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1 Transformando seus sonhos em Nomeação APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL Profª Malu Aragão O Curso Prime disponibiliza para você esta Excelente Apostila desenvolvida pela nossa professora Malu Aragão, Aproveite! 2 1. Constituição da República Federativa do Brasil. Emendas Constitucionais e Emendas Constitucionais de Revisão. Princípios Fundamentais. Para entender melhor sobre as emendas constitucionais, é necessário estudar a cerca do Poder Constituinte. Por ser um tema doutrinário, citaremos alguns artigos esparsos do texto constitucional para exemplificar os institutos. 1.0. CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE E TITULARIDADE. É o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, é a manifestação soberana da vontade política de um povo, social e juridicamente organizado. Para a doutrina moderna a titularidade do poder constituinte pertence ao povo, embora seja exercido ou por uma assembleia nacional constituinte (convenção) ou outorgada por um movimento revolucionário. Vale lembrar que o abade Emmanuel Joseph Sieyès, que traçou as linhas mestras da Teoria do Poder Constituinte através da sua obra "¿Que é o terceiro Estado?” (“Quést-ce que le tiers État?”), apontava como titular do poder constituinte a nação. A Constituição da República Federativa do Brasil é a Lei Maior, que está hierarquicamente acima de todas as outras normas do ordenamento jurídico brasileiro. Por exemplo, o Código Penal, o Código Civil e a lei nº 8.666/93 são normas infraconstitucionais, estão abaixo da Constituição Federal. 2.0. ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE. 2.1. Originário (inicial, inaugural, genuíno, instituidor, ou de 1º grau). Instaura um novo Estado, organizando-o, rompendo por completo com a antiga ordem jurídica. Tanto haverá poder constituinte no surgimento de uma primeira constituição, quanto na elaboração de qualquer constituição posterior. Pode ser subdividido em histórico (o primeiro) ou revolucionário (todos os posteriores ao histórico) e caracteriza-se por ser inicial, já que a sua obra, a constituição, é a base da ordem jurídica, por ser ilimitado juridicamente e autônomo porque não está de modo algum limitado pelo direito anterior, não tendo que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor, por ser incondicionado, pois não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade e por ser permanente porque não desaparece com a realização de sua obra, continua latente, manifestando-se novamente mediante uma nova assembleia nacional constituinte ou um ato revolucionário. Embora o Brasil tenha adotado a corrente positivista, onde nem mesmo o direito natural limitaria o poder constituinte originário contrapondo-se a corrente jusnaturalista, destaca-se entre a doutrina moderna a visão de Canotilho, o qual observa que o poder constituinte originário “... obedece a padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, éticos e sociais, radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta medida, considerados como ‘vontade do povo’”. 2.2. Derivado (instituído, constituído, secundário, ou de 2º grau ou remanescente). Está inserido na própria constituição, pois decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional (poder constituinte originário), portanto conhece limitações constitucionais expressas e implícitas e é passível de controle de constitucionalidade. Caracteriza-se por ser derivado, uma vez que retira sua força do poder constituinte originário, por ser subordinado, pois se encontra limitado pelas normas 3 explícitas e implícitas do texto constitucional e por ser condicionado, porque seu exercício deve seguir regras previamente estabelecidas no texto da constituição federal. Subdivide-se em: Poder constituinte derivado revisor (competência de revisão), Poder constituinte derivado reformador (competência reformadora) e Poder constituinte derivado decorrente. 2.2.1. Poder Constituinte Derivado Reformador. Emendas Constitucionais. Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional, respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria constituição federal (norma originária) e será exercitado por determinados órgãos com caráter representativo. A Carta de Outubro prevê em seu artigo 60, a única maneira de se modificar formalmente as normas constitucionais originárias, vejamos: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º – A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º – A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º – A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. § 5º – A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. O legislador constituinte de 1988, ao prever a possibilidade de alteração das normas constitucionais por meio de um processo legislativo especial e mais dificultoso que o ordinário, definiu nossa Constituição como rígida, fixando a ideia de supremacia da ordem constitucional. A emenda à Constituição Federal, enquanto “proposta”, é considerada um ato infraconstitucional sem qualquer normatividade, só ingressando no ordenamento jurídico após sua aprovação, passando então a ser preceito constitucional, de mesma hierarquia das normas constitucionais originárias. A Constituição Federal traz duas espécies de limitações ao Poder de reformá-la: as limitações expressas e implícitas. As limitações expressamente previstas no texto constitucional, por sua vez, subdividem-se em três subespécies: circunstanciais (art. 60, §1º), materiais (art. 60, §4º) e formais (Art. 60, §§ 2º, 3º e 5º); Enquanto os limites implícitos do poder de reforma, que derivam dos limites expressos, dividem-se em dois grupos: as normas sobre o titular do poder constituinte reformador e as disposições relativas à eventual supressão das limitações expressas. Agora, vamos estudar as fases do processo de aprovação das emendas constitucionais, que são chamadas de LIMITAÇÕES FORMAIS. 4 A fase introdutória diz respeito a iniciativa dessa proposta e, nos termos do artigo 60 da Constituição Federal vigente, especifica os legitimados a apresentar uma PEC (proposta de emenda constitucional), que são: um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, o Presidente da República e mais da metade das Assembleias legislativas das Unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. É bom frisar que o rol dos legitimados para a iniciativa de uma proposta de emenda constitucional é taxativo. Ressalte-se que o professor Pedro Lenza defende a possibilidade de proposição popular, por considerar que o titular do poder constituinte é o Povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88). Tese não acolhida pela jurisprudência pátria. Em regra, a fase constitutiva possuia deliberação parlamentar e a deliberação executiva. Na deliberação parlamentar, a proposta é aprovada no Congresso Nacional. Já a deliberação executiva ocorre no Poder Executivo, podendo o chefe do Executivo sancionar ou vetar a proposição. No caso das emendas constitucionais, é diferente, pois são aprovadas com quorum qualificado, em dois turnos, em cada casa do Congresso Nacional (vê parágrafo 2º, do artigo 60), evidenciando que a Constituição Federal atual adotou um modelo rígido de mudança de suas normas, diferente das normas infraconstitucionais, que são aprovadas com quorum menor e em único turno. Importante dizer que no processo legislativo de emendas constitucionais não existe a deliberação executiva, pois não existe participação do Presidente da República na fase constitutiva, uma vez que não existe sanção ou vento à emenda constitucional. Outra peculiaridade das emendas constitucionais é a impossibilidade de ser reapresentada na mesma sessão legislativa (vê artigo 57 da