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Página 1 de 25 Direito Processual Penal I – Notas de Revisão Introdução ao Direito Processual Penal / Princípios Norteadores – Aula 01 1. Introdução Quando as leis penais são elaboradas, prevendo penas para aqueles que as desrespeitarem, surge para o Estado o direto/dever de punir adequadamente o infrator e para o particular surge o dever de se abster das práticas previstas. Mas e se alguém comete um delito? Então esse direito abstrato do Estado passa a ser uma pretensão punitiva concreta, obrigando o infrator ao cumprimento da sanção penal. Todavia, essa pretensão não poderia ser resolvida sem um processo legal. Afinal, o infrator dificilmente se sujeitaria à pena imposta e o Estado não teria como mensurar a medida da responsabilidade do infrator, por exemplo. O processo penal vem como instrumento do qual se vale o Estado para punir o autor do delito, bem como maneira de resguardar o respeito aos direitos e liberdades individuais do acusado. O processo penal deve ser entendido, em sua essência, como um instrumento de realização da máxima efetividade dos direitos fundamentais do acusado, sendo a sua função de instrumento da efetividade penal uma meta que deve a todo tempo se compatibilizar com a primeira perspectiva instrumental apontada. 2. Princípios Norteadores 2.1. Presunção de inocência Talvez o mais importante dos princípios em direito penal como um todo. Passa o ônus da prova de acusação para o Estado, que deverá buscar meios de provar que o acusado cometeu o delito, mas partindo do princípio que, até que isso aconteça, este deverá ser considerado inocente. Com a Constituição Federal de 1988, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do inciso LVII do art. 5º: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Página 2 de 25 2.1.1. In dubio pro reo É a garantia de que, uma vez acusado, ao Estado cabe provar a culpabilidade do delito e, caso falhe em fazê-lo, o acusado deverá ser presumido inocente. Decorre imediatamente da presunção de inocência. 2.2. Princípio do contraditório É a possibilidade de contradizer o que lhe está sendo imputado para que possa reagir, caso necessário, aos atos desfavoráveis. Trocando em miúdos, é a chance de se defender. 2.3. Princípio da ampla defesa Está intimamente ligado ao princípio do contraditório, mas com ele não se confunde. A ampla defesa pauta-se na possiblidade de o acusado se valer de todos os meios permitidos para se defender. Não podendo, por exemplo, que lhe seja negada, sem justo motivo, uma forma de prova que a lei prevê como possível. 2.4. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos O princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos está previsto na Constituição Federal (art. 5º, LVI): “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. 2.5. Princípio do juiz natural O princípio do juiz natural deve ser compreendido como o direito que cada cidadão tem de saber, previamente, a autoridade que irá processar e julgá-lo caso venha a praticar uma conduta definida como infração penal pelo ordenamento jurídico. Não poderá, por exemplo, ser formado um tribunal com um juiz especificamente para aquele crime cometido pelo João da Silva. O magistrado que o julgará deverá ser juiz competente para aquele tipo de matéria antes mesmo do cometimento do delito. Página 3 de 25 Caso Concreto A Autoridade Policial da 13ª Delegacia de Polícia da Comarca da Capital, que investiga o crime de lesão corporal de natureza grave, do qual foi vítima o segurança da boate TheNight Agenor Silva, obtém elementos de informação que indicam a suspeita de autoria dos fatos ao jovem de classe média Plininho, de 19 anos. O Delegado então determina a intimação de Plininho para que o mesmo compareça em sede policial para prestar esclarecimentos, sob pena de incorrer no crime de desobediência, previsto no art. 330 do CP. Pergunta-se: a. Caso Plininho não compareça para prestar declarações, poderá responde pelo crime do art. 330 do CP? Resposta sugerida pelo professor: Por analogia ao Art. 457 do Código de processo penal, que permite que o acusado não permaneça à audiência de julgamento, mesmo quando regularmente intimado, Plininho não responderá pelo crime de desobediência, Art. 330 do CP. Ponderação pessoal minha: Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. § 1º - Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal do Júri. § 2º - Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. Em nenhum lugar do artigo é dito que é permitido não comparecer à audiência. É dito, sim, que esta não será adiada em razão do não comparecimento. Logo, ao meu ver, não faz sentido usar esse artigo como analogia para dizer que Plininho não responderia pelo crime de desobediência. Como sempre, o recomendável, ainda que a contragosto, é seguir o entendimento do professor. b. E se houvesse processo penal tramitando regularmente e o juiz da Vara Criminal intimasse Plininho para o interrogatório, poderia o mesmo responder pelo delito em questão? Resposta sugerida pelo professor: Pelo mesmo motivo da resposta ao questionamento anterior, Plininho não responderia, nem mesmo nessa hipótese, ao crime de desobediência. Página 4 de 25 2ª Questão. Esse princípio refere-se aos fatos, já que implica ser ônus da acusação demonstrar a ocorrência do delito e demonstrar que o acusado é, efetivamente, autor do fato delituoso. Portanto, não é princípio absoluto. Também decorre desse princípio a excepcionalidade de qualquer modalidade de prisão processual. (...) assim, a decretação da prisão sem a prova cabal da culpa somente será exigível quando estiverem presentes elementos que justifiquem a necessidade da prisão. Edilson Mougenot Bonfim. Curso de Processo Penal. O princípio específico de que trata o texto é o da(o) a- Livre convencimento motivado. ➔ b- Inocência. c- Contraditório e ampla defesa. d- Devido processo legal. 