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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Prof. Me. Flávio Donizete Batista Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação. Flávio Donizete Batista Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 185 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock e Freepik.com PALAVRA DA DIREÇÃO Prezado Acadêmico(a), É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade contemporânea. Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso grupo educanional ao longo de nossa história. Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara para a cidadania de qualidade. Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo, apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná. Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão. Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria, por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação. Seja bem-vindo! Direção Faculdade Fatecie A U T O R Prof. Me. Flávio Donizete Batista O Professor Flávio Donizete Batista possui graduação em Filosofia pela Universidade do Sagrado Coração (1999), graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional UNINTER (2017), e mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (2003). Atualmente é Coordenador Auxiliar do Curso de Pedagogia da FATECIE - Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná e professor na área de Filosofia nos cursos de Pedagogia, Psicologia, Administração e Ciências Contábeis. Professor efetivo da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná, tendo aprovação em dois concursos públicos. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação e Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, ética, docência, ensino-aprendizagem e relação pedagógica. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4266799322940706 APRESENTAÇÃO Seja bem vindo prezado aluno, prezada aluna! Iniciamos o estudo da disciplina de Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, envolvendo as relações entre as áreas da História, Filosofia e Educação. O estudo desses fundamentos nos ajudará a perceber que a educação não é um fenômeno neutro, mas sim o contrário, possuindo uma intencionalidade. Poderemos identificar diferentes conceitos de educação e ainda, compreender que a educação não é uma prerrogativa da escola, e que ela ocorre em diferentes espaços sociais. Trata-se de um estudo com necessária atitude crítica, filosófica. Queremos, ao final do estudo, compreender a educação como uma atividade humana implicada em concepções teóricas e compreendida como uma prática social, totalmente integrada àquilo que a sociedade deseja e espera de seu presente e de seu futuro. Mãos à obra. Um excelente estudo para todos! SUMÁRIO CAPÍTULO 1 07 | Fundamentos da Educação CAPÍTULO 2 16 | Educação e Sociedade CAPÍTULO 3 24 | Breve Apresentação da Educação na Antiguidade Grega e na Iade Média CAPÍTULO 4 33 | Breve Apresentação da Educação a Partir da Modernidade PÁGINA 7 CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Objetivos da aprendizagem: • Estabelecer conceitos de história, filosofia e educação. • Apresentar a relação entre educação, história e filosofia. • Compreender a importância da reflexão sobre os fundamentos da educação. Plano de Estudo: • Na busca de conceitos. • Educação e processo histórico. • Relação entre educação e filosofia. PÁGINA 8 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Estudar os Fundamentos da Educação é fazer uma análise dos pressupostos que nos ajudarão a compreender o campo educacional, tendo por referência os conhecimentos históricos e filosóficos produzidos em diferentes contextos. A relação entre Educação, História e Filosofia precisa ser significada, atitude essa que deve ser crítica, filosófica. Ou seja, que nos perguntemos sobre as maneiras pelas quais nos relacionamos com coisas, pessoas e situações em nossa vida, assumindo uma postura indagadora e problematizadora, que não se limite ao senso comum, ultrapassando aquela aceitação tácita de evidências sobre as quais nunca perguntamos porque nos parecem naturais, óbvias (CHAUÍ, 2000, p. 8). 1. Na busca dos conceitos Os fundamentos filosóficos e históricos da educação nos ajudam a compreender o fenômeno da educação na sociedade moderna em que vivemos, encontrando relações entre os diferentes períodos históricos e concepções de pensamento e a realidade em que estamos inseridos. No estudo dos fundamentos, precisamos inicialmente discutir os conceitos de educação, história e filosofia da educação. E para isso, podemos começar a pensar a respeito fazendo uma análise etimológica dessas palavras. Educação é uma palavra que apresenta diferentes significados. Etimologicamente, de origem latina, vem dos termos educare, que significa amamentar, criar, alimentar, e educere, que significa conduzir para fora, direcionar para fora, fazer sair, modificar, tirar de. Temos assim duas possibilidades de entender a educação: de um lado, a ideia de conduzir, encaminhar, direcionar, preparar; por outro lado, a ideia de ofertar, disponibilizar a, alimentar, ajudar crescer. Em todo caso, a educação não pode ser pensada como um simples processo de transmissão das heranças dos antepassados, pois os processos humanos são dinâmicos e variáveis, através dos quais são criadas possibilidades de gestar o novo, romper com o velho, de acordo com a organização e funcionamento das sociedades. Não se limitando a mera transmissão de conhecimentos, a educação precisa ser compreendida como um instrumento de crítica de valores, crenças e concepções existentes (ARANHA, 1996). Para entender a noção de história e sua relação coma educação, é importante trazer a origem do termo história, que tem relação com o grego historie, que significa conhecer pela investigação. História pode ser compreendida então como a ciência que investiga os fatos e processos ocorridos no passado da humanidade, em vistas à compreensão do presente. E quando falamos de história da educação, entendemos o estudo de como os PÁGINA 9 indivíduos e sociedades organizaram a ação de educar, nas diferentes épocas e lugares. Procuramos conceituar educação e história. Cabe-nos agora apresentar uma definição de filosofia que nos ajude a relacioná-la com os fundamentos da educação. Diz Luckesi que, sendo a educação uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica, esta prática está articulada com uma pedagogia, que nada mais é do que uma concepção filosófica da educação. “Tal concepção ordena os elementos que direcionam a prática educacional” (LUCKESI, 2001, p. 21). Temos aqui um indicativo de uma definição de filosofia que, mesmo partindo dele, vai além de seu sentido etimológico (filo: amizade, amor a; sofia: sabedoria). Ou seja, o amigo da sabedoria, o filósofo, é aquele que busca o sentido da própria existência. E em nossa reflexão, busca o sentido da própria educação. 