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20a aula PRINCÍPIOS RECURSAIS

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CURSO DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Prof. Marcílio Florêncio Mota
profmarciliomota@hotmail.com
1. Tema da aula: Princípios recursais.
2. Objetivo: Conhecer o sistema recursal a partir da compreensão dos princípios que lhe informam, os quais, por sua vez, possuem três funções relevantes no Direito, quais sejam: orientar o legislador na elaboração da norma, auxiliar o intérprete na inteligência da norma e completar a lacuna do ordenamento. 
3. Referências legais: Arts. 128, 496, 499, 500, 501, 502, 503, 504, 511, 513, § 3º do art. 523. Art. 48 da Lei n. 9.099/95. Art. 810 do CPC de 1939.
4. Os princípios recursais: A formulação de uma principiologia é mais ou menos aleatória. Ela decorre da percepção que o estudioso tenha quanto à importância do princípio no sistema ou subsistema específico. Assim é que não encontramos, necessariamente, por parte dos doutrinadores, a indicação dos mesmos princípios para um sistema ou um subsistema qualquer, sendo certo também que um princípio pode sofrer variação no nome a ele atribuído. De nossa parte, então, relacionamos, na seqüência, os princípios que entendemos mais significativos relativamente ao sistema recursal.
	
4.1. Duplo grau de jurisdição: por esse princípio se diz que o legislador deve prevê recursos para a revisão das decisões proferidas pelos juízes e tribunais. Esse princípio está relacionado com os fundamentos políticos e jurídicos dos recursos e reconhece, por isso, o inconformismo natural daquele que perde uma demanda e a possibilidade de erros nas decisões judiciais como causas justificadoras dos recursos. O princípio do duplo grau de jurisdição não é previsto constitucionalmente, como um direito e garantia individual, mas é da ordem infraconstitucional. Assim, pode o legislador por meio de lei ordinária suprimir recurso ou reduzir a sua aplicação sem que isso esteja violando um pretenso princípio ou direito consagrado constitucionalmente - § 1º do art. 518 do CPC e § 4º do art. 2º da Lei n. 5584/1970.
4.2. Princípio da voluntariedade: É sabido que o Estado só prestará a tutela jurisdicional desde que provocado. É o que consagra o art. 2º do CPC, que consubstancia o Princípio da Iniciativa Processual ou dispositivo alicerçado no brocardo latino nemo judex sine actore, ne procedat judex ex-officio.
Pois bem, assim como o Estado não pode pres​tar a tutela jurisdicional senão mediante provocação da parte, os tribunais também não poderão conhecer e reapreciar as matérias senão mediante provocação da parte sucumbente através de seu recurso. Logo, cabe à parte sucumbente devolver, voluntariamente, através do recurso e das razões, a matéria que lhe foi desfavorável, ao tribunal, para que este possa apreciar, pois, de outra forma, a instância superior não poderá apreciá-la. 
Portanto, a insatisfação geradora da vontade de recorrer nada mais é que uma manifestação do Princípio Dispositivo na fase recursal. Esta é a razão pela qual se aplica aos recursos o princípio ne procedat judex ex-officio.
4.3. Taxatividade: O princípio proclama que os recursos só podem ser criados por lei e que são recursos apenas aqueles instrumentos de impugnação que o legislador crie. Os arts. 893 e seguintes da CLT enumeram os recursos admitidos na ordem processual trabalhista. Assim, os recursos no processo não podem ser criados pelas partes, pelos órgãos jurisdicionais ou por atividade administrativa pública. Apenas o legislador federal é quem pode criar os recursos. No campo do princípio da taxatividade é significativa a situação do agravo regimental. Ele não é previsto no sistema da CLT e poderia ser considerado, então, como uma violação ao princípio da taxatividade. Alguns juristas mais conservadores apontam a inconstitucionalidade do Agravo Regimental porque seria criação dos tribunais, o que violaria a regra da Constituição Federal que prevê a competência exclusiva da União para a legislação sobre processo – art. 22. Temos, no entanto, que a doutrina e a jurisprudência interpretam que o Agravo Regimental é desdobramento do Agravo previsto em lei, donde, então, os tribunais não criariam o recurso, mas eles apenas reconheceriam no Agravo Regimental um desdobramento do recurso legalmente previsto.