3ª Questão Relativamente ao princípio de vedação de autoincriminação, analise as afirmativas a seguir: I - O direito ao silêncio aplica-se a qualquer pessoa (acusado, indiciado, testemunha, etc.), diante de qualquer indagação por autoridade pública de cuja resposta possa advir imputação da prática de crime ao declarante. II - O indiciado em inquérito policial ou acusado em processo criminal pode ser instado pela autoridade a fornecer padrões vocais para realização de perícia sob pena de responder por crime de desobediência. III - O acusado em processo criminal tem o direito de permanecer em silêncio, sendo certo que o silêncio não importará em confissão, mas poderá ser valorado pelo juiz de forma desfavorável ao réu. IV - O Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que não é lícito ao juiz aumentar a pena do condenado utilizado como justificativa o fato do réu ter mentido em juízo. Assinale: a- Se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. b- Se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. ➔ c- Se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas. d- Se apenas as afirmativas I, II e IV estiverem corretas. e- Se todas as afirmativas estiverem corretas. Página 5 de 25 Sistemas Processuais – Aula 02 1. Sistema Inquisitivo ou Inquisitório Em sua essência o sistema inquisitivo, concentra nas mãos do juiz as funções de acusar, defender e julgar. Em virtude dessa concentração de poderes nas mãos do juiz, não há falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de contraposição entre acusação e defesa. Ademais, geralmente o acusado permanecia encarcerado preventivamente, sendo mantido incomunicável. 2. Sistema acusatório É o adotado no nosso país. A Carta de 1988, ao estabelecer em seu art. 129, I que compete privativamente ao Ministério Público promover a ação penal, afastou o princípio inquisitivo. Nesse sistema, do ponto de vista probatório, o magistrado deve manter- se imparcial e equidistante, já que que as provas são produzidas pelas partes (acusador e acusado) e todas devem ser submetidas ao crivo do contraditório, possibilitando a ampla defesa do acusado, já que no sistema acusatório vigora a publicidade dos atos processuais. 3. Sistema misto No sistema misto há uma fase investigatória conduzida por um juiz com poderes inquisitivos (não se confunde, desse modo, com o inquérito policial, que possui natureza administrativa, e é presidido pelo delegado de polícia), seguida de uma fase acusatória, em que são assegurados todos os direitos do acusado como a ampla defesa e o contraditório e a independência entre acusação, defesa e juiz. Caso Concreto Jorginho, jovem de classe média, de 19 anos de idade, foi denunciado pela prática da conduta descrita no art. 217-A do CP por manter relações sexuais com sua namorada Tininha, menina com 13 anos de idade. A denúncia foi baseada nos relatos prestados pela mãe da vítima, que, revoltada quando descobriu a situação, noticiou o fato à delegacia de polícia local. Jorginho foi processado e condenado sem que tivesse constituído advogado. Á luz do sistema acusatório diga quais são os direitos de Jorginho durante o processo penal, mencionando ainda as características do nosso sistema processual. Inicialmente, podemos ver que se trata de flagrante desrespeito ao princípio do devido processo legal, causando, inclusive, nulidade a todos os atos realizados em desrespeito ao ordenamento jurídico, por não possibilitar ao acusado o contraditório e a ampla defesa. Página 6 de 25 Nesse sentido, a súmula 523 do Supremo Tribunal Federal não poderia ser mais clara, in verbis: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.” Não assegurar ao acusado a defesa técnica à qual tem direito mostra-se causa de nulidade absoluta do processo, consubstanciando prejuízo ínsito e insanável, conforme revela o Código de Processo Penal no artigo 564, inciso III, alínea 'c', combinado com o 572, caput, em sentido contrário, porquanto, ao anunciar os vícios sanáveis, não alude à ausência de defesa técnica. Ademais, temos ainda no CPP: “Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.” No sistema penal acusatório, que a maioria da Doutrina entende como o adotado no Brasil, deve ser assegurado o contraditório e a ampla defesa em toda a sua plenitude, além de existir uma distinção absoluta entre as funções de acusar, defender e julgar, que deverão ficar a cargo de pessoas distintas, o que não ocorreu no caso em tela. 2ª Questão. No que concerne à estruturação da defesa de acusados em juízo criminal, é correto afirmar: a. se for indicado um Defensor Público ao acusado, este não pode desconstituí-lo para nomear um profissional de sua confiança. → b. o acusado que é Advogado pode apresentar defesa “em nome próprio”, sem necessidade de constituição de outro profissional “Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender- se, caso tenha habilitação.” c. apenas nos crimes mais graves o acusado deve obrigatoriamente ser assistido por Advogado, podendo articular a própria defesa, mesmo sem habilitação, nos casos em que não está em risco sua liberdade. d. o acusado que não constituir Advogado será obrigatoriamente defendido por Procurador Municipal ou Estadual. e. o Juiz não pode indicar Advogado de forma compulsória a um acusado, que sempre tem o direito inalienável de articular a própria defesa, ainda que não seja habilitado para tanto. 3ª Questão Com referência às características do sistema acusatório, assinale a opção correta. ➔ a- O sistema de provas adotado é o do livre convencimento. b- As funções de acusar, defender e julgar concentram-se nas mãos de uma única pessoa. c- O processo é regido pelo sigilo. d- Não há contraditório nem ampla defesa Página 7 de 25 Aplicação da lei processual penal e Inquérito Policial – Aula 03 1. Aplicação da Lei Penal 1.1. Lei Processual Penal no Espaço Enquanto à lei penal aplica-se o princípio da territorialidade (CP, art. 5º) e da extraterritorialidade incondicionada e condicionada (CP, art. 7º), o Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lex fori. E isso por um motivo óbvio: a atividade jurisdicional é um dos aspectos da soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado. Assim, mesmo que um ato processual tenha que ser praticado no exterior, v.g., citação, intimação, interrogatório, oitiva de testemunha, etc., a lei processual penal a ser aplicada é a do país onde tais atos venham a ser realizados. 