2. Educação e processo histórico O senso comum permeia nossa forma de compreender o mundo em que estamos inseridos. Num primeiro momento não buscamos fazer uma reflexão mais aprofundada sobre os porquês de pensarmos e agirmos de determinadas maneiras. Temos a crença de que as coisas acontecem ou por si mesmas, ou porque seguem um plano superior pré-estabelecido. Assim, não estabelecemos conexões que podem explicar quem somos e como somos. Precisamos superar essa forma acrítica de compreender a realidade, indo além de uma atitude de mera absorção das ideias dominantes e alicerçadas pelo senso comum. Buscando através da reflexão filosófica a apreensão de sua realidade, participando inclusive da construção do conhecimento que alicerce esta reflexão seremos sujeitos de nossa própria existência. Isso somente será possível se entendermos que o ser humano se constrói a partir de sua própria existência no decorrer da história. A própria concepção de história não pode ser a de um amontoado de fatos de um passado distante, mas precisa configurar-se como um processo em constante transformação, no qual o passado, o presente e o futuro estão intimamente imbricados e referenciados. O ser humano é um ser social que não vive e sobrevive sozinho no mundo e isolado em sua individualidade. Pelo contrário, é somente através das diferentes interações, abrangentes ou nem tanto, com os outros seres que ele consegue sobreviver. Desde o início dos primeiros agrupamentos simples até as comunidades atuais complexas, os homens constroem relações entre si que possam garantir a sua existência material. São estabelecidas relações econômicas, sociais e culturais, no qual o trabalho é a fonte produtora dos recursos materiais necessários para a sobrevivência humana. PÁGINA 10 3. Relação entre educação e filosofia A filosofia, segundo Luckesi (2001, p. 22), é um corpo de conhecimento constituído a partir do esforço humano de compreender seu mundo e dar- lhe um sentido, um significado compreensivo. O homem tem um conjunto de coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade, que expressam o entendimento de se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. A educação é uma atividade humana caracterizada fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. Segundo Luckesi, temos: A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade (2001, p. 30). As relações entre Educação e Filosofia são indissociáveis: a educação trabalha com o desenvolvimento das crianças e das novas gerações de uma sociedade, e a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estas crianças e esta sociedade. Filosofia e educação são dois fenômenos que estão presentes nas sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação (LUCKESI, 2001, p. 31-32). A filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada, como se nada mais pudesse ser descoberto em termos de interpretação do mundo. E essa interpretação passa a ser a única possível, que vamos aceitar sem questionar, sem buscar novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana (LUCKESI, 2001, p. 32-33). A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá-las para o futuro. Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse direcionamento. PÁGINA 11 #SaibaMais Pequeno vocabulário etimológico (quase todas as referências são latinas): - Aluno – alumnus: criança nutrida no peito. Daí pupilo, discípulo. - Aprender – apprehendere: agarrar, apanhar, segurar, apoderar-se. Daí tomar conhecimento de, prender na memória. - Educar – a) educare: criar, amamentar; b) educere: levar para fora, fazer sair, tirar de; dar à luz, produzir. Daí conduzir de um estado a outro, modificar. - Ensinar – insignire: assinalar, distinguir, colocar um sinal, mostra, indicar. Daí indicar o caminho para aprender. - Instrução – instructio: construção, edificação. - Mestre – magister: o que comanda, dirige, conduz. - Pedagogo – do grego paidagogós (pai, paidos: criança e agogós: guia, condutor): escravo que acompanhava as crianças à escola; depois, mestre, preceptor. - Saber – sapere: ter sabor, agradar a paladar; saber, conhecer, aprender. - Texto – textum: tecido, pano; obra formada por várias partes reunidas. (ARANHA, 1996). REFLITA Discutimos sobre a importância da história e da filosofia na compreensão da educação. Pense em que o estudo lhe ajudou a mudar o modo como você vê a história e a filosofia. Como você encarava a história e a filosofia e qual sua visão agora? Analise como você e as pessoas de sua convivência falam da filosofia e da história. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentadas as primeiras considerações sobre os Fundamentos da Educação, e discutindo a importância da história e da filosofia na compreensão da educação, pudemos perceber que a educação poderá ser melhor entendida se buscarmos identificar seus pressupostos e encontrarmos aqueles que são seus fundamentos, uma vez que a educação está vinculada no tempo e no espaço. Vamos agora prosseguir nosso estudo, abordando a educação como uma prática fundamental da existência histórico-cultural dos homens. Este será o tema de nossa próxima unidade. Vamos lá. PÁGINA 12 LEITURA COMPLEMENTAR A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Dermeval Saviani No que diz respeito à História da Educação, verifica-se fenômeno semelhante: a História, por obra da hipertrofia da primeira palavra da locução, acaba por não ser compreendida, o seu significado acaba por não ser explicitado claramente; assim, a História acaba sendo absorvida no sentido tradicional de sequência de fatos ou sequênciade ideias, resumindo-se a uma mera cronologia. Ao se reduzir a História a uma sequência de fatos ou de ideias, ocorre aí um agravante maior: tais fatos (ou ideias) acabam por se resumir naquilo que eu chamaria de “fatos de supra-estrutura”, isto é, aqueles fatos que se evidenciam mas que não explicam o processo histórico concreto, sendo, ao contrário, explicados pelo processo histórico concreto. Em consequência, o ensino da História, em lugar de explicitar o mencionado processo, apenas expõe os fatos de supra-estrutura, resultando, daí, o caráter insípido de que se reveste esse tipo de ensino. E a História, à semelhança da Filosofia, acaba por se tornar, também ela, uma disciplina “chata”, uma vez que será necessário reter uma série grande de fatos (ou de ideias) geralmente desprovidos de sentido; assim, a memorização acaba sendo o recurso de que o aluno (e por vezes o professor) lança mão para se situar em face do problema da História. Usando de uma imagem, poderíamos descrever o processo histórico por analogia como teatro. No cenário da História temos os atores e os autores da História, do mesmo modo que numa peça teatral temos os atores e o autor da peça. O autor não aparece; no entanto, a obra é sua e os atores representam aquele papel que lhes foi designado na trama da peça, trama essa que é obra do autor da peça. Para os espectadores, os atores estão em evidência e são por vezes cultuados, surgindo como ídolos. Em contrapartida, os autores estão ocultos nos bastidores, ficando, geralmente, na penumbra, quando não são totalmente esquecidos. Na Historiografia temos, pois, o seguinte fenômeno: os fatos de bastidores que são os fundamentais, dado que nos permitiriam compreender o que está acontecendo, tais fatos não são explorados suficientemente, enquanto que os fatos de supra-estrutura (ligados à imagem dos atores) são mencionados numa sequência cronológica sem que se entenda bem porque em determinado momento quem esteve em evidência foi este ator e não outro e que papel representava este ator; quer dizer, que forças ele estava representando, forças essas que nos permitiriam compreender qual a matriz básica daquele momento histórico. Dessa forma, a Historiografia tende a se resumir na apresentação de uma série de nomes, fatos e datas e o recurso para se reter esses dados terá que ser a memorização mecânica, uma vez que a compreensão da trama da História se perde. PÁGINA 13 Ora, a compreensão da trama da História só será garantida se forem levados em conta os “dados de bastidores”, vale dizer, se se examina a base material da sociedade cuja história está sendo reconstituída. Tal procedimento supõe um processo de investigação que não se limita àquilo que convencionalmente é chamado de História da Educação, mas implica investigações de ordem econômica, política e social do país em cujo seio se desenvolve o fenômeno educativo que se quer compreender, uma vez que é esse processo de investigação que fará emergir a problemática educacional concreta. Na medida em que nós, professores de História da Educação, assumimos essa atitude de investigação; na medida em que nós, em face dos alunos, estimulamos esta mesma atitude, eis como estaremos contribuindo efetivamente para o avanço do campo do conhecimento que constitui a História da Educação e, no nosso caso específico, para o desenvolvimento da História da Educação Brasileira. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980, p. 37-38. PÁGINA 14 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Introdução ao Pensar Autor: Arcângelo R. Buzzi. Editora: Vozes. Sinopse: Este livro é um convite e estímulo ao pensamento, partindo de temas comuns da filosofia. Ilustrado com citações de muitos pensadores, leva o leitor a pensar os fenômenos do dia-a-dia. FILME Título: O Show de Truman – O Show da Vida Ano: 1998. Sinopse: No filme, o personagem Truman participa de um reality show e não sabe. Ele nem imagina que está sendo televisionado e que tudo na sua vida é ilusório. Temas: Ideologia e alienação. Ajuda na reflexão sobre o sentido da vida e da realidade em que estamos inseridos. PÁGINA 15 WEB Portal Brasileiro de Filosofia: http://filosofia.pro.br Há muitas produções acadêmicas com foco na temática Filosofia e História da Educação que podem ser encontradas no repositório das reuniões da Associação nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). Acesse endereço e descubra: htpp://www.anped.org.br REFERÊNCIAS ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 16.Reimp. São Paulo: Cortez, 2001. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980. PÁGINA 16 CAPÍTULO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE2 Objetivos de Aprendizagem: • Discutir a relação entre educação e sociedade, mostrando sua indissociabilidade. • Discutir o papel da educação como redentora, reprodutora e transformadora. Plano de Estudo: • Cultura, trabalho e educação. • Educação e sociedade. PÁGINA 17 NTRODUÇÃO DA UNIDADE Olá, prezado aluno. Olá, prezada aluna. Na unidade anterior estudamos alguns conceitos e apresentamos a relação entre história, filosofia e educação, mostrando o quanto estas áreas são indissociáveis. Vamos agora avançar um pouco mais, nos perguntando: qual o sentido da educação como um todo, dentro de nossa sociedade? Sendo a educação marcada por conceitos, valores e finalidades que a norteiam, precisamos saber sobre seu sentido e valor na e para a sociedade. Perguntar sobre o sentido e valor da educação nos ajudará a perceber que ela é uma prática fundamental da existência histórico-cultural da humanidade, e é nesse contexto que ela precisa ser abordada. Sentido e valor estão intimamente relacionados com os elementos históricos e culturais do ambiente em que a educação se realiza. Entender o que é cultura apresenta-se como uma necessidade importante nesse momento. 1. Cultura, trabalho e educação Podemos definir cultura como o resultado de tudo o que o homem produz para construir sua existência. Antropologicamente, cultura é tudo o que o homem faz, seja material ou espiritual, seja pensamento ou ação. A cultura exprime as variadas formas pelas quais os homens e mulheres estabelecem relações entre si e com a natureza: construções, atividades, técnicas, leis, costumes, punições e crenças. A ação do homem sobre a natureza e sobre si mesmo é totalmente diversa, por exemplo, daquilo que o animal faz: sua atividade está totalmente determinada pelo seu biológico, que lhe permite adaptar-se ao meio em que vive, não sendo livre para agir diferente daquilo que está em sua própria natureza. O homem, por sua vez, mesmo reproduzindo técnicas usadas por outros homens e inventando outras, é capaz de realizar uma verdadeira experiência humana, pela qual sua vivência do aqui e do agora pode ser superada, passando a existir no tempo. A transformação que o homem faz na natureza chama-se trabalho, que tem por características ser uma atividade transformadora, intencional e dirigida por finalidades conscientes. A cultura, por sua vez, é o que resulta do trabalho humano. A transformação realizada pelos instrumentos, as ideias que tornam possível essa transformação e os produtos que dela são resultantes: tudo isso é cultura. Vale lembrar que essa ação humana transformadora não é solitária. Mas social, uma vez que os homens e mulheres, ao se relacionarem para produzir sua própria existência, desenvolvem condutas sociais, a fim de atender às necessidades do grupo (ARANHA, 1996, p.16). A natureza modificada pelo trabalho humano não é apenas a do mundo PÁGINA 18 exterior, mas também a da individualidade humana, pois nesse processo ohomem se autoproduz, isto é, faz a si mesmo homem. O humano se faz, por um lado, com a sociedade exercendo sobre ele um efeito modelador, a partir do qual é construída uma determinada visão de mundo; e por outro, cada um elaborando e interpretando a herança recebida na sua perspectiva individual, modificando-a. Nenhuma sociedade é imutável: em maior ou menor grau, a mudança acontece, numa dinâmica entre a tradição, a ruptura, a herança e a renovação. Toda essa dinâmica só é possível através da transmissão dos conhecimentos adquiridos de uma geração para outra, permitindo a assimilação dos modelos de comportamentos valorizados por uma determinada sociedade. É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá as condições para sua sobrevivência material e espiritual. A educação é, portanto, fundamental para a socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a possibilidade de rupturas pelas quais a cultura se renova e o homem faz história. 2. Educação e sociedade Retomemos as duas questões apresentadas na introdução desta unidade: qual o sentido da educação como um todo, dentro de nossa sociedade? Sendo a educação marcada por conceitos, valores e finalidades que a norteiam, precisamos saber sobre seu sentido e valor na e para a sociedade. As respostas a essas perguntas nos ajudarão a compreender a educação e seu direcionamento. Uma resposta possível é que a educação é responsável pela direção da sociedade, uma vez que ela é capaz de conduzir a vida social, salvando-a da situação em que se encontra. Outra resposta aponta para a educação como reprodutora da sociedade como ela está. Há ainda uma terceira resposta que afirma a educação ser uma instância mediadora de uma forma de entender e viver a sociedade: a educação nem salva nem reproduz a sociedade, mas pode servir de meio para alcançar uma nova concepção de sociedade. Tais respostas podem ser expressas nos seguintes conceitos: educação como redenção; educação como reprodução; e educação como meio para transformar a sociedade (LUCKESI, 2001, p. 37). Saviani (1994) nomeia esses conceitos de outra forma, na mesma ordem: teorias não-críticas da educação; teorias crítico-reprodutivistas da educação; e teorias críticas da educação. A educação como redenção da sociedade ou teorias não-críticas da educação trata-se de uma concepção que vê a sociedade como um conjunto de seres humanos que forma um todo orgânico e harmonioso, em que os desvios apresentados por grupos ou indivíduos são posicionados à margem desse todo. A educação está fora da sociedade, com a função de manter a ordem e o equilíbrio, promovendo a coesão social (LUCKESI, 2001, p. 38). PÁGINA 19 A segunda tendência de interpretação, a da educação como reprodução da sociedade, ou teorias crítico-reprodutivistas, afirma que a educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz. A educação está a serviço da sociedade, não corrigindo suas falhas, mas reproduzindo-a no seu modo vigente, perpetuando-a, se for possível. A diferença entre essas tendências é que, enquanto a primeira atua sobre a sociedade como uma instância corretora dos seus desvios, tornando-a melhor e mais próxima do modelo de perfeição e harmonia idealizado, a segunda entende a educação como um elemento da própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos, ou seja, a serviço dessa mesma sociedade e de seus condicionantes (LUCKESI, 2001, p. 41). A terceira tendência apresenta a educação como um meio de transformar a sociedade, ou teoria crítica. A educação seria como mediação de um projeto social. Ela nem redime nem reproduz a sociedade, mas serve de meio, ao lado de outros meios, para realizar um projeto de sociedade; projeto que pode ser conservador ou transformador. Essa