidando com o tipo de defensividade que é adotado pelos
psicóticos. A resistência psicótica é um ataque à capacidade que tem
a mente de pensar e conhecer (a pulsão epistemofílica), mencionado
por Bion (1959) como “ataques aos elos de ligação”. Na teoria da
esquizofrenia de Bion, ele descreveu os ataques ao próprio ego, que
representavam as experiências que Klein (1946) encarava com sendo
os efeitos da pulsão de morte agindo dentro –a sensação de estar-se
despedaçando. Bion descreveu particularmente um ataque à
percepção da realidade interna.
A resistência, igualada à transferência negativa, representava uma
manifestação clínica da pulsão de morte. Freud pouco depois da
Primeira Guerra Mundial (1920) admitiu a existência da agressão. O
conceito veio a mais ou menos se fundir com o de reação terapêutica
negativa. A presunção geral tem sido de que, por correta que tenha
sido a interpretação que provocou uma reação negativa no paciente,
tem de haver uma “mais correta”, que entenderia esta reação
negativa. Klein foi das primeiras entre os que consideraram a
agressão como sendo pulsional. Entretanto, por enfatizar as fantasias
inconscientes, apoiava a visão de Freud de que as pulsões nos seres
humanos são extraordinariamente maleáveis. Klein achava que a
inevitabilidade da agressão em si não era otimista nem pessimista;
cada indivíduo se empenha em sua própria luta pessoal contra seus
próprios impulsos agressivos.
Freud deu-se conta, para sua consternação, que havia alguns
pacientes que reagiam mal às interpretações analíticas: ficavam
piores com interpretações boas, antes que melhores. Ele ficou
afrontado pelo hábito do “Homem dos Lobos” de produzir “reações
negativas” transitórias; todas as vezes que algo havia sido
conclusivamente esclarecido, ele tentava contradizer o efeito.(Freud-
1917). Várias tentativas foram feitas para compreender a reação:
a) Culpa: Freud atribuiu-a à culpa, especialmente à culpa
inconsciente, que leva a uma necessidade de punição; o paciente
alcança esse castigo sob a forma de padecer de má saúde.
b) Pulsão de morte: Em 1924, Freud especulou sobre o papel da
pulsão de morte na reação terapêutica negativa.
c) Posição depressiva: Riviere (1936) tirou algumas conclusões à luz
da posição depressiva de Klein, as quais mostravam a importância
das relações objetais envolvidas na culpa inconsciente: um medo de
ser responsável pelo dano ou pela morte do objeto bom,
especialmente do objeto bom internalizado. Apontou ela que se
interpretar a um paciente culpado o que se acha errado com ele, isso
o fará sentir-se mais culpado ainda, por estar dessa maneira errado.
Advogou ela o equilíbrio entre interpretações das partes más do sel e
interpretações das partes boas, ponto de vista endossado por
Rosenfeld (1987).
d) Inveja: No mesmo ano (1936), Horney argumentou que a reação
terapêutica negativa resultava da inveja do analista, isto é, de um
desejo de estragar o trabalho deste último. Sob muitos aspectos, isto
remonta a um breve artigo da autoria de Abraham (1919), a respeito
de pacientes que não podem suportar o trabalho bem-sucedido do
analista.
7- UM OUTRO VIÉS SOBRE RESISTÊNCIA - DE FREUD A LACAN.
Freud escreveu que “A constituição psíquica de um homem que reflete
é muito diferente daquela de um homem que observa suas próprias
reflexões. Há concentração nos dois casos, mas na reflexão há algo
mais: uma crítica. Essa crítica faz eliminar uma parte das idéias
surgidas após apercepção. Ela interrompe outras no meio do caminho,
impede a passagem; outras, enfim, não chegam nem mesmo a
ultrapassar o limite da consciência; elas são recalcadas antes da
percepção”. A atitude crítica aparece assim na análise, como uma
barreira; ela cessa então, por conseguinte, quando ela for analisada
como uma resistência.
Se for verdade que o conceito de resistência à análise não pode se
unificar, por razões não acidentais ou não contingentes, então o
conceito de análise e de análise psicanalítica, o conceito mesmo de a
psicanálise terá conhecido o mesmo destino. Só podendo ser
determinada, pode-se dizer, na adversidade e com relação àquilo que
lhe resiste, a psicanálise não se reunirá nunca na unidade de um
conceito ou de uma tarefa. Se não há uma resistência, não há a
psicanálise - que se a entenda aqui como um sistema de normas
teóricas ou como estatuto das práticas institucionais.
Toda resistência supõe uma tensão, e primeiramente uma tensão
interna. Mas uma tensão puramente interna sendo impossível trata-se
de uma inerência absoluta do outro ou de fora do coração da tensão
interna e auto-afetiva. O double bind é [...] o que não dá lugar,
enquanto tal, nem à análise nem à síntese, nem à analítica nem à
dialética. Ele provoca ao infinito a analítica e a dialética, mas é para
lhes resistir absolutamente.
Na segunda necessidade devemos, segundo ele, pensar essa
resistência como restância [restance] do resto, isto é, de maneira não
simplesmente ontológica (nem analítica, nem dialética), pois a
restância [restance] do resto não é psicanalítica.
A personalidade analisada não é somente o lugar de um segredo, - o
segredo do inconsciente; ela é agora percebida como um conjunto
que visa a defender o acesso a esse segredo. Esta defesa, isto é, o
recalque e sua tradução, a resistência, é um novo segredo. É um
mecanismo inconsciente. - A regra fundamental da psicanálise
encontra na teoria da resistência seu complemento indispensável e
sua verdadeira justificativa. Ao mesmo tempo, a regra fundamental
torna-se o instrumento analisador não mais somente de uma
investigação clínica, mas ainda de uma dinâmica que se dispõe a
tratar o indivíduo, desta vez, não mais somente descobrindo o
segredo de sua doença, mas atacando o centro dinâmico de seus
conflitos.
Lacan dedica a primeira parte de seu seminário 1, Os Escritos
Técnicos de Freud, para discutir a questão das resistências. Lacan diz
que não pode haver uma "two-body's psychology", ou seja, uma
relação analítica sem a intervenção de um terceiro elemento. Esse
terceiro elemento é a fala, a linguagem. Sabemos que um analista
pode fazer uma interpretação corretíssima e não obter nenhuma
resposta se fez esta comunicação num momento inoportuno. Freud
percebe, desde o momento em que abandona a hipnose, que alguma
coisa no paciente resistia a essa reintegração do passado.
É importante, no entanto, compreender que esta reintegração não
tem o sentido de revivência ou rememoração. Reintegrar é tomar de
volta aquilo que se dispersou. É fazer voltar ao todo as partes que se
desligaram. Esse retorno dos elementos inconscientes ao todo da
consciência não se opera por simples rememoração. Além disso, em
textos iniciais de Freud aparece a idéia de que a análise irá "tornar
consciente o que é inconsciente", idéia que não se sustenta
posteriormente, quando o inconsciente ganha o estatuto de sistema
psíquico, fazendo parte, portanto, de nossa estrutura.
Lacan também relê os Estudos sobre a Histeria, primeiro trabalho de
Freud que tenta dar conta de uma clínica. Neste texto, Lacan encontra
a noção de que a resistência provém do núcleo do recalcado. Haveria
uma força de repulsão que se exerce a partir do núcleo do recalcado.
Quanto mais nos aproximamosdeste núcleo, maior a resistência.
Este pensamento faz parte de uma idéia inicial de Freud, que supunha
que o inconsciente resiste. No entanto, posteriormente, ele afirma
que o inconsciente insiste, na tentativa de se fazer consciente. A
resistência provém de outro lugar que, embora não pertença ao
sistema inconsciente, também pode ser definido enquanto tal, pois é
a parte inconsciente do eu.
Ao discutirmos a questão da resistência, aparece também a dúvida
sobre o que seria a contratransferência, tema controvertido da
psicanálise. Lacan acaba por defini-la como "a função do ego do
analista (...) a soma dos preconceitos do analista”. Ao discutir mais
longamente sobre a técnica, e também ao elaborar sua teoria dos
quatro discursos (seminário 17), Lacan vai definir a posição do
analista como sendo a de objeto. Ali, durante a situação analítica, o
analista não é nem sujeito, nem eu, é objeto. Contratransferência
seria colocar o eu nessa relação, com seus preconceitos e com sua
demanda de amor. Por causa disso, não podemos falar que a análise
é uma relação de eu a eu (ego a ego), até porque estão presente ali
sujeito e objeto, e também a linguagem.
Freud nos diz que quando o paciente se cala é, provavelmente,
porque lhe ocorre algum pensamento que tem a ver com o analista.
Lacan nos aconselha a não fazer perguntas do tipo: você tem alguma
idéia que tem a ver comigo? Isto direciona a atenção do paciente e
impede o surgimento de algo mais puro. Lacan diz que, neste
momento, o paciente pode, de repente, "realizar a presença do
analista". É um fenômeno em que o paciente, de repente, percebe
que existe ali um outro que o escuta.
Lacan acentua o fato de que não podemos colocar a resistência
apenas como uma das defesas psíquicas. Ela é, acima de tudo, um
fenômeno localizado na experiência analítica. No movimento de
revelação do sujeito, aparece a resistência. Se esta resistência for
muito forte, surge a transferência. Portanto, a transferência na
análise exerce uma função específica. Ela faz com que o inconsciente
do paciente se atualize na pessoa do analista. Ao reportar suas
associações mais recalcadas à pessoa do analista, o paciente está
atualizando o seu inconsciente.
Lacan diz que a palavra recalcada é uma "palavra verídica". É a
palavra como revelação. "A resistência se produz no momento em que
a palavra como revelação não se diz e o sujeito não tem mais saída”.
Lacan conclui falando sobre a paradoxal posição do analista, que deve
intervir no discurso do sujeito, enunciando ele uma palavra plena ou
uma palavra vazia. No caso da palavra vazia, é preciso tentar extrair
dela o que há de verídico. No entanto, quando a palavra verídica
surge, não é mais do que por um momento. O eu (que é gestaltista,
pois se constitui a partir de uma imagem, de uma boa forma), vai
tentar tapar este buraco de abertura para o inconsciente, restaurando
sua forma anterior. É preciso que o analista aponte esta palavra
verdadeira para que o analisando possa continuar elaborando aquilo
que surgiu.
São duas funções da palavra que aparecem na análise e que se
contrapõem, a palavra vazia que tem sua função de comunicação
entre o eu e o outro e a palavra verídica, que é a fala do sujeito. O
eu, em sua relação com o outro, é portador desta palavra vazia sendo
que, na análise, sua função é a do desconhecimento. Não há
possibilidade de êxito quando se comunica ao eu do paciente aquilo
que ainda está sob forte resistência. O único caminho possível é
seguir pelas trilhas das associações, para que o sujeito possa se
manifestar.
8-BIBLIOGRAFIA.
FREUD, SIGMUND, Obras Psicológicas Completas versão 2.0.
Conferência XIX – Resistência e Repressão - Volume XVI.
Resistência e Anticatexia – Volume XX.
HINSHELWOOD, R. D., Dicionário do Pensamento Kleiniano. Artes
Médicas. Porto Alegre. 1992.
CARVALHO, UYRATAN . Psicanálise I,II e III . Isbn.RJ.2000.
GREENSON,R.R., A Técnica e a Prática da Psicanálise. Imago.RJ.
1981.
LAPLANCHE & PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise (2000), Martins
Fontes SP.
HENRY EY. Manual de Psiquiatria.5º Edição. Masson /Atheneu
EY, HENRY, Manual de Psiquiatria, Atheneu, 5 edição.
BRITANNICA, ENCYCLOPAEDIA DO BRASIL Publicações Ltda.
ENCARTA, ENCICLOPÉDIA - 1993-1999 Microsoft Corporation.
NUNES, PORTELLA, Psiquiatria e Saúde Mental, Atheneu, SP-2000.
FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses, Atheneu, SP-
2000.
SOUZA, JOSÉLIO GOMES. Medicina Psicossomática, Isbn, RJ-2000.
KAUFMANN, PIERRE – Primeiro Grande Dicionário Lacaniano, Jorge
Zahar Editor, RJ-1996.
ZIMERMAN, DAVID E., Fundamentos Psicanalíticos, Teoria, técnica e
clínica, Artmed, SP-1999.
INTERNET - http://www.terravista.pt/FerNoronha/4928/artigo5.html
(Psi. Aline de Alvarenga Coelho).
Este é o site de Interpretação dos Sonhos
Ocupação
ROTEIRO.
1-Introdução.
2- Uma breve cronologia da época de Freud.
3- Fragmentos da Pré-história dos sonhos.
4- Fragmentos da Teoria de Interpretação dos Sonhos.
