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19a aula RECURSOS - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

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CURSO DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Prof. Marcílio Florêncio Mota
profmarciliomota@hotmail.com
RECURSOS – Aspectos introdutórios
1. Os recursos e as decisões judiciais 
As decisões dos mais diferentes órgãos judiciais podem causar lesões às partes e a terceiros. Por outro lado, os alcançados pela atividade jurisdicional do estado devem ter um instrumento pelo qual possam impugnar os atos judiciais. Nessa esteira, então, por razões de ordem política e jurídica foram criados os recursos. Os recursos, porém, não esgotam os meios de impugnação às decisões judiciais. Em outras palavras, as decisões dos juízes podem ser impugnadas de diferentes modos e não apenas através dos recursos. A esses instrumentos de impugnação das decisões judiciais que não são recursos a doutrina denomina de sucedâneos recursais. 
2. Definição de recurso
É possível, na atualidade, vislumbrar para o instituto do recurso, duas definições: uma clássica e uma contemporânea.
Recurso, do ponto de vista clássico-doutrinário, é o instrumento que a lei estabelece como apto a impugnar, numa relação processual em vigor, uma decisão judicial, para que a parte ou terceiro possa obter, de um órgão jurisdicional de hierarquia superior, via de regra, a reforma ou a anulação do ato impugnado.
Escritos jurídicos recentes acrescentam a essa expectativa de reforma ou anulação de uma decisão judicial os objetivos de complementação e aclaramento das decisões. Esse alargamento da definição de recurso tem por objetivo inserir os Embargos de Declaração nessa conceituação. A definição que inclui o aclaramento ou complementação é por nós classificada como contemporâneo-legislativa.
3. Justificativas para a existência dos recursos
	3.1. O inconformismo natural com a derrota: O inconformismo com a derrota parece ser natural ao ser humano. Assim, diante do insucesso de sua empreitada judicial, a parte deve ter no recurso uma possibilidade de reversão de sua sorte no processo.
	3.2. A possibilidade de erro ou de injustiça na decisão: As decisões judiciais são proferidas por seres humanos e estão sujeitas, por essa condição, a erros e injustiças. Os recursos devem ser previstos, destarte, pela possibilidade de erros e injustiças nos julgamentos. A distinção entre erro e injustiça estaria no equívoco, no primeiro caso, e na vontade deliberada, que ocorre na injustiça.
	3.3. A imposição de preparo aos juízes pela possibilidade de revisão das decisões: O estabelecimento de um sistema recursal tem a vantagem de impor aos juízes constante preparo pela possibilidade de suas decisões serem propostas a outros juízes. Com esse preparo ganha o jurisdicionado e toda a sociedade.
	3.4. A obtenção um julgamento da causa mais qualificado porque dado por um órgão colegiado e mais experiente: Há uma pressuposição de que os julgamentos nos recursos são de mais qualidade em vista da discussão coletiva dos casos e da maior experiência jurídica e de vida dos julgadores de segundo grau.
	3.5. A contenção do poder: Não fossem os órgãos jurisdicionais ficariam com uma maior liberdade para a arbitrariedade e o abuso do poder. Assim, os recursos funcional contendo o poder, na medida em que os juízes sabem que as decisões que proferem podem ser alvo de questionamento em outra instância.
4. Crítica ao sistema recursal 
	As pessoas em geral, especialmente os leigos, costumam criticar os recursos ao argumento de que eles causam retardo a solução final dos processos. Interpretamos que a crítica é injusta. E não ficaríamos na alegação de que os recursos constituem um mal necessário. Antes, pensamos que os recursos são um bem necessário. É que, como vimos, é inegável que uma decisão judicial qualquer pode causar injusto prejuízo à pessoa do litigante. Não fossem os recursos, essa injustiça não teria como ser corrigida. Não desconsideramos que os recursos podem ter utilização para o retardamento do processo. O problema, então, não estará na existência dos recursos, mas no seu manejo irregular ou antiético. 