tendência não coloca a educação a serviço da conservação, mas pretende demonstrar que é possível compreender a educação dentro da sociedade, com os seus condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização (LUCKESI, 2001, p. 48). Podemos perceber que cada tendência tem sua disposição diante da educação. Luckesi escreve: A tendência redentora é otimista em relação ao poder da educação sobre a sociedade, a tendência reprodutivista é pessimista, no sentido de que sempre será uma instância a serviço do modelo dominante da sociedade. [...] Uma reconhece que a educação é a instância que corrige os desvios do modelo social; outra reconhece que a educação reproduz o modelo social. [...] Assim sendo, esta terceira tendência poderá ser denominada de “crítica” tanto na medida em que não cede ao ilusório otimismo, quando na medida em que interpreta a educação dimensionada dentro dos determinantes sociais, com possibilidades de agir estrategicamente (2001, p. 49). As três tendências filosóficas de interpretação da educação redundam em formas de agir, politicamente, no contexto da prática pedagógica. A tendência redentora propõe uma ação pedagógica otimista, do ponto de vista político, acreditando que a educação tem poderes quase que absolutos sobre a sociedade. A tendência reprodutivista é crítica em relação à compreensão da educação na sociedade, porém pessimista, não vendo qualquer saída para ela, a não ser submeter-se aos seus condicionantes. Por último, a tendência transformadora, que é crítica, recusa-se tanto ao otimismo ilusório, quanto ao pessimismo imobilizador. Por isso, propõe-se compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para sua transformação. Propõe-se desvendar e utilizar-se das próprias contradições da PÁGINA 20 sociedade, para trabalhar realisticamente (criticamente) pela sua transformação (LUCKESI, 2001, p. 51). #SaibaMais Um exemplo de entendimento da educação como redentora da sociedade encontra-se na obra Didática Magna: tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, de Comênio, publicada em 1657. Diversos pensadores desenvolveram a perspectiva pessimista da educação, tendo destaque as ideias de Louis Althusser, no livro Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Nessa obra, a partir de pressupostos marxistas, o autor empreende um estudo sobre o papel da escola como um dos aparelhos do Estado, como uma das instâncias da sociedade que veicula a sua ideologia dominante, para reproduzi-la. O pedagogo francês Georges Snyders (1916) foi o primeiro a usar a expressão pedagogia progressista, título de um livro no qual se propôs a pensar uma teoria que superasse a escola tradicional e a escola nova. Dentro de uma perspectiva dialética, são negados os aspectos conservadores da escola tradicional, bem como os excessos da escola nova, sendo depois recuperados em nível superior (ARANHA, 1996, p. 214). REFLITA Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias. Paulo Freire, no livro Educação e Mudança, publicado pela Paz e Terra, em 1983, no Rio de Janeiro. PÁGINA 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos nesta unidade a relação existente entre educação e sociedade, ficando muito claro que a educação está contextualizada dentro de uma determinada realidade histórica e cultural, sendo profundamente influenciada por ela. E diante dessa compreensão de que a educação está na sociedade, precisamos ter sempre clara qual sua finalidade e direcionamento. Daí nossa discussão sobre as tendências que buscam interpretar o papel da educação na sociedade, com uma perspectiva otimista, pessimista e transformadora desse seu papel. A nós, tendo compreendido essas tendências, cabe, filosoficamente (criticamente), descobrir qual a tendência que orientará nosso trabalho na educação. O que não podemos é ficar sem nenhuma delas, pois quando não pensamos, outros pensam por nós e nos dirigem.PÁGINA 22 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Pedagogia do Oprimido • Autor: Paulo Freire • Editora: Paz e Terra • Sinopse: Pedagogia do Oprimido é um dos mais conhecidos trabalhos do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire. O livro propõe uma pedagogia com uma nova forma de relacionamento entre professor, estudante, e sociedade. FILME • Título: O Sorriso de Mona Lisa • Ano: 2003. • Sinopse: Katherine Watson é uma recém-formanda da UCLA que foi contratada, em 1953, para lecionar História da Arte na prestigiosa Wellesley College, uma escola só para mulheres. Determinada a confrontar valores ultrapassados da sociedade e da instituição, Katherine inspira suas alunas tradicionais, incluindo Betty e Joan, a mudarem a vida das pessoas como futuras líderes que serão WEB Revista Educação & Sociedade: um dos mais importantes periódicos editados hoje na área da Educação no país. Publicada desde 1978, a revista tem periodicidade trimestral. Além disso, um número especial temático tem sido organizado a cada ano, desde 1995, transformando a revista em uma publicação trimestral. Link: http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_0101-7330/lng_pt/ nrm_iso PÁGINA 23 REFERÊNCIAS ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 16.Reimp. São Paulo: Cortez, 2001. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 30. ed. Campinas: Autores Associados, 1994. PÁGINA 24 CAPÍTULO BREVE APRESENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE GREGA E NA IDADE MÉDIA 3 Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar a educação nos contextos históricos da antiguidade (grega) e medievalidade. • Destacar as principais características pedagógicas da educação no período delimitado. • Contribuir com a compreensão da educação como um fenômeno enraizado na história humana. Plano de Estudo: • Antiguidade grega e a paidéia. • A educação na idade média. PÁGINA 25 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Daquilo que estudamos até o momento, fica cada vez mais evidente que não podemos pretender analisar a educação de forma abstrata, descontextualizada de suas contradições e antagonismos de classes. Isso não nos permitirá uma real compreensão de seu significado, e poderemos atribuir-lhe um caráter incompleto, seja redentor, seja pessimista, como vimos anteriormente. Há diferentes formas de educação historicamente enraizadas; não é possível falar de educação abstratamente, nem desconsiderar seu ambiente e sua época histórica. Isso porque as finalidades com que se educa não são as mesmas em todas as épocas, lugares e sociedades. A educação não é um fenômeno que se entenda fora de uma determinada sociedade. A compreensão daquela passa necessariamente pela compreensão desta. Cada sociedade tem seus espaços próprios para a socialização, que não se reduzem ao espaço escolar. Por isso, para entender o papel da educação na socialização, precisamos discutir a transmissão da cultura dentro e fora da escola. O que queremos nesse estudo dos fundamentos históricos não é apresentar uma relação de fatos e acontecimentos de cada período, mas sim perceber como se deu e continua acontecendo esse processo educacional, dentro das diferentes realidades históricas das sociedades. Um excelente estudo a todos, caros alunos e alunas. PÁGINA 26 1. Antiguidade grega e a paidéia Os povos da antiguidade oriental não dispunham de uma reflexão especialmente voltada para a educação, uma vez que essa prática encontra- se vinculada às tradições religiosas recebidas dos antepassados. O saber do passado é transmitido de forma rígida às novas gerações, em um contexto teocrático onde a educação não se separa da religião, onde escriba e sacerdote são os responsáveis pelos valores da sociedade (ARANHA, 1996, p.41). Mas na Grécia clássica há a substituição das explicações religiosas pela utilização da razão autônoma. Segundo Aranha: Surge a necessidade de elaborar teoricamente o ideal de formação, não do herói, submetido ao destino, mas do cidadão. Este deixa de ser depositário