5- Sonhos transcritos de um livro com a interpretação dada. Retirados do livro
Interpretação dos Sonhos - Freud.
5.1- Relato de Freud de um sonho de um adulto.
5.2- Relato de Freud de um sonho de uma criança.
5.3- Relato de Freud de um sonho de uma senhora.
6- Relato de um sonho com a interpretação dada, acrescentando minha
interpretação.
6.1-O segundo sonho de Dora (Freud, Obras Psicológicas Completas - Volume
VII).
6.2-Complemento da interpretação de Freud realizado baseado na discussão do
caso.
7-Apresente um sonho de um paciente ou de uma pessoa conhecida dando uma
interpretação.
8-Apresente um sonho seu com a devida interpretação.
8.1- Um sonho que eu tive com a minha interpretação.
9-O significado simbólico dos sonhos e as origens dos nomes.
9.1-O significado simbólico dos sonhos.
9.2- Origens dos nomes.
10-Bibliografia.
1-INTRODUÇÃO.
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua
obra-prima A Interpretação dos Sonhos (Die Traumdeutung) . O livro levou dois
anos (1898 e 1899) para ser escrito e nele Freud edificou os principais
fundamentos da teoria psicanalítica , constituindo como o ponto de apoio para
todo o desenvolvimento posterior da sua obra.. Para Freud, a essência do sonho
é a realização de um desejo infantil reprimido. E foi a partir desse princípio que
ele elaborou as bases do método psicanalítico.
Antes de Freud, os sonhos eram considerados apenas símbolos, analisados como
se fossem premonições ou manifestações divinas. Freud , por meio da análise
dos sonhos, mostrou a existência do inconsciente e transformou algo tido pela
ciência como o lixo do pensamento, no caso os sonhos, em um instrumento
revelador da personalidade humana. Os sonhos mostram uma clara preferência
pelas impressões dos dias imediatamente anteriores. Têm à sua disposição as
impressões mais primitivas da nossa infância e até fazem surgir detalhes desse
período de nossa vida que, mais uma vez, parecem-nos triviais e que, em nosso
estado de vigília, acreditamos terem caído no esquecimento há muito tempo.
Para que um sonho seja interpretado é necessário que não tentemos entendê-lo
de uma só vez, na sua totalidade, pois devido a ser formado no inconsciente só
existe afetos e fragmentos da realidade, logo muito confuso no primeiro
momento. Devemos dividi-lo em partes de acordo com o contexto do paciente e
vamos decifrando-o lentamente sem adotar um critério cartesiano, pois o
mesmo fragmento de um conteúdo pode ocultar um sentido diferente quando
ocorre em várias pessoas ou em situações diferentes.
O sonho é justamente o fenômeno da vida psíquica normal em que os processos
inconscientes da mente são revelados de forma bastante clara e acessível ao
estudo. Na concepção freudiana, o sonho é um produto da atividade do
Inconsciente e que tem sempre um sentido intencional, a saber: a realização ou
a tentativa de realização - mais ou menos dissimulada, de uma tendência
reprimida. Assim, os sonhos revelama verdadeira natureza do homem, embora
não toda a sua natureza, e constituem um meio de tornar o interior oculto da
mente acessível a nosso conhecimento.
O sonho e as histéricas iniciam a psicanálise, dão-lhe, com Freud, o sopro inicial.
Na Teoria dos Campos, é claro, também se pensa o sonho. Despertos, nossos
atos, idéias, sentimentos arranjam-se segundo as linhas de força que, ao
dormir, emergirão como um episódio onírico. Nossa identidade, com seus “Eus”
em diálogo ou disputa, é composta de enredos que melhor se apreciam nos
sonhos. As personagens de tais enredos povoam também nossa realidade,
esgueirando-se entre os objetos do dia a dia, encarnando-se num amigo, numa
pessoa que nos desperta a paixão, em nós mesmos. Sonho após sonho se fazem
presentes; até que um desses nos permita interpretar seu sentido e despertar
do sonho em que estávamos imersos.
O sonho pode deixar-nos tocar a rosa que vemos — e, ainda assim, estaremos
sonhando. Existe um critério para determinar se estamos sonhando ou
acordados, e esse é o critério puramente empírico do fato de acordarmos. Tudo
o que experimentamos entre adormecer e acordar é ilusório quando, ao
despertar, verificamos que estamos deitados na cama. Durante o sono,
tomamos as imagens oníricas por imagens reais graças ao nosso hábito mental
(que não pode ser adormecido) de supor a existência de um modo externo com
o qual estabelecemos um contraste com o nosso ego.
Assim sendo, a interpretação dos sonhos desvela, sobretudo, os conteúdos
mentais, pensamentos, dados e experiências que foram reprimidos ou
recalcadas, excluídos da consciência pelas atividades de defesa do ego e
superego e enviadas para o inconsciente. A parte do id cujo acesso à consciência
foi impedido, é exatamente a que se encontra envolvida na origem das
neuroses. Portanto, o interesse de Freud pelos sonhos teve origem no fato de
constituírem eles processos normais, com os quais todos estão familiarizados,
mas que exemplificam processos atuantes na formação dos sintomas neuróticos.
Surge o sonho, via de regra, numa zona congestionada do entrelaçamento dos
campos, de onde resulta que seu conteúdo exprima regras atinentes a distintos
temas psíquicos simultaneamente; por isso não possui um só sentido latente,
mas uma rede de significações emocionais, o sonho é um momento diagnóstico
por excelência, identifica o sujeito.
Não é absurdo pedir explicações e associações ao paciente que conta um sonho,
quer dizer, tratar o sonho como episódio distinto e fenômeno isolável. Faça isso
quando achar oportuno, mas não se esqueça que a forma pela qual o sonho foi
narrado e o conjunto inteiro das idéias que o cercam, ainda e sobretudo se não
lhe parecem conectadas, são associações também, potencialmente. Com o
sonhador, o analista sonha empaticamente, deixando-se levar pela iluminação
que o sonho propicia, sem pressa, esperando que a precipitação insemine-lhe as
idéias, para poder operar no mesmo ritmo do campo onírico.
O sonho é uma defesa do sono, a isso pode acrescentar-se que o sonho aberto,
essa história visual que se vive de noite e se conta de dia, é a oportunidade para
sair de um sonho, da surda corrente subterrânea dos temas de que o sonho
trata, cuja lógica preside ocultamente a vigília, até que se possa manifestar num
episódio constituído, ganhando estatuto de consciência. Segundo Freud, não
existe nenhum fundamento nos fatos de que os sonhos tem o poder de adivinhar
o futuro e nos sonhos não existem sentimentos morais.
Como existe uma forte tendência a se esquecer um sonho, por obra da
resistência, e quase todos assim se perdem, a função do analista é também de
recordação. Ele tem a função de manter o sonho à tona por um tempo mais
longo do que espontaneamente se daria e por acompanhar seu movimento de
disseminação e nova concentração, e não é uma tarefa fácil, pois em nós
também operam resistências.
2- UMA BREVE CRONOLOGIA DA ÉPOCA DE FREUD.
1856 - Em 6 de maio nasce Sigmund Freud, o fundador da psicanálise e autor da
obra A Interpretação dos Sonhos, na cidade Freiberg, Morávia (hoje Pribor), na
atual República Tcheca, então parte do Império Austríaco. Filho de Jacob Freud,
comerciante de lãs, e de Amalia Nathanson, sua terceira esposa, é registrado
com o nome Schlomo Sigismund. Aos 22 anos ele muda o prenome para
Sigmund.
1873 - Freud ingressa na Universidade de Viena para estudar medicina. Forma-
se oito anos depois. Nasce o psiquiatra e psicanalista húngaro Sandor Ferenczi,
que virá a ser o discípulo preferido de Freud e também o clínico mais talentoso
da história do freudismo. Nasce também Juliano Moreira, médico baiano que,
depois de se formar em psiquiatria dinâmica na Europa, será um dos
introdutores das idéias freudianas no Brasil.
1875 - Nasce o psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica Carl Gustav
Jung. Fundador da escola de psicoterapia, especialista em psicoses e interessado
pelo orientalismo, sua obra será tão abundante quanto a de Freud.
1876 - Freud desenvolve trabalhos em neurologia e fisiologia.
1879 - Nasce o psiquiatra e psicanalista inglês Ernest Jones, de grande
importância para a história política do freudismo. Será o fundador da psicanálise
na Grã-Bretanha e criador do Comitê Secreto, círculo formado por discípulos de
Freud para discussões de temas ligados à psicanálise. Pioneiro da historiografia
psicanalítica e da tradução inglesa da obra freudiana. Terá uma longa
correspondência de 671 cartas com Freud. Fará um grande trabalho de
implantação das idéias freudianas no Canadá e nos EUA.
1882 - É criada uma cátedra de clínica de doenças nervosas, da qual o médico e
fisiologista francês Jean Martin Charcot é o titular. A neurologia passa assim a
ser reconhecida como uma disciplina autônoma pela primeira vez. Charcot,
ligado à história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise, é o último
grande representante da psiquiatria dinâmica.
1885 - Freud viaja a Paris para iniciar um estágio com Charcot. Este terá papel
fundamental na formação do jovem Sigmund. As várias cartas que trocaram
estão traduzidas no livro "Lições da terça-feira".
1886 - Freud volta a Viena, onde se estabelece como médico e dirige o
Departamento de Neurologia, primeiro instituto público para crianças. Entre
1886 e 1890 exerce medicina como especialista em doenças nervosas. Freud se
casa com Martha Bernays, com quem terá 6 filhos. Anna Freud, a filha mais
velha, se tornará psicanalista e fundará sua própria corrente. No ano seguinte,
inicia estudos com hipnose.
1892 - Freud elabora o método das associações livres (técnica usada pela
psicanálise na qual o paciente deve esforçar-se a dizer tudo que lhe vier à
cabeça, principalmente aquilo que ele se sinta tentado a omitir).
1893 - Início da correspondência entre Freud e Wilhelm Fliess, seu amigo íntimo
e médico voltado a estudos relacionados à sexualidade. A correspondência entre
eles terá uma enorme importância no desenvolvimento de teoria psicanalítica de
Freud. Charcot morre neste ano.
1895 - Publica com Josef Breuer Estudos sobre a Histeria. Freud faz a primeira
interpretação de um sonho seu: "A injeção de Irma", que parece ser a
encenação de um romance familiar das origens e da história da psicanálise.
1896- Surge pela primeira vez o termo psicanálise, para nomear um método
específico da psicoterapia. No mesmo ano, a correspondência entre Fliess e
Freud apresenta a expressão "aparelho psíquico" e seus três componentes:
consciente, pré-consciente e inconsciente.
1897 - Através de correspondência com Wilhelm Fliess, Freud inicia o que ele
chamaria de sua auto-análise. Freud escreve a Fliess dizendo que está
abandonando a teoria da sedução, segundo a qual a principal causa das
neuroses são os traumas causados nas crianças pelos adultos. Freud começa a
redigir A Interpretação dos Sonhos. Primeira interpretação de Freud da tragédia
de Édipo Rei, de Sófocles.
1899 - Publicação de A Interpretação dos Sonhos, de Freud(sua edição, porém,
é datada de 1900).
1900 - Nasce o médico fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Durval
Ballegardi Marcondes. Marcondes toma conhecimento das obras de Freud aos 20
anos.
1901 - Nasce o psiquiatra e psicanalista francês Jacques Lacan, responsável por
reformular a obra freudiana, dando-lhe um caráter mais filosófico e tirando-lhe o
substrato biológico. Lacan elaborará inúmeros conceitos (imaginário, simbólico,
real, significante, sujeito, psicologia dos povos) que enriquecerão as formulações
clínicas. Será considerado o único verdadeiro mestre psicanalista da França.
1902 - Criada a primeira sociedade psicanalista do mundo, em Viena, com o
nome de Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras.
1903 - Freud analisa uma criança de 5 anos. É a primeira psicanálise feita em
crianças.
1906 - Início das correspondências entre Freud e Jung. Amigo e discípulo de
Freud até 1913, Jung estabelece com ele uma forte correspondência que chegou
a 359 cartas. Jung já tinha uma concepção de inconsciente e do psiquismo
quando decidiu se aproximar de Freud. O que o levou ao pai da psicanálise foi o
fascínio por uma obra na qual acreditava encontrar a confirmação de suas
hipóteses sobre as idéias fixas subconscientes, as associações verbais e os
complexos.
1907 - Jung cria a Sociedade Freud em Zurique. Mais tarde, esta se torna a
Associação Psicanalítica de Zurique.