1.2. Lei Processual Penal no Tempo No âmbito do Direito Penal, o tema não apresenta problemas. Afinal, por força da Constituição Federal (art. 5º, XL), a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, cuidando-se de norma penal mais gravosa, vige o princípio da irretroatividade. Já no Direito processual penal, a norma, uma vez inserida no mundo jurídico, tem aplicação imediata, atingindo inclusive os processos que já estão em curso, pouco importando se traz ou não situação gravosa ao acusado, em virtude do princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata, conforme se depreende do artigo 2º do CPP, considerando os atos pretéritos como válidos. 2. Interpretação da Lei Processual Penal 2.1. Analogia A analogia é forma de auto integração da lei consistente na aplicação de um fato não regido pela norma jurídica, pois onde há a mesma razão, deve ser aplicado o mesmo direito. Todavia, só se mostra possível quando não há dispositivo na legislação regulamentando o caso e, mesmo assim, somente se for em favor do réu. 2.2. Interpretação Analógica Na interpretação analógica a norma traz uma formulação genérica que deve ser interpretado de acordo com as hipóteses anteriormente elencadas. A Interpretação Analógica somente poderá ser procedida quando a lei o permitir. Exemplo: O art. 61, II, “c”, CP fala em “à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido”. Página 8 de 25 2.3. Interpretação Extensiva O artigo 3º, do Código de Processo Penal impõe sua forma de integração ao admitir além da analogia, a interpretação extensiva. A interpretação extensiva ocorre quando o texto legal diz menos do que pretendia o legislador, de modo que o intérprete estende o alcance da norma. Exemplo: O artigo 254 do CPP traz as causas de suspeição aplicáveis ao Juiz que se estendem, numa interpretação extensiva, por falta de previsão legal, aos jurados que compõem o Conselho de Sentença no rito do júri. 3. Inquérito Policial Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 3.1. Finalidade do Inquérito Policial Para que o Estado possa deflagrar a persecução criminal em juízo, é indispensável a presença de elementos de informação quanto à autoria e quanto à materialidade da infração penal. De fato, para que se possa dar início a um processo criminal contra alguém, faz-se necessária a presença de um lastro probatório mínimo apontando no sentido da prática de uma infração penal e da probabilidade de o acusado ser o seu autor. Esse é o papel do Inquérito policial. 3.2. Características do Inquérito Policial ➢ Oficialidade: É sempre realizado num órgão oficial. Se o crime for da competência da Justiça Estadual, ele será conduzido pela Polícia Civil. Se o crime for da competência da Justiça Federal, pela Polícia Federal; ➢ Indisponibilidade: Uma vez iniciado o inquérito, não pode a autoridade policial dele dispor, devendo levá-lo até o fim, não podendo arquivá-lo por vedação expressa (art. 17 do CPP); ➢ Dispensabilidade: O inquérito não é imprescindível para a propositura da ação penal; ➢ Escrito: Por exigência legal (art. 9º do CPP), os atos orais serão reduzidos a termo. ➢ Sigiloso: Não comporta publicidade como no processo (art. 20 do CPP). Página 9 de 25 3.3. Formas de instauração do inquérito policial O IP por ser um procedimento escrito é instaurado através de atos formais: a portaria, que é um ato formal em que o delegado declara a abertura do procedimento e expede determinações especiais aos seus subordinados para promoverem diligências investigatórias ou o auto de prisão em flagrante (APF), que é a redução a termo da prisão captura, com a formalização da prisão, oitiva do condutor e das testemunhas, dentre outros atos. Através deste auto fica instaurado o inquérito e, no próprio auto, o delegado já determina algumas diligências 3.3.1. Crimes de ação penal pública incondicionada Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado das seguintes formas: a) de ofício: por força do princípio da obrigatoriedade, que também se estende à fase investigatória, caso a autoridade policial tome conhecimento do fato delituoso a partir de suas atividades rotineiras (v.g., notícia veiculada na imprensa, registro de ocorrência, etc.), deve instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, independentemente da provocação de qualquer pessoa (CPP, art. 5º, I). b) requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: diz o art. 5º, inciso II, do CPP, que o inquérito será iniciado, nos crimes de ação pública, mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público. c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal: também é possível a instauração de inquérito policial a partir de requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. d) notícia oferecida por qualquer do povo: de acordo com o art. 5º, § 3º, do CPP, qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Cuida-se da chamada delatio criminis simples, comumente realizada através de uma ocorrência policial. e) auto de prisão em flagrante delito: a despeito de não constar expressamente do art. 5º do CPP, o auto de prisão em flagrante é, sim, uma das formas de instauração do inquérito policial, funcionando o próprio auto como a peça inaugural da investigação 3.3.2. Crime de ação penal pública condicionada Para instauração do IP é necessário o requerimento escrito ou verbal, que será reduzido a termo, do ofendido ou seu representante legal. Nessa hipótese, o MP só poderá requisitar a instauração do IP se encaminhar juntamente com a requisição a representação do ofendido. O prazo para oferecimento da representação é de 6 meses a contar do conhecimento da autoria. Por tratar-se de prazo decadencial não será suspenso, nem interrompido. Página 10 de 25 3.3.3. Crime de ação penal privada Caso o ofendido não possua os elementos mínimos de prova para a propositura da ação penal, poderá requerer ao Delegado que instaure o IP para a investigação. Não existe uma forma rígida do requerimento, mas este deve ser escrito, dirigido à autoridade competente e assinado pelo ofendido, seu representante legal ou por procurador com poderes especiais.1 Caso haja indeferimento do pedido, caberá recurso ao Chefe de Polícia ou a parte poderá impetrar o mandado de segurança. Com o advento da Lei 9099/95, nos crimes cuja pena não ultrapassa dois anos, não há abertura de inquérito policial, pois é lavrado o termo circunstanciado. Caso Concreto Um transeunte anônimo liga para a circunscricional local e diz ter ocorrido um crime de homicídio e que o autor do crime é Paraibinha, conhecido no local. A simples delatio deu ensejo à instauração de inquérito policial. Pergunta-se: é possível