do saber da comunidade, para se tornar o que elabora a cultura da cidade. A ênfase no passado é deslocada para o futuro: o homem não está preso a um destino traçado, mas é capaz de projeto, de utopia (1996, p.41). Nesse contexto surge a palavra paidéia, significando inicialmente criação dos meninos (pais, paidós, “criança”), mas que assumirá nuanças que a tornarão um termo complexo. Pode significar expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura ou educação; mas na verdade, seu significado entre os gregos é o de um projeto de formação do homem em todas as suas dimensões. O ideal grego de educação vai passar por muitas mudanças. Ora associado ao corpo, ora à ênfase na habilidade militar do guerreiro, passando ainda pela formação do cidadão que nas praças (ágoras) vai utilizar a palavra no exercício da vida política, mas sempre vinculado ao uso da razão crítica da condição humana. Segundo Platão, a educação é o instrumento para desenvolver no homem tudo o que implica sua participação na realidade ideal, tudo o que define sua essência verdadeira, embora asfixiada por sua existência material. Também segundo Aristóteles, a educação é um processo que auxilia na transformação do homem naquilo que é sua finalidade como realização enquanto pessoa. 2. A educação na idade média A educação na idade média esteve sob a responsabilidade da Igreja, devido à sua hegemonia diante da sociedade como um todo. Existiam no período escolas que funcionavam junto às catedrais ou escolas monásticas que funcionavam nos mosteiros. Dessa forma, a Igreja assumiu o papel de disseminar a educação e a cultura no medievo, o que foi preponderante para o legado educacional do Ocidente. PÁGINA 27 Historicamente, a idade média iniciou no século V com a queda do império romano do ocidente, que foi tomado pelos povos chamados bárbaros que viviam além das fronteiras e não falavam latim. Com a invasão dos bárbaros, houve grande alteração no mapa político da Europa. Há o desenvolvimento do feudalismo, com a distribuição de terras para os nobres, para toda a vida, com todos direitos de uso sobre a área por toda vida. O cristianismo estava se desenvolvendo e muitos reinos bárbaros foram convertidos. O poder dos nobres foi aumentando e a figura do rei torna- se fraca. O clero da Igreja Católica dava o apoio necessário à estabilidade do sistema. A nobreza era hereditária, o filho mais velho herdava o título de nobreza do pai e irmão não herdeiros ingressavam para os quadros da Igreja, tornando-se bispos, papas etc., chamados de alto clero. Os servos da gleba pertenciam ao feudo e, se o feudo passasse para outras pessoas, a eles o acompanharia. A nobreza não tinha qualquer interesse pelo conhecimento, que ficava sob a tutela da Igreja, enquanto os servos não tinham qualquer acesso. Com a invasão dos bárbaros e a destruição das instituições romanas, a Igreja foi-se afirmando e passou a desempenhar funções de destaque, inclusive cristianizando os bárbaros. Os mosteiros tornaram-se centros únicos de educação e cultura. Entre as ordens religiosas, os beneditinos se espalharam por quase toda a Europa. A sociedade medieval é organizada por estamentos, ou estados: a nobreza, o clero e os servos. Cada estamento recebia um tipo de educação diferenciada. O clero era preparado principalmente com ensinamentos filosóficos e teológicos, disciplinados e enquadrados nos parâmetros das ordens religiosas. A nobreza recebia outro tipo de educação, sendo preparada para a guerra, principalmente na arma de cavalaria, para as boas maneiras, lealdade ao seu senhor, moral e cívica, lançamento de dardos, flechas, corridas, natação etc. A educação de um nobre começava com uma fase de escudeiro, quando recebia os ensinamentos de um cavaleiro, acompanhando- os nos campos de batalha. Os servos da gleba eram instruídos pelos familiares e por iguais, dentro doslimites do feudo. Esses ensinamentos não abarcavam ler, escrever e contar, apenas sobre a prática agrícola levada a efeito. A partir do século X a marca principal na idade Média quando se fala em educação é a criação das universidades. Eram locais onde ser formavam grupos de estudos, com uma cultura superior, de acordo com as condições locais. A primeira universidade da Europa ocidental de que se tem notícias é a Escola de Medicina de Salermo, na Itália, com algumas influências árabes. Depois ocorreu a fundação da Universidade de Bolonha, considerada, por muitos estudiosos, como a primeira direcionada aos estudos do Direito. No século XIII, surgiu a Universidade de paris, originária da Escola Catedral de Notre Dame e serviu de modelo às universidade europeias por no mínimo dois séculos. Surgiram no século XIV, Oxford e Salamanca, depois muitas outras. No final da Idade Média, os habitantes dos burgos ou cidades firmaram- se como uma classe social. Foram os burgueses, organizados em corporações PÁGINA 28 e grêmios, fundando escolas de diferentes profissões. Com o crescimento das cidades, criaram-se escolas municipais, independentes das catedrais. A maioria tinha o caráter prático, mas algumas se dedicaram a ensinar literatura, geografia, história e outras disciplinas consideradas humanísticas. O ensino era promovido em língua local e já existiam diretores e até supervisores da própria organização. Havia mestres ambulantes que circulavam por muitos lugares ou até países, contratados temporariamente e que tinham de passar por exames criteriosos. Foi o embrião da escola pública, durante a ascensão do capitalismo comercial. Por fim, vale ressaltar que durante a Idade Média, devido ao protagonismo da Igreja Católica, muitos religiosos dedicaram-se à educação. Os primeiros representavam a Patrística, filosofia e pedagogia exercidas pelos padres, seguindo os ensinamentos principalmente de Santo Agostinho (354-430). Na segunda metade da idade Média, os filósofos e educadores pertenciam à Escolástica, seguindo, principalmente, as orientações de Santo Tomás de Aquino (1225-1274). #SaibaMais Para muitos autores, além da importância da Patrística e da Escolástica para a educação cristã, houve um primeiro período, de igual importância, chamada Apostólico, correspondendo à atuação de Jesus de Nazaré e seus apóstolos, durante os primeiros anos do Cristianismo, chegando até o quarto século, com outros seguidores. Esses ensinamentos foram anteriores à invasão dos bárbaros e tiveram continuidade com a Patrística. Alguns educadores se destacaram nessa época como, por exemplo, Clemente de Alexandria (160- 220), que foi diretor da escola de Alexandria, divulgador dos ideais cristãos e grande pedagogo. REFLITA “A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma” (CHAUÍ, 2000, p. 24). De que maneira a admiração e o espanto podem ser hoje, o início de um processo de reflexão filosófica acerca da realidade, como foi com os gregos? PÁGINA 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao apresentarmos algumas informações sobre a educação na antiguidade grega e na Idade Média, não tivemos a pretensão de fazer uma abordagem exaustiva com descrição minuciosa dos elementos próprios dos períodos. Nosso objetivo foi mostrar as principais características, evidenciado que a educação sempre está enraizada com um projeto de sociedade, seja ele qual for. Na Grécia, a formação de um homem integral, com habilidades para a política. Na idade Média, um homem que fosse obediente a Deus e que pautasse sua vida pela religião cristã. Na continuação de nosso estudo, veremos que nos períodos seguintes – Moderno e Contemporâneo – a educação também estará enraizada em seu contexto histórico e cultural, evidenciando seu caráter intencional de prática social. Um abraço e até lá. PÁGINA 30 LEITURA COMPLEMENTAR RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE AO LONGO DA HISTÓRIA Fabíola Langaro Em todos os períodos da história da humanidade, o processo educacional esteve relacionado à necessidade social, instrumentalizado pelo sistema econômico. Nas