1908 - Sandor Ferenczi visita Freud pela primeira vez, depois de ler A
Interpretação dos Sonhos. A partir deste encontro, trocam cerca de 1.200 cartas
durante 25 anos. Acontece o Primeiro Congresso Internacional de Psicanálise em
Salzburgo, com o título: "Encontro dos psicólogos freudianos". Neste congresso,
em que 42 membros de 6 países estiveram presentes, Freud encontra-se com
Ernest Jones pela primeira vez. Acontece também o Primeiro Congresso sobre
Psicanálise em Salzburgo, Áustria. Hermine von Hug-Hellmuth se torna a
primeira mulher psicanalista de crianças.
1910 - Criada a a International Psychoanalytical Association (IPA), no II
Congresso Internacional de Psicanálise de Nuremberg, sendo Carl Jung eleito
seu primeiro presidente. A IPA virá a ser uma organização internacional
responsável por reunir as sociedades de diferentes países. O médico chileno
German Greve apresenta as teses freudianas pela primeira vez na América
Latina, em um congresso de medicina em Buenos Aires.
1912 - Ernest Jones cria a American Psycoanalytic Association (APsaA).
1913 - Início do conflito entre Jung e Freud, após Jung tentar convencer Freud a
dessexualizar sua doutrina. O conflito resultará, mais tarde, na ruptura definitiva
entre eles.
1920 - A filha mais velha de Freud, Sofia, veio a falecer e depois o seu neto,
filho de Sofia.
1921 - No Brasil, em São Paulo, Durval Marcondes começa a se orientar para a
psicanálise.
1923 – Costata um câncer no maxilar de Freud, o que o leva a 33 cirurgias e a
perder o maxilar superior, tendo de instalar aí uma prótese para separar a boca.
Primeira difusão das obras de Freud em espanhol na América Latina. Publica O
Ego e o Id. Surgem os primeiros sinais de câncer de boca.
1924 - A Sociedade Psicanalítica de Moscou passa a ser filiada à IPA, apesar de
não receber o apoio de Ernest Jones. A filiação é defendida por Freud desde
1922.
1925 - Instauram-se as regras da psicanálise didática, que devem ser seguidas
por todos os integrantes da IPA. Freud publica a sua auto-biografia.
1927 - Durval Marcondes e Franco da Rocha criam, em São Paulo, a Sociedade
Brasileira de Psicanálise, a primeira sociedade freudiana da América Latina.
Inicia-se o conflito entre europeus e americanos quanto à admissão de não-
médicos na IPA.
1928 - O conflito leva à fundação da Associação Médica de Psicanálise em Paris,
reservada apenas aos médicos. A Associação jamais se filiará à IPA. Publicação
da primeira revista brasileira de psicanálise, sob responsabilidade de Durval
Ballegardi.
1929 - A Sociedade Brasileira de Psicanálise é admitida na IPA.
1933-1939 - A terminologia freudiana é banida do vocabulário da psiquiatria e
da psicologia da Alemanha. A psicanálise é considerada como uma ciência
judaica. Neste período há uma grande emigração de psicanalistas alemães para
a Argentina, Inglaterra e Estados Unidos. Os livros de Freud são queimados na
Alemanha.
1934 - Jung é denunciado por excluir judeus de uma sociedade composta por
psiquiatras e psicoterapeutas. É o início da polêmica da adesão de Jung ao
nazismo.
1935 - Muitos titulares judeus de sociedades de psicanálise têm que se demitir
para "salvar a psicanálise na Alemanha".
1936 - Adelheid Lucy Koch vem ao Brasil. Ela é a primeira psicanalista didática,
responsável por iniciar Durval Marcondes e outros na psicanálise. Também
contribuirá para que a Sociedade Brasileira de Psicanálise seja reconhecida pela
IPA.
1938 - Fugindo do nazismo, fixa residência em Londres com a esposa e filhos.
Com a ascensão do nazismo, os seus livros são queimados em praça pública. Os
nazistas revistam sua casa e levam seus objetos de coleção de antiguidades.
1939 - Em 23 de setembro, Freud morre de um câncer de mandíbula, do qual
padeceu durante 16 anos.
Depois deste período ocorrem muitas controvérsias, resultando no
desdobramento da psicanálise em várias correntes. Até 1997, o freudismo
estaria implantado em 41 países do mundo. O país que mais possui psicanalistas
por habitante é a França, seguido pela Argentina, a Suíça, os Estados Unidos e o
Brasil.
3-FRAGMENTOS DA PRÉ-HISTÓRIA DOS SONHOS.
A visão pré-histórica dos sonhos sem dúvida ecoou na atitude adotada para com
os sonhos pelos povos da Antiguidade clássica. Eles aceitavam como axiomático
que os sonhos estavam relacionados com o mundo dos seres sobre-humanos
nos quais acreditavam, e que constituíam revelações de deuses e demônios. Não
havia dúvida, além disso, de que, para aquele que sonhava, os sonhos tinham
uma finalidade importante, que era, via de regra, predizer o futuro. A
extraordinária variedade no conteúdo dos sonhos e na impressão que produziam
dificultava, todavia, ter deles qualquer visão uniforme, e tornava necessário
classificá-los em numerosos grupos e subdivisões conforme sua importância e
fidedignidade. A posição adotada perante os sonhos por filósofos isolados na
Antiguidade dependia, naturalmente, até certo ponto, da atitude destes em
relação à adivinhação em geral.
Nas duas obras de Aristóteles que versam sobre os sonhos, ele já se tornaram
objeto de estudo psicológico. Informam-nos as referidas obras que os sonhos
não são enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são
“demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina. Os sonhos, em
outras palavras, não decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem as
leis do espírito humano, embora este, é verdade, seja afim do divino. Definem-
se os sonhos como a atividade mental de quem dorme, na medida em que
esteja adormecido.
Aristóteles estava ciente de algumas características da vida onírica. Sabia, por
exemplo, que os sonhos dão uma construção ampliada aos pequenos estímulos
que surgem durante o sono. “Os homens pensam estar caminhando no meio do
fogo e sentem um calor enorme, quando há apenas um pequeno aquecimento
em certas partes.” E dessa circunstância infere ele a conclusão de que os sonhos
podem muito bem revelar a um médico os primeiros sinais de alguma alteração
corporal que não tenha sido observada na vigília.
Antes da época de Aristóteles, como sabemos, os antigos consideravam os
sonho não como um produto da mente que sonhava, mas como algo introduzido
por uma instância divina; e, já então, as duas correntes antagônicas que iremos
encontrar influenciando as opiniões sobre a vida onírica em todos os períodos da
história se faziam sentir. Traçou-se a distinção entre os sonhos verdadeiros e
válidos, enviados ao indivíduo adormecido para adverti-lo ou predizer-lhe o
futuro, e os sonhos vãos, falazes e destituídosde valor, cuja finalidade era
desorientá-lo ou destruí-lo.
Nos sonhos está a verdade: nos sonhos aprendemos a conhecer-nos tal como
somos, a despeito de todos os disfarces que usamos perante o mundo, sejam
eles enobrecedores ou humilhantes. O homem honrado não pode cometer um
crime nos sonhos, ou, se o fizer, ficará tão horrorizado com isso como com algo
contrário à sua natureza. Um imperador romano poderia condenar à morte um
homem que sonhara ter assassinado o governante pois estaria justificado em
fazê-lo, se raciocinasse que os pensamentos que se têm nos sonhos também se
têm quando em estado de vigília. A expressão corriqueira ‘eu nem sonharia em
fazer tal coisa’ tem um significado duplamente correto, quando se refere a algo
que não pode encontrar guarida em nosso coração nem em nossa mente. Platão,
ao contrário, considerava que os melhores homens são aqueles que apenas
sonham com o que os outros fazem em sua vida de vigília.
“É impossível pensar em qualquer ato de um sonho cuja motivação original não
tenha passado, de um modo ou de outro — fosse como desejo, anseio ou
impulso —, através da mente desperta.” Devemos admitir, prossegue
Hildebrandt, que esse impulso original não foi inventado pelo sonho; o sonho
simplesmente o copiou e desdobrou, meramente elaborou de forma dramática
um fragmento de material histórico que encontrou em nós; meramente
dramatizou as palavras do Apóstolo: “Todo aquele que odeia seu irmão é
assassino.” [1 João 3, 15.] E embora, depois de acordarmos, conscientes da
nossa força moral, possamos sorrir de toda a elaborada estrutura do sonho
pecaminoso, mesmo assim o material original de que derivou a estrutura não
conseguirá despertar um sorriso. Sentimo-nos responsáveis pelos erros do
sonhador — não por sua totalidade, mas por uma certa percentagem. “Em
suma, se compreendemos, nesse sentido quase incontestável, as palavras de
Cristo, de que ‘do coração procedem os maus pensamentos’ [Mateus 15, 19],
dificilmente escaparemos à convicção de que um pecado cometido num sonho
traz em si pelo menos um mínimo obscuro de culpa.
Robert descreve os sonhos como “um processo somático de excreção do qual
nos tornamos cônscios em nossa reação mental a ele”. Os sonhos são excreções
de pensamentos que foram sufocados na origem. “Um homem privado da
capacidade de sonhar ficaria, com o correr do tempo, mentalmente
transtornado, pois uma grande massa de pensamentos incompletos e não
elaborados e de impressões superficiais se acumularia em seu cérebro e, por seu
grande volume, estaria fadada a sufocar os pensamentos que deveriam ser
assimilados em sua memória como conjuntos completos.” Os sonhos servem de
válvula de escape para o cérebro sobrecarregado. Possuem o poder de curar e
aliviar.
Até meados do século XIX, os sonhos eram interpretados de acordo com os
códigos das tradicionais "Chaves dos sonhos" que os viam como uma previsão
do futuro. Seria necessária a intuição de alguns médicos alienistas e a audácia
de alguns escritores para pressentir que o sonho fala sonhador sobre ele próprio.
Mas antes de Freud, o conteúdo da mensagem permanecia indecifrável.
Por seu título e conteúdo, onde os sonhos são vistos como uma linguagem
premonitória sobrenatural, ele se inscreve numa leitura tradicional do onírico. No
passado, a leitura encontra sua fonte na crença de que os sonhos são enviados
por Deus, pouco a pouco colado a uma dimensão mágica (na melhor das
hipóteses) ou satânica (na pior). A etimologia da palavra "cauchemar"
(pesadelo) é reveladora desse deslocamento, "cocher" significa em francês
arcaico "chevaucher" (cavalgar): o corpo do sonhador possuído pelo pesadelo é
cavalgado pelos demônios. Incluído nesse feixe de superstições, o sonho é
estranho ao sonhador, ele é enviado por um "outro", cuja identidade não é
nunca conhecida. Ele tem o papel de mensageiro que força a olhar o futuro
através de seu prisma.
Esta vitalidade de práticas ligadas à superstição revela certa inércia de idéias.
Ela prova um desconhecimento completo da natureza do imaginário noturno. Só
a reflexão teológica sobre a responsabilidade moral do sonhador (assaltado de
maus pensamentos ou de imagens eróticas que provocam ejaculações noturnas)
tem o mérito de relacionar o indivíduo e o sonho que ele forma, tão estranhos
um ao outro nas crenças populares.
Quanto ao povo, este recorre aos ciganos, que eram perseguidos por ler os
sonhos e punidos pelo código penal com uma multa de onze a quinze francos e
prisão de cinco dias em caso de reincidência.
No entanto, a moda da oniromancia declina na segunda metade do século.
Várias razões podem, com cautela, ser levantadas. A mestiçagem das
populações sob o efeito da revolução industrial e o êxodo rural que se segue
contribuem para cortar a ligação com as crenças ancestrais. O progresso da
instrução trabalha para desenraizar as superstições. A descristianização e
recristianização contribuem ambas para matar a figura de Satã e seus acólitos.
Por fim, todo um arsenal legislativo reforça a proibição de interpretar sonhos
suscetíveis de favorecer os delírios de grandeza e as revoltas. As adivinhadoras
perdem assim seu mistério: elas não são mais perseguidas por exercício de
bruxaria, mas por abuso de confiança. Uma precaução política que priva o sonho
de toda qualidade sobrenatural, sem, por isso, lhe fornecer uma nova
identidade.
Através da droga, atingir o sonho, uma escapada bem voluptuosa. Mas também
se trata de ultrapassar a condição humana e alimentar a criação. "O haxixe será,
para as impressões e os pensamentos familiares do homem, um espelho
exacerbador, mas um puro espelho", escreve Baudelaire. A precisão da
transcrição nos diários, as trocas epistolares, exprimem o interesse profundo e
crescente pelo onírico. Essas narrativas desenham um caminho que leva à
descoberta do inconsciente, mas ela é lenta pois vai de encontro às resistências
cristalizadas em torno da suscetibilidade narcísica do sonhador.