CF/88), como está prevista no parágrafo 5º do mesmo dispositivo. Na fase complementar ocorre a promulgação e a publicação. Promulgar é atestar a existência de uma norma e dizer: cumpra-se! A autoridade que possui competência para promulgar e publicar as leis é o Presidente da República, nos termos do artigo 84, IV. No entanto, no caso de emendas constitucionais, a promulgação e publicação é atribuição do Poder Legislativo, conforme o parágrafo 3º, do supra mencionado artigo. Existem também as LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS, que impedem que a norma constitucional seja emendada durante uma crise institucional, ou seja, na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (vê parágrafo 1º). Por fim, destacam-se as LIMITAÇÕES MATERIAIS. Tais matérias formam o núcleo intangível da Constituição Federal, denominado tradicionalmente por “cláusulas pétreas”, que não podem ser abolidos por emenda constitucional. No que tange aos direitos e garantias individuais, o rol não é taxativo, uma vez que os mesmos estão estabelecidos em toda a Constituição Federal, de forma explícita e implícita (art. 5º, §2º, da CF/88). Tem-se, ainda, que tais direitos podem até ser restringidos, desde que não haja ofensa ao núcleo essencial do direito, segundo a exegese dogmática atual (Teoria do limite dos limites). Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: (...) O princípio da proporcionalidade constitui um critério de aferição da constitucionalidade das restrições a direitos fundamentais. Trata- se de um parâmetro de identificação dos denominados limites dos limites (Schranken-Schranken) aos direitos fundamentais; um postulado de proteção de um núcleo essencial do direito, cujo conteúdo o legislador não pode atingir. Assegura-se uma margem de ação ao legislador, cujos limites, porém, não podem ser ultrapassados. O princípio da proporcionalidade permite aferir se tais limites foram transgredidos pelo legislador”. (...). (STF ADC 29/DF, de 2012). 2.2.2. Poder Constituinte Derivado Revisor. Emendas Constitucionais de Revisão. Esse poder está vinculado ao Poder Constituinte Originário e foi estabelecido no artigo 3º. do ADCT, que reza: 5 “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”. Desta competência, que adotou um procedimento simplificado, surgiram 6 (seis) Emendas Constitucionais de Revisão, valendo destacar que a resolução nº 1-RCF do Congresso Nacional fixou as mesmas limitações materiais (cláusulas pétreas) do artigo 60, §4º, da CF/88 (que trataremos no item 2.2.2) Dito poder não poderá mais se manifestar em razão da eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da regra constitucional. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 1 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, DE 18.11.1993, QUE DISPÕE SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS TRABALHOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL E ESTABELECE NORMAS COMPLEMENTARES ESPECIFICAS. AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA PELO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA. ALEGAÇÕES DE OFENSA AO PARÁGRAFO 4. DO ART. 60 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EIS QUE O CONGRESSO NACIONAL, PELO ATO IMPUGNADO, "MANIFESTA O SOLENE DESIGNIO DE MODIFICAR O TEXTO CONSTITUCIONAL", MEDIANTE "'QUORUM' DE MERA MAIORIA ABSOLUTA", "EM TURNO ÚNICO" E "VOTAÇÃO UNICAMERAL". SUSTENTA-SE, NA INICIAL, ALÉM DISSO, QUE A REVISÃO DO ART. 3. DO ADCT DA CARTA POLÍTICA DE 1988 NÃO MAIS TEM CABIMENTO, POR QUE ESTARIA INTIMAMENTE VINCULADA AOS RESULTADOS DO PLEBISCITO PREVISTO NO ART. 2. DO MESMO INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL TRANSITORIO. "EMENDA" E "REVISÃO", NA HISTORIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. EMENDA OU REVISÃO, COMO PROCESSOS DE MUDANCA NA CONSTITUIÇÃO, SÃO MANIFESTAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE INSTITUIDO E, POR SUA NATUREZA, LIMITADO. ESTA A "REVISÃO" PREVISTA NO ART. 3. DO ADCT DE 1988 SUJEITA AOS LIMITES ESTABELECIDOS NO PARÁGRAFO 4. E SEUS INCISOS, DO ART. 60, DA CONSTITUIÇÃO. O RESULTADO DO PLEBISCITO DE 21 DE ABRIL DE 1933 NÃO TORNOU SEM OBJETO A REVISÃO A QUE SE REFERE O ART. 3. DO ADCT. APÓS 5 DE OUTUBRO DE 1993, CABIA AO CONGRESSO NACIONAL DELIBERAR NO SENTIDO DA OPORTUNIDADE OU NECESSIDADE DE PROCEDER A ALUDIDA REVISÃO CONSTITUCIONAL, A SER FEITA "UMA SÓ VEZ". AS MUDANCAS NA CONSTITUIÇÃO, DECORRENTES DA "REVISÃO" DO ART. 3. DO ADCT, ESTAO SUJEITAS AO CONTROLE JUDICIAL, DIANTE DAS "CLAUSULAS PETREAS" CONSIGNADAS NO ART. 60, PAR. 4. E SEUS INCISOS, DA LEI MAGNA DE 1988. NÃO SE FAZEM, ASSIM, CONFIGURADOS OS PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, SUSPENDENDO A EFICACIA DA RESOLUÇÃO N. 01, DE 1993 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA AÇÃO. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. (STF - ADI-MC: 981 PR , Relator: NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 16/12/1993, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 05-08- 1994 PP-19299 EMENT VOL-01752-01 PP-00030). Já que entendemos tudo sobre as Emendas Constitucionais, vamos passar a estudar os artigos da Constituição Federal. Antes disso, é imprescindível estudar sobre a estrutura da constituição federal de 1988. Estruturalmente a constituição atual contém um preâmbulo, nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que tendo natureza de norma constitucional, pode trazer exceções às regras gerais previstas no corpo da constituição. Preâmbulo – apesar de não fazer parte do texto constitucional, uma vez que não possui valor normativo, seu conteúdo traça diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, sendo assim um vetor de interpretação. Parte dogmática – texto normativo constitucional que compreende do artigo 1º. ao art. 250. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) – estabelece as regras de transição entre a Constituição anterior e a nova Constituição. Possui natureza de norma constitucional, podendo inclusive ser objeto de emendas constitucionais. Alguns dispositivos são regras de exceção da parte dogmática da Constituição Federal. 6 Os Princípios Fundamentais são previstos no Título I da Constituição Federal Brasileira. O termo princípio traduz-se na ideia de início, origem, começo, e ainda, numa outra acepção, em mandamento, norma nuclear de um sistema. Nesse contexto, os princípios fundamentais nada mais são que as diretrizes básicas que produzem decisões políticas imprescindíveis à estruturação do Estado. São alicerce, a base, as linhas mestras sociais e políticas que norteiam e inspiram os conteúdos positivados pelo legislador constituinte originário. No artigo 1º estão estabelecidos os fundamentos da República Federativa do Brasil, como se vê a seguir: Art. 1º – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípiose do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Nesse dispositivo tem-se a definição da República Federativa do Brasil sob o aspecto territorial, ou físico, a República é composta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Há de se observar que República Federativa do Brasil é o nome do Estado Brasileiro, que adota o federalismo, por isso a designação Estado Federal. Este, por sua vez, compõe-se de coletividades regionais autônomas denominadas Estados-membros ou federados. Para Celso Bastos, soberania é atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de ser juridicamente ilimitado (todo o poder). Já autonomia é margem de discrição de que uma pessoa goza para decidir sobre seus negócios (parcela do poder). A Constituição adotou como Forma de Estado o Federalismo, que no conceito de Dalmo Dallari é uma “aliança ou união de Estados”, baseada em uma constituição e onde “os Estados que ingressam na