sociedades primitivas, o sistema econômico estava baseado na agricultura, assim como na Roma Arcaica a necessidade econômica estava relacionada à expansão agrícola. Nesses sistemas, a identidade do sujeito passava pela ideia de que ele deveria ser preparado para ser um guerreiro. Neles, a instituição responsável pelo processo de educação era a família e o papel valorizado pela sociedade e pela cultura era o papel social do guerreiro. Dessa forma, a preparação dos meninos para a guerra passava pela utilização dos jogos que simulavam as situações vividas na realidade. Na Idade Média, os filhos passaram a sair de suas casas para serem educados nas casas de outras famílias. Naquela época, acreditava-se que o afeto poderia interferir de modo negativo no processo educacional e a educação passou a ser feita à distância para que o aspecto emocional não comprometesse a preparação dos guerreiros. Os jovens aprendiam, assim, tanto a realizarem os afazeres domésticos quanto sobre as próprias relações de produção da sociedade. A religião, na figura da Igreja, era a instituição que controlava as normais sociais, ditava as regras da moral e da educação. Na Idade Moderna, com o advento da Revolução Industrial, houve um processo de ruptura do processo artesanal com a chegada das máquinas. Ocorreu uma crise social e a consequente ida de muitas famílias para as ruas. Criaram-se, as workhouses para recolher essas pessoas e formar membros úteis ao Estado. A necessidade pedagógica era a de homens que trabalhassem sem pensar. A busca pela moral do indivíduo foi substituída pelo ideal da disciplina. Era preciso domar o caráter dos indivíduos, através da educação de seu corpo, com a finalidade de fornecer ao sistema econômico indivíduos disciplinados e, portanto, produtivos. Da mesma forma, as crianças eram cobiçadas como mão-de-obra barata e necessitavam ser disciplinadas para que suportassem longas horas de jornadas de trabalho. O instrumento idôneo que estava à disposição desse sistema era a escola, que assumiu essa função social de disciplina. Passou-se, assim, de um sistema social de auto-instrução através da família para a escolarização, com o controle do Estado. Quanto ainda carregamos desta história, considerando que somos frutos dela? Quais são os desafios que hoje enfrentamos considerando que não é possível alterar o passado, mas, ao mesmo tempo, necessário construir o futuro? Fonte: https://apeoc.org.br/relacao-entre-educacao-e-sociedade-ao- longo-da-historia/ PÁGINA 31 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO (OBRIGATÓRIO) • Título: Paidéia. • Autor. Werner Jaeger • Editora: Martins Fontes • Sinopse: Esta obra famosa de Werner Jaeger, um dos marcos da cultura do nosso tempo, é o estudo mais profundo e completo sobre os ideais de educação da Grécia antiga. Jaeger estudou a interação entre o processo histórico da formação do homem grego e o processo espiritual através do qual os gregos chegaram a elaborar seu ideal de humanidade. A partir da solução desta profunda questão histórica e espiritual, foi possível chegar ao entendimento da criação educativa sem par de onde se irradia a imorredoura influência dos gregos sobre todos os séculos. FILME (OBRIGATÓRIO) • Título: O nome da Rosa. • Ano: 1986. • Sinopse: Na última semana de novembro de 1327, num mosteiro na Itália medieval, a morte, em circunstâncias insólitas, de sete monges em sete dias e noites é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação. Um monge franciscano é chamado para solucionar o mistério e cai nas malhas deuma trama diabólica. Na forma de uma crítica, as violências sexuais, os conflitos no seio dos movimentos heréticos do século XIV, a luta contra a mistificação, o poder, o esvaziamento dos valores pela demagogia, constroem uma reconstituição livre dos fatos históricos da época aos olhos do espectador. PÁGINA 32 WEB (OBRIGATÓRIO) A Revista Brasileira de História da Educação (RBHE) é a publicação oficial da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE). Sediada atualmente na Universidade Estadual de Maringá e publicada trimestralmente, a RBHE tem o objetivo de divulgar a produção científica nacional e internacional sobre História e Historiografia da Educação, que se revele de interesse para as grandes áreas de pesquisa em Educação e em História, abrindo novos horizontes de discussão e estimulando debates interdisciplinares. • Link do site: http://rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe REFERÊNCIAS ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Ática, 2000. PÁGINA 33 CAPÍTULO BREVE APRESENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO A PARTIR DA MODERNIDADE 4 Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar a educação nos contextos históricos da modernidade e contemporaneidade. • Destacar as principais características pedagógicas da educação no período delimitado. • Contribuir com a compreensão da educação como um fenômeno enraizado na história humana. Plano de Estudo: • A modernidade, a razão e o sujeito. • A modernidade e o nascimento da noção de infância. • Desafios da educação na pós-modernidade. PÁGINA 34 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Nesta unidade, apresentaremos a educação e suas grandes transformações a partir da Modernidade, quando são construídas as principais noções que dispomos de sociedade, sujeito, escola e infância. Na Modernidade, um período de amplas e profundas transformações, a razão e o capitalismo são os referenciais que nos ajudam a compreender com a vida se organiza na sociedade dita moderna. Além disso, a noção de sujeito construída no mundo moderno nos apontará para a centralidade que o homem passa a ter, bem como o lugar da educação na formação desse sujeito racional ativo, responsável pela transformação social. Um excelente estudo para todos. 1. A modernidade, a razão e o sujeito. Algumas mudanças de ordem social, científica, filosófica e religiosa permitem considerar o desenvolvimento de uma nova mentalidade a partir dos séculos XV e XVI, com características bem peculiares. As guerras de religião, a era dos descobrimentos, o surgimento de novos modelos de conhecimento, além de outros fatores, levarão a buscar outras visões de mundo. Uma forte característica desses novos tempos foi a maior facilidade com que circulavam as informações de todo tipo. A invenção da imprensa, por João Gutemberg (1398-1468), compõe um quadro novo na disseminação do conhecimento. Obviamente não foi algo rápido e imediato, sendo necessários muitos séculos até que o hábito de ter livros em casa se tornasse amplamente difundido. No entanto, comparando a fabricação dos livros pela máquina inventada por Gutemberg (a prensa) com as técnicas anteriores (os manuscritos ou cópias à mão em pergaminhos de pele de animal ou em papel caseiro), temos uma noção clara desse grande volume de circulação de informações nos séculos XV e XVI. Esses fatores permitiram considerar os séculos XV e XVI como um período de ampliação de horizontes para os europeus, bem como do aumento de informações sobre os autores antigos, intensificando seu estudo não só na filosofia e na teologia, mas também na literatura, ciências e artes. Podemos falar de um “Renascimento”, que está ligado à maior divulgação do patrimônio cultural antigo. Com o Renascimento é idealizado o humanismo, que consiste em uma visão de mundo centrada no ser humano e com medidas humanas. Há uma ênfase num modelo de ser humano universal, que não se limita às diferenças culturais e ao mesmo tempo, que defende o valor de cada indivíduo. Os pensadores modernos viviam um misto de admiração pelas novidades, principalmente as ciências, concebidas segundo o modelo renascentista, e o descontentamento com as explicações tradicionais. Acontecia a busca de formas mais seguras de conhecimento e de ação, para PÁGINA 35 o que contribuía enormemente a herança dos filósofos renascentistas e a nova concepção de conhecimento