Freud no livro A Interpretação dos Sonhos relatou, “É difícil escrever uma
história do estudo científico dos problemas dos sonhos porque, por mais valioso
que tenha sido esse estudo em alguns pontos, não se pode traçar nenhuma linha
de progresso em qualquer direção específica. Não se lançou nenhum
fundamento de descobertas seguras no qual um pesquisador posterior pudesse
edificar algo; ao contrário, cada novo autor examina os mesmos problemas de
novo e recomeça, por assim dizer, do início.”.
4-FRAGMENTOS DA TEORIA DE INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS.
Foi no decorrer dos estudos psicanalíticos que Freud se deparou com a
interpretação dos sonhos. Seus pacientes assumiram o compromisso de lhe
comunicar todas as idéias ou pensamentos que lhes ocorressem em relação a
um assunto específico, e entre outras coisas, narravam os seus sonhos. Assim
ensinaram a Freud que o sonho pode ser inserido na cadeia psíquica a ser
retrospectivamente rastreada na memória a partir de uma idéia patológica.
Freud disse que todo psicólogo é obrigado a confessar até mesmo suas próprias
fraquezas, se acreditar que assim lança luz sobre algum problema obscuro.
Enquanto Freud tratava Frau Emmy von N., em 1889-1890, descobriu que ela
apresentava espontaneamente os seus sonhos um material descritivo
significativo. Tendo já descoberto a transferência, a resistência e a necessidade
de um ego autônomo em terapia, Freud abandonou a hipnose, que criava
distorções e adicionava complicações a esses fatores essenciais, e voltou-se para
a livre associação e o método que conhecemos como psicanálise. Freud usou
então o sonho como ponto de partida para associações que, em última instância,
conduziam até as idéias inconscientes que se ocultavam atrás de sintomas e
sonhos e eram responsáveis por ambos. Pela primeira vez, o significado dos
sonhos era cientificamente abordado.
Todo material que compõe o conteúdo de um sonho é derivado, de algum modo,
da experiência, ou seja, foi reproduzido ou lembrado nosonho. É possível que
surja, no conteúdo de um sonho, um material que, no estado de vigília, não
reconheçamos como parte de nosso conhecimento de nossa vigília, ou de nossa
experiência. Lembramo-nos, naturalmente, de ter sonhado com a coisa em
questão, mas não conseguimos lembrar se, ou quando, a experimentamos na
vida real. Ficamos assim em dúvida quanto à fonte a que recorreu o sonho e
sentimo-nos tentados a crer que os sonhos possuem uma capacidade de
produção independente. Então, finalmente, muitas vezes após um longo
intervalo, alguma nova experiência relembra a recordação perdida do outro
acontecimento e, ao mesmo tempo, revela a fonte do sonho. Somos assim
levados a admitir que, no sonho, sabíamos e nos recordávamos de algo que
estava além do alcance de nossa memória de vigília.
As emoções profundas da vida de vigília, as questões e os problemas pelos quais
difundimos nossa principal energia mental voluntária, não são os que costumam
se apresentar de imediato à consciência onírica. No que diz respeito ao passado
imediato, são basicamente as impressões corriqueiras, casuais e `esquecidas’ da
vida cotidiana que reaparecem em nossos sonhos. As atividades psíquicas mais
intensamente despertas são as que dormem mais profundamente. Isso nos
chama a atenção para o fato de os afetos nos sonhos não poderem ser julgados
da mesma forma que o restante de seu conteúdo; e nos confrontamos com o
problema de determinar que parte dos processos psíquicos que ocorrem nos
sonhos deve ser tomada como real, isto é, que parte tem o direito de figurar
entre os processos psíquicos da vida de vigília.
Existem quatro tipos de fontes de sonho:
1-Excitações sensoriais externas (objetivas): todo ruído indistintamente
percebido provoca imagens oníricas correspondentes (ex.: trovoada, cantar de
um galo, etc.…); sensações de frio, calor, etc.…(ex.: vontade de urinar, partes
do corpo descobertas, etc..).
2-Excitações sensoriais internas (subjetivas) dos órgãos dos sentidos: excitações
subjetivas da retina, alucinações hipnagógicas ou fenômenos visuais
imaginativos.
3-Estímulos somáticos internos (orgânicos): distúrbios dos órgãos internos (ex.:
causa sonhos de angústia)
4-Fontes psíquicas de estimulação : material importante para chegar no
inconsciente, necessário para o tratamento psicanalítico.
Existem diversas causas para o nosso esquecimento dos sonhos. Geralmente
esquecemos o que ocorre somente uma vez. Temos dificuldade em se lembrar o
que é desordenado e confuso. Não damos importância significativa aos nosso
sonhos. Consideramos o sonho algo enigmático e inexplicado.
Embora seja verdade que os sonhos devem uma parte do seu conteúdo ao
evento mental corrente, o resíduo do dia não é suficiente para produzí-los. Um
sonho só se forma quando o evento corrente estabelece contato com um
impulso do passado, especificamente com um desejo infantil. A experiência
subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o despertar,
chamamos de sonho, é apenas o resultado final de uma atividade mental
inconsciente durante esse processo fisiológico que, por sua natureza ou
intensidade, ameaça interferir com o próprio sonho. Ao invés de acordar, a
pessoa sonha. Dormimos porque sonhamos em vez de sonhamos porque
dormimos.
Os sonhos das crianças pequenas são freqüentemente pura realização de
desejos e são, nesse caso, muito desinteressantes se comparados com os
sonhos dos adultos. Não levantam problemas para serem solucionados, mas, por
outro lado, são de inestimável importância para provar que, em sua natureza
essencial, os sonhos representam realizações de desejos. É possível que os
sonhos aflitivos e os sonhos de angústia nos adultos, uma vez interpretados,
revelem-se como realizações de desejos.
O sonho é a realização de um desejo, um temor realizado, uma reflexão ou uma
lembrança. O sonho de conveniência, satisfaz seus desejos e necessidades. A
transformação de representações em alucinações não é o único aspecto em que
os sonhos diferem de pensamentos correspondentes na vida de vigília. Os
sonhos constroem uma situação a partir dessas imagens; representam um fato
que está realmente acontecendo, eles “dramatizam” uma idéia. Mas essa faceta
da vida onírica só pode ser plenamente compreendida se reconhecermos, além
disso, que nos sonhos — via de regra, pois há exceções que exigem um exame
especial — parecemos não pensar, mas ter uma experiência: em outras
palavras, atribuímos completa crença às alucinações. Somente ao despertarmos
é que surge o comentário crítico de que não tivemos nenhuma experiência, mas
estivemos apenas pensando de uma forma peculiar, ou, dito de outra maneira,
sonhando. É essa característica que distingue os verdadeiros sonhos do
devaneio, que nunca se confunde com a realidade.
Vamos ver um exemplo de sonho de desejo interpretado por Freud : Aventurei-
me a interpretar — sem nenhuma análise, mas apenas por meio de um palpite
— um pequeno episódio ocorrido com um amigo meu que freqüentara a mesma
classe que eu durante todo o nosso curso secundário. Um dia, ele ouviu uma
palestra que proferi perante um pequeno auditório sobre a idéia inédita de que
os sonhos eram realizações de desejos. Foi para casa e sonhou que perdera
todos os seus casos (ele era advogado), e depois me contestou nesse assunto.
Fugi à questão, dizendo-lhe que, afinal de contas, não se podem ganhar todos
os casos. Mas pensei comigo mesmo: “Considerando que, por oito anos a fio,
sentei-me no banco da frente como primeiro da classe, enquanto ele ficava ali
pelo meio, ele dificilmente pode deixar de alimentar um desejo, remanescente
de seus tempos de escola, de que mais dia menos dia, eu venha a me tornar um
completo fracasso.”
O trabalho do sonho está sujeito a uma espécie de exigência de combinar todas
as fontes que agiram como estímulos ao sonho numa única unidade no próprio
sonho. Os sonhos nunca dizem respeito a trivialidades: não permitimos que
nosso sono seja perturbado por tolices. Os sonhos aparentemente inocentes
revelam ser justamente o inverso quando nos damos ao trabalho de analisá-los.
A fonte de um sonho pode ser:
a) Uma experiência recente e psiquicamente significativa, que é diretamente
representada no sonho.
b) Várias experiências recentes e significativas, combinadas numa única unidade
pelo sonho.
c) Uma ou mais experiências recentes e significativas, representadas no
conteúdo do sonho pela menção a uma experiência contemporânea, mas
irrelevante.
d) Uma experiência significativa interna (por exemplo, um lembrança ou um
fluxo de idéias), que é, nesse caso, invariavelmente representada no sonho por
uma menção a uma impressão recente, irrelevante.
Os sonhos muito freqüentes, por terem como tema a frustração de um desejo ou
a ocorrência de algo claramente indesejado, podem ser reunidos sob o título de
“sonhos com o oposto do desejo”. Estes sonhos podem ser elaborados, quando
um paciente se encontra num estado de resistência ao analista. O segundo
motivo para os sonhos com o oposto do desejo está estabelecido em um
componente masoquista na constituição sexual de muitas pessoas, que decorre
da inversão de um componente agressivo e sádico em seu oposto, pois os
sonhos desprazerosos são, ainda assim, realizações de desejos, pois satisfazem
suas inclinações masoquistas. Após estas explicações chegamos a conclusão que
o sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo (suprimido ou recalcado.)
Os sonhos de angústia são abordados como uma subespécie particular dos
sonhos de conteúdo aflitivo. A angústia neurótica se origina da vida sexual e
corresponde à libido que se desviou de sua finalidade e não encontrou aplicação.
Os sonhos de angústia são sonhos de conteúdo sexual cuja respectiva libido se
transformou em angústia. É também instrutivo considerar a relação desses
sonhos com os sonhos de angústia. Um desejo recalcado encontrou um meio de
fugir à censura — e à distorção que a censura implica. O resultadoinvariável
disso é que se experimentam sentimentos dolorosos no sonho. Da mesma
forma, os sonhos de angústia só ocorrem quando a censura é total ou
parcialmente subjugada; e, por outro lado, a subjugação da censura é facilitada
nos casos em que a angústia já foi produzida como uma sensação imediata
decorrente de fontes somáticas. Assim, podemos ver claramente a finalidade
para a qual a censura exerce sua função e promove a distorção dos sonhos: ela
o faz para impedir a produção de angústia ou de outras formas de afeto aflitivo.
A “angústia de prestar exames” dos neuróticos deve sua intensificação a esses
mesmos medos infantis. Os sonhos com o Vestibular geralmente ocorrem nas
pessoas que tem sido aprovadas, e nunca nas que foram reprovadas nele.
Quando o sonho é do tipo que se chama “recorrente”, é quando o sujeito teve
um sonho pela primeira vez na infância e depois ele reaparece constantemente,
de tempos em tempos, durante o sono adulto.
Os sonhos típicos sobre a morte de parentes queridos, encontramos realizada a
situação extremamente incomum de um pensamento onírico formado por um
desejo recalcado (da morte), que foge inteiramente à censura e passa para o
sonho sem modificação.
As fontes somáticas de estimulação durante o sono (isto é, as sensações durante
o sono), a menos que sejam de intensidade incomum, desempenham na
formação dos sonhos papel semelhante ao desempenhado pelas impressões
recentes, mas irrelevantes, deixadas pelo dia anterior. Ou seja, creio que elas
são introduzidas para ajudar na formação de um sonho caso se ajustem
apropriadamente ao conteúdo de representações derivado das fontes psíquicas
do sonho, mas não de outra forma. Dessa maneira, podemos explicar o fato de o
conteúdo onírico proporcionado por estímulos somáticos de intensidade não
incomum deixar de aparecer em todos os sonhos ou todas as noites.
Quando alguma coisa num sonho tem o caráter de discurso direto, isto é,
quando é dita ou ouvida e não simplesmente pensada (e é fácil, em geral,
estabelecer a distinção com segurança), então isso provém de algo realmente
falado na vida de vigília — embora, por certo, esse algo seja meramente
alterado e, mais especialmente, desligado de seu contexto.
O fenômeno da distorção dos sonhos: quando nós temos um sonho e não
queremos interpretá-lo ou lembrá-lo é porque estamos tentando esconder ou
não queremos enfrentar algo que estávamos combatendo, estava recalcado no
nosso inconsciente. Nos casos em que a realização de desejo é irreconhecível,
em que é disfarçada, deve ter havido alguma inclinação para se erguer uma
defesa contra o desejo; e, graças a essa defesa, o desejo é incapaz de se
expressar, a não ser de forma distorcida. Podemos, portanto, supor que os
sonhos recebem sua forma em cada ser humano mediante a ação de duas forças
psíquicas (ou podemos descrevê-las como correntes ou sistemas) e que uma
dessas forças constrói o desejo que é expresso pelo sonho, enquanto a outra
exerce uma censura sobre esse desejo onírico e, pelo emprego dessa censura,
acarreta forçosamente uma distorção na expressão do desejo.