instaurar inquérito policial, seguindo denúncia anônima? Responda, orientando-se na doutrina e jurisprudência. Sugestão de resposta: Sim, é possível, desde que se realizem investigações preliminares no sentido de mostrar indícios da ocorrência. Júlio Fabbrini Mirabete, corroborando o pensamento, afirma que: "Não obstante o art. 5º, IV, da CF, que proíbe o anonimato na manifestação do pensamento, e de opiniões diversas, nada impede a notícia anônima do crime (notitia criminis inqualificada), mas nessa hipótese, constitui dever funcional da autoridade pública destinatária, preliminarmente, proceder com a máxima cautela e discrição as investigações preliminares no sentido de apurar a verossimilhança das informações recebidas. Somente com a certeza da existência de indícios da ocorrência do ilícito é que deve instaurar o procedimento regular" 1 Procuração com poderes especiais: É aquela na qual se estabelece o poder para a prática de determinado ato específico, ou seja, deve conter expressamente o fim a que se destina. Página 11 de 25 2ª Questão. Tendo em vista o enunciado nº 14 da Súmula Vinculante, quanto ao sigilo do inquérito policial, é correto afirmar que a autoridade policial poderá negar ao advogado a) a vista dos autos, sempre que entender pertinente. b) a vista dos autos, somente quando o suspeito tiver sido indiciado formalmente. c) do indiciado que esteja atuando com procuração o acesso aos depoimentos prestados pelas vítimas, se entender pertinente. → d) o acesso aos elementos de prova que ainda não tenham sido documentados no procedimento investigatório. Súmula Vinculante 14 É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 3ª Questão Em um processo em que se apura a prática dos delitos de supressão de tributo e evasão de divisas, o Juiz Federal da 4ª Vara Federal Criminal de Arroizinho determina a expedição de carta rogatória para os Estados Unidos da América, a fim de que seja interrogado o réu Mário. Em cumprimento à carta, o tribunal americano realiza o interrogatório do réu e devolve o procedimento à Justiça Brasileira, a 4ª Vara Federal Criminal. O advogado de defesa de Mário, ao se deparar com o teor do ato praticado, requer que o mesmo seja declarado nulo, tendo em vista que não foram obedecidas as garantias processuais brasileiras para o réu. Exclusivamente sobre o ponto de vista da Lei Processual no Espaço, a alegação do advogado está correta? a) Sim, pois no processo penal vigora o princípio da extraterritorialidade, já que as normas processuais brasileiras podem ser aplicadas fora do território nacional. → b) Não, pois no processo penal vigora o princípio da territorialidade, já que as normas processuais brasileiras só se aplicam no território nacional. O Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lexfori. E isso por um motivo óbvio: a atividade jurisdicional é um dos aspectos da soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado. Assim, mesmo que um ato processual tenha que ser praticado no exterior, v.g., citação, intimação, interrogatório, oitiva de testemunha, etc., a lei processual penal a ser aplicada é a do país onde tais atos venham a ser realizados. c) Sim, pois no processo penal vigora o princípio da territorialidade, já que as normas processuais brasileiras podem ser aplicadas em qualquer território. d) Não, pois no processo penal vigora o princípio da extraterritorialidade, já que as normas processuais brasileiras podem ser aplicas fora no território nacional. Página 12 de 25 Investigação Criminal – Aula 04 1. Notitia criminis É o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente criminoso. A ciência da infração penal pode ocorrer de diversas maneiras, e esta comunicação, provocada ou por força própria, é chamada de notícia do crime. A notitia criminis pode ser: a) Espontânea ou imediata: a que se dá de maneira direta, por meios não formais, através da atividade própria da polícia. Exemplo: Através de uma notícia veiculada pela imprensa, a autoridade policial toma conhecimento do encontro de um cadáver. b) Provocada ou mediata: a que decorre de um ato jurídico formal previsto na lei processual, como a representação ou a requisição, ou seja, “é o conhecimento da infração pela autoridade mediante provocação de terceiros (Delatio Criminis)”. Exemplo: O Ministério Público toma conhecimento de um crime e requisita ao Delegado à abertura do inquérito. c) Coercitiva: a decorrente da prisão em flagrante. Delação apócrifa ou Notitia criminis inqualificada → A notitia criminis inqualificada ou delação apócrifa é aquela vulgarmente chamada de denúncia anônima. A delação anônima por si só não enseja a abertura do Inquérito Policial, sendo necessária uma averiguação prévia para saber se a notícia procede. 2. Prazo para a conclusão do inquérito policial De acordo com o art. 10, caput, do CPP, o inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. Página 13 de 25 Caso Concreto Em um determinado procedimento investigatório, cujo investigado estava solto, a autoridade policial entendeu com base nos indícios apontados em encerrar a investigação apresentando como termo final, o relatório conclusivo do feito com indiciamento do sujeito, bem como encaminhou as respectivas peças a autoridade judiciária, na forma do artigo 10, parágrafo primeiro do CPP. Tendo como parâmetro o nosso sistema processual penal, analise a questão à luz da adequada hermenêutica constitucional. Sugestão de Resposta dado pelo Professor (adaptada): A despeito do teor do referido dispositivo, por conta da adoção do sistema acusatório pela Constituição Federal, outorgando ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, não há como se admitir que ainda subsista essa necessidade de remessa inicial dos autos ao Poder Judiciário. Há de se entender que essa tramitação judicial do inquérito policial prevista nos arts. 10, § 1º, e 23, do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. 2ª Questão. Com relação ao inquérito policial, assinale a opção correta. A- É indispensável a assistência de advogado ao indiciado, devendo ser observadas as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. → B- A instauração de inquérito policial é dispensável caso a acusação possua elementos suficientes para a propositura da ação penal. C- Trata-se de procedimento escrito, inquisitivo, sigiloso, informativo e disponível. D- A interceptação telefônica poderá ser determinada pela autoridade policial, no curso da investigação, de forma motivada e observados os requisitos legais. 