4.3. Correspondência: Esse princípio vincula um tipo recursal a uma específica decisão de modo a permitir o uso com segurança dos recursos pelas partes. O princípio se dirige ao legislador objetivando que o sistema recursal seja erigido sobre bases seguras. Não é bom que um sistema recursal qualquer não permita aos jurisdicionados e aos operadores do direito o prévio e seguro conhecimento dos recursos a serem interpostos contra as diversas decisões possíveis no curso do processo. É precisamente em vista desse princípio que o legislador definiu no art. 895 da CLT, por exemplo, que o Recurso Ordinário cabe contra as sentenças terminativas ou definitivas proferidas pelas Varas do Trabalho.
4.4. Unicidade, unirrecorribilidade ou singularidade: O princípio diz que as decisões devem comportar um único recurso. Contra uma sentença, por exemplo, não é de se admitir a interposição de dois recursos diferentes para através de cada um deles se apontar os mesmos erros. Os erros dos julgamentos devem ser submetidos a um único tipo de recurso. Os recursos devem considerar, principalmente, o teor da decisão proferida e a qualidade da decisão atacada. Alguns doutrinadores defendem que a possibilidade de interposição do recurso especial e extraordinário contra o acórdão que julgou a apelação corresponderia a uma exceção ao princípio da unicidade. Ousamos discordar, contudo. O recurso especial e o extraordinário são apresentados contra uma mesma decisão apenas em se considerando o aspecto formal da decisão. Na verdade, no mesmo acórdão é possível que haja uma decisão de cunho infraconstitucional e outro de natureza constitucional. A decisão terá dúplice natureza e é essa dupla manifestação que permitirá o uso de recursos diversos. Veja-se o caso da sentença que pode ao mesmo tempo ser alvo de Embargos de Declaração e de Apelação. Os defeitos de omissão, obscuridade e contradição devem ser impugnados através dos Embargos de Declaração e não por meio de Recurso Ordinário (fase de cognição). Por outro lado, erro na apreciação da prova não pode ser levado a conserto por meio de Embargos de Declaração. A sentença é um ato processual único, mas que pode conter defeitos que devam ser impugnados por instrumentos recursais diversos.
4.5. Fungibilidade: Por esse princípio se proclama a admissão de um recurso incorretamente usado em substituição do recurso que deveria ter sido utilizado. O princípio da fungibilidade era expressamente previsto no CPC de 39, art. 810. Atualmente não é previsto expressamente, porém é amplamente praticado em vista do que denominamos de memória legislativa. Os doutrinadores e juízes dizem da necessidade, para a aplicação do princípio da fungibilidade, de que não tenha havido, na interposição do recurso, erro grave e que os pressupostos e requisitos do recurso certo tenham sido satisfeitos. A regra do CPC de 1939 tinha a seguinte redação: “Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser enviados à Câmara, ou turma, a que competir o julgamento”.
4.6. Proibição da “reformatio in pejus”: O princípio proclama que o recurso da parte nunca pode servir para agravar a sua situação. Não pode piorar a situação do recorrente. Por esse princípio, então, o recorrente não terá no caso da interposição de um recurso a sua situação modificada para pior. Esse princípio está contido no brocardo “tanto se devolve quanto se apela”, ou seja, a pretensão de alteração da decisão é o limite imposto à atividade jurisdicional recursal. Assim, como o juiz não pode conhecer de questões que as partes não suscitaram cuja apreciação decorre de provocação necessária – arts. 128 do CPC -, o juízo recursal também não poderá alterar o julgado para pior porqueessa não é a pretensão veiculada no recurso – caput do art. 515 do CPC.
 4.7. Dialeticidade ou da fundamentação: Esse princípio informa que todos os recursos precisam ser fundamentados e que os motivos do inconformismo do recorrente devem atacar os fundamentos da decisão impugnada. É mais comum que o aceitável a existência de recursos que não são fundamentados ou que atacam fundamentos não utilizados pelo juiz ou tribunal na decisão recorrida. A dialeticidade ou fundamentação também é exigência para permitir a ampla defesa e o contraditório da parte adversa e para permitir ao juízo recursal a compreensão das razões do inconformismo do recorrente. 
Professor Marcílio Florêncio Mota

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