Quando temos em mente que os pensamentos oníricos latentes não são
conscientes antes de se proceder a uma análise, ao passo que o conteúdo
manifesto do sonho é conscientemente lembrado, parece plausível supor que o
privilégio fruído pela segunda instância seja o de permitir que os pensamentos
penetrem na consciência. Nada, ao que parece, pode atingir a consciência a
partir do primeiro sistema sem passar pela segunda instância; e a segunda
instância não permite que passe coisa alguma sem exercer seus direitos e fazer
as modificações que julgue adequadas no pensamento que busca acesso à
consciência. Convém notar que o afeto vivenciado no sonho pertence a seu
conteúdo latente, e não ao conteúdo manifesto, e que o conteúdo afetivo do
sonho permaneceu intocado pela distorção que se apoderou de seu conteúdo de
representações.
Quando nos referimos aos sonhos num sentido teórico, temos em mente três
entidades distintas: o sonho manifesto, os pensamentos oníricos latentes e o
funcionamento do sonho. Aquilo que o paciente recorda e relata como o seu
sonho, o sonho manifesto, é uma mensagem críptica que exige decifração.
Subjacentes ao sonho manifesto estão idéias e sentimentos, alguns dos quais
pertencem ao presente, alguns ao passado, alguns dos quais são pré-
conscientes, outros inconscientes: é o conteúdo latente. Os pensamentos
latentes, dão origem ao sonho manifesto, e estamos interessados no método
pelo qual esses pensamentos latentes são transformados nas imagens
recordadas como sonho. O conteúdo latente é a parte mais importante do
sonho. Os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçaram acordar a
pessoa são denominados como conteúdo latente do sonho.. Toda a significação,
desejos, problemas, neuroses e até predisposições psicóticas estão nesta parte.
As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo latente do
sonho se transforma em sonho manifesto, damos o nome de elaboração do
sonho, também chamada dramatização. O processo responsável por essa
transformação, que Freud considerava a parte essencial da atividade onírica, é o
funcionamento do sonho.
A primeira coisa que se torna clara para quem quer que compare o conteúdo do
sonho com os pensamentos oníricos é que ali se efetuou um trabalho de
condensação em larga escala. Os sonhos são curtos, insuficientes e lacônicos em
comparação com a gama e riqueza dos pensamentos oníricos. Se um sonho for
escrito, talvez ocupe meia página. A análise que expõe os pensamentos oníricos
subjacentes a ele poderá ocupar seis, oito ou doze vezes mais espaço. O que é
claramente a essência dos pensamentos do sonho não precisa, de modo algum,
ser representado no sonho. O sonho tem, por assim dizer, uma centração
diferente dos pensamentos oníricos — seu conteúdo tem elementos diferentes
como ponto central.
O que aparece nos sonhos, poderíamos supor, não é o que é importante nos
pensamentos do sonho, mas o que neles ocorre repetidas vezes. No trabalho do
sonho, está em ação uma força psíquica que, por um lado, despoja os elementos
com alto valor psíquico de sua intensidade, e, por outro, por meio da
sobredeterminação, cria, a partir de elementos de baixo valor psíquico, novos
valores, que depois penetram no conteúdo do sonho. Assim sendo, ocorrem uma
transferência e deslocamento de intensidade psíquicas no processo de formação
do sonho, e é como resultado destes que se verifica a diferença entre o texto do
conteúdo do sono e o dos pensamentos do sonho. O processo que estamos aqui
presumindo é nada menos do que a parcela essencial do trabalho do sonho,
merecendo ser descrito como o “deslocamento do sonho”. O deslocamento do
sonho e a condensação do sonho são os dois fatores dominantes a cuja atividade
podemos, em essência, atribuir a forma assumida pelos sonhos. A conseqüência
do deslocamento é que o conteúdo do sonho não mais se assemelha ao núcleo
dos pensamentos do sonho, e que este não apresenta mais do que uma
distorção do desejo do sonho que existe no inconsciente. Na distorção do sonho,
descobrimos sua origem está na censura que é exercida por uma instância
psíquica da mente sobre outra. O deslocamento do sonho é um dos principais
métodos pelos quais essa distorção é obtida. Podemos presumir, portanto, que o
deslocamento do sonho se dá por influência da mesma censura — ou seja, a
censura da defesa endopsíquica.
Os sonhos não têm a seu dispor meios de representar as relações lógicas entre
os pensamentos do sonho. Em sua maioria, os sonhos desprezam todas essas
conjunções, e é só o conteúdo substantivo dos pensamentos do sonho que eles
dominam e manipulam. O que é reproduzido pelo aparente pensamento no
sonho é o tema dos pensamentos do sonho e não as relações mútuas entre eles,
cuja asserção constitui o pensamento. Quando ocorre uma contradição num
sonho, ou ela é uma contradição do próprio sonho ouuma contradição oriunda
do tema de um dos pensamentos do sonho. Uma contradição num sonho só
pode corresponder a uma contradição entre os pensamentos do sonho de
maneira extremamente indireta. Alguns sonhos desprezam completamente a
seqüência lógica de seu material, outros tentam dar uma indicação tão completa
quanto possível dela. Ao fazê-lo, os sonhos se afastam ora mais, ora menos
amplamente do texto de que dispõem para manipular.
Nos sonhos a categoria dos contrários e dos contraditórios são simplesmente
desconsideradas. O “não” não parece existir no que diz respeito aos sonhos. Eles
mostram uma preferência particular por combinar os contrários numa unidade
ou por representá-los como uma só coisa. Os sonhos se sentem livres, além
disso, para representar qualquer elemento por seu oposto imaginário, de modo
que não há maneira de decidir, à primeira vista, se qualquer elemento que
admita um contrário está presente nos pensamentos do sonho como positivo ou
negativo.
A imagem onírica pode ser composta de traços visuais pertencentes, na
realidade, em parte a uma pessoa e em parte à outra. Ou, ainda, a participação
da segunda pessoa na imagem onírica pode estar não em seus traços visuais,
mas nos gestos que atribuímos a ela, nas palavras que a fazemos pronunciar, ou
na situação em que a colocamos. Nesse último caso, a distinção entre a
identificação e a construção de uma figura composta começa a perder sua
nitidez.
Todo sonho versa sobre o próprio sonhador. Os sonhos são inteiramente
egoístas. Sempre que nosso próprio ego não aparece no conteúdo do sonho,
mas somente alguma pessoa estranha, podemos presumir com segurança que
nosso próprio ego está oculto, por identificação, por trás dessa outra pessoa;
posso inserir nosso ego no contexto. Em outras ocasiões, quando nosso ego de
fato aparece no sonho, a situação em que isso ocorre pode ensinar-nos que
alguma outra pessoa jaz oculta, por identificação, por trás de nosso ego. Uma
conclusão no sonho representa uma conclusão nos pensamentos oníricos.
Um afeto experimentado num sonho não é de modo algum inferior a outro de
igual intensidade sentido na vida de vigília. A análise nos mostra que o material
de representações passou por deslocamentos e substituições, ao passo que os
afetos permaneceram inalterados. A inibição do afeto, por conseguinte, deve ser
considerada como a segunda conseqüência da censura dos sonhos, tal como a
distorção onírica é sua primeira consequência.
Em geral, é necessário buscar outra fonte de pensamentos do sonho, uma fonte
que esteja sob a pressão da censura. Em resultado dessa pressão, essa fonte
normalmente produziria, não satisfação, mas o afeto contrário. Graças à
presença da primeira fonte do afeto, porém, a segunda fonte fica habilitada a
subtrair do recalque seu afeto de satisfação e a permitir que ele funcione como
uma intensificação da satisfação da primeira fonte. Assim, parece que os afetos
nos sonhos são alimentados por uma confluência de diversas fontes e
sobredeterminados em sua referência ao material dos pensamentos oníricos.
Durante o trabalho do sonho, as fontes de afeto passíveis de produzir o mesmo
afeto unem-se para gerá-lo.
O sonho não só apresenta as formas e facetas de resistência, mas pode tornar-
se um veículo para a expressão da força que se opõe à análise. A mesma
resistência que usa o sonho para absorver uma hora inteira, fornece uma
variação quando atrasa a apresentação para os últimos minutos. O analista não
tem por que se sentir perdido quando um sonho é relatado tardiamente demais
para que possa ser abordado na sessão.
A transferência, positiva ou negativa, pode converter-se numa fonte de
resistência obstinada, sendo que uma e outra podem caminhar de mãos dadas.
O impulso infantil inconsciente é suscetível de dotar a transferência de uma tal
intensidade que a realidade da situação analítica será completamente obliterada
e a aliança terapêutica viciada. Para que o trabalho da análise progrida, uma tal
transferência, com suas implicações de resistência, tem de ser interpretada sem
esperar que se definam as condições ótimas. Quando a transferência toca esse
rumo, o sonho pode ajudar com aviso prévio da necessidade de interpretação
antes do paciente representar dramaticamente a sua última resistência,
abandonando a análise (vide caso Dora).
Quanto mais o paciente aprende da prática de interpretação de sonhos, mais
obscuros, geralmente, se tornam seus sonhos posteriores. Os sonhos
corroborativos, sua tradução simplesmente apresenta o que o tratamento já
inferiu, durante os últimos dias, do material das associações diárias, é como se o
paciente houvesse sido amável o bastante para trazer, sob forma onírica, o que
lhe havíamos estado “sugerindo” antes. Porém a grande maioria dos sonhos
antecipa-se à análise, de maneira que, após subtrair deles tudo que já é sabido
e compreendido, resta ainda uma alusão mais ou menos clara a algo que até
então estivera oculto.
Uma fantasia consiste num desejo inconsciente trabalhado pela capacidade do
pensamento lógico a fim de dar origem a uma expressão disfarçada e a uma
satisfação imaginária do desejo pulsional. O bebê sonha com seus desejos que
se tornam em fantasias de suas expressões diretas das pulsões e impulsos, pois
as pulsões dão origem às fantasias. No adulto, o simples fato de fantasiar é para
fugir de realidades dolorosas.
Descrevemos o elemento dos pensamentos oníricos como uma “fantasia”. O
“sonho diurno” [ou devaneio] é algo análogo a fantasia na vida de vigília. O
estudo das psiconeuroses leva à surpreendente descoberta de que essas
fantasias ou sonhos diurnos são os precursores imediatos dos sintomas
histéricos, ou pelo menos de uma série deles. Os sintomas histéricos não estão
ligados a lembranças reais, mas a fantasias construídas com base em
lembranças. A função de “elaboração secundária” que atribuímos ao quarto dos
fatores envolvidos na formação do conteúdo dos sonhos mostra-nos em ação,
mais uma vez, a atividade que consegue ter livre vazão na criação de sonhos
diurnos sem ser inibida por quaisquer outras influências. Poderíamos simplificar
isso dizendo que este nosso quarto fator procura configurar o material que lhe é
oferecido em algo semelhante a um sonho diurno. No entanto, se um desses
sonhos diurnos já tiver sido formado na trama dos pensamentos oníricos, esse
quarto fator do trabalho do sonho preferirá apossar-se do sonho diurno já pronto
e procurará introduzi-lo no conteúdo do sonho. Há alguns sonhos que consistem
meramente na repetição de uma fantasia diurna que talvez tenha permanecido
inconsciente.
Tem sido demonstrado, por pesquisadores do sono e do sonho, que todas as
pessoas sonham regularmente durante todo o seu período de sono. Por isso
dizermos que o “sonho é o guardião do sono”. O sonho é o fiel guardião da
nossa saúde psíquica, da nossa alegria de viver, uma vez que a vida não passa,
em essência, de uma contínua procura de prazer, contrariada pela realidade
(Teoria do Princípio do Prazer). As pessoas que “não sonham, quando
analisadas, apresentam recalques afetivos profundos. Porém quando uma
pessoa, efetivamente, não sonha, é porque possui problemas estruturais graves,
ou seja, são psicóticas, e por isso difícil de serem analisadas. Os sonhos
acordados surgem por meio de representações, que fantasiamos à nossa
maneira, segundo o curso que damos às nossas fantasias.
A única maneira pela qual podemos descrever o que acontece nos sonhos
alucinatórios é dizendo que a excitação se move em direção retrocedente. Em
vez de se propagar para a extremidade motora do aparelho, ela se movimenta
no sentido da extremidade sensorial e, por fim, atinge o sistema perceptivo. Se
descrevermos como “progressiva” a direção tomada pelos processos psíquicos
que brotam do inconsciente durante a vida de vigília, poderemos dizer que os
sonhos têm um caráter “regressivo”.