científico baseada em modelos matemáticos. Uma refundação da filosofia estava em curso. Com todas as inovações que os tempos modernos traziam, os filósofos apostaram em um “projeto” que se ocupasse primeiramente daquilo que, acima de qualquer dúvida, caracterizava a experiência humana: o uso da razão. E a principal atividade da razão passa a ser também, a principal preocupação: o conhecimento. Era necessário “conhecer o conhecimento”, investigar quais as reais possibilidades de conhecer e os reais métodos para pôr essa atividade em prática. O conhecimento é a principal marca da filosofia moderna, e isso trará implicações em todas as áreas humanas. A ênfase na luz da razão fez com que as filosofias produzidas no século XVIII recebessem o nome de Iluminismo. Trata-se de uma confiança irrestrita no poder da razão para explicar a experiência humana. Chegou-se mesmo a crer que o ser humano pode se aperfeiçoar pela razão a ponto de progredir sempre e encontrar a felicidade ética e política. A crença num progresso sem fim ou na perfectibilidade do ser humano levou também à distinção entre Natureza e Cultura: a Natureza ou o mundo físico-químico-biológico seria o campo da necessidade, das leis fixas; a Cultura ou a civilização seria o campo propriamente humano, lugar da auto-construção e da liberdade. Podemos afirmar que é Moderna uma forma muito particular de se conceber o sujeito humano, apresentado de forma unificada e com uma identidade racional. É na sociedade moderna que o sujeito se liberta de estruturas e tradições teocêntricas que não podiam ser mudadas, passando a ter uma condição de soberano, algo antes impensável. Isso agora torna- se possível, diante de mudanças no pensamento e na cultura do ocidente, trazendo a emergência do sujeito, próprias da modernidade: a) A libertação da consciência individual dos dogmas religiosos com a Reforma e o Protestantismo; b) O posicionamento do homem no centro do mundo a partir do pensamento humanista renascentista; c) O maior domínio sobre a natureza possibilitado pelas revoluções científicas; d) A racionalização, o caráter científico, a libertação de dogmas e a intolerância da imagem do homem a partir do Iluminismo. Essas mudanças estão em uma dinâmica de transformações que também implicarão na educação, trazendo novas abordagens. Uma delas é sobre a concepção de infância que passa a se desenvolver nesse contexto da modernidade. Vejamos a seguir. PÁGINA 36 2. A modernidade e o nascimento da noção de infância Criança sempre existiu, mas a infância não. O mundo pré-moderno não conheceu propriamente, a noção de infância da forma como a temos hoje. Não havia uma construção da criança a partir de uma literatura infantil, a partir da definição de um lugar próprio onde para as crianças viverem e serem educadas etc. Podemos perceber isso nas obras de arte que representavam a criança não como criança, mas como um adulto em miniatura. Todo esse cenário, no entanto, aproximadamente a partir do século XV, começou a mudar radicalmente. A partir do contexto dos novos tempos da modernidade, os intelectuais começaram a dizer que as crianças deveriam ser tratadas diferente dos adultos, por serem diferentes dos adultos. Um novo sentimento em relação às crianças passa ser construído, um sentimento de cuidado, de cultivo da vida da criança. A infância passa a ser vista como uma fase natural e necessária à vida do ser humano; uma fase que, para o bem do ser humano, deveocorrer. A infância surge como uma época especial da vida dos homens e mulheres – uma fase natural à existência humana, mas que precisa de um ambiente histórico-social para se realizar. Para que a infância acontecesse, as crianças deveriam ser postas em um lugar especial: a escola. Uma ligação especial passou a ser criada: entre a criança e um determinado adulto: o professor. Este deveria, na escola e pela escola, garantir a infância às crianças. Na sua gênese, a noção de infância se apresentou oscilando entre duas configurações básicas. Essas configurações determinaram as características dos professores e do ambiente escolar e, de certo modo, com a ajuda da filosofia, impuseram ou pelos menos regraram as finalidades da educação. Em uma primeira configuração, a infância é vista como uma fase negativa. Que deve ocorrer sim, mas que deve passar, dando espaço ao aparecimento do adulto enquanto a antítese da criança. A infância é a época da rebeldia e por isso a criança deve ser conduzida da heteronomia à autonomia por meio de regras exteriores, postas pelo adulto. A autonomia e a individualidade nascem “de fora para dentro”. Nesse caso, o professor é um disciplinador no sentido tradicional da palavra. A escola, um ambiente de formação e conformação. A finalidade da educação é fazer com que a fase negativa da infância passe brevemente e possibilite ao homem surgir a partir das regras do homem (adulto) sobre o homem (criança) – ou seja, que o homem possa vir a surgir da criança, negando-a. Em uma segunda configuração, a infância é vista como uma fase positiva, que deve não só ocorrer mas também ser prolongada, de modo a poder contaminar o homem que dela deve surgir. A infância é criatividade e pureza, e se a disciplina deve aparecer, deve vir como autonomia tirada “de dentro para fora”. O professor, nesse caso, é companheiro de viagem. A escola, um ambiente natural propiciador das melhores experiências. A finalidade da educação é fazer com que a fase positiva da infância permaneça ao longo da vida adulta, no que ela tem de bom, ou seja, que o homem (adulto) venha a PÁGINA 37 materializar-se a partir do interior do homem (criança), mantendo em seu íntimo o verdadeiro humano que existia na criança. 3. Desafios da educação na pós-modernidade Não pretendemos realizar uma discussão exaustiva sobre o conceito de pós-modernidade, uma vez que ainda se trata de algo em grande discussão e que integra fortes polêmicas, não havendo consenso sobre seu significado. Em nosso estudo, queremos pontuar a pós-modernidade como o momento seguinte ao das grandes transformações e organização da vida Moderna, quando novas configurações ocorrem. Por exemplo, o capitalismo, com sua marca mercantilista e imperialista, que atinge seu auge no século XIX, continua existindo, mas em uma configuração de globalização ou capitalismo multinacional, com grande flexibilidade na produção e no mercado. Esta acumulação flexível implica na flexibilização dos processos de trabalho, de produção e de padrões de consumo, com novos setores de produção sendo criados para atender às exigências do mercado, como novas formas de organização e de relações de trabalho. Ao mesmo tempo, a pós-modernidade também é caracterizada por toda uma contestação a esse modelo instaurado, com reivindicação por liberdade, consciência e pluralidade cultural. A escola, e sua prática pedagógica, é influenciada por toda essa discussão, sendo cobrada dela, de modo velado ou nem tanto, que ofereça uma formação que atenda aos interesses dos grupos hegemônicos. Mas nessa mesma escola, podemos ver que o questionamento dessas bases hegemônicas capitalistas encontra seu espaço para se espalhar e se desenvolver. Relembrando a discussão que fizemos sobre o papel da escola na sociedade e as concepções da educação como redentora, reprodutora e transformadora da sociedade, podemos afirmar que a partir da colocação da educação como direito de todos, direito nem sempre garantido, diga-se de passagem, muitas foram as teorias pedagógicas que emergiram, em sua maioria para a legitimação e perpetuação do status quo do grupo hegemônico. Os educadores sendo apresentados como missionários, neutros, defensores de um conhecimento sistematizado que deve ser transmitido mecanicamente, sem nenhuma reflexão crítica. Um dos grandes desafios postos no atual momento histórico é a necessidade dos educadores e educadoras reverem sua prática pela via da concepção política, buscando atender aos interesses das classes que sofrem