3ª Questão Leia o registro que se segue. Mévio, motorista de táxi, dirigia seu auto por via estreita, que impedia ultrapassagem de autos. Túlio, septuagenário, seguia com seu veículo à frente do de Mévio, em baixíssima velocidade, causando enorme congestionamento na via. Quando Túlio parou em semáforo, Mévio desceu de seu táxi e passou a desferir chutes e socos contra a lataria do auto de Túlio, danificando-a. Policiais se acercaram do local e detiveram Mévio, que foi conduzido à Delegacia de Polícia. Lá, o Delegado entendeu que o crime era de dano, com pena de detenção de 01 a 06 meses ou multa. Iniciou a lavratura do Termo Circunstanciado, previsto na Lei n.º 9.099/95. Ao finalizá-lo, entregou a Mévio para que assinasse o Termo de Comparecimento ao Juizado Especial Criminal, o que foi por ele recusado. Indique o procedimento a ser adotado. a- Registro apenas em Boletim de Ocorrência para futuras providências. → b- Considerando que ocorrera prisão em flagrante, ante a não assinatura do Termo de Comparecimento ao JECRIM, deve o Delegado de Polícia lavrar auto de prisão em flagrante, fixando fiança. c- Deve o Delegado lavrar o auto de prisão em flagrante e permitir que Mévio se livre solto. d- O Termo Circunstanciado deve ser remetido ao Juízo, mesmo que Mévio não tenha assinado o Termo de Comparecimento, para que o Magistrado, ouvido o Ministério Público, tome as providências que julgar cabíveis, podendo até decretar eventual prisão temporária. Página 14 de 25 Arquivamento e desarquivamento do inquérito policial. Teoria Geral da Ação Penal – Aula 05 1. Arquivamento do Inquérito Policial O arquivamento do IP é ato do juiz, que determinará o arquivamento de forma motivada somente se houver pedido, neste sentido, do Ministério Público que é o titular da ação penal pública (art. 129, I, CF). A autoridade policial, verificando a ausência de justa causa, deverá/poderá deixar de instaurar o IP, mas uma vez já o tendo instaurado, não poderá arquivá-lo, conforme disposto no art. 17, CPP, devendo remeter os autos ao MP para que este decida (Princípio da Indisponibilidade/Obrigatoriedade). 1.1. Arquivamento implícito do inquérito Majoritariamente, tanto o entendimento jurisprudencial quanto doutrinário é de que não há arquivamento implícito em nosso ordenamento jurídico, já que não há previsão legal para tanto e o art. 28 do CPP exige que o pedido de arquivamento de inquérito seja expresso e fundamentado. Por outro giro, alguns doutrinadores entendem que se deve buscar um mecanismo para estabilizar a situação do indiciado, razão pela qual vislumbram três espécies de ocorrência de arquivamento implícito: ➢ Subjetivo: Ocorre quando duas pessoas são indiciadas; uma delas é denunciada e o MP se omite com relação a outra; o juiz recebe a denúncia e também se omite com relação a outra. ➢ Objetivo: Ocorre quando alguém é indiciado por dois crimes; o Ministério Público oferece a denúncia com relação a um dos crimes e se omite com relação ao outro; o juiz recebe a denúncia com relação a um dos crimes e também se omite com relação ao outro. ➢ De Tipo Derivado: Ocorre quando alguém é indiciado por um tipo derivado (ex.: homicídio qualificado); o MP oferece a denúncia com relação ao tipo simples (ex.: homicídio simples), omitindo-se com relação à qualificadora; o juiz recebe a denúncia e também se omite quanto à qualificadora. ➢ A Súmula 524 STF: Embora se refira a ação penal, determina que “Arquivado o Inquérito policial por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”, o que nos leva a entender que não há arquivamento implícito. Página 15 de 25 Teoria Geral da Ação Penal Temos que a ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a consequente satisfação da pretensão punitiva. 1. Condições da ação penal Em geral, a doutrina considera como condições da ação a legitimidade, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido. Além disso, temos como condição também a justa causa, que é a existência de indícios mínimos de autoria e materialidade, ou seja, é o suporte probatório mínimo, sem o qual ninguém pode ser processado criminalmente. Caso Concreto João e José são indiciados em IP pela prática do crime de peculato. Concluído o IP e remetidos ao MP, este vem oferecer denúncia em face de João, silenciando quanto à José, que é recebida pelo juiz na forma em que foi proposta. Pergunta-se: Trata-se a hipótese de arquivamento implícito? Aplica-se a Súmula 524 do STF? Sugestão de resposta: Sim. Trata-se de arquivamento implícito subjetivo. Não há a aplicação da súmula 524 do Supremo Tribunal Federal, porque não houve o arquivamento formal, por despacho do Juiz e a requerimento do membro do Ministério Público. 2ª Questão. Na cidade “A”, o Delegado de Polícia instaurou inquérito policial para averiguar a possível ocorrência do delito de estelionato praticado por Márcio, tudo conforme minuciosamente narrado na requisição do Ministério Público Estadual. Ao final da apuração, o Delegado de Polícia enviou o inquérito devidamente relatado ao Promotor de Justiça. No entendimento do parquet, a conduta praticada por Márcio, embora típica, estaria prescrita. Nessa situação, o Promotor deverá a) arquivar os autos. b) oferecer denúncia. c) determinar a baixa dos autos. →d) requerer o arquivamento. Página 16 de 25 3ª Questão A autoridade policial, ao chegar no local de trabalho como de costume, lê o noticiário dos principais jornais em circulação naquela circunscrição. Dessa forma, tomou conhecimento, através de uma das reportagens, que o indivíduo conhecido como “José da Carroça”, mais tarde identificado como José de Oliveira, teria praticado um delito de latrocínio. Diante da notícia da ocorrência de tão grave crime, instaurou o regular inquérito policial, passando a investigar o fato. Após reunir inúmeras provas, concluiu que não houve crime. Nesse caso, deverá a autoridade policial: A) determinar o arquivamento dos autos por falta de justa causa para a propositura da ação. B) encaminhar os autos ao Ministério Público para que este determine o seu arquivamento. →C) relatar o inquérito policial, sugerindo ao Ministério Público seu arquivamento, o que será apreciado