Nossa discussão não pode ser levada adiante sem examinarmoso papel
desempenhado pelos afetos nesses processos; neste contexto, porém, só
podemos fazê-lo de modo imperfeito. Assim, presumamos que a supressão do
Ics. seja necessária, acima de tudo, porque, se o curso das representações no
Ics. ficasse por sua própria conta, geraria um afeto que foi originalmente de
natureza prazerosa, mas tornou-se desprazeroso depois de ocorrido o processo
de “recalcamento”. O propósito, bem como o resultado da supressão, é impedir
essa liberação de desprazer. A supressão se estende ao conteúdo de
representações do Ics., já que a liberação de desprazer pode começar a partir
desse conteúdo. Isso pressupõe uma suposição bastante específica quanto à
natureza da geração do afeto. A característica essencial dos sonhos de punição,
portanto, seria que, em seu caso, o desejo formador do sonho não é um desejo
inconsciente derivado do recalcado (do sistema Ics.), mas um desejo punitivo
que reage contra este e pertence ao ego, embora seja, ao mesmo tempo, um
desejo inconsciente (isto é, pré-consciente).
Caso se pergunte se é possível interpretar todos os sonhos, a resposta deve ser
negativa. Não se deve esquecer que, na interpretação de um sonho, tem-se
como oponentes as forças psíquicas que foram responsáveis por sua distorção.
5. SONHOS TRANSCRITOS DE UM LIVRO COM A INTERPRETAÇÃO DADA.
RETIRADOS DO LIVRO INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS- FREUD.
5.1- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UM ADULTO.
A paciente, um moça de pouca idade, assim começou: “Como o senhor deve
estar lembrado, minha irmã só tem agora um menino — Karl; ela perdeu o filho
mais velho, Otto, quando eu ainda morava com ela. Otto era meu favorito; de
certa forma, eu o criei. Também gosto do menorzinho, mas, é claro, nem de
longe tanto quanto gostava do que morreu. Então, ontem à noite, sonhei que via
Karl morto diante de mim. Estava deitado em seu caixãozinho, com as mãos
postas e velas a seu redor — de fato, exatamente como o pequeno Otto, cuja
morte foi um golpe tão forte para mim. Agora me diga: que pode significar isso?
O senhor me conhece. Será que sou uma pessoa tão má a ponto de desejar que
minha irmã perca o único filho que ainda tem? Ou será que o sonho significa que
eu preferiria que Karl estivesse morto, em vez de Otto, de quem eu gostava
muito mais?”
Assegurei-lhe que esta última interpretação estava fora de cogitação. E, depois
de refletir um pouco, pude dar-lhe a interpretação correta do sonho,
posteriormente confirmada por ela. Pude fazê-lo porque estava familiarizado
com toda a história prévia da autora do sonho.
Essa moça ficara órfã em tenra idade e fora criada na casa de uma irmã muito
mais velha. Entre os amigos que freqüentavam a casa, havia um homem que
deixou uma impressão duradoura em seu coração. Por algum tempo, pareceu
que suas relações mal admitidas com ele levariam ao casamento, mas esse
desenlace feliz foi reduzido a cinzas pela irmã, cujos motivos jamais foram
plenamente explicados. Depois do rompimento, esse homem deixou de
freqüentar a casa e, pouco depois da morte do pequeno Otto, para quem ela
voltara sua afeição neste ínterim, minha paciente fixou residência própria
sozinha. Não conseguiu, contudo, libertar-se de seu apego pelo amigo da irmã.
Seu orgulho ordenava que o evitasse, mas ela não conseguiu transferir seu amor
para nenhum dos outros admiradores que se apresentaram posteriormente.
Sempre que se anunciava que o objeto de suas afeições, que era por profissão
um homem de letras, ia proferir uma palestra em algum lugar, ela estava
invariavelmente na platéia; e aproveitava todas as oportunidades possíveis de
contemplá-lo à distância em campo neutro. Lembrei-me de que ela me dissera,
na véspera, que o Professor iria a um certo concerto, e que ela pretendia ir
também para ter o prazer de dar uma olhadela nele mais uma vez. Isso ocorrera
na véspera do sonho, e o concerto iria realizar-se no dia em que ela o relatou a
mim. Foi-me portanto fácil construir a interpretação correta, e perguntei-lhe se
podia pensar em alguma coisa que tivesse acontecido após a morte do pequeno
Otto. Ela respondeu de pronto: “Naturalmente; o Professor veio visitar-nos de
novo depois de uma longa ausência e eu o vi mais uma vez ao lado do caixão do
pequeno Otto.” Isso era exatamente o que eu esperava, e interpretei o sonho
desta forma: “Se o outro menino morresse agora, aconteceria a mesma coisa.
Você passaria o dia com sua irmã, e o Professor certamente viria apresentar
seus pêsames, de modo que você o veria mais uma vez nas mesmas condições
que na outra ocasião. O sonho significa apenas seu desejo de vê-lo mais uma
vez, um desejo contra o qual você vem lutando internamente. Sei que você tem
na bolsa uma entrada para o concerto de hoje. Seu sonho foi um sonho de
impaciência: antecipou em algumas horas a visão que você vai ter dele hoje.”
5.2- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UMA CRIANÇA.
Uma criança com menos de quatro anos de idade contou ter sonhado que vira
um prato enorme com um grande pedaço de carne assada e legumes. De
repente, toda a carne foi comida — inteira e sem ser destrinchada. Ela não viu a
pessoa que a comeu.
Quem teria sido a pessoa desconhecida cujo suntuoso banquete de carne
constitui o tema do sonho do menininho? Suas experiências durante o dia do
sonho devem esclarecer-nos sobre o assunto. Por ordem médica, ele fora
submetido a uma dieta de leite nos últimos dias. Na noite do dia do sonho ele se
mostrara travesso e, como castigo, fora mandado para a cama sem jantar. Ele
já havia passado por essa cura pela fome numa ocasião anterior e se portara
com muita bravura. Sabia que não conseguiria nada, mas não se permitia
demonstrar, nem mesmo por uma única palavra, que estava com fome. A
educação já começara a surtir efeito nele: encontrou expressão em seu sonho,
que exibe o início da distorção onírica. Interpretação: Não há nenhuma dúvida
de que a pessoa cujos desejos eram visados nessa generosa refeição — de
carne, ainda por cima — era ele próprio. Mas, como sabia que isso não lhe era
permitido, ele não se aventurou a sentar-se pessoalmente para desfrutar a
refeição, como fazem as crianças famintas nos sonhos. A pessoa que se serviu
da refeição permaneceu no anonimato.
5.3- RELATO DE FREUD DE UM SONHO DE UMA SENHORA.
Quando jovem ela se destacara por sua inteligência viva e sua disposição alegre;
e essas características ainda podiam ser observadas, pelo menos nas idéias que
lhe ocorriam durante o tratamento. No decorrer de um sonho um tanto longo,
essa senhora imaginou ver sua única filha, de quinze anos de idade, morta
“numa caixa”. Estava parcialmente inclinada a utilizar essa cena como uma
objeção à teoria da realização dos desejos, embora ela própria suspeitasse de
que o detalhe da “caixa” devia estar apontando para outra visão do sonho.
No decorrer da análise, ela lembrou que, numa reunião na noite anterior, falara-
se um pouco sobre a palavra inglesa “box” e as várias formas pelas quais se
poderia traduzi-la em alemão — tais como “Schachtel” [“caixa”] “Loge”
[“camarote de teatro”], Kasten [arca], “Ohrfeige” [“murro no ouvido”], e assim
por diante. Outras partes do mesmo sonho nos permitiram descobrir ainda que
ela havia pensado que “box”, em inglês, se relacionava mesmo com o “Büchse”
[“receptáculo”] em alemão, e que depois fora atormentada pela lembrança de
que “Büchse” é empregado como termo vulgar para designar os órgãos genitais
femininos. Fazendo uma certa concessão aos limites de seus conhecimentos de
anatomia topográfica, poder-se-ia presumir, portanto, que a criança que jazia na
caixa significava um embrião no útero. Após ter sido esclarecida quanto a esse
ponto, ela não mais negou que a imagem onírica correspondesse a um desejo
seu. Interpretação: Como tantas jovens casadas, ela não ficara nada satisfeita
ao engravidar, e, mais de uma vez, tinha-se permitido desejar que a criança que
trazia no ventre morresse. De fato, num acesso de cólera após uma cena
violentacom o marido, ela batera com os punhos cerrados no próprio corpo para
atingir a criança lá dentro. Dessa forma, a criança morta era de fato a realização
de um desejo, mas de um desejo que fora posto de lado quinze anos antes.
Dificilmente se pode ficar admirado com o fato de um desejo realizado após uma
demora tão prolongada não ser reconhecido. Muitas coisas haviam mudado
nesse intervalo.
6- RELATO DE UM SONHO COM A INTERPRETAÇÃO DADA, ACRESCENTANDO
MINHA INTERPRETAÇÃO.
6.1-O SEGUNDO SONHO DE DORA (FREUD, OBRAS PSICOLÓGICAS COMPLETAS
-VOLUME VII).
Algumas semanas depois do primeiro sonho ocorreu o segundo, com cuja
resolução interrompeu-se a análise. O estado anímico de Dora, preencheu uma
lacuna de sua memória e permitiu obter um profundo conhecimento da gênese
de outro de seus.
“Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças
que me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até
meu quarto e ali encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de
casa sem o conhecimento de meus pais, ela não quisera escrever-me que papai
estava doente. `Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir.’ Fui então para a
estação [Bahnhof] e perguntei umas cem vezes: `Onde fica a estação?’ Recebia
sempre a resposta: `Cinco minutos.’ Vi depois à minha frente um bosque
espesso no qual penetrei, e ali fiz a pergunta a um homem que encontrei. Disse-
me: `Mais duas horas e meia.’ Pediu-me que o deixasse acompanhar-me.
Recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente e não conseguia alcança-la. Aí
me veio o sentimento habitual de angústia de quando, nos sonhos, não se
consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter
viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por
nossa casa. A criada abriu para mim e respondeu: `A mamãe e os outros já
estão no cemitério [Friedhof]’”.
Carta despedida Dora; A cena do Lago; O pai morto sem repressão
…Com isso chegamos ao conteúdo da carta no sonho. O pai estava morto e ela
saíra de casa por seu próprio arbítrio. A partir dessa carta, relembrei
prontamente a Dora a carta de despedida que ela escrevera aos pais, ou que
pelo menos fora composta para eles . Essa carta se destinava a dar um susto no
pai para que ele desistisse da Sra. K., ou pelo menos a se vingar dele, caso não
fosse possível induzi-lo a isso. Estamos diante do tema da morte dela ou da
morte do pai (cf. cemitério, mais adiante no sonho). Acaso estaremos no
caminho errado ao supor que a situação constitutiva da fachada do sonho
correspondia a uma fantasia de vingança contra o pai? ...De onde proviria a
frase “se você quiser”? A propósito disso ocorreu a Dora o adendo de que,
depois da palavra “quiser”, havia um ponto de interrogação, e com isso ela
também reconheceu essas palavras como uma citação extraída da carta da Sra.
K. que contivera o convite para L (o lugar junto ao lago). De maneira
estranhíssima, após a intercalação “se você quiser vir”, havia nessa carta um
ponto de interrogação colocado bem no meio da frase.
Assim, estamos outra vez de volta à cena do lago e aos enigmas ligados a ela.
Pedi a Dora que me descrevesse essa cena minuciosamente...Mal compreendeu
do que se tratava, deu-lhe uma bofetada no rosto e se afastou às pressas. Eu
queria saber que palavras ele empregara, mas Dora só se lembrou de uma de
suas alegações: “Sabe, não tenho nada com minha mulher.” Naquele momento,
para não tornar a encontrá-lo, ela quisera voltar para L contornando o lago a pé,
e perguntou a um homem com quem cruzou a que distância ficava. Ante a
resposta “duas horas e meia”, desistiu dessa intenção e voltou em busca do
barco, que partiu logo depois. O Sr. K. também estava lá novamente,
aproximou-se dela e lhe pediu que o desculpasse e não contasse nada sobre o
incidente. ...O pai estava morto e os demais já tinham ido para o cemitério. Ela
podia ler calmamente o que bem lhe aprouvesse. Não significaria isso que uma
de suas razões para a vingança era também a revolta contra a coerção exercida
pelos pais? Se seu pai estivesse morto, ela poderia ler ou amar como quisesse.