federação perdem sua soberania no momento mesmo do ingresso, preservando, contudo, uma autonomia político-administrativa”. Assim, não se admite secessão, separação ou segregação. Lembre- se, o legislador constituinte determinou a impossibilidade de qualquer deliberação sobre proposta de emenda constitucional tendente a abolir a Federação (Art. 60, §4º, I da CF). A República foi a Forma de Governo assumida pelo país, tendo como características: a eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante perante os governados. Tais fundamentos, especificados no artigo em referência, devem ser conceituados. Vamos? O Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, em nosso Estado Federal, foi consagrado em nossas constituições republicanas desde 1891 e tem duas finalidades básicas: a unidade nacional e a necessidade descentralizadora. Inadmissível, portanto, qualquer pretensão de separação de um Estado- membro, do Distrito Federal ou de qualquer Município da Federação, inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão, pois a mera tentativa de secessão permitira a decretação de intervenção federal (Art. 34, I da CF). O Estado Democrático de Direito é mais amplo que Estado de Direito. A expressão “Estado de Direito” na sua origem significa governo a partir de leis, porém quaisquer leis. Com a introdução da característica de ser democrático na Constituição Federal de 1988, impõe-se a todas as normas a observância a tal 7 princípio; não sendo suficientes apenas as leis, mas principalmente que nestas esteja inserido o conteúdo democrático, uma vez que o regime político adotado é a democracia. A soberania significa poder ilimitado na ordem interna e independente na ordem internacional. A cidadania está relacionado com a titularidade de direitos políticos, implicando, assim, na parcela detentora de capacidade eleitoral ativa. A dignidade da pessoa humana compreende o direito de nascer com vida e permanecer vivo com uma vida digna. Deve ser interpretado com o máximo de amplitude possível na hora de conceituá-lo, aplicando o princípio da máxima efetividade ou eficiência. Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são características do sistema capitalista: valorização do trabalho, único responsável pela subsistência e desenvolvimento dos indivíduos e do país e a prevalência da livre iniciativa, a qual afasta os ideais socialistas de planificação da economia. O pluralismo político não significa apenas pluripartidarismo, sendo este uma espécie do gênero daquele. Caracteriza-se pela aceitação de diversidade de opiniões, participação plural na sociedade do mais diversos modos, abrangendo associações, sindicatos, partidos políticos, igrejas, universidades, escolas etc. O Regime Político adotado no Brasil, o democrático, ou seja, governo do povo, para o povo, pelo povo. O poder advém do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (democracia semidireta ou participativa), nos termos do parágrafo único do artigo 1º. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário, nega-se o Estado de Direito. (STF HC 73.454/RJ). EMENTA. (...) O princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor. (STF RE 349.686, 14.06.2005). No artigo 2º encontra-se o Princípio da Separação dos Poderes. Art. 2º – São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Defende a doutrina que a divisão é de Funções, e não de Poderes, considerando que o Poder é uno, além de ser indivisível e indelegável. A Tripartição de Poderes foi esboçada por Aristóteles e firmada por Montesquieu e Locke. Os poderes participam, por vezes, das atribuições uns dos outros, a fim de que se garanta a harmonia entre eles, a inocorrência de abusos e a consequente realização do bem da coletividade, através do sistema de freios e contrapesos – checks and balances. Assim as funções administrativa, legislativa e judiciária não são exercidas com exclusividade, mas apenas preponderantemente por cada “Poder”. Daí a denominação em funções típicas e atípicas (secundárias ou subsidiárias). Os Poderes são harmônicos e independentes, ou seja, entre os órgãos há cortesia no trato recíproco e na atuação do exercício de suas atribuições não há ingerência dos demais, com liberdade para organizar serviços e tomar decisões, apesar da doutrina indicar na própria constituição exceções a separação dos poderes, como por exemplo, o artigo 50, parágrafo 1º. Como exemplo, tem-se a competência de legislar do Poder Legislativo. O Congresso aprova os projetos de leis, que podem ser sancionados ou vetados pelo Presidente da República e no caso de haver sanção, poderá o Poder Judiciário declarar a inconstitucionalidade. Ressalte-se que a Separação dos Poderes é cláusula pétrea (art. 60, 4º, III). 8 No próximo artigo estão estabelecidos os objetivos, as metas a serem atingidas, ou os fins do Estado Brasileiro. Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Não se trata de um rol taxativo, mas exemplificativo. Como medida concreta a EC nº 31, de 14.12.2000, criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, acrescentando ao ADCT os artigos 79 a 83. Já no artigo 4º o constituinte relacionou os princípios da República Federativa do Brasil no âmbito internacional. Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Os dez princípios de relações internacionais que devem ser hermeneuticamente analisados e concretizados com o intuito de lograr o objetivo constante no parágrafo único e consistem em verdadeiros desafios das relações internacionais rumo a efetiva implantação de uma comunidade latino- americana de nações. O princípio da independência nacional retrata, segundo Cretela Júnior, a afirmativa da soberania como fundamento da República, previsto no artigo 1º da Lei Maior. O princípio da autodeterminação dos povos também está marcado pela Soberania, pois diz respeito aos limites a todo e qualquer poder colonizante. Ainda no campo da soberania, o princípio da não intervenção consiste na proibição de um Estado interferir sobre outro em assuntos de natureza interna. Acerca do princípio da prevalência dos direitos humanos, tem-se a lição de Pedro Dallari: "a prevalência dos direitos humanos, enquanto princípio norteador das relações exteriores do Brasil e fundamento colimado pelo País para a regência da ordem internacional não implica tão-somente o engajamento no processo de edificação de sistemas de normas vinculados ao Direito Internacional Público. Impõe-se buscar a plena integração das regras de tais sistemas à ordem jurídica interna de cada Estado". O princípio da igualdade prevê que todos os Estados são iguais perante a lei brasileira. 9 O princípio da solução pacífica dos conflitos determina como o Brasil se posiciona em relação aos conflitos. O desinteresse em envolver-se em um conflito e a falta de incentivo a prática da guerra estão relacionados ao princípio da defesa da paz, um objetivo supranacional. O princípio do repúdio ao racismo e ao terrorismo é um compromisso ético-jurídico assumido pelo Estado Brasileiro, quer perante a sua própria Constituição, quer em face da comunidade internacional. Há adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais que repudiam quaisquer discriminações raciais, de cor, credo, descendência ou origem inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre outro. Sobre o princípio da cooperação para o progresso da humanidade, o legislador pretende alcançar uma cooperação entre países para um desenvolvimento unilaterial ou bilateral ou multilateral. Nesse sentido, o Brasil já possui relações internacionais de cooperação, tais como: a Declaração de Princípios sobre a Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá para a Manutenção da Paz e da Segurança Internacionais, realizado em Brasília, em 15 de janeiro de 1998, e o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, aprovado pela Resolução da Assembléia da República n.