Ressaltamos, entretanto, que há críticas ao princípio do duplo grau de jurisdição entre os estudiosos, que possuem os seguintes fundamentos:
a) O duplo grau ressalta a possibilidade de erro nas decisões, o que pode causar insegurança quanto à atividade do órgão jurisdicional; 
b) Não é certo que a decisão do órgão recursal será sempre melhor que a decisão do juiz singular; 
c) O órgão jurisdicional recursal também não está imune a erros;
d) Os recursos são inúteis no caso de confirmação da decisão pelo órgão revisor; e
e) O retardo da solução do processo a partir da adoção de recursos, sendo está última a crítica mais frequente ao sistema recursal, inclusive e principalmente pelos leigos. 
5. Recursos e sucedâneos recursais
	As ações de impugnação e os sucedâneos recursais são os instrumentos de natureza não recursal que o sistema prevê como também aptos à impugnação dos atos judiciais. Analisemos os principais instrumentos em questão.
5.1. O mandado de segurança: O mandado de segurança é um dos principais sucedâneos recursais, ainda que, por origem, ele se destine a impugnar qualquer ato de autoridade pública e não apenas atos de juízes. Aliás, a utilização do mandado de segurança contra ato judicial é excepcional. Só tem cabimento se o respectivo ato não estabelecer um meio recursal capaz de ser utilizado para a impugnação – inciso II do art. 5º da Lei n. 12016/2009. O mandado de segurança pressupõe violação de direito líquido e certo e prova documental pré-constituída do direito, quando for o caso de ser direito a que se exige prova. 
	5.2. A ação rescisória: A ação rescisória é outro meio excepcional de ataque às decisões judiciais. A excepcionalidade reside em que o seu cabimento é reservado para as hipóteses legalmente previstas, incisos do art. 485 do CPC, e apenas para as decisões finais de mérito transitadas em julgado. Os principais diferenciais da ação rescisória para os recursos são essas limitações, já que os recursos podem ser usados contra quaisquer decisões, a princípio, para evidenciar os mais diferentes defeitos, e pressupõem uma relação processual ainda em curso. Nesse ponto é importante ressaltar, inclusive, que os recursos contra decisões finais têm como um de seus efeitos o prolongamento da relação processual.
5.3. A Reclamação Correcional: A Reclamação Correcional é a medida prevista no inciso II do art. 709 da CLT para a correção de desvios procedimentais num processo em curso. A literalidade da regra sugere que a medida teria lugar apenas quando esses desvios fossem cometidos por um presidente ou por um Tribunal Regional do Trabalho, já que a RC é prevista como ação da competência do Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho. Ocorre, entretanto, que os Tribunais do Trabalho prevêem essa medida como da competência do Corregedor-Regional, quando o desvio procedimental é praticado por juiz do trabalho na condução de processo da competência das Varas do Trabalho.
A medida de correção, então, não ataca um ato judicial em razão do eventual e objetivo gravame ou lesão que a decisão tenha causado. Por ele se corrige desvio procedimental e tem importância relevante na medida em que todas as pessoas têm direito ao devido processo. 
	5.4. O pedido de reconsideração: O pedido de reconsideração é um instrumento consagrado pela prática forense para a tentativa de alteração de uma decisão sem conteúdo de mérito a partir da atuação do próprio órgão jurisdicional que a proferiu. Ocorre, no mais das vezes, quanto a parte percebe que há um flagrante equívoco do juiz e que através desse meio simples ele obterá do magistrado a correção do erro praticado. 
O pedido de reconsideração tem a relevância da agilidade, da rapidez. É preciso ter cuidado, no entanto, para que não haja a perda do prazo do recurso cabível contra o ato. O pedido de reconsideração não tem o condão de alterar o prazo recursal, que é peremptório. Assim, recomenda-se que com o pedidode reconsideração a parte diga ao juiz que caso mantida a decisão aquele pedido de reconsideração deve ser entendido como um recurso. A Súmula n. 33 do TJPE revela a interpretação de que o prazo para o recurso não é afetado pelo pedido de reconsideração: “O pedido de reconsideração não interrompe nem suspende o prazo para interposição do competente recurso”.
5.5. Requerimento de correção de erro material ou de cálculo: A medida é prevista expressamente, entre nós, no art. 833 da CLT. A parte ou terceiro não precisa lançar mão de recurso ou de outra medida mais extrema ou complexa quando estiver diante de um erro material ou de cálculo numa determinada decisão judicial. Por simples requerimento obterá a solução do defeito encontrado. 