A governanta do Sr.K e a última seção de Dora
Agora conheço o motivo daquela bofetada com que você respondeu à proposta
do Sr. K. Não foi a afronta pela impertinência dele, mas uma vingança por
ciúme. Quando a mocinha lhe contou sua história, você ainda pôde valer-se de
sua arte de pôr de lado tudo o que não convinha a seus sentimentos. Mas no
momento em que o Sr. K. usou as palavras “Não tenho nada com minha
mulher”, que ele também dissera à senhorita, novas emoções foram despertadas
em você e fizeram pender a balança. Você disse a si mesma: “Como se atreve
ele a me tratar como uma governanta, uma serviçal?” A esse orgulho ferido
somaram-se o ciúme e os motivos de prudência conscientes: definitivamente,
era demais. Para provar o quanto você ficou impressionada com a história da
governanta, relembro suas repetidas identificações com ela no sonho e em sua
própria conduta. Você contou a seus pais, o que até aqui não havíamos
compreendido, tal como a moça escreveu aos pais dela. Está-se despedíndo de
mim como uma governanta, com um aviso prévio de quatorze dias. ...Você
compreendeu muito bem a pobre moça. Ela não queria ir-se de imediato porque
ainda tinha esperanças, porque esperava que o Sr. K. voltasse a lhe dar sua
ternura. Esse deve ter sido também o seu motivo. Você aguardou esse prazo
para ver se ele renovaria suas propostas; daí teria concluído que ele estava
agindo a sério, e que não queria brincar com você como fizera com a
governanta....Será que não pensou que ele queria divorciar-se da mulher para
se casar com você.... As relações entre seu pai e a Sra. K., que provavelmente
você só apoiou por tanto tempo por causa disso, davam-lhe a certeza de que se
conseguiria o consentimento da mulher para o divórcio, e com seu pai você
consegue o que quer. Na verdade, se a tentação em L houvesse tido outro
desfecho, essa teria sido a única solução possível para todas as partes. Penso
também que por isso você lamentou tanto o outro desenlace e o corrigiu na
fantasia que se apresentou como uma apendicite. Assim, deve ter sido uma
grande decepção para você que, em vez de uma proposta renovada, suas
acusações tenham tido como resultado as negativas e as calúnias do Sr. K. Você
admite que nada a enfurece mais do que acreditarem que você imaginou a cena
do lago . Agora sei do que é que não quer ser lembrada: é de ter imaginado que
a proposta estava sendo feita a sério e que o Sr. K. não desistiria até que você
se casasse com ele.
6.2-COMPLEMENTO DA INTERPRETAÇÃO DE FREUD REALIZADA BASEADO NA
DISCUSSÃO DO CASO.
“`Onde fica a estação?’ Recebia sempre a resposta: `Cinco minutos.’”.
Esta frase está cheia de sentido transferencial de Dora para com Freud. Onde
fica a estação, é a busca de Dora responder aos seus anseios e
questionamentos. O papel de Freud que posteriormente ele diz “Será que eu
poderia ter conservado a moça em tratamento, se tivesse eu mesmo
representado um papel, se exagerasse o valor de sua permanência para mim e
lhe mostrasse um interesse caloroso que, mesmo atenuado por minha posição
de médico, teria eqüivalido a um substituto da ternura por que ela ansiava?” ,
porém este é o lado negativo da transferência. Posteriormente Freud reconhece,
“Assim, fui surpreendido pela transferência e, por causa desse “x” que me fazia
lembrar-lhe o Sr. K., ela se vingou de mim como queria vingar-se dele, e me
abandonou como se acreditara enganada e abandonada por ele.”
Aí Dora no sonho se refere aos “Cinco minutos”, que eu posso associar com os
“cinquenta minutos da análise”.
7- APRESENTE UM SONHO DE UM PACIENTE OU DE UMA PESSOA CONHECIDA
DANDO UMA INTERPRETAÇÃO.
Como nós sabemos, os sonhos isoladamente, não autoriza ao psicanalista a
fazer um diagnóstico e menos ainda a instituir um tratamento. Só em mãos
bastante destras, tornam-se eles capazesde oferecer índices proveitosos e de
revelar alguma coisa mais que a simples análise de um sonho comum. Porém,
nos foi solicitado uma interpretação e com este objetivo vos apresento o relato
que se segue.
Na aula do dia 23/03/2001 com o Professor Heitor, uma colega relatou um
sonho na sala de aula, na presença de todos os alunos. O sonho era repetitivo e
tinha acontecido a um tempo atrás quando a sua mãe tinha morrido, porém ela
não conseguia interpretar este sonho até o momento. “ Minha mãe tinha morrido
. Ela estava no meio das nuvens, feliz, dançando e dizia que era um lugar bom e
me chamava. Eu estava lá embaixo, como se fosse o fim de uma escada. Eu não
queria ir.” Neste instante a minha colega fez um gesto com a mão dizendo “não”
junto com sua voz e negativa.
O professor ouviu seu sonho e emitiu um comentário de que provavelmente, no
seu sonho a mãe na realidade não era sua mãe e deu prosseguimento a aula. A
partir deste momento eu disse, vou interpretar este sonho. Comecei a pensar,
porque a “mãe” no seu sonho estava “feliz” ? Qual a necessidade da colega ter
de reforçar o “não queria ir” com gestos marcantes ? Qual o objetivo da escada
ou caminho?
Pensei e veio uma percepção clara e objetiva sobre os meus questionamentos.
No intervalo, procurei a colega, tocando no seu ombro. Ela virou-se com
surpresa, nós não nos conhecíamos (só de vista). Neste instante eu falei, “ você
poderia me dar um minuto, eu interpretei o seu sonho.” Chamei no lugar mais
reservado, sem ninguém ao redor e expliquei que estava estudando e lendo A
Interpretação dos Sonhos de Freud (e discutindo o caso Dora). Solicitei que caso
a interpretação não fosse lógica, pois não tinha sua anaminese nem a conhecia,
poderia não levar em conta a minha interpretação, mas que no meu conceito o
sonho estava esclarecido.
Eu disse então na interpretação :“Você tinha um desejo de suicídio”.
No início ela ficou calada, “surpresa” e tive a percepção de alguma resistência.
Porém logo em seguida se emocionou enchendo os olhos com lágrimas que não
chegaram a cair, me confirmou e falou “ realmente faz sentido, na época além
de minha mãe morrer, eu estava me separando do meu marido. Provavelmente,
tivesse realmente ter sentido esta emoção e o desejo.” Neste instante me senti
bem por ter ajudado uma pessoa a decifrar e resolver algo que estava lhe
incomodando no seu inconsciente e que ela “não sabia o que era”.
A minha interpretação partiu do seguinte raciocínio: A morte era uma coisa boa
pois a sua mãe, ou alguém (quem sabe ela mesma) estava feliz apesar da
morte. O caminho estava traçado. O seu sentimento olhando e dizendo “não”
com gestos marcantes, tinha um sentido, “um afeto” muito forte como se
estivesse sendo “gratificada” com a situação, ou seja ... dizendo “sim”.
8. APRESENTE UM SONHO SEU COM A DEVIDA INTERPRETAÇÃO.
8.1- UM SONHO QUE EU TIVE COM A MINHA INTERPRETAÇÃO.
Quando eu tinha 16 anos, estava cursando o 3ºano do 2ºgrau e estudava para o
vestibular de Engenharia. Gostava bastante de Física e Matemática, e em uma
noite estava resolvendo questões relativa a estas matérias. Em determinado
momento me senti cansado, fato que foi agravado devido a tentativa de não
conseguir resolver uma questão. Resolvi dormi e acordar cedo para continuar
estudando.
De repente me vejo tentando resolver a questão, porém não conseguia, tentava
novamente e não conseguia, tentava, tentava, tentava. Comecei a achar
estranho pois nunca tinha tentado tanto e não conseguia resolver. Tudo
começou a parecer um pesadê-lo, um mal estar geral tomou conta de mim. Em
determinado instante…. acordei ! É, tinha sonhado, tive um sonho “com o resto
do dia” , continuando algo que não tinha finalizado. Algo que era importante
para mim, o vestibular. A questão foi a sintetização deste desafio (vestibular) e
a minha meta era de superá-lo.
Quando acordei de madrugada, busquei retomar e resolver a questão. Resolvi e
fui dormir novamente, mas agora sem este peso do desafio não resolvido. O
sono neste instante foi agradável e tranquilo. Há, no fim do ano, passei no
vestibular na Ufba, para Engenharia Mecânica, e agora…um Psicanalista em
Formação.
9-O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS E AS ORIGENS DOS NOMES.
Vamos fazer uma referência aos símbolos, agora Freud adverte : o significado
dos símbolos deve ser somente utilizado como um método auxiliar. As
associações do paciente com o elemento onírico (sonho) determina a preferência
em todos os casos, a interpretação correta só pode ser alcançada, em cada
ocasião. Os elementos podem ser modificados inclusive demonstrando ser o
oposto, devemos sempre investigar o contexto.
Muitas vezes, um símbolo tem de ser interpretado em seu sentido próprio, e não
simbolicamente, ao passo que, em outras ocasiões, o sonhador pode tirar de
suas lembranças particulares o poder de empregar como símbolos sexuais toda
sorte de coisas que não são comumente empregadas como tal.
9.1-O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS.
- Sentimento convicto de que já se esteve em um lugar antes: esses lugares
são, invariavelmente, os órgãos genitais da mãe de quem sonha.
- Atravessar espaços estreitos ou estar na água: baseiam-se em fantasias da
vida intra-uterina, da existência no ventre e do ato do nascimento.
- Morte de um ente querido: desejo de que a pessoa em questão venha a
morrer.
- Sonhos de estar despido: sonhos de exibição.
- Reis, príncipe, princesa ou personalidades: pais do sonhador.
- Chama (fogo), gravata, meninos pequenos, cobra, peixe, caracol, rato, aviões,
foguetes, número 3,edificios, torres, igrejas, monolito, mirantes, armas (facas,
espadas, etc..), objetos que expelem líquidos (torneiras, fontes, etc..), lâmpadas
que pendem do teto, batom extensível, telescópios, antenas de automóvel, lápis,
canetas, lixas de unhas, foguetes, balões, papagaios, pássaros, cogumelo, trevo
de quatro folhas : símbolo sexual masculino, penis.
- Estojos, caixas, estufas, cavernas, paisagens, bosques, barcos, habitações,
máquinas, aparelhos, chapéu ou agasalho feminino, peles, moitas, grupo de
árvores, barba, portas, “O” zero, “doce”, “pote de mel”, “gatinha”, caracóis,
gato, jóias, boca, ferradura, coroa, covas, vasos, garrafas, bolsos, sapatos,
chinelos, lareira : corpo feminino, ou seu órgão sexual.
- Várias habitações : harém ou lugar de prostituição.
- Duas habitações : teoria infantil da cloaca ( quando o menino supõe que o
órgão sexual feminino se confunde com o ânus).
- Subindo ou descendo uma escada : ato sexual
- Paredes e muros lisos pelos quais subimos: lembrança infantil de subir pelas
pernas dos pais.
- Muros lisos : homens.
- Mesas, tábuas e madeira: mulheres
- Cama e mesa ; ato de comer alimentos: matrimonio.
- Brincar com crianças pequenas, dar-lhes golpes, acariciá-las, etc.…:
masturbação
- Calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação : complexo
de castração.
- Lagartixa, quando um dos símbolos penianos aparecem mutilados: medo
preventivo da castração.
- Animais pequenos e parasitas: irmãozinhos pequenos que vieram perturbar
com o seu nascimento.
- Número 9,Corpo invadido por parasitas, tumor, canguru, gambá, vaca,
hipopótamo, camelo : gravidez
- O caminho direito: deve seguir
- O caminho esquerdo, urinar sobre uma fogueira, fantasia da falta de lactação:
homossexualidade, incesto.
- Animais selvagens: instintos ou paixões perversas.
- Loteria (um estado de felicidade de curta duração): casamento
- Água : símbolo de gente, multidões.
- Serpentes enroscada: grandes fezes.
- Órgãos sexuais: o próprio sonhador com uma visão pejorativa.
- Armários, fogões, quartos: útero.
- Maçãs, pêras, frutas, irmãos : nádegas.
- Irmãs: seios.
- Roupas íntimas e roupas brancas, flores, : símbolos femininos.
- Abacaxi: seio negado.
- Banana: natureza fálica.
- Planos, mapas, gráficos, diagramas: corpo humano com os órgãos genitais.
- Bagagem: encargo de família.
- Tocar piano, escorregar, desfolhar um galho, número5: masturbação.
- Dançar, cavalgar, subir ou descer escadas, portas estreitas, escadas altas e
íngremes: relações sexuais.
- Ser atropelado, experiências violentas: ameaça com armas.