º 83/2000, de 14 de dezembro de 2000. Partindo do conceito, segundo o mestre Rezec, asilo político “... é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial -, por causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal comum”, verifica-se que não há incompatibilidade entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata medida em que o Supremo Tribunal Federal não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na concessão administrativa daquele benefício. A condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e satisfeitas às condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição que lhe haja sido requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador do pedido assumir a qualificação de crime político ou de opinião. É importante, ainda, comentar sobre a relativização da soberania em prol dos direitos humanos. A teoria da soberania absoluta e plena foi sendo transformada até se alcançar o que se denomina de princípio da soberania. Os princípios da não-intervenção e da igualdade formal dos Estados não exercem papel imperativo no contexto internacional, tendo em vista as justificativas dadas pelas grandes forças mundiais, tais como o terrorismo, os Direitos Humanos e até mesmo a busca pela justiça e pela paz, na tomada de medidas que interferem fora do âmbito daquilo que poderíamos chamar de soberania interna dos Estados. No Brasil, um novo conceito de soberania surgiu frente os avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988 e as jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, em que prevalece a dignidade humana nas relações internacionais. Exemplo disso é a submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional (art. 5º, §4º, da CF/88). Quando esse tema é cobrado em prova de concurso as organizadoras tentam ludibriar os candidatos trocando os fundamentos com os objetivos e com os princípios no âmbito internacional, por isso é necessário memorizá-los separadamente. Apesar dessa distinção em sentido estrito, deve-se observar que tudo é Princípio Fundamental em sentido amplo, haja vista estarem contidos no título I da Constituição Federal. Outra situação que pode ser enfrentada pelo candidato é a comparação dos fundamentos e objetivos com os princípios que regem a ordem econômica (art. 170 da CF/88). 2. Aplicabilidade das normas constitucionais: normas de eficácia plena, contida e limitada; normas programáticas. Partindo da premissa de que esse assunto é doutrinário, vamos mais uma vez usar o texto constitucional apenas para exemplificar. Toda norma constitucional tem EFICÁCIA direta, imediata e vinculante, uma vez que produz efeitos 10 jurídicos, entre os quais, o de revogar a norma constitucional anterior e não recepcionar as normas infraconstitucionais promulgadas antes e que são materialmente incompatíveis com a nova ordem. Seguindo o ilustre José Afonso da Silva, quanto à aplicabilidade, as normas constitucionais classificam– se em: As Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou tem possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, legais e sociais. Não dependem de atuação do Poder Constituinte Derivado para sua regulamentação. São normas de aplicabilidade direta, imediata e integral. Como exemplo, o mestre cita os seguintes incisos do artigo 5º: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...); LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII -conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; (...). Outros exemplos: arts. 2º; 14, §2º; 17, §4º; 19; 20; 21; 22; 24; 28, caput; 30; 37, III; 44, parágrafo único; 45, caput; 46, §1º; ; 51; 52; 60, §3º; 69; 70; 76; 145, §2º; 155; 156; 201, §§5º e 6º; 226, §1º; 230, § 2º, todos da CF/88. As Normas constitucionais de eficácia contida (prospectiva) são aquelas que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos à determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados, como bem conceituou a doutrina pátria. São normas de aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente não integral. Os exemplos indicados pelo doutrinador são: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 11 profissionais que a lei estabelecer; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; (...). No primeiro exemplo, a liberdade de exercício de profissão já tem total aplicabilidade, porém essa liberdade poderá ser restringida pela existência de uma lei infraconstitucional. No segundo exemplo, a norma originária garante a irredutibilidade do salário, que possivelmente poderá ter sua aplicabilidade reduzida pela existência de um acordo ou uma convenção coletiva de trabalho. Outros exemplos: 5º, VII, VIII, XV, XVI, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII e LVIII; 15, IV; 37, I; 170, parágrafo único, todos da CF/88. As Normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que apresentam aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (diferida), porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma regulamentação posterior. A norma constitucional só terá total aplicabilidade se existir a norma infraconstitucional. O professor José Afonso da Silva ainda destaca que as normas de eficácia limitada se classificam em normas de eficácia limitada definidora de princípio institutivo ou organizativo, as quais traçam esquemas gerias de estruturação e atribuições e a norma de eficácia limitada definidora de princípio programático, que instituem programas destinados ao cumprimento das finalidades sociais do Estado. Os dispositivos mencionados pelo referido doutrinar são: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; (...). Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública. Nos dois primeiros artigos, a lei infraconstitucional, quando promulgada e publicada, regulará o direito declarado pela norma constitucional, com o intuito de cumprir as promessas de cunho social do Poder Público (norma de eficácia limitada definidora de princípio programático). No último artigo, a norma infraconstitucional teria como objetivo a instituição de órgãos e ministérios, em obediência ao comando constitucional (norma de eficácia limitada definidora de princípio institutivo). Outros exemplos: 6º (direito à alimentação); 7º, XI e XXVII; 18, §2º; 22, parágrafo único; 25, §3º; 33; 37, VII e XI; 88; 90, §2º; 91, §2º; 102, §1º; 107, §1º, 109, VI e § 3º; 113; 121; 125, §3º; 128; §5º; 131; 146; 161, I; 173, §4º; 192, §3º; 196; 205; 215; 216, §3º; 218, caput e §4º; 224 7º; 227, XX e XXVII, 33, 88 e 113, todos da CF/88. Em outra vertente, o Constitucionalista Jorge Miranda destaca a existência das chamadas normas programáticas, que são de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que 12 comandos-regras, explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; tem como destinatário primacial – embora não único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos meios em que vem a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos Tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime os direitos sociais, tem mais natureza de expectativas de que de verdadeiros direitos subjetivos; muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados”. A doutrina em referência apresenta como exemplos de normas programáticas, entre outras, os artigos 4º, parágrafo único, 23,170, 205, 211, 215 e 218, todos da Constituição Federal de 1988. Passaremos, agora, a estudar o Título II da Constituição Federal (Direitos e Garantias Fundamentais), que tem cinco capítulos: Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Cap. I – art. 5º), Dos Direitos Sociais (Cap. II – arts. 6º a 11), Da Nacionalidade (Cap. III – arts. 12 e 13), Dos Direitos Políticos (Cap. IV – arts. 14 a 16) e Dos Partidos Políticos (Cap. V – art. 17). 3. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políticos. Muitos doutrinadores diferem “Direitos” de “Garantias” Fundamentais. Essa distinção, no direito brasileiro, foi feita por Rui Barbosa, ao separar as disposições declaratórias, e as garantias, disposições assecuratórias. Em outras palavras, o direito é o “bem” protegido pela norma e a garantia é o mecanismo criado pela norma para defender o direito. Em contrapartida, Sampaio Dória, defende a tese de que as Garantias também são Direitos. Os direitos e garantias fundamentais, consagrados na constituição federal, não são ilimitados, absolutos, uma vez que encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas). Na lição de Canotilho, os direitos fundamentais exercem a função de defesa do cidadão sob dupla perspectiva: a) no plano jurídico-político, funcionam como normas de competência negativa para os Poderes Públicos, proibindo-os de atentarem contra a esfera individual da pessoa; b) no plano jurídico- subjetivo, implicam o poder de exercer positivamente os direitos fundamentais (liberdade positiva), e de exigir omissões dos poderes públicos. A doutrina, baseada na ordem histórica cronológica em que passam a ser institucionalmente reconhecidos,classifica os direitos fundamentais em dimensões (gerações). Em primeira análise, Paulo Bonavides, os classificou em: Direitos de primeira dimensão: são os direitos civis e políticos, e compreendem as liberdades clássicas (liberdade, propriedade, vida, segurança). São direitos do indivíduo perante o Estado, são limites impostos à atuação do Estado, resguardando direitos considerados indispensáveis a cada pessoa humana. Significa uma prestação negativa, um não fazer do Estado, em prol do cidadão. Direitos de segunda dimensão: correspondem aos direitos sociais, que são direitos de conteúdo econômico e cultural que visam melhorar as condições de vida e de trabalho da população. Significa uma prestação positiva, um fazer do Estado em prol dos menos favorecidos pela ordem social e econômica. Esses direitos nasceram em razão de lutas de uma nova classe social, os trabalhadores. Direitos de terceira dimensão: corresponde aos direitos difusos e coletivos, são os direitos de solidariedade e fraternidade, considerados transindividuais, os direitos de pessoas coletivamente consideradas. São direitos coletivos, como a proteção ao meio ambiente, à qualidade de vida saudável, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos e a defesa do consumidor, da infância e da juventude. 13 Note-se que há um comparativo desses direitos ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Em outra oportunidade, o mencionado autor cita ainda os direitos de quarta dimensão: “São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta ao futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência”. Embora alguns doutrinadores afirmem que o direito à paz esteja inserido entre os direitos de terceira dimensão, Paulo Bonavides o desloca para a quinta dimensão, em virtude de suas características próprias e independentes, pois estaria em um “patamar superior”, merecendo visibilidade superior aos demais direitos fundamentais. E para tanto, afirma expressamente que “A dignidade jurídica da paz deriva do reconhecimento universal que se lhe deve enquanto pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de conservação da espécie, reino de segurança dos direitos”. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) — que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) — que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial inexauribilidade. (...) (STF MS 22.164, 17/11/95). DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Os destinatários dos direitos e deveres ora mencionados são os brasileiros e estrangeiros residentes no país, devendo a expressão “residentes no país” ser interpretada no sentido de que tais direitos só serão assegurados dentro do território brasileiro, não excluindo o estrangeiro em trânsito pelo território nacional, segundo entendimento defendido pela doutrina e pela jurisprudência pátria. Tais direitos são extensíveis às pessoas jurídicas, no que couber, bem como ao próprio Estado. O princípio da Igualdade ou princípio da isonomia está previsto no caput desse artigo, prescrevendo que toda pessoa tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em concordância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Entretanto, deve-se buscar não somente a igualdade formal, direcionada ao legislador, mas a igualdade real ou material ou substancial, direcionada ao operador do direito, ao intérprete. Parte-se da premissa de que a verdadeira igualdade está em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. O referido princípio não veda o tratamento diferenciado estabelecido pela lei, proíbe as diferenças arbitrárias, as discriminações absurdas, já que o tratamento desigual aos desiguais é uma questão de justiça, sendo justificável pelo objetivo que se pretende atingir pela lei, conforme a súmula 683 do STF que reza: “O limite de idade para a inscrição em concurso só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza do cargo a ser preenchido”. Entretanto somente serão possíveis tais distinções se estiverem previstas em lei. Vale destacar as discriminações positivas (affirmative actions), proveniente do direito norte americano, que cuida em estabelecer medidas de compensação para reduzir as desigualdades sociais. É neste escólio que traz a lição do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim B. Barbosa Gomes, que ensina: As ações afirmativas 'consistem em políticas públicas (e também privadas) voltadas à 14 concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e até mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não somente as manifestações flagrantes de discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade'. A discriminação reversa deve-se revestir de uma índole compensatória e não meramente garantir uma repartição de bens, sem levar em conta o uso da liberdade das pessoas e o esforço e mérito de cada um. Avaliadas sob o teste do princípio da proporcionalidade, as medidas de discriminação reversa devem ser adequadas para superar os obstáculos que o preconceito gerou para o grupo. Para isso devem-se dirigir a propiciar condições de acesso a bens e serviços que a discriminação vedou. Devem ter em mira o restabelecimento de uma igualdade de oportunidades tão efetiva quanto possível. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do "habeas corpus", em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. - A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. (...). (STF HC 94.404/SP. Min. Rel. Celso de Mello. DJ 18.06.2010). EMENTA (...) Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (Ministro Celso de Mello). (...) A potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la, infra constitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar suanatural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biossegurança ("in vitro" apenas) não é uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. (...) Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente improcedente. (STF ADI 3510/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO. 29/05/2008). EMENTA. (...). Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. (...) Afirmou que, conforme a Resolução 1.480/1997 do Conselho Federal de Medicina (CFM), os exames complementares a serem observados para a constatação de morte encefálica deveriam demonstrar, de modo inequívoco, a ausência de atividade elétrica cerebral ou metabólica deste órgão ou, ainda, inexistência de perfusão sanguínea nele. Elucidou que, por essa razão, o CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, consignara serem os anencéfalos natimortos cerebrais. Desse modo, eles jamais se tornariam pessoa. Nessa senda, sintetizou que não se cuidaria de vida em potencial, porém, seguramente, de morte. (...). Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a deficiência, não. (...) Observou que seria improcedente a alegação de direito à vida dos anencéfalos, haja vista que estes seriam termos antitéticos. (...). Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica. (...). Por derradeiro, versou que atuar com sapiência e justiça, calcados na Constituição e desprovidos de qualquer dogma ou paradigma moral e religioso, determinaria garantir o direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor de tornar-se ré em possível ação por crime de aborto. (STF ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12-4-2012, Plenário). EMENTA. (...). Sabemos, tal como já decidiu o STF (RTJ 136/444, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello), que o princípio da isonomia – cuja observância vincula todas as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA 55/114), 15 sob duplo aspecto: a) o da igualdade na lei e b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata – constitui exigência destinada ao legislador, que, no processo de formação do ato legislativo, nele não poderá incluir fatores de discriminação responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. (...) A igualdade perante a lei, de outro lado, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador, em qualquer das dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por ele elaborado e produzido, a eiva de inconstitucionalidade. (STF AI 360.461 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T, DJ de 28-3-2008). EMENTA. (...). No mérito, asseverou-se que a norma adversada erigira a educação à condição de direito social, dever do Estado e uma de suas políticas públicas prioritárias. (...) Rechaçaram-se, de igual modo, as alegações de afronta aos princípios da igualdade, da isonomia, da não discriminação e do devido processo legal ao argumento de que não se afiguraria legítimo, no ordenamento, que vagas no ensino superior fossem reservadas com base na condição socioeconômica do aluno ou em critério racial ou de suas condições especiais. Salientou-se que a igualdade seria valor que teria, no combate aos fatores de desigualdade, o seu modo próprio de realização. Além disso, a distinção em favor dos estudantes que tivessem cursado o ensino médio em escolas públicas e os egressos de escolas privadas contemplados com bolsa integral constituiria discrímen a compensar anterior e factual inferioridade. (...). (STF ADI 3.330, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3-5-2012, Plenário). I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Somente poderá existir tratamento diferenciado entre os dois sexos quando a finalidade pretendida for atenuar os desníveis, constantes na constituição e nas leis infraconstitucionais. Exemplos: art. 7º, XVIII e XIX, 40, III, 143, §§ 1º e 2º, 202, I e II. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo Min. Ayres Britto, relator, que dava interpretação conforme a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. (...). (STF ADI 4.277/DF, rel. Min. Ayres Britto, DJ 5.5.2011). (ADPF 132). EMENTA. (...) No mérito, rememorou-se posicionamento da Corte que, ao julgar o HC 106.212/MS (DJE de 13-6-2011), declarara a constitucionalidade do art. 41 da Lei Maria da Penha (...). Reiterou-se a ideia de que a aludida lei viera à baila para conferir efetividade ao art. 226, § 8º, da CF. Consignou-se que o dispositivo legal em comento coadunar-se-ia com o princípio da igualdade e atenderia à ordem jurídico- constitucional, no que concerne ao necessário combate ao desprezo às famílias, considerada a mulher como sua célula básica. Aplicou-se o mesmo raciocínio ao afirmar-se a constitucionalidade do art. 1º da aludida lei (...). Asseverou-se que, ao criar mecanismos específicos para coibir e prevenir a violência doméstica contra a mulher e estabelecer medidas especiais de proteção, assistência e punição, tomando como base o gênero da vítima, o legislador teria utilizado meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo referido preceito constitucional. Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Frisou-se que, na seara internacional, a Lei Maria da Penha seria harmônica com o que disposto no art. 7º, item c, da Convenção de Belém do Pará (...) e com outros tratados ratificados pelo país. Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a norma seria corolário da incidência do princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais. Sublinhou-se que a lei em comento representaria movimento legislativo claro no sentido de assegurar às mulheres agredidas o acesso efetivo à reparação, à proteção e à justiça. (...). (STF ADC 19, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9-2-2012, Plenário). II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Consagração do princípio da legalidade. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, pois somente mediante espécies normativas elaboradas segundo as regras do processo legislativo pátrio podem-se criar obrigações para os indivíduos. O princípio da legalidade se difere do princípio da reserva 16 legal nesse ponto, pois este consiste em dizer que a regulamentação de determinada matéria há de fazer-se necessariamente pelo poder legislativo, aparecendo na constituição sob a forma:“nos termos da lei” ou “na forma da lei” e aquele é a submissão e o respeito à lei. A Constituição Federal estabelece essa reserva de lei, de modo absoluto ou relativo. Assim, temos a reserva legal absoluta quando a norma constitucional exige para sua integral regulamentação a edição de lei formal, entendida como ato normativo emanado do Congresso Nacional elaborado de acordo com o devido processo legislativo constitucional. Por outro lado, temos a reserva legal relativa quando a Constituição Federal, apesar de exigir edição de lei formal, permite que este fixe tão somente parâmetros de atuação para o órgão administrativo, que poderá complementa-la por ato infralegal, sempre, porém, respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela legislação. Existe ainda a reserva legal simples e a qualificada. A reserva legal simples ocorre no caso de a Constituição Federal estabelecer, em seus artigos, que determinado assunto seja objeto de lei ("na forma da lei", "nos termos da lei"). A lei não pode limitar o conteúdo da Constituição ou suprimi-lo, ou seja, há limites implícitos na lei que será elaborada. A reserva legal qualificada ocorre no caso de, além de estabelecer qual assunto será objeto de lei, o dispositivo da Constituição estabelece as condições ou fins que devem ser objeto da norma ("para fins de"). Como exemplos pode se indicar os incisos VII e XII, ambos do presente artigo. Vale ressaltar que a Administração Pública é regida pela legalidade estrita, pois não pode atuar contra a lei, nem na ausência da lei. Dispositivos correspondentes – artigo 5º, XXIX e artigo 37, “caput”, todos da CF/88. Jurisprudência relacionada ao tema: Súmula Vinculante nº 44 - Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. EMENTA. (...). A reserva de lei em sentido formal qualifica-se como instrumento constitucional de preservação da integridade de direitos e garantias fundamentais. O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. (STF ACO 1.048-QO, 31/10/07). A partir daqui, aprenderemos sobre as liberdades e inviolabilidades. Assunto muito comum nas provas de concurso. LIBERDADE DE EXPRESSÃO IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; Segundo o ilustre Alexandre de Morais, “a proteção constitucional abrange não só o direito de expressão oral ou por escrito, mas também o direito de ouvir, assistir e ler”. A vedação do anonimato é ampla, inclui todos os meios de comunicação. O direito de resposta aplica-se em relação às ofensas, configurem ou não infrações penais, tendo como requisito a proporcionalidade, devendo o desagravo ter o mesmo destaque, a mesma duração e o mesmo tamanho que a notícia geradora da lesão. A responsabilidade pela divulgação do direito de resposta é do órgão de comunicação. O dano pode ser material (danos sofridos e lucros cessantes), moral (à intimidade da pessoa) e à imagem (dano produzido contra a pessoa em suas relações externas). 