pelo juiz. D) relatar o fato a Chefe de Polícia, solicitando autorização para arquivar os autos por ausência de justa causa para a ação penal. E) relatar o inquérito policial, requerendo o seu arquivamento e encaminhando-o ao juízo competente. Ação Penal – Aula 06 1. Classificação da Ação Penal quanto à titularidade No âmbito processual penal, a doutrina costuma classificar a ação penal a partir da legitimação ativa. Tem-se, assim, a ação penal pública e a ação penal de iniciativa privada. Pode-se dizer que a ação penal pública, cujo titular é o Ministério Público, subdivide-se em: a) Ação Penal Pública Incondicionada: nesta espécie de ação penal, a atuação do Ministério Público independe do implemento de qualquer condição específica; b) Ação Penal Pública Condicionada: nessa hipótese, a atuação do Ministério Público está subordinada ao implemento de uma condição – representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça; A outra espécie de ação penal condenatória é a ação penal de iniciativa privada. Certos crimes atentam contra interesses tão próprios da vítima que o próprio Estado transfere a ela ou ao seu representante legal a legitimidade para ingressar em juízo. São espécies de ação penal de iniciativa privada: a) Ação Penal Exclusivamente Privada: em se tratando de ação penal de iniciativa privada, funciona como a regra. É oferecida por meio de queixa- crime também pode ser oferecida não só pelo ofendido ou por seu representante legal, como também por curador especial (CPP, art. 33), pelos sucessores do ofendido, em caso de morte ou declaração de ausência (CPP, art. 31). Página 17 de 25 b) Ação Penal Privada Personalíssima: são raras as espécies de crimes subordinados a esta espécie de ação penal privada. Na verdade, subiste apenas o crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (CP, art. 236, parágrafo único), já que o adultério foi revogado pela Lei nº 11.106/05. Diferencia-se da hipótese anterior porque a queixa só pode ser oferecida pelo próprio ofendido, sendo incabível a sucessão processual. c) Ação Penal Privada Subsidiária Da Pública (ou ação penal acidentalmente privada): diz a Constituição Federal que “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal” (art. 5º, LIX). Seu cabimento está subordinado à inércia do Ministério Público. 2. Princípios da Ação Penal Pública 2.1. Princípio da oficialidade Consiste na atribuição da legitimidade para a persecução criminal aos órgãos do Estado. Em outras palavras, a apuração das infrações penais fica, em regra, a cargo da polícia investigativa, enquanto que a promoção da ação penal pública incumbe ao Ministério Público, nos exatos termos do art. 129, I, da Constituição Federal. 2.2. Princípio da indisponibilidade da ação penal pública Funciona como desdobramento lógico do princípio da obrigatoriedade. Em outras palavras, se o Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia, caso visualize a presença das condições da ação penal e a existência de justa causa (princípio da obrigatoriedade), também não pode dispor ou desistir do processo em curso (indisponibilidade). 2.3. Princípio da obrigatoriedade De acordo com o princípio, aos órgãos persecutórios criminais não se reserva qualquer critério político ou de utilidade social para decidir se atuarão ou não. Assim é que, diante da notícia de uma infração penal, da mesma forma que as autoridades policiais têm a obrigação de proceder à apuração do fato delituoso, ao órgão do Ministério Público se impõe o dever de oferecer denúncia caso visualize elementos de informação quanto à existência de fato típico, ilícito e culpável, além da presença das condições da ação penal e de justa causa para a deflagração do processo criminal. Página 18 de 25 3. Princípios da Ação Penal Privada 3.1. Princípio da oportunidade ou conveniência Por conta deste princípio, cabe ao ofendido ou ao seu representante legal o juízo de oportunidade ou conveniência acerca do oferecimento (ou não) da queixa-crime. Consiste, pois, na faculdade que é outorgada ao titular da ação penal para dispor, sob determinadas condições, de seu exercício, com independência de que se tenha provado a existência de um fato punível contra um autor determinado. 3.2. Princípio da disponibilidade À ação penal de iniciativa privada (exclusiva ou personalíssima) aplica-se o princípio da disponibilidade, que funciona como consequência do princípio da oportunidade ou conveniência. Diferenciam-se na medida em que o princípio da oportunidade incide antes do oferecimento da queixa-crime, ao passo que, por força do princípio da disponibilidade, é possível que o querelante desista do processo criminal em andamento, podendo fazê-lo de 3 (três) formas: a) perdão da vítima: consiste em causa extintiva da punibilidade de aplicação restrita à ação penal exclusivamente privada e à ação penal privada personalíssima, cabível quando houver a aceitação por parte do querelado; b) perempção: ainda que o querelado não aceite o perdão, é possível dispor da ação penal exclusivamente privada ou personalíssima por meio da perempção, causa extintiva da punibilidade, consubstanciada na perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada em virtude da desídia do querelante; c) conciliação e termo de desistência da ação no procedimento dos crimes contra a honra de competência do juiz singular: grande parte dos crimes contra a honra é tida como infração de menor potencial ofensivo, e, portanto, da competência do Juizado Especial Criminal, já que a pena máxima privativa de liberdade não é superior a 2 (dois) anos. 3.3. Princípio da indivisibilidade De acordo com o art. 48 do CPP, “a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade”. Como visto acima, por força do princípio da oportunidade ou conveniência, cabe ao ofendido ou ao seu representante legal fazer a opção pelo oferecimento (ou não) da queixa-crime. Agora, se optar pelo oferecimento da queixa, uma coisa é certa: o querelante não pode escolher quem vai processar; ele está obrigado a processar todos os autores do delito, por força do princípio da indivisibilidade. Página 19 de 25 3.4. Peculiaridades da Ação Penal Privada 3.4.1. Decadência Com natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade, consiste a decadência na perda do direito de queixa ou de representação pelo seu não exercício dentro do prazo legal (seis meses), contados, em regra, a partir do conhecimento da autoria. O mesmo prazo vale para a Ação penal privada subsidiária da pública. 