- Ser machucado, surrado, torturado, baleado, crucificado, assassinado:
sadomasoquismo.
- Ouro, ovos: fezes.
- Dinheiro: amor ou pagamento para fazer sexo.
- Aranhas : mãe fálica.
- Nadar: na infância urinava na cama.
- Lugar que acredita já ter estado ali: órgãos sexuais da mãe do sonhador.
- Palidez, viagem, emudecimento, esconder-se, vazio, escuridão, feiúra,
desordem, sujeira, excrementos secos de animais: morte
- Viagem: lua-de-mel.
- Viagem ao desconhecido: processo de psicanálise.
- Desejo de matar ou de suicídio: cuidado um sentimento forte de matar ou
morrer.
- Placa de veículos: ano do evento.
- Roupas e uniformes: nudez.
- Ônibus: conduz outras pessoas da família ao analista.
- Mártir, santos, demônios : sua neurose.
- Olhar no espelho: olhar para si mesmos.
9.2- ORIGENS DOS NOMES
A
- Abílio: do Latim o significado "apto, capaz", do grego "aquele que é incapaz da
vingança".
- Adalberto: do Teutônico "notório fulgurante", este nome apresenta muitas
variações, como
Alberto, Etelberto, Oberto.
- Adão: do Hebreu "homem feito de argila vermelha.
- Adelaide: do Teutônico "de linhagem nobre".
- Ademar: do Teutônico "glorioso guerreiro".
- Adolfo: do Teutônico "nobre lobo".
- Afonso: do Teutônico "guerreiro de ânimo combativo".
- Agostinho: do Latim "da família dos Augustos".
- Alan: do Gaelico "gracioso agradável".
- Alessandro(a): variante Italiana de Alexandre.
- Alexandre(a): do Elenico "protetor e defensor do genero humano".
- Alice : do Grego "verídica, autêntica".
- Álvaro: do Teutônico "o que a todos esta atento".
- Amélia : do gótico "trabalhadora".
- Ana: do Hebreu "cheia de graça", "que tem compaixão, clemência".
- Anderson: do inglês "filho de André".
- André: do grego "másculo, varão".
- Angélica: do latim "como um anjo, pura".
- Antônio: provavelmente de origem etrusca, seu significado perdeu-se no
tempo.
- Aparecida: homenagem à virgem Maria,que apareceu nas águas de um rio.
- Arlete: do celta "garantia, penhor".
- Augusto: do latim "O venerado", "O sublime", "O máximo".
B
- Baltasar: do Hebraico "Que o deus Baal proteja o rei".
- Bárbara: palavra usada na antiguidade para designar os que não pertenciam
ao império greco-romano".
- Basílio: do grego "Rei".
- Batista: do grego "aquele que batiza".
- Beatriz: do latim "bem - aventurada".
- Benedito: do latim "bendito", "abençoado".
- Benjamim: do hebraico "filho da mão direita".
- Bianca: do Teutônico "branca".
- Bruno: do germânico "luminoso, brilhante".
C
- Caio: do latim "feliz, alegre".
- Cândido(a): do latim "puro, alvo".
- Carina: do grego "gracioso, engraçado".
- Carlos(Carla): do latim "homem, viril".
- Carol: variedade de Carlos.
- Cássio(a): do latim "distinto, ilustrado, sábio".
- Catarina: do grego "pura, imaculada".
- Cecília: do etrusco "cega, ceguinha".
- Cíntia: do latim "natural de Cinto".
- Clara: do latim "brilhante, luzente, ilustre".
- Cláudio(a): do latim "coxo, manco".
- Clóvis: do teutônico "guerreiro famoso".
- Cremilda: do germânico "que planeja com capacete".
- Cristiano(a): do grego "Seguidor de Cristo"
D
- Dácio: do helênico "antiga região localizada ao norte do Danúbio".
- Daniel: do hebraico "Deus é meu juiz".
- Davi(d): do hebraico "amado, respeitado".
- Débora: do hebraico "abelha".
- Dirce: do helênico "fonte, água turva".
- Dora: do helênico "Dádiva, presente".
- Douglas: do escocês "rio preto, água escuro".
- Dulce: do latim "doce, tenra, meiga".
E
- Edelina: do alemão "bem humorada".
- Edgard: do alemão "próspero".
- Edson: do inglês "filho de Eduardo".
- Elaine: do inglês “filho de Helena”
- Eli: do hebraico "Jeová".
- Elias: do hebraico "Meu Deus é Jeová".
- Elizabeth: do hebraico "consagrada por Deus".
- Elza: do alemão "a nobre virgem".
- Erica: do norueguês "constantemente possante".
- Estela: do latim "estrela".
- Ezequiel: do hebraico "força de Deus".
F
- Fabiano(a): do latim "fava que cresce".
- Fábio: do latim "fava".
- Fabricio: do latim "o operário, o fabricante".
- Fátima: do árabe "donzela esplendida".
- Fernando(a): do alemão "inteligente, protetor".
- Filipe: "aquele que gosta de cavalos".
- Flávio(a): do latim "louro, cor de ouro".
- Francisco: do latim "francês".
G
- Gabriel: do hebraico "força de Deus".
- George: do grego "agricultor".
- Geraldo(a): do alemão "nobre através da lança".
- Gerson: do hebraico "estrangeiro, peregrino".
- Gilberto(a): do alemão "famoso com a flecha".
- Gisela(e): do alemão "garantia, penhor".
- Guilherme: do alemão "protetor, defensor".
- Gustavo: do sueco "bastão de combate".
H
- Hamilton: do inglês "de aparência orgulhosa".
- Hebe: do grego "juventude, mocidade".
- Heitor: do grego "mantenedor da vitória".
- Helena: do grego "tocha, luz, luminosa".
- Hélio: do grego "sol".
- Heloísa: variante de Luiza.
- Henrique: do alemão "príncipe, poderoso".
- Honório: do latim "que inspira honra".
- Horácio: do latim "visível, evidente".
- Hortênsia: do latim "horticultor".
- Hugo: do alemão "pensamento, espirito, razão".
- Humberto: do alemão "espirito brilhante".
I
- Iara: do tupi "Senhora, dona das águas".
- Ieda: do hebraico "favo de mel".
- Igor: do russo "filho famoso, defensor".
- Inácio: do latim "ardente, fogoso".
- Inês: do grego "pura, casta".
- Iolanda: do grego "violeta, roxo".
- Íris: do grego "anunciar".
- Ivã: do búlgaro "O glorioso".
J
- Jacinto: do grego "nome de uma pedra preciosa".
- Jaime: do espanhol "variedade popular de Jacó."
- Janaína: do tupi-africano "sinônimo de Iemanjá".
- Jerônimo: do grego "nome sagrado ou santo".
- Jéssica: do hebraico "Deus é a salvação".
- Jesus: do hebraico "Deus é a salvação".
- Juca: forma diminutiva de José.
- Juliano(a): do latim "que pertence a Júlio".
- Julieta: diminutivo de Júlia.
- Júlio: do latim "cheio de juventude", do grego "de cabelos pretos, cabelos
macios".
K
- Kelly: do irlandês "donzela guerreira."
- Kelvin: do inglês "amigo", do gaélico "rio estreito".
L
- Laís: do grego "a democrática", do hebraico "a leoa".
- Lauro: do latim "vitória, louvor".
- Leandro: do grego "homem-leão".
- Leda: do latim "alegre, contente, jovial, risonha".
- Leonardo: do alemão "homens fortes, forte como o leão".
- Leonel: do francês "leão novo, filhote de leão".
- Leopoldo: do alemão "povo audacioso".
- Letícia: do latim "alegria".
- Lídia: do grego "irmã".
- Lilian :do latim "lírico".
- Lucas: do latim "luminoso".
- Luciano(a): forma derivada de Lúcio.
- Luis(a): do alemão "guerreiro famoso, glorioso".
- Lurdes: do basco "altura escarpada".
M
- Madalena: do hebraico "cidade de torres, cabelos penteados".
- Manuel(a): do hebraico "Deus está conosco".
- Mara: do hebraico "amargosa"
- Marcelo(a): do latim "proveniente de marte".
- Márcio(a): do latim "nome que se envoca Júpiter".
- Marcos: do latim "o grande orador".
- Maria: do hebraico "amargura, mágoa, soberana".
- Mário: do alemão "homem por excelência".
- Maristela: do latim "estrela do mar".
- Marta: do aramaico "senhora".
- Mateus: do hebraico "dádiva de Deus".
- Maurício(a): derivado de Mauro.
- Mauro: do latim "Mouro da Mauritânia".
N
- Nadir: do árabe "vigilante".
- Nair: do árabe "a luminosa".
- Neide: do grego "nadadora".
- Nelson: do inglês "filho de campeão".
- Neusa: do grego "a nadadora".
- Nilton: do inglês "de um novo local".
- Nuno: do latim "pai, avô, peixe".
O
- Odair: o mesmo que Adail.
- Ofélia: do grego "serpente".
- Olga: do nórdico arcaico "santa, sacra".
- Olinda: do latim "cheirosa, odorosa".
- Olívia: do latim "a oliveira, a azeitona".
- Osmar: do anglo saxão "ilustrado pelos deuses".
P
- Paloma: do espanhol "terra das palmeiras".
- Pamela: do grego "doçura".
- Paulo: do latim "pouco, pequeno".
- Pedro: do latim "pedra".
- Priscila(o):do latim "velha antiga".
Q
- Quirino: do latim "lanceiro guerreiro".
- Quixote: do espanhol "peça de arnês destinada a cobrir a coxa".
R
- Rafael(a): do hebraico "curado por Deus".
- Raimundo(a): do gótico "protetor poderoso".
- Raul: do inglês "combatente".
- Regina: do latim "rainha".
- Reinaldo: do alemão "variante de Reginaldo".
- Renato: do latim "renascido".
- Ricardo: do alemão "poderoso, senhor".
- Rita: do italiano "forma popular de margarida".
- Rodrigo: do alemão "famoso pela glória".
- Rosa: do latim "designa a flor".
- Rosana: do inglês "rosa graciosa".
- Rui: do alemão "forma apocopada de Rodrigo".
S
- Sabrina: do latim "antigo povo itálico".
- Salomão: do hebraico "prosperidade".
- Samanta: do aramaico "ouvinte".
- Samuel: do hebraico "ouvido por Deus".
- Sandra: forma reduzida de Alessandra".
- Sebastião: do grego "sagrado, reverenciado".
- Silvana(o): do latim "das selvas".
- Sílvia(o): do latim "da selva".
- Solange: do francês "solene, majestosa".
- Soraia: do árabe "estrela da manhã".
T
- Tadeu: do aramaico "o corajoso".
- Talita: do aramaico "menina, donzela".
- Tarcísio: do grego "confiança, coragem".
- Teresa: do grego "ceifeira, caçadora".
- Tiago: forma vernácula de Jacó.
- Túlio: do latim "levar, levantar".
U
- Ulisses: do grego "o irritado, o colérico".
- Urbano: do latim "civilizado, bem educado".
V
- Vágner: do alemão "aquele que faz vagões".
- Valesca: do eslavo "soberana, gloriosa".
- Valter: do alemão "comandante do exército".
- Vanessa: nome ligado a borboletas.
- Vera: do latim "verdadeira, primavera".
- Vitor: do latim "triunfo, vitória".
W
- Wilson: do inglês "filho de William".
- Wilton: do inglês "fazenda da primavera".
X
- Xavier: do espanhol "casa nova".
Y
- Yara: variante de Iara.
- Yuri: do russo "correspondente a Jorge".
Z
- Zacarias: do hebraico "o lembrado de Deus".
- Zélia: do grego "bela".
- Zuleica: do persa "estrela de ouro".
10-BIBLIOGRAFIA
FREUD, SIGMUND A Interpretação dos Sonhos, Edição C. 100 anos, Imago-
RJ.1999
FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas versão 2.0
Volume VII - O quadro clínico,o primeiro sonho,o segundo sonho,posfácio.
Volume VI - Determinismo, crença no acaso e supertição – alguns pontos de
vista.
A dinâmica da transferência.
Volume XIV- A história do movimento psicanalítico.
Volume XIV- Sobre o narcisismo : uma introdução.
SILVA, Dr. HEITOR ANTONIO DA Interpretação de Sonhos. Isbn.RJ.2000
LAPLANCHE E PONTALIS, Vocabulário da Psicanálise – Martins Fontes, SP-2000
NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000
INTERNET -http:// www.epoca.com.br/edic/ed190499/almana.htm
Introdução A interpretação dos sonhos- Freud
INTERNET -
http://www.comciencia.br/reportagens/psicanalise/frameset/silsai.htm
Sonho, o despertar de um sonho
Pré-história do sonho

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