diferentes formas de opressão: econômica, cultural, social. Não adianta estar rodeado de modernas tecnologias se não houver também uma prática educacional que desperte a criticidade, na busca de melhores condições de vida para professores e alunos. A escola, portanto, precisa cada vez mais se aproximar das discussões PÁGINA 38 atuais sobre o ponto de vista da consciência e da clareza da própria prática educacional. A escola não pode ficar desinformada das discussões teóricas, para que não haja um afastamento daquilo que está acontecendo na sociedade contemporânea e as relações travadas no interior da escola. Isso seria muito grave, uma vez que é fundamental que a escola participe do debate realizado na sociedade contemporânea, pois destas discussões é que sairá a escolha do projeto pedagógico escolar e qual a formação oferecida aos educandos e educandas mais adequada para realizar esse mesmo projeto. #SaibaMais Sobre a relação Família e Escola, na Modernidade: Duas instituições educativas, em particular, sofrem uma profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a família e a escola, que se tornam cada vez mais centrais na experiência formativa dos indivíduos e na própria reprodução (cultural, ideológica e profissional) da sociedade. A ambas é delegado um papel cada vez mais definido e mais incisivo, de tal modo que elas se carregam cada vez mais de uma identidade educativa, de uma função não só ligada ao cuidado e ao crescimento do sujeito em idade evolutiva ou à instrução formal, mas também à formação pessoal e social ao mesmo tempo. As duas instituições chegam a cobrir todo o arco da infância-adolescência, como “locais” destinados à formação das jovens gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e definido (CAMBI, 1999, p. 203-204). REFLITA “É nesse momento que começa haver certa demarcação da infância como uma fase do desenvolvimento do homem que vai do nascimento a certa idade, caracterizada por um conjunto de disposições naturais e de faculdades que diferem das do adulto, secundarizando o sentido etimológico dessa expressão como sendo o da ausência de fala ou de linguagem articulada”. (PAGNI, 2010, p. 102). PÁGINA 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade apresentamos a educação a partir da modernidade, com as grandes transformações ocorridas e ainda em plena realização. Vimos que o sujeito gestado na modernidade é aquele capaz de conhecer por conta própria com o uso da razão e que precisa se desenvolver cada vez mais com liberdade e consciência. A modernidade trata-se de uma tarefa que não terminou, mas que deve nos desafiar constantemente na construção de uma sociedade melhor para todos. E a educação é fundamental nesse processo. PÁGINA 40 LEITURA COMPLEMENTAR Uma Visão Filosófica da Pós-Modernidade: a Escola de Frankurf Júlia Eugênia Gonçalves O pós-modernismo chega à filosofia como uma tentativa de desconstruir o discurso filosófico ocidental a partir do próprio discurso, tal qual foi elaborado desde a antiguidade clássica. O prefixo “pós” indica o que vem depois, o que sucede à modernidade, significando um corte, uma ruptura não apenas no âmbito da política e da economia mas, sobretudo, no pensamento das pessoas, as quais compreendem que estão vivendo uma fase de grandes transformações que afetam a todos direta ou indiretamente e que é necessário compreender seu significado no contexto da sociedade como um todo. Há então um afastamentoem relação ao “moderno” no sentido de que a filosofia pós-moderna vai reivindicar uma posição amadurecida frente ao modelo positivista, característico do que se convencionou chamar de “modernidade”. A chamada Escola Filosófica de Frankfurt representada por Horkheimer, Adorno e Habermas, dentre outros, vai ser a pioneira na reflexão sobre as mudanças sofridas na sociedade ocidental do pós-guerra. Tendo sido fundada com o objetivo de realizar estudos aprofundados sobre o marxismo, sua orientação de estudos e pesquisas inicialmente teve ênfase econômica, mas ganha impulso filosófico a partir do momento em que Horkheimer assume a direção do Instituto de Investigação Social, vinculado à Universidade de Frankfurt. A Escola de Frankfurt passa então a refletir sobre o destino do homem que é membro de uma comunidade, que vive em uma sociedade. Isso leva necessariamente a uma articulação entre conhecimentos filosóficos, sociológicos, econômicos e antropológicos, estreitando, desta forma, os laços entre a Filosofia e a Ciência, na medida em que esta se baseia em dados empíricos, diminuindo a dicotomia entre estes dois campos do conhecimento humano. Estas propostas ensejam trabalhos de natureza interdisciplinar, pois a compreensão da vida humana no contexto social exigia a conexão entre vários campos científicos e entre estes e a Filosofia, que não podia mais partir de uma compreensão abstrata dos indivíduos, fora de seu contexto. (Trecho do artigo “A Pós-Modernidade e os Desafios da Educação na Atualidade”, publicado pela autora no endereço: http://revista. fundacaoaprender.org.br/?p=35 PÁGINA 41 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Modernidade Líquida • Autor: Zygmunt Bauman • Editora: Zahar • Sinopse: A modernidade imediata é ‘leve’, ‘líquida’, ‘fluida’ e mais dinâmica que a modernidade ‘sólida’ que suplantou. A passagem de uma a outra acarretou mudanças em todos os aspectos da vida humana. Nesta obra, o autor procura esclarecer como se deu essa transição e auxiliar o leitor a repensar os conceitos e esquemas cognitivos usados para descrever a experiência individual humana e sua história conjunta, fazendo uma análise das condições cambiantes da vida social e política. FILME • Título: Tempos Modernos. • Ano: 1936. • Sinopse: O icónico Vagabundo está empregado em uma fábrica, onde as máquinas inevitável e completamente o dominam e vários percalços o levam para a prisão. Entre suas passagens pela prisão, ele conhece e faz amizade com uma garota órfã. Ambos, juntos e separados, tentam lidar com as dificuldades da vida moderna, o Vagabundo trabalhando como garçom e, eventualmente, um artista. PÁGINA 42 WEB: Produções acadêmicas com foco na temática Educação de crianças podem ser encontradas no repositório das reuniões da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) – GT07 – Educação de Crianças de 0 a 6 anos. Link: http://www.anped.org.br/ REFERÊNCIAS ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. ARANHA, MARIA Lúcia de Arruda. História da Educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996. CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: FEU, 1999. PAGNI, Pedro Angelo. Infância, Arte de Governo Pedagógica e Cuidado de Si. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 99-123, set./dez., 2010. PÁGINA 43 CONCLUSÃO Estamos concluindo nossa disciplina de Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, onde procuramos apresentar a relação indissociável existente entre a educação, história e filosofia. Esperamos que a busca por compreender os fundamentos da educação tenha nos ajudado a tornar mais consciente nossa concepção de educação, bem como avaliar melhor os objetivos com nossa prática pedagógica. Vimos que a educação não acontece de forma abstrata e separada da sociedade. Ela influencia e é influenciada pelas relações históricas e culturais, fazendo parte da grande correlação de força dos grupos sociais. A ainda que breve apresentação da educação em seus períodos históricos nos ajudou a perceber essa “encarnação” da educação na vida concreta da sociedade e nos apontou par os desafios atuais que temos que dar conta, para que a educação possa nos ajudar a tornar nossa sociedade mais justa e igual para todos. Sabemos que este estudo não termina por aqui. Há muito mais pela frente. Que cada aluno, cada aluna, se anime a continuar estudando, uma vez que nossa jornada acadêmica é longa e desafiadora. Um grande abraço a todos.
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