3.4.2. Renúncia do direito de queixa A renúncia também funciona como causa extintiva da punibilidade, de aplicação restrita à ação penal exclusivamente privada e à ação penal privada personalíssima. Caso o ofendido queira abrir mão do seu direito de queixa, poderá fazê-lo por meio da renúncia, expressa ou tácita 3.4.3. Perdão do ofendido Consiste em causa extintiva da punibilidade de aplicação restrita à ação penal exclusivamente privada e à ação penal privada personalíssima, cabível quando houver a aceitação por parte do querelado. 3.4.4. Perempção Ainda que o querelado não aceite o perdão, é possível dispor da ação penal exclusivamente privada ou personalíssima por meio da perempção, causa extintiva da punibilidade, consubstanciada na perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada em virtude da desídia do querelante. Não se aplicando, porém, à ação penal privada subsidiária da pública. As causas que acarretam a perempção estão elencadas no art. 60, do Código de Processo Penal, sendo elas: I - quando, iniciada esta, o querelante deixa de promover o andamento do processo durante 30 (trinta) dias seguidos; II - quando, falecido o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Página 20 de 25 3.4.5. Aditamento pelo Ministério Público Quanto ao aditamento da queixa-crime pelo órgão ministerial, diz o art. 45 do CPP que “a queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo”. O dispositivo deixa transparecer, à primeira vista, que o Ministério Público teria ampla legitimidade para proceder ao aditamento da queixa-crime. Porém, deve se distinguir as hipóteses de ação penal privada exclusiva e privada personalíssima das hipóteses de ação penal privada subsidiária da pública. Nas hipóteses de ação penal exclusivamente privada e privada personalíssima, como o Ministério Público não é dotado de legitimatio ad causam, não tem legitimidade para incluir coautores, partícipes e outros fatos delituosos de ação penal de iniciativa privada, podendo aditar a queixa-crime apenas para incluir circunstâncias de tempo, de lugar, modus operandi, etc. Na ação penal privada subsidiária da pública, como a ação penal, em sua origem, é de natureza pública, conclui-se que o Ministério Público tem ampla legitimidade para proceder ao aditamento, seja para incluir novos fatos delituosos, coautores e partícipes, seja para acrescentar elementos acidentais como dados relativos ao local e ao momento em que o crime foi praticado (CPP, art. 29). 3.4.6. A Súmula 714 do STF É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Página 21 de 25 Caso Concreto João, diretor de uma empresa de marketing, agride sua mulher, Maria, modelo fotográfica, causando-lhe lesão de natureza leve. Instaurado inquérito policial, este é concluído após 30 dias, contendo a prova da materialidade e da autoria, e remetido ao Ministério Público. Maria, então, procura o Promotor de Justiça e pede a este que não denuncie João, pois o casal já se reconciliou, a lesão já desapareceu e, principalmente, a condenação de João (que é reincidente) faria com que este perdesse o emprego, o que deixaria a própria vítima e seus três filhos menores em situação dificílima. Diante de tais razões, pode o MP deixar de oferecer denúncia? Trata-se de ação pública incondicionada. Logo, o ministério público não poderá atender ao pedido, por força do princípio da obrigatoriedade. 2ª Questão Paulo Ricardo, funcionário público federal, foi ofendido, em razão do exercício de suas funções, por Ana Maria. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta no que concerne à legitimidade para a propositura da respectiva ação penal. →a) Será concorrente a legitimidade de Paulo Ricardo, mediante queixa, e do MP, condicionada à representação do ofendido. b) Somente o MP terá legitimidade para a propositura da ação penal, mas, para tanto, será necessária a representação do ofendido ou a requisição do chefe imediato de Paulo Ricardo. c) A ação penal será pública incondicionada, considerando-se que a ofensa foi praticada propter officium e que há manifesto interesse público na persecução criminal. d) A ação penal será privada, do tipo personalíssima. 3ª Questão Maria, que tem 18 anos de idade, é universitária e reside com os pais, que a sustentam financeiramente, foi vítima de crime que é processado mediante ação penal pública condicionada à representação. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta. A- Caso Maria venha a falecer, prescreverá o direito de representação se seus pais não requererem a nomeação de curador especial pelo juiz, no prazo legal. B- O representante legal de Maria também poderá mover a ação penal, visto que o direito de ação é concorrente em face da dependência financeira e inicia-se a partir da data em que o crime tenha sido consumado. C- Caso Maria deixe de exercer o direito de representação, a condição de procedibilidade da ação penal poderá ser satisfeita por meio de requisição do ministro da justiça. →D- Caso Maria exerça seu direito à representação e o membro do MP não promova a ação penal no prazo legal, Maria poderá mover ação penal privada subsidiária da pública. Página 22 de 25 Ação penal privada e Ação civil ex delicto – Aula 07 Pelo plano de aula a aula 7 trataria da Ação penal privada e da Ação civil ex delicto. Todavia, da maneira como foi estruturado pelo professor, a parte sobre ação penal privada acabou sendo tratada na aula 6. Motivo pelo qual nesse trecho vamos revisar apenas o que diz respeito à ação civil ex delicto. 1. Ação Civil Ex Delicto Por conta de uma mesma infração penal, cuja prática é atribuída a determinada pessoa, podem ser exercidas duas pretensões distintas: de um lado, a chamada pretensão punitiva, isto é, a pretensão do Estado em impor a pena cominada em lei; do outro lado, a pretensão à reparação do dano que a suposta infração penal possa ter causado à determinada pessoa. É nesse sentido que o art. 186 do Código Civil preceitua que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Na mesma linha, por força do art. 927 do CC, “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Como se percebe, há uma relação natural e evidente entre a prática de uma infração penal e o possível prejuízo patrimonial que dela pode resultar ao ofendido, facultando-lhe o direito à reparação. Não por outro motivo, ao tratar dos efeitos automáticos da condenação, o próprio Código Penal estabelece que um deles é o de tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I). 