6. Classificação:
6.1. Recursos ordinários ou comuns: São aqueles que visam obter a revisão do julgamento em atenção ao duplo grau de jurisdição. Estes devolvem ao tribunal ad quem o exame completo, amplo e total da matéria em debate. Devolve tanto a quaestio facti, como a quaes​tio juris. Tanto a matéria de direito como a de fato; são exem​plos de recurso dessa ordem no Processo Civil, a Apelação, o A​gravo de Instrumento, etc. No Processo Trabalhista, consideram-se de natureza ordinária ou comum os seguintes recursos: o Recurso Ordinário, o Recurso de Agravo de Instrumento e o Recurso de Agravo de Petição.
6.2. Extraordinários ou especiais: Nessa classificação estão aqueles recursos que se contrapõem aos de natureza ordinária, tendo em vista a finalidade própria de cada um. Na instância extraordinária, não mais se reexaminam fatos e provas, por se devolverem ape​nas, as questões de direito (quaestio juris). Com efeito, o erro judiciário na apreciação da prova não mais poderá ser revisto por via dos recursos de natureza extraordinária, conforme assen​tam as Súmulas 126 do TST e 279 do STF. No Processo Trabalhista, possuem essa natureza o Recurso de Re​vista, os Embargos e o Recurso Extraordinário interposto das decisões profe​ridas pelo TST que violarem a Constituição da República.
6.3. Recursos que veiculam “errores in procedendo”: A doutrina clássica oriunda do Direito Romano já fazia a distinção entre os vícios da sentença, classificando-os como vícios de atividade (errores in procedendo) e vícios de juízo (errores in judicando). O vício de atividade, ou de forma, ou error in procedendo, ocorre quando o juiz desrespeita ou viola norma de procedimento, causando prejuízo à parte. 
6.4. Recursos que apontam “errores in judicando”: O error in judicando é o erro de juízo, de fundo, é o erro na aplicação ou interpretação da norma jurídica de direito material ou na análise da prova em torno dos fatos da causa.
O recurso acerca do error in judicando visa reformar a decisão do juiz que violou ou interpretou a norma jurídica de forma inadequada por aplicar ao caso concreto lei que não incidiria, deixando de aplicar a que se enquadraria. Erra, também, quando ao prolatar a sentença, deixa de apreciar corretamente as provas carreadas aos autos. Aqui, o vício não é de forma, mas de fundo. O erro neste caso se refere ao próprio mérito da causa.
6.5. Recursos parciais: Parcial é o recurso que não ataca a decisão em todos os aspectos que ela prejudica a parte. Assim, imaginemos que o autor fez vários pedidos e sucumbiu em todos eles. Ao interpor o recurso, impugna apenas parte da decisão aceitando que alguns de seus pedidos tenham sido rejeitados. O recurso leva para o órgão recursal apenas a parte impugnada. A parte não impugnada transita em julgado. Note-se, nesse ponto, que para efeito de consideração do tempo do trânsito em julgado para fins de ação rescisória, por exemplo, se considerará que os tempos em que ocorreu o fenômeno do trânsito em julgado são diversos. Destaque-se, por fim, a regra do art. 505 do CPC, que prevê competir a parte a escolha da extensão de seu recurso.
6.6. Recursos totais: Recurso total é aquele que impugna a decisão por completo. A parte sucumbente ataca a decisão em todos os aspectos que lhe são prejudiciais.
7. O Pedido de Revisão
	O Pedido de Revisão foi um recurso previsto na Lei n. 5.584/70 para atacar a decisão do juiz de vara do trabalho que confirmasse, após as razões finais, o valor da causa atribuído pelo próprio juiz diante da omissão da inicial. Com o procedimento sumaríssimo, a parte autora não dispõe mais da faculdade de atribuir valor à causa. A fixação de valor na inicial é condição à própria distribuição da reclamação trabalhista. Nesse contexto, então, entendemos que o Pedido de Revisão foi derrogado do sistema quando da vigência da lei do rito sumaríssimo. 
Professor Marcílio Florêncio Mota

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