17 Dispositivo correspondente – art. 220, “caput” e §2º, todos da CF/88. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). Programas humorísticos, charges e modo caricatural de pôr em circulação ideias, opiniões, frases e quadros espirituosos compõem as atividades de ‘imprensa’, sinônimo perfeito de ‘informação jornalística’ (§ 1º do art. 220). Nessa medida, gozam da plenitude de liberdade que é assegurada pela Constituição à imprensa. Dando-se que o exercício concreto dessa liberdade em plenitude assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente contra as autoridades e aparelhos de Estado. Respondendo, penal e civilmente, pelos abusos que cometer, e sujeitando-se ao direito de resposta a que se refere a Constituição em seu art. 5º, V. A crítica jornalística em geral, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura. Isso porque é da essência das atividades de imprensa operar como formadora de opinião pública, lócus do pensamento crítico e necessário contraponto à versão oficial das coisas, conforme decisão majoritária do STF na ADPF 130. Decisão a que se pode agregar a ideia de que a locução ‘humor jornalístico’ enlaça pensamento crítico, informação e criação artística. (...). (STF ADI 4.451-MC - REF, rel. min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 24-8-2012). EMENTA: (...). Por entender que o exercício dos direitos fundamentais de reunião e de livre manifestação do pensamento devem ser garantidos a todas as pessoas, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação de descumprimento de preceito fundamental para dar, ao art. 287 do CP, com efeito vinculante, interpretação conforme a Constituição, de forma a excluir qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da legalização das drogas, ou de qualquer substância entorpecente específica, inclusive através de manifestações e eventos públicos. (...) Ressaltou-se existirem graves consequências resultantes da censura à liberdade de expressão e de reunião, realizada por agentes estatais em cumprimento de ordens emanadas do Judiciário. Frisou-se que, diante do quadro de incertezas hermenêuticas em torno da aludida norma, a revelar efetiva e relevante controvérsia constitucional, os cidadãos estariam preocupados em externar, de modo livre e responsável, as convicções que desejariam transmitir à coletividade por meio da pacífica utilização dos espaços públicos. (STF ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ 15.6.2011). EMENTA. (...). Não é proibindo, recolhendo obras ou impedindo sua circulação, calando-se a palavra e amordaçando a história que se consegue cumprir a Constituição. (...). A norma infraconstitucional não pode amesquinhar preceitos constitucionais, impondo restrições ao exercício de liberdades”. (...). O que não me parece constitucionalmente admissível é o esquartejamento das liberdades de todos pela censura de uns, especialmente no caso de obras biográficas que dizem respeito não apenas ao biografado, mas que diz respeito a toda coletividade pela sua natureza de referenciabilidade do que precisa ser aproveitado. (...). (STF ADI 4815, Min. Rel. Cármem Lúcia, DJ 10/06/2015). LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias; A Constituição de 1824, em seu artigo 179, V, já assegurava os direitos religiosos, desde que respeitasse a do Estado, nos seguintes termos: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. (...). V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica. (...)”. A partir da Constituição Federal de 1891, estabeleceu-seo Estado Laico ou Leigo, que não adota qualquer religião como oficial. Como ensina José Afonso da Silva, “na liberdade de crença entra a 18 liberdade de escolha de religião, a liberdade de aderir à qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo”. Bom lembrar que o livre exercício dos cultos é assegurado enquanto não forem contrários à ordem, tranquilidade e sossego públicos, bem como compatíveis aos bons costumes. E a liberdade religiosa não é absoluta, uma vez que não será permitido a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilidade civil e criminal. Artigos correspondentes: art. 210, §1º e art. 215, §2º, ambos da CF/88. PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Segundo posicionamento jurisprudencial, o Preâmbulo não constitui norma central, não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição do Estado, já que não tem força normativa. Entretanto, o Preâmbulo faz parte da estrutura da Constituição Federal, que se divide em Preâmbulo, texto permanente e texto temporário (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT). Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 2.076/AC. Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08.08.2003). VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; Hospitais, asilos (públicos e privados), presídios e quartéis são locais de internação coletiva. VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; A escusa de consciência e de crença aplica-se às obrigações legais de forma genérica e não somente ao serviço militar obrigatório, embora esse seja o exemplo mais indicado pelos doutrinadores quando enfocam o assunto. O artigo 143 da Constituição Federal, prescreve: Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. O serviço alternativo no caso de descumprimento do serviço militar obrigatório por imperativo de consciência é estabelecido pela lei nº 8.239/91. 19 Caso não seja cumprida a prestação alternativa, ocorrerá a privação dos direitos políticos, nos termos do artigo 15, IV, da CF/88: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: ... IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; (...). INVIOLABILIDADES X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Princípio da exclusividade. A intimidade, como exigência moral da personalidade para que em determinadas situações seja o indivíduo deixado em paz, constituindo um direito de controlar a indiscrição alheia nos assuntos privados que só a ele interessa, tem como um de seus fundamentos o princípio da exclusividade, formulado por Hannah Arendt com base em Kant. Os conceitos de intimidade e vida privada são interligados, mas podem ser diferenciados. A intimidade da pessoa diz respeito às relações subjetivas e de trato íntimo, relações familiares e de amizade e a vida privada refere-se a todos os relacionamentos da pessoa, inclusive os objetivos, tais como os comerciais, de trabalho, de estudo, etc. O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que entidade de classe não tem legitimidade para promover interpelação judicial em defesa da honra de seus associados, por se tratar de um direito personalíssimo de quem, concretamente, se viu atingido pelas afirmações tidas por ofensivas (PET nº 1.249/DF-AgR, Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 9/4/99). Jurisprudência relacionada ao tema: Súmula 227 do STJ – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do Morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial; A expressão casa tem um alcance muito amplo, não sendo limitada pelos conceitos de direito privado, como já pacificou o STF, considerando casa todo local delimitado e separado que alguém utiliza com exclusividade, mesmo que para fins profissionais, não importando a relação jurídica de seus habitantes com aquele prédio ou terreno. O Código Penal Brasileiro conceitua “casa” em seu artigo 150. Para José Afonso da Silva dia é o período das 6:00h às 18:00h e para Celso de Mello deve ser levado em conta o critério físico-astronômico, como o intervalo de tempo situado entre a aurora e o crepúsculo. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) Busca e apreensão em aposentos ocupados de habitação coletiva (como quartos de hotel) - subsunção desse espaço privado, desde que ocupado, ao conceito de "casa" - consequente necessidade, em tal hipótese, de mandado judicial, ressalvadas as exceções previstas no próprio texto constitucional. - para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da constituição da república, o conceito normativo de "casa" revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, § 4º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de hotel. (...). (STF RHC 90.376/RJ, Rel. Min. Celso de Mello. DJ 18.05.2007). EMENTA. (...). Cuidando-se de crime de natureza permanente, a prisão do traficante, em sua residência, durante o período noturno, não constitui prova ilícita. (STF HC 84.772, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 19-10-2004, Segunda Turma, DJ de 12-11-2004.) No mesmo sentido: HC 70.909, Rel. Min. Paulo Brossard, julgamento em 11-10-1994, Plenário, DJ de 25-11-1994. 20 EMENTAS: (…).7. PROVA. Criminal. Escuta ambiental. Captação e interceptação de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos. Meio probatório legalmente admitido. Fatos que configurariam crimes praticados por quadrilha ou bando ou organização criminosa. Autorização judicial circunstanciada. Previsão normativa expressado procedimento. Preliminar repelida. Inteligência dos arts. 1º e 2º, IV, da Lei nº 9.034/95, com a redação da Lei nº 10.217/95. Para fins de persecução criminal de ilícitos praticados por quadrilha, bando, organização ou associação criminosa de qualquer tipo, são permitidos a captação e a interceptação de sinais eletromagnéticos, óticos e acústicos, bem como seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial. 8. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia. Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. Não caracterização. Suspeita grave da prática de crime por advogado, no escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada pela inviolabilidade constitucional. Inteligência do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, § 4º, III, do CP, e art. 7º, II, da Lei nº 8.906/94. Preliminar rejeitada. Votos vencidos. Não opera a inviolabilidade do escritório de advocacia, quando o próprio advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido e consumado no âmbito desse local de trabalho, sob pretexto de exercício da profissão. (…). (STF - Inq: 2424 RJ, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 26/11/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-055 DIVULG 25-03-2010 PUBLIC 26-03-2010). EMENTA: (...) A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados. (...) (STF RE 603616, Rel. Min. Gilmar Ferreira Mendes, J. 05.11.2015). XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Vê-se que não houve previsão de quebra do sigilo das correspondências e nem de dados (bancários, fiscais ou telefônicos) mediante lei, haja vista que a exceção constitucional expressa refere-se somente à interceptação telefônica, entretanto entende-se que nenhuma liberdade individual é absoluta, sendo possível, respeitados alguns parâmetros, a interceptação das correspondências e comunicações telegráficas e de dados sempre que as liberdades públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. O preceito que garante o sigilo de dados engloba o uso de informações decorrentes da informática e a quebra do sigilo dos dados telefônicos consiste na apreensão do histórico de conta telefônica (extrato telefônico), dentre outros. Além do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal admite que a Comissão Parlamentar de Inquérito, diretamente, determine a quebra do sigilo dos dados. O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do artigo 6º da lei complementar nº 105/2001, no Recurso Extraordinário nº 601314, para reconhecer o direito de a Receita Federal obter a transferência do sigilo dos dados bancários. Há quebra do sigilo telefônico quando a captação for realizada por um terceiro de uma comunicação telefônica alheia, sem o conhecimento dos comunicadores, por decisão judicial (cláusula de reserva jurisdicional), na forma da lei nº 9.296/96 e para fins criminais. Referida interceptação difere da Escuta telefônica, que é a captação realizada por um terceiro de uma comunicação telefônica alheia, mas com o conhecimento de um dos comunicadores e da gravação telefônica, que ocorre entre dois interlocutores, onde um deles capta a conversa sem o conhecimento do outro e sem intervenção de terceiro. A gravação telefônica, em regra, é lícita, segundo jurisprudência da Corte Suprema. Dispositivos correspondentes: arts. 136, I, “b” e “c” e 139, III, da CF/88. Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas (...). 21 (STF HC 70.814/SP). EMENTA. (...) O Tribunal já firmou entendimento de que as Comissões Parlamentares de Inquérito são dotadas de poder investigatório, ficando assentado que devem elas, a partir de meros indícios, demonstrar a existência concreta de causa provável que legitime a quebra do sigilo. (...) Causa provável ensejadora da quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. Segurança denegada. (STF MS 24217/DF, rel Min Maurício Corrêa, 18/10/2002). EMENTA. Mandado de Segurança. Tribunal de Contas da União. Banco Central do Brasil. Operações financeiras. Sigilo. 1. A Lei Complementar nº 105, de 10/1/01, não conferiu ao Tribunal de Contas da União poderes para determinar a quebra do sigilo bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil. O legislador conferiu esses poderes ao Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem como às Comissões Parlamentares de Inquérito, após prévia aprovação do pedido pelo Plenário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário de suas respectivas comissões parlamentares de inquérito (§§ 1º e 2º do art. 4º). (...). (STF MS 22.801/DF. Rel. Min Menezes Direito. DJ 13.03.2008). EMENTA (...) SÉTIMA PRELIMINAR. DADOS DE EMPRÉSTIMO FORNECIDOS PELO BANCO CENTRAL. PEDIDO DIRETO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. REQUISIÇÃO FEITA PELA CPMI DOS CORREIOS. POSTERIOR AUTORIZAÇÃO DE COMPARTILHAMENTO COM O MINISTÉRIO PÚBLICO PARA INSTRUÇÃO DO INQUÉRITO. LEGALIDADE. (...). (STF Inq. 2.245/MG. Rel. Min. Joaquim, Barbosa, DJ 09.11.2007). EMENTA. Prova emprestada. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos teriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de ordem. Inteligência do art. 5º, XII, da CF e do art. 1º da Lei federal 9.296/1996. (...) Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova. (STF Inq 2.424 QO. Rel. Min Cezar Peluso. DJ 24.08.2007). EMENTA. (....) O presente caso versa sobre a gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a denominada “gravação telefônica” ou “gravação clandestina”. Entendimento do STF no sentido da licitude da prova, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação. Repercussão geral da matéria (RE 583.397/RJ). 3. Ordem denegada. (STF HC 91613, Relator Min. GILMAR MENDES, 2ª T, DJ 17-09-2012). EMENTA: (...). O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal.
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