1.1. Sistemas Atinentes à Relação entre a Ação Civil Ex Delicto e o Processo Penal São quatro os sistemas que dispõem sobre o relacionamento entre a ação civil para reparação do dano e a ação penal para a punição do autor da infração penal: a) Sistema Da Confusão: na antiguidade, muito antes de o Estado trazer para si a solução dos conflitos intersubjetivos, cabia ao ofendido buscar a reparação do dano e a punição do autor do delito por meio da ação direta sobre o ofensor. Por meio deste sistema, a mesma ação era utilizada para a imposição da pena e para fins de ressarcimento do prejuízo causado pelo delito; b) Sistema Da Solidariedade: neste sistema, há uma cumulação obrigatória de ações distintas perante o juízo penal, uma de natureza penal, e outra cível, ambas exercidas no mesmo processo, ou seja, apesar de separadas as ações, obrigatoriamente são resolvidas em conjunto e no mesmo processo; Página 23 de 25 c) Sistema Da Livre Escolha: caso o interessado queira promover a ação de reparação do dano na seara cível, poderá fazê-lo. Porém, neste caso, face a influência que a sentença penal exerce sobre a civil, incumbe ao juiz cível determinar a paralisação do andamento do processo até a superveniência do julgamento definitivo da demanda penal, evitando-se, assim, decisões contraditórias. De todo modo, a critério do interessado, admite-se a cumulação das duas pretensões no processo penal, daí por que se fala em cumulação facultativa, e não obrigatória, como se dá no sistema da solidariedade; d) Sistema Da Independência: por força deste sistema, as duas ações podem ser propostas de maneira independente, uma no juízo cível, outra no âmbito penal. Isso porque, enquanto a ação cível versa sobre questão de direito privado, de natureza patrimonial, a outra versa sobre o interesse do Estado em sujeitar o suposto autor de uma infração penal ao cumprimento da pena cominada em lei. Nosso Código de Processo Penal adota o sistema da independência das instâncias, com certo grau de mitigação. Apesar de o art. 63 do CPP dispor que, transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros, de onde se poderia inferir a adoção do sistema da solidariedade, o art. 64 do CPP prevê que sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil, o que acaba por confirmar que o sistema adotado pelo CPP é o da independência, com a peculiaridade de que a sentença penal condenatória já confere à vítima um título executivo judicial. Cabe destacar a regra do Art. 68: Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público. 2. Efeitos da Absolvição Penal 2.1. Absolvição por excludentes de ilicitude A decisão absolutória fará coisa julgada no cível, mas desde que o ofendido tenha dado causa à excludente. Sobre o assunto, o art. 65 do CPP dispõe que faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. O mesmo vale para a decisão que demonstre estar comprovada a inexistência do fato. Note que a absolvição por falta de provas, seja por falta de provas da autoria ou mesmo falta de provas da existência do fato, por aplicação do in dubio pro reo, não vincula as esferas, ou seja, a decisão penal não fará coisa julgada na cível. Página 24 de 25 Caso Concreto Paula, com 16 anos de idade é injuriada e difamada por Estevão. Diante do exposto, pergunta -se: a) De quem é a legitimidade ad causam e ad processum para a propositura da queixa? A legitimidade ad causam (capacidade de ser parte) pertence a Paula, já legitimidade ad processum (capacidade de estar no processo\juízo) pertence aos pais ou representantes legais, na falta daqueles. b) Caso Paula fosse casada, estaria dispensada a representação por parte do cônjuge ou do seu ascendente? Em caso positivo por quê? Em caso negativo quem seria seu representante legal? A emancipação só gera efeitos civis. Como exemplo, caso fizesse falsas afirmações não estaria sujeita às sanções pela prática do injusto penal de Denunciação Caluniosa. Assim necessária a intervenção do representante legal, na figura de seus ascendentes e não possuindo Paula representante legal, seria viável a nomeação de curador especial. c) Se na data da ocorrência do fato Paula possuísse 18 anos a legitimidade para a propositura da ação seria concorrente ou exclusiva? Exclusiva, uma vez que a maioridade é atingida aos 18 anos completos. Segundo a melhor doutrina o artigo 34 do CPP, assim como outros dispositivos do Código de Processo Penal, perdeu o objeto e foram revogados. 2ª Questão Acerca da ação civil ex delicto, assinale a opção correta. a) A execução da sentença penal condenatória no juízo cível é ato personalíssimo do ofendido e não se estende aos seus herdeiros. →b) Ao proferir sentença penal condenatória, o juiz fixará valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido. c) Segundo o CPP, a sentença absolutória no juízo criminal impede a propositura da ação civil para reparação de eventuais danos resultantes do fato, uma vez que seria contraditório absolver o agente na esfera criminal e processá-lo no âmbito cível. d) O despacho de arquivamento do inquérito policial e a decisão que julga extinta a punibilidade são causas impeditivas da propositura da ação civil. Página 25 de 25 3ª Questão Relativamente às regras sobre ação civil fixadas no Código de Processo Penal, assinale a alternativa correta. a) São fatos que impedem a propositura da ação civil: o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação, a decisão que julgar extinta a punibilidade e a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime. b) Sobrevindo a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil não poderá ser proposta em nenhuma hipótese. c) Transitada em julgado a sentença penal condenatória, a execução só poderá ser efetuada pelo valor fixado na mesma, não se admitindo, neste caso, a liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. →d) Transitada em julgado a sentença penal condenatória, poderão promover- lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
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